Revista Inspira #5

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inspira ABRIL 2020 EDIÇÃO #5

DOSSIÊ DO SONO

Você passa 1/3 da sua vida dormindo. Que dimensão é essa para onde vamos quando não estamos despertos? Desvendamos os mistérios do sono e os tesouros que ele guarda. Nutrição da alma

O sagrado em você

A voz da intuição

Comendo as cores do arco-íris para equilibrar os chakras

Como utilizar a mitologia como forma de autoconhecimento?

Ela existe mesmo? O que é esse estranho modo de sabedoria?


Compartilhe a sua história com a gente! Quem sabe ela inspira alguém que está passando pela mesma situação? Escreva para a Revista Inspira!

Foto: Neel/ Unsplash

E-mail: movimentoinspira@gmail.com Assunto: Minha História Inspira


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Editorial

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CONHECE-TE A TI MESMO “... e conhecerás o universo e os deuses”. Essa frase está inscrita no Templo de Delfos, na Grécia. Lá, Sócrates teria recebido do oráculo a mensagem de que era o homem mais sábio que existia. Sobre isso, o filósofo teria respondido: “Só sei que nada sei”. Conhecer a si mesmo é o caminho para conhecer a todas as outras coisas. Mas é quando nos curvamos à sabedoria que existe dentro de nós mesmos que os mistérios começam a ficar cada vez mais indecifráveis. E é aí que só podemos concordar humildemente que não sabemos nada. O incognoscível é uma porção do sagrado que habita a nós mesmos. Vez ou outra, entretanto, ele decide fazer uma ponte. Essa conexão pode ser vista em fenômenos como a estranha voz da intuição e nos

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sonhos, os filmes noturnos fabricados em nossa mente, que são tema de nossa matéria de capa – junto com o sono, seu veículo condutor e fonte de saúde. E, se conhecendo a si mesmo, podemos ter respostas sobre os deuses e o mistério da vida, o inverso também é verdadeiro. Conhecendo (um pouco) dos arquétipos dos deuses, podemos conhecer uma parte de nós. Nesta edição, temos a estreia de nossa nova coluna, Imago Mundi. A finalidade é terapêutica e nada religiosa. Você verá a mitologia como ferramenta de cura. Esperamos que gostem! Em meio a tempos incertos e de isolamento, a única saída possível é para dentro de nós mesmos. Aprecie a sua companhia! O mistério que há nela pode guardar as respostas que você tanto procura.

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Sumário

O SAGRADO EM MIM

22

DOSSIÊ DO SONO

42

A MÃE SOU EU

22 ALIMENTAÇÃO ARCO-ÍRIS

32

LENDO AS MENSAGENS DOS SONHOS

50

INTUIÇÃO EXISTE?




ÍNDICE Gira Mundo 8 Escola na Irlanda substitui lição de casa por atos de bondade 9 Mais arte, menos cortisol 10 Canadenses se unem e compram terra imaculada para salvá-la da exploração 11 Novo telescópio será capaz de ver coisas que aconteceram há 13 bilhões de anos

#desafioinspira 13 30 dias filtrando as notícias

Imago Mundi 16 Como encontrar o sagrado em mim? Mitologia para fins terapêuticos

Alimentação 22 Comendo um arco-íris Como o espectro solar pode nutrir a sua alma?

Capa 30 Os mistérios do sono

Como o ato dormir (e sonhar) moldou nossa civilização, dicas para combater a insônia e um mapa do mundo dos sonhos

Autoconhecimento 42 Criando um sonhário

Aprenda a encontrar respostas nos seus sonhos

ASSINATURA GRATUITA REVISTA DIGITAL

Minha história inspira 50 Eu sou a mãe!

Quando seu filho nasce em outra barriga

Geografando 52 Minha viagem não saiu como planejei. E agora?

Holístico 52 Intuição existe?

De onde vem essa estranha sabedoria?

5 dicas 54 5 dicas para despertar a sua intuição

Sua vida nas estrelas 54 As nakshatras dos signos de terra

Leia! 54 Koan: grandes sabedorias em poucas palavras

Receita 58 Sanduíche de pepino com cream cheese

Inspirações do mês 61 Indicações de leitura, séries, aplicativos e muito mais para inspirar o seu mês

A Revista Inspira compartilha do formato e da diagramação das revistas impressas, mas é 100% digital para leitura em qualquer dispositivo eletrônico.

LEITURA SONORA

Especialmente nesta edição, não tivemos leitura sonora, por conta da quarentena. Mas você também encontra a Revista Inspira no Spotify, no SoundCloud e no YouTube. Em nosso site, você se informa melhor sobre como acessar esse conteúdo.

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Gira Mundo EDUCAÇÃO

Escola na Irlanda substitui lição de casa por atos de bondade Lição de casa: ajude alguém! Essa realmente foi a proposta que uma escola na Irlanda fez para seus alunos durante um mês. Foto: Annie Spratt/ Unsplash

Já ouviu falar que valores vêm de casa? A Gaelscoil Mhíchíl Uí Choileáin, uma escola na Irlanda, decidiu mostrar que é possível, sim, ensinar valores como bondade, gentileza e empatia nas salas de aula. Afinal, muito mais do que matemática, línguas e ciências, a escola é uma das primeiras e mais marcantes experiências de socialização que temos na vida. Durante o mês de dezembro, os alunos ficaram livres de todo dever de casa. Em troca, eles teriam que praticar ao menos um ato de bondade por dia – de ajudar um estranho na rua ou até mesmo em sua família. O segundo passo era escrever sobre isso em uma espécie de diário. As histórias eram compartilhadas com os colegas sempre no dia seguinte.

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Outra parte do programa consistia em uma urna da bondade. Nela, eram depositados bilhetes com observações positivas de um colega para o outro. Na sexta-feira, algumas dessas mensagens eram sorteadas e lidas em voz alta para que todos pudessem ouvir. “Nossa mensagem para as crianças é muito simples: elas podem ser a razão pela qual alguém sorri hoje e podem ajudar a tornar este mundo um lugar melhor para os outros e para si mesmos”, explicou a diretora do colégio. Estimular a gentileza é o caminho para um mundo de mais amor. Ideia maravilhosa de ser aplicada nas nossas escolas também!


SAÚDE MENTAL

Mais arte, menos cortisol Quarenta e cinco minutos trabalhando em alguma atividade artística são suficientes para reduzir os níveis de estresse no organismo. Foto: Artem/Pexels

Qual foi a última vez que você fez alguma coisa artística? Uma pesquisa da Universidade Drexel, nos Estados Unidos, constatou que 45 minutos de atividade artística são o suficiente para que haja uma diminuição expressiva de cortisol, hormônio do estresse, em nosso corpo. O estudo, publicado no Jornal da Associação Americana de Arteterapia, observou um grupo de 39 participantes – entre 18 e 59 anos. Por meio da saliva, foi possível medir os níveis de cortisol dos participantes antes e depois de passarem 45 minutos desenvolvendo artes com a ajuda de argila, materiais de colagem, marcadores e papel. Não foi dada instrução alguma, de modo que poderiam deixar a criatividade fluir. Ao final, os pesquisadores concluí-

ram que 75% dos participantes tiveram seus níveis de cortisol diminuídos durante o período observado. Quanto maior o nível de cortisol, mais estressada uma pessoa está. Quanto menor o cortisol, mais relaxada e tranquila. Sobre os 25% dos participantes que tiveram seus níveis de cortisol aumentados durante a atividade, a professora Girija Kaimal afirma que já era esperado: “Alguma quantidade de cortisol é essencial. Por exemplo, nossos níveis de cortisol variam ao longo do dia – os níveis são mais altos pela manhã, porque isso nos dá um impulso de energia no início do dia. Pode ter sido que a arte resultou em um estado de excitação nos participantes do estudo”. Quer relaxar? Desengavete aquele livro de colorir!

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Gira Mundo SUSTENTABILIDADE

Canadenses se unem e compram terra imaculada para salvá-la da exploração Financiamento coletivo é solução do povo para preservar a natureza canadense e poupá-la da exploração. Foto: Ivana Cajina/ Unsplash

O Canadá não é só frio e neve, o país também abriga muitos parques naturais de beleza extraordinária. Entretanto, com o desenvolvimento, muitas terras imaculadas têm sido ameaçadas de chegarem ao fim. Sem confiar na proteção do governo, canadenses se uniram em um esforço de financiamento coletivo que conseguiu arrecadar US$ 3 milhões de dólares e comprar uma propriedade de 800 hectares na região costeira de Colúmbia Britânica. A intenção com isso é a de salvar a natureza da destruição. De acordo com Andrew Day, CEO do grupo sem fins lucrativos que organizou o projeto de arrecadação (o B.C. Parks Foundation), essa terra comprada com a colaboração do povo já tinha chamado atenção de algumas empresas ma-

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deireiras e incorporadoras. O objetivo agora é que a área se transforme em um parque natural que trabalhará em parceria com a população indígena Sechelt e com o governo da província para descobrir os detalhes de como preservar a terra. “Faremos o possível para garantir que essa área fique protegida para sempre”, garantiu Andrew Day em entrevista à CBC. Se você está pensando que essa foi uma mobilização de alguns milionários, engana-se. O mais bonito é que as doações partiram de muitas partes. O organizador revela que muitos trabalhadores de salário médio apoiaram a captação de recursos com o que tinham, como quantias a partir de US$ 10 dólares.

A natureza agradece!


CIÊNCIA

Novo telescópio será capaz de ver coisas que aconteceram há 13 bilhões de anos Novo telescópio conta com uma tecnologia capaz de observar o passado do universo e buscar sinais de vida em planetas de fora do sistema solar. As agências espaciais dos Estados Unidos, Canadá e Europa se uniram na construção de um telescópio espacial que tem previsão de ser lançado em 2021. O diferencial dessa nova peça da engenharia é o Miri (instrumento infravermelho médio), uma ferramenta projetada por engenheiros da Escócia capaz de medir a faixa de comprimento de onda de radiação infravermelha média. Com isso, será possível que olhemos para o passado, para milhões de anos após o Big Bang, que teria ocorrido há mais de 13,5 bilhões de anos. Isso será possível devido ao limite de velocidade da luz. Já ouviu aquela história de que uma estrela que vemos no céu hoje já está morta? Isso acontece porque, uma vez que sua distância de nós é de um bilhão de anos-luz, por exemplo, o que estamos vendo é uma imagem de um bilhão de anos atrás. Esse é o tempo que a luz dessa estrela demora para chegar até

Foto: Yuting Gao/ Pexels

aqui. A importância disso é a de reunir mais informações sobre as origens de nosso planeta e de processos estabelecidos tempos após o Big Bang. "Acreditamos que as primeiras estrelas que se formaram eram muito grandes e deram início à cadeia de produção dos elementos e das estrelas que vemos ao nosso redor", disse Gillian Wright, pesquisadora europeia do Miri em entrevista concedida à BBC. Outro trunfo do telescópio espacial James Webb (JWST) – como foi nomeada a invenção – é que o Miri também permitirá uma melhor observação da atmosfera de planetas que estão fora do Sistema Solar, possibilitando a busca de sinais de vida extraterrestre. Uma tecnologia que promete respostas para perguntas que fazemos há milhares de anos. Estamos sozinhos no espaço?

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BOB PROCTOR 12 inspira re vi sta

Foto: Ogo/ Pexels

"Comece o hábito de pensar apenas no que você QUER!"


IDENTIFIQUE OS GATILHOS O que te faz buscar automaticamente notícias ruins? É o hábito de tomar café da manhã com a televisão ligada? Modifique isso. É a ansiedade de não saber como lidar com o que está acontecendo? Medite ou estude algo que vai ser útil para você profissionalmente, por exemplo. Assim, você sente que já está fazendo tudo o que está no seu controle. NOTIFICAÇÕES DO BEM Ative para receber notificações nas redes sociais dos seus perfis favoritos. Normalmente, aqueles cujo conteúdo só fala de coisas boas e amenas. Toda vez que esse perfil postar, vai chegar uma mensagem para você. Assim, você não precisa ficar vendo todo tipo de conteúdo no feed. Ative as notificações da Revista Inspira no Instagram também! TEMPO CONTADO Determine, por exemplo, 30 minutos por dia para acompanhar as notícias. Durante esse período, você poderá conferir todas as informações e rolar o seu feed do Instagram exposto a qualquer informação. Faça isso quando seu cérebro estiver descansado.

desafio 30 dias filtrando as notícias Em períodos de crise e de incertezas, somos bombardeados de informações que vêm de todos os lados: televisão, rádio, grupos de WhatsApp, influenciadores e amigos nas redes sociais. Como tudo é incerto, é natural que tenhamos a curiosidade – e até mesmo a necessidade – de tomarmos conhecimento do que está acontecendo no mundo a fim de encontrarmos algum ponto de estabilidade e esperança. Mas aí nos perdemos em um turbilhão de informações. Algumas são falsas; outras são reais, mas são péssimas. De qualquer forma, se ficarmos expostas a elas por muito tempo, não tem jeito: elas abaixam a nossa energia vibracional e de repente estamos ansiosos, preocupados e superbloqueados.

O nosso desafio para esse mês é que você filtre as informações que chegam até você, o que é uma maneira também de filtrar o que você permite circular em meio aos seus pensamentos. Lembre-se: pensamentos conduzem a sentimentos e se sentir bem é fundamental para nossa saúde mental e física também! O estresse baixa a imunidade e nos deixa mais vulneráveis a doenças de qualquer espécie. Então siga esse planejamento que colocamos aqui do lado e vem com a gente em mais um #desafioinspira.

Imagem: Freepik

RENOVE O SEU REPERTÓRIO Quando alguém vier lhe contar alguma notícia dessas que lhe fazem mal, mude de assunto! Introduza assuntos mais positivos na conversa. Falar sobre humor, séries ou lembranças positivas partilhadas pode desviar um assunto chato e proporcionar uma interação muito mais feliz entre você e a outra pessoa.

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Foto: Ben White/ Unsplash


“A eternidade não significa ter tempo infinito. Significa atemporalidade. ‘Se quer vivenciar a iluminação infinita, precisa tirar o passado e o futuro da sua mente. E permanecer no presente’.” Shams-i Trabrizi citado em O Segredo do Templo.


Imago Mundi

como encontrar

o sagrado em mim? Essa é a estreia da nossa coluna terapêutica Imago Mundi. Aqui, contaremos histórias mitológicas que pautaram o mundo e que vivem dentro de cada um de nós. A finalidade é curativa. Você lê, reflete quais arquétipos está alimentando em você e age em conformidade e compaixão com a sua essência. Neste artigo, falamos sobre o divino em nós e sobre ritualizar a vida.

Uma antiga lenda indiana conta que, no princípio, todos os homens e mulheres eram deuses. Então, eles começaram a abusar dessa condição divina e Brahma, o mestre dos deuses, tomou a decisão de lhes retirar o poder divino e escondê-lo até que fossem merecedores de encontrá-lo e de assumir novamente sua forma de deuses. Mas qual seria o esconderijo perfeito? Alguns deuses sugeriram que Brahma escondesse a divindade humana nas profundezas da terra. Mas Brahma anteviu que a vontade do homem o faria escavar por toda a superfície terrestre e ele logo encontraria o tesouro sem ainda estar pronto para isso. Outros, sugeriram que Brahma jogasse a tal porção divina no fundo do oceano mais profundo. E Brahma novamente recusou. Em algum momento, a inteligência do homem seria capaz de colocá-lo no fundo do mar e ele tomaria sua divindade ainda sem estar preparado para tanto. Sem saber como resolver a situação,

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Brahma pediu ajuda ao grande deus Shiva, que encontrou uma solução: esconder a divindade nas profundezas do próprio homem. O homem remexeria céus e terra. A última coisa que buscaria seria conhecer a si próprio. Esquecemos quem fomos um dia, mas algo ficou em nossa memória molecular. Sentimos saudade da época em que éramos inteiros e infinitos. Imagens do divino nos despertam fascínio. Lembro-me bem da sensação que tive ao entrar em contato, pela primeira vez, com ilustrações dos deuses de formas humanas da Grécia Antiga que povoavam as páginas do meu livro de História da terceira série. Ou da icônica cena de Marilyn Monroe segurando seu vestido quando um vento a surpreende, semelhante à Vênus soprada por Zéfiro, o deus do vento, em seu nascimento retratado pelo renascentista Sandro Boticcelli. Há algum motivo incompreendido para que imagens como essa fiquem gravadas na mente da humanidade.


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Algo dentro de nós nos puxa para uma partícula do que um dia fomos e isso nos desperta um desejo imanente: queremos ser especiais. Acreditamos que seremos especiais quando algo de fora puder confirmar isso: casar-se, para que a pessoa amada nos dê algum sentido do porquê de estarmos aqui; ter milhares de diplomas, para afirmar que escalamos ao topo da consciência racional humana; ou morar em uma cobertura para acreditar que do alto do Olimpo de concreto pode se considerar um pouquinho Zeus. Estamos, como no conto, buscando a divindade em oceanos sem tesouros e em terras não fecundas. Ainda não criamos a consciência de que o divino é invisível – o que significa dizer que só pode ser visto olhando para dentro.

RITUALIZAR A VIDA Assim como a lenda indiana é reveladora em nos mostrar o caminho, os mitos e contos contados desde o início da humanidade nos fazem acessar, por meio de uma linguagem simbólica, as chaves para o (re)conhecimento e para o acesso ao divino em nós. Eles ressoam com experiências humanas compartilhadas e recorrentes. Mas é mais do que isso, os mitos elevam nossa consciência a enxergar uma dimensão mítica da vida. Nos colocam como parte de um todo, e por isso fazem com que sejamos infinitos, eternos. Organizam o caos, e por isso nos apresentam nossa possibilidade do sagrado e entrelaçam nossas vidas com algo maior,

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com mais propósito. Eles apontam para a oportunidade de ritualizarmos a existência. Se há uma grande mente criadora de tudo o que existe, essa mente funciona como a de um grande artista. Todo artista cria a partir de suas experiências, de algo que um dia lhe tocou. Dessa forma, nós somos uma centelha de algo que um dia deixou marcas na mente criadora. Somos importantes. Cada um de nós tem sua razão poética de ser. Tem valor artístico. Para Platão, o filósofo, todas as coisas nascem primeiro no Mundo das Ideias. Então, a matéria se inspira e se organiza para manifestar aquela ideia, aquele modelo original. As coisas manifestadas nunca ficam iguais à ideia que as originou. E, para ele, evoluir seria justamente ir em busca de corresponder ao arquétipo do qual se foi criado. O que exige – mais uma vez – o mergulho interior, conhecimento e coragem para a transformação. Na busca da integridade de si, somos confundidos pela cultura da época com estereótipos de quem deveríamos ser ou que devemos nos conformar em continuar sendo. E se, em vez disso, focássemos na riqueza simbólica de arquétipos universais e atemporais? E se, em vez de procurarmos nos encaixar em modelos artificiais, procurássemos criar uma narrativa singular a partir dos erros e acertos de personagens milenares que habitam nosso inconsciente e que estão relacionados à própria natureza humana? E se pudéssemos inventar a nossa própria vida a partir


de uma fonte interior?

A DIVINDADE EM MIM A romancista Alice Walker, autora de A Cor Púrpura, nos leva a concluir que imaginamos deus e colocamos nele ou nela as qualidades de que necessitamos para sobrevivermos e crescermos. Dessa maneira, é como se estudar a mitologia de deuses pudesse nos fornecer mapas mentais de conexão com nossa parte mais instintiva. Aquela parte que temos sufocado e que nos leva a repetir padrões, situações que machucam e sentimentos que vez ou outra voltam a nos perturbar e a roubar nosso poder pessoal. As histórias de deuses e deusas, seus dramas, aspectos negativos, forças e tendências pessoais têm muito a nos ensinar. Não falamos de ouvir suas histórias com fé, isso é uma escolha religiosa pessoal. Falamos aqui da escuta pedagógica de histórias que sempre vão ressoar em algo que temos dentro de nós (seja positiva ou negativamente) e nos levarem a encontrar sentido e crescimento pessoal. Há muito tempo a medicina ancestral hindu receita histórias para que pessoas com dificuldades emocionais e mentais possam meditar e encontrar suas próprias soluções para seus problemas. Uma boa história nos conecta com algo que fica submerso na lógica racional do dia a dia e nos põe em contato com algo mais primitivo dentro de nós mesmos.

sagrado que nos habita. Essas histórias exigirão de você três coisas: atenção, reflexão e ação. Será um processo terapêutico! Para começar, fica a tarefa: não duvide do que um simples ato cotidiano pode fazer por você energeticamente. Arrumar a mesa para jantar, mesmo que você coma sem companhia, pode lhe colocar em contato com forças primordiais, como a da deusa Héstia, a deusa do lar, que apreciava sua própria companhia. E que autoconfiança isso desperta! Sair de casa e caminhar sem rumo, apenas pela curiosidade de ver o que está acontecendo, se sentir livre, pode ativar nosso Hermes interno, o mensageiro. Tomar um bom banho, escolhendo sabonetes com aromas especiais, pode trazer as sensações de amor-próprio que despertam a Afrodite de qualquer pessoa. Teste isso a partir de agora! Qual deus ou deusa você precisa ativar neste momento dentro de si mesmo? Saiba que todos eles são uma potência de você mesmo. Ritualize a vida, coloque consciência em tudo, esteja inteiro na experiência e o sagrado que existe em você vai limpar a poeira e se libertar do esconderijo em que esteve guardado há tanto tempo!

Vamos testar esse potencial de cura juntos? Nas próximas edições dedicaremos essa coluna para a contação de histórias e para a conexão curativa com o

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Alimentação

Comendo um

arco-íris como o espectro solar pode nutrir a sua alma? Somos feitos de corpo e alma, e a alma também precisa de alimento. Gabriel Cousens, médico e mestre espiritual norte-americano, é o canalizador da “dieta arco-íris”. Na matéria abaixo, comentamos sobre os benefícios dessa alimentação que mistura a energia do Sol, as cores dos alimentos e a nutrição de nossos aspectos mais subjetivos a partir dos chakras.

O cientista e astrônomo Carl Sagan tinha uma frase que ficou muito famosa: “Se você quiser fazer uma torta de maçã a partir do zero, você deve primeiro inventar o Universo”. Já pensou nisso? Se não fosse um conhecimento comum, nós – que moramos em cidades urbanizadas – talvez passaríamos a vida acreditando que as coisas que comemos nascem de alguma salinha dentro do supermercado. Quando pensamos no processo de produção de uma maçã, por exemplo, o mais próximo que nossa mente pode nos levar às origens dessa fruta é à relação do agricultor com a terra. Mas não refletimos sobre todo o encadeamento bioquímico e energético empreendido pelos elementos da natureza para que, um dia, a semente tenha virado macieira; para que só então, um dia, a macieira tenha decidido dar frutos que, um dia, estarão na nossa torta. A distância nos afasta do fascínio que

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esses alimentos exercem naturalmente sobre nós. Você pode comer receitas feitas com muito queijo, carne ou industrializados e achar uma delícia, mas é sempre aquele colorido que vem do reino vegetal que vai fazer com que vejamos a beleza em nossas mesas. É exatamente disso que o médico de formação e mestre espiritual Gabriel Cousens fala em seu livro Spiritual Nutrition: Six Foundations for Spiritual Life and the Awakening of Kundalini (ou, em tradução livre, “Nutrição espiritual: seis princípios para uma vida espiritual e para despertar a kundalini”): sobre uma nutrição que não se conecte apenas com a saúde do corpo, mas também com a saúde da alma. Uma alimentação que possa nos religar e elevar espiritualmente a partir do realinhamento com a vibração primordial que tudo criou. Se você passou por uma tempestade, talvez tudo o que a sua alma precisa é do


Foto: Freepik

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arco-íris que vem logo em seguida. De acordo com Cousens, que é também diplomata do Conselho de Medicina Holística dos Estados Unidos, os alimentos vegetais são a luz solar condensada e colorida, refletindo os mesmos padrões do espectro de um arco-íris. “Comida é energia e também matéria. A cor dos alimentos é fundamental para o padrão energético dos alimentos e como seus nutrientes biomoleculares serão ligados a células específicas e tecidos em nossos corpos. A cor de um alimento é a sua assinatura”, explica em seu livro.

Em seu centro no Arizona, o Instituto Tree of Life, o médico holístico recomenda a seus pacientes alimentos naturais de cores diferentes responsáveis por energizar, equilibrar e curar os chakras das cores correspondentes. Os chakras são um conceito da tradição hindu. Em poucas palavras, chakras são vórtices de energia localizados ao longo da coluna vertebral. São sete, ao todo, e cada um corresponde a uma das cores do arco-íris e a diferentes aspectos do ser humano: físicos, emocionais, mentais e energéticos.

"Comer alimentos pelas suas cores é como comer uma determinada cor do Sol. Isso nos aproxima das forças da natureza”.

Há muitos anos que a cromoterapia e a ciência alegam a influência das cores em nosso aparelho psíquico. Normalmente, essas experiências falam do efeito da visualização de cores, e não da ingestão de cores. O método de cura que Gabriel Cousens descobriu intuitivamente investe justamente na segunda experiência. De acordo com ele, “comer alimentos pelas suas cores é como comer uma determinada cor do sol. Isso nos aproxima das forças da natureza”.

Apesar de toda essa aura espiritual, a Dieta Arco-Íris – como Gabriel Cousens chama seu método – não é apenas o despertar de uma cura espiritual, ele também sugere que a dieta estimule a manutenção de uma boa saúde física dos órgãos correspondentes a cada chakra. Uma vez que cada chakra compreende também os respectivos órgãos e glândulas de seus arredores, o alimento da cor correspondente seria capaz de energizar, limpar e reequilibrar essas partes de nosso organismo também.

GABRIEL COUSENS

COMO FUNCIONA?

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Seguindo a teoria da dieta do arco-íris, alimentos verdes, por exemplo, corresponderiam ao chakra cardíaco, localizado no coração. Além de inspirar a manifestação do amor incondicional nos corpos mais sutis, ao consumi-los estaríamos levando saúde para os órgãos nas proximidades do chakra. Vale lembrar que, em concordância com estudos científicos, alimentos vegetais verdes são ricos em cálcio, magnésio e potássio, que são muito importantes para a função cardíaca. De acordo com o médico e escritor, na Dieta Arco-íris: “o foco não está na terapia das cores como tratamento para doenças, mas como um caminho natural através de nossas dietas diárias para equilibrar e tonificar o

os chakras individuais e o sistema de chakras como uma unidade. É para manutenção da saúde em todos os níveis”. De uma linha holística, Cousens defende os benefícios da alimentação viva e vegeratiana há muitas décadas. Dessa forma, ele exclui junk foods, fast foods, alimentos com corantes, congelados ou de micro-ondas da sua cartela de cores. As carnes também não entram na lista, pois segundo ele – além de não serem harmônicas com a natureza – estimulam muito o primeiro chakra, o chakra raiz, bastante conhecido por sua ligação com o terreno e com a sobrevivência no mundo material. De outro lado, pode-se ingerir: vegetais, frutas, nozes, sementes e grãos. E abre-se uma exceção para ovo-lacto-vegetarianos, que podem – de acordo com ele – continuar consumindo ovos. As cores de cada alimento normalmente são as que se encontram na parte externa de cada vegetal, pois é a superfície refletora, a parte que entrou em contato direto com a luz. No box das páginas seguintes, apresentamos exemplos de vegetais relacionados a cada chakra e os benefícios espirituais que podemos colher a partir da ingestão

corpo,

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Ilustração: nightwolfdezines/ Vecteezy

Ele ampara suas conclusões em uma experiência feita por ele mesmo utilizando a técnica de sinal autonômico vascular (em inglês representada pela sigla VAS). Apesar da experiência não ter seguido o rigor científico e ter um caráter bem inicial, ele afirma ter sido possível observar as reações positivas de cada parte do corpo, relacionadas a diferentes chakras, diante de alimentos de suas respectivas cores.


de cada um deles. Na dieta arco-íris nenhuma cor ou chakra deve ser deixado de lado. Apesar de que, haverá dias em que certas cores serão mais atraentes do que outras, e aí basta seguir a intuição. No cronograma original de Gabriel Cousens, ele indica, pela manhã, consumir alimentos majoritariamente vermelhos, laranjas e amarelo-dourados (três primeiros chakras). Ao meio-dia, amarelo-dourados, verdes e azuis (do terceiro ao quinto chakras). À noite, do quinto ao sétimo chakras: alimentos nas cores azul, índigo, violeta-roxo e branco ou dourado. Alimentos brancos, como a couve-flor (e os ovos), representam todo o espectro do arco-íris junto e podem ser usados em qualquer refeição. E é claro que você pode comer um tomate, que é vermelho, no almoço também. Mas a ideia é que as cores predominantes do seu prato sejam as indicadas acima. Uma boa forma de integrar essas cores no seu dia a dia é com sucos, saladas e sopas. Se alimentar assim não vai fazer de você um iluminado, mas pode trazer mais harmonia e centramento para a sua vida.

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VIOLETA

VERMELHO

Chakra coronário: energiza o cérebro e por isso regula o sono, o apetite e o humor. Relacionado à espiritualidade e à sensitividade. Traz a consciência de que a vida está ordenada a um propósito. Felicidade. No corpo físico: glândula pineal. Alimentos: berinjela, batata doce roxa, beterraba, repolho roxo, cebola roxa, amora, ameixa, figo.

Chakra da base: quando alinhado, proporciona motivação e vontade, poder de concretizar planos. No corpo físico: rege as estruturas que dão sustentação ao corpo físico, como ossos, músculos, coluna vertebral, quadris, pernas e pés. Glândula suprarrenal, rins, próstata, útero, circulação sanguínea, tensão arterial e nervosa. Alimentos: maçã, tomate, pimentão vermelho, cereja, framboesa, uvas vermelhas, morango, melancia.


LARANJA Chakra sacro: quando alinhado, desperta a criatividade, a fertilidade e a energia sexual equilibrada. No corpo físico: testículos, ovários, toda a área genital e urinária. Alimentos: cenoura, abóbora, abóbora cabotiá, inhame, batata doce, laranja, manga, mamão, damasco.

AMARELO Chakra umbilical: nele ficam retidas emoções densas como a raiva, a mágoa, o medo, a tristeza e a ansiedade. Por isso é preciso sempre equilibrá-lo. Quando alinhado, nos leva a um poder de realização e a confiar em nós mesmos. No corpo físico: pâncreas, vesícula, fígado, aparelho digestivo. Alimentos: milho, banana, pêssego, abacaxi, melão, pêra e nectarina. De acordo com Cousens, frutas cítricas também entram na classificação do amarelo.

VERDE

AZUL/ÍNDIGO

Chakra cardíaco: fica no meio, e tem por função equilibrar as energias de todos os outros chakras. Está relacionado à expressão do amor, compaixão e do altruísmo e ao amor por si e pela própria vida. Alinhá-lo leva com que nos tornemos um canal para que o amor chegue ao mundo. No corpo físico: coração, glândula timo, sistema imunológico e cardiorrespiratório, mamas. Alimentos: todas as folhas verdes, brócolis, abacate, pepino, abobrinha, repolho, pêra.

AZUIS Chakra laríngeo: quando bem cuidado, ele impede que energias mais emocionais cheguem até a nossa cabeça. É responsável por uma boa autoexpressão e comunicação. No corpo físico: tireóide, boca, garganta, vias respiratórias. ÍNDIGO Chakra frontal: cuida da nossa imaginação e intuição, assim como do poder de raciocínio e de aprendizagem. Quando desalinhado, pode levar à congestão mental. No corpo físico: olhos, nariz, glândula pituitária e lobo frontal. Alimentos: mirtilo, ameixa, uvas cabernet. (Tanto para o laríngeo quanto para o frontal).

Ilustração: Freepik

A sua alma pede que cor?


“Matar o sonho é matarmo-nos. É mutilar a nossa alma. O sonho é o que temos de realmente nosso, de impenetravelmente e inexpugnavelmente nosso.” Bernardo soares Heterônimo de Fernando Pessoa


Foto: Johannes Plenio/ Pexels


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Foto: Andrea Piacquadio/ Pexels


Matéria de Capa

OS MISTÉRIOS DO

SONO

Passamos 1/3 da nossa vida dormindo, mas ainda assim o momento do sono é cercado por mistérios. Ao lado de outros impulsos básicos da vida, como comer e beber, o sono também é vital. De pirâmides à canção Yesterday, dos Beatles, de premonição à percepção dos restos diurnos, o ato de dormir modificou a civilização em que vivemos. Leia em nosso Dossiê e esclareça muitos dos mistérios ligados ao sono.

Depois de acordar no meio da madrugada, numa série de noites mal dormidas, peguei o celular e a partir daí não consegui mais dormir. No decorrer do dia, meu humor não estava dos melhores; o cansaço mental e no corpo também estava aparente. Para combater tudo isso, algumas xícaras de café. Faço parte dos 73 milhões de brasileiros que têm dificuldades para dormir. No país, 72% da população sofre com alguma doença relacionada ao sono, segundo estudo da Royal Philips de 2018. O que tem feito a maioria das pessoas não pregarem os olhos são questões financeiras e o uso de tecnologia antes de deitar. É relativamente comum especialistas alertarem que há uma epidemia de privação de sono nos países industrializados. Mas por que isso acontece? Antes de tudo, vamos entender o que é o sono.

O RELÓGIO BIOLÓGICO Quando cai a noite, naturalmente associamos à hora de dormir. Não é uma coincidência. É nesse período que a liberação de melatonina, o hormônio do sono, chega ao ápice, por ser estimulada quando não há incidência de luz. É o nosso ritmo circadiano que determina quando iremos sentir sono ou quando estaremos em vigília, acordados. Esse é o nosso relógio biológico, com 24 horas e 15 minutos, para determinar o ciclo de um dia – daí o nome circadiano, do latim circa (cerca de) e diem (dia). Algumas pessoas, no entanto, têm o ritmo circadiano regulado para mais tarde. Como seres sociais, isso foi estratégico durante o passar dos milênios. Se todos fossem dormir no mesmo horário, o grupo ficaria vulnerável. Então, enquanto uma parte das pessoas estava dormindo, a outra estava em vigília, e vice-versa.

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Dois fatores sociais corroboram para a mudança no ritmo circadiano: a industrialização e as luzes artificiais. A industrialização mudou os nossos hábitos de dormir. Os nossos antepassados distantes tinham o sono polifásico ou bifásico; era muito incomum o sono monofásico, que é o costume de ter apenas um grande período de sono, que dura até o início da manhã.

charem as portas dos estabelecimentos para a tradicional sesta da tarde. Com o avanço da industrialização, o espaço da tarde foi ocupado pela hora do trabalho, o que empurrou para o sono em apenas uma hora do dia. Outro fator que desregula o ritmo circadiano foi a partir do século XIX com a luz elétrica. As pessoas começaram a ir dormir mais tarde, atrasando assim o funcionamento da liberação de melatonina – o que desregula o nosso relógio biológico.

Podemos ilustrar essa perspectiva com uma passagem do romance de cavalaria do começo do século XVII. No início do capítulo 68 do romance Dom Quixote de la Mancha, de Miguel de SÓ MAIS UMA XÍCARA DE CAFÉ Cervantes, é mostrado o hábito incoE se tentarmos forçar esse ciclo circamum de Sancho Pança de dormir um diano mantendo-nos acordados? único sono até o início da maAí entra em ação uma nhã: “Satisfaz Dom Quisubstância química xote as reclamações chamada adenosina, da natureza, dorpara tentar fazer mindo o primeiro uma pressão do sono sem dar lusono e aumengar ao segundo, tar o desejo de bem às avessas dormir. “Quanto de Sancho, que mais tempo você nunca teve sepassar acordado, gundo sono, mais adenosina porque dormia será acumulada. desde o cair da Pense na adenonoite até o romper sina como um bada manhã, fato em rômetro químico que que mostravam a sua registra continuamente boa compleição o tempo transe poucos cuidados”. Ainda hoje A luzes artificiais dos centros urbanos corrido desde que em dia é comum prejudicam a produção de melatonina você acordou esta manhã”, observa algumas localidae o hábito de dormir. o cientista Matdes da Espanha Quais consequências isso implica? thew Walker em Foto: Sanaan Mazhar/ Pexels e da Itália fe-

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seu

livro

Por

que

dormimos.

Mas quando estamos sonolentos e precisamos ficar acordados, geralmente, recorremos à cafeína. O que ela faz é bloquear os receptores de adenosina e, por consequência, adiar o sinal de sonolência. Esse engano que causa no cérebro começa a fazer efeito trinta minutos após a ingestão. O problema é na chamada “meia-vida” da substância, quanto tempo o corpo leva para remover 50% da contração. No caso da cafeína, essa meia-vida pode ser de até oito horas. Então tomar café no final da tarde, por volta das 18h, faz com que no organismo ainda esteja circulando a outra metade da substância até as 2h da manhã. Após a eliminação completa da cafeína, a adenosina continua presente, só que agora mais forte pela contínua restrição ao sono. É nesse momento que o efeito rebote mais forte de sonolência ocorre, sobrando duas alternativas: mais cafeína ou dormir. A eficácia da eliminação da cafeína do organismo, feita por uma enzima do fígado, também vai se perdendo com o envelhecimento. Isso faz com que sejamos mais sensíveis a doses que tomávamos na juventude. Essa conta é paga com noites mal dormidas.

A ESTRUTURA DO SONO Quando dormimos, passamos por dois ciclos de sono que se repetem durante toda a noite. Eles se baseiam na presença ou na ausência da movimentação dos olhos. O sono REM (rapid eye movement – em português "movimen-

to rápido dos olhos") e o sono NREM (Não-REM), esse último dividido em outros quatro subestágios, sem a movimentação dos olhos. Os dois ciclos são fundamentais para a nossa existência. Dependendo do tempo de sono, há a prevalência de uma dessas fases. Se dividíssemos o sono pela metade, a primeira parte ficaria, sobretudo, com o sono NREM; já a segunda parte, com a prevalência do sono REM. A cada 90 minutos esse ciclo passa de um estágio para o outro. Apesar de não ter consenso entre os cientistas sobre essa alternância, Matthew Walker coloca em questão a capacidade de armazenamento de memória no cérebro: “A interação irregular para cá e para lá entre o sono NREM e o sono REM é necessária para remodelar e atualizar nossos circuitos neurais à noite e, ao fazê-lo, administra o espaço de armazenamento finito no cérebro”. Assim, já notamos uma das funções desses dois estágios: a manutenção de memórias. Quando entramos no sono NREM, ele faz uma espécie de triagem das informações coletadas ao longo do dia, separando o que é importante do que não é importante, varrido para o esquecimento. Já o sono REM, que tem prevalência entre a segunda metade do sono, fortalece essas conexões. Caso você decida, em vez de dormir as oito horas diárias, acordar duas horas antes, além de perder 25% do sono, um percentual muito maior será perdido da função do REM, de 60% a 90%, tendo em vista que esse estágio tem prevalência durante as últimas horas de sono. O sono REM, que é o sono mais pesa-

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do, já foi conhecido como o tempo do sotes no meio de um pesadelo, mas nunnho – hoje em dia sabe-se que os sonhos ca saímos correndo, justamente porque podem ocorrer em qualquer um dos esa nossa natureza biológica foi sagaz tágios. Além do onírico, é justamente em paralisar as atividades motoras do durante o REM que os nossos ancestrais corpo para sonharmos com segurança. desenvolveram aspectos que edificaram Curiosamente, todas as espécies que a sociedade: o equilíbrio emocional. já puderam ser estudadas sobre o sono, Por isso, quando vemos uma pessoa que dormem. O sono é algo universal. Até está mal-humorada falar que não teve mesmo alguns peixes, como o tubarão, uma boa noite de sono, isso faz sentido. que nunca fecha os olhos, entra num “A partir desse QI emocional melhoraestágio equivalente ao sono. O fato do pelo sono REM de não fechar os emergiu uma forolhos, na verdade, "O prejuízo físico e mental ma nova e muito é pela falta de pálmais sofisticada causado por uma noite de pebras. O que nos de socioecologia diferencia dos ousono ruim é muito maior hominídea através tros animais em do que os causados por de vastas coletiquestão de sono é, vidades, algo que uma equivalente falta de justamente, que permitiu a criaos humanos têm alimento ou de exercício”. ção de comunidamais estágios do des de seres husono REM – talvez manos grandes, essa seja uma das emocionalmenexplicações para o te sagazes, estádesenvolvimento veis, muito interligados e intensocial. samente sociais”, defende Walker.

Matthew Walker

Outro aspecto do REM é a prevalência do sono profundo e dos sonhos. É nesse estágio que o cérebro passa por um turbilhão de movimentação, conectando as informações adquiridas durante o dia com as informações já armazenadas, das formas mais surpreendentes possíveis, às vezes até assustadoras em forma de pesadelo. Nesse caso, se lembrarmos de quando sonhamos com alguém nos perseguindo, a reatividade motora para correr ou para lutar fica latejante. Podemos acordar ofegan-

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O MELHOR REMÉDIO

A expressão “dorme, que passa” é sinônimo de cura para todo e qualquer mal – às vezes dito, é claro, de forma irônica. Fora a generalização de cura de todos os males, esse ditado popular carrega em si uma sabedoria: dormir, realmente, é um excelente remédio. E isso é comprovado cientificamente. O sono faz parte da tríade da boa saúde juntamente com a alimentação e a prática de exercícios físicos. E uma noite de sono ruim faz com que desequilibre-


mos essa estrutura. A privação de sono faz com que você coma mais, por desregular o hormônio que faz sentir fome e refrear o hormônio da saciedade. Deve entrar na conta: alinhado a uma dieta para emagrecer ou controlar o peso, dormir as horas suficientes deve estar no topo da lista de prioridades. “O prejuízo físico e mental causado por uma noite de sono ruim é muito maior do que os causados por uma equivalente falta de alimento ou de exercício”, destaca Walker.

lembranças penosas e um espaço de realidade virtual em que o cérebro mescla conhecimento presente e passado, inspirando a criatividade”, escreve Walker. O sono de qualidade como remédio beneficia todo o corpo: auxilia no fortalecimento do sistema imunológico, criando uma égide contra doenças como o câncer; auxilia na regulação da insulina e da glicose; regula o apetite e o ganho de massa muscular; favorece o sistema cardiovascular e regulariza a pressão arterial; protege e fortalece o cérebro. Todas essas benesses são equilibradas enquanto dormimos.

Outros riscos à saúde também vêm MAIS SONO associados à restrição do De acordo com estudo, a boa qualida- DE QUALIDADE, sono. “O háMAIS LONGEVIde do sono está relacionada à longevibito de dormir DADE menos de seis dade. Praticar o sono bifásico e incluir a Podemos começar ou sete horas sesta em seu dia a dia é especialmente pela inversão dessa benéfico. por noite abala Foto: Freepik afirmativa: quanto o sistema imumenos sono de quanológico, mais lidade, menos longevidade. Foi isso do que duplicando o risco de câncer”, que provou um estudo da Universidaalerta Walker. Também entra na esteira de de Estocolmo, na Suécia. Ao examicomo fator para o desenvolvimento de Alnarem mais de 35 mil adultos de até 65 zheimer, diabetes e problemas cardíacos. anos de idade, a pesquisa apontou um Em contrapartida, as boas noites de dado que traz um sinal de alerta: aquesono são beneficiadas até pelos sonhos. les que dormem apenas cinco horas ou Quando sonhamos ocorre “um consolamenos por noite têm uma taxa de mordor banho neuroquímico que apazigua

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talidade 65% maior em comparação com aqueles que dormem mais horas. No entanto, a pesquisa também mostrou como reverter esse percentual: dormir mais nos finais de semana pode equilibrar essa conta. Podemos trazer outra pesquisa que fala sobre a mudança no sono e a longevidade. Países da Europa Meridional preservam o hábito de dormirem o sono bifásico – o segundo sono de menor duração, com a chamada sesta. É comum ainda existirem estabelecimentos na Itália e na Espanha fechados durante a tarde. Após o começo do século XXI, houve uma pressão na Grécia para abandonar o hábito da sesta. Sendo uma mudança radical nos hábitos dos gregos, uma equipe de pesquisadores da Escola de Saúde Pública da Universidade de Harvard acompanhou as consequências na saúde em mais de 23 mil adultos, com foco no sistema cardiovascular.

necas regulares durante o dia. O efeito foi especialmente forte nos operários, entre os quais o risco de mortalidade resultante de não fazer sestas aumentou bem mais de 60%”, comenta Walker.

SERÁ QUE ESTOU DORMINDO O SUFICIENTE? Caso você tenha o sono monofásico, como a grande maioria das pessoas em países industrializados, os especialistas chegaram ao uníssono de aconselhar as oito horas de sono por noite, podendo variar para um pouco mais ou um pouco menos. As oitos horas diárias de sono não são um mito, mas existem outras crenças ligadas ao sono que estão longe da verdade. Uma delas é achar que idosos precisam de menos tempo de sono, comparado com alguém mais jovem. O que acontece é que com o avançar da idade as pessoas são menos capazes de gerar um sono de qualidade. E isso, como já observamos anteriormente, tem resultados não tão bons. “Quanto mais baixa é a eficiência do sono de

"Sem o sonho, não teríamos achado motivo para uma divisão do mundo”. Friedrich Nietzsche

“Nenhum dos indivíduos analisados tinha um histórico de doença cardíaca ou derrame cerebral no início do estudo, o que indica a ausência de enfermidade cardiovascular. No entanto, os que abandonaram a prática das sestas regulares passaram a sofrer um risco 37% maior de morte por doença cardíaca ao longo do período de seis anos, comparados aos que mantiveram as so-

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Muitas são as culturas que colocam o sonho em posição de destaque, como um lugar que habita dois mundos. Nos mitos védicos, a nossa realidade é um sonho do deus Vishnu.


uma pessoa mais velha, mais elevado é seu risco de mortalidade, pior sua saúde física, maior a probabilidade de sofrer de depressão, menos energia ela relata e mais baixa sua função cognitiva, tipificada por esquecimento”, salienta Walker. Se mesmo dormindo as horas aconselhadas você continua a desconfiar que não está tendo o sono de qualidade, duas perguntas levantadas por Matthew Walker podem ser feitas. É claro que elas não têm padrão conclusivo nem descartam uma avaliação médica, mas, pelo contrário, podem servir de termômetro para buscar ajuda de um especialista. A primeira pergunta a ser feita é: após acordar, você conseguiria voltar a dormir no final da manhã? Já a segunda pergunta é: você consegue funcionar perfeitamente sem tomar cafeína antes do meio dia? Se a resposta for “sim”, para a primeira pergunta, e “não”, para a segunda pergunta, pode indicar que está faltando qualidade ou quantidade de sono, bem como que você deve estar se automedicando contra a privação de sono. Isso gera um acúmulo de adenosina, aquele hormônio que falamos acima destinado à pressão do sono. Como Walker defende, se esse ciclo de privação de sono continuar, ele passa para o dia seguinte – somado à quantidade de adenosina produzida no dia. O processo é cumulativo, o que causa uma fadiga crônica. Mas se quisermos ter uma noite de sono mais eficiente, alguns passos podem

ser tomados. Veja no nosso box a seguir a higiene do sono com 12 dicas para dormir melhor.

O TEATRO DOS ESPÍRITOS Ao acordarmos de um sonho perturbador, provavelmente, um reboliço de emoções vem à tona. Essa espécie de filme, que geralmente não podemos controlar, surpreende pela verossimilhança. Mas logo nos acalmamos: “era apenas um sonho”. Imagine agora o sonho de nossos ancestrais distantes. O que pode dizer muito sobre nós, ainda hoje, já que o Homo sapiens continua anatomicamente semelhante após 315 mil anos do aparecimento. Possivelmente, o enredo onírico de nossos ancestrais deveria ser repleto de coisas que os cercavam no ambiente, como pedras, fogo e animais, bem como as tensões do dia, ligadas ao risco de o caçador virar caça. Foi em algum momento do Paleolítico superior que surgiu uma divisão de mundos: o mundo físico e o mundo da alma. Provavelmente, devido aos sonhos em que o sonhador se d e p a ra va com pessoas que n ã o es-


tavam próximas ou que já haviam morrido. O filósofo alemão Friedrich Nietzsche escreveu: “Sem o sonho, não teríamos achado motivo para uma divisão do mundo”.

O sonho tem posição de destaque em algumas culturas. Para os povos védicos, o deus hindu Vishnu é representado reclinado enquanto “sonha o Universo”. A realidade é um sonho – há interconexão entre o mundo da matéria e o mundo dos espíritos.

Essa singular percepção desembocou em inúmeras Já os gregos mobirepresentações que lizam alguns deuainda estão bem ses do seu panteão vivas em nossa para explicar o sociedade: sesono e o sonho. pulturas, ziHipnos é o deus gurates, pirâgrego do sono, mides – com irmão de Tâcorpos enternatos, o deus rados repletos da morte – por de adereços, isso, uma certa porque teve proximidade eninício a crentre estar dormindo ça de que a vida e morrer. O sonho continua após a é concebido por Mormorte física. O sonho feu. Mas são os seria um portal Oneiros que traentre os vivos e os mortos. “Enterros No início do século passado, o médi- zem a mensagem rituais marcam o co Sigmund Freud começou a analisar para o sonhador: rompimento de- seus próprios sonhos e chegou a uma se eles passarem finitivo da cultu- conclusão que fundou a psicanálise: pelo portão de chifre, geram sora humana com os sonhos são o caminho para o nhos proféticos de o funcionameninconsciente. origem divina; já to mental de ouFoto: Reprodução. se eles cruzarem o tros animais”, portão de marfim, comenta o neuos sonhos são enganadores. Isso aponrocientista Sidarta Ribeita para crença oracular e divinatória dos ro, no livro O oráculo da noite. sonhos, que durou (e dura) milênios. Além das representações da morte gravadas em pedras, ainda perduram as que foram propagadas na mentalidade humana. A mitologia é um desses exemplos.

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O PODER ORACULAR DO SONHO Ao longo da história da civilização,


Augusto foi revelada pelo sonho de sua os sonhos ganharam destaque na vida mãe Ácia com o deus Apolo, em forma cotidiana dos nossos ancestrais. Exisde serpente. O pai de Otávio Augusto tem vários registros históricos da imtambém teve um sonho revelador: viu portância dada aos sonhos e de sua que o sol nascia do ventre da esposa – influência nas questões sociais. Depenum presságio para o nascimento de um dendo da cultura, o papel de fazer a novo soberano. ponte onírica entre o mundo real Já para os egíp"O sonho é o intermedie o mundo dos cios, o declínio do espíritos era especulto aos deuses ário entre o mundo dos cializado na figue à crença nos sonossos sentimentos re- nhos ocorreu com ra de xamãs. Além de receberem o o advento da escônditos e aqueles subsonho, também crita. As palavras tinham a técnica metidos à nossa razão: gravadas perpepara interpretátuariam as mengraças a ele podemos -los. sagens sagradas,

saber muita coisa que não sendo mais “A obtenção necessário entrar em sonho de aunos recusamos a saber em transe para torização diviter contato com na para justificar no estado de vigília”. os deuses. “Nos atos na realidatextos egípcios e de perpassa todo mesopotâmicos, o o nosso passado relato da morte de histórico. O carádeuses ocorre desde o início do registro ter divinatório do sonho está presenescrito, mas a reclamação de que os deute nos principais textos remanescenses teriam se calado só tornou-se pretes da Idade do Bronze (entre 5 mil e 3 valente por volta de 1200 a 800 a.C. Foi mil anos atrás), como o Livro dos morum período de enormes crises sociais, tos egípcio e a Epopeia de Gilgamesh econômicas e ambientais, com explosuméria. Além disso, está fartamente são populacional, migrações, guerras, presente na Ilíada, na Odisseia, na Bífomes, pestes, secas e outros desastres blia e no Corão”, exemplifica Ribeiro. naturais, que levaram ao colapso de ciNa Roma Antiga, por exemplo, a indades e impérios”, observa Ribeiro. fluência onírica na sociedade chegou a

Stefan Zweig

patamares nunca antes vistos. A crença de comunicação com os deuses por meio dos sonhos logo passou a ser utilizada na política romana. A origem divina do primeiro imperador romano Otávio

Em algumas localidades da Europa, o caráter divinatório dos sonhos afastou-se da esfera pública a partir da formação dos Estados nacionais europeus. De blasfêmia aos olhos da Igreja Católi-

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ca, o sonho passou à irrelevância, com o racionalismo do século XVIII, antro da ciência moderna e do capitalismo. Alguns personagens históricos, no entanto, já isolavam o sonho do caráter místico. O filósofo grego Aristóteles, mesmo nascido numa cultura que orientava os sonhos aos deuses, rejeitou essa ideia, transferindo a causa dos sonhos para uma origem mais biológica. Os conteúdos oníricos eram formados a partir das experiências do tempo em vigília. Sigmund Freud, mais de dois mil anos depois, iria avançar com a classificação de “restos diurnos”.

A VIA RÉGIA PARA O INCONSCIENTE O significado oracular dos sonhos está presente nas sociedades há milênios, mesmo com os seus altos e baixos ao longo da história. É comum acordarmos com a sensação de “o que será que esse sonho quer dizer?”. Em meio às descobertas para a fundação da Psicanálise, o médico psiquiatra austríaco Sigmund Freud também se fez essas perguntas após sonhos de luto decorrentes da morte de seu pai. Esse processo de “autoanálise” teve papel singular na elabo-

ração do livro A Interpretação dos Sonhos (1900), revolucionário e um divisor de águas. As proposições de Freud acerca dos sonhos foram um salto quântico ante as teorias da época. É como se falasse: “Os sonhos querem dizer algo, sim. Mas não é sobre o que se falou até agora”. A começar pela orientação da origem dos sonhos, ao direcionar a mente como fonte de produção – o que hoje parece algo quase “comum”, foi um raio à época. Em vez de vaticinar o futuro, Freud começou a olhar os sonhos como um passo para trás. “Os estímulos que surgem durante o sono são os conhecidos ‘restos diurnos’ psíquicos”, escreve Freud. E complementa: “o sonho continua a ser a realização de um desejo, não importa de que maneira a expressão dessa realização de desejo seja determinada pelo material correntemente ativo”. Ao constatar que os sonhos, realmente, dizem muitas coisas, instigado a entrar nas profundezas oníricas, Freud notou que era o caminho para a base do iceberg, o inconsciente. Com os relatos oníricos de seus pacientes, foi possível reconstituir os traumas e os desejos que estavam encobertos por narrativas, a princípio, triviais.

"Os estímulos que surgem durante o sono são os conhecidos ‘restos diurnos’ psíquicos”. Sigmund Freud

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“O que para seus antecessores parecia um labirinto confuso sem saída e sem objetivo, é a Via Régia, a avenida


principal que liga a vida inconsciente à consciente. O sonho é o intermediário entre o mundo dos nossos sentimentos recônditos e aqueles submetidos à nossa razão: graças a ele podemos saber muita coisa que nos recusamos a saber no estado de vigília”, observou o escritor austríaco Stefan Zweig.

gar a validade. O que foi um motivo para os antifreudianos acusarem as teorias como “não-científico”, por tacharem que não eram testáveis. Mas com o avançar dos achados empíricos, os diversos argumentos antifreudianos perderam fôlego.

Um desses achados empíricos foi realizado pelo neurologista Mark Solms, ao fazer o passo contrário para invesA partir de então, a crença do tigar a capacidade de sonhar sonho como ato revelador durante os estágios do do destino volta a fazer sono – o que alguns sentido. Agora fala cientistas já rejeitasobre o inconsvam por destinaciente, que deterrem os sonhos mina em grande apenas como parte os passos, uma “alucinamuitas vezes ção” do estágio circulares, dos REM. Solms, sujeitos. então, busDE PREMOcou estudar e examinar os reNIÇÃO PARA latos de pessoPERCEPEÇÃO as com lesões ceApós a revolução rebrais. Em muitos que a teoria freudiana casos, mesmo quando trouxe, o sonho passou foram acordados dude premonição, que rante o sono REM, os vaticina um destino O que as pirâmides, a tabela participantes se mosfuturo próximo virtu- periódica, Frankenstein e algutraram incapazes de alizado, para percep- mas músicas dos Beatles têm relatar pensamenção, que lança a luz às em comum? Todas têm oritos e imagens. Então, pedras na estrada já gem nos sonhos! chegou a uma conpercorrida: os restos Foto: David McEachan/ Pexels clusão: a de que o sodiurnos, os traumas e nho não está estritaos desejos. O sonho continua a dizer almente ligado ao estado REM. guma coisa. “Já não é mais possível, por exemplo, À época da elaboração das teorias, o trivializar o significado rico e intrigante próprio Freud apontava para o momendos sonhos como inútil subproduto do to em que a ciência conseguiria investisono REM. Tampouco é possível seguir

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lia, também eram os mais ativados duaceitando que o sonho represente um rante o sono. Ou seja, o que estava senencadeamento aleatório de imagens”, do reverberado durante o sono era o que comenta Sidarta Ribeiro. E completa: “A foi percebido com a mente desperta. evidência aponta para um encadeamento imagético organizado pelo sistema O SONHO CRIOU O MUNDO dopaminérgico de recompensa e punição, um processo capaz de ensaiar, vaPercebemos que o sono e o sonho inlorar e selecionar dividual reverbecomportamentos raram mudanças "A partir desse QI emocioadaptativos sem e marcas na socieno entanto subnal melhorado pelo sono dade. Foi por meio meter o corpo a do sono profundo REM emergiu uma forriscos, pois tudo que equilibrou as ma nova e muito mais so- nossas emoções é simulado no ambiente segufisticada de socioecolo- para vivermos em ro e inofensivo da grupos. O sonho gia hominídea através de própria mente”. edificou civilizavastas coletividades, algo ções numa mesma Ribeiro ainda revela que “o soque permitiu a criação de direção, na crença após a morte nho é um conscomunidades de seres hu- em que florescetruto fisiológico, manos grandes, emocio- ram as religiões, e uma trajetória esfoi ponto pecífica de ativanalmente sagazes, está- também de partida para a ções mnemônicas veis, muito interligados e edificação de moorientada firmenumentos que mente pela bússointensamente sociais”. perduram ao pasla do desejo, mas sar dos milênios, nem sempre capaz como as pirâmide gerar um endes e os zigurates. cadeamento narrativo vigoroso, emocionante ou belo. Também foi por meio do sono que tiCada sonho é um ensaio em si mesmo”. vemos um salto cognitivo para a transformação da sociedade em que vivemos. Outro postulado de Freud, sobre os O que aprendemos em vigília, orga“restos diurnos”, demorou 90 anos para nizamos na memória durante o sono receber a sustentação empírica. O psiNREM e esse conjunto de informações quiatra americano Jonathan Winson e o aleatórias ganha a tônica de criativineurocientista grego Constantine Pavlidade no sono REM, com as conexões. des publicam em 1989 um experimento com resultado revelador. O teste em laAlém dos exemplos construídos pela boratório feito em ratos mostrou que os coletividade, também podemos visneurônios mais ativados durante a vigílumbrar outros, mais individuais. Um

Matthew Walker

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também tem influência onírica. Após desses grandes feitos ocorreu após um acordar de um sonho inspirador, o besonho em 17 de fevereiro de 1869. O fíatle Paul McCartney estava com uma sico-químico russo Dmitri Mendeléiev melodia na cabeça. Sentou-se ao piano buscava há meses classificar e ordenar e ficou surpreendido com a sequência os elementos químicos presentes na nade notas. “Não, eu nunca estureza. Escreveu cada nome crevi assim antes”, penem cartões em separado sou. Desconfiado da e tentou, de inúmeautoria, pergunras maneiras, artou às pessoas do ranjá-los segundo meio musical se a classificação. conheciam a Após várias homelodia. Ainras, não conseda ninguém guiu. Exausconhecia o que to, adormeceu mais tarde se sobre as cartornaria a cantas. Foi neste ção Yesterday. momento que um sonho muDas muitas dou a história da referências ao soquímica. Durante nho pelos grandes o sonho, Mendeléiev gênios da humanidaconseguiu visualizar de, há uma especial todos os elementos do século XVII: “Soorganizados perfeita- “Somos da mesma matéria/ mos da mesma matémente, posicionados Da qual são feitos os sonhos”, ria/ Da qual são feitos pelo número atômico. escreveu Shakespeare no sé- os sonhos”, escreveu A partir desse acon- culo XVII. Hoje, pela publicida- William Shakespetecimento, foi criade, sonho virou sinônimo de are na peça A Temda a tabela periódica. pestade. Atualmente,

desejo de consumo. De que matéria é feito o indivíduo do século XXI?

o verbo sonhar deiSe considerarmos xa o seu protagonisque os sonhos às vezes trazem elementos Imagem: Possível retrato de Shakespeare em mo do mundo oníripintura de John Taylor co para compartilhar tão díspares entre si, significado no mundignos de construírem do publicitário – em que, ironicamenum Frankenstein, não notaríamos a irote, se comprova que sonho é desejo, nia. Foi numa noite de verão em 1816 desejo de consumo. Seguindo o penque Mary Shelley, com apenas 18 anos, samento de Shakespeare, de qual mateve a visão onírica que se transformatéria seríamos feitos no século XXI? ria no célebre romance Frankenstein. Um dos maiores clássicos dos Beatles

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12 SUGESTÕES PARA

um sono saudável Extraídas do livro Por que Dormimos, de Matthew Walker

1 A hora de dormir. Mantenha um ho-

rário de sono. Vá deitar e acorde sempre na mesma hora todos os dias. Se você puder seguir apenas um conselho destas dozes sugestões, siga este.

2 Exercícios físicos. Praticar exercí-

cios físicos é excelente, mas não faça isso muito tarde no dia. Tente se exercitar por pelo menos meia hora na maioria dos dias da semana, porém não mais tarde do que duas ou três horas antes de se deitar.

3 Evite a cafeína e a nicotina. Seus

efeitos podem levar até oito horas para serem eliminados por completo. Portanto, uma xícara de café no fim da tarde pode dificultar o início do sono à noite. O mesmo serve para a nicotina, que é estimulante.

4 Evite ingerir bebidas alcoólicas antes de se deitar. Beber antes de

dormir pode até ajudá-lo a relaxar, mas o consumo intensivo o priva do sono REM, mantendo-o nos estágios mais leves de sono.

5 Evite consumir muita comida ou líquido tarde da noite. Lanches leves e evitar excesso de líquido antes de dormir é a dica para não ter digestão, nem ter que levantar para ir ao banheiro.

6 Se possível, evite remédios que adiem ou perturbem o sono. Se você

tem dificuldade para dormir, converse com seu médico ou farmacêutico a fim de verificar se algum remédio que está tomando pode estar contribuindo para a insônia.

7 Não tire sonecas após as três da tarde. Elas podem ajudar a compensar o sono perdido, porém, quando tiradas no fim da tarde, tornam mais difícil adormecer à noite.

8 Relaxe antes de ir se deitar. Apos-

te em atividades relaxantes antes de ir dormir, como ler ou ouvir uma música tranquila. Faça disso parte do seu ritual da hora de dormir.

9 Tome um banho quente antes de ir se deitar. A queda na temperatura


do corpo após sair do chuveiro pode ajudá-lo a se sentir sonolento e o banho pode ajudá-lo a relaxar e a se acalmar.

10 Mantenha o quarto escuro, fresco e livre de aparelhos eletrônicos.

Livre-se de qualquer coisa no cômodo que possa distraí-lo do sono, como ruídos, luzes intensas, cama desconfortável ou temperatura elevada. Dorme-se melhor quando a temperatura do quarto é mantida mais para fria.

11 Procure ter uma exposição correta à luz solar. A luz do dia é essen-

PARA SE APROFUNDAR "O Oráculo da noite" Neste livro, o neurocientista Sidarta Ribeiro, mescla as perspectivas antropológica, sociológica, psicanalítica e neurocientífica dos sonhos. (Editora Companhia das Letras)

cial para regular o padrão de sono diário. Procure ficar exposto à luz natural por pelo menos meia hora por dia.

12 Não fique deitado na cama acordado. Se você ainda estiver acordado

após permanecer na cama por mais de vinte minutos ou se estiver começando a se sentir ansioso ou preocupado, levante-se e faça algo relaxante até se sentir sonolento.

"Por que nós dormimos" Escrito pelo neurocientista e pesquisador do sono Matthew Walker, este livro traz a abordagem científica do sono para uma linguagem mais acessível focado no bem-estar físico e mental. (Editora Íntrinseca)

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"Não há nada como o sonho para criar o futuro. Utopia hoje, carne e osso amanhã".

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VICTOR HUGO


Autoconhecimento

COMO CRIAR UM

Para Freud, os sonhos representam nossos desejos – dos mais superficiais aos mais escondidos e submersos. Se agimos na vida em busca dos nossos desejos ou em resposta aos que foram reprimidos, logo, os sonhos são um oráculo. Isto é, os sonhos são capazes de prever nossas atitudes futuras. Dessa maneira, os sonhos são uma rica fonte de autoconhecimento. Acontece que nem sempre lembramos do que sonhamos. De acordo com o professor Sidarta Ribeiro, não lembramos porque, quando acordamos, a produção de noradrelina (hormônio que permite que as imagens do sonho fiquem retidas) está baixa no cérebro. Nisso, os sonhários (acrônimo entre sonho e diário) podem ser muito úteis. A prática de resgatar sonhos, com o tempo, se torna mais eficaz e conseguimos escrever páginas de histórias construídas em nossa Hollywood particular. Como criar um sonhário? 1. Reserve um caderno só para isso e guarde-o em um lugar acessível somente a você. 2. Diariamente ao acordar, levante-se e comece a escrever à mão: primeiro coloque a data e, então, relate as imagens que lembra do seu sonho. 3. Não se preocupe se as histórias não tiverem

Do que você vai precisar?

Um caderno e caneta.

Ilustração: Vecteezy

sonhário? nem pé nem cabeça. Escreva sem procurar dar sentido a nada. 4. Terminou de escrever? Agora vamos tentar interpretar. Escreva um subtítulo “Interpretações”. 5. Essas questões podem guiar a sua interpretação: Quais relações aquilo que vi, senti e vivi em meu sonho estabelecem com a minha vida? Quais opiniões tenho, quando acordado, sobre as pessoas e imagens que apareceram nesse sonho? Por exemplo, se vi em um sonho uma colega que considero totalmente carinhosa e maternal, devo anotar que a “maternidade” e o “cuidado” são símbolos fortes dentro deste sonho. 6. Não cultive interpretações literais. Um exemplo é, se você sonhou que morreu, isso não necessariamente significa que você vai literalmente morrer, mas que, talvez, esteja se sentindo mortificado ou finalizando ciclos, dependendo da interpretação que você mesmo faz de sua vida. 7. Com o tempo, releia esses sonhos para se autoconhecer e entender como a sua mente funciona.

quando fazer?

Pela manhã. Assim que acordar!

por quê fazer?

Para conhecer a parte inconsciente de nós e nossos desejos mais profundos. E, assim, poder levar a vida com mais leveza e domínio.

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Foto: Ogo/ Pexels

Foto: Anna Schvets/ Pexels

"Se você evita o conf lito para manter a paz, você inicia uma guerra dentro de si". AUTOR desconhecido

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Minha História Inspira

EU SOU A

MÃE Quando duas almas estão destinadas a se encontrar, nada consegue impedir. A Elen passou seis anos tentando ser mãe. Foram muitos procedimentos diferentes, passando pela tentativa de adoção e nada. Até que o Arthur viajou o Brasil, ainda na barriga, para chegar até ela. Escrito por Elen Carneiro

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Sou Elen. Ou Lelé, para alguns, o que remete a “Lelé da Cuca” pelas trapalhadas, esquecimentos e maluquices que faço, mas sempre no bom sentido, nada de extraordinário. Casei-me aos 27 anos com um homem que já tinha dois filhos e havia feito vasectomia, mas como nunca quis ter filhos por vários motivos, achei ótimo! Não me achava capaz de criar uma criança plena, feliz, responsável e independente. Talvez pela minha falta de exemplos práticos, não achei que eu seria a pessoa que mudaria isso. Minha criação foi muito castradora, tentando me colocar dentro da caixa que a sociedade achava aceitável. Não conheci casais com afinidade e cumplicidade a ponto de seus filhos serem inspiração para mim. E sempre fui contra adoção, vai entender! Aos 6/7 anos de casada, bateu uma vontade irreversível de ser mãe. Essa vontade surgiu com a convivência com os filhos do meu ex-marido, que se mostraram pessoas fortes e bem resolvidas com a vida. E minha idade de 33 anos, na época, me fez decidir que a hora era essa. Por fim, fui morar no sítio de nossa propriedade e pensar em criar um filho livre, na natureza, convivendo com bichos de estimação, plantando, nadando no rio, sem TV, lendo e com qualidade de vida me fez repensar e alterar minha percepção. Resumidamente: Tentamos reverter a vasectomia – não

deu certo. Fizemos quatro ICSIs, injeções intracitoplasmáticas de espermatozoides (as fertilizações não eram para o nosso caso) – não deram certo. Tentamos com óvulos doados, com espermatozóides doados e finalmente com embriões gerados e doados – não deu certo. No total foram oito tentativas em seis anos. Uma loucura em termos físicos, emocionais, psíquicos, financeiros etc, etc, etc. Finalmente aceitei a adoção, porque mais do que engravidar, eu queria ser mãe. Tudo legalmente, no fórum. Com documentação, fotos, visita domiciliar, tudo certo e...nada! Enfim, conheci meu filho na barriga da genitora (só a chamo assim) aos 7 meses e meio de gestação. Numa história de vida muito especial, ela viajou o Brasil para trazer o meu filho para mim. Meu filho me escolheu para ser sua mãe e fez um caminho longo para chegar até mim. Ela, sua genitora, nasceu no norte do país, viajou até o centro-oeste e conheceu um rapaz pela internet que a aceitou e a convidou para morar com ele, mesmo aos 7 meses de gravidez. E ela veio para o interior de São Paulo, justamente para ser atendida no SUS, onde uma amiga minha atendia e sabia da minha vontade de adotar. Era sua primeira consulta de pré-natal e ela disse que daria a criança para

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adoção. Então minha amiga fez uma ponte entre nós. Assim que nos falamos por telefone, sabia que seria assim e marcamos um encontro pessoal. Foi muito, muito, estranho no começo lidar com essa condição inusitada, diferente, incomum e atípica, mas fui aprendendo e ela... ah, ela!

nosso advogado) sem questionar nada, sem pedir nada e convivemos durante os 50 dias de sua gravidez. Eu tinha mil dúvidas, questionamentos, medos, muitos sentimentos confusos, mas como acredito que, se a gente quer alguma coisa, tem que jogar para o universo sem dúvida nenhuma, acreditando piamente que vai acontecer, já aconteceu! E foi mais ou menos assim.

Ela é a pessoa que mais me emocioTodos os exames foram feitos no parna ao falar sobre ticular, escolheisso. Nos demos mos o nome Arbem de cara. thur assim que Ela me adotou descobrimos ser como uma mãe menino. (tia, talvez). Durante estes A genitora do 50 dias, fiz terameu filho mopia gestacional e rava numa casa tomei o "chá da nos fundos dos mamãe", uma fundos de oumistura de ertra casa na pevas. Não houve riferia de uma nenhum horcidade no inte- Elen emocionada amamentando seu filho recém-nascido mônio ou outra rior de São Paudroga. Coloquei o bico do meu seio no lo. sol para fortalecer, fiz massagens diárias No primeiro contato, cheio de ansiee muito pensamento positivo. A mulher dade e expectativas, ela deixou claro que é poderosa, pode até ter gravidez psiconão poderia ter aquela criança e queria lógica, então amamentar era possível para ela o melhor da vida, algo que ela sim. Lembram das amas de leite? não podia proporcionar. Ela tinha mais certeza do que eu. Claro que tudo podia mudar depois do parto, mas entrei de cabeça nessa história surreal.

Ela no mesmo dia assinou a declaração de doação de menor (enviada pelo

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Eu estava na sala de parto quando ele nasceu e veio primeiro para o meu colo.

Na maternidade, como não sabiam que eu iria adotar, tentaram que ela amamentasse, mas ela não quis e tinha


o bico do seio invertido, o que dificultava ainda mais a amamentação. Assim que meu filho chegou no quarto, veio para mim, levantei a blusa e ele mamou com vontade... e eu chorei de emoção! Claro que meu leite não era suficiente e ele tinha muita fome e precisava mamar para completar, mas o vínculo estava formado. A melhor sensação da minha vida! Fizemos todo procedimento legal para a adoção após seu nascimento, com compromisso de ambas as partes. Nunca paguei nada. Ela nunca pediu.

Ele sempre soube que era adotado, desde os primeiros meses indo ao fórum, porque a verdade é sempre melhor! Hoje, aos 13 anos, Arthur está grande, bonito, inteligente, engraçado, amoroso, emotivo, companheiro e amigo. É o filho que superou todas as minhas mais altas expectativas. Uma benção, um privilégio, uma honra ser sua mãe! Penso estar seguindo o caminho certo para fazê-lo um homem de bem. Assistindo ao filme Juno com ele no final do ano passado, contei que essa era a história de vida dele, pelo ponto de vista da genitora.

Fui casada durante Como o filme é 20 anos e me separei muito bom – a atriz em 2014. Escrevi o liprincipal se chama vro A Mãe Sou Eu Ellen Page (não por com lançamento em Elen e Arthur, já com 11 anos. Viajando juntos! acaso) e o filme foi ao Osmaio de 2015, no docar em 2007, menos de um ano depois mingo do Dia das Mães, um ano após ter de ele ter nascido –, achei que já estava me separado do pai do meu filho. Escrena hora de ele assistir. Ele adorou e disse vi neste momento porque se demorasse ter vontade de conhecer sua genitora. um pouco, com o sofrimento, a raiva e Pausa para respirar. os desgostos de uma separação, não iria escrever nunca mais e a história mereSabia que este momento aconteceria, cia ser documentada. A abrangência do mas foi antes do que achei. Mas, beleza, livro foi muito pequena devido à pouca não corro nenhum risco quanto à adodivulgação ou comercialização do mação legalmente e nossa relação de mãe terial. e filho é muito profunda e única para

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qualquer coisa me amedrontar. Mas coloquei uma condição para ele: terminar de ler meu livro que fala sobre a vida dele. Ele sabe de tudo, sempre me ouviu falar sobre um detalhe ou outro, mas nunca leu de verdade o livro inteiro (aliás, livro inteiro só os da escola e tenho minhas dúvidas). Ele começou a ler. Achou engraçadas algumas partes, riu de outras e ainda não terminou. Mas está lendo! E eu comecei a procurar por ela, lentamente, descompromissadamente. Pois bem, encontrei com a genitora do meu filho e este encontro foi on-line, por enquanto, mas cheio de amor, carinho e generosidade dela.

Juno (2008) é um filme que conta a história de uma adolescente de 16 anos que engravida por acidente de seu colega de classe. Em meio aos dilemas da situação e às perspectivas que tem sobre sua própria vida, ela decide entregar o bebê para adoção. A família perfeita para seu bebê é um casal que está há cinco anos tentando ter um filho. No decorrer do filme, vamos acompanhando diversas reflexões sobre maternidade, sexismo e o amadurecimento dessa personagem que passa a observar a vida com mais profundidade a partir dessa experiência. É uma comédia dramática.

O meu livro termina com a festa de um ano dele e o epílogo acontece quando ele tem quatro anos e recebi uma ligação dela no Dia das Mães me parabenizando e dizendo que agora também é mãe de uma filha. Então, esta última parte ainda é inédita e surreal para mim. Mas é assim que é! Foto: Divulgação/ Paris Filmes

"A Mãe sou eu", de Elen Carneiro. Editora Livrus. Facebook: /amaesoueuelen

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Foto: Harshal S. Hirve/ Unsplash

“Enquanto a mente vê apenas limites, o amor conhece os caminhos secretos”. RUMI


Geografando

Minha viagem não saiu como planejei. e agora? Viajar nem sempre é sinônimo de mil maravilhas, mas sempre pode ser uma oportunidade para descobertas. O que fazer quando tudo começa a dar errado? Aprender a lidar com as expectativas e frustrações que podem aparecer em qualquer lugar do mundo. Escrito por Geovana Chrystêllo

Eu, na minha mais recente vida de viajante, venho planejando tudo para que uma palha não saia do lugar. No México, minha amiga, uma quase moradora ofi-

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cial, tomou todas as rédeas da situação e nada deu errado. No Chile, anotei todos os caminhos e endereços possíveis para evitar ficar perdida em um lugar desco-


nhecido. Já em Paraty, não tive tanta organização assim. Me acomodei ao fato de estar em terras brasileiras, mais a falta de tempo (foi uma viagem de supetão, nem um pouco programada), e o resultado foram perrengues atrás de perrengues. Seria muita inocência da minha parte acreditar que em hora alguma eu fosse surpreendida com situações inesperadas, mas sempre tentei me precaver ao máximo. Acontece que, dessa vez, até a única coisa que eu tinha minimamente planejado, deu errado. A ideia era chegar e trabalhar em um hostel por duas semanas em troca de moradia. Assim dava para economizar na hospedagem e conhecer a cidade de boas. Por motivos de não ter pesquisado muito sobre o então hostel – um erro que assumo por completo –, cheguei num lugar que em nada atendia às minhas expectativas. 1. Não havia hóspedes que me proporcionassem a troca cultural, e quando havia, eram apenas hóspedes de uma noite só, que mal interagiam nos espaços comuns; 2. a equipe de voluntários era composta por duas pessoas, contando comigo, o que sobrecarregava nas tarefas domésticas; 3. tive algumas incompatibilidades de pensamento com o dono do hostel/pousada. Três motivos suficientes que me fizeram desistir do voluntariado, e caçar outro rumo. Sem muita grana, e sem muito tempo disponível, uma vez que tinha só mais uma semana (nesses esquemas de work exchange, quanto mais tempo você tem a oferecer, melhor e mais fácil de ser aplica-

do), me mudei para o primeiro hostel que respondeu minha mensagem no aplicativo de troca de hospedagens, mais uma vez, cometendo o erro de não pesquisar os reviews do local. Dessa vez, em um hostel em Ubatuba, litoral de São Paulo, a mais ou menos 1h20min de distância de Paraty, me deparei com um clima diferente, mais acolhedor que o primeiro. O quintal do hostel era literalmente uma praia e as pessoas eram amáveis, ou seja, tinha tudo para dar certo, a não ser um mero detalhe: não tinha internet no local, o que confesso ser demais para mim. Fora isso, a cidade, que também é conhecida como ‘’Ubachuva”, estava fazendo jus ao seu apelido. Depois de muito tédio, resolvi sair com um date que conheci no Tinder, afinal, tinha gastado todo o meu 3g naquilo. O resultado foi um encontro ruim, uma briga com o motorista do aplicativo de transporte, que me culpava por não saber o caminho do hostel (megadifícil, inclusive), e mais um perrengue. Voltei a Paraty depois de um dia e meio em Ubatuba. Resolvi arcar com os custos dessa vez, até porque, faltavam poucos dias para voltar a minha cidade natal, Vitória (Espírito Santo). Iludida achando que dessa vez ia ser sucesso, tive a companhia desagradável de baratas no meu quarto, mais a falta de entrosamento com os hóspedes e voluntários. Na busca de fazer novas amizades, participei de LEIA MAIS

"Work Exchange: uma forma barata e muito proveitosa de viajar" na coluna Geografando da edição passada, #4. Disponível em: www.revistainspira.com

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um churrasco que me custou R$50,00, o que eu não teria pago nem se tivesse ido a um restaurante caro da cidade. Bateu a frustração e a vontade de ir embora, exceto por algumas companhias, que me mostraram que as boas experiências vão além das fotos no Instagram e de histórias perfeitas. Daí caiu a ficha que viajar é justamente ressignificar as expectativas e as vivências, é se adaptar ao que tem e tentar fazer dar bom com aquilo, mesmo que você não saiba nem de longe o que é dar bom. Para mim, viajar sempre foi sinônimo de bater perna, conhecer a maior quantidade de lugares e pessoas, o que ainda vejo muito sentido. Mas nessa, especificamente, aprendi a ressignificar a própria definição de viajar.

tar de tal experiência. A questão é saber que mesmo que tudo não tenha saído como o planejado, há um aprendizado ali por trás, e que, de alguma forma, até as piores histórias podem se transformar em boas histórias. O segredo é estar de peito e mente abertos, até mesmo para os perrengues, um dia eles serão suas melhores compa-

Aprendi a valorizar os encontros, as conversas despretensiosas, e principalmente, a capacidade de me adaptar ao novo e reconhecer os meus limites. Isso faz parte da viagem também! Não é só porque você está viajando que tudo vai ser perfeito, e está tudo certo não gosUma das poucas, mas mais sinceras amizades que fiz. Detalhe que nesse momento, era um registro de mais um perrengue, já que tínhamos perdido o ônibus Trindade x Paraty.

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conhecer gente e criar novas amizades; 4. APPS PODEM AJUDAR Busque ajuda em aplicativos, hoje existem vários que auxiliam no encontro de novas pessoas, não só focados em relacionamentos; 5. ESCREVA Anote tudo, principalmente os bons momentos, assim você não esquece que eles fizeram parte da sua viagem, mesmo que os ruins tenham se sobressaído;

PARA NÃO SE DESCABELAR! 1. CURTA O AGORA Lembre-se que se você escolheu aquele lugar, alguma coisa de interessante ele tem. Dê uma volta na cidade, faça algo que goste muito, uma praia, um sorvete…

6. RISOTERAPIA Aprenda a rir dos perrengues, no futuro eles certamente farão parte da sua história.

2. SUA MELHOR COMPANHIA Se estiver sozinho, tenha em mente que você é a sua melhor companhia; 3. INTEGRE-SE! Procure eventos e realize passeios em grupos, é uma forma de

Geovana Chrystêllo, 26 anos, apaixonada por praia, viagens e sempre em busca de bons momentos

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Foto: Ash Cork/ Pexels


Holístico

Intuição existe? Intuição é um conhecimento que vem de “algum lugar", com certezas que não se baseiam em argumentos ou na lógica, mas que comumente estão certos. É enxergar com outro tipo de percepção. De onde vem essa estranha forma de sabedoria?

Quando eu era criança, algum adulto me contou que nós, humanos, só utilizávamos 10% da nossa capacidade cerebral. Essa ideia me impactou de um modo que me fez sentir como se eu tivesse superpoderes ocultos, aguardando para serem descobertos nesses 90% adormecidos. Com o tempo, essa afirmação foi desmentida pela ciência. Seria um mito. Mas continuei acreditando que independente da parte física – que é o cérebro em si –, há um universo ainda a ser descoberto no que diz respeito a nossa mente. A mente é um conceito metafísico que transcende qualquer explicação biológica até o momento. Afinal, onde está a mente? Ela é imaterial! Se nem mesmo conseguimos localizá-la, é muito provável que ainda estejamos tateando no caminho para entendê-la e que não conheçamos nem um terço do que ela é capaz de fazer. Se consideramos que a mente é uma energia e que tudo ao nosso redor também é energia, criamos uma espécie de “sentimento oceânico”, descrito por Romain Rolland como uma sensação de “ser um com o mundo externo como um

todo”. Dessa forma, o acesso para uma superconsciência universal onde todas as informações estão contidas estaria livre, só esperando que você desperte um pouco mais de 10% da potência reservada à mente. No filme Lucy (2014) é apresentada uma abordagem fictícia do acesso à essa consciência infinita. Da noite para o dia, a protagonista começa a falar idiomas que desconhecia, acessar memórias antigas com riqueza de detalhes, conversar por telepatia e até mesmo entender a origem do universo. Um exemplo real dessa conexão, que foi também transformado em filme (O homem que viu o infinito, 2015), é o do matemático autodidata indiano Srinivasa Ramanujan, que sentia que sua deusa sussurrava fórmulas em seus ouvidos. Essas fórmulas estavam sendo buscadas há muito tempo por cientistas e Ramanujan as trouxe à vida. De tão complexas, algumas só chegaram a ser comprovadas após a morte de Ramanujan, com o árduo trabalho de outros matemáticos e contribuíram para as áreas da oncologia e da engenharia informática.


Esse saber sutil, um saber que não tem argumentos, não tem explicação e não se apoia em análises ou estatísticas, que simplesmente surge dentro de nós, é uma forma de inteligência que intriga estudiosos até hoje. É a chamada intuição!

O QUE EXPLICA A INTUIÇÃO? Difícil de ser explicada, uma das melhores definições de intuição é a dada pelo filósofo espiritualista Osho: “Quando o corpo funciona espontaneamente, isso é chamado de instinto. Quando a alma funciona espontaneamente, isso é chamado de intuição”.

cessitamos para nos manter funcionando como seres humanos”. Em outras palavras, ele é responsável por digerir em fração de segundos toda a sabedoria gravada em nossa memória para dar respostas rápidas no dia a dia, tomando decisões de forma sábia, mas no piloto automático. Muitas vezes, essas sensações intuitivas são tão intensas que se transformam em uma forte inclinação para a ação. Como desviar de um caminho que você costuma passar sempre, responder mal alguém com quem “o santo não bateu” ou o exemplo das mães que pressentem que vai chover em um dia completamente ensolarado e insistem para que o filho leve o guarda-chuvas na mochila.

Essa espontaneidade surge quando o radar da nossa alma é ativado. Como "Quando o corquando somos apre Como afirma sentados a uma pespo funciona espontaOsho, “o que quer soa pela primeira que você decida com neamente, isso é chamado vez, quando uma o consciente pode situação complexa de instinto. Quando a alma simplesmente ser nos afeta ou quan- funciona espontaneamente, jogado fora pelo indo temos que tomar consciente a qualisso é chamado de decisões cruciais quer momento, porsob grande tensão, intuição”. que ele é nove vezes conforme comenta o mais poderoso. Ele não OSHO jornalista Malcolm Glase importa com a sua lógidwell, autor do livro Blink: a ca, com o seu raciocínio, com decisão num piscar de olhos. nada”. Ele quer sempre ser sobe Nesse livro, inclusive, o autor lança mão da ideia de que a intuição surge como uma resposta vinda do “inconsciente adaptável”, um novo campo de estudos da psicologia. Esse inconsciente adaptável, segundo Gladwell, pode ser visto como “uma espécie de computador gigante que, de forma rápida e silenciosa, processa muitos dos dados de que ne-

rano.

Muitas vezes, essas intuições podem parecer com verdadeiras previsões nos livrando de algo que poderia ter sido problemático. A explicação para isso é a de que o inconsciente adaptativo teria calculado (sem você perceber) a probabilidade de fenômenos que você já viu acon-


tecer se repetirem, lhe impulsionando a tomar a melhor rota. Essa é uma explicação racional, e a razão pensa em termos de causas e efeitos. Mas, se tratando de um assunto tão transcendental, há também uma visão espiritualista. Nela a intuição pode ser entendida como uma inteligência não-linear, sem a ordenação habitual do tempo em passado, presente e futuro, sem a ordem cronológica de uma causa que gera uma consequência. Por isso, ela seria capaz de dobrar misteriosamente a linearidade, trazendo o acesso de informações de um tempo distante, por exemplo. Será?

SOMOS TODOS INTUITIVOS O assunto ainda é bastante misterioso e intrigante do ponto de vista científico. Mas há quem diga que todos temos potencial para a intuição, mas que muitas vezes colocamos barreiras. Essas vendas que bloqueiam nossa visão interior podem ser: ser bombardeado de informações externas o tempo todo, ser uma pessoa ocupada demais ou cética demais. Vivemos em uma cultura dominada pela lógica. Qualquer coisa que fuja disso, como a arte, por exemplo, é julgada e desvalorizada pela maioria. Durante a vida, as habilidades às quais vamos sendo expostos demandam sempre a razão. Mas integrar os dois polos de inteligência – razão e intuição – não nos fará fracos. É a receita para a verdadeira inteligência. “A intuição é algo muito poderoso, mais do que o intelecto”. Quem disse isso foi um dos maiores inventores e magnatas americanos: Steve Jobs.

Há uma expressão que diz que tem gente que só vive do pescoço para cima. Só pensa em termos lógicos, matemáticos, nas ações e reações. Além de gerar ansiedade, essa postura mental provoca uma desconexão da nossa tendência natural à leitura das energias, da intuição. Mas é possível reverter isso. Pois da mesma forma que fomos ensinados a pensar de maneira lógica, podemos também desenvolver uma capacidade intuitiva. Além de ser um trunfo a mais em um mundo que só valoriza um lado da moeda (o racional), desenvolvê-la é voltar a um estado de conexão consigo, de despertar seu poder pessoal e de viver de acordo com sua própria verdade, sem medo.

INTUIÇÃO x PARANOIA Vale lembrar que às vezes, quando não estamos totalmente preparados para receber essa intuição, podemos projetar nossas próprias crenças, medos, interesses e sentimentos conflitantes nessa inteligência sutil e acreditar que estamos recebendo mensagens que acabam por nos causar imensa paranoia. Isso não é intuição! De acordo com a médium norte-americana Laura Lynne Jackson, a verdadeira intuição nunca vem acompanhada de emoção, dúvida ou terrorismo. Saiba separar a confusão da sua mente da sua sabedoria interior. Na página seguinte separamos um guia com seis dicas para fazer essa filtragem dos pensamentos e despertar a sua intuição. Não deixe de ver!


5 Dicas

5

PARA DESPERTAR A SUA

INTUIÇÃO

dicas

Em terra onde só se valoriza a lógica, quem segue a intuição é rei e rainha. A palavra vem do latim intuere, que significa olhar para o que está dentro. O presente já está dentro da caixa. Todos nós temos intuição e encontrá-la não é algo de outro mundo. Essa é uma forma de despertar o poder pessoal e viver melhor de acordo com...você mesmo.

1 Cale-se. Para ouvir o que está

dentro é preciso dar um tempo no barulho externo e nos hiperestímulos do mundo aqui de fora. Isso, primeiramente, nos faz reconhecer que existem muitas mais dimensões na vida. No documentário InnSæi: o poder da intuição (2016), especialistas afirmam que apenas 2% do nosso cérebro é responsável pelo que os cientistas chamam de mente linear – aquela parte que nos coloca em ação no mundo: trabalhar, voltar para casa, fazer compras. O que se passa nos restantes 98%? Silêncio, ficar um pouco só e praticar meditação podem ajudar a acessar esse centro criador de linguagens e crenças que ocupa grande parcela do seu cérebro.

2 Sintonize-se com o seu canal.

Uma parte de aprender a silenciar o mundo lá fora inclui aprender a sintonizar na estação correta. Muitas vezes pegamos de empréstimo vibrações e crenças de outras pessoas. Elas não são nossas e é preciso mudar de canal, sintonizando apenas no que é seu. Faça o que lhe dá alegria e, com o tempo, os ruídos e distorções desaparecerão. Você escutará a sua voz interior com mais nitidez!

3 Uma vela acesa pode iluminar o que há dentro. Faça o exercício

de acender uma vela e passar alguns minutos em silêncio, apenas observando o brilho e o balanço da chama. Sua mente logo começará a “divagar”.

Preste atenção nesses micropensamentos que surgem antes da mente racional tentar apagá-los com algum argumento. Pensar logicamente é fundamental, mas a inteligência intuitiva também é.

4 Observe a natureza. Vá a um

parque e observe sem julgamentos. O som do vento, dos pássaros, a tonalidade de verde das folhas, a incidência do raio de sol. Observe também dados sensoriais: como o seu corpo reage a esse ambiente? O entendimento do seu mundo sensorial é um estudo importante para a interpretação da intuição. Os polinésios conseguiram mapear o oceano Pacífico quase todo sem ferramentas, apenas escutando o oceano. Isto é, acreditando em sua inteligência sensorial.

5 Pense em seis coisas impossíveis antes do seu café da manhã... Essa frase do filme Alice

no País das Maravilhas (2010) indica uma ótima estratégia para silenciar o lado lógico do cérebro e acessar a intuição por meio da criatividade. Um bom exercício também pode ser as Morning Pages, a prática desenvolvida pela autora Julia Cameron de acordar e escrever (à mão) o que vier à sua cabeça.

Bônus! Programe cristais para que eles possam te ajudar.

Pedras possuem vibrações sutis que nos colocam em sintonia com forças da natureza. Algumas delas têm uma capacidade de estimular a interiorização profunda quando usadas durante meditações ou no dia a dia em cima da mesa de trabalho ou em acessórios. É o caso destas: ametista, fluorita, sodalita, olho de tigre e lápis-lazuli.


NIKOLA TESLA

Foto: Luisa Denu/ Unsplash

"A maioria das pessoas está tão absorta na contemplação do mundo exterior que está totalmente alheia ao que está acontecendo em si".


Sua vida nas estrelas

você é de qual nakshatra? As Nakshatras dos signos de terra Escrito por Vanessa Lôbo

Foto: Min An/ Pexels

Os signos de terra são Touro, Virgem e Capricórnio. Esse elemento representa persistência, compromisso e conexão com o mundo material. Neste artigo abordarei brevemente os símbolos de cada Nakshatra desses signos. TOURO (15/05 a 14/06) Krittika, seu símbolo é a lâmina. A lâmina serve para cortar aquilo que você considera necessário e dar um objetivo à parte corta-

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da, como por exemplo o ato de cortar uma laranja para fazer um suco ou qualquer outra receita. Isso representa a determinação desses nativos frente aos seus objetivos materiais. Eles veem claramente o que é necessário fazer para alcançar o sucesso, sabem transformar o pó em ouro. Outra característica proeminente é o cuidado e carinho que eles possuem pelos seus entes queridos. Rohini, seu símbolo é a Carruagem. São os


nativos que trabalham para conseguir seu próprio conforto que desejam estar sempre andando nas “carruagens”. Prezam pelo luxo e buscam se associar com pessoas que consideram de elite. São também românticos, artísticos e possuem altas expectativas frente à vida. Mrigashira, seu símbolo é a cabeça de um antílope. A cabeça representa forte poder intelectual e o antílope andando pela floresta simboliza a busca pela realização dos desejos materiais e o cuidado de estarem sempre atentos aos predadores e demais contratempos. Os Nativos de Mrigashira são estrategistas na hora de aplicar seus planos e realizar seus objetivos. VIRGEM (17/09 a 16/10) Uttara Phalguni, seu símbolo são as 4 pernas da cama. Isso representa como esses nativos são estáveis e até teimosos, são aquelas pessoas que não mudam facilmente de opinião ou objetivo. Além disso, honram seus compromissos e são bons em estabelecer parcerias de sucesso. São confiantes e analíticos em seu campo de trabalho. Hasta, seu símbolo é a mão. A mão representa nossas habilidades e força de trabalho, e esses nativos refletem perfeitamente essas características: são habilidosos e não tem medo de “colocar a mão na massa”. Podem ter habilidades de plantio e cura através das mãos. São pessoas que estão concentradas na capacidade dos seus próprios esforços, no quão longe podem chegar com sua própria dedicação e empenho. Chitra, seu símbolo é a pérola. Para criar a pérola, o grão de areia entra na ostra e irrita-a. A ostra, não cospe o grão de areia – em vez disso, ela a aceita, e cobre com sua saliva, para criar o objeto, que será

mais agradável de suportar. Como resultado disso, o objeto mais precioso é criado: a pérola. Isso mostra como esses nativos são hábeis em lidar com situações difíceis. Além disso, são capazes de dar soluções criativas e concretas a cada problema que se apresente. Aceitam a situação e buscam fazer o melhor dela. CAPRICÓRNIO (14/01 a 12/02) Uttara Ashada, seu símbolo são as tábuas de uma cama. As tábuas são as partes da cama que receberá o acolchoado. Isso significa que estes nativos são resilientes em conquistar seus objetivos. Persistência e lutar pelos seus maiores sonhos é algo com o que estes nativos estão bem familiarizados. Além disso, eles são mestres em acolher os outros e são líderes generosos. Shravana, seu símbolo é a orelha. Psicólogos e terapeutas possuem essa nakshatra proeminente, afinal a orelha simboliza a capacidade de ouvir. São excelentes conselheiros e possuem uma natureza filosófica destacada. Sabem ouvir a voz da intuição e valorizam muito o conhecimento e o aprendizado e por isso são leitores ávidos. Dhanishta, seu símbolo é o tambor. Isso indica habilidades com a dança e a música. Esses nativos são criativos e, assim como o tambor dissemina seu som, eles não hesitam em disseminar suas ideias e fazer algo rentável de suas ideias criativas.

@astrologiaecura

Vanessa Lôbo é criadora do projeto Astrologia e Cura e tem como propósito trazer consciência, poder de escolha e paz de espírito através da Luz da Astrologia Védica.

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Leia!

KOAN: GRANDES SABEDORIAS EM POUCAS PALAVRAS 108 Contos e Parábolas Orientais, Monja Coen. 240 páginas. Editora Academia. “A mente é como um imenso espelho iluminado. Você nunca pode deixar que nele se junte pó”, certa vez disse Buda. E uma das formas de não deixarmos que se junte pó é quando colocamos a mente em movimento e filtrarmos o que se passa nela. “Somos o que pensamos”, ensina a sabedoria budista. O livro 108 Contos e Parábolas Orientais, da Monja Coen, nos convida a acessar a nossa mente desperta. Por meio de textos curtos e de fácil leitura, Monja Coen reconta histórias verdadeiras vivenciadas por praticantes e monásticos, também tecendo suas próprias experiências e interpretações a partir do Soto Zen Budismo, tradição da qual faz parte. Algumas dessas histórias centenárias são chamadas de Koan, que significa proclamação pública, e têm sido usadas como ferramentas de aprendizagem e de reflexão. “O uso de Koans ajuda a libertar o ser das suas próprias amarras”, escreve Monja Coen.

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Ao longo de cada Koan, temos contato com porções de sabedoria que podem iluminar a nossa vida cotidiana. Nos diálogos entre mestres, monges e outras personalidades, é notável o momento da pausa e do silêncio para refletir sobre a questão levantada e a resposta a ser dada. Esse é um dos ensinamentos que podemos levar para o nosso comportamento, muitas vezes, automatizados frente às questões que chegam até nós. Além disso, 108 Contos e Parábolas Orientais nos conecta com fundamentos ligados à prática do budismo, como Darma e Zazen (prática meditativa), e também com questões e virtudes universais: moral, apego e desapego, calma frente às adversidades e relações intra e interpessoais. E o mais importante: que a sabedoria e os ensinamentos sejam colocados em prática. “A única maneira de proteger os ensinamentos é vivenciá-los”, está escrito no comentário do Koan Proteger o Darma.



Foto: Racool_studio/ Freepik (apenas ilustativa)


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INSPIRAÇÕES DO MÊS NO PRINCÍPIO DEUS CRIOU OS CÉUS E A TERRA...

NA DESCOBERTA DE SI

O segredo do templo ! Netflix ! 2019 ! 16 anos

mãe! ! Escrito e dirigido por Darren Aronofsky ! 2017 ! 16 anos O que você faria se um monte de gente entrasse agora na sua casa sem te respeitar nem um pouquinho? Quando lançado, o filme mãe! deixou uma terrível interrogação na cabeça de muita gente. Mas, na realidade, quando você entende a chave-interpretativa tudo faz incrivelmente muito sentido. Sem pretensão de spoilers, introduzimos que o filme conta a história de um casal que está finalizando a construção de sua casa. A esposa pensa que terá dias tranquilos com o marido, mas esse permite a entrada de um visitante seguido do outro. Uma alegoria para a Mãe Terra, a raça humana, o poder criador e como o feminino é enxergado em nossa sociedade. É possível ver a presença de várias mitologias dentro da narrativa. Essa é uma das melhores obras que o cinema produziu nos últimos anos. Crítica, forte e inteligente.

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Uma mistura de Indiana Jones com psicanálise, O Segredo do Templo é uma série turca que aborda o inconsciente, o papel dos que vieram antes de nós, a máscara social e a verdade essencial em cada um. Atiye, a protagonista, é uma pintora que descobre que um símbolo que desenha desde criança acaba de ser encontrado nas recentes escavações do sítio arqueológico de Anatólia. Como ela conheceria um símbolo que esteve soterrado por tanto tempo? Sua autodescoberta depende de expedições ao interior do templo (o histórico, em ruínas, e o pessoal: sua própria vida).

Aumente as suas palavras, não a sua voz. É a chuva que faz as flores crescerem, não os trovões. Rumi


treine onde estiver

ESTUDANDO EM HARVARD

edX – plataforma on-line de educação

Freeletics ! Google Play e App Store Se você não tem tempo (ou mesmo dinheiro) para frequentar uma academia e necessita praticar alguma atividade física, a solução pode estar na sua mão – ou melhor: no seu celular. O aplicativo para smartphone Freeletics é uma das opções. Logo no começo, o app faz uma triagem para saber o condicionamento físico do usuário e as preferências de exercícios. Essas informações dão o toque especial na inteligência artificial da plataforma, direcionando as atividades mais ideais. Outro ponto positivo é que cada exercício vem com um vídeo que ensina como executá-lo corretamente. Na versão paga, o Freeletics desbloqueia mais séries de exercícios e disponibiliza um coach virtual para personalizar ainda mais os treinos.

De graça e sem sair de casa. A plataforma de ensino edX foi fundada em 2012 por pesquisadores da Universidade de Harvard e do MIT com a finalidade de tornar os cursos dessas instituições mais acessíveis. Desde então, muitas das melhores universidades do mundo se agregaram ao projeto. São milhares de cursos de diferentes áreas, além de alguns mestrados à distância. É possível assistir a maioria das videoaulas como ouvinte gratuitamente. Em muitos casos, você só paga se solicitar o envio do diploma. Os cursos são, em sua maioria em inglês e a legenda automática pode ajudar bastante. Acesse e veja se tem algo que lhe interessa! Conhecimento nunca é demais! https://www.edx.org/course

Conheça Lúcia Helena Galvão Às vezes, a filosofia pode parecer algo difícil. O verbo “filosofar”, na linguagem popular, se tornou até uma expressão para quem fala coisas demasiado complicadas: “Nossa! Agora você filosofou!”. Já ouviu isso? Mas não precisa ser complicado. Lúcia Helena Galvão é alguém que descomplica e te faz tomar gosto pelo conhecimento. Conhecimento para viver bem! Lúcia Helena é uma poetisa, filósofa e professora brasileira. Há mais de 31 anos ela empresta a sua voz e a sua mente de forma voluntária para o projeto Nova Acrópole, uma organização sem fins lucrativos que existe no mundo inteiro com o objetivo de contribuir para a evolução pessoal e coletiva por meio da filo-

sofia. No canal de YouTube da organização são muitas as palestras, leituras comentadas e cursos ministrados por Lúcia Helena. Gratuitamente! É uma grande oportunidade dividir o mesmo tempo e espaço com uma pessoa que tem tanto a nos inspirar por meio da união das palavras de grandes mestres do pensamento e da sua interpretação singular da mensagem de esperança e do potencial humano que perpassa os séculos.


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