A criação de um audiolivro e a temática da acessibilidade: crítica genética

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Entrelaçam-se diferentes linguagens, espaços e sujeitos, dando origem, dessa forma, a um novo texto, agora sustentado por vários medias. Atravessando fronteiras demarcadas entre campos de investigação artísticos e não-artísticos, o pesquisador torna-se o mediador desse trânsito entre fronteiras (PEDROSO JUNIOR, 2009, p. 110).

Isso porque os campos de Estudos Interartes, ou Estudos da Intermidialidade, têm investigado as artes tradicionais sendo remediadas ou enriquecidas pelas novas mídias. Assim, criam-se possibilidades e tantos outros espaços de divulgação nunca antes imaginados, numa rede sígnica que vai sendo tecida ao longo dos processos genéticos que vão surgindo.

As narrativas sonoras sob uma perspectiva genética Os estudos de gênese são o objeto de um campo do saber denominado Crítica Genética, que teve sua origem na pesquisa literária; olhando, estudando, analisando o movimento da produção da escrita registrado nos manuscritos literários modernos, o foco seria “a literatura como um fazer, como atividade, como movimento”, nas palavras de Grésillon (2007, p. 19). Nessa perspectiva, entende-se que não existe o texto definitivo, sacralizado, mas que ele pode ser infinitamente reorganizado, pelo menos enquanto o seu criador estiver vivo. A abordagem que “atenta aos processos de concepção, aos fenômenos da textualização e que visa a um estudo dos processos criativos, é a da crítica genética” (GRÉSILLON, 2002, p. 221). Na segunda metade do século XX, com a criação de um grupo de pesquisa no Centre National de Recherche Scientifique (CNRS), reuniu-se um grupo de cientistas com a tarefa de estudar manuscritos do poeta Heinrich Heine, que haviam sido adquiridos pela Biblioteca Nacional de Paris, nos anos 1960. Os documentos precisavam ser organizados e, a partir desse trabalho empírico, nasceu esse campo do saber conhecido como crítica genética. Como os pesquisadores ampliaram a discussão a respeito dos estudos de manuscritos e a Biblioteca Nacional implantou uma política de aquisição de novas coleções, o grupo de pesquisa fundou o Institut des Textes et Manuscrits Modernes, conhecido sob a sigla ITEM (LEBRAVE, 2002, p. 97-98)6 . Deu-se início, assim, ao desenvolvimento da crítica genética, que nasceu como uma metodologia de trabalho que buscava observar, identificar, classificar, descrever e analisar os movimentos do processo de criação registrados nos manuscritos literários estudados. O foco seria, na verdade, voltar-se para o texto em movimento, o que levaria os estudiosos a questionar a existência de um texto definitivo. Hoje, como um eixo teórico-metodológico relevante de trabalho, a crítica genética volta o seu olhar para o processo criador presente não só para o percurso da produção literária que se deseja analisar, como também para outros tipos de manuscritos, como musicais, de desenho, arquitetura, dança, teatro, cinema, ou para cadernos de laboratório, dentre outros. Nesse amplo leque de possibilidades, podem estar

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“Assim como o livro, como o quadro, como toda obra de arte, o manuscrito faz parte dos valores culturais e dos objetos do patrimônio nacional. Um número cada vez maior de Estados toma consciência da urgência de preservar esses tesouros, insubstituíveis em sua respectiva história cultural. Assim, cerca de trinta países assinaram, em 1987, uma carta da UNESCO para garantir a preservação da memória escrita dos séculos XIX e XX” (GRÉSILLON, 2007, p. 110).

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