“Saio fortalecido e ainda mais convicto do papel que temos na defesa da sanidade e da imagem do Brasil no mundo” 18 61
PONTO FINAL
Biosseguridade na produção de suínos
Por solicitação dos autores Sarah Sgavioli, Eduardo Coloda, Kawane Andrade Schicora, Isadora Correa de Paula, Lívia Costa Siva e Maria Eduarda Vignoli Nabhan, do artigo “Sexagem in-ovo: tecnologias implicações”, a Mundo Agro Editora disponibiliza a seguinte ERRATA:
“A técnica utiliza a espectroscopia NIR, que analisa biomarcadores através da casca do ovo com 98% de precisão, com custo de €0,02 por ovo. Frase correta: A técnica utiliza o ensaio imunoenzimático Elisa, que analisa biomarcadores através da casca do ovo com 98% de precisão, com custo de €0,02 por ovo, para a certificação”.
CIÊNCIA
Aditivos Zootécnicos:
P&D e Propriedade Intelectual
NUTRIÇÃO
Grãos e Rentabilidade: a dinâmica que move a avicultura e suinocultura brasileiras
ARTIGO TÉCNICO
Pesquisa aplicada para a avaliação de produtos e a estatística como ferramenta para a tomada de decisões
TECNOLOGIA
Como a Inteligência Artificial pode ajudar o agro a se preparar para as mudanças climáticas
NUTRIÇÃO
25 Anos de Transformação na
Alimentação Animal: O Brasil em Rumo Sustentável
MANEJO
Por que medir a vedação hermética do ar do aviário?
MANEJO
Características da apanha de frango de corte
MERCADO
Manejo de Incubatório:
Sexagem e vacinação de pintinhos para produção eficiente
BEM-ESTAR ANIMAL
Panorama atual da produção de ovos de galinhas livres de gaiolas
BEM-ESTAR ANIMAL
Biosseguridade na avicultura: inovação e prática para granjas mais seguras e produtivas
MERCADO
Qualidade e gestão foram as marcas da evolução do setor de postura, aponta Leandro Pinto
CIÊNCIA E PESQUISA
Pesquisa aponta importância da qualidade da água na bovinocultura
REPRODUÇÃO
Do ventre ao campo: como reduzir o estresse térmico em vacas prenhes para garantir crias saudáveis?
SUSTENTABILIDADE
A pecuária como protagonista da agropecuária de baixo carbono
NUTRIÇÃO
Uso de inteligência artificial e sensores no balanceamento de dietas para vacas leiteiras
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A gente entrega.
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A IMPORTÂNCIA DO SISTEMA DE PRODUÇÃO DE PROTEÍNA ANIMAL
O sistema de produção de proteína animal desempenha um papel fundamental na alimentação humana e no desenvolvimento econômico global. Carnes, ovos e leite são fontes essenciais de proteínas de alta qualidade, vitaminas e minerais que contribuem para o crescimento, a manutenção dos tecidos e o bom funcionamento do organismo. Em muitas regiões do mundo, especialmente em países em desenvolvimento, a produção animal é uma das principais formas de garantir a segurança alimentar e suprir a demanda crescente por alimentos nutritivos.
Além de sua função nutricional, a produção de proteína animal tem grande impacto econômico. A pecuária e a avicultura, por exemplo, geram milhões de empregos diretos e indiretos, movimentam o comércio e fortalecem cadeias produtivas inteiras, desde a produção de ração até a distribuição de alimentos. Regiões rurais dependem fortemente dessa atividade para gerar renda e promover o desenvolvimento local, sendo um componente essencial na redução da pobreza e no estímulo ao empreendedorismo agrícola.
O sistema de produção animal também apresenta desafios e oportunidades ambientais. Práticas sustentáveis, como o manejo responsável de pastagens, o uso eficiente de recursos e a redução de emissões de gases de efeito estufa, tornam a produção mais equilibrada com o meio ambiente. Além disso, a inovação tecnológica, incluindo genética, nutrição e sistemas de produção integrados, contribui para aumentar a produtividade e reduzir impactos negativos, demonstrando que é possível conciliar eficiência e sustentabilidade.
Outro ponto relevante é o papel social da produção de proteína animal. Além de fornecer alimento, essas atividades fortalecem tradições culturais, promovem a inclusão social em áreas rurais e contribuem para a educação e capacitação de trabalhadores no setor agropecuário. O incentivo à produção local ainda reduz a dependência de importações, garantindo maior autonomia alimentar e segurança nutricional para a população.
Portanto, o sistema de produção de proteína animal é essencial não apenas para a nutrição, mas também para a economia, o meio ambiente e a sociedade. O desenvolvimento sustentável dessa atividade requer investimento em tecnologia, manejo responsável e políticas públicas eficientes, garantindo que o setor continue atendendo à demanda crescente por alimentos de qualidade. Assim, a produção animal se consolida como um pilar estratégico para o bem-estar humano e o crescimento global.
Por isso, esta edição da Revista Mundo Agro traz um grande panorama econômico do setor e aponta como foi ano de 2025 e projeções para o próximo ano. Boa leitura!
Editor
Mundo Agro
Diretora Natasha G. Di Fonzo +55 19 98963-6343 natasha@mundoagro.com.br
Comercial comercial@mundoagro.com.br
André Di Fonzo Jr. +55 19 99983-6189 andre.difonzo@mundoagro.com.br
Natasha Garcia Diretora Mundo Agro Editora natasha@mundoagro.com.br
Redação Giovana de Paula giovana@mundoagro.com.br
José Carlos Godoy jcgodoy@mundoagro.com.br imprensa@mundoagro.com.br
Consultoria técnica e redação Gisele Dela Ricci - Zootecnista, Mestre, Doutora e Pós - Doutora em Produção e Ciência Animal revista@mundoagro.com.br
Diagramação e arte
Gabriel Fiorini +55 19 99452-6610 gabrielfiorini@me.com
Web Gustavo Cotrim webmaster@mundoagro.com.br
Administrativo e circulação adm@mundoagro.com.br
Mundo Agro Editora Ltda. - Rua Erasmo Braga, 1153 - 13070-147 - Campinas, SP. Os informes técnico-empresariais publicados nas páginas da Revista da Mundo Agro são de responsabilidade das empresas e dos autores que os assinam. Este conteúdo não reflete a opinião da Mundo Agro Editora.
JAN
Gulfood Dubai 2026
26/01/26 - 30/01/26
Dubai Exhibition Centre
https://sl1nk.com/TJq2a
MAR
Salmonella e segurança alimentar: aves, peixes e suínos
18/03/26 - 19/03/26
Cascavel, PR
https://eventos.facta.org.br/
XXII Congresso APA de Produção e Comercialização de Ovos
Composta no final dos anos 1970, o refrão da música
“Querelas do Brasil” nunca foi tão aplicável a dois segmentos da produção animal brasileira como em 2025.
Primeiro, na área da carne de frango. Como praticamente um terço da produção do setor tem por destino o mercado externo, pintou-se o caos frente à ocorrência de Influenza Aviária de Alta Patogenicidade (IAAP) na avicultura comercial, pois o primeiro ato oficial foi suspender de imediato todas as exportações do produto.
Segundo, na área da carne bovina, imediatamente após o governo norteamericano aplicar pesado tarifaço sobre o produto brasileiro exportado para aquele país. Então, fez-se tal estardalhaço que alguém menos avisado certamente concluiria ter sido decretado o fim da pecuária de corte brasileira.
E o que aconteceu?. Nos dois casos ocorreram momentos difíceis, claro. Mas, desafiado, o País soube buscar saídas e o resultado é que, apesar da permanência de alguns obstáculos, o ano está sendo encerrado com novos recordes na produção e na exportação. E não só entre as carnes bovina e de frango, mas também com a suína e, ainda, com os ovos, que também enfrentaram problemas na exportação com o tarifaço norte-americano.
Cantarolando o refrão inicial: o Brasil não conhece o Brasil.
CARNE DE FRANGO
SUPERA DESAFIOS DA IAAP E CONTINUA
OBTENDO
RECORDES
Líder desde 2024 na exportação mundial de carne de frango, o Brasil também é o País mais dependente do mercado externo nesse setor. Os EUA, por exemplo, exportam não mais do que 15% do que produzem; o Brasil, mais que o dobro desse percentual. Não por menos, quando as exportações do setor foram embargadas por conta do caso de IAAP na avicultura comercial, ficou claro que a produção deveria ser imediatamente reduzida.
No entanto, como apontam os levantamentos do IBGE abrangendo a produção brasileira de carne de frango proveniente de estabelecimentos sob inspeção federal, estadual ou municipal, o volume produzido nos primeiros nove meses do ano aumentou em relação ao mesmo período de 2024 e sugerem, para a totalidade do ano, algo não muito abaixo dos 14,1 milhões de toneladas (só de produto inspecionado), novo e consecutivo recorde do setor.
Naturalmente, com o embargo imposto pela IAAP, as exportações foram profundamente afetadas. No 2º quadrimestre do ano recuaram mais de 18% em relação ao quadrimestre inicial do ano. Porém, passaram a registrar forte recuperação a partir de setembro, além de alcançarem o segundo maior volume dos 50 anos de história do setor no mês de outubro, antecipando que novo recorde anual pode ser registrado em 2025. Isto – ressalte-se – apesar de a China, principal destino do produto brasileiro há quase uma década, não ter retomado integralmente suas importações após o episódio de IAAP na avicultura comercial.
CARNE DE FRANGO
EVOLUÇÃO DA DISPONIBILIDADE PER
EM
Fontes dos dados básicos: (1) IBGE (abates em estabelecimentos sob inspeção federal, estadual ou municipal); (2) SECEX/ MDIC (carne in natura); (3) CEPEA-ESALQ/USP (preço no atacado paulista para o frango resfriado); (4) CONAB.
* Dados parciais ou preliminares.
OBS.: Valores em grifo correspondem a projeções, com base na média dos dados mensais consolidados.
ALHEIA A TARIFAÇOS, CARNE BOVINA SEGUE SUPERANDO RECORDES
Mesmo sem apresentar o desempenho exuberante de 2024 quando – de acordo com os dados do IBGE relativos aos abates inspecionados – o número de bovinos abatidos apresentou incremento anual superior a 15%, a produção de carne bovina deve registrar aumento também em 2025, apresentando incremento de volume em torno de 3,5%. Esse, pelo menos, foi o índice de aumento alcançado nos nove primeiros meses do ano.
Exuberante, no entanto, vem sendo o desempenho do setor em termos de exportação. Assim, por exemplo, o volume embarcado em outubro correspondeu a um aumento de quase 80% em relação ao registrado no mês de janeiro, alcançando no ano resultado que representou evolução média ligeiramente superior a 6,5% ao mês.
Também chamaram a atenção no decorrer de 2025 os altos índices de variação anual registrados na cotação do boi em pé, visto que, entre os meses de janeiro e agosto, os preços pagos ao produtor aumentaram, em média, perto de 35%, com picos de mais de 40%.
Notar, entretanto, que as elevadas variações estiveram relacionadas não, exatamente, a aumentos de preços e, sim, à recuperação de preços anteriores, perdidos no decorrer de 2023 e 2024.
Dessa forma, embora tenha registrado variação anual de 42% no mês de junho, o preço então registrado ainda ficou mais de 1% aquém da cotação alcançada três anos antes, em junho de 2022, quando a arroba do boi foi negociada por R$317,96.
CARNE BOVINA
EVOLUÇÃO DA DISPONIBILIDADE PER CAPITA EM UM
Fontes dos dados básicos: (1) IBGE (abates em estabelecimentos sob inspeção federal, estadual ou municipal); (2) SECEX/ MDIC (carne in natura, exclusivamente); (3) CEPEA-ESALQ/USP (Indicador de Preços do Boi Gordo); (4) CONAB.
* Dados parciais ou preliminares.
OBS.: Valores em grifo correspondem a projeções, com base na média dos dados mensais consolidados.
CARNE SUÍNA
TAMBÉM CAMINHA EM DIREÇÃO A NOVA
POSIÇÃO NAS EXPORTAÇÕES MUNDIAIS
Continuamente crescente há mais de uma década, em 2025 a produção brasileira de carne suína registra mais um recorde. Pois, considerados os abates inspecionados dos nove primeiros meses do ano, tende a alcançar perto de 5,6 milhões de toneladas, cerca de 4,5% a mais que em 2024. Não será surpresa se esses indicadores forem superados.
No entanto, bem mais significativas têm sido as exportações de carne suína, visto que o índice médio de aumento registrado nos 11 primeiros meses de 2025, da ordem de 14%, não ficou muito aquém do obtido pela carne bovina.
Porém, muitíssimo mais expressivo está sendo o caminhar dessas exportações no primeiro quarto deste Século XXI. Pois o volume ora previsto para 2025 corresponde a um aumento de, praticamente, 800% em relação ao exportado em 2000 (menos de 150 mil toneladas, segundo dados da CONAB), o que significa expansão média, anual, próxima de 10%.
Nesse passo é provável que ainda na presente década o Brasil se torne o segundo maior exportador mundial de carne suína. Pode contribuir para isso o fato de a União Europeia, atual líder, vir reduzindo as exportações do produto.
CARNE SUÍNA
EVOLUÇÃO DA DISPONIBILIDADE PER CAPITA EM UM
Fontes dos dados básicos: (1) IBGE (abates em estabelecimentos sob inspeção federal, estadual ou municipal); (2) SECEX/ MDIC (carne in natura, exclusivamente); (3) CEPEA-ESALQ/USP (preço recebido pelo produtor no estado de São Paulo); (4) CONAB.
* Dados parciais ou preliminares.
OBS.: Valores em grifo correspondem a projeções, com base na média dos dados mensais consolidados.
COM NOVO RECORDE
NA PRODUÇÃO, NA
EXPORTAÇÃO OVO
FOI DO PARAÍSO AO
INFERNO
Considerado o alojamento de reprodutoras de poedeiras comerciais efetuado em 2024 - cerca de 10% a mais que em 2023, conforme dados da ABPA – o segmento avícola produtor de ovos de consumo entrou em 2025 antecipando a obtenção de novo recorde, o que de fato deve ocorrer.
Pelos resultados do IBGE relativos aos nove primeiros meses do ano (parciais, porquanto abrangem somente estabelecimentos com plantel de, no mínimo, 10 mil poedeiras), a produção de ovos de consumo do período aumentou perto de 6%, sugerindo que o total anual nesse segmento deva ultrapassar pela primeira vez os 4 bilhões de dúzias.
Mas, por conta das exportações, no decorrer do ano o setor acabou transportado do paraíso para o inferno. As viradas de mercado a favor começaram, na verdade, no trimestre final de 2024 quando, pela primeira vez na história das exportações de ovos, o volume embarcado passou a superar as duas mil toneladas mensais. E isso evoluiu - contínua e astronomicamente - no 1º semestre de 2025.
Assim, enquanto o primeiro embarque do ano (2.357 toneladas) foi 22% superior ao de um ano antes, cinco meses depois registrava aumento anual que ultrapassou os 300% (6.558 toneladas em junho). Quase tudo relacionado a um único mercado, os EUA, de onde viria o tarifaço. Com ele, o recorde histórico de junho ficou reduzido, cinco meses depois, a pouco mais de um quarto (1.893 toneladas em novembro).
Ainda assim, o ano está sendo encerrado com novo recorde e um volume exportado mais de 100% superior ao alcançado em 2024.
OVOS DE CONSUMO
EVOLUÇÃO DA DISPONIBILIDADE PER CAPITA EM UM
Fontes dos dados básicos: (1) IBGE (Produção, exclusivamente, de ovos de consumo, em estabelecimentos com, no mínimo, 10 mil poedeiras); (2) ABPA (inclui ovos in natura e processados); (3) CEPEA-ESALQ/USP (Preço FOB do ovo branco no município de Bastos, SP, por caixa de 30 dúzias); (4) CONAB.
* Dados parciais ou preliminares.
OBS.: Valores em grifo correspondem a projeções, com base na média dos dados mensais consolidados.
NO
MUNDO”,
“SAIO FORTALECIDO QUE TEMOS NA DEFESA BRASIL
O PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA
ENTREVISTA EXCLUSIVA COMO FOI ANO
2025 foi um ano de superação e de afirmação da força institucional e técnica do setor de produção de proteína animal. Quem explicou essa questão com exclusividade à Mundo Agro foi Ricardo Santin, Presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal, a ABPA.
Acompanhe, na sequência, a entrevista completa.
E AINDA MAIS CONVICTO DO PAPEL
DEFESA DA SANIDADE E DA IMAGEM DO , AFIRMA RICARDO SANTIN
BRASILEIRA DE PROTEÍNA ANIMAL, RICARDO SANTIN, DESTACOU EM ANO DE 2005 PARA O SEGMENTO E AS PROJEÇÕES PARA O PRÓXIMO ANO.
COMO VOCÊ AVALIA O ANO DE 2025
PARA O SETOR DE PRODUÇÃO DE PROTEÍNA ANIMAL?
Enfrentamos a maior crise sanitária da história da avicultura brasileira, com a identificação pontual da Influenza Aviária de Alta Patogenicidade em uma granja comercial, e conseguimos reagir de forma exemplar. O caso foi contido, o status sanitário preservado e a confiança internacional mantida.
Apesar desse cenário, as projeções mostram que o Brasil deve fechar 2025 com crescimento em produção, consumo e exportações nas três proteínas. Isso mostra o quanto o sistema é sólido, organizado e preparado para responder com eficiência, sem comprometer o abastecimento e a segurança alimentar do país.
E, PESSOALMENTE, COMO VOCÊ VIVEU
ESSE PERÍODO? O QUE APRENDEU COM OS DESAFIOS DE 2025?
Foi, sem dúvida, um ano que me ensinou muito. A Influenza Aviária colocou à prova a nossa capacidade de agir com serenidade e técnica. Constatei, mais uma vez, que a melhor resposta a qualquer crise é o diálogo franco, baseado em dados e ciência.
Fecho o ano com a convicção de que o Brasil tem uma das cadeias produtivas mais organizadas do mundo, e que o setor, quando age unido — produtores, indústria, governo e academia —,
consegue atravessar qualquer tempestade. Pessoalmente, saio fortalecido e ainda mais convicto do papel que temos na defesa da sanidade e da imagem do Brasil no mundo.
QUAIS SÃO AS PROJEÇÕES DA ABPA
PARA O FECHAMENTO DE 2025 E O ANO DE 2026?
As projeções mostram um cenário positivo. Em carne de frango, devemos chegar a 15,4 milhões de toneladas em 2025, crescimento de até 3% sobre 2024. Em carne suína, a expectativa é de 5,42 milhões de toneladas, alta de 2,2%. E, em ovos, o setor deverá atingir 62 bilhões de unidades, um salto de 7,5%.
O destaque é o consumo interno, que segue firme. O brasileiro deve consumir 47,8 kg de carne de frango por habitante e 288 ovos por ano, o que colocará o país entre os dez maiores consumidores per capita do mundo. É um dado histórico, que mostra o quanto a proteína animal faz parte da mesa e da cultura alimentar do brasileiro.
COMO AS EXPORTAÇÕES
SE
COMPORTARAM NESTE ANO E O QUE SE ESPERA PARA 2026?
Mesmo com o impacto inicial das suspensões sanitárias, a grande maioria dos mercados já foi restabelecida, e as exportações estão se mantendo em patamares muito próximos de 2024 — cerca de 5,2 milhões de toneladas de carne de frango e 1,45 milhão de toneladas de carne suína.
Acreditamos que 2026 será o ano da estabilidade com crescimento. O Brasil deve alcançar novos recordes em produção e consumo, com previsibilidade, confiança e foco em qualidade. Continuaremos mostrando ao mundo que somos líderes não apenas em volume, mas em responsabilidade, sanidade e segurança alimentar.
Para 2026, a expectativa é de retomada plena: até 5,5 milhões de toneladas de frango (+5,8%) e 1,55 milhão de suínos (+7%), o que mostra o vigor do setor.
Nos ovos, o crescimento é impressionante: devemos exportar 40 mil toneladas em 2025, mais que o dobro do ano passado, e subir para 45 mil toneladas em 2026. São números históricos. E mesmo com o “tarifaço” dos Estados Unidos, seguimos confiantes — porque novos mercados, como o Chile, o México e Singapura, estão se abrindo e se fortalecendo.
A ABERTURA E REABERTURA DE MERCADOS FORAM ESSENCIAIS, ENTÃO?
Sem dúvida. Elas mostram que o mundo confia no sistema sanitário brasileiro. Mesmo após um episódio sanitário pontual, conseguimos abrir diálogo técnico com os parceiros, explicar nossas medidas e mostrar transparência. Esse é o
diferencial do Brasil: reagimos com rapidez, seriedade e cooperação institucional.
Essas novas aberturas e reconfigurações — como a liderança das Filipinas e o avanço do México e de Singapura nas exportações de suínos — reforçam o papel do Brasil como fornecedor global de proteína animal segura e acessível.
O
MERCADO
INTERNO TAMBÉM REAGIU BEM?
Sim. O consumo interno foi um dos pilares da estabilidade de 2025. O brasileiro manteve o hábito de incluir carne de frango, carne suína e ovos em sua alimentação diária, e isso sustentou o ritmo da produção. A disponibilidade interna de carne de frango subiu 5,4%, alcançando 10,2 milhões de toneladas, e o consumo per capita chegou a 47,8 kg.
Isso mostra que, mesmo com oscilações internacionais, o setor tem uma base sólida dentro do país. O consumidor reconhece o valor nutricional, a praticidade e o preço justo das nossas proteínas — e isso é uma conquista enorme.
QUAIS FORAM AS PRINCIPAIS FERRAMENTAS QUE AJUDARAM O SETOR
A AVANÇAR, MESMO EM UM ANO DESAFIADOR?
O segredo foi a biosseguridade e a comunicação técnica. O Brasil respondeu à Influenza Aviária com protocolos rígidos, monitoramento constante e total transparência. Isso manteve a confiança interna e externa.
Além disso, o setor investiu em inteligência de
mercado, inovação de produtos e eficiência logística, com mais rastreabilidade, embalagens funcionais e otimização de rotas. Tudo isso contribuiu para o avanço, mesmo em um contexto desafiador.
E O QUE ESPERAR DE 2026? QUAIS SERÃO OS PRINCIPAIS PONTOS DE ATENÇÃO?
O foco é avançar com segurança. Seguiremos com vigilância máxima em biosseguridade — porque a Influenza Aviária nos ensinou que prevenção é um investimento permanente.
Ao mesmo tempo, devemos fortalecer a eficiência logística e energética, reduzindo custos e garantindo previsibilidade. E, claro, continuar inovando — em produtos, comunicação e sustentabilidade.
Classificação para todos
Rastreabildiade dos ovos & maior padrão de classificação com SANOVO Optigrader & GraderPro
Excelente rendimento e maximização de categoria A com um design confiável e descomplicado
O mais alto padrão em saneamento e higiene com sistemas de limpeza automáticos integrados
Manutenção fácil – tempo de inatividade reduzido e a mais alta eficiência possível
Rastreabilidade total de todos os ovos
Menor área requerida disponível
De 75 a 800 caixas/hora – capacidades de classificação para todas as necessidades
ADITIVOS ZOOTÉCNICOS:
P&D E PROPRIEDADE
INTELECTUAL
O desenvolvimento de um novo aditivo zootécnico é um processo rigoroso e multifásico que se estende por vários anos e exige validação em diferentes estágios.
Sarah Sgavioli¹* | Rodrigo Garófallo Garcia² | Maria Eduarda Vignoli Nabhan¹ | Vitória Brigida Mielniki de Souza¹ | Letícia da Silva Cardoso¹ | Samantha de Fátima Harmbach Lourenço¹ ¹Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR | ²Universidade Federal da Grande Dourados - UFGD *sarah.sgavioli@pucpr.br
INTRODUÇÃO
A intersecção entre a inovação tecnológica, as estratégias de pesquisa e desenvolvimento (P&D) e a gestão da propriedade intelectual (PI) são fatores determinantes para o avanço e a sustentabilidade no setor de aditivos zootécnicos. O P&D impulsiona a descoberta e o aprimoramento desses produtos, enquanto a PI os protege, incentivando o investimento e assegurando a competitividade. Ao explorar esta dinâmica, busca-se oferecer uma visão sobre como o setor pode continuar a responder aos desafios da produção animal moderna, fornecendo soluções seguras, eficazes e economicamente viáveis para um futuro sustentável.
CLASSIFICAÇÃO DOS ADITIVOS ZOOTÉCNICOS
Os aditivos zootécnicos, de acordo com suas funções e propriedades são classificados em categorias e grupos funcionais, conforme disposto na IN 13/2004 (alterada pela Instrução Normativa n° 44/2015).
A) DIGESTIVO: substância que facilita a digestão dos alimentos ingeridos, atuando sobre determinadas matérias-primas destinadas à fabricação de produtos para a alimentação animal:
A.1 ADITIVOS DIGESTIVOS: enzimas que são proteínas ligadas ou não a co-fatores, que possuem propriedades catalíticas específicas.
B) EQUILIBRADORES DA MICROBIOTA: microrganismos que formam colônias ou outras substâncias definidas quimicamente, que têm um efeito positivo sobre a microbiota do trato digestório:
B.1 PROBIÓTICOS: são cepas de microrganismos vivos (viáveis), que agem como auxiliares na recomposição da microbiota do trato digestório dos animais, contribuindo para o seu equilíbrio;
B.2 PREBIÓTICOS: ingredientes que não são digeridos pelas enzimas do hospedeiro, mas que são fermentados pela microbiota do trato digestório dos animais, contribuindo para o seu equilíbrio;
B.3 ACIDIFICANTES: os ácidos orgânicos ou inorgânicos que reduzem o pH do trato digestório superior, com o objetivo de facilitar a digestão e contribuir para o equilíbrio da microbiota do trato digestório.
C) MELHORADORES DE DESEMPENHO: substâncias definidas quimicamente que melhoram os parâmetros de produtividade, excluindo-se os antimicrobianos e anticoccidianos, que passaram a registrados como produtos veterinários.
D) OUTROS ADITIVOS ZOOTÉCNICOS.
Com relação aos aditivos zootécnicos com propriedades funcionais digestivas e equilibradores da microbiota do trato digestório utilizados nos produtos destinados à alimentação animal, ficam excluídos produtos fitoterápicos, bem como suas
associações com nutrientes ou não nutrientes, que não tenham eficácia como melhoradores de desempenho; enzimas como coadjuvante de produção; produtos cuja finalidade de uso indique ação terapêutica ou medicamentosa e produtos com ação farmacológica preventiva ou curativa definidas, mesmo de origem natural.
FASES DA P&D: DO LABORATÓRIO AO CAMPO
O desenvolvimento de um novo aditivo zootécnico é um processo rigoroso e multifásico que se estende por vários anos e exige validação em diferentes estágios. A pesquisa básica é a fase inicial, focada na elucidação de mecanismos biológicos, identificação de novas moléculas ou microrganismos com potencial bioativo e compreensão de suas interações com sistemas biológicos relevantes. Envolve estudos in vitro, utilizando culturas de células, modelos microbianos e ensaios bioquímicos para triagem de potenciais candidatos. O objetivo é estabelecer a plausibilidade biológica e a segurança preliminar.
Após a seleção de candidatos promissores, a fase pré-clínica envolve testes em modelos animais controlados, geralmente em pequena escala e em condições laboratoriais, para avaliar a segurança, dosagem e eficácia inicial. Estes estudos fornecem dados cruciais sobre a farmacocinética e farmacodinâmica dos aditivos, efeitos sobre o desempenho animal, a saúde intestinal e a resposta imune. É nesta fase que muitos candidatos são descartados devido à falta de eficácia ou a efeitos adversos.
Os candidatos que demonstram resultados positivos no pré-clínico avançam para ensaios em larga escala, conhecidos como testes de campo. Estes são realizados em condições comerciais ou semi-comerciais, com um número representativo de animais, para validar a eficácia do aditivo sob o estresse do ambiente de produção real. Esta fase é crucial para demonstrar o benefício econômico e a consistência do produto. Além disso, são gerados dados extensivos sobre a segurança para o animal, o consumidor (resíduos nos produtos de origem animal) e o meio ambiente, que são indispensáveis para a aprovação regulatória.
Paralelamente às fases de teste, o desenvolvimento
da formulação é crítico. Um aditivo eficaz no laboratório pode falhar se não for estável na ração, durante o armazenamento ou no trato gastrointestinal. A formulação envolve a seleção de excipientes, processos de secagem (e.g., liofilização para probióticos), encapsulamento e métodos de mistura para garantir a viabilidade, a homogeneidade e a biodisponibilidade do produto. A estabilidade do aditivo sob diferentes condições de temperatura, umidade e pH é exaustivamente testada.
PROPRIEDADE INTELECTUAL (PI) DOS ADITIVOS ZOOTÉCNICOS
A propriedade intelectual, no contexto dos aditivos zootécnicos, serve a propósitos estratégicos. Primeiramente, ela protege os investimentos substanciais em P&D, que garante que os inovadores tenham um período de exclusividade para explorar comercialmente suas descobertas. Sem essa proteção, o risco de imitação rápida por concorrentes desmotivaria o investimento em pesquisa de alto custo. Em segundo lugar, a PI confere uma vantagem competitiva, que diferencia os produtos inovadores no mercado e permite que as empresas estabeleçam uma posição de liderança. Em terceiro lugar, a PI pode ser monetizada por meio de licenciamento ou venda, que gera receitas adicionais e valoriza os ativos intangíveis da empresa. Finalmente, a PI atua como um catalisador para a colaboração, pois acordos de licenciamento e transferência de tecnologia são facilitados por direitos de PI claros e bem definidos.
As patentes são, sem dúvida, a forma de proteção para inovações tecnológicas. Conferem ao titular o direito exclusivo de impedir que terceiros explorem a invenção por um período limitado (geralmente 20 anos a partir da data de depósito), em troca da divulgação pública detalhada da invenção.
No campo dos aditivos zootécnicos, as patentes podem cobrir uma ampla gama de invenções: novos compostos químicos (como uma nova enzima caracterizada), microrganismos (como uma nova cepa probiótica com propriedades únicas e demonstradas), formulações (a composição específica de um aditivo, incluindo excipientes e métodos de estabilização), métodos de produção (um processo inovador para sintetizar ou fermentar
CIÊNCIA
um aditivo de forma mais eficiente), e usos específicos (por exemplo, um aditivo conhecido para um novo uso terapêutico ou de desempenho animal).
Para ser patenteável, uma invenção deve atender a três critérios fundamentais: novidade (não ter sido divulgada em lugar nenhum antes do pedido), atividade inventiva (não ser óbvia para um técnico no assunto) e aplicação industrial (ser capaz de ser fabricada ou utilizada em qualquer tipo de indústria).
REGULAMENTAÇÃO E APROVAÇÃO DE ADITIVOS ZOOTÉCNICOS
A translação de uma inovação em aditivo zootécnico do laboratório para o mercado é um processo que culmina com a aprovação regulatória. Este é um estágio crítico, onde a segurança e a eficácia do produto são rigorosamente avaliadas pelas autoridades competentes. A complexidade deste processo é amplificada pela diversidade de requisitos regulatórios em diferentes jurisdições globais, impactando diretamente as estratégias de P&D e de propriedade intelectual.
O requerente deverá encaminhar sua solicitação de registro, alteração ou renovação por meio do SipeAgro, constando informações detalhadas, inclusive os estudos de eficácia, estabilidade e de segurança. No relatório publicado pelo MAPA em 2022, são apresentadas orientações para apresentação de relatório técnico de aditivos zootécnicos e tecnológicos, com enfoque no relatório técnico, estudo de estabilidade, estudo de eficácia e os requisitos adicionais para produtos importados. Entre as recomendações estão:
ESTUDOS DE ESTABILIDADE
Para as enzimas, a estabilidade deve ser mensurada em termos de perda de atividade catalítica e para os microrganismos em termos de perda de viabilidade. Para substâncias químicas ou misturas, a estabilidade deve ser avaliada mediante ao monitoramento do teor de uma ou mais substâncias ativas garantidas. Para expressar no rótulo a estabilidade do aditivo nas diferentes formas de processamentos térmicos, tais como peletização e extrusão, será necessário realizar a estabilidade simulando essas situações de uso, em conformidade com as regras estabelecidas neste roteiro, no que couber.
EXEMPLOS DE PATENTES COM ADITIVOS ZOOTÉCNICOS
PATENTSCOPE
• CN107969568 - Aditivo para ração de frangos de corte contendo lipase revestida e método de produção do mesmo.
• WO2019120852 - Nova xilanase com termostabilidade melhorada e atividade enzimática aumentada em arabinoxilano.
• US20160150809 - Composição para ração animal à base de algas contendo suplemento para ração animal de protease exógena e seus usos.
• WO2016011410 - Omega-3 enriquecimento de produtos avícolas com ácidos graxos com ração animal de microalgas desengorduradas.
• US20180343891 - Sistema e método para produção de alimentos enriquecidos e probióticos usando processos de moagem úmida e moagem seca.
INSTITUTO NACIONAL DE PROPRIEDADE INTELECTUAL (INPI)
• BR1120140115087B1 - Uso de uma protease estável em meio ácido.
• BR1120240036553A1 - Composição probiótica para reduzir a patogênese em aves e métodos de uso da mesma.
• BR1120200230529B1 - Uso de uma levedura ativa adaptada na fabricação de um probiótico, uma ração ou uma matriz dietética para melhorar os desempenhos de crescimento e ganho de peso e o índice de consumo de aves.
Quando o teste de estabilidade não for apresentado para o registro de matérias-primas visando a fabricação de aditivos, no campo validade deverá constar a seguinte frase: “O prazo de validade da matéria-prima deverá ser consultado diretamente com o seu fabricante”.
ESTUDO DE EFICÁCIA
Os estudos devem demonstrar a eficácia do aditivo (não da(s) matéria(s)-prima (s) que compõem o aditivo) sobre o desempenho animal e/ou da qualidade dos produtos de origem animal. As hipóteses das pesquisas devem ser comprovadas de acordo com a função do aditivo e para espécie e categoria animal. Para todos os aditivos destinados a produzir um efeito nos animais, serão necessários apresentar os estudos in vivo. O protocolo experimental deve ser cuidadosamente elaborado pelo responsável pela pesquisa, descrevendo a metodologia, material utilizado, as espécies e categorias animais, número e condições sob os quais foram alojadas e alimentadas, e análise estatística dos dados.
Os estudos devem ser conduzidos de modo que a saúde dos animais e as condições de criação não afetem negativamente a interpretação dos resultados. Os estudos devem demonstrar a eficácia do aditivo na dose mais baixa recomendada, por meio de parâmetros sensíveis, em comparação com um grupo de controle negativo e, opcionalmente, positivo, em no mínimo um estudo com protocolos embasados na literatura científica, podendo ser
CONSIDERAÇÕES FINAIS
realizados em outros países. Tais estudos podem incluir igualmente a dose máxima recomendada, sempre que seja a proposta do aditivo. Em geral, a duração dos estudos de eficácia corresponde ao período de aplicação solicitado ou período mínimo para as respectivas espécies e categorias de animaisalvo.
Também devem ser consideradas nos estudos de eficácia as interações biológicas ou químicas conhecidas ou potenciais entre o aditivo, outros aditivos e/ou medicamentos veterinários e/ou constituintes da ração, onde tal seja relevante para a eficácia do aditivo em causa (por exemplo, compatibilidade do aditivo microbiano com coccidiostáticos ou ácido orgânico). O desenho experimental deverá levar em consideração o poder estatístico adequado.
Os relatórios dos estudos de eficácia deverão conter no mínimo: título, aprovação no comitê de ética, resumo, objetivo, material e métodos (local, condições climáticas, idade e raça/linhagem dos animais, dietas, tratamentos, parâmetros avaliados, manejo, delineamento experimental, métodos estatísticos e métodos analíticos), resultados, discussão, conclusão e literatura citada.
Os estudos serão considerados consistentes e satisfatórios para demonstrar a eficácia do produto, quando pelo menos um parâmetro relevante e relacionado diretamente com a substância ativa e com o objetivo do aditivo, demonstrar efeito positivo significativo para as respectivas espécies e categorias animais-alvo.
O cenário regulatório, garante que as inovações cheguem ao mercado com segurança e eficácia comprovadas, o que reafirma a importância de dados rigorosos e validação científica.
O campo dos aditivos zootécnicos deverá acompanhar a biotecnologia de ponta (incluindo a edição gênica), os princípios da economia circular e a visão abrangente da Saúde Única (One Health). Esses vetores de inovação prometem não apenas aprimorar os sistemas de produção animal, mas também reforçar sua contribuição para um planeta mais saudável e uma sociedade mais bem alimentada.
A validação científica da eficácia das novas alternativas aos AMDs deve ser comprovada sob as condições de campo brasileiras, que são diversas e exigentes. Além disso, o custo elevado de commodities como milho e soja exigem que os aditivos gerem um retorno sobre o investimento (ROI) claro e imediato, em termos de conversão alimentar e ganho de peso. Embora haja pressão para o uso de aditivos zootécnicos, ainda há desafios na aceitação, especialmente devido ao preço e à necessidade de gestão da saúde intestinal sem o uso de AMDs.
As referências podem ser solicitadas aos autores
GRÃOS E RENTABILIDADE: A DINÂMICA QUE MOVE A AVICULTURA
E SUINOCULTURA BRASILEIRAS
O custo da ração dita o compasso do resultado.
Aavicultura e a suinocultura no Brasil possuem uma relação inseparável com os preços do milho e do farelo de soja. Juntos, esses insumos respondem por cerca de 70% do custo de produção, segundo a Embrapa. O milho fornece energia; o farelo de soja, proteína. Quando milho e soja encarecem, as margens das grandes integradoras sofrem compressão imediata. Quando recuam, o resultado operacional melhora e abre espaço para decisões mais estratégicas.
Entre 2019 e 2021, o milho superou a marca de R$ 100 por saca (60 kg) e a soja também atingiu máximas históricas, pressionando de forma contínua as cadeias de aves e suínos. Naqueles três anos, registraram-se aumentos expressivos de custos, redução de margens e dificuldade de repasse integral aos preços finais. A partir de 2023, especialmente com a trajetória descendente
do milho, instalou-se uma janela de alívio: o custo por quilo produzido caiu e as empresas voltaram a ter fôlego para recompor rentabilidade sem perder competitividade.
Avaliando os dados publicados por empresas do setor na bolsa de valores conseguimos comprovar essa relação com clareza, durante os anos de máxima histórica dos grãos foram observados trimestres de prejuízos até o final de 2023 quando os o alívio das commodities deslocou o ponto de equilíbrio das operações a favor da indústria, permitindo a volta do lucro líquido e da geração de caixa após períodos de aperto. Em linguagem simples, ração mais acessível libera margem para competir em preço, recuperar volumes e, ao mesmo tempo, preservar rentabilidade.
Ao longo de 2024 e 2025, as companhias brasileiras de aves e suínos chegaram a operar
Lamarck Philippe Melo Gerente de Inteligência Comercial
com margens de dois dígitos, em trimestres recentes, sustentada por demanda consistente e ração em nível mais saudável. Em termos práticos, milho e farelo estabilizados devolvem ritmo à operação, destravam eficiência industrial e permitem que o planejamento comercial converta produtividade em resultado financeiro.
No cenário atual, de novembro de 2025, o quadro permanece administrável, com pontos importantes. O milho negocia ao redor de R$ 68 por saca, enquanto a soja segue mais firme, na faixa de R$ 140–147 por saca, mantendo alguma pressão. Essa configuração, quando comparada aos picos de 2021–2022, é mais favorável para a indústria: preserva competitividade, ainda que sem “folga” ampla. Na prática, milho ajuda; soja segura parte do ganho.
A gestão de insumos passou a ser necessidade operacional. Para o produtor integrado, a regra de bolso é didática: vale garantir uma parte das necessidades futuras quando o preço estiver atrativo e deixar outra parte livre para aproveitar eventuais quedas. Concentrar tudo num único momento aumenta o risco — seja por travar caro, seja por ficar exposto a picos. Para a indústria, três pilares continuam críticos: compras bem planejadas (evitando concentração em janelas de oferta apertada), eficiência industrial (redução de perdas na fábrica de ração e melhoria da conversão alimentar) e evolução do mix (maior participação de itens de valor agregado).
Nenhuma dessas medidas substitui grãos baratos, mas todas fazem diferença quando o mercado aperta. Em 2025, com milho em faixa competitiva e soja sustentada em alta, o cenário tende a ser
Em um ambiente ainda sujeito a oscilações climáticas e cambiais, a combinação de previsibilidade nas compras, eficiência na produção e inteligência comercial seguirá definindo quem transforma melhor custo em rentabilidade.
de margens “redondas”: suficientes para consolidar ganhos de eficiência, reforçar a disciplina comercial e manter investimentos em produtividade sem sacrificar preço. O foco está em planejar compras com antecedência, calibrar formulações com pragmatismo e posicionar produtos e mercados conforme a atratividade de cada destino e canal.
A mensagem final continua objetiva para executivos e produtores: o custo da ração dita o compasso do resultado. Quando os grãos esfriam, as margens aquecem; quando aquecem, disciplina, preparo e execução — na granja, na fábrica e na comercial — separam o bom trimestre do trimestre difícil. Em um ambiente ainda sujeito a oscilações climáticas e cambiais, a combinação de previsibilidade nas compras, eficiência na produção e inteligência comercial seguirá definindo quem transforma melhor custo em rentabilidade.
PESQUISA APLICADA PARA A
AVALIAÇÃO DE PRODUTOS E A ESTATÍSTICA COMO
FERRAMENTA
PARA A TOMADA DE DECISÕES
A IMPORTÂNCIA DA PESQUISA APLICADA
Atualmente, vivemos a era da informação, na qual uma quantidade sem precedentes de dados é gerada diariamente. Esse fenômeno é impulsionado pelos avanços da tecnologia digital, internet, sensores, dispositivos móveis, sistemas de coleta automatizados, entre outros fatores.
Esses avanços contribuem tanto na geração e disseminação de novos conhecimentos para a ciência básica e para a ciência aplicada. No contexto do desenvolvimento de produtos em empresas de nutrição animal, a ciência básica busca aprofundar o entendimento dos mecanismos fisiológicos e metabólicos que regulam o desempenho, a saúde e a eficiência produtiva dos animais; por outro lado, a ciência aplicada tem por objetivo o foco na resolução de problemas, especialmente aqueles enfrentados no campo, como desafios zootécnicos, sanitários e econômicos. A interação entre essas duas abordagens é essencial para promover inovação, garantir eficácia e assegurar a viabilidade dos produtos no mercado.
Portanto, a realização de pesquisas aplicadas para avaliar os efeitos de um produto novo torna-se imprescindível, sendo possível responder com segurança a questionamentos específicos, tais como:
- O produto desenvolvido é eficaz na melhoria do desempenho das aves?
- Qual é a dosagem ótima do produto testado?
- Quais são os mecanismos de ação que explicam os efeitos positivos do produto?
E por fim, como podemos chegar a essas respostas?
ESTATÍSTICA COMO UMA FERRAMENTA NA TOMADA DE DECISÃO
O planejamento inicial envolve a definição clara do objetivo do estudo, a escolha dos tratamentos e das análises necessárias para a sua comprovação, além da definição do tamanho amostral e do delineamento experimental.
O cálculo do tamanho amostral é fundamental, pois se for subestimado, aumenta a chance de não ser detectado efeitos quando eles existem, podendo levar a conclusões equivocadas, conhecido como erro do tipo II ou falso negativo. Por outro lado, um tamanho amostral superestimado representa um
As etapas gerais para o planejamento, execução e conclusão de um experimento já foram abordados resumidamente no artigo técnico “O papel da pesquisa na indústria avícola e seu funcionamento”, assim como a exploração de conceitos importantes para a pesquisa.
Rafael Suzuki Pesquisador e parte da equipe de inovação & pesquisa do departamento de aves na Agroceres Multimix
desperdício de recursos e de animais, o que é eticamente inadequado.
A produção de dados é de extrema relevância, pois não é possível gerenciar o que não pode ser mensurado e analisado. O volume de informações gerado é frequentemente tão expressivo que se torna indispensável organizar, resumir, e quando necessário, modelar esses conjuntos de dados. Tal processo permite uma análise mais clara e simplificada, viabilizando a transformação dos dados brutos em conhecimento e contribuindo para tomadas de decisões mais precisas, eficientes e fundamentadas.
Em experimentos envolvendo frangos de corte realizado em nosso Centro de Pesquisas da Agroceres Multimix, são geradas, em média, mais de 2.500 observações apenas para a avaliação dos parâmetros zootécnicos acumulativos. Esses dados incluem análises semanais de parâmetros como: peso vivo, ganho de peso, consumo de ração, conversão alimentar, viabilidade e índice de eficiência produtiva. A análise direta de milhares de observações seria impraticável sem a etapa inicial de resumo e simplificação dos dados.
A organização dos dados com lógica permite resumir e simplificar os resultados, facilitando a análise e a identificação de padrões e tendências. Essa organização pode ser feita por tratamento, período, tipo de aditivo avaliado, lote, aviário, entre outros critérios relevantes. Para o resumo dos dados, os valores brutos são convertidos em medidas representativas, comumente média ou mediana, além da análise de medidas de dispersão, como desvio padrão, coeficiente de variação ou erro padrão da média. A apresentação dos resultados de forma clara e acessível geralmente é feita por meio de tabelas e/ou gráficos, o que contribui para a interpretação e a comunicação dos achados.
O próximo passo consiste na aplicação da estatística inferencial, que possibilita a comparação entre grupos experimentais, permitindo analisar com precisão o efeito do tratamento aplicado. Apenas observar as médias dos diferentes grupos não é suficiente para concluir se elas são iguais ou diferentes. A estatística leva em consideração a variação ao acaso ou variação aleatória, que são fatores não controlados e por meio de testes estatísticos, é determinado se as respostas dos
grupos avaliados podem ser consideradas significativamente iguais ou diferentes entre si. De forma simplista e na maioria dos casos, quando comparamos dois tratamentos, sendo um controle negativo (sem aditivo) e outro com o aditivo de interesse, é possível avaliar os benefícios proporcionados por esse produto.
Outra abordagem do uso da estatística, seria na modelagem dos dados. A modelagem matemática é definida como o uso de equações, funções ou algoritmos capazes de descrever sistemas ou fenômenos da realidade. Com as equações geradas conseguimos estimar parâmetros biológicos de interesse ou prever resultados em cenários que não foram diretamente avaliados experimentalmente.
Um exemplo dessa abordagem é a definição da dosagem ótima de um determinado produto. Nesse caso, os tratamentos correspondem a diferentes níveis de inclusão do aditivo (Ex: 0; 0,25; 0,50; 0,75; e 1,00 kg/t de ração), sendo avaliados parâmetros de interesse, como o ganho de peso. Com os dados de desempenho organizados por nível de inclusão, é possível aplicar a análise de regressão para modelar essa resposta.
Há uma variedade de modelos matemáticos (linear, quadrático, broken-line, exponencial, entre outros) e a escolha do mais adequado deve depender não apenas do grau de ajuste estatístico aos dados, mas também da coerência biológica em relação ao fenômeno estudado. Uma vez obtida a equação de
ARTIGO TÉCNICO
regressão com base nas inclusões testadas, muitas vezes é possível estimar o nível ótimo do aditivo, mesmo que esse valor exato não tenha sido diretamente avaliado no experimento, mas desde que esteja dentro do intervalo testado (neste exemplo, entre 0 e 1,00 kg/t). No caso do modelo quadrático, a dosagem ótima pode ser estimada pelo vértice da parábola, que indica o ponto de ganho de peso máximo. Biologicamente, isso significa que o ganho de peso aumentou conforme o aumento da inclusão do aditivo até a dosagem ótima, mas a partir desse ponto, o aumento na inclusão do aditivo passa a causar um declínio no ganho de peso (Figura 1), o que poderia significar, por exemplo, uma demanda extra de nutrientes
GANHO DE PESO (KG)
direcionada para a excreção do excesso do aditivo de interesse.
A avaliação de parâmetros zootécnicos é amplamente utilizada para a avaliação de produtos, principalmente os melhoradores de desempenho. No entanto, para compreender os mecanismos fisiológicos e metabólicos que justificam os possíveis efeitos positivos observados, é necessário realizar outros tipos de avaliações complementares, como análises de digestibilidade, bioquímicas, histológicas, microbiológicas ou moleculares para correlacionar com os resultados positivos de desempenho.
INCLUSÃO (KG/T)
Figura 1. Simulação para determinação da inclusão ótima de um produto com base em resultados de ganhos de peso de frangos de corte avaliados nas inclusões de 0 kg/t a 1,00 kg/t de ração. - Fonte: autoria própria.
CONCLUSÃO
A pesquisa aplicada desempenha um papel fundamental no desenvolvimento de novos produtos, sendo essencial testá-los e validá-los a fim de garantir a segurança do seu uso, assim como comprovar seus benefícios. Nesse contexto, a estatística destaca-se como uma ferramenta poderosa, graças à sua capacidade de lidar com problemas complexos por meio de fundamentos matemáticos. Sua aplicação contribui significativamente para a análise dos resultados e para a tomada de decisões mais precisas e embasadas.
Neto, S. G., & Duarte, A. M. C. (2020). Modelagem na nutrição de não ruminantes: aspectos gerais, dinâmica de nutrientes, limitações e sistemas de serviços. Brazilian Journal of Animal and Environmental Research, 3(1), 114-132. - Dell, R. B., Holleran, S., & Ramakrishnan, R. (2002). Sample size determination. ILAR journal, 43(4), 207-213. - Pimentel-Gomes, F. (2023). Curso de estatística experimental. Digitaliza Conteúdo. - Salman, A. K. D., & Giachetto, P. F. (2014). Conceitos estatísticos aplicados à experimentação zootécnica. Pubvet, 8, 1416-1550. - Sampaio, I. B. M. (1998). Estatística aplicada à experimentação animal. - Sbardella, M., Corassa, A., Ton, A. P. S., Paula, V. R. C. D., Amorim, A. B., Komiyama, C. M., ... & Pereira, T. L. (2024). TECNOLOGIAS PARA A PRODUÇÃO DE PEIXES, AVES E SUÍNOS: SOLUÇÕES COM BASE EM PESQUISA APLICADA. In A PÓS-GRADUAÇÃO EM ZOOTECNIA DA UFMT: CONTRIBUIÇÕES PARA PRODUÇÃO ANIMAL EFICIENTE E SUSTENTÁVEL (Vol. 1, pp. 67-90). Editora Científica Digital.
Referências
de Lima Santos, G. C., de Melo Garcia, P. H., dos Santos, D. G.,
A coleta e o transporte de ovos são uma parte fundamental do setor avícola. A Giordano projeta, desenvolve e produz soluções para o manuseio de ovos comerciais, para a indústria de ovoprodutos e para a indústria de incubação, com o objetivo de reduzir drasticamente qualquer possível dano aos ovos.
Nosso principal objetivo é oferecer sistemas de manuseio de ovos tecnológicos e de ponta.
O Eggs Cargo System, projetado para o manuseio de ovos de consumo, é compatível com todos os modelos de bandejas: para ovos de codorna, ovos de pato e ovos de galinha de vários tamanhos e pesos.
COMO A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
PODE AJUDAR O AGRO A SE PREPARAR PARA
AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS
Ferramentas tecnológicas ajudam a reduzir custos, preservar recursos e aumentar a competitividade.
Giovana de Paula
giovana@mundoagro.com.br
OBrasil é uma potência agrícola, responsável por cerca de 24% do PIB nacional, segundo a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). No entanto, por ser um país tropical, também está entre os mais vulneráveis aos impactos das mudanças climáticas. O aumento das temperaturas, a irregularidade das chuvas e a ocorrência de eventos extremos, como secas prolongadas e enchentes, afetam diretamente a produtividade no campo e impõem aos produtores o desafio de adotar soluções inovadoras para garantir competitividade e sustentabilidade.
Nesse contexto, a inteligência artificial (IA) surge como uma aliada estratégica para tornar o setor mais resiliente e sustentável. Ao integrar dados climáticos, informações de solo, imagens de satélite e histórico de safras, a tecnologia permite prever
riscos, recomendar práticas de manejo mais eficientes e apoiar a tomada de decisão em tempo real. Isso significa que produtores podem se antecipar a mudanças no clima, planejar safras com mais segurança e reduzir impactos ambientais.
Com isso, a IA pode identificar padrões de variabilidade climática que influenciam diretamente o crescimento das lavouras e sugerir ajustes no uso de insumos, como irrigação e fertilizantes. Além de reduzir custos operacionais, essas soluções contribuem para a preservação de recursos naturais. Estudos da Embrapa, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária apontam que tecnologias de monitoramento e análise inteligente podem diminuir o consumo de água e insumos agrícolas em até 30%, sem comprometer a produtividade.
Outro benefício é a capacidade da IA na mitigação de riscos financeiros. Ao projetar cenários de impacto climático na produção, a tecnologia pode apoiar cooperativas e distribuidores na negociação de contratos e seguros agrícolas. Além disso, a análise de dados integrada possibilita otimizar o uso de insumos, reduzindo desperdícios e minimizando a emissão de gases de efeito estufa, o que fortalece as práticas de sustentabilidade e competitividade do agro brasileiro.
Para Esteban Huerta, líder de arquitetura de soluções na BlueShift Brasil, o diferencial está em transformar dados em decisões rápidas e de impacto. “Com a IA, o produtor não apenas reage às mudanças climáticas, mas se antecipa a elas. Isso garante mais estabilidade para a produção, maior competitividade para o agronegócio brasileiro e, principalmente, contribui para uma agricultura mais sustentável e adaptada ao futuro”, afirma.
Com a pressão crescente por práticas agrícolas que conciliam eficiência e preservação ambiental, a IA deixa de ser apenas um diferencial competitivo e se torna uma necessidade estratégica. Mais do que garantir produtividade, seu uso consciente é impulsionado por diretrizes de sustentabilidade e ESG, que orientam o setor para a redução de desperdícios, a preservação dos recursos naturais e a mitigação de impactos ambientais. Com as projeções do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) apontando para o aumento da frequência de eventos extremos nos
próximos anos, a adoção de tecnologias preditivas será decisiva para manter o Brasil na liderança da produção de alimentos no cenário global.
Segundo Alexandre Pereira, Co-Fundador da Blueshift Agro, a Inteligência Artificial (IA) e a Edição Genética (CRISPR) estão promovendo uma verdadeira revolução no mercado de proteína animal. “Na zootecnia, a IA permite monitorar o rebanho 24 horas por dia, detectando precocemente doenças e otimizando a dieta de cada animal, garantindo carnes e leites de maior qualidade e eficiência”, detalha. “Paralelamente, o CRISPR acelera o melhoramento genético, criando animais mais resistentes e produtivos, enquanto também aprimora grãos essenciais para rações, como soja, milho e trigo, tornando-os mais nutritivos e resilientes a condições adversas”, afirma.
Ainda segundo ele, o impacto dessas tecnologias vai além da produtividade, transformando o manejo do campo e o bem-estar animal. “Com sensores e visão computacional, a IA permite intervenções rápidas e humanizadas, assegurando que cada animal receba atenção personalizada conforme suas necessidades nutricionais e de saúde. Ao integrar essas soluções, o setor não só aumenta a eficiência e a qualidade da produção, mas também contribui para a sustentabilidade e segurança alimentar, garantindo alimentos de excelência com menor impacto ambiental”, pontua.
Estudos da Embrapa, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária apontam que tecnologias de monitoramento e análise inteligente podem diminuir o consumo de água e insumos agrícolas em até 30%, sem comprometer a produtividade.
25 ANOS DE TRANSFORMAÇÃO NA ALIMENTAÇÃO ANIMAL: O BRASIL EM
RUMO SUSTENTÁVEL
Em 2025, a indústria nacional projeta atingir cerca de 93,7 milhões de toneladas de rações e suplementos minerais, movimentando mais de R$ 180 bilhões.
Ariovaldo Zani CEO do Sindirações
Aindústria brasileira de alimentação animal passou por uma profunda transformação estrutural e cresceu mais de duas vezes e meia de 2000 até 2024. De um modelo centrado em volume e insumo, evoluímos para um sistema orientado por ciência, dados e sustentabilidade. No início dos anos 2000, o Sindirações, em parceria com Embrapa, USP e Esalq, conduziu estudos pioneiros sobre o uso de aditivos nutricionais como alternativas sustentáveis ao milho e à soja. Os resultados mostraram ganhos zootécnicos equivalentes e redução de impactos ambientais — um marco que projetou o Brasil como referência internacional.
Desde então, a indústria incorporou tecnologias de rastreabilidade, automação e controle de qualidade, que passaram de diferenciais competitivos a requisitos essenciais. Mesmo em períodos críticos, como a pandemia, a resiliência do setor se mostrou admirável: crescemos 5,2% no primeiro semestre de 2021, contrariando as expectativas. Hoje, a produção de ração no Brasil está integrada a cadeias produtivas de proteína animal altamente tecnificadas, capazes de assegurar eficiência e segurança alimentar para milhões de consumidores no país e no exterior.
SUSTENTABILIDADE COMO VETOR DE COMPETITIVIDADE
A sustentabilidade tornou-se o eixo da competitividade global. No Sindirações, criamos grupos de trabalho dedicados ao tema e firmamos parcerias estratégicas com entidades como ABPA e Embrapa, apoiadas pelo MAPA, para desenvolver metodologias de Análise de Ciclo de Vida (ACV). Nosso objetivo é tropicalizar os parâmetros de sustentabilidade e consolidar indicadores precisos de eficiência produtiva e ambiental para as rações brasileiras.
O Brasil é hoje reconhecido como um fornecedor global confiável de proteína animal. Essa posição deriva da capacidade de alinhar inovação tecnológica com responsabilidade socioambiental — um compromisso de longo prazo que une indústria, governo e sociedade.
FORMAÇÃO, GOVERNANÇA E AUTOCONTROLE
A competitividade da indústria passa também pela formação de pessoas. O Sindirações tem apoiado
cursos técnicos e programas de qualificação em parceria com o SENAI, e participou ativamente da criação da Lei nº 14.515/2022, que introduziu o sistema de autocontrole. Essa legislação moderniza o modelo de fiscalização, confere mais autonomia ao setor privado e fortalece a transparência e a rastreabilidade em toda a cadeia.
O autocontrole é uma conquista coletiva. Ele garante segurança e eficiência, reduz burocracias e cria um ambiente de confiança mútua entre produtores, indústria e órgãos reguladores — algo indispensável à competitividade internacional.
DESAFIOS ESTRUTURAIS E CONJUNTURAIS
Apesar da força, o setor enfrenta alguns gargalos. O primeiro é a volatilidade dos insumos, especialmente milho e farelo de soja, que respondem por mais de 70% do custo das rações para aves e suínos. Em 2025, estimamos o consumo de 60 milhões de toneladas de milho e 20 milhões de farelo de soja — números que exigem estabilidade e previsibilidade. A produção de milho e soja é robusta, mas a coordenação entre safra, região produtora e demanda das fábricas nem sempre é ideal. A disputa por insumos entre alimentação animal, bioenergia e exportação tende a se intensificar — exigindo ainda mais planejamento e integração de cadeia.
A infraestrutura e a logística continuam sendo um “custo Brasil” inescapável. Estradas precárias, transporte ineficiente e gargalos portuários corroem competitividade. Soma-se a isso a incerteza regulatória e macroeconômica, que impacta diretamente a confiança para investir e planejar.
COMUNICAÇÃO E PERCEPÇÃO PÚBLICA
Um dos maiores desafios atuais é a comunicação com o público. A distância entre o campo e a cidade, somada à desinformação, criou um ambiente de ruído que compromete a imagem do setor. Precisamos mostrar à sociedade o que realmente acontece dentro das granjas e fábricas: a busca constante por eficiência, bem-estar animal e respeito ambiental.
PERSPECTIVAS E DESAFIOS PARA OS PRÓXIMOS ANOS
Em 2025, a indústria nacional projeta atingir cerca de 93,7 milhões de toneladas de rações e suplementos minerais, movimentando mais de R$ 180 bilhões. A expectativa é de crescimento de 2,9%, impulsionado pela avicultura e suinocultura, que lideram em tecnologia e exportações.
O futuro exige foco em integração, inovação e sustentabilidade. Devemos ampliar o uso de dados em tempo real, adotar modelos preditivos de nutrição e energia, investir em novos ingredientes e avançar em políticas de descarbonização com retorno econômico.
A INDÚSTRIA DE ALIMENTAÇÃO
ANIMAL É UMA DAS MAIS SÓLIDAS ÂNCORAS DA AGROPECUÁRIA NACIONAL — E SEGUIRÁ ASSIM ENQUANTO HOUVER COMPROMISSO COM CIÊNCIA, TRANSPARÊNCIA E PROPÓSITO COLETIVO.
com inovação e diálogo, continuaremos a construir um agro brasileiro mais eficiente, sustentável e admirado. Se há algo que esses 25 anos ensinaram, é que não há protagonismo sem responsabilidade e que a alimentação animal é parte essencial de um futuro alimentar sustentável.
POR
QUE MEDIR A VEDAÇÃO
HERMÉTICA DO AR DO AVIÁRIO?
Equipe Aviagen
• Quanto mais bem vedado for o aviário, menor será o vazamento de ar e melhor será o desempenho do sistema de ventilação.
• A diferença de pressão entre o interior e o exterior do aviário (frequentemente chamada de pressão diferencial ou negativa) pode indicar até que ponto o aviário está hermético ou bem vedado.
• A pressão do aviário deve ser acompanhada rotineira e regularmente para manter a pressão correta e identificar quaisquer vazamentos de ar que possam prejudicar a ventilação.
PROCEDIMENTO PARA MEDIR A VEDAÇÃO
HERMÉTICA DO AR DO AVIÁRIO COM UM MEDIDOR DE PRESSÃO DIFERENCIAL
EQUIPAMENTO
Qualquer medidor de pressão portátil ou interno.
PROCEDIMENTO
Observação - Se estiver usando um medidor de pressão interno, ele deverá ter sido calibrado no início do plantel (consulte Como. Calibrar um medidor de pressão cheio de fluido no aviário).
desligue todos os ventiladores. O aviário deve ser vedado como seria durante o inverno (tempo frio). As entradas de ar laterais e de túnel não devem ser abertas durante este teste.
Etapa 2 Se estiver usando um medidor de pressão portátil, coloque o tubo de alta pressão (positivo) do lado de fora do aviário através de uma entrada de ar (inlet) (ou abertura adequada). Abra a entrada única (inlet) apenas o suficiente para passar o tubo do medidor de pressão e tome cuidado para não apertar/ bloquear o tubo.
Etapa 3 Sem ventiladores funcionando, certifiquese de que o medidor de pressão indique pressão zero.
Etapa 4 Desligue as manivelas da parede lateral (inlet) e da entrada do túnel para que as entradas não abram automaticamente.
Etapa 5 Ligue 1 ventilador de túnel de ventilação (127 cm/ 50 pol.) ou 2 ventiladores de ventilação mínima (91 cm/36 pol.).
Etapa 6 Deixe a leitura da pressão se estabilizar e, em seguida, registre a leitura no medidor de pressão.
Observação - Meça a vedação hermética de ar do aviário registrando a diferença de pressão entre o interior e o exterior do aviário enquanto os ventiladores estiverem funcionando. De preferência, este teste deve ser realizado quando não houver vento externo ou a velocidade estiver muito baixa.
Se apenas um ventilador de túnel (127 cm/50 pol.) ou dois ventiladores de parede lateral (91 cm/36 pol.) estiverem funcionando, a pressão pode ser a mesma em qualquer lugar do perímetro do aviário.
Etapa 1 Feche todas as portas e entradas de ar e
Leitura de pressão Pressão interna
Efeitos Ação
AÇÃO NECESSÁRIA:
< 37,5 Pa (0,15 pol. de coluna d’água). Inadequada – muito vazamento de ar
37,5 - 42,0 Pa (0,15–0,17 pol. de coluna de água).
Aceitável/ melhor.
Difícil de ventilar em tempo frio. Consumo de calor maior que o normal.
Diferença de temperatura e velocidade do ar maior que o normal ao longo do aviário com túnel de ventilação.
Mais fácil de atingir a entrada de fluxo de ar lateral (inlet) desejada com ventilação mínima.
Deve haver menor variação de temperatura e velocidade do ar ao longo do comprimento do aviário.
INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS
• De forma ideal, a pressão dentro do aviário não deve ser inferior a 37,5 Pa (0,15 pol. de coluna d’água).
Observação - Esta recomendação se baseia em um aviário com ±1.850 m² (±19.900 pés²) de área construída, por exemplo, 15 m (49 pés) de largura x 123 m (403 pés) de comprimento. Áreas de piso menores devem atingir pressões de teste mais altas; áreas de piso maiores podem atingir pressões menores.
• A pressão é usada para determinar ou indicar até que ponto o aviário está bem vedado.
• Pressões operacionais mais altas podem precisar ser usadas durante a ventilação mínima.
Verifique se há rachaduras/ vãos desnecessários ao redor do perímetro do aviário e do teto/ telhado, portas mal instaladas ou ventiladores ineficientes. As entradas de ar estão fechando completamente?
AÇÃO NECESSÁRIA:
Quanto maior a pressão de teste, melhor o sistema de ventilação.
A apanha de frangos de corte é muito mais que simples coleta de animais: é um procedimento técnico que interliga manejo animal, infraestrutura adequada e capacitação de equipes.
Aapanha de frangos de corte é o processo de captura e carregamento das aves no final do ciclo de criação, que tem como objetivo transportar os animais, sendo uma etapa que exige planejamento e técnica para manter o bem-estar animal e preservar a qualidade da carne.
Para garantir bem-estar e qualidade da carne, a apanha de frangos de corte deve ser conduzida por equipes treinadas sob supervisão técnica. As aves devem ser cercadas aos poucos para evitar fugas, com aproximação calma, sendo apanhadas uma ou duas de cada vez, segurando-as pelo dorso, em um ambiente com pouca luz, de preferência. É fundamental não pisar nos animais nem misturar aves vivas com mortas.
As caixas de transporte devem ser posicionadas próximas ao local de apanha para reduzir o percurso das aves e evitar manuseio excessivo. Equipes coordenadas evitam atrasos e riscos de queda, previnem fraturas e estresse que comprometem o pH e a textura da carne. A apanha bem executada, sem provocar sofrimento e estresse, assegura integridade física, uniformidade do lote e melhor rendimento no abate.
As caixas de transporte devem ser resistentes e possuírem portinholas adequadas, que permitam ventilação e de dimensões adequadas para evitar superlotação. Cada caixa suporta, em média, 7 a 8 aves de 3 kg, distribuídas uniformemente para
prevenir esmagamentos. O empilhamento no veículo deve considerar altura e travamento específicos, garantindo estabilidade e circulação de ar até o abatedouro.
Os veículos de transporte devem contar com sistema de ventilação eficiente, incluindo aberturas laterais ajustáveis para controle térmico e circulação de ar constante. É essencial que os motoristas sejam treinados em manejo de carga viva, garantindo deslocamentos suaves e evitando frenagens bruscas. Em caso de acidentes ou atrasos, deve haver plano de contingência, que seja de conhecimento de todos os envolvidos na operação.
O ponto central desse processo é a minimização do estresse pré-abate. Estresse elevado provoca liberação de cortisol e acúmulo de ácido lático nos músculos, resultando em carne de baixo rendimento, cor opaca e textura rígida. Uma apanha bem executada preserva as reservas energéticas dos animais, assegurando suculência, maciez e valor comercial superiores.
Deste modo, a apanha de frangos de corte é muito mais que simples coleta de animais: é um procedimento técnico que interliga manejo animal, infraestrutura adequada e capacitação de equipes. Quando conduzido corretamente, contribui para alto padrão de bem-estar, redução de avarias e excelência na qualidade da carne, fatores decisivos para a competitividade do produtor no mercado.
Diego Renier Jorge Técnico em Zootecnia, Supervisor de Apanha
VOCÊ DEFINE ONDE QUER ESTAR,
NA MÉDIA OU NO TOPO.
*Análise considerando 9,4 milhões de matrizes Ross 308 AP às 66 semanas de idade (lotes fechados 2024).
Dados referentes ao Brasil.
MANEJO DE INCUBATÓRIO: SEXAGEM
E VACINAÇÃO DE PINTINHOS PARA PRODUÇÃO
EFICIENTE
Aqualidade dos pintinhos de um dia é fundamental para o sucesso da produção avícola, e o manejo do incubatório exerce papel decisivo nesse processo. Entre as etapas essenciais deste processo, destacam-se a sexagem e a vacinação, que demandam rigor técnico para garantir lotes uniformes, saudáveis e produtivos, promovendo resultados positivos ao longo do ciclo produtivo.
A vacinação realizada no incubatório é
fundamental para prevenir doenças e garantir a saúde do plantel desde o nascimento, sendo um processo que deve ser conduzido sob responsabilidade técnica de profissional qualificado. O protocolo vacinal ocorre preferencialmente in ovo, entre o 18º e 19º dias de incubação, protegendo os embriões contra doenças como Marek, New Castle e Gumboro. Após a eclosão, outras vacinas são aplicadas via spray, como a de Bronquite Infecciosa, que protegem o sistema respiratório das aves através da inalação.
Matheus Cezario Bachiega
Médico Veterinário, Coordenador de incubatório
Dra Gisele Dela Ricci
PHD e Consultora Técnica na Mundo Agro
A
vacinação realizada no incubatório é fundamental para prevenir doenças e garantir a saúde
do plantel desde o nascimento
A sexagem dos pintinhos é realizada geralmente nas primeiras horas após a eclosão, momento ideal para identificar com precisão machos e fêmeas. Essa separação permite que cada grupo receba manejo e destinação adequados nas etapas seguintes, otimizando o uso de espaço, a alimentação e os programas produtivos específicos para cada sexo. O processo exige profissionais treinados, capazes de reconhecer características físicas sutis e manejar os pintinhos com cuidado, evitando estresse e lesões. Uma sexagem eficiente é fundamental para evitar erros que possam comprometer tanto o planejamento produtivo quanto o sanitário
O preparo e o treinamento das equipes do incubatório são fatores decisivos que impactam diretamente a qualidade da eclosão e a eficiência dos processos. Profissionais capacitados controlam com precisão temperatura, umidade e ventilação, corrigem desvios e aplicam protocolos rigorosos,
elevando as taxas de sucesso e reduzindo desperdícios. A capacitação contínua, combinada com o uso de tecnologias avançadas, é indispensável para acompanhar as inovações e garantir a excelência operacional.
De acordo com dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), a produção brasileira de ovos deve alcançar 62 bilhões de unidades em 2025, representando um crescimento de 7,5% em relação ao ano anterior e consolidando o Brasil como um dos cinco maiores produtores globais. A produção de pintos de corte também registra números recordes, com mais de 632 milhões de cabeças alojadas apenas em abril de 2025. Deste modo, o manejo cuidadoso no incubatório não apenas eleva esses índices de produtividade, mas também assegura o bem-estar dos pintinhos desde o nascimento, minimizando estresses e potencializando sua resistência a doenças.
PANORAMA ATUAL DA PRODUÇÃO DE OVOS DE GALINHAS LIVRES DE GAIOLAS
A crescente conscientização sobre as práticas de produção de alimentos tem colocado o bem-estar animal no centro das discussões de consumo.
Sarah Sgavioli, Eduardo Coloda, Isadora Correa de Paula, Lívia Costa Silva, Maria Eduarda Vignoli Nabhan, Maria Fernanda
INTRODUÇÃO
Com o crescimento das discussões sobre bem-estar animal e as novas exigências do mercado, os sistemas de produção de ovos de galinhas poedeiras estão passando por uma mudança importante. Os métodos tradicionais baseados em gaiolas estão gradualmente sendo substituídos por sistemas alternativos, como cage-free, free-range, caipiras e orgânicos. Estes oferecem mais liberdade às aves e permitem a expressão de comportamentos naturais.
Granjas que adotam as novas práticas devem buscar certificações que comprovem o cumprimento dos requisitos de bem-estar. Nos três modelos, o uso de gaiolas é proibido. As aves são mantidas em galpões equipados com ninhos, poleiros e espaços para ciscar. As diferenças entre os sistemas estão relacionadas ao grau de acesso ao ambiente externo e às exigências definidas de alimentação e manejo.
TIPOS DE PRODUÇÃO DE OVOS DE GALINHAS FORA
DE GAIOLA
No sistema cage-free, as galinhas permanecem apenas em galpões e recebem ração convencional, semelhante à utilizada na produção intensiva. O uso de medicamentos é permitido, desde que sob prescrição e acompanhamento de Médicos Veterinários. O sistema free-range adota as mesmas exigências do cage-free, mas adiciona o acesso a área externa como seu grande diferencial. As poedeiras devem ter acesso a pastagem por pelo menos seis horas diárias, permitindo a expressão
de seu comportamento natural. O galpão utilizado deve ser de livre acesso, funcionando prioritariamente como abrigo as aves. Além dos benefícios do bem-estar, a alimentação é enriquecida pelos nutrientes da pastagem, conferindo a gema melhor textura e coloração, aspectos valorizados pelo consumidor. Embora esses ambientes propiciem o desgaste natural do bico, a debicagem ainda é permitida de forma preventiva, antes dos 10 dias de idade.
No Brasil, os chamados ovos caipiras geralmente são produzidos por aves que acessam o ar livre e recebem ração exclusivamente vegetal. O uso de medicamentos também é controlado, sendo feito apenas quando necessário, o que aumenta a necessidade de manejo adequado. Por fim, no sistema orgânico, as aves devem ter acesso diário à área externa com pastagem verde (mínimo 6 horas), e a alimentação deve ser predominantemente orgânica (80%), com proibição total de uso de antimicrobianos melhoradores de desempenho e transgênicos. Além disso, práticas de manejo como a muda forçada não são permitidas, buscando atender consumidores que procuram por fornecimento de ovos mais saudáveis e sustentáveis. Legalmente, a produção orgânica tem regulamentação federal, estabelecida pela Lei nº 10.831/2003. A produção de ovos caipiras segue a norma técnica ABNT NBR 16437:2016. A adesão aos sistemas cage-free e free-range ocorre por meio de certificações voluntárias de bem-estar animal. As granjas podem contratar empresas certificadoras para validar e atestar que a produção cumpre os
Pfeifer, Vitória Brigida Mielniki de Souza Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR)
critérios estabelecidos. Entre os selos mais utilizados no país, se destaca o Certified Humane Brasil e o Produtor do Bem.
A implementação desses sistemas, contudo, eleva os custos de produção. Isso se deve principalmente à necessidade de mais espaço por ave, maior demanda de mão de obra e um controle sanitário mais rígido. Para os produtores, esse aumento é compensado pela estratégia de valor agregado. Relatórios do setor, como “A Transição para Ovos Cage-Free”, apontam que os custos podem subir cerca de 20%, o que justifica preços de venda mais altos. Para o varejo, essa diferença se traduz em uma chance de obter margens maiores por unidade vendida, se comparado ao mercado de ovos convencionais, que é muito competitivo e tem margens apertadas. Dessa forma, os sistemas alternativos se mostram como uma forma de diferenciação para o produtor e de aumento da rentabilidade para o varejo.
OPINIÃO DOS CONSUMIDORES
Uma pesquisa realizada no Brasil em 2025 pela Ipsos (Institut Public de Sondage d’Opinion Secteur) em parceria com a Mercy For Animals, revelou dados importantes, ao entrevistar população brasileira das classes A, B e C: 81% dos entrevistados dizem considerar inaceitável o atual sistema de produção de ovos com galinhas em gaiolas; 83% dizem que o bem-estar dos animais é um aspecto importante na hora de comprar produtos de origem animal; 79% disseram que deixariam de consumir produtos de determinada marca, se descobrisse que utilizam ingredientes que causam ou aumentam o sofrimento animal; 76% consideram a criação em gaiolas uma forma de crueldade animal; 87% teriam maior propensão a comprar produtos de uma empresa que utiliza ovos de galinhas livres.
Há também um forte apoio à ação empresarial e governamental: 74% defendem que restaurantes e supermercados deveriam deixar de oferecer produtos que dependam de crueldade animal; 85% dos entrevistados acreditam que as empresas devem se comprometer com a eliminação das gaiolas; 85% acreditam que as empresas devem se comprometer com a eliminação das gaiolas de sua cadeia produtiva; 86% acham que deveria haver leis para regulamentar como são os sistemas livres de gaiolas e, assim, garantir maior bem-estar às galinhas por parte das empresas. A visão de que sistemas de criação de galinhas livres de gaiolas
deveriam se tornar o padrão da indústria no futuro é compartilhada por 81% dos entrevistados. Essa tendência de mercado - reflexo de maior consciência sobre a origem dos alimentos - tem impulsionado mudanças nas cadeias de suprimentos. A Mantiqueira, uma das maiores produtoras de ovos do país, já fornece ovos certificados para o McDonald’s, que alcançou a meta de ser 100% cage-free no Brasil em 2023. Grandes empresas como Nestlé, Unilever, Burger King, KFC e Marriott, já assumiram compromisso público de utilizarem apenas ovos de galinhas livres, com metas para os próximos anos.
PANORAMA INTERNACIONAL E NACIONAL
A União Europeia (UE) foi pioneira na regulamentação de sistemas de criação sem gaiolas. A Diretiva 1999/74/CE estabeleceu normas de proteção para galinhas poedeiras e determinou a proibição da criação em gaiolas convencionais a partir de 2012. Essa medida impulsionou a adoção de sistemas alternativos, como barn, free range e orgânicos, que permitem maior liberdade de movimento e expressão de comportamentos naturais. Em 2024, estima-se que 61,9% das galinhas poedeiras da UE foram criadas em sistemas fora de gaiolas, distribuídas entre barn (39,3%), free range (15,8%) e orgânico (6,7%), enquanto 38,1%
ainda permaneciam em gaiolas enriquecidas. Países como a Alemanha e o Reino Unido destacamse por políticas mais restritivas: a Alemanha antecipou a proibição das gaiolas convencionais em 2007, cinco anos antes da exigência europeia, e o Reino Unido consolidou a transição após 2012, embora ainda enfrente desafios relacionados à importação de ovos produzidos sob sistemas convencionais.
Nos Estados Unidos, a legislação referente à criação de poedeiras livres de gaiolas é de competência estadual, resultando em diferentes regulamentações entre os estados. A Califórnia aprovou, em 2018, a Proposição 12, que estabelece que a criação de poedeiras só pode ocorrer em instalações que garantam liberdade de movimento, permitindo que as aves se deitem, levantem-se, virem-se livremente e estendam completamente seus membros. De modo similar, o estado de Massachusetts definiu, por meio do Regulations Implementing the Act to Prevent Cruelty to Farm Animals (330 CMR 35.00), que o Cage-Free Housing System deve permitir o livre deslocamento das aves e o acesso a áreas com poleiros, ninhos e banho de areia, proibindo o uso de gaiolas. Nos últimos anos, o número de galinhas poedeiras
criadas em sistemas sem gaiolas vem crescendo de forma contínua no país. Em março de 2024, estimou-se que o sistema cage-free já correspondia a cerca de 40%, totalizando aproximadamente 124,8 milhões de galinhas poedeiras. Em 2025, os Estados Unidos contabilizaram aproximadamente 45,7% da produção de ovos proveniente de sistemas sem gaiolas, evidenciando um crescimento em relação aos 38,5% registrados no ano anterior, reflexo das políticas estaduais e das mudanças nas preferências dos consumidores.
Na Austrália, aproximadamente 57,4% das vendas no varejo em 2023–2024 originaram-se de sistemas cage-free, e o governo anunciou planos para eliminar completamente a produção de ovos em gaiolas até 2036, alinhando-se às tendências globais de bem-estar animal. Na Índia, o Conselho de Bem-Estar Animal concluiu, em 2013, que as gaiolas convencionais violam a Lei de Prevenção de Crueldade contra os Animais de 1960, embora a implementação efetiva das medidas varie entre os estados. O Japão, por sua vez, tem promovido gradualmente a adoção de sistemas alternativos, com aumento recente da produção fora de gaiolas. No Canadá, em 2023, cerca de 17% da produção de ovos derivava de sistemas cage-free, indicando adoção ainda limitada, porém com tendência de crescimento. Já na América Latina, o Brasil consolidou-se, em 2023, como o quinto maior produtor mundial de ovos, com produção anual estimada em aproximadamente 52 bilhões de unidades. No entanto, cerca de 95% dessa produção ainda ocorre em sistemas de gaiolas convencionais. Apesar disso, grandes redes varejistas nacionais e multinacionais têm se comprometido a eliminar gradualmente os ovos provenientes de galinhas em gaiolas de suas prateleiras, refletindo uma tendência crescente em direção a práticas mais éticas e sustentáveis.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A crescente conscientização sobre as práticas de produção de alimentos tem colocado o bem-estar animal no centro das discussões de consumo. Em um cenário onde a ética e a sustentabilidade se tornam critérios relevantes para as decisões de compra, as condições de vida dos animais envolvidos na cadeia produtiva são questionadas. A preocupação do consumidor com o bem-estar animal na produção de alimentos, tem se consolidado como uma realidade que veio para ficar, não sendo moda passageira e no centro dessa discussão está o setor avícola e a produção de ovos.
BIOSSEGURIDADE NA AVICULTURA: INOVAÇÃO E PRÁTICA PARA GRANJAS
MAIS SEGURAS E PRODUTIVAS
Dra Gisele Dela Ricci
PHD e Consultora Técnica na Mundo Agro
Na avicultura moderna, a biosseguridade tornou-se parte essencial da gestão sanitária, responsável por prevenir a introdução e a disseminação de agentes patogênicos nos sistemas produtivos. Além desse papel preventivo, funciona como base técnica dos protocolos de controle, integrando medidas de rotina, manejo adequado e monitoramento contínuo dos pontos críticos para assegurar estabilidade produtiva, bemestar das aves e maior resiliência frente aos desafios sanitários
No Brasil, mesmo com muitas granjas ainda operando de forma tradicional, há um claro
movimento de aperfeiçoamento. A biosseguridade passou a ser tratada como um sistema estruturado de gestão sanitária, baseado em procedimentos padronizados, análise de riscos e monitoramento dos pontos críticos. Ao invés de ações isoladas, ela assume caráter de programa integrado que orienta decisões operacionais, fluxos de pessoas, manejo de materiais e rotinas de higienização
A base da biosseguridade segue sendo a gestão criteriosa de tudo que chega ou sai do ambiente produtivo. Protocolos como barreiras sanitárias, troca de roupas, pedilúvios, controle de pragas, restrição ao acesso, quarentena de aves e
separação entre lotes permanecem como pilares essenciais. Mesmo medidas tradicionais, quando executadas de forma rigorosa e rotineira, geram impacto direto na redução de doenças.
No dia a dia, o manejo adequado, como cama seca, ventilação ajustada, redução de estresse térmico, água de boa qualidade e rotinas bem definidas, influencia tanto quanto equipamentos sofisticados. A ambiência correta fortalece a resistência natural das aves e diminui a pressão de infecção.
Os programas sanitários completam esse conjunto de ações. A vacinação, adaptada às realidades regionais, é uma das ferramentas mais eficientes para manter a imunidade dos lotes. Da mesma forma, o acompanhamento sorológico, o envio de amostras para laboratório e a vigilância epidemiológica permitem identificar rapidamente mudanças no status
sanitário da granja e orientar o manejo.
A adoção de sistemas produtivos responsáveis já faz parte da rotina de muitas granjas, nas quais a biosseguridade rigorosa reduz a necessidade de tratamentos e favorece o uso racional de antimicrobianos. No entanto, esses resultados só se sustentam com capacitação e treinamento contínuo das equipes, pois a cultura de biosseguridade nasce da prática diária e não apenas de protocolos.
Deste modo, com o avanço da avicultura, a biosseguridade tende a incorporar automações que fortalecerão o controle sanitário e aprimorarão ainda mais o manejo. Aliadas aos programas vacinais e à capacitação das equipes, essas práticas ampliam a segurança dos plantéis e contribuem diretamente para a saúde pública ao reduzir o risco de disseminação de patógenos
A base da biosseguridade segue sendo a gestão criteriosa de tudo que chega ou sai do ambiente produtivo. Protocolos como barreiras sanitárias, troca de roupas, pedilúvios, controle de pragas, restrição ao acesso, quarentena de aves e separação entre lotes permanecem como pilares essenciais.
QUALIDADE E GESTÃO FORAM AS MARCAS DA EVOLUÇÃO DO SETOR DE POSTURA,
APONTA LEANDRO PINTO
Fundador e Presidente do Conselho Mantiqueira Brasil aponta os pontos de destaque do setor e como fazer para o segmento se manter em alta em 2026.
Giovana de Paula giovana@mundoagro.com.br
Oano de 2025 foi muito positivo para o setor de postura no Brasil. Segundo Leandro Pinto, Fundador e Presidente do Conselho Mantiqueira Brasil, o país manteve altos padrões de sanidade avícola, o que abriu novas oportunidades de exportação e reforçou a confiança internacional na qualidade da produção nacional.
A Mundo Agro foi conversar com exclusividade com Leandro Pinto. Acompanhe, na sequência, a entrevista completa.
COMO VOCÊ AVALIA O ANO DE 2025 PARA O SETOR DE POSTURA?
O ano de 2025 foi muito positivo para o setor. O Brasil manteve altos padrões de sanidade avícola, o que abriu novas oportunidades de exportação e reforçou a confiança internacional na qualidade da nossa produção.
Além disso, o custo estável dos insumos, aliado a avanços em gestão, tecnologia e diferenciação de produto, contribuiu para um cenário sólido, competitivo e equilibrado.
O ovo consolidou-se ainda mais como uma proteína saudável, completa e versátil, fortalecendo toda a cadeia produtiva.
QUAIS SÃO SUAS PRINCIPAIS PROJEÇÕES PARA 2026?
As perspectivas para 2026 são bastante positivas. Segundo dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), o consumo per capita deve atingir 306 ovos por habitante, consolidando o ovo como uma das principais fontes de proteína de qualidade no país.
Além disso, estudos recentes apontam um crescimento global de 22% no consumo de ovos nos próximos dez anos, o equivalente a cerca de 2,2% ao ano — um ritmo consistente e sustentável.
O Brasil reúne todas as condições para seguir os passos do frango e da carne bovina, consolidandose como um dos principais fornecedores mundiais de ovos e derivados. A Mantiqueira Brasil lidera esse movimento, atendendo tanto o mercado interno quanto o externo com o mesmo padrão de qualidade, segurança e confiança que sempre norteou nosso trabalho.
QUAIS
FORAM OS PRINCIPAIS ENTRAVES AO LONGO DE 2025 PARA O SETOR DE POSTURA E COMO ELES FORAM REVERTIDOS?
Leandro Pinto, Fundador e Presidente do Conselho Mantiqueira Brasil. “Na área de qualidade, continuamos investindo fortemente em certificações internacionais que asseguram padrões de excelência e abrem portas para novos mercados”.
O principal desafio em 2025 foi a ameaça da Influenza Aviária, que, embora tenha chegado ao Brasil, teve impacto mínimo quando comparado aos Estados Unidos e à Europa. Esse resultado reflete o alto nível de controle sanitário do país e a atuação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) na adoção de barreiras e protocolos rigorosos.
Na Mantiqueira Brasil, mantemos os mais altos padrões de biosseguridade do setor: uso de equipamentos de proteção individual, controle rigoroso de acesso às granjas, monitoramento diário das aves por equipe multidisciplinar e automação de processos que assegura que o primeiro contato humano com o ovo aconteça apenas no ponto de venda.
Essas medidas reforçam a segurança do alimento, garantem a saúde do plantel e reforçam a confiança dos consumidores em nossas marcas: Ovos
QUAIS FORAM AS PRINCIPAIS
FERRAMENTAS UTILIZADAS PELA MANTIQUEIRA PARA O AVANÇO NO MERCADO?
Destaco duas frentes principais: qualidade e gestão. Na área de qualidade, continuamos investindo fortemente em certificações internacionais que asseguram padrões de excelência e abrem portas para novos mercados:
• Nossa unidade de Itanhandu (MG) conquistou a recertificação International Featured Standard (IFS Food) para ovos in natura, reconhecida pela Global Food Safety Initiative (GFSI).
• A unidade de Uberlândia (MG), responsável pela
Mantiqueira, Happy Eggs® e Fazenda da Toca.
produção de ovos pasteurizados, obteve a certificação Food Safety System Certification 22000 (FSSC 22000), também reconhecida pela GFSI.
Essas conquistas colocam a Mantiqueira Brasil entre as líderes globais em segurança de alimentos e refletem nosso compromisso com a excelência em todas as etapas da produção, do campo à mesa.
Nos próximos anos, seguiremos ampliando esse processo, com a meta de certificar novas unidades, incluindo Lorena (SP) unidade de ovos de galinhas livres Happy Eggs®, e alcançar um número ainda maior de plantas reconhecidas internacionalmente até o final da década.
Em gestão, fortalecemos nossa estrutura de governança e ampliamos os investimentos em automação, tecnologia da informação e análise de dados, garantindo eficiência operacional, rastreabilidade e agilidade na tomada de decisão.
EM SUA OPINIÃO, COMO O MERCADO
RECEBEU AO LONGO DO ANO ESTE MOVIMENTO DE COMPRA DE 50% DA MANTIQUEIRA PELA JBS?
O mercado recebeu de forma extremamente positiva a união entre Mantiqueira Brasil e JBS. Esse movimento é visto como uma alavanca de crescimento e internacionalização, que combina estrutura, conhecimento e governança com a agilidade e o espírito inovador que sempre caracterizaram a Mantiqueira.
A sinergia entre as companhias fortalece nossa posição no Brasil e no exterior, e reforça nossa visão de futuro: tornar a Mantiqueira Brasil uma empresa global de alimentos, referência em qualidade, sustentabilidade e bem-estar animal.
EM RELAÇÃO ÀS EXPORTAÇÕES DE OVOS,
VOCÊ PROJETA UM AUMENTO PARA 2026?
Sim. O cenário internacional aponta para um crescimento consistente da demanda por proteínas de alta qualidade, e o ovo se encaixa perfeitamente nessa tendência.
Com o avanço do nosso plano de internacionalização, iniciado pelos Estados Unidos, e uma base produtiva altamente certificada, há um caminho claro para ampliar as exportações em 2026.
A sociedade com a JBS S.A. fortalece ainda mais essa estratégia, ao unir a nossa expertise em produção à robusta estrutura global e à reconhecida expertise logística da JBS, presente em todos os continentes.
Esse avanço se apoia em três pilares fundamentais: sanidade, competitividade e abertura de novos canais comerciais — frentes nas quais a Mantiqueira Brasil vem atuando de forma estruturada e consistente.
QUAIS SÃO OS PRINCIPAIS PONTOS DE CUIDADO
E ATENÇÃO QUE O SEGMENTO DE POSTURA DEVE TER EM 2026?
O setor precisa manter atenção constante em três grandes frentes:
1. Sanidade e biossegurança, que são a base para a continuidade do crescimento e acesso a novos mercados.
2. Eficiência operacional e sustentabilidade, equilibrando produtividade e bem-estar animal.
3. Comunicação e educação do consumidor, fortalecendo a percepção do ovo como um alimento essencial, saudável e natural.
Na Mantiqueira Brasil, acreditamos que o futuro do setor passa por inovação com propósito, gestão de excelência e compromisso genuíno com as pessoas, os animais e o planeta.
PESQUISA APONTA IMPORTÂNCIA DA QUALIDADE DA ÁGUA NA
BOVINOCULTURA
Qual é o real impacto da qualidade da água sobre o desempenho e a saúde dos bovinos de corte e de leite em sistemas intensivos?
Paulo Junio Silva Damasceno
Zootecnista e mestre em Ciência Animal pela Universidade Federal do Maranhão
Doutorando em Zootecnia pela Universidade Federal de Lavras paulo.damasceno@estudante.ufla.br
Você já parou para pensar em quanta água bebe por dia? Para uma pessoa com 70 kg, a recomendação gira em torno de 2 a 3 litros. É uma quantidade que conseguimos visualizar, talvez algumas garrafinhas ou copos. Agora, imagine uma vaca holandesa de alta produção. Em um único dia, ela pode consumir mais de 150 litros de água (Meyer et al., 2004). É o volume de uma caixa d’água pequena, consumido por um único animal, a cada 24 horas.
Essa comparação, por si só, já nos dá uma dimensão da importância monumental da água na pecuária.
Mas a questão vai muito além da quantidade. Assim como nós, seres humanos, torcemos o nariz para uma água com cor estranha, cheiro forte ou sabor desagradável, os bovinos são igualmente seletivos. Estudos mostram que os bovinos demonstram claras preferências, alterando seu comportamento de consumo diante de bebedouros
com água suja (Burkhardt et al., 2022). Isso demonstra uma uma necessidade biológica fundamental que impacta diretamente sua saúde, bem-estar e, consequentemente, seu desempenho.
Nesse contexto, duas boas perguntas podem ser feitas: Qual é o real impacto da qualidade da água sobre o desempenho e a saúde dos bovinos de corte e de leite em sistemas intensivos? E, quais são os avanços na ciência, na tecnologia e na genética que estão transformando a gestão da água na pecuária?
Uma extensa revisão feita por David Beede, da Michigan State University, nos ajudará a começar a responder a primeira pergunta. Dentre os vários contaminantes que podem comprometer a qualidade da água, o sulfato é um dos mais estudados e seus efeitos negativos sobre o desempenho dos bovinos são consistentemente
documentados. Um estudo demonstrou que novilhos e novilhas consideraram a água “desagradável” quando ela continha 3.200 ou 4.700 ppm de sulfato, o que alterou o seu padrão de consumo: passavam a beber mais à noite e demonstravam um comportamento mais agressivo no bebedouro, um claro sinal de estresse (Zimmerman et al., 2002).
Em um estudo clássico, novilhas que receberam água com altas concentrações de sulfato de sódio (3.493 ppm) tiveram redução no consumo de água, no consumo de ração e no ganho de peso (Weeth e Hunter, 1971). Para vacas leiteiras, especialmente no período sensível do pós-parto, a água com alto teor de sulfato (acima de 1.200 ppm) pode comprometer o desempenho da lactação, causando redução no consumo e na produção de leite, além de aumentar a incidência de doenças metabólicas (Beede 2006). Águas com alta concentração de sulfatos também podem não apenas causar diarreia e reduzir o consumo, mas também interferir na absorção de minerais essenciais como cobre e selênio (Beede, 2006). Em casos mais graves, o excesso de enxofre na água pode levar a quadros de Polioencefalomalácia (PEM), uma doença neurológica degenerativa que pode ser fatal, elevando as taxas de mortalidade no rebanho (Brew 2008). ). A relação negativa entre o consumo de água de baixa qualidade com o desempenho e a saúde animal é um dos aspectos que exalta a importância desse assunto.
Os bovinos também são extremamente sensíveis às condições do bebedouro. Na Alemanha, pesquisadores (Burkhardt et al., 2022) observaram detalhadamente o comportamento de vacas leiteiras com acesso a bebedouros limpos (higienizados diariamente) e sujos (não
higienizados por 15 dias). O resultado foi muito interessante: o acesso a bebedouros sujos resultou em alteração do comportamento de consumo de água das vacas. Elas manifestaram mais “pausas para beber” e um número maior de “goles” por episódio de consumo, além de uma tendência a passar mais tempo apenas “provando” a água sem de fato beber. Esse comportamento hesitante sugere que, embora a sede as force a beber, a baixa qualidade da água gera um desconforto que altera seu padrão natural de consumo. Esses experimentos demonstram claramente que é preciso garantir a oferta contínua de água limpa para os bovinos.
O impacto econômico de uma água inadequada pode ser enorme. Em um confinamento de bovinos de corte com 10.000 animais terminados por 100 dias, se eles deixarem de ganhar entre 15 e 25g por dia por redução do consumo de água causado por bebedouros sujos, por exemplo, o pecuarista pode deixar de receber entre R$ 300.000,00 e R$ 500.000,00 (dependendo do preço da @). Isso ressalta claramente que investir em ações simples na rotina das operações (independente do tamanho), como a limpeza diária dos bebedouros e a avaliação regular da qualidade da água, pode ser a diferença entre lucro e prejuízo.
Felizmente, a pecuária moderna está sendo abastecida com tecnologia para ajudar a enfrentar esses desafios. Hoje vivemos uma verdadeira revolução, impulsionada pela chamada “pecuária de precisão” ou Pecuária 4.0. O objetivo é otimizar o uso, reduzir desperdícios e garantir que cada animal receba água na quantidade e qualidade ideais. Os avanços são visíveis tanto em sistemas de corte quanto de leite. Algumas inovações recentes merecem destaque:
BEBEDOUROS AUTOMATIZADOS E INTELIGENTES:
Equipamentos modernos utilizam sensores para monitorar e ajustar os níveis de água em tempo real, garantindo um fornecimento constante sem a necessidade de intervenção humana constante. Isso não só economiza trabalho, mas também minimiza o desperdício por transbordamento.
MONITORAMENTO REMOTO E IOT (INTERNET DAS
COISAS): Sensores instalados em tanques, reservatórios e bebedouros podem enviar dados em tempo real sobre níveis, vazão e até qualidade da água (como temperatura e pH) diretamente para o smartphone ou computador do pecuarista. Isso permite a detecção precoce de vazamentos, bloqueios ou quedas de nível, evitando que os animais fiquem sem água e permitindo um planejamento de longo prazo mais eficiente (Monteiro et al., 2023).
SISTEMAS DE BOMBEAMENTO SUSTENTÁVEIS: Em propriedades extensas ou remotas, as bombas de água movidas a energia solar estão se tornando uma solução indispensável. Elas reduzem a dependência de combustíveis fósseis ou da rede elétrica
ANÁLISE
DE
DADOS E HIDRATAÇÃO INTELIGENTE
(SMART HYDRATION ANALYTICS): Tecnologias de ponta, como o sistema “SmartWater”, permitem medir o consumo individual de água dos animais. Equipado com células de carga e identificação por radiofrequência (RFID), o sistema registra exatamente quanto cada animal bebeu a cada visita. Esses dados são preciosos, pois permitem identificar padrões de consumo e detectar
precocemente animais que podem estar doentes (uma queda no consumo de água é frequentemente um dos primeiros sinais de doença) (Tang et al., 2021).
REUSO DA ÁGUA NA PECUÁRIA
DE LEITE: Na produção de leite, onde o consumo de água para limpeza (água de serviço) é significativo, a tecnologia tem permitido economizar água. Um estudo que comparou sistemas de ordenha convencionais com sistemas automatizados (robôs de ordenha) mostrou que, com a tecnologia mais recente, a quantidade de água de serviço por litro de leite produzido diminuiu significativamente. Ou seja, embora a produção de leite e o consumo de água pelos animais tenham aumentado (vacas mais produtivas bebem mais), o sistema como um todo tornou-se mais eficiente no uso da água para limpeza (VanderZaag et al., 2025). Além disso, práticas como o reaproveitamento da água usada para resfriar o leite (que sai morna e é preferida pelas vacas) para abastecer os bebedouros dos animais ou para limpeza de instalações são cada vez mais comuns (Monteiro et al., 2023).
Esses avanços tecnológicos representam uma mudança de paradigma, transformando a água em um insumo gerenciado com precisão, eficiência e sustentabilidade.
Paralelamente à revolução tecnológica em equipamentos e manejo, uma outra fronteira está no melhoramento genético. A ideia é: e se pudéssemos selecionar bovinos que, por natureza, são mais eficientes no uso da água? Ou seja, animais que precisam de menos água para produzir a mesma quantidade de carne ou leite, sem que isso prejudique seu bem-estar ou desempenho.
Esses avanços tecnológicos representam uma mudança de paradigma, transformando a água em um insumo gerenciado com precisão, eficiência e sustentabilidade.
Este é o campo da seleção genômica para a eficiência hídrica. O conceito central é a característica conhecida como Consumo Residual de Água (RWI, da sigla em inglês). De forma simplificada, o RWI mede a diferença entre o quanto um animal realmente bebe e o quanto era esperado que ele bebesse, com base em seu peso, ganho de peso e consumo de alimento. Um animal com RWI negativo é considerado mais eficiente, pois bebe menos do que o previsto para seu nível de produção (Pereira et al., 2020).
Pesquisas pioneiras realizadas no Brasil com a raça Senepol, um taurino adaptado aos trópicos, já trouxeram resultados animadores. Estudos conduzidos pela Embrapa e universidades parceiras encontraram uma herdabilidade moderada para o consumo de água e para o RWI (com valores de 0.36 a 0.38). Em termos práticos, “herdabilidade moderada” significa que uma porção significativa da variação nessa característica é devida a fatores genéticos, tornando a seleção para animais mais eficientes viável e com potencial de ganhos significativos ao longo das gerações (Pereira et al., 2020; Souza et al., 2025).
A grande vantagem é que essa seleção pode trazer benefícios em cascata. Os mesmos estudos identificaram uma correlação genética positiva entre a eficiência hídrica (RWI) e a eficiência alimentar (Consumo Alimentar Residual - RFI). Isso significa que, ao selecionar animais que bebem menos água, podemos também selecionar animais que comem menos para o mesmo desempenho (Pereira et al., 2020). Essa sinergia é fundamental, pois otimiza o uso de dois dos recursos mais críticos na produção: água e alimento. O trabalho conjunto da comunidade científica, indústria, associações de criadores e pecuaristas em desenvolver e adotar essas novas tecnologias sinalizam o esforço para a redução da pegada hídrica da pecuária.
O PRIMEIRO PASSO: CONHECER A ÁGUA QUE NOSSOS ANIMAIS BEBEM
Há um ditado bastante conhecido na gestão: “não se gerencia o que não se mede”. As mais avançadas tecnologias de monitoramento ou os mais sofisticados programas de melhoramento genético perdem sua importância se não soubermos o básico: a qualidade da água que está sendo oferecida hoje nos bebedouros das fazendas. A caracterização da água de bebida dos animais é um passo prioritário para identificar problemas (muitas vezes silenciosos) e buscar as soluções certas.
É com esse propósito que em parte da minha tese de doutorado, na Universidade Federal de Lavras, estamos trabalhando para caracterizar a qualidade da água disponível para bovinos de corte em fase de terminação no Brasil. Para isso, visitamos cerca de 70 confinamentos comerciais em 5 estados, coletando amostras de água diretamente dos bebedouros e também da fonte de abastecimento da fazenda.
Atualmente, as amostras de água coletadas nos confinamentos estão sendo submetidas a análises físico-químicas. Este trabalho deve proporcionar um diagnóstico da situação atual, fundamental para embasar novos estudos. Além disso, essa pesquisa pode ajudar a trazer mais visibilidade para um tema tão crucial para a sustentabilidade da nossa pecuária. Conhecer a nossa realidade é o primeiro passo para transformá-la. Em breve, publicaremos essas informações na forma de artigos científicos.
DO
VENTRE AO CAMPO:
COMO REDUZIR O ESTRESSE TÉRMICO EM VACAS PRENHES
PARA GARANTIR CRIAS SAUDÁVEIS?
O estresse térmico deve ser encarado não apenas como uma questão de produtividade, mas de bem-estar e sustentabilidade.
Ano
pecuária leiteira e de corte no Brasil enfrenta um desafio cada vez mais presente: as altas temperaturas, que afetam diretamente a saúde das vacas prenhes e comprometem a qualidade das crias. O estresse térmico não é apenas um desconforto momentâneo para os animais, mas um fator que altera todo o processo fisiológico, desde a gestação até o parto, com impactos na produtividade futura.
Quando a vaca gestante sofre com o calor excessivo, o fluxo sanguíneo uterino diminui, a oxigenação fetal é reduzida e o desenvolvimento do bezerro pode ser prejudicado. Como resultado, observam-se maior incidência de abortos, baixo peso ao nascer, falhas na transferência de imunidade pelo colostro e até comprometimento da fertilidade pós-parto.
Nesse cenário, estratégias integradas de manejo se tornam indispensáveis. O primeiro ponto é a ambiência adequada. Sombrite, árvores estratégicas, galpões bem ventilados e sistemas de resfriamento evaporativo ou aspersão com ventilação cruzada ajudam a manter a temperatura de conforto, que para bovinos
prenhes gira em torno de 15 °C a 25 °C.
Em regiões de clima semiárido, a instalação de bebedouros em número suficiente e a oferta constante de água fresca são medidas fundamentais para reduzir a carga térmica interna. Um simples acesso facilitado à água pode aumentar significativamente a capacidade do animal de dissipar calor pelo suor e respiração.
Outro fator crítico é a nutrição durante a gestação. Animais sob estresse por calor tendem a reduzir o consumo de matéria seca, comprometendo a ingestão de energia e nutrientes essenciais. Ajustar a dieta com alimentos de maior digestibilidade, suplementação de minerais (como zinco, selênio e cromo) e inclusão de aditivos antioxidantes contribui para melhorar o metabolismo e reduzir os danos celulares causados pelo excesso de radicais livres. Estudos recentes destacam também a importância da programação fetal, em que a dieta da mãe influencia a saúde e o desempenho futuro da cria. Vacas bem nutridas durante períodos críticos de calor têm maior probabilidade de parir bezerros resistentes, com bom desenvolvimento imunológico e reprodutivo.
Dr Rafael Teixeira de Sousa
Docente
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, Campus Boa viagem
Dra Gisele Dela Ricci
PHD e Consultora Técnica na Mundo Agro
Além da ambiência e da dieta, o monitoramento constante do bem-estar animal deve ser rotina na propriedade. Sinais como aumento da frequência respiratória, salivação excessiva e vacas agrupadas em busca de sombra indicam que o limite de tolerância ao calor foi ultrapassado. Produtores que adotam sensores digitais de temperatura e brincos eletrônicos de monitoramento relatam maior eficiência para ajustar, em tempo real, ventilação, aspersão e manejo de cocho, mantendo o rebanho dentro da faixa de conforto térmico.
Por fim, o estresse térmico deve ser encarado não apenas como uma questão de produtividade, mas de bem-estar e sustentabilidade. Reduzir a carga de calor nas vacas prenhes significa garantir partos mais seguros, bezerros mais fortes e maior longevidade das matrizes. No campo, isso se traduz em menos perdas reprodutivas, maior eficiência na recria e animais com melhor desempenho zootécnico ao longo da vida. Investir em conforto térmico é, portanto, investir no futuro da pecuária do ventre ao campo, com saúde, eficiência e responsabilidade.
O estresse térmico deve ser encarado não apenas como uma questão de produtividade, mas de bem-estar e sustentabilidade.
A PECUÁRIA COMO PROTAGONISTA
DA AGROPECUÁRIA DE BAIXO CARBONO
Precisamos despertar e enaltecer as características diferenciais do nosso produto, gerando reconhecimento e diferenciação. Nossa carne é produzida majoritariamente a pasto, com baixa pegada de carbono e respeito aos recursos naturais.
Quando falamos em agropecuária de baixo carbono, ainda é comum que a pecuária seja vista como parte do problema. Mas a realidade no campo brasileiro já demonstra o contrário: com conhecimento técnico, articulação multissetorial e políticas públicas bem estruturadas, a pecuária já é parte essencial da solução climática.
Este ano, participei do evento Agricultura de Baixo Carbono e Sustentabilidade Produtiva no Brasil, promovido pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), onde tive a oportunidade de representar a Mesa Brasileira da Pecuária Sustentável no painel sobre Aspectos Técnicos e Ganhos de Produtividade, ao lado de especialistas de instituições como Embrapa, CCarbon e ABBIN. O encontro reforçou aquilo que já vemos no nosso trabalho diário: o Brasil tem capacidade única para liderar uma pecuária produtiva, regenerativa e de baixo carbono.
A Mesa Brasileira, com seus mais de 60 associados de toda a cadeia da carne bovina, atua há 17 anos para mostrar que sustentabilidade e produtividade caminham juntas. Iniciativas como sistemas integrados de produção (ILPF, ILP), pastejo
rotacionado, melhoramento genético, nutrição balanceada e recuperação de pastagens degradadas não apenas aumentam a produção por hectare como reduzem a emissão de gases de efeito estufa por quilo de carne produzida. Segundo estimativas da FGV, a adoção em larga escala dessas práticas pode reduzir mais de 50% das emissões da pecuária de corte até 2050. Já não é mais uma questão de potencial: é uma realidade comprovada no campo.
O Plano ABC+, outro destaque do evento, é um marco na construção de uma agropecuária de baixo carbono no Brasil. A Mesa Brasileira tem sido parceira ativa dessa agenda, contribuindo com dados, recomendações técnicas e experiências de campo. Também temos atuado na elaboração de propostas para rastreabilidade, no fortalecimento das metas climáticas no setor e no apoio ao desenvolvimento do Caminho Verde Brasil, anteriormente chamado de Plano Nacional de Conformidade e Produção com Desmatamento Zero (PNCPD).
Durante o evento, um ponto comum em todos os painéis foi o reconhecimento de que a pecuária já evoluiu muito dentro da porteira. As tecnologias
Ana Doralina Menezes Presidente da Mesa Brasileira da Pecuária Sustentável
e médios produtores, que representam a maior parte da pecuária brasileira. Tecnologia e informação precisam ser democratizadas, com apoio público e privado, para que cheguem a todos os rincões do país.
Por falar nisso, um dos painéis trouxe um recorte muito interessante sobre a atuação dos estados, especialmente no Norte e Nordeste, como Pará e Piauí. Ali se falou da importância de organizar e capacitar os pequenos produtores, e como isso tem gerado resultados concretos. Projetos estaduais que integram ações de assistência, governança e incentivos têm demonstrado que é possível transformar realidades locais,
parte das emissões; ela precisa ser reconhecida como vetor de conservação e regeneração. Com apoio técnico, investimento e articulação, o boi pode ser uma força climática positiva.
Nosso chamado é para todos os elos da cadeia: governos, empresas, produtores e financiadores. É hora de intensificar com responsabilidade. De adotar soluções robustas. De destravar o investimento climático no campo. A produção sustentável é, mais do que nunca, o único caminho para a resiliência econômica e ambiental.
A pecuária brasileira pode – e é – protagonista na agenda do clima.
A produção sustentável é, mais do que nunca, o único caminho para a resiliência econômica e ambiental.
USO DE INTELIGÊNCIA
ARTIFICIAL
E
SENSORES
NO BALANCEAMENTO DE DIETAS
PARA VACAS LEITEIRAS
Sensores inteligentes e inteligência artificial representam o avanço do manejo nutricional na pecuária leiteira, unindo produtividade, bem-estar animal e sustentabilidade.
Aalimentação correta é fundamental para a saúde e produtividade das vacas leiteiras, e a tecnologia tem sido aliada essencial para aprimorar esse processo. A alimentação balanceada com sensores de monitoramento (ruminação, temperatura e ingestão, por exemplo), aliado a IA ajusta dietas em tempo real, resultando em aumento médio de 8% na produção diária de leite e redução de 12% no consumo de insumos por vaca. Estudos indicam queda de 15% em custos veterinários preventivos após seis meses de uso.
Sensores instalados em brincos e coleiras capturam em tempo real dados de movimentação, ingestão, ruminação, temperatura e outros sinais fisiológicos. Essas informações são processadas por plataformas com IA, que identificam padrões e necessidades individuais, permitindo detectar alterações sutis no consumo ou sinais de estresse que impactam saúde e produção.
A IA processa grandes volumes de dados para ajustar dietas em tempo real, conforme lactação, produção e condição corporal de cada vaca, e monitora custos de insumos para otimizar compras em tempo real. Assim, o produtor toma decisões rápidas, reduz desperdícios e garante nutrição ideal.
Essa integração resulta em dietas individualizadas
que promovem maior eficiência alimentar, saúde robusta e aumento da produtividade do leite, com redução de excessos ou deficiências nutricionais. O produtor recebe alertas específicos para ajustes imediatos, garantindo uma resposta ágil às necessidades dos animais.
Além dos benefícios produtivos, essas tecnologias contribuem para a sustentabilidade ambiental ao reduzir emissões de gases de efeito estufa e otimizar o uso de recursos naturais. As plataformas digitais permitem monitoramento remoto via celular ou computador, simplificando o controle das operações.
Em síntese, sensores inteligentes e inteligência artificial representam o avanço do manejo nutricional na pecuária leiteira, unindo produtividade, bem-estar animal e sustentabilidade. No campo econômico, reduzem desperdícios alimentares, aprimoram a conversão nutricional e diminuem custos veterinários, resultando em maior rentabilidade por litro produzido. A gestão estratégica dos insumos aproveita oportunidades de compra e minimiza oscilações de preço, fortalecendo a saúde financeira da propriedade. Dessa forma, a adoção dessas inovações eleva tanto as margens de lucro quanto a competitividade do negócio leiteiro no mercado.
Elder Tonon Zootecnista, franqueado Nutron
Dra Gisele Dela Ricci
PHD e Consultora Técnica na Mundo Agro
BIOSSEGURIDADE
NA PRODUÇÃO DE SUÍNOS
Abiosseguridade é um conjunto integrado de medidas e práticas essenciais para prevenir a entrada e a disseminação de doenças em granjas de suínos. Diante da expansão dos sistemas intensivos e do aumento dos riscos sanitários, torna-se imprescindível reforçar as políticas de biosseguridade nas granjas. Medidas estruturadas e contínuas são fundamentais para manter a estabilidade produtiva e assegurar a sustentabilidade da cadeia suinícola.
No campo, essas medidas envolvem o isolamento da propriedade, instalação de cercas, restrição rigorosa de acessos de pessoas, veículos e equipamentos, além do uso de arcos de desinfecção na entrada das granjas. O controle eficaz de pragas e vetores, como roedores, aves e insetos, é imprescindível. A higienização adequada das instalações, materiais e equipamentos complementa essa estratégia, junto à prática do vazio sanitário, em que os ambientes permanecem vazios, limpos e desinfetados antes da entrada de novos lotes, interrompendo ciclos de transmissão de patógenos.
Outro pilar da biosseguridade é o programa sanitário, que reúne vacinação estratégica, monitoramento da saúde animal e manejo adequado. Essas ações protegem os suínos contra doenças comuns e emergentes, garantindo um rebanho saudável. Evitar o uso profilático indiscriminado de antibióticos é fundamental para prevenir resistência bacteriana e preservar a segurança dos alimentos.
A gestão eficiente da biosseguridade exige equipes capacitadas e um planejamento criterioso dos
fluxos de pessoas e animais. O produtor deve assegurar que todos compreendam e sigam os protocolos, pois falhas pontuais podem afetar a saúde de todo o rebanho.
A biosseguridade também se configura como um diferencial competitivo nos mercados nacional e internacional, que demandam alimentos seguros e produzidos sob rigorosos padrões sanitários. A adoção dessas práticas reduz perdas econômicas, melhora a produtividade e fortalece a imagem da cadeia produtiva perante os consumidores.
Deste modo, a biosseguridade deve ser encarada como um investimento indispensável para o sucesso da suinocultura moderna. Ela protege os animais, reduz custos e impactos ambientais, reduz a dependência de medicamentos e assegura a sustentabilidade da atividade, alinhando saúde animal, qualidade do produto e eficiência econômica.
Dra. Gisele Dela Ricci PhD e consultora técnica na Mundo Agro