REVISTA SER MISERICÓRDIA #17

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MISERICÓRDIA DEZEMBRO 2023

#17

D. RUI VALÉRIO - PATRIARCA DE LISBOA

‘TEMPO DE CRIAR’ PÁG. 14

CONSTANTINO PINTO - PROVEDOR SCMA

‘O DESAFIO(S) DA MISERICÓRDIA’ PÁG. 2


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PERSPETIVAS O DESAFIO(S) DA MISERICÓRDIA

Constantino Pinto

Provedor da Misericórdia da Amadora

No términus de mais uma mandato à frente da nossa instituição, o nosso Provedor, Constantino Pinto, falou com o Ser Misericórdia e em jeito de balanço, falou-nos dos desafios que a nossa Misericórdia da Amadora enfrenta.

[Revista Ser Misericórdia] 'Bem-servir' é o mote da nossa Misericórdia. Acha que este se mantém atualizado, nos fundamentos e no significado? [Provedor Constantino Pinto] O conceito de misericórdia está intrinsecamente ligado ao serviço, sendo crucial compreender que não há misericórdia sem serviço. As misericórdias existem para servir o próximo, os utentes e a comunidade, esforçando-se por atender às necessidades consideráveis. O bem-servir tornase fundamental, destacando a importância de realizar serviços com excelência. Associado ao verdadeiro espírito de serviço, é essencial um esforço constante para fazer bem o que se faz. O objetivo é proporcionar serviços de alta qualidade, dignificando a vida dos utentes e enriquecendo o conceito de serviço. Servir sem qualidade levanta questões sobre a verdadeira prestação de serviço, reforçando a necessidade de empenho e dedicação para alcançar a excelência no auxílio ao próximo. [SM] Por falar em servir, está na nossa instituição vai para 28 anos. Como é servir a nossa Instituição? [CP] O meu envolvimento na Misericórdia teve várias fases, iniciando-se, se não estou enganado, por

volta de 1997 ou 1998. Fui convidado junto com outros jovens, atendendo à preocupação do fundador, Dr. Luís Madureira, em assegurar a continuidade da instituição. Inicialmente, participei na primeira mesa com o Dr. Luís Madureira e, posteriormente, tornei-me vice-provedor na gestão do Dr. António Neves, após o falecimento do fundador. A minha participação foi intermitente devido à minha vida profissional, sempre com uma agenda desafiadora. Ao longo dos anos, dei o meu melhor em diferentes funções, incluindo a vice-


03 PERSPETIVAS DO PROVEDOR

provedoria. Houve um período em que não fui vice-provedor devido à minha ausência do país, mas retornei ao cargo após regressar. Mantive-me como vice-provedor na gestão da Dra. Cristina Farinha até assumir a provedoria. Em termos práticos, a minha dedicação aumentou significativamente desde que sou Provedor, embora em horas não seja comparável. Sinto que, ao longo do tempo, amadureci no conceito de servir o próximo. Dediquei-me completamente à instituição, embora reconheça que poderia ter feito mais em algumas circunstâncias. [SM] Estamos no final do seu segundo mandato à frente da Misericórdia da Amadora. O que é que acha que deve destacar deste último mandato em que esteve à frente, em que conduziu, no fundo, a instituição? [CP] Destaco a pandemia e a notável resposta da equipa, composta por profissionais e voluntários. Enfrentamos desafios significativos, mas a dedicação incondicional resultou em resultados positivos, como a capacidade de salvar vidas. Apesar das interrupções causadas pela pandemia, a instituição demonstrou resiliência e manteve a sua sustentabilidade.

[SM] Sem beliscar o serviço, no fundo… [CP] Exatamente. Voltamos à questão do serviço e do bem servir. Essa foi sempre a linha mestra, custasse o que custasse, mas, mesmo assim, com todo este esforço, conseguimos equilibrar os nossos resultados, conseguimos sair sempre com a cabeça à tona d'água e garantir que a instituição tinha condições para continuar a servir com a excelência, como serviu até agora, sem ter que prescindir de pessoas… [SM] No mandato que agora se inicia quais são os eixos e as realizações ambicionadas para a Instituição? [CP] No próximo mandato, o foco estará na busca contínua pela excelência no serviço, abordando as crescentes e graves necessidades da comunidade. A ênfase será na formação das equipes, certificação de serviços e expansão na área da saúde, com destaque para a conclusão do complexo Domus Parque. Haverá esforços para atuar na habitação, incluindo a construção de residências para estudantes, respondendo a carências identificadas na sociedade. A contenção orçamental será mantida para garantir


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PERSPETIVAS

sustentabilidade, incluindo o enfrentamento dos desafios económicos, como o aumento do salário mínimo. O objetivo é melhorar continuamente, adaptando-se a circunstâncias imprevistas, mantendo o compromisso com a qualidade e sustentabilidade em diversos aspetos. [SM] A Misericórdia da Amadora irá ter agora um papel preponderante no seio da União das Misericórdias. O seu Provedor integra a nova direção da UMP. Como vai ser? [CP] O Provedor da Misericórdia da Amadora foi convidado a integrar a lista do Dr. Manuel de Lemos, presidente da União das Misericórdias. Este convite é visto como um desafio e um chamamento, reconhecendo a contribuição valiosa da experiência da Misericórdia da Amadora na UMP. O papel na União seria como vogal no Secretariado Nacional, focado em unir as Misericórdias, defender os seus interesses perante o poder político e representar as suas vozes nas diversas áreas governamentais. [SM] Como é que vê a Igreja de Lisboa e, no fundo, de Portugal, neste tempo pós-Jornadas Mundiais da Juventude e neste também singular momento em que Lisboa recebe e acolhe um novo patriarca?

[CP] Vejo com otimismo o impacto positivo da Jornada Mundial da Juventude, acreditando que algo importante está acontecendo. As misericórdias são um braço ativo na materialização da doutrina social da Igreja, indo além da simples intervenção social ou do modelo de estado social. Enfatizamos a dignificação da pessoa humana, buscando respostas para mitigar o sofrimento em diversas áreas. Acredito que a Igreja, por meio das Misericórdias, desempenha um papel crucial na sociedade, contribuindo para a presença ativa no meio do sofrimento, transformando-o e mitigando-o. Em relação ao nosso Patriarca, percebo que está numa fase de observação e diagnóstico da situação, o que me parece positivo. [SCMA] Uma capacidade de escuta renovada? [CP] Sim, e que agora saiu reforçada no Sínodo. Eu tenho feito contactos com pessoas muito válidas para perceber e ter uma visão o mais ampla possível, daquilo que é necessário fazer na Igreja de Lisboa, para revitalizar esta Igreja e para a tornar viva. De maneira que, enfim, vejo com otimismo. É evidente que não podemos ficar por aqui, temos que continuar a caminhar, temos que passar rapidamente da observação e do diagnóstico ao tratamento e à prática. E essa capacidade não pode ser só do senhor Patriarca, tem que ser de


05 PERSPETIVAS DO PROVEDOR

todos nós, porque todos nós temos de participar nesta mudança. E temos que conseguir transmitir à comunidade, sobretudo pelo nosso exemplo e pela nossa prática de vida, que estamos lá e que estamos lá por algum motivo. Porque este motivo é muito mais do que um estado social, ou muito mais do que “ai, que pena tenho dos pobrezinhos, daqueles que sofrem”. Nós somos verdadeiramente solidários, mais do que solidários, amamos aqueles que servimos.

[SCMA] Uma última mensagem… [CP] Estamos numa quadra marcante, com os estímulos comerciais habituais. Para nós, o Natal é especial, é o momento de pensar no outro, na família e na comunidade. A mensagem é clara: não abdiquemos do nosso papel na sociedade. Devemos superar o conceito de "eles não fazem" e assumir responsabilidade social como cidadãos e cristãos. A mudança necessária é colocar a pessoa no centro. Agradeço profundamente à nossa dedicada equipa de profissionais, verdadeiros voluntários na sua profissionalização. Agradecimentos também aos que nos apoiam, incluindo a Irmandade, organismos oficiais e a União das Misericórdias. O trabalho conjunto é essencial para dignificar a vida dos que mais precisam.


ANABELA VAL 06

EDUCAÇÃO 25 ANOS DEPOIS, A OBRA CONTINUA E S C O L A

Anabela Val

Diretora Escola Luís Madureira

LUÍS MADUREIRA

As paredes da Escola Luís Madureira encerram em si 25 anos de memórias... 25 anos de muitas histórias, afetos, crescimento e aprendizagens.

Falar da Escola Luís Madureira é falar de um projeto, cuja atividade letiva começou em setembro de 1998. Inicialmente, deu resposta a crianças de pré-escolar e de 1º ciclo, tendo crescido gradualmente para agregar todo o Ensino Básico, num modelo integrado que visa a formação das crianças e jovens até aos seus 15 anos. Pensado pelo Dr. Luís Madureira e pela sua equipa de Mesários e Irmãos da Santa Casa da Misericórdia da Amadora, este foi um projeto inovador, que colocou num mesmo espaço idosos e crianças, numa clara promoção da intergeracionalidade. O ano letivo 2023/2024 é o ano das comemorações destes 25 anos de atividade letiva. Tendo o mês de setembro sido marcado por dois impactantes momentos de celebração desta importante data: os dias 12 e 28. A 12 de setembro, 25 antigos alunos foram convidados a proceder à entrega dos diplomas de mérito e excelência relativos ao ano letivo transato. A 28 de setembro, os atuais colaboradores, os antigos alunos, os Diretores que fizeram ou fazem parte do crescimento da Escola (Dra. Maria do Carmo Cravo, Professor Manuel Girão, Dra. Sofia Malheiro, Professora Teresa Santos, Educadora Isabel Lemos e Professora Anabela Val) e os Mesários da Instituição, numa eucaristia presidida pelo Sr. Padre Carlos Matos, seguida de um jantar convívio,

agradeceram e recordaram muitos dos momentos já partilhados na escola. MAS, COMO TRADUZIR EM PALAVRAS AS VIVÊNCIAS DE 25 ANOS NUM ESPAÇO TÃO ESPECIAL COMO A ESCOLA LUÍS MADUREIRA? Não será impossível, mas … é difícil! Por vezes, as emoções toldam os pensamentos e turvam o olhar … mas o importante é que as recordações dos bons momentos prevalecem. As relações são fortes, os laços continuam, o reconhecimento existe, mesmo que a distância, por vezes, se interponha

ser fonte que alimenta e sacia todas as gerações


07 EDUCAÇÃO - 25.ºANIVERSÁRIO ELM

entre nós. Citando a antiga aluna Margarida Guimarães (2011-2020), “Escrever numa simples frase o que esta casa é para mim, deixa-me momentaneamente sem palavras. Esta é a nossa escola e para sempre uma segunda casa, um lar nostálgico e uma família recheada de boas memórias e gargalhadas, que ficarão eternamente no coração”, conseguimos perceber que não se trata apenas e só de um espaço de ensinooaprendizagem. É muito mais do que isso. Nas palavras da Catarina Dias (2014-2021), “a ELM são memórias felizes, o local onde crescemos e aprendemos a ser melhores todos os dias.”, ou como afirmam Madalena Leite (2007-2022) e Lucas Girão (2002-2016) é “onde fui mais feliz, foram os melhores anos da minha vida”, o que é corroborado pelas palavras da antiga aluna Sara Silva (2012-2021) quando refere que “dos enriquecedores nove anos de ELM levo ensinamentos para a vida toda.” COM TODAS ESTAS PALAVRAS DE RECONHECIMENTO E GRATIDÃO, PODEMOS PERCEBER QUE A NOSSA ESCOLA É LAR! A NOSSA ESCOLA É AFETO! É EMOÇÃO! E não o é apenas para os alunos. Também os colaboradores sentem a escola como o seu lar, sendo por isso que a Educadora Carla Vieira, que trabalha na Escola desde 1998, nos conta que “olho para trás e apenas consigo ter gratidão! Pelo Caminho percorrido nesta escola, neste crescer

partilhado, pela força da bondade e da solidariedade de todos! Continuo, na expetativa de caminhar sempre motivada pela força do amor que cada criança e cada família me oferece”. Já a colega Vanda Martins, auxiliar de Serviços Gerais, acrescenta que “25 anos de escola para mim é uma experiência ótima, onde vimos aprender todos os dias novas experiências, e o que mais me dá alegria é estar a trabalhar com crianças e com a felicidade delas, até porque com elas também vamos aprendendo.” A educadora Patrícia Gaspar, que também abraçou este desafio em 1998, confidencia que “25 anos de Escola Luís Madureira para mim tem sido o acumular de memórias vividas, que fotografei com o meu coração. Tenho um álbum de uma vida onde guardo momentos de felicidade e de construção de uma família onde as crianças, colegas e famílias fazem parte. Há coisas que não se conseguem materializar e explicar, pois só se sentem. Por isso guardo estes 25 anos dentro do meu coração e as palavras que me ocorrem para expressar o que vai lá dentro são ... Gratidão, Vida, Propósito, Missão, Crescimento, Partilha. Junto ainda um sorriso, um brilho no olhar e um abraço que acolhe.” Que todos e cada um de nós com a sua responsabilidade e mais-valia consigamos fazer jus à obra iniciada pelo Dr. Luís Madureira e pela sua equipa e continuemos a “Ser fonte que alimenta e sacia todas as gerações”, mantendo sempre o lema de Bem Servir.


SANDRA CARDOSO 08

3.ª IDADE VIVER E ENVELHECER NAS RESIDÊNCIAS ARISTIDES DE SOUSA MENDES Sandra Cardoso

Diretora Técnica da URASM

Quando pensamos o envelhecimento, será que pensamos nele como um processo natural e gradual? Ou reflete como gostaríamos de viver a nossa velhice? Será que estamos preparados para viver, com qualidade e conscientes, uma vida cada vez mais longa? Mas de que forma e onde?

Portugal é hoje o 3º país mais envelhecido da União Europeia. Segundo os Censos de 2021, apresentados pelo Instituto Nacional de Estatística, nos últimos 10 anos, o número de portugueses com 65 anos ou mais aumentou cerca de 20%. O envelhecimento da população é das transformações sociais mais importantes do séc. XXI, com reflexos nos vários setores da sociedade, mercados de trabalho, habitação, proteção social, saúde, nas estruturas familiares e nas relações intergeracionais. As famílias, enquanto estrutura e suporte familiar, mudaram nas últimas décadas, para além de serem cada vez menos numerosas o facto de serem pais cada vez mais tarde, também diminui a probabilidade do aumento da natalidade. Esta diminuição dos nascimentos compromete a manutenção e o aumento da população em Portugal e no resto da Europa. A diminuição da população jovem, associada ao aumento da esperança de vida provoca o envelhecimento da população. Muito se tem falado na sustentabilidade do Sistema da Segurança Social, com cada vez menos pessoas em idade ativa que possam contribuir para um número cada vez maior de pessoas em idade de reforma. É verdade que vivemos cada vez mais anos, mas a probabilidade de termos mais doenças também é

maior. Viver mais tempo também significa ter mais problemas de saúde e precisar de cuidados médicos e de quem cuide das necessidades básicas de vida e dignidade da mesma. Então impõe-se a pergunta como podemos viver mais e melhor? Claro que a dignidade, funcionalidade e a dor são fatores que condicionam a velhice; se as famílias são e estão cada vez mais ausentes, quem é que cuida dos mais velhos? A resposta está, entre outras, nas “Estruturas Residenciais para Pessoas Idosas” (ERPI).


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A UNIDADE RESIDENCIAL ARISTIDES DE SOUSA MENDES (URASM) DA SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DA AMADORA (SCMA) É UMA DESSAS RESPOSTAS, MAS QUE SE DIFERENCIA NA EXCELÊNCIA E COMPROMISSO DO SERVIÇO PRESTADO. Em Portugal existem cerca de 7.390 Respostas Sociais, entre Serviço de Apoio Domiciliário, Centros de Dia e ERPI; esta última é definida pela Segurança Social como uma “resposta social destinada a alojamento coletivo, de utilização temporária ou permanente, para idosos” e tem como objetivos proporcionar serviços permanentes e adequados à problemática biopsicossocial das pessoas idosas, contribuir para a estimulação de um processo de envelhecimento ativo, criar condições que permitam preservar e incentivar a relação intrafamiliar e potenciar a integração social. É importante conhecer o processo de envelhecimento e estrutura familiar para compreendermos a opção (ou não opção) de vir viver os últimos anos, provavelmente os mais difíceis, numa estrutura residencial de “alojamento coletivo”. Na nossa unidade residencial, cada residente é uma nova realidade e exige uma resposta diferenciada e centrada nas suas necessidades, quer sejam de personalidade, autonomia, ou de saúde, nomeadamente a multicomorbilidade que exige cada vez mais cuidados e recursos e isso também traz novos desafios e limites para estas estruturas ao nível da sua intervenção. A URASM, é uma estrutura residencial com respostas diferenciadas para os mais velhos, 3.ª e 4.ª Idades e é o resultado de um compromisso de

gestão com o Município da Amadora. Inaugurada em 2016 e com capacidade, atual, para 59 camas já recebeu mais de 170 pessoas, sendo que 20% dos atuais residentes estão connosco desde o início e a média de idades é de 88 anos. Os nossos residentes têm a possibilidade de usufruir de um apartamento equipado e pensado para eles. Oferece as condições necessárias para pessoas que apresentam diferentes graus de dependência, com a possibilidade de serem decorados com alguns objetos pessoais e transformarem os apartamentos, para que se possam sentir mais em “casa”. Conscientes que este é um processo que requer alguma adaptação, no entanto pretendemos que esta seja rápida e com o menor sofrimento possível. Os apartamentos também permitem que os residentes possam receber as suas famílias, proporcionando-lhes um ambiente familiar, confortável e agradável para todos. Os espaços coletivos e de partilha proporcionam a interação e o convívio entre residentes onde são organizadas atividades múltiplas, desde os cuidados de fisioterapia de manutenção, às atividades de ginástica e animação, de modo a combater a solidão, o isolamento e a manter a autonomia funcional dos residentes. Na URASM trabalhamos para que os residentes se sintam livres e em segurança, em qualquer local (interior e exterior) da Unidade Residencial. Os meios tecnológicos postos ao serviço dos residentes permitem uma assistência e acompanhamento permanentes. Cada residente dispõe de meios que permitem apertar um botão


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3.ª IDADE

de pedido de ajuda, que faz acionar um alarme e a localização do residente, alertando de imediato os profissionais para a ajuda solicitada. O apoio de enfermagem, com acompanhamento e avaliação de sintomas e parâmetros vitais diários, a deslocação do médico sempre que se justifique, o acompanhamento psicológico, a gestão e acompanhamento diário das atividades pela Direção Técnica e Serviço Social são condição para garantir a qualidade de vida aos residentes e satisfação das suas necessidades. Viver e envelhecer com qualidade nas residências Aristides de Sousa Mendes é o propósito da vasta equipa de profissionais que diariamente proporcionam aos residentes serviços que potenciam e salvaguardam a sua identidade, integridade e autonomia, promovendo o envelhecimento ativo, o bem-estar e a qualidade de vida através da manutenção de espaços individuais e partilhados e da prestação de cuidados que primam pela relação, pela diferenciação, inovação e assistência permanente a cada residente. A metodologia de intervenção da URASM é centrada no residente, neste sentido, toda a abordagem assenta nas necessidades específicas de cada um. O processo de envelhecimento é diferente para todos, não temos como medir a evolução e o aparecimento de doenças mas todos os profissionais da URASM

estão alinhados com o lema da Santa Casa da Misericórdia da Amadora em “Bem Servir” os nossos residentes. Na URASM cuidamos das pessoas dando o melhor de nós, com um verdadeiro espírito de entrega, missão e propósito, como gostaríamos que um dia cuidassem de nós. Prestamos cuidados de higiene, saúde, conforto e bem-estar com qualidade e humanismo, garantindo a identidade, integridade, autonomia individual, promovendo a qualidade de vida e a satisfação pessoal dos residentes. A PRESTAÇÃO DE CUIDADOS NUM AMBIENTE FAMILIAR, CONFORTÁVEL, ONDE A PESSOA SE POSSA IDENTIFICAR COM O ESPAÇO E ASSUMIR QUE ESTA É TAMBÉM A SUA CASA, REVELA UMA CONTINUIDADE DE INTEGRAÇÃO SOCIAL E ISSO É FUNDAMENTAL PARA PODERMOS VIVER E ENVELHECER NUMA ESTRUTURA RESIDENCIAL PARA PESSOAS IDOSAS.


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A&B | 20 ANOS ‘ENSINAR COM GOSTO, ACOLHER COM ALEGRIA, BRINCAR COM ENERGIA.’ – JI e 1º ciclo

André Santos

Diretor Aprender & Brincar

‘APRENDER COM ENERGIA, CRESCER COM SABEDORIA’ – Espaços Juvenis

Em maio de 2002, a vereadora da Educação, na altura, Carla Tavares, atualmente Presidente da Câmara Municipal da Amadora, convidou o então Provedor da Misericórdia da Amadora, Eng.º Ilídio Loureiro, para uma reunião com o tema a incidir na rede escolar da cidade e o seu aproveitamento. Na altura, foi escolhido como representante da Misericórdia da Amadora o Professor Manuel Girão, atualmente Diretor Geral da nossa instituição, para integrar a equipa que iria idealizar o programa Aprender & Brincar.

No final dos anos 90 e início do ano 2000, o Município da Amadora investiu na qualificação das dinâmicas escolares, não só na componente das instalações, mas também na vertente de apoio à família. A SCMA já possuía, desde 1988, a experiência de ATL “clássico” com as condições ideais para criar as sinergias necessárias entre o município e a instituição (sendo que em 2002 se juntaram três novos parceiros). Esta cooperação permitiu o aproveitamento das infraestruturas, novas ou alvo de profunda requalificação, em proveito das crianças, apoiando as suas famílias. Desta forma, passou-se a evitar a deslocação das crianças após o encerramento das escolas às 15h30 para o ATL “clássico”. Compete à família e ou encarregados de educação o acompanhamento das crianças fora do horário letivo. Para muitos pais ou encarregados de educação este acompanhamento é difícil, uma vez que os seus horários são incompatíveis com os horários escolares, existindo ainda a necessidade de cobertura das interrupções letivas (férias escolares). Urge adaptar os tempos de permanência das crianças nas escolas às necessidades das famílias e garantir que esses tempos são pedagog i c a m e n te r i c o s e c o m p l e m e n t a re s d a s


APRENDER & BRINCAR - 20ANOS 12

aprendizagens associadas às aquisições das competências básicas. As escolas do concelho reúnem as condições adequadas à permanência das crianças em tempos não letivos. PERANTE TODAS ESTAS VARIÁVEIS A CÂMARA MUNICIPAL DA AMADORA APROVOU A IMPLEMENTAÇÃO DO PROGRAMA APRENDER & BRINCAR A PARTIR DE 1 DE SETEMBRO DE 2002. Em 2005 surgem as Atividades de Enriquecimento Curricular (AEC). Era necessário garantir uma escola a tempo inteiro, designadamente, AEC no 1º ciclo do ensino básico, de caráter facultativo e de natureza eminentemente lúdica, formativa e cultural, que incidisse nomeadamente, nos domínios desportivo, artístico, científico e tecnológico, de ligação da escola com o meio, de solidariedade e de voluntariado e da dimensão europeia da educação. O Município investiu na promoção das Atividades de Enriquecimento Curricular, e contratualizou com as entidades parceiras para assegurar o seu desenvolvimento e concretização. A oferta das Atividades de Enriquecimento Curricular deve ser adaptada ao contexto da escola com o objetivo de atingir o equilíbrio entre os interesses dos alunos, a formação e perfil dos REPENSAR INTERAÇÕES SOCIAIS, ATUAR EM SOLIDARIEDADE! profissionais que as asseguram e os recursos materiais e imateriais de cada território. Com a

REINVENTAR COMUNIDADE

colaboração das entidades parceiras do município, ex i s te u m a g a r a n t i a d e s e g u r a n ç a e d e estabilidade para com as crianças e famílias revelando-se uma mais-valia no apoio à comunidade educativa. Em setembro de 2002 arrancámos com o programa Aprender & Brincar na SCMA em três escolas: ATL Reboleira (EB1 JI Vasco Martins Rebolo), ATL Boba (EB1 JI Ricardo Alberty) e ATL Leite Vasconcelos (JI n.º2 da Brandoa). Em 2003 a Misericórdia identificou uma nova necessidade fora do programa A&B da autarquia, surgindo o primeiro ATL juvenil (2.º e 3.º Ciclos) o atual Espaço Juvenil Almeida Garrett. Durante os 21 anos do Aprender & Brincar na nossa instituição, a evolução e crescimento foram imensos e, atualmente, estamos presentes em catorze (14) escolas do município com dez (10) valências de Jardim de Infância, nove (9) de 1º ciclo e três (3) espaços juvenis, totalizando em novembro de 2023: mil quatrocentas e cinquenta e nove (1459) crianças. As nossas componentes de apoio à família (CAF) são o apoio das famílias fora do horário escolar, abrangendo o período que antecede as aulas (antes das 09h00) e o após (15h00 ou 17h30 até às 19h00). Este horário é, por vezes, difícil na vida familiar dos nossos colaboradores que acabam por entrar às 07h30 e sair às 19h00 tendo uma enorme pausa durante o dia. Esta organização


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requer uma adaptação da vida familiar da nossa equipa de colaboradores, EQUIPA essa, que é a enorme e principal força do Aprender & Brincar da Misericórdia da Amadora, equipa essa que em 2002 era composta por quatro (4) pessoas e hoje conta com noventa e uma (91) entre o diretor do A&B da SCMA, os coordenadores de cada valência, técnicos de ATL, ajudantes de ação educativa, professores de AEC e ofertas educativas e auxiliares de serviços gerais. O espírito de entreajuda e voluntariado da maior parte das pessoas da EQUIPA possibilita que todos os dias consigamos oferecer às famílias um serviço de qualidade e uma taxa de 100% no que diz respeito à assiduidade dos nossos alunos nas AEC. Nas pausas letivas (férias da escola) as nossas valências funcionam doze (12) horas por dia, provocando o desdobramento das equipas resultando em rácios elevados que obrigam a um esforço extra das pessoas. Mantendo o foco nas

crianças, tentamos sempre proporcionar visitas a locais, por vezes a centenas de km de distância da nossa cidade, atividades essas que só são possíveis pelo voluntariado, empenho e fantástica dedicação das pessoas que trabalham diariamente no nosso programa. Os meses de julho e de agosto são muito especiais e específicos do nosso programa. Ao longo dos anos, temo-nos reinventado, sobretudo nos últimos, muito por influência da pandemia. Atualmente, o mês de julho é sinónimo da nossa colónia de férias na praia de Carcavelos, onde este ano no verão, 910 crianças do nosso Aprender & Brincar se inscreveram para duas semanas muito divertidas e exigentes ao nível físico da nossa equipa e das próprias crianças. No mês seguinte, na primeira quinzena, realizámos o programa de agosto para as crianças que se inscreveram com várias atividades dentro e fora da escola. Já na segunda quinzena o programa Aprender & Brincar encerra totalmente para descanso das crianças e de toda a EQUIPA de colaboradores. O APRENDER & BRINCAR EXISTE NA NOSSA INSTITUIÇÃO PARA AS CRIANÇAS E PELAS CRIANÇAS, AGRADECEMOS ÀS MAIS DE MIL (1.000) FAMÍLIAS QUE CONFIAM DIARIAMENTE EM NÓS E NOSSO TRABALHO. AOS NOVENTA (90) COLABORADORES, QUERO DEIXAR EM MEU N O M E E E M N O M E DA SA N TA CASA DA MISERICÓRDIA DA AMADORA UM ENORME MUITO OBRIGADO POR TÃO BEM REPRES E N TA R E M O B E M S E R V I R D A N O S S A INSTITUIÇÃO.


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ENTREVISTA TEMPO DE CRIAR «É preciso preparar, formar e organizar os leigos para o Ministério da escuta.»

É o novo Patriarca de Lisboa (18.º), desde 10 de agosto de 2023. Natural de Ourém, ordenado no seio da família dos Padres Mofortinos e Bispo das Forças Armadas, conduz agora a Igreja de Lisboa após a JMJ.

[Revista Ser Misericórdia] Nestes primeiros meses na diocese conheceu comunidades e agentes pastorais. Qual o rumo traçado? [D. Rui Valério] Bem, antes de mais, gostaria de lembrar que Lisboa não foi propriamente uma novidade. Desde 1992 que, de alguma maneira, colaboro, com mais ou menos intensidade, com a Igreja de Lisboa. E aquilo que é maravilhoso é constatar como tem uma particularidade… é aquela presença de grandes desígnios que marcam o ritmo do dia a dia, os programas sucessivos. No tempo do cardeal Ribeiro – eu começo aí, em 1992 –, o grande desígnio era a aplicação do concílio. Com Dom José Policarpo, o grande desígnio foi a nova evangelização, traduzida para a sociedade de Lisboa, particularmente para a cidade. Com Dom Manuel Clemente, foi o Sínodo diocesano, juntamente e a par, enfim, daquilo que nos preenche, que é a Jornada Mundial da Juventude. Ora, isto é bastante belo, é um valor, mais do que isso, um triunfo pastoral. Mas, por outro lado, é precisamente aí que reside o grande desafio para Lisboa. O DESÍGNIO DE “MANTER VIVA A CHAMA DA JMJ” [SM] Então qual é o seu desígnio? [RV] O meu desígnio é manter viva a chama da Jornada Mundial da Juventude. Lisboa, neste momento, encontra-se perante um tesouro

imenso. Por um lado, há esta riqueza da Jornada Mundial da Juventude, e, por outro lado, ao mesmo tempo, há a sinodalidade. Não são contrapostas, antes pelo contrário. Nestes primeiros meses, tenho percebido, tenho testemunhado, como uma Igreja viva, pujante, entusiasta, abraçou a causa que a jornada nos lançou, nomeadamente a renovação a partir dos jovens, com os jovens, para os jovens, e, a partir dessa prioridade, então, alastrar a uma renovação sinodal de toda a Igreja. [SM] Isto poderá ser circunstancial, como verificámos noutras cidades que acolheram a Jornada, ou entende que há mesmo alicerces para o futuro? [RV] A Jornada de Lisboa tem particularidades que impedem que ela seja um evento fugaz. Representou o desconfinamento espiritual da humanidade. Não vieram só os jovens de Portugal, não foi só para Portugal, nem foi um mero encontro pós-pandemia. Por outro lado, nunca, como agora, se insiste tanto nesta equação «evento-processo». Nunca houve essa consciência. É que, a partir de um evento, temos


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um processo, que está a ser para nós uma referência de caminho, com metas, horizontes, objetivos, etapas. Dentro deste caminho, insere-se o grande projeto da sinodalidade. O desafio é imenso, a abertura da Igreja a ser participada, com jovens que já não aceitam ser espetadores. [SM] Não basta chamar os jovens à igreja, é importante criar estruturas onde eles se sintam acolhidos... [RV] Os jovens é que nos têm que chamar. Os jovens é que são o apelo. Eu acredito que aos jovens foi confiada uma mensagem, inscrita no respetivo coração, e agora há duas palavras que são estruturantes: Vinde, aproximai-vos e testemunhai. Dizei-vos. Os jovens aqui não são destinatários. É importante, até numa perspetiva sinodal. Eles não são destinatários, eles agora são, digamos assim, os anunciadores... “PARTICIPADO POR BISPOS, SACERDOTES, LEIGOS, FAMÍLIAS, JOVENS… ESTE SÍNODO É UM SINAL DOS TEMPOS.” [SM] A juventude que esteve presente na JMJ não representa um edifício monolítico. Há diversas sensibilidades e experiências de fé, que refletem também o mundo e a Igreja, na sua diversidade. A Igreja não terá de encontrar novos caminhos para acolher essas diferenças? [RV] Duas coisas. Antes de mais, eu não diria que os jovens que estiveram na JMJ pensam de maneira diferente. Os jovens que cá estiveram pensam é à

maneira de Jesus. Pensam evangelicamente, como dentro do Novo Testamento, onde temos quatro perspetivas, quatro pontos de vista, mas o pensamento é Cristo. Pensando o mesmo, mas com pontos de vista um bocadinho diferentes. Ora bem, isto nunca foi problema para a igreja. Não é e nunca será. Antes, pelo contrário. Existe aqui uma inclusão participativa em ordem a um tesouro. A complementaridade é formada por tudo isto. A igreja é exatamente esta pluralidade na unidade, esta multidão no único povo de Deus. É uma igreja que nasce e se desenvolve na senda do Pentecostes. Ou seja, da pluralidade ou diversidade. Vou-lhe dar um par de exemplos. Nós somos daqueles que dizem: a revelação é palavra de Deus e tradição. Nós somos aqueles que apresentam à pessoa a possibilidade de conhecer Deus pela fé e pela razão. Nós somos aqueles que, olhando para Jesus Cristo, não dizem que Ele é só homem ou é só Deus. Não. Dizemos que é verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Nós somos aqueles que dizem que a Igreja é, toda ela, consagrada, é um povo santo, mas é também uma instituição. Somos, portanto, uma Igreja de abertura, de pontes, de porta aberta. E neste sentido, não tem cabimento, sequer, falar de exclusão... [SM] Então, no contexto do tempo que atravessamos, que relevância tem o Sínodo? É que este surge também como uma necessidade, uma


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ENTREVISTA

oportunidade para a Igreja católica se sintonizar com o mundo, perante uma realidade social e cultural que se afasta das «coisas» de Deus e da religião… [RV] Este Sínodo acerca da sinodalidade, ou melhor dizendo, este Sínodo sobre a Igreja sinodal, é ele já, de certa maneira, o culminar de todo um caminho que desde Paulo VI se vem fazendo. Este sínodo é, ele próprio, fonte de esperança para a Igreja. Em primeiro lugar, é participado tanto por bispos, como por sacerdotes, por leigos, por famílias, por jovens. E isto é um sinal dos tempos. Em segundo lugar, sublinho foi a maneira como se está a proceder. Verdadeiramente, a voz de cada cristão ecoa naquela sala sinodal. Como é que foi feito? Exatamente através daquelas três etapas que nós tivemos. Não nos esqueçamos de que este sínodo começou há muito tempo com uma consulta que teve uma adesão e uma participação extraordinária. Toda a gente que quis se pronunciou sobre o que queria e o que não queria. E tudo isso está lá presente. “TENHO UMA PROPOSTA”, QUE OS JOVENS CONSTITUAM “CENTROS DE ESCUTA” NAS COMUNIDADES [SM] Ficou surpreendido ao ver o Papa reunido numa mesa com outros participantes, a contribuir em igualdade de circunstâncias? [RV] Eu fiquei maravilhosamente edificado com aquele exemplo. Porque eis ali aquilo que a Igreja me ensinou já há tanto tempo. Eu, da Igreja, sempre ouvi dizer isto sobre o sentido da partilha:

quando o Espírito Santo quer fazer chegar uma mensagem a alguém, nem sempre o faz diretamente com o interessado, mas pode falar por interposta pessoa. É por isso que há a partilha. Porque é nesta partilha, neste colocar sobre a mesa o conjunto de intuições, de sentimentos, de reflexões, de pensamentos, que nós vamos vislumbrando a presença e a passagem do Espírito Santo. Por isso, ali, o sinal que estamos a dar é exatamente o da escuta. Cada um se põe à escuta do outro. O que significa que cada um está a ser edificado pela palavra, pelo testemunho do outro. [SM] É o modelo que quer ver aplicado na realidade concreta das comunidades aqui em Lisboa? [RV] Nós estamos já a atuar nesse modelo. Ou pelo menos, enfim, estamos a atuar e estamos a ir nesse caminho. Veja só a maneira como aquilo está feito. Há três momentos. Primeiro, cada um é convidado a exprimir, a expressar-se. Todos se expressam. No segundo momento, cada um é convidado a expressar aquilo que mais o tocou no testemunho do outro. E, em terceiro lugar, é o momento da síntese. Ou seja, ninguém está ali para convencer ninguém da sua opinião pessoal, mas para a escuta recíproca. Porque aquilo que o outro me diz não é só fruto da sua intuição, da sua inteligência, da sua imaginação, da sua opinião. É fruto do Espírito Santo. É este caminho que vamos querer concretizar em Lisboa, nas nossas comunidades. [SM] O relatório síntese da primeira sessão do sínodo apresenta uma proposta concreta, espaços de escuta, um “ministério” da escuta. Como é que isso pode concretizar-se no terreno?


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[RV] Eu tenho uma ideia, tenho uma proposta para os jovens. Que é de, em locais pré-definidos, a nível vicarial, se constituírem centros de jovens, cuja primeira tarefa é exatamente aquela de ser um centro de escuta. Mas físico. Como é que pode ser feito numa primeira fase? E porquê? Eu lancei um projeto e sei que alguns setores da Diocese estão a abraçá-lo, de que nesta ocasião, na sociedade portuguesa, e concretamente em Lisboa, não há ninguém que não tenha dentro de si um testemunho acerca da Jornada Mundial da Juventude. O que é que foi e o que é que tu esperas que venha a ser o pós? E será nestes centros, que a pessoa se aproxima. É convidada a vir, é convidada a participar. É claro que não isoladamente, no primeiro momento, mas o importante era que nós conseguíssemos delinear um processo de aproximação das pessoas. Não venham para escutar uma voz, mas para dar o testemunho e serem escutadas. [SM] Está a falar dos jovens. E em relação à escuta das outras gerações? [RV] Eu começaria também pelos mais velhos. Nomeadamente, nesta primeira fase, as pessoas que tiveram a graça de acolher jovens peregrinos. Foram muitas, é uma multidão. Essas pessoas estão ansiosas, estão desejosas de expressar o que foi para elas a experiência. A nossa escuta começaria por aí. É um pretexto que nos é dado como uma ocasião única e rara. Em que a propósito de um acontecimento, que nós queremos que seja um processo que tem um seguimento, eles se sintam participantes. É PRECISO PREPARAR, FORMAR E ORGANIZAR OS LEIGOS PARA O MINISTÉRIO DA ESCUTA

[SM] Este “ministério” da escuta proposto no relatório síntese, parece ser um pouco mais ambicioso, antecipando até a formação de pessoas, para dimensões que vão para lá dessa primeira expectativa… RV] Sim, a formação terá que ser feita por duas razões. Vamos ser muito concretos, temos de estar preparados para receber tudo da parte da pessoa que se está a convidar. E, depois é necessária outra coisa, a transformação, perceber como, neste “ministério” da escuta, nós estamos a rececionar uma palavra, um testemunho, que não é apenas a opinião de um cidadão, mas para nós é compreendida e interpretada como a vontade de Deus naquela irmã e naquele irmão. É que, no ouvir, nós estamos a escutar, por vezes, a intuição, a palavra, o sopro da voz do Espírito Santo. E esses grupos de escuta serão compostos por leigos. Sei que há grupos, nomeadamente na área da Pastoral da Família, que se estão a organizar. Já aconteceu em alguns sítios. Eu próprio, há dias, estive numa vigariaria onde isso aconteceu e foi espetacular. Será feito. É preciso ter espaço. Espaço físico, no horário semanal das paróquias… Em segundo lugar, há um trabalho mais exigente. Ir, de porta em porta, convidar as pessoas. Por isso é que eu dizia que vamos começar de algum lado, para fazermos caminho. Eu conheço tanta gente que acolheu peregrinos e não tem vivência cristã, não tem vivência de Igreja. E, no entanto, vive um fascínio, tem uma necessidade, uma urgência, uma vontade, um desejo de partilhar e de publicar aquilo que foi…


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[SM] São dinâmicas como essas, da escuta, que podem concretizar a frase do Papa Francisco, em Lisboa, que ainda hoje faz eco em Lisboa e no mundo: a Igreja é um espaço aberto a “todos, todos, todos”? [RV] O Papa Francisco é muito mais profundo do que aquilo que à primeira vista nós possamos pensar. “Todos, todos, todos”. Tem a ver com o sujeito da pessoa, mas também a condição, a cultura, o contexto que envolve a pessoa. Neste sentido se a Igreja ficasse só ao nível do acolhimento da pessoa, tinha-se resignado a ser uma instituição de solidariedade social. Acolhe e dá o que a pessoa precisa. O projeto da Igreja é um bocadinho mais ambicioso, tem a missão de configurar o mundo, renovando-o para estar mais assente na justiça, na liberdade, na grandeza da dignidade do ser humano. O acolhimento é um processo ativo. “SÓ DEUS” É ALICERCE PARA, “ULTRAPASSANDO A LIMITAÇÃO MENTAL”, CHEGARMOS A “TODOS, TODOS, TODOS” [SM] O que é que torna possível essa abertura total e global a “todos”? [RV] Só há um fator: Deus. Só lá, onde Deus está no centro e é o foco, temos o alicerce fundamental deste projeto, sendo possível o “todos, todos, todos”, ultrapassando a limitação até mental, cultural e ideológica, em que o “todos” é só para alguns. Deus é que nos dá essa amplitude, essa configuração, esse universalismo, se Ele lá estiver.

[SM] Neste contexto, o todos é incondicional? [RV] O todos é incondicional na medida em que Deus é incondicional. Não sou eu, mas o amor que tem por nós. Como é que o coração de alguém pode abrir-se à universalidade do ser humano? Pensem num balão. Um balão é tanto mais expansivo quanto mais ar tiver dentro. Estão a ver esta imagem? O coração humano tem que ser assim. Quem nos dá essa abertura é o Espírito Santo, que nos expande para “todos, todos, todos”. O projeto é o de Jesus Cristo, é aquele sempre, ou seja, que assenta em Cristo, que nos dá o seu Espírito para nós estarmos aqui abertos, finalmente, a todos, porque nós andamos com pequenos fragmentos, com pequenos resquícios... [SM] O “todos” é um “tudo”? [RV] Agora você já pôs aí uma outra palavra: tudo. O “tudo” tem de ser trabalhado com o Evangelho. Não me venha pedir que admita a barbaridade de um ditador, que aprove o que, por exemplo, o Presidente da Rússia está a fazer ao povo ucraniano. Portanto, o “todos, todos, todos” não é o “tudo, tudo, tudo”. O PAPEL POLÍTICO E SOCIAL DOS CRISTÃOS E DA IGREJA CATÓLICA [SM] A Igreja também tem, através das suas estruturas e do seu pensamento social, um papel político a desempenhar na sociedade portuguesa? [RV] Já Platão dizia que a política é a arte de servir um bem maior do que o individual, o bem comum…


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D.RUI VALÉRIO EM 30 SEGUNDOS... Uma Pessoa: João Paulo II. Além da sua coragem e verticalidade, foi um homem que, como mártir, conseguiu, mais do que com a sua palavra, mover montanhas. E conseguiu fascinar-me. Um Papa: Francisco. Fiquei rendido à forma como ele nos disse que todos precisamos uns dos outros. E é preciso ser muito grande para aceitar vir de Roma até Lisboa numa cadeira de rodas. Para se levantar, dependia de outros. Para se sentar, dependia de outros. Para falar, dependia de outros. É preciso ter muita grandeza. Um livro: As Confissões do Santo Agostinho. Uma teologia a partir do que ele vivia na palavra de Deus. Não é uma teologia feita de joelhos….

[SM] …O Papa Francisco diz que a política é uma expressão superior de caridade… [RV] …e eu também acho que é. Eu também acho que é. No seu sentido genuíno é, de facto. Porque é quando o cidadão abdica do seu ego para ser em função do todo. Do todo e de todos. E do tudo. Aí sim, é do “tudo”. Ora, nessa medida, nessa medida eu estou plenamente de acordo, porque dentro das páginas do Evangelho e da Bíblia, existe uma visão para o “todo”, que é assente no amor, na justiça, e no martírio. Repare a maneira como Jesus chama os seus discípulos – “trazei a vossa cruz” – e depois aquilo que prometeu foi a perseguição, o mau entendimento. É este o chamamento: dar não apenas uma parte de si próprio, o seu tempo, a sua arte, a sua energia, o seu dinamismo, o seu saber, as suas perspetivas, as suas opiniões, mas a fazer de si próprio uma doação e dádiva para os outros. Na política isto tem de estar presente. isto não é uma utopia. Eu conheci alguém assim. Não vou fazer aqui o nome da pessoa, mas conheci um presidente da Câmara, no Alentejo, que era um exemplo de quem viveu para servir a comunidade. [SM] O exercício político é uma missão cristã? [RV] É uma missão nobre. Que tem em vista a promoção da dignidade do ser humano, tem em vista aqueles valores que fazem de uma comunidade uma civilização do amor. “UM GRANDE ELOGIO ÀS MISERICÓRDIAS E, CONCRETAMENTE, À DA AMADORA” [SM] Nesse processo de responsabilidade política ou social que a Igreja tem, como é que vê o papel das Misericórdias?

Uma Cidade: Lisboa. Não é por estar cá, mas porque contém tudo aquilo de que eu gosto. Não é muito fria, porque eu gosto de quente. E não é muito quente, porque eu gosto de treinar. Tem um espaço maravilhoso para eu poder correr todas as manhãs: o Tejo. É deslumbrante. E tem uma geografia que é ela própria uma programação. É impossível ser-se lisboeta ou viver em Lisboa sem sentir este apelo. Por um lado, para a memória. Porque tem o fado. Porque tem ali aquela Sé. Porque tem a história. Mas, por outro lado, é uma cidade que nos interpela para sair, para ir. Aquele Tejo ali diz-nos que o destino do ser humano é ser um caminhante ao encontro dos outros. Lisboa fascina-me completamente. Quando eu regressava de viagens nos aviões militares, eles colocavam-me à frente e aquela aproximação à cidade é um festival de luz.

[RV] Antes de mais, quero fazer um grande elogio às Misericórdias e, concretamente, à Misericórdia da Amadora, porque nós estamos num tempo em que, de facto, este pôr-se ao serviço do bem comum não é atrativo. E é com alguma tristeza que eu verifico que da parte ou dentro da própria Igreja, já não haja aquela adesão, aquela vontade de alguns jovens incitarem pelo caminho de servir a causa pública. As Misericórdias «nunca, nunca, nunca», desistiram de o fazer. Estar na política implica tomar decisões. E tomar decisões nem sempre é fácil. Ora, as Misericórdias e, concretamente, a da Amadora nunca deixaram de ter nas suas mãos esta incumbência, esta urgência e esta necessidade de tomar decisões. [SM] Tem então conhecimento do trabalho da Misericórdia da Amadora, conhece a realidade social na qual se movimenta.? [RV] Eu sei algumas notícias. Sei que se pauta muito pela interligação que tem com as outras instituições. Portanto, é uma Misericórdia que sabe trabalhar em rede, com as outras instituições da localidade. Em segundo lugar, é decisiva para fazer face ao que atualmente acontece na Amadora, uma terra, um concelho, uma cidade que atrai pessoas de todas as proveniências. Ou seja, a Amadora representa uma urgência, em termos sociais, à qual a Misericórdia da Amadora está a ser capaz de responder, juntamente com as outras organizações e instituições. Está no terreno exatamente para, não só dar a cara, mas para dar a resposta a quem a procura. É uma preciosidade, a Misericórdia ao serviço daquela população que está, que vive, mas tem esta particularidade, que


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está aberta à hospitalidade e ao acolhimento também daqueles que chegam e lhe batem à porta. AS MISERICÓRDIAS SÃO “ALAVANCA PARA A CONSCIENCIALIZAÇÃO CÍVICA”, UM “EXERCÍCIO DE CIDADANIA” [SM] Está então a par do trabalho das Misericórdias… [RV] Suficientemente. Por duas razões. Antes de mais, porque, quando era pároco na Póvoa de Santo Adrião, pertencia à Assembleia da Misericórdia local, estava por dentro. Depois, tenho verificado, também lá em baixo , no Alentejo, as Misericórdias são uma mais-valia. São estruturantes para o desenvolvimento integral da nossa terra. As Misericórdias, cada vez mais, além de responderem com aquilo que é próprio da Misericórdia. Abrem a porta a toda a gente. Eu poderia agora estar aqui até à manhã de manhã a contar-vos “n” casos. E há ainda o maravilhoso e magnífico trabalho que desempenham no âmbito cultural. Fomentam e promovem a festa e salvaguardam o património. Um dos ”tesouros” mais preciosos da própria Igreja em Portugal é exatamente esta presença no terreno, ao serviço das comunidades, através das Misericórdias. Há uma outra coisa que eu gostaria de dizer. Uma Misericórdia torna-se uma espécie de alavanca para a consciencialização cívica. [SM] Exercício de cidadania? [RV] Exercício de cidadania. Onde há uma

Misericórdia, há um testemunho vivo, concreto, visível, da necessidade da pessoa se colocar ao serviço da comunidade. As Misericórdias dão-nos esse testemunho. Desfrutam de um capital de confiança das pessoas que sabem. Se há lugar onde “todos, todos, todos” cabem, é nas Misericórdias. Neste sentido. Aquilo que é da Santa Casa da Misericórdia, é da comunidade. E é esta perspetiva aquilo que sucede relativamente à Igreja. O que é que significa que isto ou aquilo é da Igreja? Significa que é de todos. Que está ao serviço de todos. E as Misericórdias ainda têm muito isso. O VOLUNTÁRIO É CHAMADO A “SALVAGUARDAR A DIMENSÃO DA HUMANIDADE” NO CUIDADO [SM] Qual é que é o papel das ações de voluntariado nestas instituições sociais? [RV] Primeiro ponto. O papel dos voluntários foi sempre fulcral para o desenvolvimento de uma resposta social. Hoje nós todos estamos conscientes de que, para a ação, é necessário respeitar determinados requisitos. Mas houve um tempo em que não havia essa sensibilidade. Segundo ponto. Compreendo perfeitamente a questão da profissionalização. O desafio que hoje é lançado para toda a sociedade é o de encontrar um caminho de convivência entre o profissional e o voluntariado. Há coisas que transcendem a técnica. Por exemplo, aquela força de humanidade que a pessoa consegue transmitir com uma simples conversa. Para falar com um idoso não é preciso grande saber a não ser o saber do coração. Para sorrir a uma pessoa que está abandonada por todos não é preciso ter andado na universidade nem ter feito um curso. Enfim, num mundo altamente profissionalizado, o voluntário é chamado a salvaguardar a dimensão da humanidade. Humanidade… a palavra é vossa.


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MARINA DUQUE 22

VOLUNTARIADO O QUE ESTAMOS A FAZER PELO MUNDO? Marina Duque

Coordenadora do Voluntariado

O Voluntariado é uma parte fundamental de qualquer comunidade. Desde sempre se assistiram a “ações de interesse social e comunitário, desenvolvidas de forma desinteressada” em prol do bem-estar e do desenvolvimento social.

As Misericórdias são um exemplo pioneiro neste campo, já que nasceram da necessidade de criar estruturas organizadas para ajudar aqueles que se encontravam em situação de pobreza e/ou de vulnerabilidade social. DE ALGUMA FORMA TODOS SOMOS VOLUNTÁRIOS PORQUE TODOS NÓS, NAS NOSSAS VIDAS E, MUITAS VEZES SEM PERCEBERMOS, REALIZAMOS AÇÕES ALTRUÍSTAS EM PROL DE OUTROS OU DE UM BEM COMUM. Contudo, o conceito de Voluntariado como o conhecemos hoje e como está legislado, exige que as atividades ocorram de uma forma organizada e que obedeçam a um conjunto de pressupostos e de regras, mesmo que aconteçam apenas de forma pontual. A Misericórdia da Amadora na sua Missão de Bem Servir, promovendo a solidariedade, a qualidade de vida e a dignidade humana nos serviços que presta à Comunidade da Amadora através das suas respostas sociais, cedo começou a ter Voluntários, começando pela Mesa Administrativa. Ao longo do tempo, o Voluntariado foi-se tornando mais organizado e construiu-se um Programa de Voluntariado Social que recebia voluntários da comunidade que queriam participar no trabalho e na obra que eram desenvolvidos pela Instituição,

beneficiários de Rendimento Social de Inserção que, a par do ato de cidadania e de solidariedade, também desenvolviam competências pessoais e profissionais através das atividades de voluntariado e voluntários académicos a quem o voluntariado permitia um primeiro contacto com a realidade profissional.


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Fruto da evolução dos tempos e, também da pandemia, que levou a que, por motivos de segurança, boa parte das atividades de voluntariado fossem suspensas, o Voluntariado na Instituição tem vindo a sofrer alterações e a adaptar-se às novas realidades e desafios que vão surgindo. Atualmente, o Voluntariado da Misericórdia da Amadora desenvolve-se através do Programa Dar é Fazer Encontro que tem por objetivo promover o bem-estar social dos utentes e familiares, complementando a resposta dada pelos profissionais aos seus desafios e necessidades. Assim, abre as portas a pessoas da Comunidade e de Entidades Parceiras que, num ato de cidadania ativa e participada e de solidariedade, queiram ajudar-nos a cumprir a nossa Missão. O Programa Dar é Fazer Encontro acolhe voluntários que, de acordo com a sua disponibilidade, apoiam no dia a dia das respostas sociais da Infância, da Saúde e da 3ª e 4ª idades realizando e participando nas atividades, apoiando na hora das refeições, ajudando na cozinha, na lavandaria, na portaria, visitando séniores nos seus domicílios e acompanhando-os a consultas ou dando apoio administrativo. Os nossos voluntários chegam-nos por via direta, mas também pelo Banco Local de Voluntariado da Amadora e pelas Instituições Parceiras. O que pedimos, além de todas as questões legais, é responsabilidade e compromisso, já que estas pessoas passam a fazer parte do dia a dia da

Instituição, mas também do dia a dia dos clientes/utentes com quem se relacionam e com quem criam relações de confiança, segurança e afeto. Muitos voluntários dizem que recebem mais do que dão e talvez por isso definam o Voluntariado como Partilha, Felicidade, Amor, Carinho e Abraços, mas também é, nas palavras deles, Disponibilidade, Presença, Movimento e Resiliência. Fazer voluntariado não é um passatempo, exige tempo. Não é sobre receber, é sobre dar sem esperar nada em troca. É sobre querer fazer a diferença na vida do outro. É sobre espalhar alegria e felicidade. É sobre fazer o bem, contribuir para que o bem seja feito e é sobre a responsabilidade de cada um de nós de transformar o mundo num lugar melhor e mais bonito para se viver. “O BEM QUE SE FAZ HOJE PODE SER ESQUECIDO PELAS PESSOAS DE AMANHÃ. FAÇA-O ASSIM MESMO” Madre Teresa de Calcutá

DA R é FA Z E R

ENCONTRO VOLUNTARIADO


PEDRO SANTOS 24

SAÚDE MENTAL VALE A PENA INVESTIR EM MESAS DE MATRAQUILHOS E ESCRITÓRIOS COM ESCORREGAS? Pedro Santos

Diretor Departamento Formação

O bem-estar e a felicidade no contexto de trabalho são temas emergentes nas organizações de todo o mundo e que assume especial relevância quando se observam os indicadores das doenças socioprofissionais relacionadas com a saúde mental.

A pertinência do tema tem evidenciado a necessidade de as organizações promoverem práticas e políticas que contribuam para a felicidade e ambientes de trabalho saudáveis, com impacto positivo no grupo e, consequentemente, no bem-estar individual e coletivo dos seus colaboradores. Nesta linha, as organizações, num modelo recente, começaram por investir na criação de locais de trabalho “fixes” através da criação de espaços de diversão como salões de jogos, típicos dos anos 80 e 90, com mesas de matraquilhos, bilhar, snooker, consolas, jogos ou espaços com escorregas e baloiços, como estratégia para parecerem organizações atrativas e promotoras de bem-estar dos seus colaboradores. Contudo, percebeu-se que criarem-se as condições físicas propícias à felicidade ou à diversão não era suficiente. Era necessário que as pessoas se sentissem verdadeiramente integradas, bem e felizes, logo o foco tinha que estar nas pessoas e nas suas reais necessidades. Efetivamente, o modelo de governance das organizações alterou-se, fruto de uma transformação social nas relações de trabalho e o segredo da sua estratégia de sustentabilidade tem hoje o foco nas efetivas necessidades do indivíduo enquanto ser social e nos vários papéis sociais que este assume na sociedade, privilegiando a

proximidade e o cuidado, valorizando menos o status e priorizando a flexibilidade e a autonomia para melhor conciliação da vida familiar e profissional. O desenvolvimento deste modelo tem evidenciado um aumento da produtividade e da motivação dos colaboradores, uma diminuição do turnover e o reforço de uma cultura organizacional de reconhecimento e valorização pessoal e profissional. A formação nas organizações emerge no desafiante contexto atual como mais um dos pilares de suporte e valorização, não só como forma de reter talento e produzir melhores resultados, mas também revelando-se fundamental para a criação de ambientes de trabalho seguros e psicologicamente saudáveis, mitigando o surgimento de doenças socioprofissionais.


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Este papel formativo pode ainda guiar os colaboradores a tomar consciência da responsabilidade individual que têm neste processo: por um lado despertando para a necessidade de cuidarem de si, da sua saúde física e mental (alimentação saudável ou prática de atividade física regular), por outro lado envolvendo-os, despertando-os e capacitandooos para a prática reflexiva e para a participação nas tomadas de decisão e atitudes, contribuindo assim, de forma consciente e sistémica, para locais de trabalho mais felizes. Desta forma, a aposta das organizações na formação é necessária para formarem as suas pessoas a cuidarem de si, da sua saúde física e mental e contribuirem para a qualificação e desenvolvimento de novas competências pessoais e sociais, permitindo criar ambientes de trabalho saudáveis assentes em relações positivas e ativas, de segurança psicológica, ativadoras do sucesso individual e coletivo. Importa então referir a importância das lideranças na criação de ambientes seguros junto das equipas e aferir o nível de comprometimento com a estratégia formativa, onde o treino, a formação e as ações (atitudes) práticas, simples e muitas vezes gratuitas (elogio, empatia, escuta ativa, compaixão, atenção plena), contribuem para a felicidade e o bem-estar das “suas” pessoas. Por exemplo, procurar feedback constante junto das pessoas, com uma comunicação positiva e

empática; reconhecer e valorizar os colaboradores pelas suas qualidades humanas; descobrir e potenciar os pontos fortes dos colaboradores; celebrar as conquistas e festejar as pequenas metas; assegurar espaços de confiança que permitam a partilha, a liberdade, a participação e a expressão livre no (co)desenho de decisões, ações e atividades. Cabe aos líderes (r)estabelecer a ligação com as suas equipas e com o propósito evolutivo das suas organizações e fazer a ponte de abertura e expansão para organizações mais conscientes, mais colaborativas, mais humanizadas, onde as lideranças sejam servidoras e com sentido de missão para serem expressão dos valores de uma cultura organizacional forte e cuidadora de quem cuida. E O QUE É QUE ISTO TEM A VER COM NOSSA INSTITUIÇÃO E MATRAQUILHOS? A Santa Casa da Misericórdia da Amadora tem vindo a fazer caminho na reflexão interna de procurar identificar necessidades, oportunidades e recursos de apoio psicológico, económico e social como processo de investimento, em curso, para uma comunidade de cuidado e de serviço aos seus colaboradores. São múltiplas as iniciativas, eventos e ações formativas internas que assumem o propósito de capacitar quem cuida como elemento de


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SAÚDE MENTAL

reconhecimento, qualificação e de valorização do potencial humano (saber ser) e que se espera refletir na diferenciação e humanização dos serviços que, diariamente, presta na comunidade. Desde 2022 que se observa um investimento significativo na formação de lideranças e no reforço das qualificações dos/as colaboradores/as, bem como, na promoção do desenvolvimento organizacional (Pessoas & Cultura Organizacional). Assim, a estratégia em curso consubstancia-se em fazer acontecer com duplo objetivo: por um lado, na pessoa e no desenvolvimento de competências pessoais e profissionais que possam concorrer para o seu equilíbrio físico e emocional; por outro lado, na adaptação de estratégias que gerem um impacto positivo na qualidade das relações nos locais de trabalho e na disseminação e partilha de informação e recursos especializados de aconselhamento nos cuidados para a saúde física e mental. Ainda a aposta em dinâmicas reflexivas e iniciativas formativas de proximidade entre as diferentes áreas de intervenção procura gerar confiança e a partilha entre pares, dar a conhecer diferentes realidades e desafios, levando os colaboradores a sentirem-se emocionalmente seguros e a encontrarem um propósito naquilo que fazem, identificando-se e partilhando os valores da instituição e sentindo que são parte integrante e significativa de um todo. A 2.ª edição do “Dia Mundial da Saúde Mental”, um evento aberto à comunidade e, em especial, a

todos os colaboradores, veio reforçar a estratégia de focar a ação nos domínios da prevenção na saúde mental, assim como a celebração do “Dia da Felicidade” e a realização de palestras motivacionais tiveram a oportunidade de se constituírem como espaços de encontro e de proximidade que, de forma partilhada e participada, permitiram cumprir com o objetivo de contribuir para reforçar a cultura organizacional, os laços de pertença e a confiança. No domínio da formação, realizaram-se ciclos de formação em saúde mental, com ações complementares no âmbito da “Gestão do Stress Profissional e Prevenção do Burnout”, “Gestão Emocional e Automotivação” e “Comunicação Não Violenta”, que envolveram toda a família da Misericórdia da Amadora. As lideranças intermédias tiveram a oportunidade de participar em momentos reflexivos e formações internas com o propósito de empreender e fazer acontecer Misericórdia, através da identificação de novas ideias e projetos, bem como na sua capacitação em "Comunicação e Liderança” ou “Lideranças Positivas e Conscientes”. A decisão de servir os colaboradores com a prioridade de investimento em Pessoas & Cultura Organizacional depende da adesão e da responsabilidade individual e coletiva de investir na qualidade das relações socioprofissionais geradoras da promoção de ambientes seguros e de bem-estar nos locais de trabalho.


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Assim, quando falamos num ambiente de trabalho leve e feliz, não estamos a falar só nas condições físicas e materiais, com inovadores espaços de convívio ou equipamentos de diversão, mas também em alinhar e envolver os colaboradores para beneficiarem das oportunidades de estarem juntos & ligados na missão de jogar matraquilhos de forma divertida e espontânea, com as portas dos gabinetes abertas, deixando transparecer nas suas paredes sorrisos, liberdade e confiança. VALE A PENSA INVESTIR EM MATRAQUILHOS? SIM, TAMBÉM VALE, MAS NÃO SÓ!


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VIVER TRABALHAR PARA GANHAR A VIDA OU VIVER PARA TRABALHAR? Nuno Morais

Coordenador Logística CSQT

Mais do que um trocadilho de palavras, ideias ou pressupostos, estamos perante uma questão fundamental e sempre atual para o ser humano.

No passado dia 20 de junho, depois de um convite lançado pelo Departamento de Formação & Desenvolvimento Organizacional da Santa Casa da Misericórdia da Amadora, estivemos reunidos no auditório e fomos desafiados a “fazer o dever de sentar”, parar e refletir sobre uma das condições intrínsecas ao ser humano: o trabalho. Sim, aquilo que nos ocupa tanto tempo. TRABALHAMOS PARA “GANHAR A VIDA” OU É SOMENTE, A “FORMA” COMO EU POSSO OBTER O MEU MEIO DE SUSTENTO? Muitas das vezes, hora após hora a contar para o fim do dia, dia após dia a contar para o fim de semana. E depois do “sextou”, fim de semana atrás de fim de semana a sonhar com as férias… Podia continuar com a “declamação” da ladainha. O final é sempre o mesmo, trabalho! Com a lufa-lufa do nosso dia a dia, é pertinente a questão do dar sentido à vida ou é a vida que dá sentido ao dia a dia? Quantos de nós já se sentiram como um atleta numa pista de corrida, a correr contra o tempo? Correr para cumprir as incumbências do trabalho. Correr para ganhar uma promoção. Correr para melhorar e oferecer uma vida melhor à família. Correr para pagar as contas. Correr para conseguir fazer um “pé de meia”. Correr para crescer e ser.

O sentido da vida não é ficar na passividade, é manter viva a esperança. O trabalho revela-se como um caminho para a realização, para o sucesso pessoal e profissional. Correr para tornar possível alcançar os objetivos, as metas … os nossos sonhos. Ao citar o político e escritor inglês, Benjamin Disraeli, “a vida é muito curta para ser pequena”, aventuro-me a lançar outra inquietação: Qual o teu legado? Como é que tu engrandeces a vida? A nossa perceção de tempo de vida, maior parte das vezes, é por aquilo que desejamos, o melhor e mais eficaz alerta em relação à vida, que é curta, que é exatamente a nossa ideia de mortalidade.


29 VIVER

Na presente tensão, entre o “já e o ainda não”, realidade patente no equilíbrio entre o ontem e o amanhã, a felicidade é a circunstância que vamos vivenciando no nosso dia a dia. E não precisamos de ir muito longe, a felicidade concretiza-se nas tarefas bem-feitas, na relação com o outro. Resumindo, no bem servir. É aqui que o “legado” vai ganhando forma.

Ser esperança, é Ser do bem. Ser esperança é um legado “brutal” que cada colaborador da nossa Instituição é convidado a construir, numa só linguagem e sem pieguices. A linguagem do coração. Esta linguagem tão especial e sentida, manifesta-se no cuidar, no ensinar, no dar a mão, num olhar mais fundo, no escutar com amor, na simplicidade dum sorriso.

Há alturas, no corrupio da vida, que temos muitas montanhas para subir. Subimos e subimos, mas também descemos. Descer, também custa. A nossa resiliência é, constantemente, colocada à prova, mas esta é a forma de crescermos e de sermos. Acredito, seriamente, que o segredo da vida é procurar todos os dias a esperança e, sê-la.

Manter viva a esperança é sinal de que existe sempre uma luz no horizonte, pois “NEM TODOS NÓS PODEMOS FAZER COISAS GRANDES. MAS PODEMOS FAZER COISAS PEQUENAS COM MUITO AMOR” (In Madre Teresa de Calcutá).


PAULO CALVINO 30

TEMA 2023/24 SER PRÓXIMO COM TODOS Paulo Calvino

Assessor de Comunicação SCMA

Depois do tema ‘Ser Encontro’, que nos acompanhou até ao início de agosto de 2023 na Jornada Mundial da Juventude de Lisboa, é tempo de uma nova direção temática que sirva de inspiração para o caminhar das gentes da nossa Instituição.

Quem nos interpela neste novo desígnio é o Papa Francisco através de uma série de reptos ao nosso coração e ao coração da Igreja e das suas instituições. Para este tema há novamente uma inspiração Bíblica (Lc. 10, 29c-36b): «E quem é o meu próximo?» perguntou-lhe um doutor da lei. Tomando a palavra, Jesus respondeu: «Certo homem descia de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos de salteadores que, depois de o despojarem e encherem de pancadas, o abandonaram, deixando-o meio morto. Por coincidência, descia por aquele caminho um sacerdote que, ao vê-lo, passou ao largo. Do mesmo modo, também um levita passou por aquele lugar e, ao vê-lo, passou adiante. Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele e, vendo-o, encheu-se de compaixão. Aproximou-se, ligou-lhe as feridas, deitando nelas azeite e vinho, colocou-o sobre a sua própria montada, levou-o para uma estalagem e cuidou dele. No dia seguinte, tirando dois denários, deu-os ao estalajadeiro, dizendo: 'Trata bem dele e, o que gastares a mais, pagar-te-ei quando voltar.' Fitando-o nos olhos Jesus devolveu a pergunta: «Qual destes três te parece ter sido o próximo daquele homem?»

‘Ser Próximo’ é, em primeiro lugar, fazer juntos o bem. «Juntos» é a palavra-chave, que foi repetida muitas vezes nas intervenções de Francisco. «Viver, ajudar e amar juntos: crianças, jovens, adultos, idosos, sãos e doentes… juntos». O importante é não se deixar «definir» pela doença, mas fazer dela parte viva do contributo que prestamos ao conjunto da comunidade. Transformar o dom único que somos, com os seus limites, mas um dom precioso e sagrado para Deus, em riqueza comum para todo o conjunto!


31 COMUNICAÇÃO - TEMA SCMA 2023/24

ser

misericórdia

T E M A

Em segundo lugar, é agir no concreto, tendo como iluminação a palavra de outro Santo Padre (São João XXIII) «…a Igreja é o antigo fontanário da aldeia que fornece água à geração de hoje, bem como às futuras gerações». A nossa Instituição serve um concelho multicultural e ainda com muitas necessidades em muitas dimensões. Este fontanário deverá servir para matar a sede das pessoas que chegam com o peso da viagem ou da vida, na sua dimensão concreta. Tendo sempre a preocupação de ir ao encontro das «carências concretas, com alegria e confiança, pois daí advirão coisas maravilhosas».

S C M A

2 0 2 3 - 2 0 2 4

E num terceiro aspeto é estar próximo dos mais frágeis. Todos somos frágeis e necessitados, mas o olhar feito de compaixão, próprio do Evangelho, leva-nos a ver as necessidades de quem mais precisa. Leva-nos a servir os pobres, os prediletos de Deus que Se fez pobre por nós (cf. 2 Cor 8, 9): os excluídos, os marginalizados, os descartados, os humildes, os indefesos. São eles o tesouro da Igreja, são os preferidos de Deus! NA NOSSA INSTITUIÇÃO, O ‘SER PRÓXIMO’ PRETENDE DESTACAR A REALIDADE DAS 14 OBRAS DE MISERICÓRDIA (ESPIRITUAIS E CORPORAIS), PORQUE O MEU PRÓXIMO SÃO «TODOS, TODOS, TODOS!» Alguém a quem eu posso levar a paz, a graça, a comunhão de um só coração e a alegria do evangelho.


ANIVERSÁRIOS SCMA 32

NOTÍCIAS 25 ANOS do LAR SANTO ANTÓNIO Foi a 16 de março de 1998 que o nosso Lar Santo António - LSA acolheu o seu primeiro utente. E foi a 16 de março de 2023, que demos início às festividades do 25.°aniversário do LSA, com os utentes, colaboradores e familiares, num ciclo de efemérides que culminou no dia 13 de junho - Dia de St.°António. A Eucaristia deste dia serviu para homenagear todos aqueles que já passaram por esta nossa casa e agradecer a N.ª Sr.ª das Misericórdias as suas bênçãos e proteção.

30.º ANIVERSÁRIO dos CENTROS SANTA CLARA DE ASSIS e SÃO FRANCISCO DE ASSIS O 30.ºAniversário dos nossos Centros Infantis de Santa Clara e São Francisco de Assis foi marcado por inúmeras iniciativas como exposições, mostra gastronómica e ‘horas’ do conto. A culminar esta semana tão intensa realizou-se, no dia 12 de maio, uma Eucaristia de Ação Graças presidida pelo Pe. Vítor Melícias (Franciscano), na Igreja de N.ª Sr.ª das Misericórdias.

Nesta celebração estiveram presentes os profissionais, familiares e crianças que têm acompanhado o caminho feito ao longo destes 30 anos.


33 O MUNDO NUMA ESCOLA

JMJ - Lx 2023 O MUNDO NUMA ESCOLA 'O Mundo numa Escola' foi o projeto de Comunicação e Imagem, que a Misericórdia da Amadora realizou na JMJ Lisboa 2023. Este projeto foi o culminar da temática do ano 'Ser Encontro' (Tema SCMA 2022-2023), caracterizada pelos diversos momentos de união realizados ao longo do ano. Tivemos a honra de acolher na Escola Luís Madureira 140 jovens afetos aos Missionários da Consolata. Com a particularidade de serem de 22 nacionalidades diferentes e dos 5 continentes do mundo. Ao longo de 5 dias, acompanhámos o seu dia a dia e os seus momentos de espiritualidade, missão e convívio quer na JMJ, quer na interação com as nossas valências (LSA e ATL da Escola) e projetos comunitários locais como o Zambujal 360.


MANUEL GIRÃO 34

PONTO FINAL OS OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E AS OBRAS DE MISERICÓRDIA

Manuel Girão Diretor Geral

Como costumo dizer aos meus amigos a Igreja esteve sempre à frente do seu tempo. Podemos verificar esta afirmação na Educação, com os primeiros colégios de origem católica, ou na Saúde onde a rede hospitalar das Misericórdias respondia à saúde dos Portugueses.

Quando a Assembleia Geral das Nações Unidas definiu os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), não pude deixar de fazer um paralelismo com as 14 obras de Misericórdia instituídas há 525 anos, aquando da criação da primeira Misericórdia Portuguesa. OS ODS TÊM COMO FUNÇÃO SER UM GUIA DAS DECISÕES POLÍTICAS DOS PAÍSES QUE INTEGRAM A ONU. AS OBRAS DE MISERICÓRDIA TÊM COMO MISSÃO ORIENTAR A VIDA DAS MISERICÓRDIAS, PRINCIPALMENTE, COM O FOCO NAS SUAS COMUNIDADES. O interessante é que entre os ODS e as Obras de Misericórdia passaram mais de cinco séculos. Hoje, mais do que nunca, as Obras de Misericórdia devem nortear o trabalho desenvolvido por milhares de Misericórdias espalhadas pelo mundo. As Obras de Misericórdia e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável partilham a promoção do bem-estar humano na busca por um mundo mais justo e equilibrado. As Obras de Misericórdia, na tradição cristã, são ações caritativas destinadas a ajudar os mais carenciados e desprotegidos. Os ODS são metas globais estabelecidas pela ONU para abordar desafios como pobreza, fome, saúde, educação, entre outros. A relação entre

eles reside na convergência de objetivos relacionados com o alívio do sofrimento humano, a promoção da justiça social e o desenvolvimento sustentável.

ODS 1 - Erradicar a Pobreza Jorge Charrua


35 PONTO FINAL - ODS’s e OBRAS de MISERICÓRDIA

ODS 10 - Reduzir as Desigualdades Marta Teives

Ambos visam melhorar as condições de vida das pessoas, promovendo a compaixão, a solidariedade e a igualdade, seja através de ações individuais ou de esforços globais coordenados. Estes princípios refletem um compromisso com o cuidado com o próximo e a criação de um mundo mais sustentável e inclusivo. Fazendo então um paralelismo entre os ODS e Obras de Misericórdia: . Erradicação da Pobreza e Fome Zero/ Dar de Comer a quem tem fome . Saúde e Bem / Cuidar dos doentes . Educação de Qualidade / Ensinar os Ignorantes . Água Potável e Saneamento / Dar de beber a quem tem sede . Paz, Justiça e Instituições Eficazes / Corrigir os que erram e dar bom conselho

A nossa Instituição é parceira num projeto extremamente interessante, O Zambujal 360. Este projeto pretende tornar o Bairro do Zambujal o primeiro bairro social do mundo embaixador dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Pela relevância do projeto, a Misericórdia não poderia deixar de ser parceira. Cada ODS terá uma entidade madrinha / financiadora que ficará associada a atividades de cidadania global como visitas guiadas pela galeria de arte urbana ODS, formação para escolas e empresas, implementação de modelos de negócio sustentáveis e educação para o desenvolvimento. A NOSSA INSTITUIÇÃO FICOU COM O ODS1ERRADICAR A POBREZA E, DESTA FORMA, VIU A FACHADA DO CENTRO SANTA CLARA DE ASSIS SER EMBELEZADA POR UMA OBRA DE ARTE DO ARTISTA JORGE CHARRUA.

. Redução das Desigualdades / Dar pousada aos peregrinos

FICHA TÉCNICA | Revista Ser Misericórdia nº17 PROPRIEDADE E EDIÇÃO Santa Casa da Misericórdia da Amadora Estrada da Portela - Quinta das Torres Alfragide - 2610-143 Amadora Tel: 214 722 200 - Fax: 214 722 212 E-mail: santa.casa@misericordia-amadora.pt

DIREÇÃO Manuel Girão

TIRAGEM 1.000 Exemplares

CONCEÇÃO E DESIGN Paulo Calvino Comunicação e Imagem

DEPÓSITO LEGAL 299826/09


CLÍNICA MÉDICA DE ALFRAGIDE | MISERICÓRDIA DA AMADORA

Tel.

211 543 860

ESPECIALIDADES MÉDICAS | ÁREAS DE TERAPÊUTICA MEIOS COMPLEMENTARES DE DIAGNÓSTICO | TRATAMENTOS PARCERIA DE CONSULTAS PROGRAMADAS DE MEDICINA GERAL E FAMILIAR | ACES AMADORA (Centros de Saúde)

A CLIMA deseja-lhe um Santo e Feliz Natal


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