Mulheres pela Liberdade - Parte II

Page 1


MULHERES PELA LIBERDADE

21MulheresPortuguesas quesonharamirmaisalém…

VERA LAGOA

Lisboa, 1996

“Muita

água correu sob as pontes até que fosse permitido a uma mulher como eu, sem passado literário (apenas com um passado de luta), dirigir um jornal de combate e de cultura. Para o combate, aqui estou eu. Para a cultura (além do combate, também, evidentemente) aqui está quem neste jornal escreve ” .

IN SEMANÁRIO O DIABO FUNDADO POR VERA LAGOA

VERA LAGOA (pseudónimo de Maria Armanda Falcão) era filha de um Oficial do exército. Devido às prisões e deportações de seu pai durante a 1ª República os seus estudos resumiram-se à instrução primária. Os seus conhecimentos advinham de conversas com amigos do seu pai e de ser autodidata. Devido a dificuldades financeiras começou a trabalhar muito jovem como secretária.

Teve dois filhos, José Manuel Tengarrinha e José Rebordão Esteves Pinto.

Fez a primeira transmissão experimental da RTP em 1956, apresentando um documentário sobre ourivesaria Foi dispensada da televisão por se recusar a dizer a frase: “Até amanhã, se Deus quiser” pois era agnóstica.

Vera Lagoa opôs-se ao Estado Novo e apoiou a candidatura à Presidência da República, de Humberto Delgado, em 1958

Foi jornalista no Diário Popular com a crónica social Bisbilhotices, e, é desta forma, que surge o pseudónimo Vera Lagoa. Este foi sugerido por Luís de Sttau Monteiro por Vera significar autêntica e verdadeira e Lagoa ser o nome do vinho que estava na mesa

Após o 25 de abril de 1974 foi militante do Partido Socialista, mas rapidamente se desiludiu com o novo regime democrático.

Posicionou-se contra o PREC e as figuras do novo regime, defendia as vítimas da descolonização e escreveu diversas crónicas no semanário Tempo. Fundou o seu próprio jornal O Diabo em 1976, que viria a ser suspenso pelo Conselho da Revolução depois de um artigo sobre o Presidente da República Costa Gomes Só voltaria a ser impresso novamente em 1977 Vera Lagoa fundou um novo semanário O Sol, que possuía a mesma linha editorial do anterior pelo que sofreu um ataque à bomba logo após as primeiras edições. A redação e impressão deste jornal passou para a cidade do Porto Fundou ainda o semanário O Crime Vera Lagoa foi ainda fundadora do concurso Miss Portugal e promoveu diversas manifestações anuais no dia 1 de dezembro Manifestou-se contra a reeleição do General Ramalho Eanes para a Presidência da República por entender que assim se perpetuava o poder do Conselho da Revolução. Lutou por uma investigação apurada à queda do avião que vitimou Sá Carneiro e Snu Abecassis

MARIA ISABEL BARRENO

Lisboa 2016

“Maria Isabel Barreno, para quem o 25 de Abril foi o acontecimento mais importante da sua vida, considera que o tumulto provocado pela publicação Novas Cartas Portuguesas contribuiu para que a Constituição da República de 1976 consagrasse a igualdade absoluta de direitos para homens e mulheres.”
IN RTP ENSINA – “MARIA ISABEL BARRENO APRESENTA-SE COM BIOGRAFIA BREVE”

MARIA ISABEL BARRENO foi uma escritora, ensaísta, artista plástica, jornalista e conselheira cultural para o ensino do português em França Licenciou-se em Ciências Histórico-Filosóficas.

Os livros fazem parte da sua vida desde os 6 anos, quando ficou doente e passou muito tempo sozinha Na adolescência descobriu a poesia e na idade adulta a prosa sendo assim que gosta de se exprimir

Dedicou-se à causa do feminismo e fez parte do Movimento Feminista de Portugal Escreveu vários livros em nome próprio, mas o mais polémico durante a Ditadura foi aquele em que participou como coautora – Novas Cartas Portuguesas - juntamente com Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa, em 1972. Obra proibida pelo regime fascista foi considerada “pornográfica e atentatória da moral pública”, e levou estas três mulheres a tribunal e possivelmente só não foram presas porque se deu o 25 de abril de 1974, tendo o processo conclusão já no novo regime

O processo judicial teve repercussões mundiais, principalmente pelos movimentos feministas anglo-saxónicos e franceses, o que levou Maria Isabel Barreno a ser convidada para conferências em diversas Universidades NorteAmericanas, sobre a temática do feminismo Segundo a própria, a Constituição Portuguesa de 1976 é avançada no que diz respeito às mulheres, por causa do processo das Três Marias e do livro Novas Cartas Portuguesas. Ao longo da sua vida publicou 24 títulos, entre romances e investigação na área da sociologia. Escrevia poesia, mas nunca a publicou, ficando sempre guardada dentro de gavetas A temática das suas obras gira à volta da realidade portuguesa, incluindo o universo feminino Recebeu vários prémios, tais como: Prémio Fernando Namora (1991), Grande Prémio de Conto Camilo Castelo Branco (1993) e P.E.N. Clube Português de Ficção (1994).

Em 2004, foi condecorada como Grande-Oficial da Ordem do Infante D Henrique

IMAGEM © Blog Esquina do Tempo FONTES https://pt wikipedia org/wiki/Maria Isabel Barreno https://ensina rtp pt/artigo/maria-isabel-barrenoapresenta-se-com-biografia-breve http://livro dglab gov pt/sites/DGLB/Portugues/ autores/Paginas/PesquisaAutores1 aspx?AutorId 9716

MARIA TERESA HORTA

“Um dia, lá mais à frente, quer ser lembrada exatamente como é: “A mulher que sempre lutou pela liberdade, sobretudo das mulheres, e pela mudança pela igualdade, na diferença.”

EXCERTO DE ARTIGO DA REVISTA MÁXIMA - 35 ANOS

MARIA TERESA HORTA, escritora, poetisa, jornalista e militante da causa feminista

Oriunda, pelo lado materno, de uma família da alta aristocracia portuguesa

Frequentou o Liceu D. Filipa de Lencastre e Estudou na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Dedicou-se ao cineclubismo, como dirigente do ABC Cineclube. Nem a sua condição feminina nem o facto de viver numa época em que a liberdade faltava a tornou refém ou fez com que deixasse de escrever o que lhe ia na alma Nem quando foi espancada por três homens por causa da sua poesia erótica, sentiu medo “É para aprenderes a não escreveres como escreves”, disseram enquanto a agrediam.

Fez parte do Movimento Feminista de Portugal juntamente com Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa Em conjunto lançaram o livro Novas Cartas Portuguesas, que na época teve um forte impacto e gerou contestação A obra foi considerada pela censura como um livro “pornográfico e atentatório da moral pública” tendo sido proibido a sua circulação. As autoras, perseguidas pela PIDE e sujeitas a um processo judicial, tiveram o apoio de escritores e pensadores ligados ao movimento feminista Publicou diversos textos em jornais como Diário de Lisboa, A Capital, República, O Século, Diário de Notícias, Jornal de Letras e Artes, entre outros Na Capital liderou o suplemento

Literatura e Arte, por onde passaram nomes como Natália Correia, Maria Isabel Barreno, Ary dos Santos, José Saramago, António Gedeão, Alexandre O’Neill, Mário Cesariny, entre outros grandes nomes. Foi chefe de redação da revista Mulheres a convite do Partido Comunista Português, da qual foi militante durante 14 anos, entre 1975 e 1989 Foi galardoada com o Prémio D Dinis 2011 da Fundação Casa de Mateus pela sua obra “As Luzes de Leonor” No mesmo ano é galardoada com o Prémio Máxima de Literatura pela mesma obra. Em 2014, recebeu o Prémio Consagração de Carreira da Sociedade Portuguesa de Autores. O Ministério da Cultura português distinguiu-a com a Medalha de Mérito Cultural em 2020 Em 2021 foi distinguida com o Prémio Literário Casino da Póvoa 2021, no festival de literatura Correntes d’Escritas, pela obra “Estranhezas”. No mesmo ano, foi homenageada no Festival Literário Internacional do Interior, criado em homenagem das vítimas dos incêndios de 2017. Em 2023, o ISPA distinguiu-a com o título de Doutora Honoris Causa A 8 de março de 2004, foi agraciada com o Grau de Grande-Oficial da Ordem do Infante D Henrique pelo Presidente da República Portuguesa, Jorge Sampaio. A 21 de abril de 2022, foi agraciada com o Grau de Grande-Oficial da Ordem da Liberdade.

IMAGEM © Notícias Magazine FONTES https://comunidadeculturaearte com/ispainstituto-universitario-atribui-doutoramentohonoris-causa-a-maria-teresa-horta https://www portaldaliteratura com/autores php?autor=756 https://www maxima pt/atual/detalhe/maria-teresahorta-eu-sempre-fui-considerada-uma-pessoa-demau-feitio-em-todo-o-lado-dos-jornais-a-familia https://www maxima pt/atual/detalhe/maria-teresahorta-eu-sempre-fui-considerada-uma-pessoa-demau-feitio-em-todo-o-lado-dos-jornais-a-familia

MARIA VELHO DA COSTA

Lisboa, 2020

“Os regimes totalitários sabem que a palavra e o seu cume de fulgor, a literatura e a poesia, são um perigo. Por isso queimam, ignoram e analfabetizam, o que vem dar à mesma atrofia do espírito, mais pobreza na pobreza.”

CITAÇÃO DE MARIA VELHO DA COSTA AQUANDO DA ENTREGA GRANDE PRÉMIO

VIDA LITERÁRIA DA ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE ESCRITORES EM 2013

IN ARTIGO ONLINE DO DIÁRIO DE NOTICIAS

MARIA VELHO DA COSTA foi escritura e professora Licenciou-se em filologia germânica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Foi professora, funcionária do Instituto Nacional de Investigação Industrial e presidente da Associação Portuguesa de Escritores, de 1973 a 1978. Em 1969, já escrevia livros e já tinha algum reconhecimento, mas tornou-se mais conhecida depois da polémica do livro Novas Cartas Portuguesas (1972), em que foi coautora juntamente com Maria Teresa Horta e Maria Isabel Barreno, formando As Três Marias Obra proibida pelo regime fascista foi considerada “pornográfica e atentatória da moral pública”, e levou estas três mulheres a tribunal e possivelmente só não foram presas porque se deu o 25 de abril de 1974 A conclusão do processo deu-se já no novo regime O processo judicial teve repercussões mundiais, principalmente pelos movimentos feministas anglo-saxónicos e franceses Em 1979, foi Adjunta do Secretário de Estado da Cultura e adida cultural em Cabo Verde entre 1988 e 1990.

Exerceu funções na Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses e no Instituto Camões. A sua escrita situa-se numa linha de experimentalismo linguístico que renovou a literatura portuguesa na década de 60 e destaca-se na sua geração de novelista pela forma como manuseia a língua Nos seus livros há referências até à escrita “à maneira de” Agustina Bessa-Luís ou de Nuno Bragança, por exemplo A esta extrema riqueza vocabular e estilística, associa temas como a intimidade infantil, a linguagem-afetividade e a condição feminina. Maria Velho da Costa foi distinguida com o Prémio Cidade de Lisboa, com o Prémio D Dinis Em 2002 recebeu o Prémio Camões e no ano seguinte foi condecorada com o Grau de Grande-Oficial da Ordem do Infante D Henrique

IMAGEM © Visão FONTES http://livro dglab gov pt/sites/DGLB/ Portugues/autores/Paginas/PesquisaAutores1 aspx?AutorId=9682 https://www sistemasolar pt/pt/autor/2392/mariavelho-da-costa/?ac=autor https://pt wikipedia org/wiki/Maria Velho da Costa https://www dn pt/cultura/morreu-a-escritora-mariavelho-da-costa-12232090 html

PAULA REGO

Londres, 2022

“Quando estou a trabalhar esqueço o medo... ou pinto-o”

ENTREVISTA À REVISTA MAGAZINE, 2016

MARIA PAULA FIGUEIROA REGO foi uma

pintora luso-britânica, nascida no seio de uma

família liberal e republicana.

Após concluir o ensino secundário com bastante aptidão para a pintura o seu pai incentivou-a a estudar fora do país, longe do regime de Salazar.

Entre 1952 e 1956, estudou em Londres na Slade School of Fine Art.

Em 1957, regressa a Portugal e continua a pintar os seus quadros, tornando-se bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian

Teve a sua primeira experiência expositiva em 1961, mas só em 1966 teve a sua primeira exposição em nome individual.

Introduzindo nas suas obras elementos expressivos, profundos e ambíguos, Paula Rego ganhou o reconhecimento como uma das maiores artistas dos nossos dias, a nível nacional e internacional. Do abstracionismo ao conceptualismo, as suas peças inserem-se num campo figurativo próprio.

As suas composições surreais são uma crueldade, nas quais a artista portuguesa demonstra o seu próprio imaginário, a brutalidade dos contos populares portugueses, as relações familiares disfuncionais, os sistemas políticos e estruturas sociais. As mulheres e meninas são colocadas em primeiro plano, e muitas vezes os animais substituem os humanos Entre a vida e a arte, Paula Rego demonstra as suas preocupações e convicções É exemplo disso, a produção da série intitulada “Aborto” por concordar com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez (1997). Paula Rego expôs em vários locais de Portugal, mas em 2006 a convite da Câmara Municipal de Cascais tem a sua obra exposta em permanência na Casa das Histórias Paula Rego A artista recebeu diversas homenagens e nível nacional e internacional. Em 2021, foi considerada umas das 25 mulheres mais influentes do mundo pela revista Financial Times.

IMAGEM © Observador FONTES https://www p55 art/collections/paula-rego# https://www publico pt/2022/06/08/culturaipsilon/ noticia/paula-rego-pintora-fez-quis-2009462 https://www publico pt/2022/06/08/culturaipsilon/ noticia/paula-rego-pintora-fez-quis-2009462 https://blog artsoul com br/a-coragem-narrativ

SIMONE DE OLIVEIRA

“Há uma coisa terrível que é o poder e o poder mata tudo.”

DIÁRIO DE NOTÍCIAS, 23 AGOSTO 2023

SIMONE DE OLIVEIRA é cantora, apresentadora e atriz Casou-se com 19 anos, mas após três meses fugiu, vítima de violência doméstica. Conseguiu a separação judicial de pessoas e bens por ter testemunhas das agressões do marido Teve uma relação com António José Coimbra Mano de quem teve dois filhos. A sua estreia como cantora aconteceu em 1958 no primeiro Festival da Canção Portuguesa. Nos dois anos seguintes ganhou este festival e lançou diversos EP. Em 1961, vence o Festival da Canção da Figueira da Foz com a canção Ontem e hoje. No primeiro Festival RTP da Canção, em 1964, ficou em 3º lugar com a canção Olhos nos olhos. Em 1964, ganha o prémio da imprensa para a melhor cançonetista Em 1965, ganha o Festival RTP da Canção com o tema Sol de Inverno, e representa Portugal no Festival da Eurovisão em Nápoles. Neste ano foi eleita a Rainha da Rádio. Participa no Festival Internacional da Canção do Rio de Janeiro, em 1966. Foi convidada por Amália Rodrigues para participar numa temporada totalmente em português no Olympia, em França. Em 1969, volta a ganhar o Festival RTP da Canção com o maior êxito da sua carreira Desfolhada portuguesa No mesmo ano, e por um período de dois anos, perde a voz. Durante este tempo faz alguns trabalhos de jornalismo, rádio, locução,

apresentadora, nomeadamente no Casino da Figueira da Foz e no concurso de Miss Portugal. Quando recupera a voz, o timbre é agora mais grave.

Em 1972 volta a gravar um EP, e em 1973 volta ao Festival RTP da Canção com a música

Apenas o meu povo, no qual recebeu o prémio de interpretação De salientar, que o seu reportório musical foi escrito essencialmente por autores de qualidade e muitos deles antifascistas.

Participou no Jubileu da Rainha Isabel II do Reino Unido, em 1977 Em 1980, representa Portugal no Festivas da OTI – Organização de Televisão Iberoamericana, onde recebe o prémio de Interpretação

Nos anos 80, 90 e início de 2000 grava cd’s, participa em diversas peças de teatro, em séries, novelas, dá a voz a diversas personagens em filmes, é júri em programas de televisão, e apresenta o programa de televisão Piano Bar (1988)

Em 2022, despede-se dos palcos com um concerto no Coliseu dos Recreios

Recebeu vários prémios, foi condecorada com a Grande-Oficial da Ordem do Infante

D. Henrique, Grã-Cruz da Ordem do Infante

D. Henrique e Grã-Cruz da Ordem do Mérito.

NATÁLIA CORREIA

Lisboa, 1993

Queixa Das Almas Jovens Censuradas

Dão-nos um lírio e um canivete e uma alma para ir à escola mais um letreiro que promete raízes, hastes e corola.

Dão-nos um mapa imaginário que tem a forma de uma cidade mais um relógio e um calendário onde não vem a nossa idade.

(…)

Penteiam-nos os crânios ermos com as cabeleiras das avós para jamais nos parecermos connosco quando estamos sós

Dão-nos um bolo que é a história

da nossa história sem enredo e não nos soa na memória outra palavra que o medo.

(…)

Dão-nos um nome e um jornal, um avião e um violino. Mas não nos dão o animal que espeta os cornos no destino.

Dão-nos marujos de papelão com carimbo no passaporte. Por isso a nossa dimensão não é a vida. Nem é a morte.

IN DIMENSÃO ENCONTRADA, 1957

NATÁLIA CORREIA. Escritora com obra publicada em vários géneros, desde a poesia ao romance, teatro e ensaio Colaborou em diversas publicações portuguesas e estrangeiras. Durante as décadas de 1950 e 1960, reuniu na sua casa uma das mais vibrantes tertúlias de Lisboa, onde compareciam as mais destacadas figuras das artes, das letras e da política oposicionista portuguesas e internacionais A partir de 1971, essas reuniões passaram a ter lugar no bar Botequim Ficou conhecida pela sua personalidade livre de convenções sociais, vigorosa e polémica, que se reflete na sua escrita Notabilizada através de diversas vertentes da escrita, já que foi poeta, dramaturga, romancista, ensaísta, tradutora, jornalista, guionista e editora, tornou-se conhecida na imprensa escrita e, mais tarde, nos anos 80, na televisão, com o programa Mátria, onde advogou uma forma especial de feminismo afastado do conceito politicamente correto do movimento. Foi igualmente coordenadora da Editora Arcádia Dotada de invulgar talento oratório e grande coragem combativa, tomou parte ativa nos movimentos de oposição ao Estado Novo, tendo participado no MUD – Movimento de Unidade Democrática, 1945, no apoio às candidaturas para a Presidência da República do General Norton de Matos (1949) e de Humberto Delgado (1958) e na CEUD – Comissão Eleitoral de Unidade Democrática (1969)

Foi condenada a três anos de prisão, com pena suspensa, pela publicação da Antologia da Poesia Portuguesa Erótica e Satírica, considerada ofensiva dos costumes, e processada por ter tido a responsabilidade editorial das Novas Cartas Portuguesas de Maria Isabel Barreno, Maria Velho da Costa e Maria Teresa Horta. Fundou em 1971, com Isabel Meireles, o bar Botequim, onde durante as décadas de 1970 e 1980 se reuniu grande parte da intelectualidade portuguesa, entre os quais António Sérgio, David Mourão-Ferreira, Almada Negreiros, Mário Cesariny, Ary dos Santos, Amália Rodrigues, entre muitos outros. Foi uma entusiasmada e grande impulsionadora do espetáculo de café-concerto em Portugal

A sua intervenção política pública levou-a ao Parlamento, eleita em 1980 nas listas do PSD, motivada pela pessoa de Francisco Sá Carneiro, de quem era amiga, tal como de Snu Abecassis. Foi autora de polémicas intervenções parlamentares e ficou célebre, durante um debate sobre o aborto, em 11 de novembro de 1982, pelo poema satírico que fez para João Morgado, deputado do CDS, o qual afirmara que “o ato sexual é para ter filhos” O poema foi publicado dias depois pelo Diário de Lisboa

IMAGEM © imagem retirada do site www mulherportuguesa com/pessoa/as-biografias/nataliacorreia-a-vida-por-detras-da-obra FONTES https://ensina rtp pt/artigo/natalia-correia/ http://livro dglab gov pt/sites/DGLB/Portugues/ autores/Paginas/PesquisaAutores1 aspx?AutorId=9794

ROSA MOTA

“Existe um país, embora pequenino, mas que naquele momento era o maior de todos!”

DECLARAÇÃO DE ROSA MOTA ALUSIVA À SUA VITÓRIA NA MARATONA

FEMININA

DOS JOGOS OLÍMPICOS DE SEUL – COREIA, EM 1988, ARQUIVO RTP

ROSA MARIA CORREIA DOS SANTOS

MOTA, a primeira portuguesa a conquistar uma medalha de ouro Olímpica (1988), foi considerada pela Associação Internacional de Maratonas e Provas de Estrada - AIMS, como a melhor maratonista de todos os tempos. Nascida na Foz do Douro - Porto, disputou a primeira competição em 1972 Seguiram-se triunfos distritais e nacionais As portas do atletismo abriram-se através do Futebol Clube da Foz (1974-1977) e do Futebol Clube do Porto (1978-1980).

No início dos anos 80, com pouco mais de 20 anos, redefine as distâncias nas quais pode competir, sob orientação de José Pedrosa, médico e seu treinador De 1981 até ao final da carreira atlética representará o CAP – Clube de Atletismo do Porto

Neste mesmo ano, inicia o percurso como maratonista, na prova de São Silvestre em São Paulo. Até 1986, venceu-a por seis vezes consecutivas.

Em 1982, inscreveu-se na maratona feminina do Campeonato Europeu de Atletismo que decorreu em Atenas e onde fez parte de um momento histórico para as mulheres – a primeira maratona feminina oficial. Tendo

vencido a prova, descobriu a sua prova ideal: a maratona. Em 1984, nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, torna-se a primeira portuguesa a ganhar uma medalha olímpica de bronze. Quatro anos depois, em Seul – Coreia, venceu a maratona. A partir do Km 38, elevou o ritmo e arrancou para a vitória Torna-se a “Rosa de Ouro” Rosa Mota, considerada a melhor maratonista do século xx, conquistou vitórias em Londres, Osaca, Split e Boston, mas também em provas de corta- -mato e de estrada conquistando 100 vitórias, em 20 países. Sagrou-se recordista mundial nos 20 mil metros, em estrada e em pista Foi oito vezes campeã nacional de corta-mato

A “Menina da Foz”, como é conhecida, tem estátuas, uma rua e um pavilhão com o seu nome, e até um parque em sua honra no Japão. Já foi embaixadora de Portugal nas mais altas funções. Em 2018, com 60 anos, Rosa Mota ganhou a mini-maratona de Macau (5,2 kms).

Entre muitas distinções honoríficas, salientase: Medalha Olímpica Nobre Guedes (1981); Grã-Cruz da Ordem do Infante (1987); Grã-Cruz da Ordem de Mérito (1988); Colar de Mérito Desportivo (1989).

IMAGEM © Mike Powell / Allsport FONTES https://olympics com/pt/noticias/medalhasolimpicas-de-portugal-rosa-mota-a-primeiraportuguesa-campea-olimpica https://www contacto lu/sociedade/rosa-motaportuguesa-suave/491226 html

Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.