Laços de Amor n.º 8

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ESPAÇO VOLUNTARIADO

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Desde há alguns anos que integro grupos que exercem voluntariado. O grupo de Escuteiros, a Cruz Vermelha Portuguesa e o Banco Alimentar são alguns exemplos de instituições que se regem pelo voluntariado, por onde passei, e em todos eles o meu pensamento é, de imediato, inundado por um sem número de experiências tão diversificadas quanto enriquecedoras. Talvez por isso, a escolha da minha área profissional não ter suscitado muitas dúvidas, dado que sempre tive vontade em ajudar e trabalhar em prol do bem dos outros, no fundo, ver no outro um sorriso estampado no rosto. A entrada na Santa Casa da Misericórdia de V. N. Gaia, nomeadamente, no Lar Residencial Conde das Devezas,

SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE VILA NOVA DE GAIA

como voluntária, prendeu-se, para além da sua história e de ser uma instituição de referência no concelho, com o facto de eu poder dar o meu contributo, de acordo com as necessidades da instituição. Tenho conhecido pessoas deliciosas, simpáticas e com bom humor, pessoas que têm prazer e gosto em partilhar comigo as suas vidas, a sua infância e juventude, as dificuldades que passaram, a perda dos seus entes queridos, o gosto de falarem dos seus familiares e o que a vida lhes ensinou e proporcionou. E eu escuto, por vezes horas a fio, as suas vivências e viajo com elas e eles nas suas recordações e memórias. E se é bem verdade o ditado “Recordar é Viver”, então eu só posso ficar feliz por poder compartilhar com eles alegrias, aliviar sofrimentos e potenciar esta amizade com os residentes da instituição que acompanho. Susana Costa (Voluntária do Lar Residencial Conde das Devezas)

“Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos” (1) Acho que esta frase, simples, mas profunda, bem poderia ser considerada a “consciência” do voluntariado. De facto, um voluntário tem que estar, acima de tudo, preparado para nada receber, mas sempre predisposto a tudo dar. E, com esta disposição vai verificar, ao longo da sua vida de voluntário, que irá receber muito mais do que, eventualmente, imaginaria, pois “O amor é a única coisa que cresce à medida que se reparte" (2). O voluntariado sempre existiu. A raça humana prosperou, exactamente, porque ganhou consciência que, isolada, dificilmente sobreviveria. A tarefa de criar os filhos que, ao contrário da maioria das espécies, necessita de vários anos até atingir a auto-subsistência, é uma tarefa árdua e complexa. A caça, a construção de abrigos, a própria alimentação exigiam um trabalho de equipa. Trabalho este que durou até aos nossos dias e que, ainda hoje, é bem visível nos meios rurais. Exemplo disso, são os fornos comunitários, os moinhos, a gestão dos baldios, a construção das aldeias com as casas próximas umas das outras, para se protegerem das intempéries, dos inimigos, dos animais bravios, etc. De facto, fomos evoluindo. Algumas vezes para pior, outras vezes para melhor, como por exemplo, construindo hospitais e Misericórdias para tratar daqueles que a sociedade ia esquecendo na sua cavalgada pelo EGO. Esta Ego-sociedade, desculpem o palavrão, transformou o homem num ser egocêntrico que só pensa num novo deus: - o Dinheiro. Felizmente, existe em todo o mundo uma onda crescente

de solidariedade, a que eu chamaria Tsunami Humanitário, que está a crescer e a levar a esperança e o amor a milhões de desamparados. Fui apanhado pela Onda e apresentei à Santa Casa da Misericórdia de Vila Nova de Gaia a ideia de ler para aquelas pessoas que, por um motivo ou outro, deixaram de o poder fazer. Nestas leituras, descobrimos os Autores, as histórias, os personagens, as paisagens, a gastronomia, e muito mais. Falamos sobre as nossas experiências pessoais, recordações, sonhos, enfim, memórias há muito tempo esquecidas. De facto, Antoine de Saint Exupery, mais uma vez tinha razão quando escreveu uma frase que eu considero o verdadeiro Hino ao Voluntariado: “Aqueles que passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós." (1) - (2) – Antoine de Saint Exupery Licínio Magalhães (Voluntário do Lar Residencial Conde das Devezas)


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