Revista SM19

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M I S E R I C Ó R D I A

DEZEMBRO 2025

Ser Contigo Missão Ação

REVISTA COM

CONTEÚDOS

MULTIMÉDIA/ DIGITAIS

CARDEAL GIORGIO MARENGO

UM DOS MAIS NOVOS CARDEAIS

DA IGREJA

PÁG. 14

CONSTANTINO PINTO - PROVEDOR SCMA

UM ANO DE DESAFIOS,

UM TEMPO DE ESPERANÇA

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Enquanto escrevo estas linhas, e à medida que nos aproximamos do final deste ano, sinto que somos convidados a olhar para lá das fronteiras do nosso habitat e a reconhecer que o mundo atravessa um período particularmente inquietante. As guerras que persistem e se multiplicam, a erosão das relações humanas, a indiferença perante o sofrimento alheio e até a forma subtil como, tantas vezes, nos moldam perceções e narrativas para que vejamos apenas a realidade que nos querem mostrar; tudo isto compõe um cenário global marcado pela insegurança e pela perda de referências.

A fragilidade política, social e moral que observamos à escala mundial reflete-se, inevitavelmente, no quotidiano das nossas comunidades, onde, a cada passo, se sentem incertezas, solidão, desigualdade e até o cansaço de tantas famílias que enfrentam dificuldades sem voz nem apoio. É neste contexto mais amplo que também nós fomos desafiados ao longo do ano, acompanhando de perto as inquietações que atravessam o coração da nossa comunidade e das pessoas que servimos.

Perante este mundo agitado e tantas vezes desorientado, a pergunta que nos fazemos é simples, mas exigente: qual deve ser a nossa postura? Como responder, enquanto instituição de matriz cristã/católica, a uma realidade que tantas vezes parece contrária aos valores que defendemos?

UM ANO DE DESAFIOS, UM TEMPO

DE ESPERANÇA

A resposta nasce do Evangelho e manifesta-se naquilo que a Misericórdia sempre encarnou: proximidade, verdade, amor e, consequentemente, serviço. Não podemos permitir que o ruído do mundo nos impeça de ouvir o clamor de quem sofre. Não podemos aceitar que a indiferença se torne hábito. E não podemos ceder à tentação de acreditar que nada do que fazemos tem impacto.

Constantino Pinto
Provedor da Misericórdia da Amadora

CADA GESTO CONCRETO COMO CUIDAR, ESCUTAR, AMPARAR, ORIENTAR, EDUCAR, PROTEGER, TORNA-SE NUM CONTRAPONTO À VIOLÊNCIA, À MENTIRA E AO EGOÍSMO QUE TANTAS VEZES DOMINAM O ESPAÇO PÚBLICO.

É assim que resistimos. É assim que continuamos a afirmar, com humildade, mas com firmeza, uma presença capaz de curar e de reconstruir. Contudo, mesmo em tempos difíceis, encontramos luzes que nos recordam que a esperança permanece viva. Vemo-la na solidariedade silenciosa de quem ajuda sem esperar reconhecimento; na coragem dos que lutam por um recomeço; na prestação diária de cuidados que devolvem dignidade; nos sorrisos que se reacendem quando alguém descobre que não está sozinho. E vemos esta esperança, sobretudo, no empenho de todos os trabalhadores da Misericórdia, que, com profissionalismo e humanidade, tornam possível a nossa missão dia após dia, e também no apoio firme das autoridades civis, autárquicas e de tutela, cuja cooperação e confiança têm sido essenciais para avançarmos mesmo nos momentos mais exigentes. Estes sinais, discretos, mas poderosos, mostram-nos que as Misericórdias continuam a ser uma força transformadora, capaz de abrir caminhos onde só parecia haver escuridão.

Este é, portanto, um tempo de gratidão. Gratidão por todos os que caminham connosco, por todos os que nos ajudam a caminhar, por todos os que

confiam em nós nos momentos mais vulneráveis e por todos os que acreditam que a construção de uma comunidade mais fraterna começa aqui, em cada um de nós.

Que estas linhas que vos escrevo, para além de uma reflexão, sejam também um apelo: o de nos mantermos lúcidos, o de perseverarmos unidos, firmes nos valores que nos definem, atentos ao próximo e confiantes de que o futuro, embora exigente, pode ser um lugar de renovação.

CONTINUEMOS A SER MISSÃO, A SERVIR, BEM SERVINDO!

A Creche Santa Clara de Assis, situada no Bairro do Zambujal, iniciou em 2023 um processo de renovação que lhe trouxe uma nova vida.

O espaço foi totalmente transformado para acolher, cuidar e acompanhar o crescimento das crianças da Amadora, em especial as do próprio bairro.

Com capacidade para 42 crianças — 10 em berçário, 14 na sala de 1 ano e 18 na sala de 2 anos — a creche consolidou-se como uma referência de qualidade na comunidade.

A CONFIANÇA DAS FAMÍLIAS, TRANSMITIDA AO LONGO DE VÁRIAS GERAÇÕES, CONFIRMA QUE ESTE É UM LUGAR ONDE SE CRIAM MEMÓRIAS, LAÇOS AFETIVOS E UM FORTE SENTIDO DE PERTENÇA.

As remodelações redefiniram a forma como crianças, famílias, profissionais e comunidade vivem o espaço. Cada melhoria foi pensada de forma integrada, criando um ambiente mais confortável, funcional e harmonioso, iluminado pela luz natural que se reflete no bem-estar de todos.

O controlo eficiente da temperatura garante ambientes acolhedores, favorecendo a concentração, o descanso e a participação nas atividades. A escolha criteriosa dos materiais contribuiu para reduzir o ruído exterior, tornando as salas mais tranquilas e adequadas ao desenvolvimento infantil.

A ligação entre os diferentes espaços transmite continuidade e transparência, facilitando a supervisão e o trabalho em equipa. As crianças sentem-

-se mais seguras e livres para explorar, enquanto os profissionais dispõem de melhores condições para acompanhar cada grupo.

O uso de materiais de elevada qualidade acrescentou durabilidade, higiene e conforto sensorial. Estes detalhes elevaram o padrão do espaço educativo, tornando o quotidiano mais fluido, seguro e organizado. Hoje, a creche é um equipamento moderno, valorizado e preparado para responder às necessidades da comunidade.

Sónia Horta
Responsável Creche Santa Clara de Assis

O ambiente pedagógico também foi enriquecido com novos recursos: jogos sensoriais, brinquedos de madeira, livros ilustrados e equipamentos psicomotores. Cada elemento foi escolhido para estimular as capacidades das crianças, promover a autonomia, alimentar a curiosidade e tornar a aprendizagem mais alegre e significativa.

As famílias e a comunidade reconhecem, com gratidão, o cuidado colocado em cada detalhe. O impacto positivo das mudanças é visível no bem-estar das crianças e reforça a relação de confiança entre as famílias e a Instituição.

ESTAS TRANSFORMAÇÕES ELEVARAM A FUNCIONALIDADE DA CRECHE E A QUALIDADE DA EXPERIÊNCIA EDUCATIVA, CRIANDO UM AMBIENTE SAUDÁVEL, EFICIENTE E ACOLHEDOR PARA TODOS, SUBLINHANDO O PAPEL DA CRECHE SANTA CLARA DE ASSIS COMO UM ESPAÇO DE REFERÊNCIA NO BAIRRO.

O VERÃO

APRENDER & BRINCAR

A época do verão é sempre a mais aguardada por colaboradores e crianças no Aprender & Brincar da Santa Casa da Misericórdia da Amadora

.

Planear as férias de verão para as nossas crianças e jovens é quase tão divertido quanto vivê-las. As ideias surgem muitos meses antes, tal como a expectativa dos mais pequenos, que cresce dia após dia. Organizar esta época especial do ano, é mais do que preparar atividades – é criar memórias que marcam o verão, e as nossas crianças mal conseguem esperar para que tudo comece!

O verão tem lugar no nosso planeamento anual entre os meses de junho e agosto, começando primeiro com os nossos jovens dos espaços juvenis e, mais tarde, com as atividades das nossas crianças do pré-escolar e primeiro ciclo. A nossa organização do verão é dividida em três programações distintas: o programa da CAF, a colónia de férias e o programa de agosto.

O PROGRAMA DA CAF abrange todas as crianças inscritas no Aprender & Brincar, que atualmente, são 1500, com cerca de 96% a frequentar o programa. As atividades realizadas são sempre pensadas tendo por base a temática do verão. Em algumas das dinâmicas, o elemento principal é a água para combater o imenso calor que se faz sentir nessa altura do ano. O aumento da inflação e consequente aumento dos preços de serviços culturais para as crianças, assim como os valores do aluguer de autocarros, obrigou-nos a reinventar nos últimos anos o planeamento. Começaram então a surgir as atividades vindas do exterior para o espaço da CAF, com cada vez mais ofertas de grupos de várias áreas que se deslocam às nossas respostas sociais, para apresentar um espetáculo

ou workshops que proporcionam momentos de alegria e diversão às nossas crianças. Os insufláveis, com ou sem água, a juntar aos banhos quase diários de mangueira, são os preferidos das nossas crianças e jovens.

A audácia, a coragem e a dedicação dos nossos colaboradores do Aprender & Brincar levaram-nos a desafios incríveis e que têm sido um sucesso nos últimos verões. A coragem de explorar as redes de transportes públicos permitindo levar 91 crianças a visitar Cascais, o Lumiar ou a vila de Sintra, entre outros destinos. O desafio de chegar a geografias longínquas, como Coimbra, Montemor-o-Novo, Entroncamento, Tomar, Évora ou Santo André, p. ex., com grupos superiores a 160 crianças, numa gestão logística de 4 ou 5 autocarros, também marcou o nosso verão. Todas estas atividades que enchem o coração de pequenos e graúdos apenas são possíveis com a dedicação dos nossos técnicos e voluntários.

A COLÓNIA DE FÉRIAS é um programa frequentado mediante inscrição e pagamento para o efeito, válido para todas as crianças e jovens que frequentam o Aprender & Brincar. É também a época do ano mais esperada pela maioria dos nossos colaboradores e claro pelas nossas crianças e jovens. São semanas muito cansativas, mas vividas com imensa alegria e felicidade. A responsabilidade, sempre máxima durante todo o ano, nestas semanas ganha contornos extra, pois os nossos grupos frequentam a praia de Carcavelos, onde estão cerca de 5 mil crianças, todas as manhãs entre as 08h30 e as 13h00. A manhã começa com

André Santos
Diretor Aprender & Brincar

a entrada nos autocarros, depois a sempre complexa saída na chegada à praia, e já no areal, a organização da roda entre as centenas de rodas espalhadas pela areia e os tão aguardados banhos no mar. A capacidade dos nossos colaboradores e voluntários é incrível nestes dias para assegurar que tudo corre bem e pelo melhor.

Além de todas as crianças estarem identificadas com pulseiras de material resistente e um boné que só retiram para ir ao banho, a instituição assegura todos os anos que os rácios são respeitados e cumpridos imperativamente e o resultado é que, ano após ano, o número de inscritos aumenta, obrigando a uma reinvenção da logística e organização de todos os recursos humanos e transportes. No ano de 2025, os técnicos do Aprender & Brincar foram apoiados por 46 voluntários e

distribuídos por 19 autocarros que totalizaram 136 viagens entre a Amadora e a praia de Carcavelos.

O PROGRAMA DE AGOSTO surge da necessidade de apoiar as famílias neste mês em específico, à semelhança da colónia de férias, a sua frequência é mediante inscrição e pagamento extra, decorrendo todos os anos de 1 a 14 de agosto. O Aprender & Brincar encerra de 16 a 31 de agosto.

O verão é uma época de felicidade e alegria, e no Aprender & Brincar não é exceção! Os sorrisos, a boa disposição e acima de tudo a energia das nossas crianças e jovens parecem infindáveis. São 3 meses exaustivos, mas compensadores pela qualidade de trabalho apresentado e a opinião avaliativa das nossas famílias.

Agradecemos aos encarregados de educação por, ano após ano, continuarem a confiar no nosso trabalho e agradecemos a todas as crianças e jovens por tornarem os nossos dias sempre cheios de vida e com histórias para contar.

... O MAIOR OBRIGADO VAI PARA A INCANSÁVEL EQUIPA DO APRENDER & BRINCAR QUE TORNA TODOS ESTES VERÕES ESPECIAIS PARA TANTAS CRIANÇAS E JOVENS DA AMADORA.

INOVAÇÃO

GRIIS - Gabinete de Recursos de Inovação e Intervenção Social

Catalisadores de Mudança em Cuidados Integrados e Centrados nas Pessoas e Comunidades.

O PORQUÊ? - O propósito

O GRIIS surge como reforço e investimento de qualidade na consolidação do posicionamento da Misericórdia da Amadora nas seguintes dimensões da coesão social e territorial: Inovação Social; Cultura e Mudança Organizacional; Trabalho Colaborativo; Responsabilidade Social Interna e Externa; Capacitação de Pessoas e Organizações; Personalização e Integração de Cuidados; Apoio ao Empreendedorismo; Dinamização da economia local.

A atividade do GRIIS é transversal às áreas-chave da Instituição e tem um duplo posicionamento, interno e externo, traduzida em atividades de consultoria, gestão de projetos e formação, na área da inovação. Interno, na maximização da qualidade do Serviço/Apoio prestado aos clientes internos (diretores/coordenadores/responsáveis/colaboradores) e externos (utentes e familiares), bem como na identificação de novas oportunidades de ação.

Externo, através de processos de capacitação e empoderamento de pessoas, organizações e comunidades, através de atividades de consultoria, no âmbito do crescimento-sustentabilidade-inovação; ideação e gestão de projetos; formação em contexto de sala e atividades de team building colaborativo.

O processo de facilitação da mudança organizacional do GRIIS tem como marca identitária e valores culturais a integração e a personalização dos cuidados. Integração, na promoção da colaboração entre profissionais da mesma atividade (colaboração vertical) e entre profissionais e áreas de saber complementares, dentro da mesma organização e com stakeholders (colaboração horizontal); e personalização, na customização de produtos, serviços e soluções de uma determinada organização ao perfil de necessidades, expetativas e preferências dos seus utilizadores.

O COMO? - Um guia para a Inovação: O Processo de Gestão da Mudança

O processo de gestão da mudança foi criado pelo GRIIS com o intuito de mapear e garantir a operacionalização bem-sucedida das suas atividades e ações, possibilitando a medição e avaliação contínua de resultados e impactos, tendo por fim a promoção da sustentabilidade das ações de consultoria, gestão de projetos e formação e o seu enraizamento na prática diária das organizações destinatárias.

A experiência na testagem de metodologias, soluções tecnológicas, serviços e produtos tem vindo a ser consolidada em ambiente europeu, através da participação em projetos de inovação regulados pela Comissão Europeia. Essa participação tem acontecido, fundamentalmente, através dos quadros Comunitários Horizon 2020, Horizon Eu-

Adriano Fernandes Responsável do GRIIS

rope, Erasmus+, Marie Skłodowska-Curie (MSCA) e DAPHNE.

O QUÊ? - O Modelo Integrado e Centrado na Pessoa

O Departamento de Inovação da SCMA desencadeou, em 2016, um processo colaborativo para que as áreas dos cuidados sociais, em saúde e na educação trabalhassem em conjunto, quebrando os silos anteriores. A visão principal era projetar e implementar um Modelo de Cuidados Integrados e Centrados na Pessoa (MCICP). Integrado, devido à estreita ligação, a partir de então, entre os cuidados sociais, em saúde e na educação, bem como devido à integração da tecnologia na desmaterialização da informação e descentralização da intervenção; e centrado na pessoa, devido ao foco não só nas necessidades dos destinatários finais, mas também nas suas expectativas, respeitando claramente os limites das intervenções.

As participações nos projetos europeus acima identificados, nos temas dos cuidados integrados, envelhecimento ativo e saudável e modelos educativos inovadores, resultaram no desenho e implementação do modelo de prestação de serviços abaixo que integra as seguintes dimensões estruturantes:

• A pessoa, beneficiária dos cuidados, como agente principal e codecisor do seu plano de cuidados;

• A colaboração entre os atores das áreas social, educação e saúde, na codefinição dos percursos de cuidados;

• A desmaterialização da informação e a descentralização da ação, investindo cada vez mais numa ação no domicílio das Pessoas a quem são prestados os cuidados, através da utilização da tecnologia.

O GRIIS e os eixos do Modelo Integrado e Centrado na Pessoa

O principal propósito do GRIIS tem sido e continuará a ser consolidar e trazer robustez à ação da Misericórdia da Amadora nas suas 4 áreas-chave, através do reforço e criação de novos eixos de intervenção do Modelo Integrado e Centrado na Pessoa, conforme demonstra a imagem acima, no contributo dos projetos de inovação para os seus eixos, nomeadamente cuidados em fim de vida, doenças crónicas, promoção da saúde e bem estar, resiliência organizacional, capacitação, literacia digital e cuidados descentralizados.

No GRIIS, a certeza que continua a orientar a equipa é aquela descrita por Geoff Mulgan, Professor de ‘Inteligência Coletiva, Políticas Públicas e Inovação Social’ na University College London (UCL) “NENHUM PROBLEMA SOCIAL É RESOLVIDO APENAS COM TECNOLOGIA — É PRECISO HUMANIDADE, PARCERIA E PROPÓSITO.”

Novos eixos de intervenção do Modelo Integrado e Centrado na Pessoa

FORMAÇÃO

PONTES QUE HUMANIZAM: PARTILHAR E SERVIR

Um Novo Desafio: Partilhar com Propósito

A Santa Casa da Misericórdia da Amadora reforça o seu investimento no Departamento da Formação, com o alargamento deste serviço a entidades externas. Este passo é mais do que um desafio institucional. É um convite à partilha, à cooperação e à construção de uma cultura organizacional aberta e solidária.

Partilhar para Crescer

A formação externa resume-se numa ideia simples e poderosa: partilhar com propósito. Ao abrir portas a outras instituições, a Misericórdia da Amadora acredita que a aprendizagem conjunta multiplica o impacto social, fortalece a inovação nos cuidados e motiva os profissionais. Num tempo de grandes exigências para o setor social, esta partilha torna-se essencial. É o caminho para cuidar melhor e servir com dignidade.

Mais do que Capacitar: Partilhar Vida e Saber

A formação externa não se limita à transmissão de conhecimentos técnicos. É um processo vivo, que valoriza a experiência, promove o desenvolvimento de competências e incentiva o crescimento integral dos profissionais. Cada ação é desenhada à medida das necessidades das instituições parceiras, com formadores certificados que aplicam metodologias ativas e uma visão humanista, centrada nas pessoas. Aqui, formar é também escutar, cuidar e criar laços porque aprender é sempre um ato de encontro.

O Valor Acrescentado

Esta aposta estratégica traduz-se em benefícios claros:

• Transferência de experiência da Misericórdia da Amadora na formação profissional e humana;

• Oferta certificada e ajustada, com metodologias práticas e participativas;

• Desenvolvimento integrado de competências técnicas, emocionais e sociais;

• Reforço da missão de bem servir, através da colaboração e do apoio mútuo;

• Criação de redes de partilha que estimulam inovação e qualidade.

Mais do que formar técnicos, este processo fortalece equipas, eleva padrões de cuidado e constrói pontes entre instituições. É um compromisso recíproco de crescimento e inovação.

Nuno Morais Gestor de Formação

Impacto no Território

A formação externa já se faz sentir dentro e fora do território da Amadora. Instituições como a SCM Cascais, SCM Oeiras, a ANSA (Associação Nossa Senhora dos Anjos), a Câmara Municipal da Amadora e diversos Centros Sociais e Paroquiais têm beneficiado de ações adaptadas às suas realidades, com resultados práticos e transferíveis. Cada parceria reforça laços, alimenta uma rede de partilha e humaniza os contextos de apoio. Porque Bem Servir é também ajudar outros a servir melhor.

Cultura de Bem-Servir: um Compromisso que continua

A força de uma casa que se abre à partilha não está apenas no que ensina, mas no amor com que faz crescer — dentro e fora dos seus muros. A Misericórdia da Amadora mantém firme o compromisso de “Capacitar para desenvolver e servir com qualidade”, confirmando que formar é cuidar, escutar e crescer em conjunto. Em cada ação, multiplica-se futuro, dignidade e esperança. A formação externa é, assim, uma missão que transcende a aprendizagem: é partilhar vida e saber, é bem servir em comunidade. É cuidar de quem cuida.

José Tolentino Mendonça

Há mais de sete anos que conduzo grupos da nossa Misericórdia por caminhos e peregrinações que levam a Fátima.

Ao longo desse tempo tentei nunca repetir o mesmo traçado — cada ano é um mapa novo, uma surpresa diferente oferecida pela terra: o sopro tranquilo dos Caminhos do Tejo ao amanhecer, a memória de serras e aquedutos do Caminho de Tomar, a vastidão pétrea do Caminho dos Candeeiros, a luz inquieta do Caminho da Nazaré ou a solene grandeza do Caminho da Batalha.

CONTUDO, APESAR DA MUDANÇA EXTERIOR, HÁ ALGO QUE PERMANECE: CADA ROTA ESCOLHIDA DESPERTA UM MOVIMENTO QUE NÃO SE VÊ NOS MAPAS — UMA PEREGRINAÇÃO INTERIOR QUE NASCE EM SILÊNCIO DENTRO DE CADA PEREGRINO.

Também nas Caminhadas com os colaboradores da Instituição, quando nos perdemos (e reencontramos) entre os bosques da serra de Sintra, os jardins de Oeiras, a extensão dourada da Costa da Caparica, a simplicidade viva das falésias da Trafaria, a serenidade do Cais do Gingal e do Cristo Rei de Almada ou a vastidão dos passadiços que se iniciam no Parque das Nações até Vila Franca de Xira, reconhecemos que o essencial não está apenas no lugar. Está no que o lugar em si desperta. Está na capacidade de caminhar para fora… e, simultaneamente, para dentro.

A tradição cristã sempre viu a vida como caminho. Como recorda São Paulo — num versículo que

ecoa ao longo dos tempos — “caminhamos pela fé e não pela visão” (2 Cor 5,7). Somos peregrinos de dentro para fora, seres que avançam não apenas com os pés, mas com o coração. Teresa de Ávila falava do “castelo interior” como uma casa cheia de portas, onde só se avança caminhando passo a passo, com paciência e verdade. E São João da Cruz, mestre da noite luminosa de Deus, escrevia: “Para chegares onde não sabes, hás de ir por onde não sabes.”

É ESTE DESPOJAMENTO, ESTA ABERTURA AO QUE NÃO CONTROLAMOS, QUE TRANSFORMA A CAMINHADA EXTERIOR NUM CAMINHO ESPIRITUAL.

O Papa Francisco recordou-nos muitas vezes que “a fé é um caminho que se faz caminhando”, um percurso onde Deus se faz companheiro discreto. Caminhar, na visão cristã, nunca é um mero exercício físico: é um gesto de confiança, uma entrega do ritmo da vida às surpresas do Espírito. Já Ratzinger (Bento XVI), um dos maiores teólogos da Igreja, refletindo sobre o ato de crer, dizia que “a fé é uma viagem: uma travessia do medo para a confiança, da noite para a luz.”

Assim, cada etapa do caminho — seja pelos trilhos antigos da nossa fé ou pelas paisagens contemporâneas da grande Lisboa — torna-se aprendizagem, revelação, encontro.

Paulo Calvino
Responsável Comunicação & Imagem e Eventos da SCMA
CONTEÚDOS MULTIMÉDIA

Caminhar com outros é aprender a ver o mundo com olhos novos. É partilhar silêncios, é dividir cansaços e é acolher fragilidades. Mas caminhar também é escutar-se: deixar que a respiração encontre o seu ritmo, que o pensamento amacie, que o coração se torne espaço de visita.

Talvez seja este o maior fruto de todas as peregrinações — as que organizámos a Fátima, as caminhadas que fizemos com os colaboradores, e as que cada um de nós percorre todos os dias no interior da própria alma:

DESCOBRIR QUE O CAMINHO EXTERIOR É APENAS O ECO VISÍVEL DO CAMINHO QUE DEUS FAZ DENTRO DE NÓS.

No fim, toda a peregrinação — seja longa, como a nossa Rota SCMA de 4 dias, que vai da nossa Igreja de Nossa Senhora das Misericórdias até ao Santuário de Fátima, ou breve como uma caminhada ao fim da tarde pelos Miradouros de Lisboa — é sempre um convite. Um convite a entrar em nós próprios, a escutar mais dentro, a deixar que Deus caminhe connosco.

PORQUE A VERDADEIRA PEREGRINAÇÃO NÃO TERMINA NO DESTINO. FINALIZA SIM, NA TRANSFORMAÇÃO.

CARDEAL GIORGIO MARENGO

No coração da missão da Igreja, há sempre um convite a sair, a ir ao encontro, a cuidar e a consolar.

O Missionário da Consolata e Prefeito Apostólico de Ulaanbaatar, na Mongólia, encarna este espírito com simplicidade e coragem.

Natural de Cuneo, norte da Itália, entende a missão como o espaço onde a fé cristã se torna encontro, sobretudo com os mais pequenos e esquecidos. Em terras mongóis, onde o budismo tibetano é a religião maioritária, há uma pequeníssima comunidade de 1500 católicos. O Cardeal Marengo lidera localmente uma Igreja discreta, que atua no silêncio das periferias, com o rosto da ternura e a persistência do serviço.

Foi ordenado sacerdote em 2001 e desde 2003 que dedica a sua vida missionária à Mongólia. Foi criado cardeal pelo Papa Francisco, em 2022, e participou no Conclave que elegeu o Papa Leão XIV. Com 51 anos, integra o trio dos mais jovens elementos do Colégio Cardinalício. Tem a mesma idade de Américo Aguiar, cardeal português, e mais seis anos que o cardeal ucraniano Mykola Bychok, o mais novo.

Na conversa, fala-nos da sua vocação, do carisma da Consolata, dos desafios da Igreja na Ásia, do caminho sinodal proposto pelo Papa Francisco e da atualidade do “amor pelos pobres”, como recorda Leão XIV na sua primeira exortação. O testemunho do cardeal Marengo recorda que, em qualquer lugar do mundo, “amar e servir” são os verbos centrais da fé cristã.

AS ORIGENS E A VOCAÇÃO

[SM] — Eminência, quais são as suas origens e da sua caminhada de fé?

[GM] — As minhas origens são muito simples. Nasci em Cuneo, no Piemonte, e vivi praticamente toda a

vida em Turim, onde cresci no ambiente das associações católicas, da paróquia e dos escuteiros. Sou filho da Laura e do Sílvio, que já partiram para o Paraíso. A minha irmã, três anos mais velha, continua viva.

[SM] — Em que momento sentiu o chamamento para o sacerdócio e, mais tarde, para a missão?

[GM] — Segui o percurso normal de estudos e, ao terminar o liceu clássico Cavour, percebi que um ciclo da vida se fechava e que aquele desejo profundo de me consagrar totalmente a Deus podia finalmente realizar-se. Entrei então nos Missionários da Consolata.

[SM] — Que pessoas ou experiências foram determinantes no seu percurso vocacional?

[GM] — Na juventude não tinha clareza sobre o meu futuro, mas graças a um missionário da Consolata, o padre Francesco Peyron, fui introduzido na vida de fé e na beleza da vida espiritual. Ali o Senhor se fez sentir e me chamou. Depois do liceu entrei na Consolata, acompanhado por padres muito competentes e sábios, que me ajudaram a descobrir a força e a profundidade da oração — elemento central da minha vocação.

A MISSÃO E O CARISMA DA CONSOLATA

[SM] — O que significa para si pertencer à família Consolata e de que forma esse carisma moldou o seu modo de servir a Igreja?

[GM] — Para mim é uma grande dádiva fazer parte desta família missionária e partilhar o carisma que

São José Allamano recebeu do Espírito Santo: a missão ad gentes, a primeira evangelização onde a Igreja ainda não chegou ou está apenas a nascer. A alegria maior é saber que, na obediência religiosa, Deus me levou à Mongólia, um dos poucos países onde a Igreja vive ainda os seus primeiros passos. Sinto que ali a vocação missionária se realiza de forma muito direta.

[SM] — Que desafios mais marcam o trabalho missionário da Consolata no mundo atual?

[GM] — O desafio principal é discernir continuamente onde o Senhor nos chama a estar, em fidelidade ao carisma e à Igreja. Trabalhar em contextos de primeira evangelização implica muitas incertezas e até riscos, mas é também fonte de grande alegria.

[SM] — Como entende o verbo “consolar” no contexto da missão cristã de hoje?

[GM] — Os missionários e missionárias da Consolata atuam muitas vezes em situações de risco, mas é belo poder entregar-se totalmente a Deus para que o seu nome seja conhecido onde poucos O anunciam.

CONSOLAR SIGNIFICA LEVAR A VERDADEIRA CONSOLAÇÃO DE CRISTO, COMO DIZ SÃO PAULO: SOMOS CONSOLADOS PARA CONSOLAR. ISSO TRADUZ-SE EM PROXIMIDADE, CUIDADO E ATENÇÃO, SEMPRE COM O HORIZONTE DA MISSÃO AD GENTES

A IGREJA NA ÁSIA E NA MONGÓLIA

[SM] — A sua missão é vista como um sinal de esperança numa Igreja em crescimento. Como descreveria a realidade da Igreja na Mongólia?

[GM] — A Igreja na Mongólia lembra os Atos dos Apóstolos: uma comunidade de primeiros crentes. A presença católica começou em 1992, com a chegada dos missionários, num país onde não havia católicos locais.

Hoje, após 33 anos, há apenas um padre mongol, 22 missionários estrangeiros, 35 religiosas, alguns leigos missionários e membros de várias nacionalidades. Existem 9 paróquias, a catedral em Ulaanbaatar e os organismos essenciais da vida eclesial.

Os católicos são cerca de 1500, normalmente os únicos crentes nas suas famílias. Num país maioritariamente budista (51%), com forte presença do ateísmo (40%) e pequenas minorias muçulmanas, xamânicas e cristãs, a Igreja Católica é uma minoria muito pequena.

[SM] — Que valores e aspetos da cultura mongol mais o tocaram na vivência da fé cristã?

[GM] — A capacidade de resistência e resiliência. Num clima extremo, o povo mongol desenvolveu ao longo dos séculos grande força diante das adversidades. Têm um forte orgulho nacional, herdeiros do maior império do século XIII, com identidade antiga e coesa.

Do budismo e do xamanismo vem o sentido de harmonia e de procura espiritual. A tradição nómada criou um modo de vida adaptável, pragmático e versátil. São valores que muito me impressionam.

[SM] — Que desafios pastorais e humanos se encontram numa missão onde os católicos são uma minoria tão pequena?

[GM] — O desafio é precisamente acompanhar as pessoas no seu caminho de fé, num momento da sua história pessoal em que a fé começa a germinar e precisa de ser conjugada com a vida e, portanto, um aprofundamento contínuo da fé, das implicações morais e sociais da sua própria fé. A importância de acompanhar as pequenas comunidades no seu caminho de testemunho na sociedade e, acima de tudo, o desafio da profundidade, de criar raízes, de ser capaz de dar razões da própria fé, como se lê no Novo Testamento. A realidade de ser minoria é uma realidade fecunda, porque nos lembra as imagens que o Senhor usou para descrever o Reino de Deus, imagens sempre de desproporção entre a pequenez da fé e a grandeza do mundo à nossa volta. É um desafio, juntamente com uma oportunidade que exige não dar nada como certo e aprofundar cada vez mais com muita atenção à inculturação. O primeiro instrumento para que a fé se inculturar num povo é a língua, portanto, há um grande desafio do ponto de vista dos materiais na língua local que podem ser colocados à disposição dos fiéis.

GIORGIO MARENGO

O CAMINHO SINODAL

[SM] — Como vê o processo sinodal iniciado pelo Papa Francisco?

[GM] - O processo sinodal iniciado pelo Papa Francisco é uma realidade que está a dar bons frutos no espírito do Concílio Vaticano II. É uma aplicação mais direta, mais concreta de uma visão da Igreja, de uma forma de ser Igreja que encontrou a sua definição no Concílio Vaticano II, mas que levou algumas décadas para se tornar cada vez mais uma realidade na vida da Igreja.

Portanto, nós, tanto como missionários e missionárias da Consolata na Mongólia, como Igreja na Mongólia, sempre vivemos essas dinâmicas que hoje chamamos de sinodais, mas que são, na verdade, as do discernimento, da escuta recíproca.

[SM] - De que forma a escuta e a comunhão podem renovar a Igreja?

[GM] - Lembro-me de que, quando tivemos de escolher onde nos estabelecer após a primeira inserção para o estudo da língua, fizemos uma série de viagens exploratórias e depois nos reuníamos como missionários e missionárias da Consolata na capela ou em torno de uma mesa e partilhávamos o que cada um tinha visto, observado e, a partir desse discernimento comum, demos os nossos primeiros passos: a escolha do local onde nos estabelecer, onde a Igreja nunca tinha estado presente antes, no sul, a 430 quilómetros da capital, e depois as escolhas concretas de como operar, como nos apresentar, e isso também a um nível mais alargado, ou seja, da igreja local, portanto, uma discussão intracongregacional, e vivemos isso nos nossos momentos regulares de encontro.

[SM] — Que papel podem ter as comunidades missionárias neste caminho de sinodalidade?

[GM] — Temos a semana pastoral todos os anos, temos os encontros bimestrais do conselho da missão,

como o chamamos, temos as comissões pastorais que operam na prefeitura apostólica, porque este é o nível da igreja ao qual pertencemos, ainda não somos uma diocese e, portanto, cada comissão analisa uma área, que pode ser o diálogo inter-religioso, os jovens, justiça e paz, liturgia, e nesses grupos menores procedemos de maneira sinodal, o que é fundamental porque todos juntos ouvimos o Espírito e, respeitando o papel de cada um, caminhamos. Essa é também a experiência de onde venho agora, tendo participado do segundo Congresso Missionário Asiático, realizado em Penang, na Malásia, que reuniu mais de 900 delegados de todas as igrejas da Ásia em torno do tema «A grande peregrinação da esperança» e, em seguida, a imagem já utilizada nos anos passados a nível do episcopado asiático do regresso dos magos por outro caminho, regressar às nossas igrejas de origem por alien via, dizia o latim do trecho do Evangelho, ou seja, este caminho é o caminho da sinodalidade, da escuta recíproca e do caminhar juntos.

O AMOR PELOS POBRES E A MENSAGEM DE LEÃO XIV

[SM] — Como interpreta hoje a mensagem de Leão XIV sobre o amor aos pobres?

[GM] — A última exortação apostólica recorda que o verdadeiro tesouro da Igreja é Cristo. Como Pedro disse ao paralítico: “Não tenho ouro nem prata, mas dou-te o que tenho.”

O amor aos pobres está no centro da missão e da minha congregação, como já mencionei ao falar do caminho sinodal.

[SM] — Que lugar devem ocupar os mais frágeis na vida da Igreja e na missão cristã?

[GM] — Inspirados pelo Evangelho e pelo Papa Francisco, inaugurámos há dois anos a Casa da Miseri-

EM 30 SEGUNDOS

Uma pessoa… a Virgem Maria, consolou aquele que recebeu a consolação que é Cristo e a oferta ao mundo.

Um Papa… certamente Francisco, que me nomeou bispo e depois cardeal e que encarnou em si mesmo tudo o que dissemos até agora.

Um livro… os ‘Contos de um Peregrino Russo’, um clássico da literatura espiritual, um conto que, porém, nos transmite a tradição sem cessar.

Uma cidade… obviamente, Ulaanbaatar, ou seja, a capital da Mongólia, que é uma cidade cheia de contradições no meio da estepe, que se alcança após horas e horas de voo, de territórios vazios de estepes e colinas, de montanhas. É uma cidade fascinante que reúne metade da população total da Mongólia, uma cidade que também padece de uma grave poluição, mas que também pode ser um lugar de esperança, um pontinho na estepe que pode ser interessante conhecer.

córdia na Mongólia: um espaço sempre aberto, onde as pessoas encontram comida, banho, assistência médica e, agora, também refúgio para vítimas de violência doméstica.

Queremos que seja um lugar de encontro e acolhimento verdadeiros.

[SM] — Que apelo gostaria de deixar às instituições de solidariedade, como as Misericórdias?

[GM] — O desafio para todos nós que estamos empenhados neste testemunho de caridade é viver isto com os olhos e o coração dos discípulos de Cristo e não apenas com a mentalidade de ONG. Não basta fazer o bem, mas é preciso fazê-lo de uma certa maneira. São José, com a sua sabedoria, lembrava-nos que é preciso fazer o bem e fazê-lo sem alarde, inspirando-se na sabedoria do seu tio, São José Caffasso, que tinha esta máxima de vida e a transmitia a nós, missionários, sabendo que a nossa vida seria passada, principalmente, no mundo da caridade.

É IMPORTANTE QUE AS PESSOAS QUE VÊM RECEBER AJUDA, E ESTA TALVEZ SEJA UMA REFLEXÃO QUE PODE SER PARTILHADA COM TODOS AQUELES QUE TRABALHAM NA ÁREA SOCIAL, É QUE QUEM ENTRA EM CONTACTO COM AS INSTITUIÇÕES DA IGREJA NÃO SE SINTA SIMPLESMENTE O OBJETO DE UM SERVIÇO QUE É PRESTADO, MAS SINTA-SE O OBJETO DE UM AMOR E DE UMA ATENÇÃO VERDADEIRA, REAL.

Olhando para o próximo, vemos o rosto de Cristo e, portanto, aproximar-nos daqueles que mais precisam deve ser sempre feito com grande dignidade, respeito e também com este sentido de estar a prestar um serviço a Cristo, que se identificou com os pobres que todos nós somos. Portanto, o desafio é sempre o de humanizar cada vez mais os nossos serviços e torná-los cada vez mais transparentes à lógica do Evangelho.

Por isso, consideramos também que devemos empenhar-nos cada vez mais na Mongólia em proporcionar aos operadores dos nossos centros de caridade aquela formação humana e espiritual que é necessária para que o serviço seja realizado com profundidade.

[SM] — Que mensagem gostaria de deixar aos leitores da revista SER, especialmente aos que cuidam dos outros — idosos, doentes, famílias em dificuldade?

[GM] — Queria dar uma palavra de encorajamento e agradecimento a todos os leitores da vossa revista, que estão muito empenhados neste campo, e uma mensagem de corajem a continuarem, a não desanimar.

AJUDAR NUNCA É UMA TAREFA FÁCIL, É UMA TAREFA BELÍSSIMA, MAS, JUSTAMENTE POR ISSO, REQUER SEMPRE MUITA ATENÇÃO, CONSCIÊNCIA, DELICADEZA, E SENTIR QUE É UMA OBRA DO EVANGELHO.

A ESCUTA, OS POBRES E A ESPERANÇA

Preocupações que Francisco deixa como legado

É como se não tivéssemos passado séculos na filosofia das buscas, como se tudo se reduzisse à sedução de uma impaciente expectativa. A radicalização argumentativa impõe-se na desagregação ética. No desenrolar da rede social, na crista da onda mediática, constrói-se uma perceção que não facilita a compreensão do todo e defendemo-nos com um discernimento cada vez mais limitado à nossa circunstância. Perdendo o domínio da interpretação do tempo e do espaço, com que profundidade crítica e factualidade comparada escrevemos o nosso quotidiano?

A regressão antecipa tensões culturais que levam à indisponibilidade de pensar com o diferente, de sondar a diferença, entendendo-se o “outro” como um obstáculo, perdendo-se a capacidade de escutar. A dimensão da escuta, como instrumento relacional imprescindível, teve na última década um defensor à escala global, que registou um modelo de Igreja em saída, podendo este ser exemplar noutras dimensões.

Diante de uma crise histórica nas instituições políticas e religiosas – Igreja católica em particular –, o Papa Francisco, formado entre jesuítas, propôs outra geometria relacional para salvaguardar a realidade, que é “superior à ideia” (Evangelii Gaudium, 233), contrariando o totalitarismo, o populismo, a ideologia anti-histórica ou o retrocesso da história.

Francisco lembrou que o espaço de convivência não é esférico, nem toda a gente está à mesma distância de um centro, como se toda a gente sonhasse o mesmo sonho. O modelo relacional que impulsionou Francisco é poliédrico, “reflete a confluência de todas as partes, que nele mantêm a sua originalidade”. Sem abdicar do direito e dever da denúncia ou da crítica, Francisco pôs em prática a escuta da dinâmica sinodal – em tradução livre, “sinodalidade” significará “caminhar juntos, todos” –, podendo esta ampliar-se como proposta abrangente no exercício da “amizade social e política” (Laudato Sí, 231). Sintetizando, que todos, qualquer que seja a sua condição, oiçam todos, sem juízos prévios, num processo de discussão e decisão.

O sucessor, Leão XIV, relança esta “sinodalidade” no propósito da “unidade”, que, em contexto eclesial – como no político – pressupõe rever os critérios de ação. Se a “unidade” se define na forma poliédrica, assenta no livre reconhecimento da diversidade. A “unidade” não é uniforme, mas, dentro dos requisitos de uma ética humanista e cristã, todos acomoda, procurando “reunir nesse poliedro o melhor de cada um” (EG 236).

Quando se relativiza a escuta, reduz-se o conhecimento. Quando o diálogo é subvertido em discursos de ódio, pondo interesses tribais acima das ideias e dos ideais, não estamos a admitir a sociedade poliédrica, mas a negar a realidade que somos.

Joaquim Franco
Secretário da Mesa Administrativa

Na sua primeira exortação, Leão XIV agarrou as últimas notas de Francisco e deu sequência a outra prioridade. Dilexi Te – “Eu amei-te” – reforça o “grito” dos pobres, sublinha as formas e causas estruturais da pobreza. O Papa nascido em Chicago insiste que não é “razoável organizar a economia exigindo sacrifícios ao povo, para atingir objetivos que interessam aos poderosos”, até porque, “para os pobres restam apenas promessas de «gotas»”. Se o pensamento social-cristão releva o papel político dos estados na defesa do “bem comum” e do princípio da subsidiariedade, Leão XIV posiciona a exclamação de Francisco: “é necessário continuar a denunciar a ditadura de uma economia que mata”, a desigualdade, a sacralizada “autonomia absoluta dos mercados”, a “especulação financeira”, a “falsa visão de meritocracia”.

A Igreja foi desafiada por Francisco a ser um “hospital de campanha”, em ação, e não a mordomia de um hotel. É legítimo, por isso, questionar também uma certa Igreja de sumptuosidade. Neste documento, o Papa Prevost aperta também a ferida: “Muitos pensam que podem deixar de dar atenção aos pobres”, mas a expressão bíblica “pobres sempre os tereis” não está no “horizonte da beneficência”, a pobreza não é uma inevitabilidade. Uma certa “ortodoxia”, admite, é acusada de “passividade ou cumplicidade” face a “situações intoleráveis de injustiça e de regimes políticos que mantêm estas situações”. Essa “ortodoxia” opta “por uma pastoral das elites”, com “critérios superficiais” para defender que “é melhor cuidar dos ricos” para que, “através deles, seja possível alcançar soluções mais eficazes”.

Na sequência, o pontífice apela ao envolvimento dos cristãos nos movimentos de trabalhadores, na luta contra a discriminação, e sublinha que “seria inimaginável”, à luz da Doutrina Social da Igreja,

que, nas atuais “circunstâncias sociais, laborais, económicas e culturais”, os cristãos não se envolvessem.

LEMBRAVA AINDA FRANCISCO QUE, ESTANDO AO SERVIÇO DO “BEM COMUM”, A POLÍTICA “É A FORMA MAIS ELEVADA DE CARIDADE”. PODEMOS RETOMAR O CONCEITO DE “ESPERANÇA”, QUE, COM O PAPA BERGOGLIO, GANHOU UMA DIMENSÃO TRANSVERSAL.

Não faltam construções filosóficas ou até mitológicas, da Caixa de Pandora, em que a “esperança” é a última a sair depois de todos os males terem já feito o seu caminho, à expectativa cristã de uma redenção na vida eterna. Se Bento XVI sublinhou a “esperança” como certeza da fé cristã, Francisco focou a dimensão relacional e humana. E é aqui que a “esperança” se expande. “Basta um só homem, uma só mulher para que haja esperança” e “depois, há um outro «tu» e ainda mais um «tu» e, então, tornamo-nos «nós»”, escreveu Francisco na autobiografia Esperança, e “quando há um «nós», começa uma revolução”. Se somos em interdependência, a essência da “esperança” está também na corresponsabilidade, dando alento e contrariando desânimos.

Na Quaresma de 2025, pouco antes de morrer, o Papa argentino questionava: a “esperança” ajuda “a ler os acontecimentos da história” e “impele a um compromisso com a justiça, a fraternidade, o cuidado da casa comum, garantindo que ninguém seja deixado para trás?”

A “esperança” implica o indivíduo e a comunidade, da resposta mais próxima à responsabilidade social e política, assegurando a capacitação de vidas concretas. Não é uma opção. É uma exigência de fé e uma condição inerente à cidadania.

COMO SERÁ A ECONOMIA DE FRANCISCO DEPOIS DE FRANCISCO?

Em 2019, o Papa Francisco escreveu uma carta aos jovens economistas, empreendedores e agentes de mudança a denunciar uma economia que mata, exclui, devasta e desumaniza, e a pedir uma economia diferente — uma economia com alma.

Recebeu respostas de 3.000 jovens e o que começou por ser um convite para um encontro em Assis tornou-se uma comunidade global. Hoje, a Economia de Francisco tem mais de 1.000 membros ativos de mais de 120 países. É uma realidade viva e em constante evolução, nomeadamente através dos seus Hubs locais (como em Portugal), e continua a ser uma plataforma interdisciplinar, intercultural e interconfessional de mudança.

Tal como o Papa Francisco pretendia, o protagonismo é dos jovens — “capazes de ouvir com o coração os brados cada vez mais angustiantes da terra e dos seus pobres em busca de ajuda e de responsabilidade” (Papa Francisco, 2019). São eles que lideram o processo numa rede de diálogo intergeracional, onde os membros partilham ideias, estimulam a investigação, estudam abordagens inovadoras e desenvolvem projetos para transformar “a economia de hoje e dar uma alma à economia de amanhã” (Papa Francisco, 2019) Esta nova economia recebe o seu nome de São Francisco de Assis.

O PAPA NÃO QUERIA UMA ECONOMIA COM O SEU NOME PONTIFÍCIO, MAS SIM SUBLINHAR O VALOR INSPIRADOR DO SANTO QUE GUIOU

TODO O SEU PONTIFICADO.

É esse o primeiro Francisco a inspirar este processo. Muitas vezes ficamos pela caricatura do santo

amigo da natureza, esquecendo que a sua vida é, antes de tudo, testemunho da força de respondermos a um apelo — “Francisco, vai e repara a minha casa, que como vês está em ruínas” — e de iniciarmos um processo pessoal que rapidamente se torna um caminho comunitário, mobilizando tantos homens e mulheres da sua época, como Clara de Assis.

Francisco de Assis, filho de um comerciante, é apresentado na Laudato Sí como exemplo de ecologia integral pela sua escolha de viver entre os pobres e pela consciência de que tudo está interligado e é dom. Celebrado pelos seus louvores à Criação — sobretudo o Cântico das Criaturas, que cumpre 800 anos — influenciou também a reflexão económica do seu tempo, denunciando a usura e inspirando, séculos depois, os Monti di Pietà. A sua vida marcou ainda o diálogo inter-religioso, em particular através do encontro com o sultão al-Malik al-Kamil durante as Cruzadas. Uma economia de Francisco é, por isso, uma economia de fraternidade e de paz, que cuida de todos os seres vivos e da terra — em particular dos mais vulneráveis — e orientada ao bem comum.

A morte do Papa Francisco foi naturalmente muito sentida por todos nós na comunidade da Economia de Francisco. Sentíamo-nos a trabalhar com ele por uma economia que cuida verdadeiramente de tudo e de todos. Termos sido chamados

Rita Sacramento Monteiro Doutoranda em Ecologia Integral na Universidade Católica Portuguesa Integra a Equipa Executiva da Fundação The Economy of Francesco

pelo primeiro Papa da América Latina transformou as nossas vidas. Seis anos depois da carta do Papa, agora é a nossa vez de chamar outros a juntarem-se a este processo de mudança global, recebendo das duas heranças espirituais e humanas — Francisco de Assis e Francisco de Roma. É um momento de maturidade, neste ano jubilar em que, no nosso evento internacional no final de novembro em Castel Gandolfo (Roma), nos propusemos “Reiniciar a Economia”, aprendendo do descanso, da libertação e da restauração ligados à tradição do jubileu. Tudo isto expressa uma dinâmica de sinodalidade, de caminharmos juntos, ouvindo, dialogando e discernindo. E, assumindo a nossa responsabilidade, vivermos mais plenamente a nossa vocação de filhos de Deus.

O Papa Francisco sabia bem a importância de encontrarmos, no nosso caminho, pessoas que partilham os nossos anseios e inquietações, e a força de sonharmos juntos novas possibilidades. A comunidade da Economia de Francisco é testemunho disso. Depois de Francisco, e seguramente acompanhados pelo Papa Leão, a Economia de Francisco continuará o processo iniciado e que continua a encarnar em tantas realidades.

Vemos as notícias, olhamos para as dificuldades à nossa volta e para os nossos próprios desafios nesta economia atual, e é fácil pensar que tudo isto é uma utopia. Talvez porque os que todos os dias trabalham por uma economia diferente têm

menos espaço mediático. Mas a mudança está a acontecer mesmo no pequeno e invisível: através das vidas concretas de tantos jovens — e não só — que sonham e trabalham por uma economia onde a eficiência e o crescimento não são critérios únicos, e onde a relação, o cuidado e o desenvolvimento integral de cada pessoa são considerados valores centrais; nas iniciativas daqueles que desenvolvem projetos em prol do bem comum, na defesa dos que não têm voz, dos explorados e oprimidos; que denunciam as injustiças e os engodos de tantas sociedades indiferentes e obcecadas com o consumo desenfreado e com a eliminação de qualquer limite que proteja o equilíbrio ecológico e a justiça social.

SIM, DE CERTA MANEIRA HÁ UMA DIMENSÃO UTÓPICA, PORQUE A ECONOMIA DE FRANCISCO É PROFÉTICA E AINDA NÃO CHEGOU PLENAMENTE. MAS A ESPERANÇA É ATIVA E CONJUGA-SE JÁ NESTE PRESENTE. É O NOSSO TEMPO. E UMA NOVA ECONOMIA ESTÁ A CHEGAR.

DA CARIDADE

No dia 6 de junho teve lugar o Jubileu da Caridade no Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal.

No ano Jubilar que estamos a viver, o Sr. Patriarca, D. Rui Valério, convocou as várias dimensões da Pastoral Sócio Caritativa do Patriarcado de Lisboa para ali se reunirem como Peregrinos de Esperança.

A Santa Casa da Misericórdia da Amadora marcou presença através dos alunos do 3.ºAno da Escola Luís Madureira e dos utentes dos Centro Dia Rainha Santa Isabel e Casal da Mira. Uma Peregrinação de Esperança marcada pela Fé, pela Celebração e também pela partilha e Convívio entre gerações e as diferentes Instituições Sociais do Patriarcado.

LAR SAGRADA FAMÍLIA

30.ºANIVERSÁRIO

CONTEÚDO MULTIMÉDIA

No dia 26 de julho de 1995, Dia dos Avós, a Santa Casa da Misericórdia da Amadora inaugurava a sua primeira Estrutura Residencial para Pessoas Idosas (ERPI), o Lar Sagrada Família, com capacidade para 80 utentes. Esta foi a primeira grande obra da SCMA, um marco na sua missão de apoio à comunidade.

Ao longo de 30 anos de dedicação à população sénior do concelho da Amadora, o Lar Sagrada Família acolheu e acompanhou centenas de utentes e respetivas famílias, prestando cuidados geriátricos com qualidade, carinho e profissionalismo. Este ano, para assinalar esta importante efeméride, tivemos a honra de receber D. Nuno Isidro Cordeiro, Bispo de Lisboa, que presidiu à cerimónia e benzeu a requalificada capela do nosso Lar.

Contámos também com a presença do Presidente da Câmara Municipal da Amadora, Arq. Vítor Ferreira, e dos Presidentes das Juntas de Freguesia de Águas Livres, Jaime Garcia, e de Alfragide, António Paulo, a quem agradecemos a sua participação.

Esta celebração foi especialmente dedicada aos utentes, às suas famílias e aos colaboradores – de ontem e de hoje – que continuam a honrar o lema da nossa Instituição: Bem Servir.

PEREGRINAÇÃO

A SANTIAGO DE COMPOSTELA

A Peregrinação a Santiago de Compostela / Passeio de Primavera SCMA decorreu entre os dias 11 e 13 de abril.

Contou com a participação de 44 colaboradores e amigos da Misericórdia da Amadora, que visitaram Braga (Capela Árvore da Vida), Pontevedra, Padrón, Santiago de Compostela e Porto.

No dia 12 realizou-se a última etapa do Caminho Central Português de Padrón a Santiago, cerca de 25 Km num dos Caminhos de Santiago mais bonitos e profundos, não só do ponto de vista das paisagens, mas também do ponto de vista espiritual.

FEIRA DA SAÚDE

No âmbito das comemorações do Dia Mundial da Saúde (7 abril), estivemos presentes no Pavilhão Desportivo Escolar Municipal Rita Borralho, na Feira da Saúde e Bem-Estar do concelho da Amadora.

Esta iniciativa teve como objetivo a sensibilização da comunidade para a promoção da Saúde e Bem-Estar ao longo do ciclo de vida, envolvendo o movimento associativo local e o setor empresarial na área da saúde, na dinamização de atividades com os vários grupos etários da população.

NOTÍCIAS

2.º SEMINÁRIO

CUIDAR DE QUEM CUIDA

A Misericórdia da Amadora procura valorizar o Cuidador naquelas que são as suas diferentes competências. Ver o Cuidador como uma “sementeira de afetos” é acreditar na importância do seu papel social, reforçando-a na promoção do seu autocuidado, bem-estar e qualidade de vida. Assim, no dia 5 de novembro, Dia Mundial do Cuidador Informal, a Misericórdia da Amadora voltou a realizar o Seminário ‘Cuidar de Quem Cuida’

Nesta sua 2.ª edição estiveram presentes Académicos, Profissionais, Mentores e Observadores do gesto de Amor mais necessário nos nossos tempos: o Cuidar

Foram olhares e conversas ao sabor da Empatia, do Gesto e também do Humor testemunhados por um Auditório completamente cheio.

O nosso sincero agradecimento a todos os intervenientes desta edição, que entre risos, lágrimas, histórias e partilhas semearam muito Amor... cuidando um pouco de quem cuida!

DIA DA INSTITUIÇÃO

No dia 28 de junho, comemorou-se o Dia da Instituição SCMA. A Festa reuniu colaboradores, voluntários, irmãos e suas famílias, numa tarde cheia de calor humano, e atividades e dinamismo a envolver toda a ‘Família Alargada’ da Misericórdia da Amadora.

Um dia cheio de marcas... a união dos sorrisos, o som das conversas, o ruído das gargalhadas ao jantar e a rede das nossas famílias entrelaçadas numa só.

��Ser Contigo Missão Ação Santa ��Casa da��Misericórdia da Amadora

PONTO FINAL

OBRIGADO A TODOS, TODOS, TODOS.

A Santa Casa da Misericórdia da Amadora é, desde a sua fundação, um espaço de acolhimento, dignidade e serviço ao próximo. Ao longo dos anos, temos testemunhado que a nossa comunidade se tornou mais rica, mais plural e mais humana graças à presença de milhares de imigrantes que escolheram a cidade da Amadora como casa. Pessoas que chegaram de longe, muitas vezes deixando tudo para trás, movidas pelo desejo profundo de garantir um futuro melhor para si e para as suas famílias. Pessoas que, com coragem silenciosa, construíram connosco relações de confiança, de amizade e de pertença.

Todos os dias, nas nossas respostas sociais, encontramos rostos, línguas, culturas e histórias que nos lembram que a humanidade não tem fronteiras. São homens e mulheres que trabalham, cuidam, aprendem, ensinam e participam ativamente na vida comunitária. Enriquecem a nossa Instituição com o seu saber, com a sua resiliência e a sua forma própria de olhar o mundo. E são também as crianças e jovens imigrantes que nos mostram, com a sua alegria e espontaneidade, que a diversidade é uma oportunidade e nunca uma ameaça.

A contribuição dos imigrantes na Santa Casa da Misericórdia da Amadora não se mede apenas em números, mas sobretudo em gestos. Gestos de cuidado entre colegas, de dedicação aos utentes,

de partilha das suas tradições e de disponibilidade para aprender as nossas. O seu trabalho, muitas vezes discreto, é essencial para que a nossa missão de solidariedade e proximidade se cumpra diariamente. A verdade é simples: sem os imigrantes, a nossa Instituição não seria o que é.

Manuel Girão Diretor Geral

Este texto é, por isso, uma homenagem. Uma homenagem a quem chega e se integra, a quem luta, a quem insiste em permanecer, mesmo perante dificuldades. Uma homenagem a quem traz novas cores à cidade, novos sabores à mesa, novas palavras ao quotidiano. Mas é também um agradecimento profundo. Obrigado pela confiança, pela força, pelo contributo inestimável que dão à Santa Casa e à sociedade portuguesa. Obrigado por nos lembrarem, com a vossa presença, que o encontro entre culturas é uma riqueza que merece ser celebrada.

NUM TEMPO EM QUE O MUNDO ENFRENTA

DISCURSOS DE MEDO, ÓDIO, DE EXCLUSÃO E DE DESCONFIANÇA, É ESSENCIAL REAFIRMAR AQUILO QUE ESTÁ NA RAIZ DA NOSSA IDENTIDADE: O AMOR AO PRÓXIMO.

A Misericórdia existe para servir, para cuidar e para promover a dignidade de cada pessoa, independentemente da sua origem, da sua religião, da sua língua ou da sua cor de pele. Por isso, rejeitamos firmemente qualquer forma de racismo, discriminação ou xenofobia. Não apenas porque são injustas, mas porque atentam contra aquilo que somos e contra o futuro de uma comunidade verdadeiramente solidária.

Acreditamos que a convivência entre diferentes não se faz apenas de tolerância, mas de reconhecimento. Reconhecer que o outro tem valor. Reconhecer que cada pessoa transporta uma história que merece ser ouvida. Reconhecer que a diversidade enriquece todos, os que acolhem e os que chegam. É nesta consciência que queremos continuar a construir a nossa prática diária, promovendo espaços seguros, inclusivos e acolhedores, onde cada imigrante possa sentir que pertence e que tem um lugar.

Assim, reafirmamos o nosso compromisso: continuar a caminhar lado a lado com todos os que escolheram a nossa terra como sua. Continuar a aprender com eles, a apoiá-los, a valorizar as suas competências e a garantir que a sua participação na sociedade é reconhecida e dignificada. Porque uma comunidade só é verdadeiramente humana quando ninguém é deixado para trás. Às mulheres e homens que nos enriqueceram com a sua cultura, a sua diversidade e o seu trabalho, deixamos o nosso mais sincero agradecimento.

A CADA IMIGRANTE QUE PASSOU OU PERMANECE NA MISERICÓRDIA DA AMADORA, AFIRMAMOS: ESTA CASA, ESTA SANTA CASA, TAMBÉM É VOSSA.

Santo Natal e Próspero 2026

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