TOP Magazine Edição 270

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Patrícia Ramos

pessoas / Bia Napolitano, Diego Cruz, Patrícia Ramos e Ramon Vitor / 4 jovens mulheres que estão bombando no mundo das artes / cultura / afinal, por que exposições imersivas estão em tão alta?

/ o que querem os movimentos ativistas que atacam museus ao redor do mundo? / gastronomia / como a arte aparece em pratos e restaurantes revolucionários / lifestyle / tatuagem: o que ela significa para diferentes gerações / viagem / fomos para a Suíça mergulhar na magia que envolve a fabricação dos canivetes da centenária Victorinox

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#Tiktokers

Bia Napolitano, Diego Cruz, Patrícia Ramos e Ramon Vitor

Para colecionar

Conheça quatro jovens artistas brasileiras em ascensão e cheias de propósitos

Mundo TOP

A fragrância mais vendida da Lâncome, collab da Nespresso com o chef Pierre Hermé, o novo rótulo do Perrier Jouet, Guardiões da Galáxia vol. 3 e novo museu em SP sobre a história da bolsa de valores

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Na pele

Da onde vem e para onde caminha: a evolução técnica da tatuagem e a transformação de seu significado ao longo dos anos

Para comer com os olhos

Que gastronomia é arte, todo mundo sabe. Mas os chefs: são artistas ou artesãos de suas deliciosas obras?

Tradição mundo afora

A história do canivete da Victonorix que completa 125 anos

Em alta

Exposições imersivas: a origem da tendência que esgota ingressos e a opinião de críticos sobre a importância da união de arte e tecnologia

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#Ativismo

Ataques à grandes obras de arte ignora o poder revolucionário da arte como aliada e cria discussões rasas sobre a questão climática

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CULTURA LIFESTYLE GASTRONOMIA
PESSOAS
VIAGEM

Quem Fez

Carol Scolforo

Carol Scolforo é jornalista e ama escrever sobre lifestyle, entendendo as nuances de cada história. A influência desta edição foi tão grande sobre ela, que começou a criar conteúdos para seu TikTok. @carolinascolf

Maquiadora há 15 anos, Iza Ventura é a responsável por makes que realçam ainda mais a beleza de nossas estrelas da capa. Pelos corredores da redação, também desfilou seu bom humor e simpatia tão encantadores quanto seu tradicional delineado.

Multifacetada, Marley Galvão envereda, ao mesmo tempo, pelo universo da produção até a redação. Da planilha para o set, a jornalista assina a entrevista com Bia Napolitano, além da produção executiva do estúdio Mundo TOP Geração Tiktokers.

Talento que não se mede, Kethlyn Guimarães é a responsável pelos vídeos de bastidores dos ensaios de capa publicados no Instagram @topmagazine. Sem tempo ruim, era comum ver Ket deitada no chão para garantir a melhor imagem possível.

Ket Marley Galvão
14 TOP MAGAZINE EDIÇÃO 270 Colaboradores
Iza Ventura Um dos maiores nomes da fotografia nacional, Miro retratou com seu olhar único alguns dos maiores tiktokers do Brasil nesta edição especial de TOP Magazine.
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Miro

Publisher

Claudio Mello

TOP Magazine | Studio Mundo TOP

Diretora de Redação: Julyana Oliveira

Redação: Renata Zanoni e Vivian Monicci

Diretora de Arte: Rosana Pereira

Assistente de Arte: Luana Jimenez

Estagiárias: Gabriela Haluli e Catharina Morais

Projeto Gráfico

Marcus Sulzbacher

Lilia Quinaud

Paulo Altieri

Fabiana Falcão

Colaboradores

Texto

Beatriz Lourenço, Carol Scolforo, Daphne Ruivo, Marley Galvão, Simone Coelho

Foto

Miro

Produção

Leandro Milan e Paula Giannaccari (Catering), Isadora Monteiga, Iza Ventura, Jeane Souza, Kethlyn Guimarães, Lisa Corrêa, Mara Helena da Cruz, Marina Wilson, Marley Galvão, Victória Di Lallo

Tratamento de Imagens

Fujoka, JC Silva

Editora Todas as Culturas

Criativo: Bruno Souto

Gerência de Relacionamento: Carolina Alves

RP & Interface de Atendimento: Dianine Nunes

Financeiro: Marcela Valente

Circulação: Regiane Sampaio

Assessoria Jurídica: Bitelli Advogados

Impressão: R2 Produção Gráfica

Distribuição: Brancaleone

TOP Magazine é uma publicação da Editora Todas as Culturas Ltda. Rua Pedroso Alvarenga, 691 - 14º Andar - Itaim Bibi - CEP 04531-011 - São Paulo/SP Tel.: (11) 3074-7979

As matérias assinadas não expressam necessariamente a opinião da revista. A revista não se responsabiliza pelos preços informados, que podem sofrer alteração, nem pela disponibilidade dos produtos anunciados.

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TOP MAGAZINE EDIÇÃO 270 Expediente

Mundo Top

UMA SELEÇÃO DE TUDO O QUE FAZ A DIFERENÇA SOBRE LIFESTYLE / CULTURA / DESIGN / FO

20 TOP MAGAZINE EDIÇÃO 270 Cultura
Por Simone Coelho

TOGRAFIA / CINEMA

champagne

Natureza requintada

A artista plástica Garance Valée redesenha o rótulo da champagne Blanc de Blancs à convite da Maison Perrier-Jouët

Tão inspiradora quanto a junção das matérias naturais é a união de duas grandes paixões. Embebida dessa suavidade, a Maison Perrier-Jouët convidou a artista plástica Garance Valée para reinterpretar o rótulo do champagne Blanc de Blancs em uma edição limitada com ares de obras de arte.

A artista plástica mescla a abstração da contemporaneidade ao olhar atento à natureza, prestando uma homenagem à herança art nouveau já presente na marca. Resultado? A icônica anêmona Perrier-Jouët estampando a safra que chega esse ano ao Brasil.

A escolha de Varée se deu pela união har-

mônica da matéria animal, vegetal e mineral, que coexistem em simbiose nas vinhas de champagne. O destaque fica neste equilíbrio dos três pilares naturais que compõem o ecossistema da região.

As criações delicadas de Varée se estendem ao rótulo e também estão presentes na instalação Planted Air, em cartaz no Miami Design Center, convidando o visitante a percorrer um caminho por entre as vinhas francesas. Neste ambiente, quase um microcosmo, cada videira é uma escultura que aparece enraizada no terroir, mostrando a firmeza das árvores, o encanto das plantações e o luxo da bebida.

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perfume

Ingresso para o paraíso

La Vie Est Belle, a fragrância queridinha e mais vendida do mercado de luxo, anuncia Julia Roberts como nova porta-voz

Há anos uma pergunta rodeia a mente humana: existe fórmula para a felicidade? Para a maioria dos brasileiros (e porque não de todos os povos) a resposta varia entre uma combinação de momentos que envolvem família, liberdade e lazer. No entanto, a Lancôme aposta que sabe o segredo – a conta gotas – que inspira milhares de mulheres ao redor do mundo. “A versão eau de parfum de La Vie Est Belle conquistou o coração das pessoas, alcançando a marca estratosférica de um frasco vendido a cada três segundos no mundo e, aqui no Brasil, um por minuto”, garante Ricardo Assi, sommelier de fragrâncias da L’Oréal Luxe, empresa detentora da marca.

O perfume de luxo ficou conhecido pela soma de dois componentes marcantes: frasco e fragrância. A sofisticada embalagem traz a força e a doçura de um sorriso, símbolo da aura feminina.

Já a fragrância possui elementos que reforçam a autenticidade e a confiança, sem esquecer da leveza e da alegria, marcas registradas da Lancôme. “As notas mais expressivas são: a íris, a flor da felicidade; patchouli, que evoca profundidade, intensidade e fixação; combinados à baunilha, que proporciona calor, sensualidade e muita personalidade”, afirma Assi.

Tanto sucesso tornou o perfume o best-seller da marca e o mais vendido do mercado de luxo no Brasil, conta Marcela D’Ávila, diretora de Lancôme. “Foram testadas mais de 3 mil fórmulas para chegar numa fragrância que encapsulasse a emoção e que carregasse o mindset da felicidade como maior fonte de beleza”, conta.

La Vie Est Belle tem tudo para subir ainda mais nas vendas nos próximos meses. É que a nova porta-voz desta linha de perfumes é uma linda mulher e representa um dos sorrisos femininos mais famosos do mundo. Julia Roberts estrelará uma série de campanhas mundiais com a missão de “recrutar novas consumidoras e fidelizar as atuais”, indica Marcela que complementa: “é um produto que constrói brand love, pois está presente em momentos importantes da vida das consumidoras e reforçando o desejo pela marca”

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cultura

Entre ações e investimentos

São Paulo inaugura o MUB3, Museu da Bolsa de Valores, e oferece um mergulho na história do mercado financeiro brasileiro

Se você trabalha no mercado financeiro ou investe em ações já deve estar mais acostumado a ver a dinâmica dos pregões. Do contrário, pode ser que imagine apenas o ambiente barulhento e um tanto confuso que as vendas e oscilações dos câmbios podem trazer. Mas acredite: vai além e nem sempre teve o mesmo perfil.

Buscando conectar o público com a educação financeira, São Paulo abriu as portas para o Museu da Bolsa de Valores, o MUB3. “Já fazíamos a gestão de mais de cem mil itens dos centros de memória das instituições que hoje integram a B3. Juntamos esse acervo ao nosso DNA, das visitas e programas educativos realizados desde os anos 1980, para poder atender a uma demanda reprimida do público, que buscava por um espaço para conhecer toda essa história”, conta Christianne Bariquelli, superintendente de Educação na B3, patrocinadora do local.

Localizado em um prédio de arquitetura neoclássica, de 1940, o museu conta com 16 salas que mostram desde a fundação da bolsa do Rio, em 1850, a instalação da bolsa em São Paulo e os famosos ambientes tecnológicos dos anos 2000, com painéis e pregões com viva voz para o mundo.

Aos olhos atentos do público apaixonado por história, são retratadas a evolução dos telefones, o refinamento das documentações e um ambiente de 1930 com os rádios utilizados na época pela Bolsa de Mercadorias de São Paulo.

O MUB3 está aberto de segunda à sexta-feira, das 9h às 17h, na Rua XV de Novembro, 275, no centro de São Paulo.

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cinema

We are Groot

O público aguarda ansioso a chegada de Guardiões da Galáxia Vol. 3 marcada para o início de maio nos cinemas

Os amantes da saga já podem ligar o cronômetro sem medo (pelo menos ao que parece). Com lançamento previsto para 5 de maio, o terceiro volume de Guardiões da Galáxia chegará aos cinemas com mais uma missão,

além dos desafios vividos pela equipe intergaláctica: ser um sucesso até para quem não os acompanhava. Isso porque o trailer, lançado na CCXP 2022, foi tão bem recebido pelo público que deixou o longa na primeira posição da lista de filmes mais aguardados de 2023 – a pesquisa é organizada pelo Fandango, o maior site de venda de ingressos de cinema dos Estados Unidos. O feito deixa grandes queridinhos de lado. Homem-Aranha: Através do Aranhaverso aparece em segundo lugar, Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania, fica na terceira posição, e Aquaman e o Reino Perdido surge em sexto. Entre as novidades do longa, estão dois grandes personagens. Will Poulter, como o herói Adam Warlock, e

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Mundo Top

Chukwudi Iwuji, na pele do vilão Alto Evolucionário, juntam-se ao time original composto por Chris Pratt, Zoe Saldana, Dave Bautista, Vin Diesel, Bradley Cooper, Karen Gillan e Pom Klementieff.

O filme também coloca sob os holofotes uma polêmica de bastidores: James Gunn, demitido durante as gravações, foi recontratado e está confirmado como o diretor e roteirista desta produção.

Mesmo sem sinopse divulgada oficialmente pela Marvel, o filme deve abordar as consequências de Ultimato e o Especial de Festas. E se você não pode ver o trailer no evento, não se preocupe, a degustação já está disponível nas plataformas digitais.

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Mundo Top

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café

Pequenas porções da mais alta gastronomia

Nespresso lança coleção limitada de cafés e produtos em parceria com o chef Pierre Hermé

Café com doce: combinação queridinha da maioria dos brasileiros. Que tal elevar a experiência e combinar a bebida com essências sofisticadas de sobremesas da alta gastronomia? Traçando essa fatia exclusiva de sabor, a Nespresso anuncia uma parceria com o chef pâtissier Pierre Hermé, conhecido por ser o criador da Haute Pâtisserie.

São três cafés e acessórios inspirados no estilo de vida, na arte do encontro e na criatividade gastronômica do renomado mestre confeiteiro. Além disso, os produtos prometem evocar a doçura das obras autorais do chef, dono de boutiques e bebidas homônimas prestigiadas pelo mundo.

O Infiniment Espresso possui grãos arábica com toques de frutas vermelhas e notas suaves de cereais. O Infiniment Gourmand Saveur Noisette traz o aroma de avelã torrada e notas de biscoito de amêndoa e baunilha. Sabor presente também nos grãos arábica sul-americanos mais adocicados da cápsula. Por fim, Infiniment Fruité Saveur Framboise é a mais refrescante das três combinações: mistura a suavidade do aroma de cereais com o frescor da framboesa.

“Neste trabalho criativo, o mais importante é sempre o sabor. Trabalhamos em um café preto de origem única, diferente de qualquer outro proveniente da região de Tolima, na Colômbia. Apostamos também em dois cafés aromatizados inspirados no mundo da confeitaria: avelã e framboesa”, comenta Pierre Hermé. A linha será vendida para o sistema original e vertuo da Nespresso. É composta ainda por outras opções de presente: uma delicada caixa de chocolates, uma travel mug e máquina em tons sazonais.

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Mergulho sensorial

EXPOSIÇÕES IMERSIVAS TORNAM-SE FENÔMENOS COM

TECNOLOGIA DE PONTA E LOTA PAVILHÕES DE MILHARES DE METROS QUADRADOS ESTAMPADOS POR OBRAS DE GRANDES ARTISTAS

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Monet à Beira D’Água

Luzes, projeções de alto alcance, trilha sonora e espaço amplo para deitar no chão. Essas são algumas características da nova sensação do momento: as exposições imersivas. Organizadas para que o visitante se sinta parte das obras, as instalações aguçam os sentidos perceptivos –visão, audição, tato, olfato, paladar – com imagens que tomam do teto ao chão e atraem inúmeras pessoas ao redor do mundo que anseiam pela interação com criações de artistas consagrados mundialmente. Para entender o fenômeno, é preciso fazer um recuo histórico. “Os Afrescos de Giotto, na Capela Scrovegni, em Pádua, executados em 1304-06, e a Sala dos Gigantes, de Giulio Romano, em Mântua, criada em entre 1531 e 1536, são formas bastante contundentes de experiências imersivas da arte. Nesse sentido, seria um equívoco pensar que imersão é um dado inventado no nosso século e para o nosso tempo”, diz Renato Menezes, historiador da arte e curador da Pinacoteca de São Paulo.

Onde a digital encontra o analógico

As novas tecnologias incorporadas aos processos artísticos e curadorias deram ao público mais uma maneira de apreciar a arte. Em 2018, o Atelier des Lumières abriu suas portas como o primeiro centro de arte digital da cidade de Paris com a exposição imersiva de Gustav Klimt. Os 140 projetores de vídeo a laser exibiram obras do pintor simbolista austríaco, como a famosa O Beijo, por 3.300 metros quadrados em paredes de 10 metros do edifício, onde funcionava uma antiga fundição de ferro criada em 1835, ao som de Beethoven, Chopin e Rachmaninov pelos 50 alto-falantes dispostos no local. O sucesso foi tanto que a mostra perdurou por um ano, dando espaço, em 2019, a Van Gogh, que encantou

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“Seria um equívoco pensar que imersão é um dado inventado no nosso século e para o nosso tempo”
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10 milhões de espectadores ao se tornar itinerante e passar por Estados Unidos, Canadá, Porto Rico e Brasil.

Em terras brasileiras, a exposição Beyond Van Gogh atraiu mais de 300 mil pessoas para um pavilhão de 3 mil metros quadrados no Shopping Morumbi, na Zona Sul de São Paulo. Imagens de 300 obras do pintor impressionista, como Os Girassóis (1889), foram estampadas por 40 projetores. Os ingressos chegavam a custar R$ 200.

Não é apenas a capital paulista que está investindo na opção multimídia quando o assunto é arte. Com luzes, projeção e videomapping, o Museu da Imagem e do Som do Ceará (MIS-CE) estreou a exposição imersiva Coragem em novembro de 2022. Em Salvador, a mostra internacional Frida Kahlo – A Vida de um Ícone ocupou o Salvador Shopping com uma proposta um pouco diferente: sem reproduções de pinturas da artista, a intenção foi explorar a biografia por meio de fotografias históricas, filmes originais, ambientes digitais, itens de colecionador e música original criada para reproduzir os momentos mais relevantes da vida de Frida.

Mas o que faz uma pessoa escolher tal experiência ao invés de ir a um museu? Para Luiza Adas, relações-públicas e fundadora do projeto Museu Do Isolamento – nas redes sociais com o objetivo de disseminar conteúdos sobre arte e cultura no Brasil de forma acessível e democrática – três pontos: “Primeiro, as exposições imersivas trazem um sentimento de curiosidade em imergir naquele universo, são palatáveis e superinstagramáveis. Segundo que existe a barreira social, as fronteiras invisíveis. O museu tem cara de ser um espaço caro, elitista, que faz com que as pessoas não queiram entrar. E terceiro o senso de urgência porque as imersivas tem um tempo determinado para acontecer”.

A urgência do público é tanta que uma das mais recentes exposições imersivas em São Paulo intitulada Monet à Beira D’Água teve seus ingressos de 2022 praticamente esgotados poucos dias após a abertura das vendas. Fixada no Parque Villa Lobos, a estrutura de 4 mil metros quadrados abriga a maior exposição multimídia do artista impressio-

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“As exposições imersivas trazem um sentimento de curiosidade em imergir naquele universo”

nista francês Claude Monet com mais de 280 obras e animações digitais 2D e 3D. O grande questionamento é: se Monet fosse vivo hoje, ele liberaria a imagens de suas obras para esse tipo de experiência? “Monet não pensou nas obras para serem reproduzidas daquela maneira”, opina Luiza Adas. “Eu considero como se fosse uma nova obra, uma readaptação com uma outra linguagem e outra mídia. Mas ambas não se anulam.” Quem desejar conferir a mostra, ela segue em cartaz e com facilidade maior na compra dos tickets.

Tela, pincel e tinta

Tirar uma foto com imagens gigantes de obras icônicas para postar no Instagram pode até ser um chamariz para as exposições imersivas, mas quando se trata da experiência física, Luiza Adas e Renato Menezes entram em consenso. “Você ver uma técnica, uma pressão colocada na tela é completamente diferente. O meio digital vai ser complementar para conseguirmos olhar, interpretar, sentir, pensar e entender as obras de arte na sua completude. Basta ver os números de visitas da exposição d’Os Gêmeos, que foi um blockbuster”, relembra Luiza sobre o meio milhão de pessoas – somadas as visitas online e presenciais, da mostra da dupla de irmãos grafiteiros Otávio e Gustavo Pandolfona na Pinacoteca. “Entrar no Museu do Louvre, subir as escadarias e cruzar com a estátua da Vitória de Samotrácia ou percorrer a Grande Galeria de Pintura Italiana e finalmente encontrar a Monalisa é uma experiência insubstituível. Não se trata de substituir a experiência, mas de alcançar a experiência possível. Minha preocupação é com quem não pode pagar 180 reais numa exposição imersiva – que é a maior parte da população brasileira –, por isso o papel fundamental que os museus desempenham em abrir suas portas para visitação gratuita”, conclui Menezes.

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“O meio digital vai ser complementar para conseguirmos olhar, interpretar, sentir, pensar e entender as obras de arte na sua completude”
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Beleza que viraliza tem nome.

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40 TOP MAGAZINE EDIÇÃO 270 Patrícia Ramos

DIVERTIDA, SINCERA E CRISTÃ, PAT RECEBEU NA INFÂNCIA, EM UM RETIRO, A MENSAGEM DE QUE

SERIA FAMOSA UM DIA. POIS ESSE DIA CHEGOU: COM

22 ANOS, A INFLUENCER ALCANÇOU 4 MILHÕES DE SEGUIDORES FAZENDO GRAÇA COM UM ÁUDIO QUE VIRALIZOU. AQUI, ELA CONTA COMO ACONTECEU

Por Carol Scolforo Fotos Miro Tratamento de imagem Fujocka 5 min
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42 TOP MAGAZINE EDIÇÃO 270 Patrícia Ramos

Alguns poucos anos atrás, Patricia Ramos ainda trabalhava num consultório odontológico e ganhava R$ 200. Hoje, as publicidades acrescentaram zeros à direita – e merecidamente – afinal, ela faz rir 4 milhões de pessoas no TikTok, rede que começou a usar na pandemia. Pat se tornou um fenômeno das redes com esquetes divertidas, respostas sinceras de uma mulher madura e até passagens da Bíblia – afinal, ela é cristã e exerce sua fé. Acredite, desde a infância ela imaginava que chegaria lá: segundo ela, foi Deus quem mandou o recado, como você vai ver a seguir.

Como começou sua carreira como influencer?

Basicamente nunca planejei trabalhar com o que trabalho hoje. Meu sonho era fazer uma faculdade e exercer uma profissão. Mas sempre fui uma criança extrovertida que gostava de fazer as pessoas rirem, inclusive na igreja. Em um retiro espiritual, um homem usado por Deus me disse: “você vai ser muito famosa. Em lugares que você não vai pisar, as pessoas vão ouvir sua voz”. Os anos se passaram e me formei como técnica em saúde bucal, cheguei a exercer a profissão como estagiária. Até que veio a pandemia. Eu era estagiária ainda, gravava vídeos na internet, mas como hobby.

O que aconteceu nessa época?

Gravei um vídeo e meu áudio viralizou no TikTok. Muita gente começou a me cobrar que eu entrasse pra essa rede. Eu postei e fui dormir. No dia seguinte tinha 1 milhão de visualizações no vídeo. Minha conta foi de 5 mil seguidores para 1 milhão em três meses. Aí comecei a trabalhar com isso.

Manteve o Instagram?

Sim, gostava de estar ali. Mas o TikTok foi o boom. Os vídeos linkaram com o que as pessoas sentiam.

O que acontece depois de acordar famosa?

Foi muito louco. Tudo aconteceu na pandemia, não tinha contato físico com ninguém, até que acabou o lockdown e eu inocentemente fui ao shopping à noite, quando pudemos sair. Eu não conseguia andar, de tanta gente me reconhecendo e falando “você é a menina do Para com isso!” (risos)

O bordão foi o que mais viralizou?

O Para com isso era forte no início. Mas os conteúdos de passagens da Bíblia foram bem legais. O “Pat aconselha”, meu quadro, também faz muito sucesso. O que coloco lá o pessoal gosta muito. Agora tem a caixa de som e o microfone também, que o público tem gostado muito.

Como é sua rotina hoje?

É inclusive difícil ter rotina, porque tenho viajado muito. Quando comecei, estávamos na pandemia e ficava 100% home office. Tem mês que passo 20 dias em São Paulo e dez no Rio onde moro. É tanto trabalho que tem dia que fico triste por não conseguir gravar os conteúdos orgânicos. Mas o público entende. Não me cobro tanto.

Existe a cobrança do público em relação a brincar com o evangelho? Você responde as críticas?

No começo não sabia lidar, recebia e respondia tudo. Todos os ataques que recebo até hoje são das pessoas da mesma religião que eu, por incrível que pareça. Sou cristã, tenho tatuagem, uso biquíni…e às

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“Meu sonho era fazer uma faculdade e exercer uma profissão. Mas sempre fui uma criança extrovertida que gostava de fazer as pessoas rirem, inclusive na igreja

vezes para a pessoa isso é errado, o pastor proíbe. E ela me ataca porque foi como ela aprendeu. Hoje ignoro, mas já tive muito estresse com isso.

Sobre ataques racistas: estão diminuindo ou aumentando?

Eu sinto que estão aumentando. Hoje frequento restaurantes e shoppings onde a maioria das pessoas não são negras. Vejo os olhares e questionamentos do que eu estava fazendo lá. Uma vez o porteiro (de um condomínio nobre onde eu morei) me perguntou se meu marido era jogador de futebol ou se eu era cantora. Puxa, precisa ter essas profissões para uma pessoa negra ocupar esse espaço? No inbox não recebo muito hate, é mais carinho das pessoas mesmo. Mas geralmente nos lugares percebo os olhares. Sei que preciso ocupar esses lugares. Vou mesmo e não tenho nenhum bloqueio.

É mais fácil ter mais seguidores no TikTok?

Sim. Atingi 1 milhão primeiro lá. É uma plataforma de vídeos rápidos e as pessoas gostam disso. O Instagram é onde você mostra o lifestyle, é diferente, o público se interessa pela sua vida. No TikTok as pessoas se interessam pelo seu conteúdo – lá não posto tanto meu dia a dia como mulher casada.

Qual é seu sonho atual?

Tenho vários que realizei: já casei, moro onde sempre quis, ajudei minha família, tudo graças às redes sociais. Tenho um e-commerce de moda feminina em ascensão, que tenho o sonho de expandir e fazer lojas físicas.

Você é empreendedora. Como é ir de R$ 200 aos milhares de reais? Como é sua relação com o dinheiro?

O princípio é bíblico. Sempre dei o dízi-

mo. Colho o que plantei quando ganhava R$ 200, que sempre foi dar a décima parte a Deus. Sempre gostei de ter o meu dinheiro. Fui criada no trabalho, com minha mãe na feira, no estágio…Quem administra meu dinheiro hoje é meu marido. Mas não me deslumbro com isso.

O que você conquistou de mais bacana com esse dinheiro?

O domínio da minha loja. Formalizar e ter o CNPJ da Collection By Pati foi a minha maior conquista. Quero expressar uma mulher como eu. Maravilhosa, empoderada, com personalidade forte e que usa o que quer, independentemente de opiniões. Sempre vendi o que uso – se não uso saia longa, não vendo isso. Vendia roupa e entregava na estação de trem.

Quais seus segredos para estar sempre linda? Botox: faça sim, principalmente se você vai à academia e faz força. Faça skincare também, use bons cremes. Malho em academia que tem unidades em todo o Brasil, então não fico sem treinar. Se não tem academia aonde vou, treino no quarto mesmo. Eu era muito magra, pesava 53 kg e agora peso 75 kg, mas de muita massa magra. Malho para comer bem. Se gosto de comer, tenho que gostar de malhar. Tenho acompanhamento de nutricionista e endocrinologista, priorizo muito minha saúde. Não compro doces, biscoitos, gordura, fritura - inclusive, se meu marido estiver lendo isso, por favor, amor, me ajuda! (risos)

E o que mais espera da vida? Sempre oro e digo a Deus que não consigo pedir mais nada. Isso que estou vivendo é muito além do que sonhei um dia. Peço a Ele para me preparar para o que vem aí. Ele sempre me surpreende e me prepara para viver coisas maiores.

“Sempre oro e digo a Deus que não consigo pedir mais nada. Isso que estou vivendo é muito além do que sonhei um dia”
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TOP MAGAZINE EDIÇÃO 270 Patrícia Ramos
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46 TOP MAGAZINE EDIÇÃO 270 Patrícia Ramos
“Uma vez o porteiro me perguntou se meu marido era jogador de futebol ou se eu era cantora. Puxa, precisa ter essas profissões para uma pessoa negra ocupar esse espaço?”
Assistente de beleza Iza Ventura
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Assessoria de imprensa Lu Barbosa Assessoria

Veja a vida por um outro ângulo

Imagens meramente ilustrativas. Habilitado para a tecnologia 5G. A velocidade real pode variar, dependendo do país, da operadora e/ou do ambiente do usuário. Verifique com a sua operadora a disponibilidade para mais detalhes. É possível notar um vinco no centro da tela principal, que é uma característica natural do smartphone. A dobradiça suporta o modo Flex em ângulos entre 75° e 115°. Para a sua conveniência, esse modo também pode ser ativado antes ou depois dessa faixa de ângulos. Recomendamos manter o celular imóvel durante o modo Flex. Alguns aplicativos podem não suportar o modo Flex. O Snapdragon é um produto da marca Qualcomm Technologies, Inc. e/ou suas subsidiárias.

50 TOP MAGAZINE EDIÇÃO 270 Ramon Vitor

ALEGRIAS, SOFRÊNCIAS, CONQUISTAS…TODOS OS DETALHES DA VIDA DE RAMON VITOR SÃO

COMPARTILHADOS COM MAIS DE 10 MILHÕES DE SEGUIDORES NO TIKTOK, ONDE É TOP CREATOR.

EMBORA ELE TENHA RETOMADO NESTE ANO, É UM

VETERANO DA WEB E NESTA ENTREVISTA ABRE O

JOGO DE TUDO QUE ACONTECEU COM TODA A

SINCERIDADE QUE TEM

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Por Carol Scolforo Fotos Miro Tratamento de imagem Fujocka Beleza Victória Di Lallo 5 min
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52 TOP MAGAZINE EDIÇÃO 270 Ramon Vitor

Quando tudo ainda era “mato” no TikTok, ou seja, quando ele ainda se chamava Music.Ly, em 2015, Ramon Vitor Teodoro de Freitas, hoje com 22 anos, foi o segundo brasileiro a abrir uma conta lá. Desbravou a rede social com a coragem – afinal, já era um veterano na internet, gravando vídeos desde os nove anos em redes como o Vine. Logo, dá pra entender por que Ramon se sente tão em casa nas mídias sociais: ele é uma cria da web. Mas não fosse uma pessoa espontânea, engraçada e com talento pra edição e mashups , não teria talvez o sucesso estrondoso que fez. Mais de 10 milhões de pessoas o seguem no TikTok e “piram” com vídeos como o que ele simplesmente varre sua casa na Bahia. A seguir, ele dá mais pistas de como se tornou esse fenômeno.

Ramon, como foi seu começo com os vídeos?

Gravo vídeos desde 2015, fui o segundo brasileiro do music.ly., que depois virou TikTok. Mas gravava mesmo desde o Vine, com nove anos. Era algo que eu gostava muito de fazer. Naquela época não tinha muita opção pra quem gosta de vídeo, sabe? Sempre amei gravar, meus pais tinham câmera e eles gravavam muita coisa. Quando eles se separaram, a única coisa que eu tinha eram esses vídeos.

E como você foi de anônimo a famoso? Tive duas fases: de 2015 até o começo deste ano foi a fase 1, e eu tinha 500 mil

seguidores. Tinha me mudado de São Paulo para a Bahia, porque em São Paulo tudo me fazia duvidar de mim mesmo. A minha realidade mudou e mudei para a vida adulta. Aceitei a questão de grana e via meu sonho ficar pra trás. Mas era meu sonho ir pra lá e falei “foda-se, vou continuar”. Daí vem a fase 2, quando recomecei a gravar meus vídeos sendo eu mesmo. Morando na minha casa e fazendo o que faço. Na Bahia consegui me reconectar comigo mesmo. Tem semana que ganho 1 milhão de seguidores. Desapeguei de muita coisa e só o fato de ser eu mesmo faz as pessoas seguirem. Posso gravar qualquer coisa que viraliza. Tem vídeos limpando a casa com 25 milhões de visualizações. Outro em que estou consertando o cano teve 35 milhões. Gravo um vídeo por dia e tudo “dá bom”.

E como você lida com as publicidades hoje?

Só faço o que gosto e faz sentido pra mim. Não bebo álcool, por exemplo, e já tive uma proposta da Ambev, mas não quis. Trabalhava no quiosque de beira de praia até pouco tempo atrás e vejo que as pessoas gostavam muito de me ver lá. Elas se importam muito com o que eu faço. Já me fizeram proposta para publi de um Cassino e foi a mesma coisa: poderia ter me ajudado? Claro, era de R$ 200 mil a meio milhão o cachê. Mas pensava nas pessoas fazendo um jogo de azar, no quanto aquilo poderia ser prejudicial. Não posso incitar isso.

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“Sempre amei gravar, meus pais tinham câmera e eles gravavam muita coisa. Quando eles se separaram, a única coisa que eu tinha eram esses vídeos”

Qual o vídeo que mais viralizou?

Não sei. Não tenho nem Media Kit porque os meus números atualizam muito rápido. O primeiro vídeo dessa nova fase deu 1 milhão de views, mas tem um com 49 milhões, de um tema muito comum. Tem vários assim.

E com a atual casinha da Bahia, você pretende se tornar influencer de decoração? Nada, é mais de um momento da minha vida mesmo. Tenho que reformar para viver de um jeito mais confortável, por isso os vídeos atuais acabam sendo de reforma, mas quero agora realizar algum sonho, como viajar e conhecer outros países.

Como é viver na Bahia? O que tem lá que não tem em outro lugar?

Calmaria. Moro em Ilhéus e consigo morar mais afastado no centro. Sabia que é o maior litoral do Brasil, com 100 km? Lá a

praia é só pra gente, tem água cristalina, onde moro é onde as baleias vão ter seus bebês. Já vi baleia, golfinho, tartarugas. Como trocar isso por outro lugar?

Que tipo de vídeo você mais gosta de fazer? Gosto de mostrar o que faço no dia, compartilhar minha vida, limpar casa, mostrar o que estou vivendo. Gosto que vejam quem é o Ramon. O que fazia antes era diferente do que é o Ramon, queria que as pessoas me conhecessem. Sou uma pessoa perseverante, alegre, feliz, que vive os momentos da vida, passando perrengue sem dinheiro, sem água, mas otimista.

Qual é seu sonho, agora que ficou famoso? Meu sonho é sair pelo mundo, me estabilizar financeiramente e conseguir viver as experiências que o dinheiro pode proporcionar.

“Desapeguei de muita coisa e só o fato de ser eu mesmo faz as pessoas seguirem. Posso gravar qualquer coisa que viraliza”
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“Gosto de mostrar o que faço no dia, compartilhar minha vida, limpar casa, mostrar o que estou vivendo. Gosto que vejam quem é o Ramon”

DO SONHO DO ATOR SE REALIZOU ACELERADAMENTE EM UM MÊS: SEUS VÍDEOS DE HUMOR CHEGARAM A MILHARES DE VISUALIZAÇÕES EM MEIO À PANDEMIA, QUANDO ELE ACHAVA QUE IA PERDER SEU EMPREGO NA ÁREA DE VENDAS. NÃO PERDEU, MAS GANHOU UMA

CARREIRA PARA A VIDA. NESTA ENTREVISTA ELE CONTA COMO TUDO ACONTECEU

Por Carol Scolforo Fotos Miro Tratamento de imagem Fujocka Styling Marina Wilson Beleza Iza Ventura 5 min
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O quanto a vida pode mudar em dois anos? Para Diego Cruz, totalmente. Pouco mais de dois anos atrás ele trabalhava em um grupo de vendas enquanto fazia faculdade de Publicidade. Era o começo da pandemia e a área comercial estava profundamente afetada – o que levou a demissões, como você sabe. “Não aconteceu comigo. Apenas me colocaram de férias, não tinha outra opção”, lembra. Foi aí que ele resgatou a arte que estava latente nas veias.

“Como estava trabalhando e estudando, o tempo de me dedicar à arte foi diminuindo – fazia teatro para melhorar minha performance na música. Vi ali um momento para me reconectar com ela”, conta. Os cursos online não deram muito certo. Um amigo sugeriu que ele fizesse um perfil no TikTok e gravasse alguns vídeos, mas ele pensava que a rede era algo para crianças. O que se deu depois, você confere a seguir: ele soma mais de 8 milhões de seguidores nessa rede.

O que aconteceu depois de entrar para o TikTok?

Eu estudei o que as pessoas postavam, como tudo acontecia e vi pessoas que tinham dado certo lá. Fiz coisas muito gerais e estava entendendo como funcionava no começo. Uma semana depois fiz uma paródia do Masterchef. Foi quando saí de 300 seguidores para 5 mil em um dia. Achei uma loucura, quase 1 milhão de visualizações. Vi a possibilidade real de dar certo e comecei a fazer dois vídeos por dia. Eram trabalhosos, mas era o que podia acontecer.

E você estava de férias “forçadas”, certo? Isso. Tudo aconteceu durante as férias e no fim delas já pedi demissão. Três meses

depois tinha quase 1 milhão de seguidores e marcas interessadas em fechar contratos. No fim do ano fechei com uma agência para me representar…e esse foi o pontapé para chegar aqui.

Qual o conteúdo que mais viralizou?

Tive duas fases, digamos assim. Os vídeos de filmes, com personagens recorrentes e cenas que todo mundo já viu, viralizaram bem. E outro momento foi em 2021 com o universo das escolas, em que mostrava as professoras, coordenadoras, em cenas que todo mundo já viveu, sabe? O que mais viralizou foi o vídeo em que a professora perde o controle.

De onde vem tanta inspiração?

Sempre fui muito observador, gostava de imitar amigos. Era o gaiato da turma, já sabia que queria ser artista, mas hoje vejo a criatividade como músculo: quanto mais você exercita, mais cresce. Daqui mesmo, desse momento, pode sair um vídeo (risos). O curioso é que nessa profissão não tem final de semana. Nas viagens a gente pega mais leve, claro. Mas não tem muito descanso. Naquele começo fazia dois vídeos por dia. Hoje posto um por dia, já estabeleci uma audiência. Muitas vezes levo um dia inteiro para gravar uma publicidade. E isso consome bastante tempo.

Quem trabalha com humor sofre pressão da família nos momentos off, por exemplo, pra fazer piada com qualquer coisa. Você sente isso?

Sim, existe mesmo. Mas é uma coisa que sempre fez parte de mim. Claro que as pessoas têm expectativa maior – e hoje elas já chegam falando “isso aqui dá um vídeo, hein?” – o que é normal. Levo sempre numa boa.

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“Se você quiser criar uma carreira tem que se manter relevante”

Quando você se sentiu famoso?

Quando saímos pela primeira vez, na pandemia, a galera reconhecia. Uma vez entrei num site de videoconferências instantâneas, porque queria ver gente. Deram um grito quando me viram e foi o momento em que percebi que estava na frente. O Rock in Rio desse ano também foi incrível, com fila pra tirar foto e escolta, imagina…foi preciso! A ficha vai caindo aos poucos. É bacana saber que aqueles milhões de seguidores são vidas e que você faz parte delas.

Antigamente só quando um ator ou humorista chegava à TV ficava famoso. Como é viver numa era em que isso ficou pra trás? Acho que o mais legal da internet é isso, ela mostra que tem artistas incríveis, com uma boa ideia, uma verdade, qualidade e ele pode conseguir também.

Onde você planeja chegar? Hoje eu me considero muito realizado por levar minha arte pra frente. Fiz uma novela com a Elizabeth Savalla, viramos amigos. Imagina seu primeiro trabalho ser com ela? E ela foi de um acolhimento enorme, de uma generosidade com o artista novo que estava chegando…quero continuar a fazer isso mesmo, levar minha arte para as pessoas.

Você conquistou Marina pelo humor? Em 2017, a gente fazia curso de teatro e havia um festival de esquetes. Calhou de

cairmos no mesmo fim de semana. Rolou um clima, mas nada aconteceu. Depois, o destino ajudou e nos juntou na esquete. Desde então estamos juntos.

E planos empreendedores, você tem?

O foco é viver da arte mesmo, mas quero, sim, lançar minha loja online com produtos relacionados. Ainda não encontrei uma frente exatamente para empreender. Mas quero muito.

Como você trata as publicidades que faz? Mantenho minha liberdade criativa. Tenho a confiança das marcas e gosto de surpreender entregando valor delas sem o público sentir que está recebendo uma publi.

O que tem que ter pra bombar no TikTok, na sua visão?

Não tem receita de bolo. Mas tem caminhos, que servem para outras redes também: fazer um conteúdo no qual você acredita, porque é uma rotina intensa e precisa gostar muito do que fala; buscar ser criativo e ser você mesmo, pois tem muito conteúdo na internet, então é preciso se diferenciar; buscar uma assinatura; ter consistência e determinação. Não precisa ter muito equipamento, mas cuide bem dele. Limpe a câmera e repita a gravação até ficar boa. Pra mim o caminho foi postar dois vídeos por dia: isso acelerou o percurso. Acho que é por aí. Se você quiser criar uma carreira tem que se manter relevante.

“Acho que o mais legal da internet é isso, ela mostra que tem artistas incríveis, com uma boa ideia, uma verdade, qualidade e ele pode conseguir também”
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“Sempre fui muito observador, gostava de imitar amigos. Era o gaiato da turma, já sabia que queria ser artista, mas hoje vejo a criatividade como músculo: quanto mais você exercita, mais cresce”

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ELA ABANDONOU O TERNINHO QUE USOU

BDURANTE DEZ ANOS COMO ADVOGADA, APOSTOU NO SEU BOM HUMOR E, HOJE, A CAPRICORNIANA QUE ADORA CONVERSAR, POSTA VÍDEOS ENGRAÇADOS SOBRE SUA VIDA. BIA

NAPOLITANO FAZ GRAÇA DE SI MESMA E DIVERTE MILHÕES DE SEGUIDORES

Por Marley Galvão Fotos Miro Tratamento de imagem Fujocka Styling Isadora Monteiga e Lisa Corrêa Beleza Iza Ventura 5 min
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Look
Laboissiere
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A paulistana, de origem portuguesa e italiana, de uma família de dentistas, planejava montar uma empresa para defender os direitos do consumidor, mas não resistiu aos incentivos de trocar a formalidade pela descontração e passou a usar seu viés humorístico para falar de vários temas do cotidiano. Bia Napolitano, com 34 anos, sendo três deles de carreira digital, soma mais de 2,2 milhões de seguidores no Instagram. Aqui, ela fala mais sobre carreira, desejos e conta sobre sua vida antes da fama.

Você é capricorniana. Dizem que pessoas deste signo são mais reservadas, tímidas. Não parece uma capricorniana... Tenho câncer como ascendente, que é bem emotivo. Falam que o capricorniano é coração de gelo, mas eu choro com facilidade. E minha lua é em touro.

Você é advogada. Fala um pouco dessa transição de carreira. Terminei a faculdade em 2011 e colei grau em 2012. Fiz estágio desde o segundo ano. Ia para o fórum, trabalhava na área civil. Trabalhei em escritórios, com uma juíza, numa empresa, fiz pós-graduação em Direito, em processo civil, foram dez anos entre estágio e advocacia. Eu parei com 30 anos.

Como decidiu investir na carreira de influenciadora digital?

Como eu sempre fui assim, falante e com bom humor, as pessoas falavam: “Nossa, Bia, você não tem nada a ver com advocacia. Tem que estar fora do computador”.

É um estigma que advogada tem que ser mais formal, séria? Não pode ser divertida também?

Eu conseguia ter uns momentos de descontração, mas tem coisas na advocacia que eu não consegui. Hoje, por exemplo, tenho um monte de tatuagem. Aí vi que não tinha muito a ver comigo. Na verdade, saí da advocacia para montar um negócio na minha área. Nem era pra trabalhar com humor.

O que você ia montar na época?

Uma empresa voltada para o direito do consumidor e atender demandas do cotidiano. Por exemplo, pessoas que tinham problemas com seguro saúde ou pessoas que têm problema com entrega de televisão que veio com defeito... Não seria um escritório, pensava em algo como um aplicativo, um centro de auxílio para demandas do cotidiano, problemas da população.

Desistiu?

Desisti. Comecei a montar, aí fui fazer uma viagem com o meu marido, que também é advogado. Ficamos um mês viajando e fiz muitos vídeos. Então, quando cheguei já sabia que era com isso que queria trabalhar, foi no meio de 2018.

E aí em que momento que você falou: “Vou largar o direito. Quero viver do humor”? Depois de uns seis meses que estava produzindo vídeos. Eu ainda tinha algumas causas na advocacia. Comecei a produzir vídeos e entendi que aquilo ali poderia virar o meu negócio, porque, no começo, ainda era mais voltado para o lazer... era

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“Falam que o capricorniano é coração de gelo, mas eu choro com facilidade”

um lazer meu. Na época, não sabia que poderia ganhar dinheiro com isso. E fui levando até que em 2019 falei: vou trabalhar com isso.

O seu marido, que é advogado, entendeu essa mudança de rumo?

Ele nunca falou que achava estranho. Eu percebi que ele foi entendendo o que estava rolando, porque para ele era novo também. No começo ele tinha medo de eu mostrar muito ele também, por causa da profissão dele, que é mais tradicional. Sabe aquela história que “o mundo jurídico é mais formal, os clientes vão me ver dentro desse universo do humor”. Só que foi dando tão certo e hoje tem cliente que fala depois de uma reunião: “Ok, dr. Paulo! E emenda: “Paulinho, eu adoro a Bia e não sei o que”.

Você pensa muito no agora ou faz planos? Eu fazia. Só que isso começou a me dar muita ansiedade. Até o meu marido, que é nove anos mais velho que eu, falou: “Quando tinha a sua idade, fazia exatamente a mesma coisa”. Mas, agora, depois dos 40, ele deu uma sossegada e ele sempre me fala para pensarmos num projeto para daqui a seis meses. E não para dez anos.

Já são três anos como influenciadora. Já conseguiu realizar sonhos com o que ganhou? Olha, consegui realizar algumas coisas, mas considerando também a fase de advocacia. Hoje consigo ter um poder aquisitivo muito melhor. No ano passado fui com meu marido pela segunda vez para Maldivas e estamos construindo uma nova casa. Estou conseguindo coisas que a carreira digital me permite. Agora, mais

recente, em função mesmo do digital, eu comprei um carro pra mim.

Mas você é ligada a ter patrimônio? Sou. Tem um lado taurina, um lado capricorniana aí (risos)... Gosto de projetar, eu não sou de gastar. Cresci com meu pai falando assim: “não gaste mais do que você ganha, não gaste mais do que você ganha”. Então, se eu tinha uma mesada de 50 reais, gastava 20; se ganhasse mil, gastava 200. Eu sempre guardei tudo. Tenho projeto de construir patrimônio financeiro, imobiliário. Tudo bonitinho.

Quando você era adolescente, era mais tímida ou mais extrovertida... Fui uma criança muito tímida, por incrível que pareça, extremamente tímida. Com 14 anos “dispiroquei”, comecei a querer ser muito “aparecida”. Queria dar um show para a família, decorava textos, queria ser o centro das atenções. Depois, lá pelos meus 20 e poucos, voltei a ser discreta e com 30 virei uma criança. Falo que sou meio um Benjamin Button. Nasci madura e fui ficando criança (risos).

Quem é Bia Napolitano? Sou uma pessoa extremamente focada, muito sonhadora, otimista, que acredita e confia nas pessoas. Sou muito apegada à família. Prefiro estar rodeada daquelas pessoas de sempre. Uma pessoa que tem raízes. Eu sou essa pessoa, eu sou tranquila, às vezes um pouco estourada, assim desesperada (risos), mas muito otimista. E sempre me falam que quando chego mudo o humor do lugar. Eu gosto de levantar o humor das pessoas, de ver as pessoas felizes.

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Assessoria de imprensa Denise Diniz 73
“Falo que sou meio um Benjamin Button. Nasci madura e fui ficando criança (risos)”
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Arte é resistência!

ALVO DE PROTESTOS MUNDO AFORA, OBRAS DE VAN GOGH, ANDY WARHOL E OUTROS GRANDES ARTISTAS SÃO USADAS COMO CATAPULTA PARA A QUESTÃO CLIMÁTICA. MAS A ESTRATÉGIA IGNORA O ENGAJAMENTO POLÍTICO E SOCIAL QUE O FAZER ARTÍSTICO POSSUI. SERÁ QUE O ANTAGONISMO PROPOSTO ENTRE LUTA E ARTE É MESMO O MELHOR CAMINHO?

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“O que vale mais: arte ou a vida? Vale mais do que comida e justiça? Vocês estão mais preocupados com a proteção de uma pintura do que com a vida das pessoas” – esse foi o discurso de uma ativista do movimento britânico Just Stop Oil (“Parem com petróleo”, em tradução livre), após jogar sopa de tomate na obra Girassóis, de Vincent Van Gogh. A pintura, com o valor estimado em mais de R$ 430 milhões, é uma das referências do movimento impressionista.

Essa não foi a primeira vez que o grupo deixou sua marca na história da arte. Em julho deste ano, manifestantes colaram suas próprias mãos numa réplica do quadro A Última Ceia, de Leonardo da Vinci, em uma exposição na Royal Academy, em Londres. Além disso, lançaram torta na figura de cera que representa o rei Charles III, no icônico Madame Tussauds, e rabiscaram uma obra de Andy Warhol na Austrália. Esses atos se intensificaram nos últimos meses e já foram reproduzidos mais de 15 vezes ao redor do mundo. Em outubro de 2022, a organização anunciou uma série de ações para defender seus ideais – levantando a questão: arte e ativismo são compatíveis?

“O registro desse momento é muito forte e choca o espectador, fazendo-o se questionar o que está acontecendo”, afirma a curadora de arte Carollina Lauriano. “Ao mesmo tempo, ao invés de criar uma empatia, isso acaba sendo um tiro no pé porque as demandas não são discutidas a fundo”, completa a profissional que acredita que os protestos têm a ver com o rápido compartilhamento das imagens nas mídias sociais. Fundado em dezembro de 2021, o Just Stop Oil é formado por uma coalizão de grupos de ativismo ambiental. De acordo com o site oficial, sua reivindicação é que o governo britânico suspenda imediatamente os novos projetos de extração de petróleo e gás. Ou seja, o foco é pressionar políticos para implementação de energias renováveis. Isso porque a queima dos combustíveis fósseis libera gases de efeito estufa, responsáveis pelo aquecimento do planeta e pelas mudanças climáticas. “A evidência científica é certeira: a mudança climática é uma ameaça ao bem-estar humano e à saúde do planeta. Qualquer atraso na ação global deixará de garantir um futuro habitável”, afirma o coletivo.

“O ataque não atinge só a obra de arte, mas todo o organismo que faz com que ela esteja ali, como a instituição e os trabalhadores”
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Para Lauriano, o alvo está equivocado e seria mais efetivo se essas pessoas protestassem em outro lugar – ou de outra forma. “O ataque não atinge só a obra de arte, mas todo o organismo que faz com que ela esteja ali, como a instituição e os trabalhadores”, ressalta.

Por que a arte?

As obras de arte são representações simbólicas da história de gerações anteriores, tornando-se um ponto de partida para a reflexão sobre o futuro. Todas as peças atingidas foram escolhidas a dedo: são pinturas de nomes reconhecidos, têm um valor alto e fazem parte do nosso imaginário. Vale lembrar que elas possuem proteção por vidros e não foram danificadas.

“A arte é preciosa. Nós compartilhamos esse amor profundamente. O que queremos fazer é salvar um futuro onde a criatividade humana ainda seja possível. Estamos terrivelmente perto de perder isso, então temos que quebrar as regras”, afirma um artigo escrito pelos guerrilheiros do Just Stop Oil. “Na verdade, atacar o que as pessoas realmente se importam, as leva a fazer perguntas difíceis. Por exemplo: eu realmente me preocupo mais com uma obra de arte do que com os sistemas básicos de suporte planetário?”

Essa é uma pergunta que não tem resposta, pois não é possível estimar uma hierarquia entre vida e arte, segundo Maria Carolina Duprat, coordenadora do curso de Histórias das Artes do Centro Universitário FAAP. “Se tem algo que pode ajudar a chamar atenção para as questões ambientais e sociais é o fazer artístico já que, muitas vezes, ele também vai contra o sistema. O próprio espaço do museu é transformador e tem potencial educativo”, explica. “Se os manifestantes o tratassem como aliado, haveria muitos frutos.”

A arte que protesta Fugindo do antagonismo, abaixo estão quatro artistas de renome mundial, entre eles quatro brasileiros, que ecoam sua luta em obras de engajamento social e político.

Banksy

Mesmo sem mostrar seu rosto ou divulgar o verdadeiro nome, o artista urbano combina críticas sociais com linguagem irônica. A técnica predominante em seu trabalho é o stencil, que consiste em tinta sobre um molde de acetato. Entre suas obras mais famosas está A Garota com Balão: criada em 2002, o graffiti retrata uma menina pequena que perde seu balão vermelho em formato de coração. O desenho é acompanhado da frase There is always hope (“Sempre há esperança”, em tradução livre).

Em novembro, Banksy revelou uma foto de seu novo mural que protesta contra a violência humana — uma ginasta em meio a escombros na cidade de Borodianka, na Ucrânia, alvo da Rússia durante a guerra.

As obras de arte são representações simbólicas da história de gerações anteriores, tornando-se um ponto de partida para a reflexão sobre o futuro.
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Todas as peças atingidas foram escolhidas a dedo
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OsGêmeos

Otávio e Gustavo Pandolfo formam a dupla de grafiteiros mais reconhecida do país. Eles, que se aproximaram da cultura Hip Hop dos anos 1980, encontraram nas ruas o local ideal para desenhar um universo lúdico que se comunica com o público. Suas obras escancaram as mazelas do governo, do capitalismo e da desigualdade. Uma das mais importantes foi feita em 2019, como forma de lamentar a tragédia de Brumadinho, em Minas Gerais. Na imagem, uma família coberta pelo barro chora enquanto as casas são engolidas pela lama.

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“Se tem algo que pode ajudar a chamar atenção para as questões ambientais e sociais é o fazer artístico já que, muitas vezes, ele também vai contra o sistema. O próprio espaço do museu é transformador e tem potencial educativo”
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Kobra

Eduardo Kobra saiu da periferia de São Paulo para ganhar o mundo com seus murais gigantes e coloridos. Ele, que pesquisa imagens históricas e as estampa nas paredes, dá aos habitantes da cidade uma sensação de pertencimento. O foco de sua obra é sempre representar personagens importantes para a humanidade e é a partir dessa escolha que se forma seu ativismo. No projeto Olhares da Paz, por exemplo, o artista retrata personalidades históricas que tenham lutado contra a violência, como Mahatma Gandhi, Anne Frank e Malala.

Adriana Varejão

A artista carioca está ganhando cada vez mais espaço no mundo da arte contemporânea. Ela se consagrou com suas obras viscerais: azulejos com peles rasgadas e seu interior à mostra. Essas são representações do Período Colonial – onde ela se apropria de elementos históricos para escancarar a violência do nosso passado. Já para o projeto Polvo, Varejão partiu do censo realizado pelo IBGE em 1976 que perguntou às pessoas sua cor. As respostas somaram 136 tons, entre eles “escura”, “amarelosa” e “acastanhada”. A partir da criação dessas cores, ela traz uma reflexão sobre a miscigenação.

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Comendo com os olhos

LOUÇAS BRANCAS, INGREDIENTES SUPERSELECIONADOS E PRATOS MONTADOS MILIMETRICAMENTE. AFINAL, O CHEF É UM ARTISTA OU UM ARTESÃO?

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É certo que a criação de uma obra de arte envolve diversos processos, desde a primeira ideia, passando esboço na superfície, a escolha de materiais até o produto final. É um diálogo entre o artista e o espectador carregado de significado e sentimentos. Na cozinha não é diferente. A escolha da louça, a transformação do alimento e a minuciosidade em montar o prato tem o poder de despertar sensações e reacender a chama de memórias afetivas naquele que leva o alimento à boca.

Um prato pensado milimetricamente ativa os nossos cinco sentidos: a beleza faz o olhar brilhar, o aromas aguçam o olfato, as diferentes texturas estimulam as papilas gustativas e sensibilizam o tato, além da crocância que ativa a audição. Como negar a arte da gastronomia?

O movimento nouvelle cuisine (em português “nova cozinha”), tendência culinária nascida na França na década de 1970 que presa pelo frescor, pela leveza e pela delicadeza dos pratos, revolucionou a alta gastronomia tanto na forma de cozinhar, quanto na apresentação dos pratos. A comida ganhou, ali, o status de arte.

Para a Chef Renata Braune, formada pela Cordon Bleu Paris e uma das primeiras mulheres a atuar como chef no Brasil, a arte é a manifestação cultural através do alimento. “O olhar do chef de cozinha tem que ser artístico para transmitir a cultura e conhecimento no prato. Ele tem que se apoiar na arte como manifestação cultural, social e histórica”, crava Renata. A alimentação carrega consigo rituais, expressões e histórias que são passadas de geração para geração. Não à toa, ainda hoje, pelo século 21, fala-se em “comer com os olhos” quando enxergamos beleza em algo, principalmente um prato. Expressão essa que surgiu na Roma antiga, onde os rituais fúnebres eram realizados com grandes banquetes em homenagem aos mortos, mas não era permitido comer ou tocar, apenas admirar as refeições.

Ingredientes sobre louça

O chef João Oliveira, 35, é especialista quando o assunto é encantar quem senta à mesa do VISTA, restaurante do hotel Bela Vista, em Portimão, Portugal, para o qual conquistou uma estrela Michelin em 2017. “A pessoa olha para um quadro para saber quem fez. Na cozinha é a mesma coisa. Cada chef tem a sua linha, ideologia e maneira de trabalhar”, diz Oliveira à TOP Magazine. Seu objetivo é transmitir delicadeza e brilho em todas as suas criações gastronomicas. “Eu trabalho

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Um prato pensado milimetricamente ativa os nossos cinco sentidos: a beleza faz o olhar brilhar, o aromas aguçam o olfato, as diferentes texturas estimulam as papilas gustativas e sensibilizam o tato, além da crocância que ativa a audição. Como negar a arte da gastronomia?
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sempre com uma louça superbranca, o mais clean possível, como se fosse a tela: ela não pode se sobressair. E os ingredientes são as tintas. Não sobreponho os ingredientes para não esconder nada. Quero que a pessoa olhe para o prato e saiba onde está cada elemento”, descreve. É quase impossível não ficar encantado com uma criação de João Oliveira. Digno de estar em um museu, a pré-sobremesa, como chama o chef, intitulada As Laranjas do Algarve é apresentada em uma miniárvore e a ideia é que o cliente apanhe a sua própria laranja como se estivesse em um pomar. Moldada como a fruta real, ao ser partida ao meio, ela é apresentada na forma de gel, mousse, caramelo, pão e até sumo texturizado. O Prato do Mel, também pensado por Oliveira, além de superinstagramável – como todas as suas criações – contém gelatina de mel de amêndoa, mel trufado, crocante de amêndoa caramelizada e torrada, e ricota fresca, tudo – pasmem – em forma de favo. Para abrilhantar ainda mais, o desenho de uma abelha é estampado na louça com spray dourado.

Artistas ou artesãos?

Gastronomia é arte, mas chefs são artistas ou artesãos? Para a professora e chef Renata Braune, artesãos. “Eles têm técnica e lidam com as mãos”, afirma. Já para o chef estrelado João Oliveira, tudo é questão de equilíbrio: “Tem que ser artesão para saber trabalhar com produtos únicos que merecem cuidado e atenção. Mas tem que ser artista para transmitir uma mensagem através do sabor e da apresentação. Fine dining é uma gastronomia artística. A parte estética tem que sempre acompanhar”.

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No Brasil, Roberta Pires, 43, aplica a arte em suas criações com pincel e tinta. Ou melhor, manteiga de cacau. Com sua marca Beaubon, a jornalista apaixonada pela patissèrie e formada pela Le Cordon Bleu cria bombons 100% artesanais pintados à mão, um a um. Perfeccionista, Roberta escolhe a paleta de cores e elabora o design dos 25 sabores do cardápio, como cerejas frescas, caramelo de banana e até caipirinha. E, sim, ela pinta um a um cuidadosamente com manteiga de cacau tingida com corante lipossolúvel. Em um dia, sua produção, juntamente com a equipe, é de 800 a mil bombons. Antes da mordida, vale uma foto para as redes sociais. Mas esse não é o foco de Roberta. “Nunca fiz nada pra ser instagramável. Sempre quis fazer algo bonito e com sabor. Eu não seria completa fazendo um doce gostoso, mas que não fosse esteticamente agradável”, diz à TOP Magazine.

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“O olhar do chef de cozinha tem que ser artístico para transmitir a cultura e conhecimento no prato. Ele tem que se apoiar na arte como manifestação cultural, social e histórica”

Da mesa ao museu

Fora da cozinha e dentro de museus, Simone Mattar faz da comida a sua arte. “A materialidade da comida, assim como a da arte, já traz cor, forma, textura, mas ela tem um diferencial: o sabor”, diz a artista e food designer. Há sete anos trabalhando com gastroperformance – termo criado pela própria –, uma reflexão sobre uma nova forma de expressão artística, que mistura gastronomia a diferentes linguagens como música, escultura e performance, Mattar já teve suas obras expostas na Alemanha, Estados Unidos, Espanha, Inglaterra, México e Brasil. Soviet Roulette é sua criação mais recente. Exposta por apenas um dia na Saatchi Gallery, em Londres, a obra continha 60 maçãs pretas e 60 maçãs amarelas dispostas sobre mesa coincidindo com o símbolo de “perigo para irradiação nuclear”. Em um jogo conhecido como roleta russa, o visitante pode interagir rodando a roleta e tirar a maçã “radioativa”, feita de plástico, ou uma maçã “boa” que, na verdade, era uma sobremesa deliciosa feita de mousse de chocolate branco com cumarú e recheio de geleia de maçã caramelada. A ideia de Simone foi criar uma loteria da contaminação, revivida mais uma vez para que o público possa refletir acerca do que os habitantes de Chernobyl vivem ainda hoje.

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Arte viva

DE ORIGEM INCERTA, A TATUAGEM PASSOU DE SÍMBOLO DE PERTENCIMENTO À BELEZA DE POSSUIR UMA OBRA NA PELE.

SEM DÚVIDAS DE QUE AINDA HÁ MUITO POR VIR, É PRECISO OLHAR O PASSADO PARA EXALTAR A EVOLUÇÃO DA TÉCNICA E ENTENDER AS TENDÊNCIAS QUE SURGEM NO HORIZONTE

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Forma de expressão e de pertencimento, a tatuagem existe há milhares de anos e não deve sair de cena tão cedo. No entanto, ao comparar gerações é possível perceber a transformação das técnicas, dos desenhos e da intenção de quem marca o corpo.

O Brasil ocupa a 9ª posição entre as nações mais tatuadas, ficando atrás de países como a Itália, Suécia e os Estados Unidos, segundo dados da Associação Nacional dos Tatuadores. Por aqui, há ao menos 22 mil estúdios e o setor cresceu 50% durante a pandemia.

Linhas que ganharam o mundo

O interesse em gravar imagens na pele vem dos primórdios. Pesquisadores apontam o caso da múmia Amunet, que teria vivido no Egito

Antigo, entre 2.160 e 1.994 a.C., e apresenta linhas e pontos inscritos na região abdominal. Esse detalhe propõe que, naquela época, a tatuagem poderia ter relação com a fertilidade. No livro Uma história da tatuagem no Brasil: do século XIX à década de 1970 , a autora e historiadora Silvana Jeha revela que, no Brasil, a prática já estava presente antes da colonização, porém, foi no ambiente marítimo que ela ganhou destaque. Os navegadores temiam morrer como desconhecidos e faziam tatuagens para serem identificados e reconhecidos em casos de naufrágio. A cruz, por exemplo, era marcada nos cristãos pelo receio de seus corpos serem enterrados sem um funeral religioso.

No final do século 19, alguns locais do país até realizavam exposições de pessoas tatuadas como atrações circenses, influenciados pelos shows americanos e europeus. Já na primeira metade do século 20, os desenhos ocupavam os corpos das camadas mais pobres da sociedade – daí nasceu o estigma social que atravessou gerações.

De lá para cá, parece que, finalmente, tudo mudou. Além da evolução técnica, é claro, um estudo realizado pela Escola de Negócios da Universidade de Miami em 2018 descobriu que, no mercado de contratação, os candidatos tatuados possuem a mesma probabilidade de conseguir emprego do que aqueles que não possuem a arte no corpo.

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Os navegadores temiam morrer como desconhecidos e faziam tatuagens para serem identificados e reconhecidos em casos de naufrágio
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Cada geração, uma tendência

Com 29 anos, Henrique Ortiz já perdeu as contas de quantas tatuagens tem. A primeira, feita aos 19, foi um ramo de café no antebraço – uma homenagem a sua profissão barista. “Queria que a primeira tivesse um significado. Mas com o passar dos anos, elas perderam esse tom especial”, afirma. “Ainda assim, refletem como penso ou sinto no momento. Tem tattoos que eu me arrependo, mas que na época que fiz tinha algum sentido e, por isso, não apago.” Entre elas, há uma igreja de ponta cabeça pegando fogo, símbolos geométricos, um mictório e até uma frase curiosa: poesia não. “Tenho várias que são grotescas e isso assusta um pouco as pessoas. Mas essa é uma maneira de dizer para a sociedade que não me identifico com os valores tradicionais”, comenta. “Estou comunicando sem dizer nada.”

Se os millennials buscavam o impacto, a geração Z muda a rota e traz novas tendências. Ao invés da ideia de fechar o braço como forma de transgressão, a estrela da vez são pequenas frases e trabalhos delicados, de acordo com Gustavo Gawendo, diretor geral da Tattoo Week, uma das maiores feiras de tatuagem de São Paulo. “O significado está mais forte. Além disso, saímos do old school, que eram traços bem preenchidos e firmes, e migramos para um estilo que se chama fine line, que consiste em linhas mais delicadas e finas”, exemplifica. Prova disso é a comunicadora Lorenna Kogawa, de 25 anos, que acabou de escrever uma pequena frase nas costas: Shake it out, inspirada na música homônima da banda Florence + The Machine. “Resolvi realizar esse registro agora porque sinto que estou no melhor momento da minha vida”, comenta. “Tenho pais superprotetores e sempre tive muito medo de não fazer as coisas que sinto vontade. Mas saí de casa, cortei o cabelo e mudei tudo. Então, nesse momento que tô me sentindo tão livre, resolvi externalizar para a pele.”

Outra diferença entre as gerações é a valorização do autoral. Se anos atrás, os profissionais escolhiam estilos tradicionais que tinham mais afinidade e ofereciam essas opções para seus clientes, atualmente, eles bebem da fonte das artes visuais para criar um desenho exclusivo a partir de referências de quem os procura. A tatuadora Letícia Gadelha define-se como modernista. Ela estuda e se inspira em artistas como Tarsila do Amaral e Portinari. Sua marca registrada são as cores vivas em contraste com o preto. “O que fica em alta depende do momento social e cultural em que estamos. O minimalismo, destaque na moda, na arquitetura e no design, por exemplo, chegou na tatuagem e está em evidência”, explica. Em 2023, os horizontes apontam para novas tecnologias, tintas e produtos para a cicatrização da pele. “Um adesivo especial tomou o lugar do plástico filme de cozinha, as máquinas já estão parecidas com canetas e não têm fio e surgiram pigmentos ultravioleta que brilham no escuro”, conta. “Acredito que novidades que facilitam nossa profissão e a entrada de novos artistas na área estão por vir.”

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No final do século 19, alguns locais do país até realizavam exposições de pessoas tatuadas como atrações circenses, influenciados pelos shows americanos e europeus
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Divino, maravilhoso

PRISCILA BARBOSA, ALINE BISPO, CAMILA ROSA E LORENA MOREIRA TRANSMITEM URGÊNCIA EM SUAS OBRAS, SEJA NO DIGITAL OU A CÉU ABERTO 99

Fachadas de prédios, peças de roupa, meio digital, quadros, capa de livro. Multidisciplinares, as artistas Priscila Barbosa, Aline Bispo, Camila Rosa e Lorena Moreira tem urgência em falar sobre o poder feminino, política e sensibilidade em qualquer superfície. O espaço e a oportunidade fazem com que a mensagem chegue a milhares de pessoas. Conheça cada uma delas abaixo.

Priscila Barbosa

“Eu não caminho só. Minhas irmãs me cuidam”. Poderosa, a frase compõe uma das pinturas da paulista Priscila Barbosa, 33 anos. A artista visual, muralista e ilustradora transmite, por meio da sua arte, o feminismo, a latinidade e a sororidade. Propor percepções críticas sobre os padrões estéticos é o seu objetivo.

A paleta, composta por tons terrosos, rosados e variações de verdes retratam corpos reais de mulheres, com curvas e dobras, e folhagens. À primeira vista, suas obras passam um ar doce ao espectador, mas revelam, na verdade, discussões sociais e políticas. Pano de prato nas mãos e no rosto, tábua de passar roupa, esfregão e balde se misturam com elementos de insubordinação em suas criações.

Com 108 mil seguidores no Instagram, as obras de Priscila podem ser admiradas no digital, mas também em murais na cidade de São Paulo, em especial no bairro Pinheiros que recebeu uma pintura de 30 metros de altura feita em 2020 para o NaLata Festival Internacional de Arte Urbana, o maior museu a céu aberto da América Latina, e em capas de livros, como Não Sou Exposição, de Paola Altheia, e O Ano da Graça, da autora britânica Kim Liggett.

As obras de Priscila podem ser adquiridas online em posters, camisetas, cadernos e pins em seu site oficial priscilabarbosa.com.

Por
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À primeira vista, suas obras passam um ar doce ao espectador, mas revelam, na verdade, discussões sociais e políticas
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Aline Bispo

Sensível e urgente. Essas são as palavras que descrevem as obras de Aline Bispo, 33 anos. Nascida em São Paulo, no bairro Campo Limpo, a artista faz referências à farta cultura brasileira na tela. A miscigenação brasileira, sincretismos religiosos, gênero, sua família nordestina e a vontade de honrar o feminino estão em cada uma de suas pinceladas. A válvula de escape de Aline virou profissão e, hoje, aparece na capa do best-seller Torto Arado, de Itamar Vieira Junior, romance ambientado no interior da Bahia que venceu o prêmio Jabuti 2020, e na coluna semanal de Djamila Ribeiro no jornal Folha de S.Paulo. Multidisciplinar, Aline manifesta sua arte em diversas superfícies: lançou sua primeira coleção de roupas intitulada Belezas Brasileiras com a Hering, presenteou São Paulo pintando quatro quadras públicas das comunidades dos CEUs (Centros de Educação Unificados) e murais no Parque Minhocão.

Atualmente, a artista, além de ser Curadora do Instituto Ibirapitanga, organização dedicada à equidade racial e sistemas alimentares saudáveis e sustentáveis no Brasil, tem obras presentes nos acervos MASP, IMS Paulista, SESC, Adelina Cultural e Galeria Luis Maluf.

Camila Rosa

A escolha das cores para a criação de uma arte pode parecer fácil para o leigo mas, na verdade, é extremamente trabalhosa. Camila Rosa, 33 anos, sabe bem disso. A designer e ilustradora nascida em Joinville, Santa Catarina, gosta de dedicar grande parte do seu tempo para selecionar cada tom. Rosa, vermelho e preto estão em, praticamente, todas as suas pinturas. E elas explodem bem na frente dos olhos do espectador. Camila escolheu a política, o veganismo, o amor e o feminismo como temas centrais de suas artes. Para ela, suas criações não têm uma definição concreta. A opinião varia de acordo com quem observa. Se pudéssemos descrever as obras, seriam com apenas uma palavra: bold. Com

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A miscigenação brasileira, sincretismos religiosos, gênero, sua família nordestina e a vontade de honrar o feminino estão em cada uma da pinceladas de Aline. Já Camila escolheu a política, o veganismo, o amor e o feminismo como temas centrais de suas artes

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linhas grossas e cores nada suaves, a artista passa o recado em imagens de mulheres com olhar penetrante e palavras marcantes, como riot – rebelião, em português –, resistência e equalidade.

Sua arte atravessa oceanos: Camila ganhou notoriedade ao morar em NYC entre 2017 e 2018, onde realizou seu primeiro trabalho de grande retorno com ilustrações ligadas à aceitação do corpo feminino e à causa LGBTQIA+ para o portal americano Refinery29. No Brasil, trabalhou com grandes marcas, como Nike, O Boticário, Vans e Adidas. Sua arte também se traduz na moda: com camisetas, em collab com a Old Navy, disponível para compra nos Estados Unidos e Canadá, e bolsas, vendidas no Brasil online.

Lorena Moreira

2020 foi transformador (e assustador) para todas as pessoas ao redor do globo, mas para Lorena Moreira, 23 anos, trouxe uma mudança de ares. A artista nascida em Niterói, RJ, e formada em arquitetura, colocou o pincel na tinta e encantou todo o Brasil. Sua assinatura é a cor azul-cobalto que, para ela, transmite calmaria, conforto, mar e céu. Após a encomenda de uma tela monocromática feita pela designer e influenciadora Guta Virtuoso em abril do mesmo ano em que começou a pintar, Lorena ficou conhecida pelas redes sociais e suas artes viraram peças-desejo.

Nas obras de Lorena, imagens como corpos, folhagens e animais são constantes, mas ela gosta de ir além: antes de começar a produzir, a artista conhece o cliente através de uma conversa para traduzir sentimentos e pensamentos na tela. Liberdade pode se transformar em pássaro, transição de carreira em escada com uma estrela no pico. O objetivo é que o espectador seja convidado para dentro da obra e se conecte. A pintura começou como um refúgio durante a pandemia e, hoje, Lorena já lançou uma coleção-cápsula de roupas com a Mindse7, submarca da C&A, com camisas, bermuda e vestido, e lota a agenda com 40 encomendas por mês. Prints e obras originais da artista podem ser encomendadas online em seu site oficial www.lorenamoreira.store.

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Antes de começar a produzir, a artista conhece o cliente através de uma conversa para traduzir sentimentos e pensamentos na tela
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Raízes de aço

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DESDE A CRIAÇÃO DE SEU PRIMEIRO CANIVETE PARA O EXÉRCITO SUÍÇO, HÁ MAIS DE 125 ANOS, A VICTORINOX SEGUE INOVANDO E SE DIVERSIFICANDO PARA ATENDER ÀS DEMANDAS DA NOVA GERAÇÃO

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Quando eu era pequena, uma das coisas que mais me fascinavam era fuçar nas gavetas de casa. Lembro-me direitinho da primeira vez que me deparei com um objeto vermelho e brilhante encontrado em uma das gavetas do meu pai. Tinha a marca de uma cruz e suas laterais eram recheadas de pequenas ferramentas que eu não conseguia puxar nem entender o que eram. Levei correndo para o meu pai, querendo saber o que era. Foi aí que eu descobri o que era um canivete da Victorinox. Ele puxou cada uma das ferramentas “escondidas” e explicou suas respectivas funções. Fiquei encantada com o fato de que um objeto tão pequeno e compacto podia guardar tantos segredos. Muitos anos depois, em 2022, por ocasião da celebração do aniversário de 125 anos do lançamento do primeiro “canivete original do exército suíço” da Victorinox, fui convidada para uma imersão no universo da marca, no coração da Suíça, na pequena vila de Ibach, em cantão de Schwyz, onde estão a sede e a fábrica.

A história por trás do ícone

Em 1884, o suíço Karl Elsener I abriu uma pequena oficina de cutelaria em Ibach. Em 1891, ele forneceu o canivete do soldado ao exército suíço pela primeira vez, mas continuou aperfeiçoando-o, até que em 1897, desenvolveu e patenteou o “canivete original do exército suíço e dos esportes”. “Meu bisavô tinha um enorme desafio, pois sua capacidade de produção era muito pequena e o pedido do exército era de muitas centenas. Naquela época era possível entregar apenas algumas dúzias por semana”, conta Carl Elsener IV, atual CEO da Victorinox e quarta geração da família no comando da empresa. Com a crescente demanda, Karl Elsener começou a aumentar sua capacidade, investindo em automação e inovação, mantendo-se por muitos anos um dos dois únicos fornecedores do exército suíço. Em 1909, foi implementado o tradicional símbolo da marca, o escudo com a cruz, inspirado na bandeira suíça. Neste mesmo ano, quando sua mãe Victoria faleceu, o Sr. Elsener decidiu usar seu nome como o nome da empresa. Já em 1921, quando o aço inoxidável já havia sido inventado e introduzido nas facas da marca, resolveram adicionar “inox” ao nome original.

São produzidas cerca de 600 toneladas de lodo de polimento como subproduto do processamento do aço. Para garantir seu descarte apropriado, a Victorinox criou instalações de reciclagem que são únicas nesse setor
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Desafios e inovações

A Victorinox também enfrentou percalços pelo caminho. “Em 1980, nós começamos a perceber que nossos produtos eram copiados na Ásia.

Eu e meu pai ficamos preocupados e nos fizemos a seguinte pergunta: a longo prazo, nós vamos conseguir manter a produção na Suíça e ser competitivos e bem-sucedidos no mercado global? Chegamos à conclusão de que precisávamos investir em nossa marca e torná-la mais visível, porque as pessoas gostam dos nossos canivetes, mas na maior parte do tempo eles estão escondidos em seu bolso ou em sua mala, você não vê a marca”, relembra Carl Elsener IV.

Na época, os clientes que já eram fãs dos canivetes, também começaram a compartilhar o desejo de que a marca tivesse outros produtos tão confiáveis quanto a little red knife. No topo da lista estavam itens para viagem e relógios. Então, em 1989, a empresa começou a fabricar os relógios e, em 1999, deu mais um passo importante e entrou no mercado de equipamentos de viagem.

Os atentados de 11 de setembro de 2001 afetaram diretamente o mercado da Victorinox. “De repente, as pessoas não podiam mais levar o canivete em sua mala de mão, nem comprá-lo nas lojas Duty Free. E grandes empresas que usavam os nossos canivetes como itens promocionais, especialmente nos Estados Unidos, desistiram de usá-los como presente. Nesse momento, as vendas do item caíram mais de 30%. Apenas graças às reservas que nós construímos nos bons tempos, conseguimos superar essa fase desafiadora”.

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Outro enorme obstáculo foi a pandemia de Covid-19, em 2020, quando todas as lojas foram fechadas na Suíça e na Europa.

“Nossas vendas caíram 60% na pandemia e, em 2022, as vendas totais caíram 30%. Foi um ano muito desafiador para nós, mas graças às nossas reservas e ao suporte do governo nós pudemos manter todos os nossos funcionários na Suíça”. Cada categoria de produto, entretanto, foi afetada de formas diferentes. As vendas dos equipamentos de viagens caíram muito, pois ninguém podia mais viajar. Por outro lado, as facas domésticas e profissionais tiveram um aumento expressivo, já que as pessoas ficaram muito mais em casa e, portanto, tiveram que cozinhar mais.

“A Victorinox está no mercado desde 1884, isso significa que vivenciamos a Primeira Guerra Mundial, a Segunda Guerra Mundial, a crise dos anos 1930 no meio do caminho, a crise do óleo nos anos 1970, os atentados de 11 de setembro... Aprendemos que a empresa que pensa a longo prazo precisa construir reservas nos tempos bons para estar mais bem preparada para os tempos desafiadores. Precisamos ter sempre um estoque para os materiais mais importantes, como o aço. Durante as guerras, as fronteiras fecharam e, de repente, não conseguíamos mais ter acesso à maior parte da nossa matéria-prima, que vem da França e da Alemanha. Por isso, mantemos uma quantidade suficiente de aço em estoque para nossa produção anual”.

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“Para termos sucesso a longo prazo, precisamos focar em quatro pilares: nossos funcionários, nossos clientes, nossos produtos e nossa marca”

De olho no meio ambiente

Ao longo de sua história, a empresa sempre esteve ligada a ações de proteção ao meio ambiente, utilizando recursos de modo econômico e eficiente e métodos de produção ecológicos. Um grande exemplo é a reciclagem. São produzidas cerca de 600 toneladas de lodo de polimento como subproduto do processamento do aço. Para garantir seu descarte apropriado, a Victorinox criou instalações de reciclagem que são únicas nesse setor: a água contida no iodo é absorvida e as partículas de aço são prensadas e transformadas em briquetes, permitindo assim que sejam devidamente recicladas.

“Começamos a colocar painéis solares nos nossos prédios, o que nos permite todo ano compensar 500 toneladas de CO2. Estamos investindo também no isolamento do nosso prédio de manufatura, o que também nos ajuda a economizar energia. O aço de todo material que nós compramos é 95% de aço reciclado”.

A história continua

Hoje a Victorinox produz todos os dias 45 mil canivetes, totalizando cerca de dez milhões por ano. São mais de 400 modelos, disponíveis em diversas cores, padrões e edições especiais, que oferecem até 80 funções diferentes e têm garantia vitalícia contra defeitos de material e fabricação. A linha multifacetada de facas para uso doméstico e profissional conta atualmente com 600 produtos diferentes, sendo produzidas mais de 20 milhões de unidades todos os anos na matriz da empresa, em Ibach. O mais recente lançamento da marca é a linha de relógios Journey 1884, encontrada em apenas quatro países do mundo (Brasil, Estados Unidos, França e México) e que marca o início de uma nova era, com design com detalhes inteligentes e funções inovadoras que se adaptam a variados estilos de vida. “Para nós, era importante que os relógios também apresentassem os valores que tornaram a little red knife tão bem-sucedida, que são qualidade, funcionalidade e confiabilidade”, explica Elsener. Também acaba de chegar ao mercado brasileiro um canivete em edição limitada criado em colaboração com Virgil Abloh (1980-2021), que foi diretor criativo da Louis Vuitton e da Off-White, essa última sua marca própria de moda e acessórios de luxo.

Vislumbrando o futuro

“Nós pensamos em gerações. Eu tive o privilégio de trabalhar com meu pai por mais de 30 anos e ele era um verdadeiro exemplo. Os valores e a filosofia que foram importantes para ele permanecem. Ele sempre me dizia: ‘para termos sucesso a longo prazo, precisamos focar em quatro pilares: nossos funcionários, nossos clientes, nossos produtos e nossa marca’. Eu tenho sete irmãs e três irmãos, somos 11 filhos, nós somos a quarta geração, e dela, oito membros trabalham na empresa, além de suas esposas e maridos. E da quinta geração também já temos oito membros trabalhando. Anualmente, nos encontramos algumas vezes com todos da quinta geração e compartilhamos com eles nossos valores, nossos desafios mais importantes e como abordá-los. Com isso, queremos garantir que a próxima geração foque nos mesmos pilares de sucesso e ajude a manter a cultura da nossa empresa”, finaliza Carl Elsener IV.

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A Victorinox produz todos os dias 45 mil canivetes, totalizando cerca de dez milhões por ano. São mais de 400 modelos, disponíveis em diversas cores, padrões e edições especiais, que oferecem até 80 funções diferentes
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