O Único Protagonista

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o ÚNICO UD

eus Espírito Santo, tende piedade de nós ...". O pensamento vai até Nicodemos (cf. Jo 3). "Como pode um homem? .. Como isso pode acontecer? ..". Nicodemos representa a todos nós, seguros do nosso saber, espertos em fazer julgamentos. Nicodemos exibe a nossa pretensão em medir a realidade divina com uma medida humana. Diante da incrível revelação, Nicodemos permanece cético. De fato, acaba batendo contra a barreira do impossível e parece ainda transtornado, não consegue retomar o fio da meada. Maria, diante dessa barreira, se abriu ao dom do alto. Ele, ao contrário, se fecha ainda mais em si mesmo, confuso com os próprios pensamentos. Nicodemos permanece com os pés firmemente plantados no campo que lhe é familiar, aquele da possibilidade humana. Pensa exclusivamente em termos de esforço da parte do homem. Nicodemos, raciocinando conforme os próprios esquemas teológicos, vê unicamente o próprio esforço para subir até Deus, com a prática da Lei. Não consegue compreender a ideia de um Deus que desce até ele, de um Espírito que o alcança no perímetro restrito do próprio raciocínio, e o arremessa para um horizonte inirnaginável. Continua a pensar em fazer, e se revela incapaz de deixar-se fazer. "Aquele que nasce da carne é carne, e aquele que nasce do Espírito é espírito ...". O Espírito leva a "carne" a tomar consciência da própria miséria, dos próprios limites intransponíveis, e o pedido para superar-se. Tentemos reconstruir a cena. Nas profundezas da noite, se enfrentam duas figuras, num denso diálogo. Uma delas é um ancião educado,

PROTAGONISTA Aquele vento impetuoso e imprevisível...

perfeito, cheio de si. A certo ponto é como se entrasse um vento imprevisível que embaraça os cabelos brancos - e não só eles - de Nicodemos. Gracejos do vento. Mas este é um vento diferente. Nicodemos aguça os ouvidos: "O vento sopra onde quer e ouves o seu ruído, mas não sabes de onde vem nem para onde vai. Assim acontece com todo aquele que nasceu do Espírito". Jesus coloca em destaque a inconsistência do saber do sábio Nicodemos. E reduz a cacos o saber do seu interlocutor. "Sabemos ..." . "Não sabes de onde vem nem para onde vai". O teu saber humano não conseguirá nunca fixar, determinar, nem ao menos capturar as trajetórias do Espírito que, como o vento, é irnprevisível e incompreensível. Os teus esquemas doutrinais, Nicodemos, nunca te farão encarcerar a ação do Espírito. "Não sabes de onde vem nem para onde vai". Eu escolho Deus, mas Deus não escolhe, obrigatoriamente, as minhas escolhas. Ele pode responder-me com uma resposta diferente daquela que espero. Deus pode sempre manifestar-se de acordo com formas e tempos que eu não consigo absolutamente programar. É o Espírito que tem o controle da situação. Trata-se de "deixar-se conduzir". Se nos abandonamos à sua força, o Espírito será capaz de transpor também as resistências mais duras. Devemos deixar-nos traspassar pela luz do Espírito, mesmo se depois muitas coisas ainda permanecerem no escuro. Devemos deixar-nos envolver pelo Espírito, nos elevar por Ele, nos levar por Ele, e não querermos nós amarrá-lo na dolorosa teia dos nossos pensamentos. PADRE ALESSANlllUl P1l0N7.iTO

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