Modernismo expandido – Museu Nacional da República

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Curadoria Denise Mattar

MUSEU NACIONAL DA REPÚBLICA

Tuîa arte produção Brasília 2022


Modernismo expandido Museu Nacional da República 10/6 a 7/8/2022 Curadoria Denise Mattar

Montagem C²

Coordenação Oitava Casa Produções Artísticas

Pintura LM Montagem de Cenários

Produção executiva Bruna Neiva Tuîa arte produção

Plotagem WL Comunicação Visual

Coordenação pedagógica Rebeca Borges Oitava Casa Produções Equipe Produção Tuîa Léia Magnólia Nina Maia Nobre Expografia Guilherme Isnard Assistente de curadoria Felipe Barros de Brito Acervo Literário Oto Reifschneider Design Felipe Cavalcante Gabriel Menezes molde.cc Estágio em design Cecilia Cartaxo molde.cc Design para material educativo Luisa Malheiros Assessoria de imprensa Agenda KB Coordenação administrativa Elisa Mattos Fotografia Diego Bresani

Transporte Alves Tegam Mediadores Ana Júlia Pontual Kehl Yuri Farias Agradecimentos especiais Almeida e Dale Galeria de Arte Leonardo Leal Vitor Werkhaizer Agradecimentos

Adriana Cravo, Afrísio Vieira Lima Filho, Ailema Bianchetti, Alfio Lagnado, Alexandre Milagres, Alisson Valentim, Ana Virgínia Juaçaba, Antônio Batista, Augusto Câmara Neiva, Bismarck Maia, Bruna Sanjuan, César Giobbi, Daniel Maranhão, Daniel Rozowykwiat, Diogo Cantarelli, Eduardo Sarmento, Eduardo Suassuna, Elvira Tobias, Eronilce Calila, Fernando Araújo, Fernando de Castro Marques, Galeria Marco Zero, Gottfried Stützer, Igor Queiroz, REC Cultural, Ivany Câmara Neiva, Joana Bianchetti, Joana Rozowykwiat, Julio Martins, Malou von Muralt, Marcelle Farias, Marcelo dos Santos Silva, Marcelo Lordello, Morena Reis, Museu de Arte de Brasília, Museu Mineiro, Nikita Lukin, Oto Reifschneider, José Borzacchiello da Silva, Paul Loutsch, Paula Nakashima, Paulo Darzé, Rafael Perpétuo, Renata Jereissati, Sara Seilert, Thais Darzé

Governador do Distrito Federal Ibaneis Rocha Vice-governador do Distrito Federal Paco Britto Secretário de Estado de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal Bartolomeu Rodrigues Diretora Sara Seilert Marca e Comunicação Marcos Mendes Manente Administração Fernando Andrade Henrique Santos Dumont Joaquim Augusto de Azevedo Lívia Solino Acervo Mariana Morena Pinheiro Reis Venicio Egídio da Silva Educativo Leísa Sasso Programa Territórios Culturais Pesquisa Maíra Rangel Audiovisual Taís Castro Atendimento ao público Margarida de Castro Paula Maria da Conceição Machado Marileusa Barbosa Pires Marlene Teixeira de Castro Josué Oliveira Estagiárias Beatriz Gomes Nascimento Lisandra Lelis

Assistente de produção Jebson Vicente Assistente administrativa Natália Botelho

Apoio Manufatura.org

Modernismo Expandido MATTAR, Denise-, SEILERT, Sara-, NEIVA, Bruna (Org.) Brasília, Tuia Arte Produção, 2022. 80 p. : il. ISBN 978-65-994654-3-7 1. Artes Visuais. 2. Arte Brasileira. 3. Modernismo 1. Denise Mattar CDD 700

Museu Nacional da República

CDU 01+73


Sumário

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Bahia Agnaldo dos Santos Carlos Bastos Carybé Genaro de Carvalho Jenner Augusto Mario Cravo Jr Mestre Didi Presciliano Silva Ceará Aldemir Martins Antonio Bandeira Barrica Estrigas Heloisa Juaçaba Nice Firmeza Raimundo Cela Minas Gerais Alberto da Veiga Guignard Delpino Jr. Farnese de Andrade Fernando Pierucetti Franz Weissmann Genesco Murta Jeanne Milde Martha Loutsch Mary Vieira

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Pernambuco Abelardo da Hora Cícero Dias Corbiniano Lins Fédora do Rego Monteiro Francisco Brennand Gilvan Samico José Barbosa José Claudio Luiz Jardim Lula Cardoso Ayres Reynaldo Fonseca Tereza Costa Rêgo Vicente do Rego Monteiro Wellington Virgolino Rio Grande do Sul Ado Malagoli Ailema Bianchetti Carlos Scliar Danúbio Gonçalves Francisco Stockinger Glauco Rodrigues Glenio Bianchetti Iberê Camargo Maria Tomaselli




MODERNISMO EXPANDIDO Denise Mattar Curadora

A exposição Modernismo Expandido, desenvolvida na esteira das comemorações da Semana de 22, tem como proposta apresentar uma visão mais ampla do movimento modernista, indicando como ele se articulou, expandiu e consolidou nos diversos estados brasileiros. Esse processo, que ocorreu majoritariamente entre as décadas de 1930 e 1950, não teve um desenvolvimento linear, e sua divulgação quase nunca extrapolou os limites locais. Embora concentrada na produção dessas décadas, a mostra não se restringiu a esse arco temporal, acrescentando a cada grupo uma obra de grande formato, e estabelecendo relações de diferentes ordens, sempre calcadas em afinidades conceituais. Dividida em cinco núcleos, a mostra apresenta obras de artistas natos ou radicados em Pernambuco, Bahia, Ceará, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Alguns se tornaram muito conhecidos, como Cícero Dias, Iberê Camargo, Genaro, Carybé, Aldemir Martins, Antonio Bandeira e Mary Vieira, enquanto que outros, igualmente importantes, ficaram esquecidos, como Abelardo da Hora, Heloysa Juaçaba, Genesco Murta, Ailema Bianchetti, Martha Loutsch, entre outros. A participação feminina, tantas vezes apagada, tem aqui presença marcante. A seleção de obras teve como meta evidenciar a qualidade da arte brasileira, chamando a atenção para os processos excludentes decorrentes da centralização cultural. Fica claro que os artistas que optaram por permanecer em suas cidades não foram integrados ao circuito de arte, enquanto que aqueles que se mudaram para o hegemônico eixo Rio - São Paulo, ou para o exterior, conquistaram o sucesso.

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No período em foco, no qual o vínculo entre a literatura e as artes plásticas era muito mais estreito, ocorre processo similar, levando o poeta catarinense Silveira de Souza a dizer: “ publicar na província é permanecer inédito”. Um conjunto de livros, folhetos e álbuns apresentados na mostra, demonstra essa afirmativa. A exposição proporciona assim a oportunidade de fazer uma reparação histórica, resgatando parte da arte brasileira cuja importância tem sido obscurecida pela historiografia oficial. Para finalizar esse percurso de maneira a não esquecer nossas origens e raízes, oferecemos ao público a experiência da Oca Maloca. Realizada pela artista Maria Tomaselli, a instalação é uma síntese de nosso país, abrigando segredos criados por mais de 40 artistas. Uma viagem pelas possibilidades criativas do Brasil.

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MUSEU apresenta MODERNISMO EXPANDIDO Sara Seilert Diretora Museu Nacional da República

A exposição “Modernismo expandido” marca o centenário da Semana de Arte Moderna de 1922 no programa do MUSEU Nacional da República em Brasília este ano. Desde seu planejamento, em diálogo com Denise Mattar, curadora da mostra, Bruna Neiva, da Tuia Arte Produção e Rebeca Borges, da Oitava Casa, que atuaram em sinergia pela realização desta mostra, buscou-se uma abordagem crítica deste evento e suas reverberações, construindo sentidos atualizados e contextualizados em uma proposta que promove a ampliação da acepção do Modernismo brasileiro para além do eixo hegemônico Rio-São Paulo. Para um MUSEU Nacional que se encontra no interior do Brasil, interessa propor um olhar para as manifestações modernistas em diversas partes do país, evidenciando suas qualidades, conexões e particularidades e, ainda, os desdobramentos que influenciaram e catalisaram a construção de Brasília, cidade onde estamos. São apresentadas obras de artistas de cinco estados brasileiros: Bahia, Ceará, Minas Gerais, Pernambuco e Rio Grande do Sul, que mostram a efervescência do campo das artes plásticas dos anos 1930 a 1950, atrelado à literatura e à intelectualidade nas universidades, ateliês, salões e museus em formação pelo Brasil. A obra “Oca Maloca” de Maria Tomaselli, acervo do Museu de Arte de Brasília (MAB), destaca-se na expografia e na narrativa deste “Modernismo expandido”. Ao centro da grande cúpula de concreto foi montada a oca-instalação interativa – com a orientação da artista que veio à Brasília especialmente para esse fim –, construída com pedaços de madeira de demolição com intervenções de outros 46 artistas. A obra possui um formato de oca indígena, permitindo que o público entre em seu interior

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e conheça seus “segredos”. “Oca Maloca” evoca a ancestralidade e a diversidade cultural brasileira. “Modernismo expandido” foi organizada com o empenho das equipes Tuia Arte Produção e Oitava Casa e pesquisa acurada e sensível de Denise Mattar, às quais agradecemos especialmente. O Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal tornou isso possível, o qual destacamos por sua importância no incentivo às atividades artísticas e culturais desenvolvidas no DF. O MUSEU Nacional da República é extremamente grato também aos colecionadores que cederam suas obras em confiança, aos pesquisadores que colaboraram em seminário – Divino Sobral, Emerson Dionísio Gomes de Oliveira e Raphael Fonseca –, às artistas Maria Tomaselli e Ailema Bianchetti e ao colecionador Oto Reifschneider, que coordenou a curadoria de publicações a partir de sua coleção. Finalmente, um agradecimento especial à extraordinária equipe do MUSEU.

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Carybé Vaqueiros, 1953 Óleo sobre placa 100 × 220 cm Coleção Paulo Darzé Galeria, BA


BAHIA

Os Salões da ALA – Ala das Letras e das Artes, organizados pelo crítico Carlos Chiacchio a partir de 1937, foram um importante acontecimento das artes plásticas na Bahia, sendo realizados num período no qual ainda predominava a arte acadêmica. Professor da Escola de Belas Artes da Bahia, Presciliano Silva, entretanto, já incorporava à sua obra uma visão mais luminosa, distanciando-se das sufocantes regras da Academia e abrindo portas para as novas gerações. Em 1944, foi inaugurada em Salvador a “Exposição de Arte Moderna” reunindo mais de cem obras de artistas como Di Cavalcanti, Segall, Goeldi e Portinari. A rejeição do público baiano foi grande, culminando com a realização, no hall do Palace Hotel, de uma exposição caricatural ridicularizando a arte moderna. Mas, em 1946, aconteceu uma grande virada, uma verdadeira revolução cultural. Foi fundada a Universidade da Bahia, tendo como reitor Edgard Santos, que criou

as Escolas de Teatro, Música e Dança convidando para ministrar as aulas artistas e teóricos da mais absoluta vanguarda como Koellreutter, Lina Bo Bardi, Yanka Rudzka e Martim Gonçalves. Esse fato tornou Salvador um ponto de encontro de intelectuais. Em 1949, Mario Cravo Jr. retornando de um período de estudos nos Estados Unidos, montou um ateliê-oficina, que se tornaria lendário. Aberto a todos, foi o grande motor da mudança das artes plásticas na Bahia. Lá circulavam: Carlos Bastos, Genaro de Carvalho, Carybé, Jenner Augusto, Rubem Valentim e Agnaldo dos Santos, entre outros. Esses artistas irão construir uma marcante visualidade da Bahia, em consonância com a efervescência da Universidade, o mundo sagrado de Mestre Didi, as sensuais narrativas de Jorge Amado e o som de Caymmi, celebrando ao violão a beleza e o poder de Iemanjá, senhora das águas e rainha do mar.

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Presciliano Silva Sem título, s.d. Óleo sobre tela 55 × 45 cm Coleção Paulo Darzé Galeria, BA

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Presciliano Silva Sem título, 1947 Óleo sobre madeira 33 × 40 cm Coleção Paulo Darzé Galeria, BA

Jenner Augusto Na Cocheira, 1952 Óleo sobre tela 38 × 28 cm Coleção Paulo Darzé Galeria, BA

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Mario Cravo Jr Sem título, 1955 Escultura em ferro pintado 46 × 60 × 60 cm Coleção Paulo Darzé Galeria - BA

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Mario Cravo Jr Sem título, 1961 Escultura em ferro 138 × 78 × 36 cm Coleção Paulo Darzé Galeria, BA

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Carlos Bastos Sem título, 1951 Óleo sobre placa 80 × 50 cm Coleção Paulo Darzé Galeria, BA

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Carybé Yaôs, 1953 Mosaico 76 × 67 cm Coleção Paulo Darzé Galeria, BA

Genaro de Carvalho Sem título, s.d. Tapeçaria 119 × 137 cm Coleção Paulo Darzé Galeria, BA

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Mestre Didi Sem título, s,d. Nervura de palmeira, couro pintado, búzios e contas 204,5 × 74 × 40 cm Coleção Particular, SP

Agnaldo dos Santos Sem título, s.d. Madeira 67 × 21 × 20 cm Coleção Alfio Lagnado, SP

Mestre Didi Sem título, s,d. Nervura de palmeira, couro pintado, búzios e palha da costa 106 × 45 × 14 cm Coleção Particular – SP

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Genaro de Carvalho O circo s.d. Óleo sobre madeira 236 × 400 cm Coleção Particular, DF

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Raimundo Cela Fitando o mar, 1943 Óleo sobre madeira 75,5 × 62,5 cm Coleção Particular, CE


CEARÁ

Raimundo Cela foi um dos primeiros artistas cearenses a frequentar a Escola Nacional de Belas Artes no Rio de Janeiro, recebendo, em 1917, o cobiçado Prêmio de Viagem ao Exterior. Considerado um dos criadores da visualidade cearense, Cela descartou a representação do sertanejo para mostrar o trabalhador forte e decidido do litoral, a intensa luz das praias nordestinas e as nuvens rosadas do céu equatorial. Em 1941, fez parte do grupo que criou em Fortaleza o Centro Cultural de Belas Artes, ao lado do crítico Mario Baratta, dos artistas Estrigas, Barrica e Nice Firmeza, e dos jovens Antonio Bandeira e Aldemir Martins, entre outros. Três anos depois, a instituição passou a chamar-se Sociedade Cearense de Artes Plásticas. Segundo Heloysa Juaçaba: “A SCAP era quase uma filosofia. Reuníamo-nos para conversar sobre arte, e para produzir”. Em 1943, a sociedade criou o Salão de Abril – que existe até hoje – e manteve suas atividades até 1958. A partir de

então Juaçaba tornou-se a grande incentivadora da arte moderna na cidade, sem nunca deixar de pintar. Em 1945, Aldemir Martins e Antonio Bandeira participaram de uma coletiva de artistas cearenses, organizada pelo pintor suíço Jean-Pierre Chabloz, na Galeria Askanasy, Rio de Janeiro. A partir dessa mostra Antonio Bandeira foi contemplado pelo governo francês com uma bolsa de estudos para Paris, onde permaneceu de 1946 a 1950. Lá, fez a opção pela Abstração Lírica, tornando-se um dos pioneiros nacionais e internacionais dessa vertente, sem deixar de lado a alusão à figura. Exímio desenhista, Aldemir Martins optou por uma figuração nordestina e sacudiu a crítica nacional e internacional com seu traço inovador, recebendo, em 1956, o prêmio de melhor desenhista internacional da Bienal de Veneza; láurea nunca mais recebida por um artista brasileiro.

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Aldemir Martins Retrato de Sergio Milliet, 1950 Óleo sobre tela 61 × 50 cm Coleção Particular, SP

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Heloysa Juaçaba Músico, déc. 1950 Aquarela sobre papel 49 × 32 cm Coleção Particular, CE

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Barrica Sem título, s.d. Técnica mista sobre tela 46 × 61 cm Coleção Leonardo Leal, CE

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Heloysa Juaçaba Nova Iorque, 1956 Acrílica sobre madeirite 23 × 30 cm Coleção Particular, CE

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Nice Firmeza Sem título, sem data Bordado aplicado em madeirite 18 × 18 cm Coleção Homero Calls, CE

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Estrigas Natureza Morta, 2003 Óleo sobre tela 32 × 41 cm Coleção Leonardo Leal, CE

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Aldemir Martins Cangaceiro, 1956 Gravura em metal, 49/100 43x36 cm Coleção Oto Reifschneider

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Aldemir Martins Futebol (Goleiro), 1966 Óleo sobre tela 166 × 130 cm Coleção Particular, SP

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Antonio Bandeira Sem título, 1956 Técnica mista SM 64 × 48,5 cm Acervo MAB | Acervo Museu Nacional

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Antonio Bandeira Abstração, 1964 Óleo sobre madeira 131 × 198 cm Coleção Particular, CE

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Genesco Murta Morro do Castelo, 1920 Óleo sobre tela 142,5 × 107 cm Acervo Museu Mineiro, MG


MINAS GERAIS

A implantação do modernismo em Minas Gerais pode ser dividida em três momentos. A exposição individual de Zina Aita, em 1920, o Salão Bar Brasil, em 1936, e a Exposição de Arte Moderna de 1944. Nascida em Belo Horizonte, Zina estudou desenho e pintura na Itália realizando sua exposição logo após o retorno ao Brasil. Foi uma das participantes da Semana de 22, sendo considerada uma das artistas mais modernas do evento. Sua presença, entretanto, foi um impulso isolado que não teve continuidade na cena mineira. O Salão Bar Brasil foi organizado pelo pintor e ilustrador Delpino Jr. e contou com a participação de vários artistas. Eles queriam que a cidade de Belo Horizonte “despertasse do marasmo, disposta a prestigiar seus autênticos valores”. Foram destaques no evento: Genesco Murta, cujo trabalho flerta com o impressionismo, a escultora belga Jeanne Milde, considerada a primeira mulher profissional das artes na cidade, e Fernando Pierucetti que apresentou as obras mais polêmicas do Salão. De nítido cunho social, realizadas em papéis rasgados, elas de fato eram questionadoras. Mas ainda dessa vez

não houve continuidade na expansão do modernismo. Isso só acontecerá com a criação da Escola de Artes de Guignard, em 1944. Para marcar a chegada do mestre foi realizada a Exposição de Arte Moderna, evento do qual participaram os mais importantes artistas da época e que causou furor na cidade, culminando com 8 pinturas cortadas à navalha. A Escola do Parque iria revelar talentos, entre eles, Farnese de Andrade e Mary Vieira. Residindo em BH desde 1939, a alemã Martha Loutsch, tornou-se grande amiga de Guignard, assim como de Franz Weissmann, que chegaria à cidade no final de 1944 para ministrar aulas de escultura. Por ocasião da Exposição, conhecida como Semaninha, Juscelino Kubitscheck, então prefeito de Belo Horizonte, levou duas caravanas de intelectuais do Rio e de São Paulo para apresentar a eles o complexo da Pampulha, um dos primeiros conjuntos arquitetônicos modernistas do mundo. O evento foi um marco na carreira de Oscar Niemeyer que comentava esse momento com a frase : “Brasília nasceu na Pampulha”.

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Delpino Jr. Sem título, s.d. Guache sobre papel 43 × 34 cm Coleção Oto Reifschneider, DF

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Fernando Pierucetti Jornaleiros Dormindo, 1936 Carvão sobre papel 45 × 70 cm

Fernando Pierucetti Miséria, 1936 Carvão sobre papel 45 × 70 cm

Acervo Museu Mineiro, MG

Acervo Museu Mineiro, MG

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Franz Weissmann Busto de Joanna de Arruda Câmara Neiva, 1941 Bronze 52 cm h. Coleção Augusto e Ivany Câmara Neiva, SP

Jeanne Milde Carga Pesada, 1978 Terracota 22,5 × 17 × 10 cm Acervo Museu Mineiro, MG

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Jeanne Milde Ternura, 1920 Gesso e patina 35 × 23 × 22 cm Acervo Museu Mineiro, MG

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Farnese de Andrade Sem título, s.d. Sanguínea 38 × 39,5 cm Coleção Particular, SP

Farnese de Andrade Retrato do amigo Rafael, 1946 Desenho a nanquim 37 × 32,5 cm Coleção Particular, SP

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Alberto da Veiga Guignard Lagoa Santa, 1950 Óleo sobre madeira 60 × 80 cm Coleção Particular, SP

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Mary Vieira Retrato de Helio Pellegrino, s.d. Óleo sobre tela 68 × 54 cm Coleção Particular, SP

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Martha Loutsch Rua Dom Pedro Il, 1939 Óleo sobre tela 94 × 69,5 Coleção Marcelo Lordello, SP

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Corbiniano Lins Sem título, s.d. Alumínio 73 × 73 × 50 cm Acervo REC Cultural, PE


PERNAMBUCO

Fédora do Rego Monteiro foi a primeira mulher brasileira a participar do Salon des Indépendants, em Paris, na década de 1910. Sua estadia de estudos na França foi fundamental no desenvolvimento da carreira de seu irmão Vicente do Rego Monteiro. Atuante na poesia e nas artes plásticas, Vicente foi um dos artistas da Semana de 22 e grande incentivador de Ledo Ivo e João Cabral de Melo Neto na Recife dos anos 1940. Autodidata, Luiz Jardim também ficaria conhecido como artista plástico e escritor. Cícero Dias, após sua marcante apresentação no Salão Revolucionário de 1931, com a obra: “Eu vi o mundo, ele começava no Recife”, mudou-se para Paris, onde residiu a maior parte de sua vida. Lá desenvolveu características bem particulares, realizando em 1948, no Recife, o primeiro painel abstracionista da América Latina. Na ocasião, apresentou seus trabalhos numa polêmica exposição que dividiu as opiniões da cidade. No mesmo período, estava de volta a Recife o multiartista Lula Cardoso Ayres, um dos grandes responsáveis por imprimir marcas específicas às artes plásticas pernambucanas. Ele soube unir referências populares e o imaginário nordestino a uma pintura modernista, em consonância com o movimento regionalista urdido por Gilberto Freyre. Num viés paralelo,

mitológico e totalmente pessoal, se situa a obra de Brennand. Ainda em 1948 há um rompimento dos artistas com a Escola de Belas Artes, sendo fundada a Sociedade de Arte Moderna do Recife. Dela nasceria, em 1952, o Ateliê Coletivo, criado por Abelardo da Hora e Hélio Feijó com a proposta de “valorizar a arte e revigorar o caráter brasileiro de nossa criação artística”. Composto por artistas de produção muito diversa, como Reynaldo Fonseca, Ladjane Bandeira, Wellington Virgolino, José Claudio e Corbiniano Lins, entre outros, o grupo se inspirava no conteúdo social das propostas do Clube da Gravura de Porto Alegre. A exigência política de Abelardo da Hora exauriu o grupo e seus artistas seguiram por diferentes caminhos. Na década de 1970, Ariano Suassuna faria uma nova proposta da integração de arte e regionalismo, com o Movimento Armorial, tendo entre seus artistas Gilvan Samico e José Barbosa. Mulheres de Tejucupapo é uma obra de 2015, realizada por Tereza Costa Rego aos 89 anos de idade. Pleno da energia contestadora da artista e de referências a Goya, o painel retrata a saga das mulheres que, sozinhas, expulsaram os holandeses de sua aldeia – uma história de heroísmo feminino, audácia e de luta pela terra.

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Luiz Jardim Paisagem do Recife, 1936 Técnica mista sobre papel 43 × 63 cm Acervo REC Cultural, PE

Fédora do Rego Monteiro Sem título, s.d. Óleo sobre tela 46 × 31 cm Acervo REC Cultural, PE

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Vicente do Rego Monteiro Vaso de flores, dec. 1940 Óleo sobre cartão 32,5 × 25,5 cm Acervo REC Cultural, PE

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Lula Cardoso Ayres Sem título, 1952 Óleo sobre aglomerado 100 × 68 cm Acervo REC Cultural, PE

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Cícero Dias Musicalidade, dec. 1940 Óleo sobre tela 73 × 92 cm Coleção Nikita Lukin, SP

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Reynaldo Fonseca Rapaz de Terno, 1944 Óleo sobre eucatex 58 × 43 cm Acervo REC Cultural, PE

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Reynaldo Fonseca A Fonte, 1944 Óleo sobre tela 59 × 51 cm Acervo REC Cultural, PE

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Abelardo da Hora Fome e o Brado, 1947 Bronze 95 × 60 × 45 cm Acervo REC Cultural, PE

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Abelardo da Hora Vendedor de Pirulitos, 1962 Bronze 47,5x 17,5 × 18 cm Acervo REC Cultural, PE

Abelardo da Hora Mulher de Bruços, s.d. Bronze 53 × 115 × 52 cm Coleção Galeria Marco Zero, PE

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Wellington Virgolino Cortador de cana, 1951 Óleo sobre tela 82 × 62 cm Acervo REC Cultural, PE

Wellington Virgolino Tirador de cocos, dec. 1950 Óleo sobre aglomerado 43 × 56 cm Acervo REC Cultural, PE

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José Cláudio Maternidade, 1955 Nanquim sobre papel 51x 43 cm Coleção Fernando Ferreira de Araújo, SP

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José Barbosa Sacré Coeur, 1965 Entalhe em madeira 118 × 42 cm

José Barbosa Dores do mundo, 1965 Entalhe em madeira 103 × 45 cm

José Barbosa Criação I, 1965 Entalhe em madeira 123 × 64 cm

Acervo REC Cultural, PE

Acervo REC Cultural, PE

Acervo REC Cultural, PE

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Gilvan Samico O comedor de folhas, 1962 Xilogravura 61 × 45 cm Acervo REC Cultural, PE

Gilvan Samico O triunfo da Virtude sobre o Demônio, 1964 Xilogravura 38 × 55 cm Acervo REC Cultural, PE

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Francisco Brennand O guardião I, 1977 Cerâmica vitrificada 128 × 50 × 46 cm

Francisco Brennand O guardião II, 1977 Cerâmica vitrificada 127 × 46 × 46 cm

Acervo REC Cultural, PE

Acervo REC Cultural, PE

Tereza Costa Rêgo Mulheres de Tejucupapo, 2015 Acrílica sobre madeira 220 × 800 cm Acervo REC Cultural, PE

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Glenio Bianchetti Paisagem, 1992 Acrílica sobre tela 160 × 220 cm Coleção Particular, DF


RIO GRANDE DO SUL

Ado Malagoli chegou a Porto Alegre em 1952 e participou da reestruturação do ensino de pintura na Escola de Belas Artes e da criação do Museu de Arte do Rio Grande do Sul, que, desde 1977, leva o seu nome. Seu trabalho se caracteriza pela retomada de alguns dos valores clássicos, mas sem a rigidez acadêmica. Como professor, formou uma geração de pintores gaúchos até hoje atuantes. Nascido no interior do Rio Grande do Sul, Iberê Camargo residiu em Porto Alegre, mas, grande parte de sua carreira aconteceu no Rio de Janeiro, onde, no início de 1940, foi aluno de Guignard. Suas paisagens da década de 1950 já trazem as características expressionistas que, acentuadas, se tornarão a sua marca. Em 1960 o artista realizou em Porto Alegre um curso temporário que deu origem ao Atelier Livre da Prefeitura; fundamental na história da arte gaúcha, e que viria a ser dirigido pelo escultor austríaco Francisco Stockinger, radicado na cidade desde 1954. Ainda na década de 1960, durante outra estadia de Iberê em Porto Alegre, ele teve como discípula e assistente, a também austríaca Maria Tomaselli - criadora da instalação Oca Maloca. Inteiramente diversa foi a atuação do Clube dos Amigos da Gravura de Porto

Alegre (CGPA) e de Bagé (CGB), compostos por Carlos Scliar, Glênio Bianchetti, Danúbio Gonçalves, Glauco Rodrigues e Ailema Bianchetti, entre outros. Eles eram artistas de esquerda, filiados ou simpatizantes do Partido Comunista do Brasil (PCB), que se engajaram em um projeto de democratização da arte e de conscientização política, propondo uma arte nacional, realista, voltada à classe trabalhadora e às tradições culturais locais - daí a opção pela gravura, uma arte acessível a todos. Defendendo essas ideias no início da década de 1950, momento em que os recém criados Museus de Arte Moderna do Rio e de São Paulo propunham a difusão de correntes internacionalistas, os artistas eram duplamente discriminados: pela sociedade - contra o comunismo, e pelo circuito de arte - contra o realismo. Nas décadas de 1960 e 1970 os artistas do grupo tomaram novos caminhos. Carlos Scliar desenvolveu um trabalho entre a figuração e a abstração e Glauco Rodrigues adotou uma linguagem pop imbuída de crítica social. Convidado por Darcy Ribeiro, Bianchetti mudou-se para Brasília onde integrou o quadro inicial de professores da UNB, tornando-se um dos artistas mais atuantes da cidade.

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Ado Malagoli Uma Vênus dos Trópicos, s.d. Óleo sobre tela 71 × 56 cm Coleção Particular, DF

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Iberê Camargo Sol vermelho, 1951 Óleo sobre tela 47 × 56 cm Coleção Cesar Giobbi e José Paulo Mortari, SP

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Carlos Scliar Sem título, 1952 Linoleogravura 20 × 28 cm

Carlos Scliar Sem título, 1951 Linoleogravura 28 × 20 cm

Coleção Ailema Bianchetti, DF

Coleção Ailema Bianchetti, DF

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Carlos Scliar Curral, 1955 Linoleogravura 30 × 45 cm

Carlos Scliar Carroça e carreta no galpão, 1956 Linoleogravura 40 × 43 cm

Coleção Ailema Bianchetti, DF

Coleção Ailema Bianchetti, DF

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Glenio Bianchetti Homem no Pilão, 1955 Linoleogravura 30 × 21 cm

Glenio Bianchetti Trançando, 1955 Linoleogravura 30 × 21 cm

Coleção Particular, DF

Coleção Particular, DF

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Glenio Bianchetti Fazendo Marmelada, 1952 Linoleogravura 20 × 25 cm

Glenio Bianchetti Sesta, 1955 Linoleogravura 26 × 38 cm

Coleção Particular, DF

Coleção Particular, DF

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Danúbio Gonçalves Sem título, déc. 1950 Linoleogravura 28 × 39 cm

Danúbio Gonçalves Sem título, déc. 1950 Linoleogravura 28 × 39 cm

Coleção Ailema Bianchetti, DF

Coleção Ailema Bianchetti, DF

Danúbio Gonçalves Sem título, déc. 1950 Linoleogravura 28 × 39 cm

Danúbio Gonçalves Sem título, déc. 1950 Linoleogravura 28 × 39 cm

Coleção Ailema Bianchetti, DF

Coleção Ailema Bianchetti, DF

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Ailema Bianchetti Sapateiro, s.d. Linoleogravura 27 × 23 cm Coleção Ailema Bianchetti, DF

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Glauco Rodrigues Conferência Continental Americana pela Paz / No Campo de Futebol, s.d. Linoleogravura 48 × 33 cm Coleção Oto Reifschneider, DF

Glauco Rodrigues São Sebastião, s.d. Acrílica sobre tela 88 × 66 cm Coleção Ailema Bianchetti, DF

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Carlos Scliar Vaso de Flores, s.d. Acrílica sobre tela 61 × 42 cm Coleção Ailema Bianchetti, DF

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Maria Tomaselli Oca Maloca, 1989 Instalação Acervo Museu de Arte de Brasília, MAB, DF

Francisco Stockinger Guerreiro, s.d. Ferro e madeira 242 × 57 cm Acervo Museu de Arte de Brasília, MAB, DF

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Este projeto é realizado com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal Realização

Produção

ISBN 978-65-994654-3-7


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