REVISTAq — A revista do CNPq

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seção científica

maior o nível econômico, menor a prevalência. Em comparação ao grupo econômico mais rico, o grupo mais pobre apresentou o dobro do risco de infecção por SARS-CoV-2. Já em relação à cor da pele auto relatada, as pessoas negras (pretas e pardas) apresentaram um risco duas vezes maior do que o observado nas pessoas brancas. Já as pessoas indígenas apresentaram um risco quase cinco vezes maior do que as pessoas brancas (HALLAL et al., 2020) No caso do Brasil, um fator nitidamente associado com a prevalência de SARS-CoV-2 é a postura anti-ciência. Por exemplo, dados ecológicos publicados em reportagem do Valor Econômico (MENDONÇA, 2021) mostraram uma evidente relação dose-resposta entre o percentual de votos de cada cidade na última eleição presidencial e o número de casos e óbitos por covid-19 na população. O número de casos para cada 100 mil habitantes cresceu de menos de 4.000 nas cidades em que o atual governo teve menos de 20% dos votos no segundo turno da última eleição para cerca de 10.000 nas cidades em que ele teve mais de 80% dos votos. A mortalidade apresenta tendência similar, com menos de 100 mortes para cada 100 mil habitantes nas cidades em que o atual governo teve menos de 20% dos votos, e com mais de 250 mortes para cada 100 mil habitantes nas cidades em que ele teve mais de 60% dos votos.

Consequências As consequências da infecção pelo SARS-CoV-2, infelizmente, são devastadoras sob o ponto de vista epidemiológico. Um primeiro indicativo disso é a letalidade da doença, ou seja, o percentual de óbitos entre os infectados. Dados do Epicovid19 sugerem que a letalidade pela covid-19 é próxima de 1% (HALLAL et al., 2020). Estudos disponíveis na literatura mostram que a letalidade aumenta consideravelmente com o aumento da idade, é maior entre pessoas com fatores de risco para doenças e agravos não-transmissíveis e com comorbidades. Apesar de o óbito ser a consequência mais grave da infecção pelo SARS-CoV-2, ele não é a única. Muitos pacientes mantêm sintomas por longos períodos, sendo que ambulatórios para tratamento da covid-19 de longa duração estão

sendo criados em vários locais no Brasil e no mundo. Além disso, sequelas das infecções por SARS-CoV-2, especialmente aquelas que levaram a hospitalizações, também são observadas em vários pacientes. Além das consequências clínicas para os pacientes acometidos pela doença, não se pode ignorar as consequências populacionais da pandemia, mesmo em pessoas não acometidas pela infecção. Só no Brasil, são mais de 500 mil famílias em luto pela perda de entes queridos, além das devastadoras consequências sobre a saúde mental decorrentes do estado de pandemia. Estudo recente estimou que haveria, até abril de 2021, mais de 1 milhão de crianças órfãs em decorrência da pandemia (HILLIS et al., 2021).

Intervenções Desde os primeiros meses da pandemia de covid-19, as intervenções foram divididas em três grandes grupos: intervenções não farmacológicas para frear a disseminação do vírus; testagem de tratamentos medicamentosos para evitar que as pessoas contaminadas desenvolvessem casos mais graves; e desenvolvimento de vacinas. Entre as intervenções não farmacológicas (LIANG et al., 2020), o uso de máscaras demonstrou benefício inequívoco para impedir a circulação do vírus. Além disso, a realização de lockdowns pontuais também impediu a transmissão do vírus (FLAXMAN et al., 2020). Deve-se destacar que, em meio a uma pandemia, é complexo desenhar estudos experimentais para avaliar a efetividade de medidas não farmacológicas. Em relação aos tratamentos medicamentosos para covid-19, em resumo, não foram descobertos, até setembro de 2021, medicamentos que consigam impedir a contaminação ou quadros graves da doença. No entanto, uma série de tratamentos têm sido utilizados com pacientes para prevenir complicações graves, sequelas e óbitos. Sem dúvida, o maior avanço nas intervenções contra a covid-19 foi o desenvolvimento, em tempo recorde, de vacinas seguras e eficazes contra a doença, as quais demonstraram eficácia em estudos experimentais controlados (BADEN et al., 2021) e efetividade em análises utilizando dados da vida real (BARDA et al., 2021)


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