Ecos 8

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Senti um peso nos ombros, como se um imenso cobertor ali tivesse sido colocado. A tarde ensolarada pareceu se tornar silenciosa e sólida, sem sons externos, sem reverberação, sem “vida” (King de novo, mas “Fenda no Tempo” só viria nos anos 90). Empunhei o Colt, fingindo puxar a trava como via nos filmes e encarei a porta do quarto. A maçaneta permanecia imóvel, como tudo o mais ao redor. Quis olhar pela janela, na expectativa de algum movimento lá fora, mas não me atrevi a tirar os olhos da porta. Não havia ruído algum, era como se eu fosse o último ser humano sobre a face da Terra (sim, já havia lido “Eu Sou a Lenda”, de Richard Matheson, e assistido “The Omega Man” com Charlton Heston). Comecei a tremer, suando frio com a ansiedade. “Mas, pô! – pensei – Tô no meu quarto, em Rio Negrinho.” Ao ouvir um levíssimo som do lado de lá da porta (“imaginassom”?), fui rápido: tornei a enfiar a pistola no cinto e recuei dois passos até bater a bunda na carteira. Enfiei-me por baixo dela, levantei o assento-portal e subi. Baixei e fechei o alçapão, desci para o chão, saquei novamente o Colt e fiquei alguns segundos ali, provavelmente pálido, tremendo de medo. Ao certificar-me de que não fora seguido, improvisei algum objeto à guisa de chave, lacrei o portal e me arranquei lá pra fora.

Sob a Minha Carteira

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