Revista do AviSite – Edição 145

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Dezembro/2023 - No 145 - ano XV - www.revistadoavisite.com.br

CIÊNCIA E TECNOLOGIA

Projeto inédito tem como objetivo a produção de proteína alternativa

Zootecnia de precisão

A produção de aves é diretamente influenciada pelo ambiente onde é criada. Dessa maneira, a variabilidade, seja ela espacial (dentro dos aviários) ou temporal (alterações do clima, pelas características das estações do ano) é ponto fundamental para a partida de qualquer estudo que envolva as aves A Revista do AviSite

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CONFIE NOS MAIS DE 20 ANOS DE EXPERIÊNCIA E CREDIBILIDADE NO AGRONEGÓCIO Voltadas à produção animal, as publicações da Mundo Agro Editora são reconhecidas pela credibilidade e zelo quanto às informações de mercado, estatísticas, notíciário nacional e internacional e novidades científicas e tecnológicas voltadas à agropecuária. E essa credibilidade é o diferencial estratégico para a comunicação do seu produto, serviço e da imagem da sua empresa.

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SUMÁRIO

Editorial Editorial

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Caro leitor, O ano de 2023 foi marcado por números positivos para a avicultura, levantamentos da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) mostram que as exportações brasileiras de carne de frango (considerando todos os produtos, entre in natura e processados) acumulam alta de 5,6% nos embarques realizados entre janeiro e novembro deste ano. Ao todo, foram exportadas 4,684 milhões de toneladas em 2023, contra 4,436 milhões de toneladas no mesmo período de 2022.

Agenda de eventos

+ lidas 09 As do AviSite

As exportações brasileiras de genética avícola alcançaram em novembro 2,321 mil toneladas, volume 54,9% superior ao registrado no mesmo período de 2022, com 1,498 mil toneladas. A receita dos embarques no mês chegou a US$ 19,238 milhões, saldo 1,7% menor que o total realizado em novembro de 2022, com US$ 19,576 milhões. Nesta edição da Revista do AviSite revisitaremos alguns dos artigos mais lidos e também como está o mercado de avicultura no momento atual.

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Destaques AviSite: Ricardo Santin é o novo presidente do International Poultry Council

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Ponto-Final Aumento dos casos de Influenza Aviária no mundo torna os cuidados com biosseguridade cada dia mais necessários

Em 2024 voltaremos com muitas novidades.

Mundo Agro Editora Ltda. Rua Erasmo Braga, 1153 13070-147 - Campinas, SP Publicação Trimestral nº 145 | Ano XV | Dezembro/2023

Os informes técnico-empresariais publicados nas páginas da Revista da Mundo Agro são de responsabilidade das empresas e dos autores que os assinam. Este conteúdo não reflete a opinião da Mundo Agro Editora.

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EXPEDIENTE

Até lá.

Redação Stefani Campos imprensa@mundoagro.com.br

Diagramação e arte Gabriel Fiorini gabrielfiorini@me.com

José Carlos Godoy jcgodoy@mundoagro.com.br

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Comercial Natasha Garcia e André Di Fonzo (19) 98963-6343 comercial@mundoagro.com.br

Administrativo e circulação adm@mundoagro.com.br


SUCESSÃO FAMILIAR

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Família e Agronegócio: a importância de planejar a sucessão

GENÉTICA AVÍCOLA

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Exportações de genética avícola crescem 54,9% em novembro

COBB-VANTRESS

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Cobb-Vantress destaca manejo para reduzir impacto do calor extremo na avicultura

AMBIÊNCIA

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Técnicas e ferramentas de zootecnia de precisão aplicadas à produção de aves

CIÊNCIA & TECNOLOGIA

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Brasil está na vanguarda no desenvolvimento de carne cultivada

NUTRIÇÃO DE PRECISÃO

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Nutrição de precisão na produção de aves A Revista do AviSite

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EVENTOS Janeiro IPPE 2024 International Production & Processing Expo 2024 30/01 a 01/02 – Atlanta (EUA)

As + lidas do AviSite

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X CLANA Congresso Latino-Americano de Nutrição Animal 04/06 a 06/06 – São Paulo (SP)

Status da Influenza Aviária no Brasil pelo MAPA O portal do AviSite segue atualizando o leitor sobre o status da Influenza Aviária no Brasil disponibilizando, diariamente, os dados sobre as investigações de Síndrome Respiratória e Nervosa de Aves realizadas pelo Serviço Veterinário Oficial.

FAVESU 2024 05/06 e 06/06 – Venda Nova do Imigrante (ES)

Leia na íntegra:

Abril Simpósio Brasil Sul de Avicultura 09/04 a 11/04 – Chapecó (SC) Junho

Agosto SIAVS 2024 06/08 a 08/08 – São Paulo (SP) Simpósio OvoSite (durante o SIAVS 2024) – São Paulo (SP) Setembro

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Perspectivas para o Agronegócio 2024 Estudo traz as projeções para o cenário econômico, além dos mercados de soja, milho, algodão, fertilizantes, proteína animal, café, cana, açúcar, etanol, suco de laranja, leite e celulose

EXPOMEAT 2024 24/09 a 26/09 – São Paulo Outubro PSA – Latin American Scientific Conference 08/10 a 10/10 – Foz do Iguaçú (PR) Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio 23/10 e 24/10 – São Paulo (SP)

Leia na íntegra:

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No Paraná, cooperativas e gigantes de carnes apostam no interior Faturamento do setor cooperativo deve atingir R$ 200 bilhões neste ano, e indústria de alimentos amplia sua participação no Estado

+ em: www.avisite.com.br e em nossas redes sociais

Leia na íntegra:

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DESTAQUE AVISITE: RICARDO SANTIN

Ricardo Santin é o novo presidente do International Poultry Council

Presidente da ABPA liderará entidade máxima da avicultura mundial em um momento de superação

O

presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin, é o novo presidente do International Poultry Council (IPC, sigla em inglês), entidade máxima da avicultura mundial. A eleição ocorreu em 1º de dezembro, durante reunião do comitê executivo da entidade. Santin é o primeiro brasileiro a comandar a entidade máxima da avicultura mundial, que reúne 54 integrantes (entre associações e empresas) de 30 países, responsáveis por mais de 73% da produção mundial de carne de aves e de mais de 86% de toda a exportação avícola global. Em números concretos, são 130 milhões de toneladas anualmente produzidas, com um Produto Interno Bruto na cadeia produtiva global superior a US$ 220 bilhões. É o palco dos grandes debates setoriais, envolvendo temas sanitários, de promoção de imagem entre outros tópicos relevantes para o desenvolvimento do setor. Como novo presidente do IPC, além de dar continuidade ao trabalho promovido pelos seus antecessores – o canadense Robin Horel e Jim Sumner, dos Estados Unidos -, Santin buscará reforçar a presença global do conselho, focado

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em questões relativas aos desafios sanitários globais (especialmente em relação à Influenza Aviária), fortalecimento da imagem da cadeia avícola e da representatividade do conselho junto aos principais órgãos internacionais, entre outros pontos. “É uma honra e um grande desafio assumir a presidência do IPC, em um momento especialmente importante para os rumos da avicultura global. Temos questões intrassetoriais a serem superadas e temas que avançam sobre a cadeia alimentar global. Neste sentido, trabalharemos para construir, de forma uníssona, soluções que alcancem todos os elos da cadeia produtiva dentro de seu propósito de produzir alimentos de forma ampla e democrática, auxiliando a segurança alimentar global e reafirmando o papel desta fundamental proteína”, avalia Santin. Junto com Santin, foram eleitos para o comando do IPC Richard Griffiths (British Poultry Council – BPC), como vice-presidente e Jim Sumner (USA Poultry and Egg Export Council – USAPPEC) como tesoureiro.


RESULTADOS A OLHOS VISTOS 20

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PINTOS A MAIS POR FÊMEA

-10,5% RAÇÃO POR PINTO

PONTOS MELHOR EM C.A.

MAIOR RENDIMENTO

+0,6% VIABILIDADE

+0,4% PEITO +0,6% PERNAS

A MELHOR PERFORMANCE DO MERCADO O MENOR CUSTO EM TODA A CADEIA PRODUTIVA

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SUCESSÃO FAMILIAR

Família e Agronegócio: a importância de planejar a sucessão Daniela Russowsky Raad Frederico Hilzendeger * advogados da área de organização patrimonial e sucessória do Souto Correa Advogados

A

essência familiar é uma das grandes fortalezas das empresas do agronegócio. Independentemente de ter passado por uma ampliação ou profissionalização da gestão, em que o centro da operação não envolva diretamente a família, o agronegócio possui raízes de trabalho familiar, passado de geração em geração, com a dedicação de muito esforço e a transmissão de valores por meio dessa dinâmica geracional e relação com a terra. O desafio reside na capacidade de perpetuar o negócio, assegurando a continuidade e a prosperidade dos empreendimentos, e, fundamentalmente, resguardar os valores, as tradições e o patrimônio familiar, construídos com suor ao longo do tempo. Nesse cenário em que as operações são fundamentalmente familiares e frequentemente alicerçadas em relações pessoais, a ausência de um

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plano sucessório estruturado pode resultar em desafios significativos. Conflitos familiares, impactos tributários desfavoráveis e a falta de uma transição adequada entre as diferentes gerações podem comprometer a sustentabilidade das propriedades rurais e o legado que se pretende deixar. Portanto, compreender e implementar estratégias eficazes de planejamento sucessório torna-se imperativo para garantir a continuidade bemsucedida das atividades. O planejamento da sucessão não é apenas uma medida preventiva, mas uma ferramenta estratégica crucial para preservar a estabilidade financeira, a harmonia familiar e a continuidade do desenvolvimento de suas respectivas operações. Em última análise, a implementação de um plano sucessório bem delineado não apenas resguarda o patrimônio imobilizado e financeiro, mas também perpetua os valores,

conhecimentos e tradições, encaminhando e acomodando os anseios das novas gerações e dos diferentes núcleos familiares, que possuem suas características próprias. Da porteira para dentro, a preservação da família e do negócio deve ser o objetivo primordial, devendo-se endereçar a configuração das relações familiares, como os casamentos e o nascimento de novos núcleos. É essencial, também, serem trazidos à tona os interesses e objetivos de cada membro da família, porquanto são informações fundamentais para o desenho de um plano sucessório que satisfaça suas particularidades e a diversidade de opiniões. Cada família é singular, e, portanto, é ilusório acreditar que existe uma solução única e padrão para todos os casos. Assim

como

um

cardápio

de


ferramentas jurídicas, o planejamento sucessório demanda uma abordagem multidisciplinar, envolvendo especialistas em direito do agronegócio, societário, tributário, de família, e sucessório, bem como profissionais capacitados em mediação. Além disso, trata-se de um plano articulado e implementado em etapas, que, ainda que sejam flexíveis, adaptando-se ao contexto de cada família e negócio, podem ser divididas em cinco fases principais, que, frequentemente, são desenvolvidas concomitantemente: (i) transição; (ii) definição de interesses; (iii) avaliação; (iv) planejamento; e (v) implementação. (i) A transição é o momento em que se realiza um alinhamento com todos os familiares acerca do estabelecimento de regras gerais, em comum acordo, sobre como se dará a condução dos negócios durante o processo de sucessão, bem como a maneira que o processo em si será conduzido, quais são as prioridades e combinações necessárias para uma transição saudável.

Daniela Russowsky Raad

(ii) A definição de interesses busca a identificação dos objetivos e interesses de cada um dos núcleos familiares, especialmente no que tange à organização da estrutura patrimonial, societária e sucessória do negócio. As relações familiares de cada núcleo também são relevantes para o planejamento sucessório global, e a conclusão dessa etapa compreende a formalização dos interesses dos diferentes núcleos, a fim de convergir o processo de decisão e o avanço das etapas seguintes. (iii)

A

avaliação

foca

no

Frederico Hilzendeger

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SUCESSÃO FAMILIAR

Da porteira para dentro, a preservação da família e do negócio deve ser o objetivo primordial, levantamento de informações acerca do negócio e do patrimônio existente, a fim de fundamentar, tecnicamente, a partição, ainda que futura, dos bens. Indica-se o envolvimento de consultorias especializadas e profissionais experientes, especialmente em razão da complexidade do patrimônio envolvido em cada caso. Nesta fase, os profissionais e avaliadores envolvidos também devem ouvir os membros da família, a fim de captar, na medida do possível, o valor não apenas financeiro dos ativos adquiridos ao logo do tempo. (iv) A etapa de planejamento compreende o estudo e a avaliação da melhor alternativa jurídica para a solução da demanda da família, e ocorre depois de definidas as regras de transição, estabelecidos os interesses de cada núcleo familiar e, especialmente, após avaliado o patrimônio em questão. Com a análise de aspectos e impactos geralmente percebidos nas esferas societária, tributária, imobiliária, patrimonial e sucessória, são apresentadas as soluções possíveis, suas vantagens e desvantagens. (v) Por fim, passa-se para a implementação das soluções jurídicas desenvolvidas, com a minuta dos documentos jurídicos necessários e os procedimentos burocráticas para registro e, quando for o caso, transmissão da propriedade.

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Uma vez conhecido o contexto familiar e mapeado o patrimônio envolvido, identificadas as melhores formas de preservação e comunicando-se objetivamente o que deve ser feito, pode-se planejar adequadamente sua transferência à próxima geração, no momento que for definido como oportuno. A estrutura ideal para a sucessão dependerá das características dos bens, e da gestão que se pretende exercer no momento atual e futuro. Usualmente, utilizam-se ferramentas combinadas, a exemplo de: testamentos, com a individualização do patrimônio a ser deixado para cada herdeiro; doações, podendo ser estipulada a reserva de usufruto, ou não; reestruturações ou criação de estruturas societárias, criando-se estruturas jurídicas ou adaptando as já existentes, a fim de atender à operação do negócio e ao planejamento definido; além da elaboração de instrumentos familiares e societários, organizando as relações existentes. O que se deve evitar, especialmente quando estamos diante de expressivo valor econômico, é a falta de planejamento, o que pode acarretar impactos financeiros expressivos, além de risco ao próprio negócio e do desgaste das relações familiares. No enfrentamento de conflitos familiares e na busca pela perenidade, estratégias tributárias

também desempenham um papel significativo. Transmitir bens em vida, muitas vezes, proporciona maior liberdade e controle sobre o planejamento sucessório, permitindo que as rédeas do futuro sejam tomadas com autonomia. Ainda, é necessário avaliar a natureza da operação realizada, pois por integrar o patrimônio do indivíduo, a doação ou a transmissão do patrimônio após o falecimento atrai a incidência do Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD). O valor expressivo dos bens pode, na falta de planejamento adequado, forçar herdeiros a vender parte do patrimônio, nos casos em que o valor do imposto atinja um montante para o qual não haja liquidez suficiente para pagá-lo. O planejamento da sucessão é uma decisão fundamental para garantia do legado, a fim de que seja um prazer para a geração seguinte, e não um fardo. Não planejar nem expressar adequadamente a vontade por meio de instrumentos jurídicos apropriados são os principais erros em um cenário repleto de variáveis, no qual existem especificidades para cada negócio. A boa notícia é que é possível planejar essa sucessão de forma bastante eficaz. Afinal, a sucessão no agronegócio é mais do que uma transferência de bens; é um ato que define o destino e a continuidade do legado familiar.


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GENÉTICA AVÍCOLA

Exportações de genética avícola crescem 54,9% em novembro No ano, a alta chega a 72,4% ABPA

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evantamentos da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) mostram que as exportações brasileiras de genética avícola alcançaram em novembro 2,321 mil toneladas, volume 54,9% superior ao registrado no mesmo período de 2022, com 1,498 mil toneladas. A receita dos embarques no mês chegou a US$ 19,238 milhões, saldo 1,7% menor que o total realizado em novembro de 2022, com US$ 19,576 milhões. No ano, os embarques de genética avícola totalizaram até novembro 23,893 mil toneladas, volume 72,4% maior que as 13,857 mil toneladas exportadas nos onze primeiros meses de 2022. No mesmo período comparativo, a receita cresceu 38,2%, com US$ 219,8 milhões entre janeiro e novembro de 2023 e US$ 159 milhões em 2022. No levantamento por destino, o México segue na liderança das importações de 2023, com total de 12,723 mil toneladas importadas entre janeiro e novembro deste ano, volume 94% superior ao

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registrado no mesmo período comparativo de 2022. Outros destaques foram Senegal, com 3,538 mil toneladas (+9,8%), Paraguai, com 2,436 mil toneladas (-3,8%), Peru, com 1,455 mil toneladas (+898,4%) e África do Sul, com 1,362 mil toneladas (sem registros de embarques em 2022). “O setor de genética avícola do

Brasil tem exercido um papel importante na recuperação de plantéis de países impactados por focos de Influenza Aviária. Exemplo disto é a África do Sul, que em pouco tempo acelerou suas importações e assumiu em novembro o primeiro posto entre os destinos das exportações brasileiras”, avalia Ricardo Santin, presidente da ABPA.


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COBB-VANTRESS

Cobb-Vantress destaca manejo para reduzir impacto do calor extremo na avicultura Especialista defende manejo estratégico pode reduzir perdas de desempenho e mortalidade em granjas de aves em dias mais quentes

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entiladores, nebulizadores, área de sombreamento e flushing para disponibilizar água mais fresca para as aves. Estas são algumas das ferramentas de primeira hora que podem ajudar o avicultor a reduzir o impacto do calor no desempenho dos animais sem a necessidade de grandes investimentos, defendeu o especialista em Ambiência da Cobb-Vantress na América do Sul, José Luís Januário. O país já viveu até o mês de novembro quatro ondas de calor intenso, de acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Estas ondas de calor provocaram forte impacto no desempenho das aves, levando a mortalidade em casos extremos. De acordo com meteorologistas do Observatório do Clima, o calorão é cada vez menos uma exceção e tem

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sido mais frequente nas últimas décadas, com termômetros atingindo os 40º C e trazendo prejuízos enormes para a agropecuária em geral e a avicultura em especial. Para se ter uma ideia, a previsão é chegarmos ao dobro de dias de calor extremo no ano até 2075. O desafio é enorme com novos recordes de temperaturas e alerta de grande perigo para 15 estados e o Distrito Federal emitido pelo I n s t it ut o Nacional de Meteorologia (Inmet). O calor foi intensificado pelo El Niño, fenômeno


que deixa as águas do oceano mais quentes e a expectativa é de piora. De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), conforme a temperatura média global aumenta, cresce também a frequência e a intensidade de ondas de calor. Este cenário traz um desafio a mais para o produtor que deve enfrentar extremos de calor com frequência cada vez maior neste e nos próximos anos. Isso porque o estresse calórico impacta o equilíbrio metabólico das aves levando a perdas de desempenho em um primeiro momento e a mortalidade em casos severos. Assim, estratégias de manejo para reduzir perdas em dias mais quentes têm sido cada vez mais importantes. “Em primeiro lugar o produtor deve usufruir do vento. O galpão deve ter ventilação satisfatória, com número de equipamentos de ventilação adequados e ter nebulizadores, como estrutura convencional e mais simples, por e x e m p l o ”, afirmou o especialista.

Ventilação dos galpões Januário destaca que de 60% a 85% do calor da granja é produzido pelas próprias aves. “Quanto mais calor faz, mais condução e irradiação de calor para dentro dos aviários. E mais calor as aves emitem para o ambiente. Então, atuar em cima das aves é uma boa estratégia”, disse. O especialista salienta, nos galpões convencionais em maior importância, e naqueles mais tecnificados também, os benefícios de uma localização leste – oeste dos aviários. “É para que o sol passe no sentido longitudinal do galpão”. Ele ainda ressalta a importância de ter, em média, um ventilador para área de 50 a 60 metros quadrados e um bico de nebulização para cada área de 10 a 15 metros quadrados de galpão. De acordo com ele, é importante oferecer velocidade de vento adequada, de 3,5 a 5 metros por segundo de velocidade de acordo com o comprimento do galpão. “As trocas de ar nos galpões mais climatizados, de exaustores, devem ocorrer desde a entrada até a saída entre 35 e 40 segundos. Por isso é necessário ter uma boa velocidade de ar”. Sobre o posicionamento dos ventiladores, Januário explica que eles devem estar retos no galpão com a altura do motor a uma distância de 1,20 m a 1,50 m do piso, formando um ângulo de 90

graus. “Para obrigar a se criar um possível túnel de ventilação positiva e a troca de calor das aves por convecção, ou seja, o ar passando pelo corpo das aves, resfriando-as, e retirando este calor ao redor e sobre elas”. E, se de um lado ventiladores e nebulizadores são ferramentas necessárias para combater os efeitos do calor intenso no desempenho dos animais, do outro lado, sombreamento com árvores (se possível), cortinas, telas “sombrites” e outros equipamentos, como forro de cortina abaixo dos telhados e materiais isolantes dessa superfície - desde o forro até o telhado do galpão - contribuem para reduzir a intensidade de radiação solar. “Porque o calor do sol entra também pelas laterais e principalmente pela grande superfície de contato ao meio externo do galpão, pelo telhado, onde nossa atenção deve ser ainda maior nas construções novas. Este calor é somado ao calor já emitido pelas aves no ambiente”.

Água Outro ponto importante é a água de bebida dos animais. De acordo com o especialista, a temperatura adequada para a água é de 18 a 24 graus. “Em dias quentes, a água fica na temperatura ambiente e é muito difícil manter isto, então seria necessário resfriar esta água. Contudo, um sistema de refrigeração de água pode ter um custo elevado para o produtor. Neste caso, ele pode mitigar estes efeitos com um processo de

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COBB-VANTRESS

flushing, esgotando o encanamento de água para que ela esteja sempre nova e mais fresca. O flushing do sistema de água deve ser mais frequente nas granjas na primavera e no verão”.

Alerta – sinal amarelo Identificar o momento em que os animais começam a sentir os efeitos do estresse pelo calor é importante para o produtor iniciar um manejo para combater as perdas de desempenho. “Quando começam a sentir o calor, os animais se afastam uns dos outros, começam a abrir as asas e a respirar um pouco mais cansados. Estes são os primeiros sinais de que o estresse está se instalando”, afirma José Luis.

Segundo ele, o bico aberto indica que as aves já entraram em processo de perda de calor, e número de aves aumentando nesta situação, “assim já começa a comprometer o metabolismo e o equilíbrio termorregulador das aves. A ave entra em estresse calórico, iniciando todo o mecanismo para perder calor pela forma evaporativa do sistema respiratório, começa então a ter dificuldade para ganhar peso, reduz a produtividade, entra em exaustão e pode chegar à mortalidade por colapso cardíaco e respiratório em casos mais graves”.

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A tendência de investimentos em tecnologias de climatização O especialista ressalta, entretanto, que estas dicas são iniciativas de “primeira hora”, como mencionado no início do texto. “São medidas que ajudam o produtor a reduzir o impacto do calor extremo em galpões convencionais sem a necessidade de grandes mudanças. Contudo, vale ressaltar que investimentos em tecnologias de climatização têm sido mais eficientes e com bom retorno sobre o investimento”, afirma. Ele destaca equipamentos modernos de climatização, como exaustores e painéis evaporativos que resfriam o ar que entra no aviário, por exemplo. “São mais caros, mas mais efetivos, mais eficientes. E, cremos, seria uma melhor opção para aqueles que estão em fase de estudos sobre melhorar rapidamente ou não”. Considerando a perspectiva de meteorologistas do Observatório do Clima de aumento de dias mais quentes no médio e longo prazo, Januário aposta que pequenas alterações de melhorias, ou transformação total para climatizados, será uma das ferramentas mais importantes de evolução de processos, de construções, de manejo e de aprimoramento das relações entre os aspectos construtivos e de desempenho, da sustentabilidade, do bemestar animal e, sobretudo, da eficiência produtiva da nossa avicultura.


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AMBIÊNCIA

Técnicas e ferramentas de

zootecnia de precisão

aplicadas à produção de aves

Paulo Giovanni de Abreu, Embrapa Suínos e Aves

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A produção de aves é diretamente influenciada pelo ambiente onde é criada. Dessa maneira, a variabilidade, seja ela espacial (dentro dos aviários) ou temporal (alterações do clima, pelas características das estações do ano) é ponto fundamental para a partida de qualquer estudo que envolva as aves

S

ão vários os princípios tecnológicos que servem à produção de aves, começando pela diversidade de controles e automação, sensores, atuadores, controladores, transponders e antenas, ligados a coleta, armazenamento e processamentos de dados e chegando aos complexos campos de aplicação da avicultura e modelos de inteligência artificial (IA). A utilização das tecnologias de informação e comunicação no contexto da produção de aves tem uma longa tradição. Porém, a evolução contínua dos equipamentos a disposição e as crescentes exigências de sustentabilidade econômica, animal e ambiental, têm propiciado as condições para que essas técnicas sejam praticadas, o que revela um desafio, extraordinariamente interessante para os técnicos que desenvolvem a sua atividade neste setor. Nos últimos anos esforços têm sido despendidos para desenvolver técnicas e ferramentas que possam auxiliar o acompanhamento da produção de aves. A produção de aves

é diretamente influenciada pelo ambiente onde é criada. Dessa maneira, a variabilidade, seja ela espacial (dentro dos aviários) ou temporal (alterações do clima, pelas características das estações do ano) é ponto fundamental para a partida de qualquer estudo que envolva as aves. Para minimizar a variabilidade é necessário que se conheça sua magnitude, identificando e quantificando os principais fatores que atuam para que se possa manejála. Quando se objetiva manejar a variabilidade dos diferentes fatores envolvidos existe a necessidade de conviver e entendê-la, ou seja, é importante mapeá-la e manejá-la em níveis possíveis, técnica e economicamente. Para tal, equipamentos que monitoram processos, ambientes e as aves, que realizam aquisição automática e/ou análise de dados e executam ações com base nos dados coletados e analisados, possuem vasta aplicação, permitindo o conhecimento de vários fatores que afetam a produção. As várias tarefas que compõem as atividades executadas no sistema de

produção de aves necessitam de acompanhamento sistemático durante todos os processos. Informações coletadas diariamente, juntamente com o acompanhamento das etapas de produção, produzem dados estatísticos (em grande volume) importantes para avaliação, controle e tomadas de decisão visando possíveis de melhorias. Softwares aplicativos proporcionam aos produtores, ferramentas poderosas para melhorar o gerenciamento e o controle de seus negócios. Para o desenvolvimento dessas ferramentas, estudos de bemestar, ambiência, meio ambiente, sanidade, que envolvam mapeamento, zoneamento, acompanhamento e/ou monitoramento em tempo real (câmeras) do ambiente e das aves, são fundamentais. Neste contexto tornase importante a aplicação dos conhecimentos da bioinformática e da zootecnia de precisão, onde a complexidade e o volume de dados de produção, comportamento, fisiologia e de ambiente estão envolvidos.

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AMBIÊNCIA Pontos fundamentais para o estudo da variabilidade com a identificação de seus principais fatores.

Técnica e econômica mapeá-la e manejá-la

Conviver e entendê-la

Manejar a variabilidade

Os desafios colocados atualmente pela produção sustentável de aves exigem a adoção de tecnologias de produção que garantam a produtividade e lucratividade, que minimizando os impactos ambientais adversos e, ao mesmo, tempo assegurem a preservação da saúde e

bem-estar da ave. Estes requisitos, potencialmente antagônicos, podem gerar conflitos e os objetivos de curto prazo podem comprometer soluções sustentáveis em longo prazo. Neste contexto, um sistema integrado e otimizado que permita gerir a produção animal baseado nos

princípios da engenharia de processos, assim como nos parâmetros fisiológicos e processos físicos e biológicos das aves, pode representar um instrumento considerável para o empresário avícola.

Tarefas que compõem as atividades executadas no sistema de produção durante todos os processos.

Informações coletadas diariamente gerenciamento e o controle de seus negócios

ferramentas poderosas

Softwares aplicativos

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acompanhamento das etapas de produção animal

dados estatísticos

avaliação, controle e possibilidade de melhorias


Monitoramento do caminho percorrido pelas aves.

A Zootecnia de Precisão, antes conhecida como um sistema de gestão integrado trata a produção animal como um conjunto de processos interligados, que atuam em conjunto numa rede complexa,

Processos para adoção Zootecnia de Precisão

Contagem, localização e densidades das aves.

sendo baseada na monitorização automática e contínua dos animais e dos processos físicos relacionados. Dentro da Inteligência Artificial (IA) existem vários campos de estudo, tais

como: processamento de linguagem natural, reconhecimento de padrões, visão de computador, robótica e aprendizado. Da mesma forma, tem se começado a utilizar alguns modelos de IA principalmente a lógica FUZZY,

• identificações dos animais • crescimento animal • registro de eventos como vacinação, cio, parto • produções de leite e ovos • algumas doenças endêmicas • aspectos do comportamento animal • ambiente físico de um alojamento animal • microambiente térmico e • emissões de gases poluentes como a amônia

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AMBIÊNCIA os sistemas baseados em conhecimento e as redes neurais artificiais (RNA). Os sistemas de automação permitem monitorar e controlar o

funcionamento de um sistema físico de forma segura e o monitoramento visa automatizar o registro de ocorrências de um dado evento, bem como alertar o utilizador em caso de

sistemas possam comunicar entre si e com o meio externo

situações excepcionais. No entanto, o controle visa automatizar tarefas rotineiras e respostas comuns a certas características fixas, por exemplo, o ambiente.

conhecer o ambiente que o rodeia

Controles e Automação

atuar nesse ambiente de modo razoavelmente previsível

sensores e atuadores controlador inteligente

Níveis da automação implantação de um sistema de aquisição de informação, composto por uma série de sensores e dispositivos para colher e armazenar a informação desses sensores

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implantação de sistemas de controle que executam tarefas com base num conjunto de informações. Essas tarefas podem ser pré-programadas ou podem ser função da informação colhida por meio de sensores

sistema de coleta e registro de dados, capaz de armazenar a informação colhida por sensores ou ações executadas por sistemas de controle


A evolução contínua dos equipamentos e as crescentes exigências de sustentabilidade econômica, animal e ambiental, têm propiciado condições para que novas técnicas sejam praticadas, o que revela um desafio, extraordinariamente interessante para os técnicos que desenvolvem a sua atividade neste setor Pesquisadores que atuam diretamente na área, entendem que a adoção desses princípios tecnológicos, possibilita manejos específicos em situações específicas, que ocorrem no campo e que são pontos chaves para a tomada de decisão e que levam a ações mais precisas do que aquelas baseadas em valores médios. Algumas ferramentas que vem sendo utilizadas são os biosensores, equipamentos para medidas ambientais ligadas a dataloggers e análise de imagens. Apesar do desenvolvimento da

Pesagem automática de aves.

Monitoramento de gases do ambiente.

Sensores para o monitoramento das condições ambientais.

Coleta de dados por meio RFID.

Zootecnia de Precisão estar atrelado à utilização de biosensores, outras técnicas e ferramentas que vêm sendo empregadas na produção de aves devem ser consideradas, uma vez que estas têm facilitado a aquisição de dados para análises mais apuradas, contribuindo para o avanço e a velocidade das pesquisas.

Os sistemas de automação não se limitam a recolher informação de um sistema físico. A maioria destes sistemas atua, também, em resposta a alguma situação detectada pelos sensores (Por exemplo - além de detectar mudanças na temperatura ambiente, o termostato, deverá ser capaz de ligar e desligar um ou mais aparelhos (aquecedores ou ventiladores). Ou seja, os atuadores produzem movimento, atendendo a comandos que podem ser manuais ou automáticos.

Por meio de sensores os produtores de aves obtêm de forma rotineira informações para avaliação do estado sanitário, bem-estar, manejo e produtividade da produção de aves.

Controladores de iluminação e painéis de controle do aviário

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AMBIÊNCIA Técnicas e ferramentas tais como a análise Fuzzy, RFID (radio frequência), redes sem fio (wirelless), redes neurais e visão computacional vêm sendo incorporadas aos sistemas produtivos de aves por meio softwares matemáticos e a geoestística.

Lógica Fuzzy na estimativa condição do ambiente, como função da idade e Temperatura do ar

O uso da lógica Fuzzy no tratamento dos dados obtidos do sistema produtivo de aves auxilia na tomada de decisão e determinação de estratégias apropriadas, devendo também ser incorporado ao conceito da zootecnia de precisão. Tais ferramentas podem ser úteis ao produtor dando suporte para o gerenciamento, implantação de estratégias e controle de processos da produção de aves. O controle e o monitoramento da produção animal são menos desenvolvidos quando comparados com os utilizados na indústria. Dessa maneira, deve-se utilizar técnicas e ferramentas que permitem estabelecer modelos de suporte a tomada de decisões que trazem consigo tecnologias embarcadas. Como exemplo de aplicação, pode-se citar que nos países tropicais, um dos desafios a ser considerado para o sucesso da produção de aves é a redução dos efeitos climáticos sobre os animais. Para tal, é necessário caracterizar o ambiente térmico. O ambiente térmico, normalmente, engloba os efeitos da radiação solar, temperatura de bulbo seco do ar, velocidade do ar, umidade relativa e temperatura efetiva e seus efeitos sobre os animais podem ser avaliados

Distribuição do fluxo de ar de ventiladores, fixo com giro de 130O e 360O para a criação de aves

Mapa das isolinhas de velocidade do ar e da direção vetorial para o ventilador com giro de 360º.

A Zootecnia de Precisão trata a produção animal como um conjunto de processos interligados, que atuam em conjunto numa rede complexa, sendo baseada na monitorização automática e contínua dos animais e dos processos físicos relacionados

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Termografia aplicada a ambiência das construções.

Open Field Test – Teste de preferência da ave

Distribuição da temperatura e relação de proporção da taxa de perda de calor (tpc) e da taxa de resfriamento (tr) em função do peso e da idade da ave e medidas morfológicas por meio de análise de imagens

Sequência de processamento da imagem para o cálculo da área plana.

por meio do comportamento e das respostas fisiológicas. Além disso, a utilização de métodos avançados de controle e rastreamento em que geralmente são utilizados sistemas de

automação visa principalmente reduzir ou evitar perdas localizadas. Se os pesquisadores seguirem as ‘regras’ básicas, a Zootecnia de

Precisão, contribuirá para a saúde e bem-estar animal e disponibilizará ao produtor uma tecnologia imprescindível para uma exploração sustentável e lucrativa.

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A produção de tecido animal em laboratório é uma tendência mundial. - Foto: Lucas Scherer

CIÊNCIA & TECNOLOGIA

Brasil está na vanguarda no desenvolvimento de carne cultivada Projeto inédito da Embrapa tem como objetivo a produção de proteína alternativa (análoga ao peito de frango). Essa tecnologia cria tecidos animais a partir de células animais e vem ganhando força no Brasil e no mundo Embrapa Suínos e Aves

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A

Embrapa Suínos e Aves (SC) está à frente de um estudo pioneiro no Brasil para desenvolver carne de frango cultivada em condições controladas de laboratório. O novo produto, que se assemelha ao sassami, na forma de protótipos de filés de peito de frango desossados, deve estar pronto para análises nutricionais e sensoriais até o final de 2023. Também caracterizada como proteína alternativa, a tecnologia recria tecidos animais em laboratório a partir de células animais, proporcionando carnes análogas às naturais. Trata-se de uma inovação que atende às atuais tendências de consumo e agregação de valor.

O projeto foi aprovado por edital competitivo internacional do The (GFI), Good Food Institute organização não governamental que atua na arrecadação de recursos e financia projetos globais. Dentre os 22 projetos selecionados em 2021, cinco são brasileiros, entre eles o da Embrapa Suínos e Aves. O aumento no consumo de proteínas ao longo dos anos, novos hábitos alimentares e preocupação com a sustentabilidade têm despertado na comunidade científica a necessidade de ampliar a tecnologia necessária para produzir alimentos e atender à crescente demanda alimentar mundial. Com atenção a novas tecnologias de produção, a proteína cultivada é uma das alternativas em vista. Para produzi-la, células são extraídas de um animal e cultivadas (crescidas), primeiro em um meio nutritivo em escala laboratorial, depois em grandes biorreatores. O resultado se traduz na ampliação da capacidade de produzir proteína, diversificando as fontes de produção. O produto

A técnica e o desenvolvimento De acordo com Feddern, serão utilizadas as estruturas tridimensionais de nanocelulose bacteriana inicialmente desenvolvidas na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Essas estruturas apresentam características semelhantes aos cortes decelularizados de peito de frango como tamanho e aparência, e por isso serão usadas como suporte ao cultivo das células. As células serão colocadas na celulose através da técnica de perfusão, de forma semelhante ao utilizado para recelularização de órgãos. O estágio atual da pesquisa está na otimização da adesão e proliferação das células no interior da celulose. “Existem diferentes possibilidades para viabilizar o transporte das células para dentro do tecido, para a fixação e desenvolvimento. Vamos testar com e sem microcarreadores, por exemplo”, acrescenta a pesquisadora. Para a obtenção do produto final, que é o análogo a filé de frango desossado, ainda há um caminho de pesquisa que a equipe espera atingir ainda durante o ano de 2023.

final pode ser utilizado para produzir alimentos não estruturados, como hambúrgueres, embutidos e almôndegas ou estruturados, como filés e bifes. “É um assunto discutido há algum

tempo. Mas o ganho de escala está se dando agora porque a tecnologia está ficando mais viável, e, por isso, os investimentos no desenvolvimento dessas proteínas alternativas começam a acompanhar esse momento e estão A Revista do AviSite

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CIÊNCIA & TECNOLOGIA

A opção de estudo da Embrapa pela carne de frango levou em consideração o fato de que é uma das proteínas mais versáteis, consumida em todo o território nacional, além de um dos alimentos mais completos nutricionalmente, importante para dietas saudáveis. Outra vantagem do estudo diz respeito ao acesso ao banco genético de aves da Embrapa Suínos e Aves.

Legislação e consumo O mercado global de carne de aves vem crescendo e apresenta, de acordo com órgãos como a OECDFAO, uma estimativa de consumo de aproximadamente 131 milhões de toneladas em 2026. Para pesquisadores, esses dados mostram um cenário promissor para empresários e indústrias buscarem tecnologia alternativa de produção, como a carne cultivada. “Embora estudos com essa cadeia sejam mais recentes quando comparados aos produtos da cultura de células bovinas, muitos esforços vêm sendo empregados nos últimos anos e múltiplas empresas se estabeleceram em diversos locais do mundo”, comenta Feddern. Entre os países que já estudam a carne de frango cultivada estão Canadá, República Tcheca, Estados Unidos, Japão, Israel, França, África

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Foto: Lucas Scherer

cada vez maiores”, explica Vivian Feddern, pesquisadora-líder do projeto. Em sua avaliação, a vantagem de investir desde já neste mercado em franca ascensão é evidente. “Além da vanguarda tecnológica, poderemos oferecer tecnologia e/ou proteínas alternativas a empresas do Brasil e de países importadores de produtos pecuários

do Sul e Suíça. Em 2020, a Singapura aprovou legislação para a comercialização de frango empanado cultivado, produzido pela Eat Just. Em 2022, nos Estados Unidos, a Food and (FDA) Drug Administration concedeu aprovação para a Upside Foods, da Califórnia, para frango cultivado. Na Holanda, também em 2022, o parlamento legalizou a degustação da carne cultivada sob condições controladas, destacando que foi o primeiro país a apresentar um hambúrguer cultivado pelo farmacologista Mark Post em 2013 na presença de 200 jornalistas e acadêmicos. Post é também cofundador da empresa de carne cultivada Mosa Meat, sediada na Holanda. Enquanto ainda não existe comercialização, os produtos cultivados podem ser apreciados em alguns restaurantes desses países, como em Israel, que possui filas de espera para a degustação e lista de reservas para clientes.

No Brasil, ainda não há legislação sobre o tema, porém o Plano Nacional de Proteínas Alternativas (PNPA) está em processo de criação pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). Nesse plano estão contemplados alimentos e seus ingredientes de base proteica provenientes de plantas, insetos, fungos, algas e outras fontes alternativas obtidos pelos métodos estabelecidos de produção, processos fermentativos, cultura de células e processos inovadores. A legislação ainda deve ser um passo mais à frente, segundo a pesquisadora. “Algumas empresas, como BRF, JBS e Cellva Ingredients já começaram a investir nas pesquisas para produzir carne cultivada e ingredientes, como a gordura suína cultivada. A maioria está focada em produtos não estruturados, como é o caso de hambúrgueres, diferente de um peito de frango que precisa de estrutura. Como o processo é mais complexo, ainda temos um caminho pela frente”, complementa.


Sustentabilidade como apelo à produção Um dos desafios que os pesquisadores apontam na produção de alimentos para uma população que vem crescendo no mundo todo é a sustentabilidade. “Os efeitos da produção animal convencional ao meio ambiente, desde a utilização da terra e da água, interferência na biodiversidade, emissão de gases de efeito estufa (GEE) é uma discussão recorrente, não só na pesquisa, mas em diversos setores. Dessa forma, a carne cultivada se apresenta como grande aliada ao enfrentamento desses desafios”, comenta Feddern. “Partindo de um conceito de saúde única, que engloba, de forma conjunta, o cuidado humano, animal e do meio ambiente, é possível mitigar os impactos ambientais gerais da produção de carne tradicional. Isso porque cultivamos células do animal in vitro, em um ambiente inerte, sendo controlado física, química e microbiologicamente”, aponta a pesquisadora. A técnica ainda prevê como vantagem a redução ou eliminação no uso de antimicrobianos, cujo tema é bastante debatido na produção de carne. A carne cultivada se apresenta como uma forma alternativa à produção de carne convencional, portanto não visa substituir a produção convencional já bem estabelecida no mundo, mas possui potencial para coexistência de ambas as formas de produção. A produção de produtos cárneos em condições in vitro surge como complemento para contribuir na oferta de proteína, demandada pelo aumento populacional, possuindo o potencial de transformar completamente o negócio de proteínas cárneas, com repercussões de longo alcance para o meio ambiente, a saúde humana e o bem-estar animal. Além disso, a carne cultivada possui potencial para aliviar as preocupações éticas, ambientais e de saúde pública associadas à produção convencional de carne, incluindo emissões de GEE, uso de terra e água, resistência a antibióticos, doenças transmitidas por alimentos e zoonóticas e abate de animais.

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CIÊNCIA & TECNOLOGIA

Criação de biobanco vai agilizar resultados da pesquisa

indústria baseada em células trabalhe com linhagens celulares estáveis, reprodutíveis e consistentes durante o desenvolvimento de produtos cárneos cultivados.

O projeto prevê duas soluções de inovação. Uma delas é voltada ao desenvolvimento de uma “Metodologia para obtenção das condições de cultivo otimizadas da bactéria produtora de nanocelulose bacteriana visando uma linhagem comercial viável e confiável”, que é de responsabilidade da pesquisadora Ana Paula Bastos. A outra inovação será o desenvolvimento do produto em si, que é o análogo de peito de frango, de responsabilidade da pesquisadora-líder do projeto.

A criação do biobanco é um dos resultados da I Jornada da Carne Cultivada, promovida pela Embrapa Suínos e Aves, em agosto de 2022. O evento reuniu profissionais de empresas do setor alimentício, startups, agentes públicos, indústrias de suplementos e de equipamentos, empreendedores e estudantes de diversas áreas do conhecimento para ampliar as discussões sobre o tema e buscar parcerias.

Nesse projeto, os pesquisadores trabalham com células-tronco adultas e embrionárias, miócito, fibroblasto e adipócito de galinha. Ao longo do desenvolvimento, notou-se a necessidade da criação de um biobanco de linhagens celulares de frango para atender ao mercado de carne cultivada. Segundo Bastos, o biobanco pode reduzir drasticamente a necessidade de geração repetida de culturas de células primárias e permitirá que a

Ela também ressalta que não haverá obstáculos de licenciamento e autorização da utilização das linhagens celulares porque a fonte de células são os animais do programa de melhoramento genético da Embrapa. “A criação de um biobanco institucional da Embrapa com linhagens celulares caracterizadas e destinadas à produtos cárneos cultivados poderá ser licenciada, o que reduzirá significativamente a barreira de entrada de pesquisadores, startups e indústria interessados na carne cultivada”, comenta.

Monalisa Leal Pereira (MTb 01.139/SC) Embrapa Suínos e Aves suinos-e-aves.imprensa@embrapa.br

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t ão e s e s e. õ ç a m RCod infor Mais íveis no Q n dispo


Como o consumidor vê a carne cultivada? Em pesquisa aplicada pela equipe da Embrapa Suínos e Aves em relação à percepção do consumidor no contexto atual pós-pandemia, observa-se que os respondentes estão dispostos a experimentar a carne cultivada e encaram como uma tendência positiva. Porém, restam dúvidas quanto à segurança do novo produto, valor nutricional, sabor, textura e modo de produção. “O conhecimento e a divulgação dos benefícios dessa inovação são primordiais para o futuro consumidor adotar a carne cultivada como mais uma opção de alimento à sua dieta”, completa Feddern. A pesquisa foi aplicada entre fevereiro e março de 2022, por abordagem exploratória com dados coletados através de questionário eletrônico composto de perguntas objetivas do tipo múltipla escolha. Também contava com um vídeo explicativo acerca dos prós e contras da carne cultivada com duração aproximada de oito minutos e uma questão optativa dissertativa sobre os motivos que fariam o respondente consumir ou não o produto. A pesquisa realizada abordou aspectos concernentes ao perfil, hábito e intenção de consumo de carne cultivada de moradores de municípios localizados na Região Sul do Brasil, cuja população é inferior a 150 mil habitantes. O tema ainda é controverso para a sociedade, mesmo nos meios de pesquisa. Pesquisadores avaliam essa situação especialmente pelo fato de o produto ainda não estar disponível para comercialização no mercado brasileiro. “Isso faz com que as opiniões e posicionamentos se dividam e, por vezes, sejam conflitantes. No entanto, o País, por ser um dos maiores provedores mundiais de proteína animal, deve estar atento e na vanguarda de qualquer assunto que diz respeito às cadeias produtivas”, enfatiza a pesquisadora-líder do projeto. “Com essa proposta de alimento inovador, o Brasil pode contribuir com a produção de massa cárnea, ingredientes, e a Embrapa oferecer um biobanco, servindo de apoio para as empresas/startups existentes e novas que estão por serem lançadas no mercado”, conclui Feddern.

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BASF

Isolamento térmico na avicultura: benefícios e melhores práticas Aumento de produtividade, economia de energia e o bem-estar animal, estão entre as vantagens para investir no isolamento térmico em aviários

do MundoAgro AviSite 34 A Revista da


Segundo dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), o Brasil é o terceiro maior produtor mundial de frango, com mais de 12 milhões de toneladas anuais. Diante desse crescimento, o setor aviário vem buscando oportunidades de otimizar os processos e investir cada vez mais no isolamento térmico para manutenção da eficiência produtiva e bem-estar animal. A avicultura comercial demanda um controle extremamente rigoroso na questão da temperatura e umidade no ambiente. O Brasil possui um clima tropical, ou seja, enfrenta ondas de calor na primavera e no verão, e as aves são sensíveis às variações climáticas e umidade, podendo sofrer com problemas de saúde como infecções, doenças e estresse causados pela proliferação de fungos e bactérias provenientes de um ambiente sem isolamento adequado, levando a queda na produção. Por isso, proteger o aviário contra as variações de temperatura externas, é uma medida essencial para garantir o bem-estar animal e a rentabilidade do negócio. Manter

o aviário em temperaturas ideais pode melhorar a conversão alimentar em 7% e reduzir a mortalidade das aves em 2 pontos percentuais. Com o isolamento térmico é possível manter a temperatura dentro do aviário em nível ideal para as aves, feito por meio da aplicação de materiais que impedem a transferência de calor entre o interior e o exterior do ambiente, independentemente das condições climáticas. Entre os benefícios do isolamento térmico, destacase a redução dos custos com energia elétrica, já que um aviário bem isolado consome até 30% menos energia para garantir o equilíbrio térmico. Isso resulta em uma economia significativa na conta de luz, poupando a ação dos refrigeradores e aquecedores, o que é especialmente importante em um setor com margens de lucro apertadas como a avicultura. Aumentando a vida útil do seu aviário com o sistema de isolamento térmico em poliuretanos BASF O poliuretano em spray é um material versátil, que pode ser aplicado em diferentes tipos de aviários, desde os mais simples até os mais sofisticados e sem oferecer risco à saúde das aves; isso

Com um ambiente confortável e estável, as aves ficam mais calmas e saudáveis, o que se reflete em uma produção maior e de melhor qualidade

A Revista A Revista da MundoAgro do AviSite

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BASF

PRINCIPAIS VANTAGENS DO ELASTOSPRAY® • Máximo desempenho isolante com mínima espessura • Isolamento completo e duradouro até nas superfícies mais irregulares • Melhoria do ambiente de trabalho • Prolonga a vida útil e melhora a estabilidade estrutural das coberturas • Uma solução sustentável para o meio ambiente • Aplicação rápida, simples e • Melhor conforto acústico • Maior segurança e controle da térmico • Forma uma camada impermeabilizante que evita o destelhamento causado por ventanias • Reduz o custo de energia para aquecimento e resfriamento

do MundoAgro AviSite 36 A Revista da

significa que produtores de aves de todos os portes podem se beneficiar. Entre as demais vantagens, o isolamento térmico com poliuretano pode ajudar a prolongar a vida útil do aviário, protegendo as estruturas contra o desgaste causado por intempéries. Isso significa que o investimento em isolamento térmico pode se pagar, já que o aviário pode durar mais tempo, ou seja, o gasto com manutenção é mínimo. Existem aplicações operacionais há mais de 40 anos, com baixa manutenção. Outro ponto importante a citar é o material utilizado nos aviários, a BASF desenvolveu uma ampla gama de diferentes espumas de poliuretano em spray para um isolamento térmico eficiente. Destaca-se a linha de produtos Elastospray®, material aplicado diretamente nos telhados e paredes do aviário, formando uma camada uniforme e resistente, que impede a transferência de calor e umidade. Através da pulverização em spray, a espuma de poliuretano se adapta facilmente às superfícies irregulares do aviário, garantindo uma proteção sem espaços vazios que possam comprometer o isolamento térmico. Outra vantagem do poliuretano em spray é a facilidade de aplicação: profissional, rápida, eficiente e sem interrupção das atividades do aviário durante a aplicação.


Solução para isolamento térmico na avicultura Elastospray®, é aplicado diretamente nos telhados e paredes do aviário, formando uma camada uniforme e resistente, que impede a transferência de calor e umidade.

A solução de isolamento térmico é bastante utilizada para auxiliar no controle da temperatura dos aviários, criadouros de suínos e outras culturas que demandam conforto térmico e acústico. Tem como objetivo elevar o bem-estar animal, aumentar a produtividade e diminuir perdas

Redução de até 8°C na temperatura ambiente

Principais aplicações

Economia de energia elétrica em até 30%

Paredes externas e telhados com aderência compensado de madeira, zinco, alumínio e galvanizado, entre outros. Reforma e impermeabilização de telhados Escaneie o QR CODE e saiba mais

Benefícios e vantagens do Elastospray®

Não interrompe a atividade do aviário durante a aplicação Melhoria na conversão alimentar (+7%)

Redução na mortalidade das aves (-2p.p.)

Exteriores de caixas d‘água, silos e armazéns Auxilia no reforço estrutural do telhado

Fábricas de ração

Impermeabilização Antes

Leia o artigo Isolamento térmico na avicultura: benefícios e melhores práticas e conheça todas as vantagens da solução BASF.

Depois

A Revista do AviSite

A Revista da MundoAgro

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NUTRIÇÃO DE PRECISÃO

Nutrição de precisão na produção de aves Conceito maximiza o desempenho das aves, evita que o excesso de nutrientes seja eliminado no ambiente, melhora o ganho de peso e a conversão alimentar, além de proporcionar maior rentabilidade ao sistema produtivo Karina Ferreira Duarte, PhD em zootecnia; Sebastião Aparecido Borges, DSc em zootecnia.

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N

o sistema industrial de produção avícola, independentemente da região ou sistema de criação, o custo de alimentação representa aproximadamente 70% dos custos totais. Apesar de toda a evolução em

genética, sanidade, manejo, ambiência, com altos investimentos em automatização; mão de obra; melhoria das dietas e matériasprimas, a produção avícola é muito competitiva e possui uma estreita margem de lucro. Assim, formulações

voltadas à nutrição de precisão que busquem o ajuste mais preciso entre as exigências de nutrientes e o fornecido nas rações aos animais, podem contribuir para aumentar a margem de lucro e diminuir a excreção de nutrientes ao ambiente.

A Revista do AviSite

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NUTRIÇÃO DE PRECISÃO

Em que se baseia a nutrição animal? Por muito tempo, as pesquisas em nutrição foram voltadas no estudo de três aspectos principais, ou seja, na composição nutricional e digestibilidade dos ingredientes; nas exigências nutricionais dos animais; e na resposta animal em relação à utilização e excreção de nutrientes. E o que significa exigência nutricional? Quando falamos em exigências de um nutriente podemos entender como a quantidade de nutrientes necessária para atingir o máximo desempenho em termos de ganho de peso, produção de ovos e conversão alimentar. Com base nesses aspectos produtivos, os programas nutricionais são estabelecidos pelo balanço entre a quantidade de nutrientes presentes nas rações e as exigências nutricionais de cada espécie animal, fornecendo um número sucessivo de dietas com o objetivo de atender as exigências em função das diferentes fases de criação, levando sempre em consideração variáveis como uniformidade do lote, estado sanitário, sexo e fatores climáticos no momento da tomada de decisão em relação aos níveis nutricionais que serão utilizados em cada fase. Entretanto, a intensificação produtiva tem levado a indústria e a área técnica a desenvolverem estratégias nutricionais que busquem outros objetivos de produção além apenas do máximo desempenho. Nesse sentido, surgiu o conceito de “Nutrição de Precisão”, que se baseia em conhecer as exigências

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nutricionais de cada lote e cada fase de criação, além da determinação e acurácia das matrizes nutricionais dos ingredientes utilizados, permitindo que o nível nutricional da formulação corresponda à realidade de cada ingrediente que será utilizado nas rações. Essa prática proporcionará benefícios como: • Maximizar o desempenho das aves; • Evitar que o excesso de nutrientes seja eliminado no ambiente; • Formular rações de custo mínimo; • Melhorar o ganho de peso e a conversão alimentar; • Proporcionar maior rentabilidade do sistema produtivo.

Nutrição de precisão ao “pé da letra” Para se alcançar uma nutrição de precisão, o nutricionista deve coletar todas as informações necessárias para definir os níveis nutricionais que serão trabalhados. Para isso, existem aplicativos que ajudam na coleta dessas informações, assim como programas de modelagem abastecidos com diversas variáveis e com equações que refletem a realidade de cada criação também auxiliam na definição da estratégia nutricional que será utilizada. O conhecimento dos ingredientes disponíveis para as rações e a correta amostragem definem a representatividade do que se

realmente tem na fábrica. Um plano de amostragem deve ser definido baseado na quantidade, no número de fornecedores, e na frequência de entrega das matériasprimas. A utilização do NIRS (Near Infra Red Spectrometry) e um laboratório para controle de qualidade são ferramentas essenciais para se garantir um banco de dados de nutrientes, possibitando ao nutricionista um número confiável de informações que poderão ser trabalhadas no momento de se estabelecer uma nutrição de precisão. O controle de qualidade de uma fábrica de ração está, tanto no processo de planejamento, ajudando a construir a matriz nutricional, quanto na rotina de execução de uma fórmula. Análises rápidas, como: classificação do milho, urease do farelo de soja, peróxidos em farinhas de origem animal e óleos, ajudam muito a restringir a entrada de ingredientes de baixa qualidade na fábrica, possibilitando, inclusive, a elaboração de um ranking de fornecedores, ajudando no direcionamento de compras, mantendo a qualidade do produto acabado. Pode-se dizer que a fábrica de ração é o “coração” de uma integração de frangos de corte, na criação de aves de postura e matrizes, sendo capaz de contribuir com o sucesso ou fracasso de toda a operação. As Boas Práticas de Fabricação (BPF) auxiliam na manutenção desse processo em conformidade com os padrões pré-estabelecidos. Todo cuidado deve ser tomado desde a recepção da matéria-prima, no processo de armazenagem, na moagem dos ingredientes, na


Formulações voltadas à nutrição de precisão que busquem o ajuste mais preciso entre as exigências de nutrientes e o fornecido nas rações aos animais, podem contribuir para aumentar a margem de lucro e diminuir a excreção de nutrientes ao ambiente pesagem e na qualidade de mistura, na expedição e no transporte das rações até o destino. Assim, diante de tal complexidade, o propósito nutrição de precisão é que se procure a perfeição naquilo que se formula como alimento para os animais, sendo fundamental que se considere que, depois de definir os níveis nutricionais que devem ser fornecidos aos animais, que se tenha uma formulação precisa através do conhecimento de cada ingrediente que se utiliza dentro das rações, tendo o real conhecimento dos inúmeros desafios para que esta condição “ideal” seja alcançada.

Vantagens e desafios no atendimento deste conceito Como foi dito anteriormente, além dos benefícios técnicos e econômicos, este conceito vem fortemente atrelado aos princípios básicos de sustentabilidade do meio ambiente. Um conjunto de nutrição, formulação e alimentação precisos faz com que os animais

sejam mais eficientes, consumindo menos alimento por unidade de ganho de peso (conversão alimentar) e, consequentemente, consumindo menos água e produzindo menos dejetos. A redução na produção de dejetos promove, por consequência, uma redução de excreção de nitrogênio e de fósforo, dois elementos químicos muito poluentes ao ambiente. Além disto, esta eficiência faz com que a produção de equivalente CO2 seja menor, por unidade de produção. Por exemplo, em um cálculo, comparando duas dietas à base de milho e de farelo de soja, com diferença de 1% de proteína bruta, onde os animais apresentavam o mesmo desempenho zootécnico, a redução da proteína permite a redução de equivalente CO2 em 6,9%. Claro que esta precisão esperada, traz um benefício econômico relevante pois quando se conhece a proposta nutricional e a qualidade dos alimentos que serão empregados, toda e qualquer margem de segurança empregada em outras situações, poderá ser descartada.

Em princípio, é importante ressaltar que o conceito de nutrição de precisão vai se tornando mais complexo, à medida que a densidade de criação vai aumentando, ou seja, é impossível nutrir um grupo de animais como se fossem indivíduos, pelo menos com as tecnologias atualmente disponíveis. Em uma população, sempre existirão animais melhor transformadores de energia e de nutrientes em produto do que outros, menos eficientes. Por esse motivo, garantir um “excesso” de nutrientes, por vezes, permitirá que todos os animais expressem a sua máxima resposta em populações heterogêneas. Portanto, com base nessa complexidade, serão considerados alguns fatores indispensáveis, quando se pensa em nutrição, formulação e alimentação de precisão. A Revista do AviSite

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NUTRIÇÃO DE PRECISÃO

1. Qualidade das matérias primas e tabelas de composição nutricional de alimentos Para que se tenha segurança na aquisição de ingredientes de qualidade, o primeiro passo é conhecer e qualificar os fornecedores. Para isso, fundamental auditá-los com uma frequência definida, e estabelecer, criteriosamente, o que deve ser esperado de todo o produto recebido. Quando essas especificações não são atendidas, abre-se um protocolo de não conformidade, o produto é rejeitado e devolvido ao fornecedor. Quando a empresa possui laboratório de bromatologia próprio, a certificação da qualidade e a verificação das especificações técnicas do que se recebe, ganha agilidade e garante maior segurança ao processo. Para isso, o grau de sofisticação do laboratório deve ser compatível com as análises de rotina que serão implementadas.

Depois da viabilização da tecnologia NIR, as análises de rotina se tornaram mais acessíveis, empregando curvas de equações de predição robustas e confiáveis, desenvolvidas no próprio laboratório através de dados coletados na rotina de análises, ou também serem obtidas de fornecedores que prestam esse tipo de serviço. As tabelas de composição nutricional dos alimentos são ferramentas utilizadas pelos nutricionistas que através de equações, ajustam os valores das análises obtidas com os valores esperados. Através destas equações, são feitos ajustes de energia e de digestibilidade dos aminoácidos. Neste caso, a tecnologia NIR se torna indispensável ao fornecer equações de predição qualificadas para oferecer informações que não constam nas tabelas de composição de ingredientes. 2. Formulação e produção de ração em tempo real Um grande passo em direção à nutrição de precisão foi a utilização do “NIR in Line”, onde o

equipamento que é acoplado na linha de passagem do ingrediente, analisa sua composição antes de chegar ao misturador. De acordo com os resultados obtidos das análises dos ingredientes, o sistema permite a reformulação em tempo real e a próxima batida de ração será ajustada através da real composição nutricional dos ingredientes, garantindo formulações mais uniformes e com precisão nutricional muito maior. Em outras palavras, a ração que chega no comedouro terá os níveis nutricionais muito próximos aos formulados pelo nutricionista, para cada espécie e fase da vida do animal. Como benefícios, além do melhor desempenho, espera-se a redução nos custos da ração através do melhor aproveitamento dos ingredientes e uso racional de recursos na produção e consequentemente menor impacto ambiental. 3. Diferenças genéticas e número de fases de produção Quando se trata de nutrição e alimentação de precisão, esses pontos ganham muita relevância.

Os programas nutricionais são estabelecidos pelo balanço entre a quantidade de nutrientes presentes nas rações e as exigências nutricionais de cada espécie animal 42 A Revista do AviSite


Existem diferenças significativas nas recomendações nutricionais propostas pelas diferentes genéticas, inclusive variações dentro das fases de produção. Para os produtores que usam mais de uma genética e não têm condições de formular dietas diferentes, a recomendação é que se formule para a genética que tem a maior representatividade dentro do plantel ou também que se formule para a genética mais exigente nutricionalmente. Entretanto, ambos os casos acarretam maiores custos nas formulações, além de gerar aumento na excreção ou perdas

Além dos benefícios técnicos e econômicos, a nutrição de precisão está fortemente atrelada aos princípios básicos de sustentabilidade do meio ambiente

de nutrientes ambiente.

para

o

meio

Sabe-se ainda, que além das diferenças genéticas, dentro de uma mesma genética e nas diferentes fases de produção,

existem animais mais eficientes do que os outros. Neste sentido, as recomendações nutricionais podem ser adequadas para atender aos animais de maior desempenho ou para a média de desempenho do lote,

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dependendo do número de fases e do modelo matemático utilizados. Quanto maior o número de fases, especialmente em animais em crescimento, menores serão as perdas nutricionais e os custos de produção. Além disso, quando falamos em modelos matemáticos, os não lineares permitem adequar as formulações conforme o que se espera do produto final, considerando as recomendações das diferentes genéticas objetivando o preço do quilo do produto na plataforma assim como a margem que o mesmo deixará para o negócio, entre outros. Quando se fala em resultado econômico do

processo nem sempre a ração “mais barata” promoverá o melhor retorno econômico. 4. Outros aspectos que interferem na nutrição de precisão Além do que foi descrito anteriormente, existem aspectos não menos importantes que devem ser considerados quando o assunto é nutrição de precisão. Dentre eles, o DGM dos ingredientes, o processamento das rações, a qualidade, quantidade e temperatura de água, o tipo de instalação, a ambiência, a sanidade do lote, entre tantos outros, são aspectos que influenciam positivamente na busca do

conceito de nutrição, formulação e alimentação de precisão.

Considerações finais Nesse sentido, pode-se concluir que o maior avanço está relacionado com uma melhor compreensão dos mecanismos que determinam a utilização dos nutrientes pelos animais. Com a relevância desses aspectos, produtores e nutricionistas estão reavaliando os programas nutricionais atuais, para alcançarem uma nutrição mais precisa, reduzindo custos com maior sustentabilidade, mantendo ou melhorando o desempenho zootécnico e garantindo a qualidade do produto final.

Sobre os autores Karina Ferreira Duarte, PhD em zootecnia; Dpto de nutrição da Vaccinar Nutriçao Animal; Sebastião Aparecido Borges, DSc em zootecnia; Dpto de nutrição da Vaccinar Nutriçao Animal.

Referências bibliográficas com os autores.

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PONTO-FINAL

Aumento dos casos de Influenza Aviária no mundo torna os cuidados com biosseguridade cada dia mais necessários Luiz Eduardo Conte Médico-veterinário e especialista em Saúde Animal

Luiz Eduardo Conte

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os últimos anos foi possível observar no sistema de produção intensivo de proteína animal, no Brasil e no mundo, um aumento significativo das pressões nos aspectos e desafios sanitários. Como exemplo, temos os últimos casos de Influenza aviária (IA) na Ásia, Europa e, mais recentemente, nos Estados Unidos da América, que estão preocupando o mundo. A Influenza Aviária, em função principalmente da movimentação das aves migratórias da Ásia, assim como dos indivíduos de uma região a outra, causou um risco pandêmico para o mundo, motivo pelo qual as autoridades sanitárias de produção animal adotaram medidas mais rigorosas para controle de pessoas e programas de isolamento. Nesse sentido, o Brasil ganhou destaque. Isso porque, desde o surgimento do primeiro quadro até hoje, o Brasil não registrou nenhuma incidência da enfermidade, evidenciando a qualidade do sistema de controle de produção e das medidas de biosseguridade e segurança adotadas no país. Independente do desafio sanitário, o controle do programa de biosseguridade é feito de acordo com a tendência atual do mercado. Por exemplo, o Brasil, um grande exportador de proteína animal, segue principalmente a legislação do mercado Europeu, onde as normas de produção e controle de aditivos, com foco em qualidade, programas de melhorias de trabalho, bem-estar animal e ambiência, buscam oferecer ao consumidor

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final uma qualidade de proteína com custos competitivos e isentos de contaminantes e micro-organismos, assim como um melhor resultado econômico. Nesse sentido, a avicultura brasileira cresceu e deve continuar crescendo, não só como um grande produtor global, mas principalmente como um país referência na exportação de carne segura para diversos países do mundo. Parte do sucesso desse trabalho está relacionado aos protocolos de controle de biosseguridade e biossegurança estabelecidos no Brasil. Biosseguridade no sistema de produção A biosseguridade engloba tudo o que é desenvolvido em termos de produção animal e vegetal para minimizar os riscos da entrada de patógenos no sistema produtivo. Esse sistema de controle com programas de biosseguridade traz normas mais flexíveis e tem a premissa de melhorar a saúde animal e das plantas, assumindo alguns riscos no sistema de produção. O programa de biosseguridade se caracteriza por um conjunto de regras de manejo, protocolos e procedimentos que são destinados à redução de risco de entrada ou à disseminação de doenças. Em produção animal, ele visa uma melhor eficiência na produção, com uma redução de riscos e melhora nos custos de produção. Criar barreiras protetivas para a produção animal é o foco de um programa de biosseguridade, a avicultura de corte brasileira é hoje referência em programas dessa categoria.


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