E&M_Edição 72_Maio 2024 • Os Novos Desafios da Banca

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CONTEÚDO LOCAL

QUE IMPACTO TRAZ O APOIO BRITÂNICO À CERTIFICAÇÃO DA MACADÂMIA E DO CAJU?

NEGÓCIOS DIRIGENTES DE EMPRESAS APONTAM A TRANSIÇÃO CLIMÁTICA E A IA COMO OS MAIORES DESAFIOS

CEO TALKS • MOUSSA KONATE, VIVO ENERGY “JÁ CRESCEMOS MUITO, MAS AINDA NÃO É O SUFICIENTE, TEMOS ESPAÇO POR EXPLORAR”

INOVAÇÕES DAQUI COMO É QUE A LEI ESTÁ A SER APRIMORADA PARA SE AJUSTAR AOS DESAFIOS DA CIBERSEGURANÇA?

OS NOVOS DESAFIOS DA BANCA

Nesta edição analisamos os novos imperativos do desenvolvimento sustentável e da digitalização dos serviços financeiros, debatidos na primeira edição do Fórum Banca E&M-PwC, realizado em Maputo

MOÇAMBIQUE
Maio • 2024 • Ano 07 • Nº 72 • 350MZN
P OWERED BY

A Banca Face aos Desafios do ESG, Tecnologia e Inclusão

s bancos em Moçambique encontram-se num cruzamento crítico onde as modernas expectativas e os desafios tradicionais se entrelaçam. No cerne desta intersecção estão questões prementes relacionadas com a estratégia Ambiental, Social e de Governança (ESG, na sigla inglesa), a adopção da Inteligência Artificial (IA), a segurança cibernética e a expansão do acesso a serviços financeiros. Este editorial explora cada um destes aspectos, vislumbrando o que está em jogo para o futuro do sector bancário moçambicano, e que foi tema central de debate na primeira edição do Fórum da Banca, que juntou os dirigentes de seis bancos, incluindo as instituições financeiras sistémicas do País.

Começando pela vertente ESG, é crucial que os bancos intensifiquem os seus esforços para incorporar práticas sustentáveis. Os impactos das alterações climáticas são particularmente palpáveis nesta região, tornando a resiliência ambiental numa responsabilidade corporativa urgente. Além disso, práticas bancárias que favoreçam uma maior equidade social e uma governança interna robusta ampliam a confiança dos investidores e fortalecem as bases para um desenvolvimento económico sustentável.

gestão de risco aprimorada. Por outro, coloca desafios significativos relativos à protecção de dados e à ética na automatização. A IA pode ser uma ferramenta valiosa na identificação de padrões de transacções, proporcionando aos bancos melhores estratégias de segurança e serviço ao cliente. Contudo, a implementação responsável de tecnologias de IA exige uma regulação cuidadosa e uma consideração profunda das implicações éticas associadas.

A banca deve investir em soluções de segurança mais robustas

A segurança cibernética é outra área crítica para os bancos em Moçambique. Com o aumento da digitalização dos serviços financeiros, a protecção contra ataques tornou-se fundamental. O sector bancário deve investir em soluções de segurança robustas e em formação contínua dos seus trabalhadores para mitigar riscos associados ao cibercrime, que estão em constante evolução.

MAIO 2024 • N.º 72

DIRECTOR EXECUTIVO Pedro Cativelos

EDITOR EXECUTIVO Celso Chambisso

JORNALISTAS Ana Mangana, Filomena Bande, Jaime Fidalgo, João Tamura, Luís Patraquim, Nário Sixpene

PAGINAÇÃO José Mundundo

FOTOGRAFIA Mariano Silva

REVISÃO Manuela Rodrigues dos Santos

DEPARTAMENTO COMERCIAL comercial@media4development.com

CONSELHO CONSULTIVO

Alda Salomão, Andreia Narigão, António Souto; Bernardo Aparício, Denise Branco, Fabrícia de Almeida Henriques, Frederico Silva, Hermano Juvane, Iacumba Ali Aiuba, João Gomes, Rogério Samo Gudo, Salim Cripton Valá, Sérgio Nicolini

ADMINISTRAÇÃO, REDACÇÃO

E PUBLICIDADE Media4Development Rua Ângelo Azarias Chichava nº 311 A — Sommerschield, Maputo – Moçambique; marketing@media4development.com

IMPRESSÃO E ACABAMENTO

A adopção de IA pelo sector bancário apresenta uma dupla face. Por um lado, oferece a promessa de maior eficiência operacional, personalização de serviços e

Finalmente, a expansão do acesso a serviços financeiros é essencial para impulsionar o desenvolvimento económico e reduzir a desigualdade. Em Moçambique, muitos cidadãos ainda estão excluídos do sistema financeiro formal. Os bancos têm, aqui, uma oportunidade de ouro para inovar, oferecendo produtos e serviços adaptados às necessidades da população não bancarizada, como contas simplificadas e microcrédito. A utilização de tecnologias móveis e plataformas digitais pode facilitar este acesso, mas requer um investimento considerável em infra-estrutura tecnológica e em programas de educação financeira.

RPO Produção Gráfica

TIRAGEM 4 500 exemplares

EXPLORAÇÃO EDITORIAL E COMERCIAL

EM MOÇAMBIQUE

Media4Development

NÚMERO DE REGISTO 01/GABINFO-DEPC/2018

www.economiaemercado.co.mz | Maio 2024 6 E DITORIAL

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OBSERVAÇÃO

Oil & Gas

Vários concursos públicos lançados pela ExxonMobil para a contratação de empreiteiros reacendem a esperança de retoma do projecto de Afungi, em Cabo Delgado

OPINIÃO

“Obrigações Sustentáveis”, Wilson Tomás, Research, Banco BIG Moçambique 12

14 ESG

Koko Boxes, um empreendimento moçambicano que se junta aos esforços de eliminação da poluição através do plástico

16 CONTEÚDO LOCAL

Caju e macadâmia ganham luz verde para entrarem em mais mercados, graças à certificação apoiada pelo Governo britânico

18

POWERED BY UBA

“Queremos Projectar o Desenvolvimento das PME”, Armando Inroga, Presidente da Assembleia Geral do UBA Moçambique

73 ÓCIO

74 Escape Uma viagem pela Cidade Proibida da China Imperial 76 Gourmet Restaurante Boteco, um bom lugar para descontrair e tomar um petisco delicioso 77 Adega Petrus, a lenda de Bordeaux com o título de vinho mais caro do mundo 78 Empreendedor Chez Rita Créations, a mão de uma brasileira nos tecidos e moda de África 80 Agenda Tudo o que não pode perder neste mês de Maio 82 Ao volante do Geely, o primeiro carro de drifting alimentado por Inteligência Artificial

20

OPINIÃO

“Informal Também é Trabalhar!”, Íris Chivite, Executive Head of Division – SME na Vodacom Moçambique

22

NAÇÃO

FÓRUM DA BANCA

22 Sustentabilidade

Dirigentes de bancos sistémicos revelam os pontos fortes e os desafios de gestão das instituições nos três domínios da sustentabilidade - Environmental, Social and Governance

32 Qualidade dos serviços e cibersergurança

A Associação Moçambicana de Bancos destaca a robustez do sector em tempos difíceis, mas admite desafios acrescidos na qualidade dos serviços e na cibersegurança

34 Estratégia dos bancos sistémicos

O posicionamento dos seis bancos sistémicos em relação à digitalização, cibersegurança, responsabilidade social e financiamento à economia, na voz dos respectivos CEO

POWERED BY ABSA

“Grupo Absa em Pequim – Incentivando a Parceria Estratégica Entre a China e o Continente Africano”, Absa Bank Moçambique

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SHAPERS

As ideias de Joan Robinson e o seu papel entre os fundadores das bases da ciência económica no século XX

52

OPINIÃO

“Africanicidade Como Diferencial Competitivo Para o Sucesso dos Negócios (Parte 1)”, João Gomes@BlueBizConsultoria

54

MERCADO & FINANÇAS

O Global CEO Survey 2024 revela que os CEO de empresas moçambicanas estão mais optimistas no bom desempenho da economia do que os seus pares pelo mundo. Porquê?

42

POWERED BY RSM

“O Poder Transformador da Consultoria de Desenvolvimento”, RSM Moçambique

POWERED BY FNB

FNB junta stakeholders num Business Economic Breakfast sobre as flutuações da cadeia de distribuição 48

58

CEO TALKS

O Director-Geral da Vivo Energy, Moussa Konate, revela que a empresa registou um crescimento assinalável nos últimos anos e promete uma presença ainda mais forte no futuro

63 ESPECIAL INOVAÇÕES DAQUI

64 Africans Who Design

Saiba como as autoridades moçambicanas estão a desenvolver os instrumentos legais para responder aos desafios da segurança cibernética

68 Africans Who Design

Jovem moçambicano, Guidione Machava, criou um espaço de interacção e partilha de conhecimento entre designers africanos. Saiba qual a sua mais-valia

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Vai a ExxonMobil (Finalmente) Retomar o Projecto de Afungi?

A petrolífera norte-americana ExxonMobil lançou, recentemente, vários concursos públicos, com intenção de contratar empreiteiros para preparar o retorno ao seu projecto de GNL na Bacia do Rovuma. Este é um sinal de que a ExxonMobil pode estar em vias de tomar a Decisão Final de Investimento no projecto que tem vindo a ser adiada há vários anos, em reservas com potencial de cerca de 18 milhões de toneladas por ano.

A perspectiva é de rentabilizar biliões de pés cúbicos de GNL, um plano que ficou para trás em 2021 devido aos ataques terroristas em Palma e arredores.

Num dos novos concursos, o âmbito do trabalho envolve um contrato de engenharia, aquisição e construção, proporcionando um campo de construção para 2500 pessoas na província de Cabo Delgado. A ideia é expandir o campo pioneiro de 500 camas, em Afungi,

para acomodar outras 700. Está igualmente prevista a limpeza e remoção de árvores, arbustos, tocos e lixo numa área total de 418 mil metros quadrados, entre outras actividades

A Área 4 é operada pela Mozambique Rovuma Venture (MRV), uma joint venture em co-propriedade da ExxonMobil, Eni e CNPC (China), que detém 70% de interesse participativo no contrato de concessão.

OBSERVAÇÃO 8 www.economiaemercado.co.mz | Maio 2024
FOTOGRAFIA iStockphoto
Gás Natural Liquefeito (GNL)

A Pegada de Carbono dos Principais Meios de Transporte

Sabia que os transportes representam quase um quarto das emissões globais de dióxido de carbono (CO₂) relacionadas com energia? O gráfico ilustra a pegada de carbono dos principais meios de transporte, medida em gramas equivalentes de dióxido de carbono (CO₂e) por pessoa, para viajar um quilómetro. Isto inclui tanto CO₂ quanto outros gases de efeito estufa.

Os dados são provenientes do Our World in Data, do Departamento de Segurança Energética e Net Zero do Governo do Reino Unido e do Conselho Internacional de Transporte Limpo, com dados até Dezembro de 2022.

Navio de Cruzeiro

Voo de Curta Distância

Carro a Diesel

Carro a Gasolina

Voo de Médio Curso

Voo de Longa Distância

Motorizada

Autocarro

Estes números devem ser interpretados como aproximações, em vez de números exactos. Há muitas variáveis em jogo que determinam a pegada de carbono real em qualquer caso individual, incluindo o tipo ou modelo de veículo, ocupação, mistura energética e até o clima.

De acordo com estas estimativas, viajar de navio de cruzeiro (tipicamente usam óleo combustível pesado, que é alto em teor de carbono o que, devido ao seu peso, que varia entre 70 000 a 180 000 toneladas métricas, significa que requerem grandes motores), voar em voos domésticos e conduzir sozinho são alguns dos métodos de viagem mais intensivos em carbono.

Gramas de CO₂e por passageiro por quilómetro:

Carro Híbrido Plug-In As emissões (medidas por pessoa) podem variar dependendo da mistura energética, da tecnologia de transporte e da ocupação

NÚMEROS EM CONTA
10 www.economiaemercado.co.mz | Maio 2024 FONTES Our World in Data, Governo do Reino Unido, Departamento de Segurança Energética e Net Zero, The International Council on Clean Transportation, Dados de Dezembro de 2022.
Carro Eléctrico Ferrovia Nacional Eléctrico de carris Metro de Londres Ferry Comboio Eurostar 250 246 171 170 151 147 113 96 68 47 35 28 27 19 4.5

Qual o Papel Desempenhado Pelas Obrigações Sustentáveis?

s obrigações sustentáveis são títulos de dívida emitidos por empresas ou entidades governamentais com o objectivo específico de financiar projectos ou actividades que tenham impacto ambiental, social ou de governança (ESG) positivo. Esses projectos estão geralmente alinhados com objectivos de sustentabilidade, como a mitigação das mudanças climáticas, a conservação de recursos naturais ou a promoção da igualdade social, entre outros. As obrigações sustentáveis permitem que os emitentes captem recursos financeiros para projectos que visam promover a sustentabilidade, como energia renovável, eficiência energética, habitação social, saúde, educação, entre outros, enquanto permitem que os investidores que direccionam os seus recursos para os emitentes, alinhados com os seus valores e objectivos de sustentabilidade, consigam obter retornos financeiros.

Essas obrigações inserem-se no mercado de capitais, especificamente no segmento de títulos de dívida. Podem ser emitidas por uma ampla gama de entidades, desde empresas multinacionais até governos locais, estando sujeitas às regulamentações financeiras e aos padrões de relatórios específicos do mercado em que são negociadas.

lhorar a reputação de uma empresa, demonstrando o seu compromisso com questões ambientais e sociais; e, por fim, a diversificação de portefólio para os investidores, pois as obrigações sustentáveis oferecem uma maneira de diversificar as suas carteiras com activos que têm potencial para retorno financeiro.

Existem vários tipos de obrigações sustentáveis, como: Obrigações Verdes, Obrigações Sociais, Obrigações de Sustentabilidade, Obrigações de Sustentabilidade Ligadas a Metas (Sustainability-Linked Bonds), entre outras.

Os recursos obtidos através das obrigações sustentáveis são direccionados para projectos que beneficiam o meio ambiente e as comunidades locais

Estes títulos apresentam inúmeras vantagens sob diversas perspectivas, como a responsabilidade empresarial, uma vez que os recursos obtidos através das obrigações sustentáveis são direccionados para projectos que beneficiam o meio ambiente e as comunidades locais; garantem o acesso a capital pelas empresas e governos que emitem esses títulos, podendo atrair investidores específicos que procuram oportunidades de investimento alinhadas com os seus valores e critérios de sustentabilidade; a reputação e imagem, uma vez que ao emitir obrigações sustentáveis pode me-

As obrigações verdes são estruturadas de forma que garantam que os recursos levantados sejam usados de maneira transparente e eficaz nos projectos ambientais propostos. Elas são geralmente certificadas por uma entidade independente para garantir que atendam a determinados critérios de sustentabilidade e transparência. O valor das obrigações verdes emitidas em todo o mundo aumentou drasticamente nos últimos anos. Em 2014, foram emitidas obrigações verdes no valor de USD 37 mil milhões. Em 2021, este valor atingiu um pico de aproximadamente USD 582 mil milhões, tendo diminuído ligeiramente em 2022, quando as obrigações verdes emitidas ascenderam a USD 487 mil milhões. De entre as entidades que já emitiram este tipo de instrumento temos a Apple, Toyota e o Banco Mundial. As obrigações sociais canalizam os recursos financeiros para projectos que tenham o potencial de melhorar as condições de vida das comunidades e indivíduos, além de promover a igualdade e a justiça social. Os projectos financiados por obrigações sociais podem incluir a construção de moradias sociais, o financiamento de programas de saúde pública, a oferta de educação acessível e a criação de empregos para grupos marginalizados. Em 2022, o valor combinado dos títulos sociais emitidos em todo o mundo atingiu USD 130 mil milhões. As entidades apoiadas pelos Governos fize-

www.economiaemercado.co.mz | Maio 2024 12 OPINIÃO

Ferramentas financeiras que respondem, também, aos imperativos de sustentabilidade ambiental

ram a maior contribuição, representando mais de 50%. As empresas financeiras ficaram em segundo lugar, com um valor de USD 22 mil milhões e representando menos de 20% do total de obrigações sociais emitidas.

As obrigações de sustentabilidade são um tipo de título de dívida emitido por empresas, Governos ou outras entidades com o objectivo de financiar projectos ou actividades que tenham um

Obrigações sustentáveis

impacto positivo tanto do ponto de vista ambiental quanto social. Elas combinam os princípios das obrigações verdes e sociais, abrangendo uma ampla gama de iniciativas que contribuem para a sustentabilidade ambiental e social. A emissão global de obrigações de sustentabilidades alcançou cerca de USD 149 mil milhões em 2022, depois de ter atingido USD 265 mil milhões no ano anterior.

Valor das obrigações sustentáveis emitidas a nível mundial de 2014 a 2022, por categoria

Valor em USD mil milhões

As obrigações de sustentabilidade ligadas a metas (Sustainability-Linked Bonds) são um tipo inovador de título de dívida que se diferencia das obrigações verdes, sociais e de sustentabilidade tradicionais devido à sua estrutura única. Enquanto as obrigações tradicionais de sustentabilidade estão vinculadas ao financiamento de projectos específicos, as obrigações ligadas a metas são vinculadas ao desempenho da empresa emitente em relação a métricas ambientais, sociais ou de governança (ESG).

A emissão global de obrigações sustentáveis atingiu cerca de USD 900 mil milhões em 2022, depois de ter ultrapassado um trilião no ano anterior. As obrigações verdes são as mais representativas, tendo sido emitidos cerca de USD 3,007 triliões até Abril de 2024, segundo a Climate Bond Initiative

No mercado moçambicano, têm surgido iniciativas e incentivos externos para promover actividades e investimentos que consideram os impactos no meio ambiente, principalmente no sector de energias. No mercado de capitais local ainda não existe nenhum instrumento cotado associado a estas iniciativas. No entanto, é tempo de vermos as primeiras iniciativas a surgir. Acredito que há espaço para a introdução deste modelo de instrumentos no nosso mercado, uma vez que existem iniciativas que procuram incentivar uma gestão cada vez mais racional dos recursos existentes em Moçambique.

www.economiaemercado.co.mz | Maio 2024 13
Obrigações Verdes Obrigações Sociais Obrigações de Sustentabilidade Total de Obrigações Sustentáveis 0 200 400 600 800 1000 1200 1400 2014 48 2015 60 2016 105 2017 208 2018 266 2019 397 2020 916 2021 1,162 2022 901

E se o Plástico Deixasse de Ter Utilidade?

Esta pergunta é o ponto de partida para a resolução de um dos maiores problemas ambientais – a poluição pelos plásticos –, e já inspira negócios na área da sustentabilidade. A Koko Boxes é um deles

Texto Filomena Bande • Fotografia D.R.

a 5.ª Assembleia das Nações Unidas para o Meio Ambiente, realizada em 2022, em Nairóbi (Quénia), foram acordadas 14 resoluções para fortalecer as acções em defesa da natureza e alcançar os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Dessas resoluções, a primeira diz respeito à elaboração de um acordo internacional juridicamente vinculativo para acabar com a poluição plástica. Para se ter uma ideia da gravidade, estimativas do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), de 2023, indicam que a humanidade produz mais de 430 milhões de toneladas de plásticos anualmente, quantidade que pode triplicar até 2060. O perigo está associado ao uso excessivo e à forma inadequada como os produtos de plástico são descartados fora das vias de reciclagem.

Inger Andersen, directora-executiva do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), considera que o acordo alcançado em Nairóbi foi o mais importante desde o Acordo de Paris (2015) e espera-se que, ainda este ano, passe a ser juridicamente válido. É neste contexto que surge a Koko Boxes, com alternativa ao plástico feita em Moçambique.

A transformação

Criada em 2018, por Jacira Karina Guedes Jamal – jovem moçambicana formada em Direito e que foi inspirada pela cadeira de Direito Ambiental –, a Koko Boxes é uma das poucas empresas do País que produzem artigos de uso diário que dispensam o plástico. Referimo-nos a palhinhas, copos, talheres e sacos de papel reciclado. Caixas, pastas de arquivo, recipientes e embalagens, tudo com ma-

téria-prima ecológica que “não é nociva à saúde, nem ao meio ambiente”. As embalagens feitas pela Koko Boxes são biodegradáveis quando entram em contacto com a água. São um contributo importante para o equilíbrio ambiental, mas a empresária faz um apelo ao envolvimento de outros actores da sociedade, a começar pelos promotores da separação de resíduos sólidos. É preciso sensibilizar a população e criar locais de deposição apropriados. “Se os hábitos de consumo mudarem e a consciencialização aumentar, acredito que haverá uma melhoria significativa na gestão de resíduos. Na Koko Boxes ven-

Todos os produtos que dispensam o plástico respeitam a saúde e o meio ambiente

demos os nossos produtos e, complementarmente, tentamos consciencializar a população sobre o melhor uso. E é isso que fará a diferença”, sublinhou.

Expansão está no horizonte

A jovem empresa tem 12 funcionários, uma representação e distribuição em Maputo, mas já equaciona a expansão para outros pontos do País, como Beira e Nampula, pelo facto de haver cada vez mais pessoas interessadas nos seus produtos. A empresa pretende tornar-se numa referência no fabrico de material biodegradável e diminuir a dependência em relação à importação, visto que boa parte da matéria-prima que utiliza ainda é adquirida noutros mercados. Ambiciona, igualmente, ser um impulsionador de outras empresas que pretendam investir na área, criando alternativas sustentáveis e que respeitem o meio ambiente.

www.economiaemercado.co.mz | Maio 2024 14 E SG | KOKO BOXES

Certificação em Qualidade: é a Vez da Macadâmia e do caju

A certificação permite que haja via verde para exportar, principalmente para a União Europeia.

Mas o País não tem infra-estrutura consolidada e é importante contar com especialistas internacionais

Texto Nário Sixpene • Fotografia E&M

Especialista

certificação tornou-se num dos mais importantes elementos de competitividade empresarial. Dificilmente há acesso a mercados internacionais sem cumprir rigorosos requisitos de qualidade, auditados segundo padrões globais. Cientes disso, o Instituto Nacional de Normalização e Qualidade (INNOQ) está empenhado em promover a certificação. É dentro deste contexto que o País procura certificar a macadâmia e a castanha de caju, produtos muito procurados no exterior. Para tal, o INNOQ conta com a ajuda do Órgão Nacional de Normas do Reino Unido - British Standards Institution (BSI) -, no quadro do programa britânico de parcerias em normalização, cuja primeira fase arrancou em Setembro de 2023. Segundo Nigel Croft, especialista em sistemas

de gestão da qualidade, este “é um projecto relativamente curto e simples”, financiado pelo Governo britânico através do Gabinete para o Desenvolvimento da Commonwealth e Exterior (FCDO, Foreign Commonwealth Development Office), mas implementado pelo BSI. O Reino Unido tem experiência nesta aposta em parcerias bilaterais para facilitar as exportações. “Lançámos projectos-piloto em 2023 no Gana e no Ruanda. Este ano, estendemos a iniciativa a mais 11 países da Commonwealth”. O BSI Standards Partnership Program apresenta-se como a parceria com “a mais antiga entidade de normalização do mundo”, para dar impulso às exportações e abrir canais comerciais com o Reino Unido.

A essência da parceria

Cada empresa tem várias “camadas” de exigências técnicas a cumprir. A pri-

meira, fundamental, tem que ver com a legislação sobre pesos e medidas. Por exemplo, quem vende um produto que indica “250 gramas” no rótulo, deve respeitar essa quantidade, tornando necessária a “infra-estrutura da qualidade” para verificação do produto. A segunda camada diz respeito à avaliação de conformidade, analisando resíduos e vigiando níveis agro-tóxicos nos produtos. Nigel Croft aponta que, apesar de o INNOQ possuir laboratórios, estes não servem para ensaios e testes específicos a químicos residuais. “Por exemplo, a análise a alimentos carcinogénicos ou bactérias tipo E, que podem afectar a saúde, não pode ser feita nos laboratórios moçambicanos. Temos uma carência em Moçambique por este tipo de

Apesar de o INNOQ possuir laboratórios, estes não servem para ensaios e testes específicos

laboratório”. O alerta fica lançado para a necessidade de investimento: o nosso projecto não vai investir em equipamentos, uma vez que o principal objectivo é “identificar as lacunas e traçar um plano para superá-las, razão pela qual temos feito várias acções de formação”, esclareceu.

Foco em duas cadeias

Nigel Croft já conhecia as cadeias de valor da macadâmia e da castanha de caju em parceria com o IAM - Instituto de Alimentos de Moçambique, e recorda que o INNOQ já tinha começado a desenvolver uma série de normas moçambicanas de boas práticas, não obrigatórias, sobre como tratar sementes de caju, criar mudas e processá-las.

Croft revelou que já existe uma licitação para ajudar a estabelecer uma entidade acreditadora em Moçambique.

www.economiaemercado.co.mz | Maio 2024 16 CONTEÚDO LOCAL | AGRICULTURA
NIGEL CROFT em Sistemas de Gestão da Qualidade

“UBA – Um Banco Que Quer Continuar a Projectar o Desenvolvimento das PME”

O Banco UBA tem desenvolvido um conjunto de instrumentos de financiamento às PME em áreas como o agronegócio, indústria, comércio, serviços, transporte, energia e outras. Com uma visão na qual conta com a experiência global em mega-projectos de gás natural, complementa essa experiência com uma estratégia de médio prazo num segmento que, acredita, terá um papel decisivo no crescimento económico sustentável de Moçambique

UBA tem mais de 70 anos de experiência a servir mais de 33 milhões de clientes em todo o continente africano, pouco menos do que se estima ser a população moçambicana. E como instituição financeira atenta às oportunidades de mercado, mas com os pés assentes nos temas mais candentes da actualidade, principalmente a sustentabilidade e a transição digital, mantém o foco em sectores de actividade específicos, e com grande impacto no crescimento económico. Como é que a instituição se vai posicionar e contribuir para o desenvolvimento do País? É o que a seguir vai ficar a saber, na voz do Presidente da Mesa da Assembleia Geral do UBA, Armando Inroga.

Os bancos, de uma maneira geral, têm muito bem definidas as metas de sustentabilidade (emissões zero, integração de mulheres em cargos de direção, etc). Como é que o UBA a se posiciona face a estas questões?

“A abordagem do UBA, a nível global, é manter-se dentro de uma perspectiva de boa governação num modelo de negócio diversificado sustentado por uma estratégia pan-africana e internacional. Os princípios e as políticas do banco oferecem processos nos quais actuamos tendo como base a sustentabilidade, aonde através de um modelo de prestação orientado para execução, se expande a quota de mercado, criando valor para os accionistas tendo como foco o quadro de pessoal e à evolução de carreiras a nível interno. Nós temos como princípio, todos os anos, em função dos recursos, dos resultados operacionais de cada operação, em cada País, a alocação de uma parte significativa do nosso orçamento para a formação e o desenvolvimento de carreiras profissionais dos nossos colaboradores. Em Moçambique, o banco

tem uma equipa bastante jovem. A base de sustentação do banco tem sido o cumprimento das políticas internas, mas também, e sobretudo, as orientações que são estabelecidas pelo sistema financeiro moçambicano. Temos, igualmente, atendido a todos os aspectos que dizem respeito ao facto de Moçambique estar numa zona climática sensível aos desastres naturais, desenhando produtos que possibilitem respostas para os nossos clientes, quer os corporativos, quer os individuais. Para conseguirmos dar respostas

“Queremos que as PME beneficiem de mais literacia digital e financeira para que, sobretudo fora dos centros urbanos, possam ter acesso aos produtos do UBA e ampliem os seus negócios”

prontas e imediatas, criámos um sistema que está em evolução, o sistema de chat banking, onde procuramos dar respostas às questões que são colocadas pelos nossos clientes de forma directa, através de produtos digitais.”

Financeiros que, actualmente, orientam as suas linhas de financiamento para projectos mais ‘verdes’. É o vosso caso?

“A nossa abordagem toma em conta as dinâmicas no tempo. Nós tivemos, há dois ou três anos, uma circunstância na qual a sociedade a nível mundial, per-

cebia a indispensabilidade de se impor condicionalismos a indústria extractiva poluente, por forma a termos economias limpas e percebemos, hoje, que o mundo tem uma melhor compreensão em relação as circunstâncias de cada país e como essas circuntâncias específicas podem impor a um ou outro país o retorno à produção de energia a carvão por exemplo, porém com programas que os conduzam a metas de zero poluição num espaço de tempo mais realístico. Como banco, o que percebo que tem sido feito, é um posicionamento para responder às necessidades dos mercados aonde nos encontramos globalmente inseridos. O sector de indústria extractiva é tanto atractivo quanto qualquer outro sector aonde os nossos clientes Estado, corporativos ou singulares, tenham necessidades de produtos financeiros e estes estejam alinhados com os princípios internacionalmente aceites e comumente aprovados, como aqueles que resultaram da COP 28 em Dubai no ano passado.”

E olham também com atenção para projectos das energias renováveis?

“Sem dúvida. É parte do presente e foco para o futuro e por isso, todos os actores no mercado devem procurar adaptar-se às necessidades existentes, e as energias renováveis são, hoje, um dos factores que mais impulso têm para o desenvolvimento nas economias. Em Moçambique há um conjunto de estudos que mostram bem a existência de um enorme potencial ao nível das energias renováveis, e há actores no mercado que têm interesse em explorá-las. E os bancos, como é o caso do UBA, tem toda infraestrutura de capacidade de recursos para responder a essa necessidade de mercado. A nossa política de sustentabilidade financeira, de rigorosa análise de risco e experiência de grupo nesse sector, possibilita que tomemos decisões acertadas.

18 www.economiaemercado.co.mz | Maio 2023 P OWERED BY UBA

ARMANDO INROGA

Presidente da Assembleia Geral do UBA

Como é que o UBA lida com a transição digital?

“O banco tem sido privilegiado nesse aspecto. Existimos no mercado moçambicano desde Novembro de 2010, e beneficiámo-nos do facto de globalmente existirmos na altura a mais de 60 anos, tendo isso permitido ‘nascer’ logo como um banco digitalizado e virado para o futuro, completamente adaptado aos desafios do sistema financeiro moçambicano. E essa vantagem, fez-nos poder também iniciar a actividade recorrendo a novas tecnologias para dar respostas não tradicionais num mercado financeiro em desenvolvimento e com vários desafios, como é o caso do moçambicano. O UBA, em 2023, foi considerado o Melhor Banco Digital em Moçambique, tendo ganho por esse facto um prémio internacional. Pelo posicionamento que es- tamos a conseguir, apropriámo-nos dos princípios do que é, e deve ser, a transição digital em curso, criando produtos e soluções, que levamos, de forma rápida e eficaz, a todos os nossos clientes.”

Quais são os vectores da estratégia do UBA para os próximos anos? “Há, do nosso lado, uma estratégia global que passa pela consolidação e o crescimento da nossa carteira de clientes corporativos numa estratégia pan-africana e internacional, estando próximo das suas necessidades e preocupações, oferecendo soluções e apoiando a sua participação cada vez mais activa no segmento de actividade em que actuem pelo nosso serviço ao cliente. Mas também há uma abordagem cada vez mais orientada para as Pequenas e Médias Empresas (PME), nas quais pretendemos impulsionar e promover um segmento empresarial fundamental para o desenvolvimento sustentável do País. Projectamos, de facto, o crescimento das PME numa abordagem onde estas possam dar um contributo à economia de forma significativa e sustentável. Para esse propósito por exemplo, assinámos recentemente um memorando com a CTA em que colocámos à disposição desta um conjunto de recursos financeiros para as PME po-

derem ter mais e melhor acesso ao crédito que é, como sabemos, uma das questões com que muitas delas se debatem. O que pretendemos é que as PME, e falo a nível nacional, possam beneficiar-se de mais literacia digital, financeira, e de negócios, permitindo que sobretudo fora dos centros urbanos possam aceder aos produtos financeiros do UBA para impulsionar os seus negócios. Esse olhar de que falo, tem reflexo nas áreas mais desenvolvidas da nossa carteira de cré- dito que, neste momento, são o agronegócio, o comércio, a indústria transformadora e serviços. O portefólio de clientes do UBA não se restringe a um sector. É multidisciplinar e tenta ser representativo dos principais sectores da economia Nacional.”

Qual é a sua visão, sobre a economia moçambicana e como a perspectiva, a curto e médio prazos?

“Os indicadores dos últimos anos mostram-nos que, embora com dificuldades do contexto internacional, e efeitos nefastos das mudanças climáticas, a economia demonstra resiliência, contínua estabilidade e uma tendência conservadora de crescimento. O Banco Central tem sinalizado e sido importante nessa dinâmica, implementando políticas monetárias que permitem o controlo da inflação. Tem existido crescimento, não ao nível dos indicadores que todos desejamos, como já tivemos no passado, e que de alguma maneira tinham gerado uma cultura de dois dígitos ou próximo dos 10% de crescimento económico. Temos estado, nesse aspecto, com taxas abaixo dos 5%, mas acreditamos que a partir de 2025, voltaremos para taxas a rondar os 10%. E porquê? Sobretudo devido a alguns factores de natureza estruturante da economia. Por um lado, o crescimento natural fruto de uma situação de estabilidade macroeconómica que temos estado a verificar, por outro, por via das oportunidades associadas à Zona de Comércio Livre Continental Africana, que oferece um novo espaço para a actuação dos vários actores do sector privado e das PME que temos vindo a impulsionar. Como reparou, não falei do gás natural, que também será relevante, claro, e esse, não só o do Rovuma mas igualmente o de Inhambane no curto prazo e no médio/longo prazo, a energia, a indústria de aço, cimento, metalo-mecânica e outras. O UBA prefere olhar para as PME e como elas serão um factor multiplicador de crescimento económico, e que darão um retorno sustentável ao banco e, essencialmente, à economia do País. O nosso lema é servir ao cliente.”

www.economiaemercado.co.mz | Maio 2024 19

Ser “Informal” Também é Trabalhar!

sector informal está tão enraizado na nossa sociedade, que é uma parte gritante do nosso dia-a-dia. Da banquinha de crédito ao txova da fruta, do pequeno depósito de pão na esquina ao sapateiro que nos dá aquela mãozinha quando a sandália decide rebentar no local errado e a tantos outros (e infindáveis) exemplos, respiramos constantemente o informal!

Numa mescla de “eles sujam e mancham a aparência das cidades” e “mas não há emprego, eles só estão a garantir o pão”, as vozes que se levantam para falar dos “informais” são altas, umas revoltadas, outras conformadas. Mas será que se debate, de facto, o tema do sector informal, olhando para aquilo que ele verdadeiramente é?

evolução/crescimento do informal para o formal, na forma de empreendedores que hoje representam, com muito orgulho, micro e pequenas empresas devidamente formalizadas, a operar e a contribuir para a economia local.

E o mais fascinante de tudo é testemunhar esta gradual passagem do negócio “à margem da lei”, que acontece maioritariamente nas ruas, para aquilo que eu consideraria uma fase intermédia, na forma de contentores transformados em minimercearias, bares, ferragens, pequenas boutiques ou depósitos de pão, para a fase totalmente formal, que ganha forma em pequenas lojas ou escritórios. Sem dúvida, uma vitória que se traduz em mais emprego, impostos e estímulo à economia.

Tenho a consciência de que há uma grande dificuldade das empresas formais em trabalharem com “informais” devido às burocracias

tributárias a que estão sujeitas

Vejamos: de acordo com o Instituto Nacional de Estatística (dados de 20z19), cerca de 80% da economia moçambicana é informal, com uma contribuição estimada em 40% no Produto Interno Bruto. E se quisermos ir mais além, podemos olhar para um estudo, intitulado “O Impacto da Economia Informal no Processo de Desenvolvimento na África Subsaariana”, realizado em 2010, que revela que a economia informal nos países africanos representa uma média de 60% do peso do PIB e contribui fortemente para contornar problemas como o desemprego e a pobreza. Ou seja, a expansão do sector informal não é um “problema” apenas de Moçambique. E não é, de todo, um problema, e sim uma forma de subsistência que joga um papel preponderante na economia do País. Recentemente, tive a oportunidade de viajar a trabalho para algumas províncias, e voltei com a certeza de que o mercado informal deve ser apoiado para se tornar formal. Ou seja, temos de acarinhar este sector, começando por olhar para o impacto do mesmo na economia e na sociedade, no geral. Afinal, do informal “raiz” ao pequeno negócio formalizado, ambos são o maior empregador no País e dinamizam a nossa economia. Graças a estas viagens que faço pelo País, tenho tido a oportunidade de testemunhar esta

Mas não tenho ilusões de que este processo seja simples ou que a mudança vá acontecer de um dia para o outro. Tenho a consciência de que há uma grande dificuldade das empresas formais em trabalharem com “informais” devido às burocracias tributárias a que estão sujeitas. Facto que, na minha opinião, deveria ser repensado numa perspectiva de apoio a estes “informais”, para que possam expandir e ter a oportunidade de se formalizar e prestar serviços a empresas estabilizadas, garantindo dessa forma a continuidade dos seus negócios.

E se temos sempre a tendência de lançar um olhar para aquilo que o Governo não está a fazer para ajudar os mais vulneráveis, neste caso acredito que também deverão ser chamadas à responsabilidade todas as grandes empresas que possam, de alguma forma, dar todo o suporte ao sector informal, quer através de tecnologias, quer de know how ao abrigo dos diferentes programas de desenvolvimento do conteúdo local, para que cumpram o seu papel de contribuir para a estimulação e crescimento da economia. E se é verdade – e é-o, de facto, – que cabe ao mercado informal uma porção significativa do movimento de capital no nosso País, está claro, ao menos para mim, que enquanto empresários ou legisladores, murmurar de descontentamento perante este “monstro informal” não é a solução!

www.economiaemercado.co.mz | Maio 2024 20 OPINIÃO
NAÇÃO | FÓRUM BANCA E&M-PWC

Os Bancos do Século XXI São Empresas Tecnológicas?

Os bancos enfrentam desafios crescentes, impostos pela dinâmica dos mercados, como nunca havia acontecido até hoje - desde a sustentabilidade, assente nos seus três pilares (ESG - Environmental, Social and Governance), até à digitalização dos serviços, passando pela resposta a fenómenos como cibercrimes, branqueamento de capitais e financiamento ao terrorismo. Todos os cenários exigem competências tecnológicas mais fortes. E essa capacidade existe? Os bancos tornaram-se em empresas tecnológicas, com um regulador?

As opiniões dividem-se.

Texto Celso Chambisso & Jaime Fidalgo • Fotografia Mariano Silva Fórum da Banca

ELA PRIMEIRA VEZ, os CEO de seis bancos sistémicos – os três maiores de Moçambique e outros três de entre os maiores de África – reuniram-se publicamente naquela que foi a primeira edição do Fórum da Banca, a 18 de Abril, em Maputo. Na agenda estava “A Banca e os Desafios do ESG e da Transição Digital em Moçambique”. No meio do debate, um dos momentos mais vivos surgiu quando os líderes do sector revelaram preocupações com a velocidade a que evoluem os desafios tecnológicos.

Bancos ou empresas de tecnologia?

“Os bancos, hoje, não são apenas bancos, são empresas de tecnologia, mas com um regulador. Sem dúvidas”, disse o CEO do Standard Bank, Bernardo Aparício. “As pessoas não fazem a mínima ideia da quantidade de aplicativos que têm de estar a funcionar só para abrir a porta do balcão. Nós, hoje, somos empresas de tecnologia, com a diferença de que temos um regulador e somos empresas reguladas, ao contrário das empresas de tecnologia. Esta componente (tecnológica) tem sido a que mais cresce em qualquer um dos nossos bancos”, referiu.

“É verdade”, disse João Martins, CEO do Millennium bim, acrescentando dois pontos: “qualquer revista em que uma pessoa pegue, hoje em dia, diz que todas as empresas, não só a banca, têm de ter uma estratégia digital. Mas isso não surge sem custos”, começou por explicar.

Os argumentos do CEO do bim focaram-se mais nas exigências impostas pela segurança. “Ao mesmo tempo que promovemos o acesso do banco aos nossos clientes, ficamos mais vulneráveis a ataques cibernéticos. Por isso, o investimento que fazemos, também para conseguir garantir que somos resilientes, é elevado. Nós não vamos evitar que haja um ataque, porque todos os dias há alguém que nos está a tentar atacar”, referiu. E a seguir sublinhou: “tenho as minhas equipas a ver, permanentemente, o que é que [os invasores] estão a fazer. E os investimentos que fazemos neste aspecto são muito altos”.

Tecnologia pouco explorada

Já o CEO do Access Bank, mesmo percebendo a ironia, apresentou uma visão ligeiramente diferente. “Os bancos, às vezes, têm a mania que são empresas de tecnologia e não são”. Porquê? Marco Abalroado argumenta que “se compa-

Os bancos revelaram que dispendem muitos recursos em investimentos em meios tecnológicos

rarmos um banco a uma plataforma ou uma ‘fintech’, nós exploramos 1% daquilo que podíamos. Seguindo o ciclo de vida do meu cliente, eu sei quando é que ele começou a trabalhar, quanto é que gasta em compras, a que restaurantes vai, mas exploramos muito pouco essa informação”.

Até que ponto a banca e a tecnologia estão entrelaçadas? Este é um dos tópicos a desbravar nas próximas páginas, com um retrato da primeira edição do Fórum da Banca, iniciativa conjunta da Media4Development, publisher moçambicana detentora da revista “Economia & Mercado” e dos portais “Diário Económico” e “360º Mozambique”, em

parceria com a consultora PwC. O evento aconteceu num contexto em que os desafios emergentes de ESG (Ambiental, Social e Governança) e da transição e transformação digital são fulcrais para o desenvolvimento sustentável de Moçambique.

Na sua primeira ronda de debates, o Fórum discutiu o tema “ESG, Inclusão Financeira e a Transição Digital em Moçambique na Perspectiva dos Bancos Sistémicos”, em que participaram os CEO do Standard Bank (Bernardo Aparício), BCI (Francisco Costa) e Millennium bim (João Martins). Já a segunda e última ronda debateu “O Estado da Arte do ESG, a Transição Digital em Curso e os Novos Desafios da Cibersegurança e a Inteligência Artificial”, pelos CEO do Access Bank (Marco Abalroado), FNB (Peter Blekinsop) e o PCA do Nedbank (Manuel Gameiro).

No início, o espaço foi reservado para explorar uma apresentação da consultora PwC sobre “O ESG e a Transição Digital: Riscos, Caminhos e Oportunidades em Moçambique”. Tudo para explorar nas próximas páginas.

www.economiaemercado.co.mz | Maio 2024 24

GRANDES NÚMEROS DO SECTOR BANCÁRIO

35

instituições financeiras em funcionamento (15 bancos, 13 microbancos, 4 cooperativas de crédito e 3 de moeda electrónica)

69%

dos distritos oferecem serviços financeiros formais

58%

das instituições de crédito oferecem serviços de mobile banking

16,5

milhões de contas nas Instituições de Moeda Electrónica (IME)

400

milhões de operações através de serviços das IME

48%

da população adulta de Moçambique possui conta bancária

51,5

é a pontuação global de literacia financeira da população adulta (15 anos ou mais)

77%

dos agregados familiares possui telemóvel

83%

da população adulta tem uma conta de moeda eletrónica

6,92

milhões de utilizadores de Internet móvel

JOÃO VEIGA Country Senior Partner da PwC Moçambique

FONTE ESG, Transição Digital: Riscos, Caminhos e Oportunidades em Moçambique”, PwC com base nos dados do Inquérito Nacional de Literacia Financeira e outros relatórios do Banco de Moçambique

25
EM MOÇAMBIQUE

Desafios ESG Para a Banca: 10 Perguntas Fundamentais

A consultora PwC defende que a estratégia nacional de desenvolvimento para os próximos 20 anos deve ter quatro grandes pilares: desenvolvimento humano e social; reforço de infra-estruturas; qualidade da governação; e resiliência climática e ambiental. Conheça o essencial sobre as oportunidades e desafios ESG para o sector financeiro.

Texto Jaime Fidalgo • Fotografia Mariano Silva

M DOS MOMENTOS

MAIS ALTOS DA PRIMEIRA EDIÇÃO DO FÓRUM BANCA, organizado pela Economia & Mercado, foi a apresentação do estudo inédito “ESG, Transição Digital: Riscos, Caminhos e Oportunidades em Moçambique”. Seleccionámos as respostas dos especialistas, Luís Barbosa e Fernando Vasconcelos, partners da consultora PwC, a dez perguntas fundamentais sobre os desafios do ESG (Governança ambiental, social e corporativa) para Moçambique e sector bancário.

O que é afinal o ESG e porquê tanta atenção?

O conceito de sustentabilidade está ligado aos designados 17 Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que vão desde o combate à fome e à pobreza, à qualidade na saúde e na educação, à acção climática, etc. Já o ESG (Economia, Sustentabilidade e Governança) é a estratégia financeira que suporta a sustentabilidade. Nasce em 2004, quando Kofi Annan, ex-secretário-geral da ONU, apelou aos CEO das 50 maiores empresas do mundo para que incorporassem os factores ambientais, sociais e de governação nas suas tomadas de decisão. A atenção que o tema desperta deve-se ao actual cenário de emergência climática, que pode levar a um aquecimento do planeta acima dos 4 graus, com consequências trágicas para a qualidade e esperança média de vida. Este cenário tem especial re-

levância para África, um continente muito propenso a secas, inundações e outros fenómenos climáticos extremos.

Como os objectivos ESG chegam à economia?

Embora o problema das alterações climáticas seja global, alguns países estão a dar passos mais concretos para o vencer. A União Europeia, por exemplo, quer reduzir as emissões de gases de estufa em 55% até 2030. O pacote de medidas, “Fit for 55”, que abrange áreas diversas como os transportes, energias renováveis e o mercado de emissões de carbono, pretende ser um guia para as iniciativas legislativas que visam alinhar a actividade económica com os objectivos climáticos até 2030. Para muitos, estamos a assistir à emergência de um novo modelo económico: a já chamada “nova revolução industrial verde”.

Porque este tema está tão associado à Banca?

Há investimentos na sustentabilidade que têm de ser feitos. E isso requer investidores, mas também financiadores. Ou seja, é a banca que verdadeiramente nos traz as finanças sustentáveis. E como não há uma autoridade de supervisão capaz de analisar cada projecto, cabe à banca avaliar as estratégias de ESG das empresas e suportar as suas decisões de financiamento. Os Governos também têm um papel central, por exemplo, na definição de critérios técnicos (taxonomias) que permitem avaliar o cumprimento dos objectivos ESG.

Como o País deve olhar as três dimensões do ESG?

Acreditamos que os pilares “Social” e de “Governação” são os desafios mais imediatos para a economia nacional. Isto porque, segundo os dados da ONU, há três ODS onde Moçambique está a encontrar mais dificuldades no cumprimento dos objectivos. São eles, o 9.º, relativo às infra-estruturas, o 15.º, protecção da vida terrestre e o 16.º, paz, justiça e instituições eficazes. Os desafios sociais também são críticos para o País, onde existe uma elevada concentração de população nas cidades (mais expostas às alterações climáticas) e muitos vivem abaixo da linha de pobreza. Isto faz com que Moçambique, não obstante o progresso nos últimos 20 anos, esteja apenas no 183.º lugar, entre 193 países, no índice de desenvolvimento humano.

Significa que a componente ambiental não é importante para o País?

É importante, mas a perspectiva tem de ser ajustada. Se, por exemplo, na Europa, o ESG é um desafio de transição económica e energética, em Moçambique trata-se de um desafio de refor-

www.economiaemercado.co.mz | Maio 2024 26 NAÇÃO | FÓRUM BANCA E&M-PWC

ço do modelo económico. Basta ver que o País tem uma quota de apenas 0,02% nas emissões globais de CO2 (versus, por exemplo, os 1,09% da vizinha África do Sul e os 13,6% dos Estados Unidos). A emissão de CO2 por habitante é de 0,25 toneladas (versus 6,7 da África do Sul e 4,1 de Portugal). E o consumo energético com origem renovável é de 81,4% (ao passo que na África do Sul é de apenas 9,1% e na União Europeia é 38%). Ou seja, em Moçambique não está em causa uma transição energética, mas antes o reforço do modelo económico para o ESG (designadamente na vertente social) que deve ser financiado por oportunidades únicas como a exploração do Oil & Gas (só o investimento no projecto de exploração de gás na bacia de Rovuma está avaliado em 20 mil milhões de dólares).

Os riscos climáticos são já uma realidade em território nacional?

Sim. Por isso, a dimensão climática não pode ser vista separadamente da económica. As projecções disponíveis apontam para que o sul e o sudeste do País se tornem mais secos e mais quentes. Por exemplo, estima-se que a

produção de energia hídrica com origem no rio Cunene irá decrescer de forma significativa. Nas malhas urbanas (e costeira) as alterações climáticas continuarão a pressionar a disponibilidade de água, trazer tempestades mais intensas e inundações costeiras (com agravamento dos riscos associados a uma fraca rede de saneamento). Sem medidas de adaptação, os riscos climáticos deverão ter um impacto muito relevante no PIB nacional. Basta recordar que, entre 1997 e 2022, os eventos de risco climático já tiveram uma destruição de valor equivalente a -7.3% do PIB per capita do país.

Quais são as prioridades para o reforço do modelo económico do País?

Na nossa opinião, existem quatro actividades estratégicas que devem ser estimuladas e apoiadas ao nível do investimento e do financiamento. A primeira é a agricultura e pescas, que é a principal fonte de rendimentos do País (ocupa 80% dos agregados familiares) e é caracterizada por técnicas de subsistência e por ser muito vulnerável aos efeitos climáticos. A segunda são as infra-estruturas (designadamente as que suportam a

actividade económica) e as cidades (sistemas de gestão de recursos e resíduos, habitação e apoio social). A terceira é a indústria. O País é rico em recursos geológicos para extracção e transformação. Também a produção de alumínio, ferro e aço, cimento e argilas ou titânio têm elevado potencial, mas é limitadamente explorada. Por fim, o turismo: Moçambique é um dos países africanos com maior potencial pelas condições naturais que possui. Para mais, é um sector com um multiplicador relevante: promove o desenvolvimento intersectorial e as infra-estruturas.

O que significa então a estratégia do ESG para Moçambique?

Acreditamos que a estratégia nacional de desenvolvimento para os próximos 20 anos deve ter quatro grandes pilares: desenvolvimento humano e social; reforço de infra-estruturas; qualidade da governação; e resiliência climática e ambiental.

O que significa então a estratégia ESG para o sector bancário?

Para o sistema financeiro são elementos críticos: a criação de condições para atracção de investimento e de fundos internacionais; a comparticipação pública de risco (incluindo fundos de garantia); a gestão de colaterais (reforço da segurança jurídica e normalização da informação); o desenvolvimento do sector segurador (para a promoção de uma economia mais resiliente em termos climáticos); a criação de uma taxonomia própria ESG (que oriente as estratégias políticas, económicas e financeiras e estimule o investimento em áreas estruturais); e, por fim, promover uma política monetária que permita substituir o incentivo ao investimento em títulos do tesouro, por incentivos à concessão de crédito à economia.

Por onde devem os bancos começar? Quais são as prioridades?

Elegemos três dimensões fundamentais: informação, conhecimento e parcerias. É essencial comunicar qual é a estratégia de ESG, conhecer a fundo os principais clientes e projectos e os riscos físicos do País e, por fim, aproveitar as ligações externas para atrair o investimento e o financiamento de projectos estruturantes, promovendo parcerias e partilhando o risco.

www.economiaemercado.co.mz | Maio 2024 27
TITO TAVARES Director da PwC Portugal

MOÇAMBIQUE CUMPRE OS OBJECTIVOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL?

Entre os dezassete Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas, o País já cumpriu na totalidade o objectivo do “Consumo Sustentável” (n.º 12) e parcialmente os das “Cidades Sustentáveis” (11.º), “Parcerias” (17.º) e “Acção Climática” (13.º). Das treze metas que ainda falta

ERRADICAR A POBREZA

ERRADICAR A FOME

cumprir: “Educação de Qualidade” (4.º), “Igualdade de Género” (5.º), “Água Potável e Saneamento” (6.º), “Trabalho Digno e Crescimento Económico” (8.º) e “Proteger a Vida Marinha” (14.º) têm outlook (estimativa de evolução) positivo. “Erradicar a Pobreza “(1.º), “Erradicar a Fome” (2.º), “Saúde de Qualidade” (3.º)

SAÚDE DE QUALIDAE

EDUCAÇÃO DE QUALIDADE

e “Energias Renováveis e Acessíveis” (7.º) têm outlook estável. “Indústria e Infra-estruturas” (9.º), “Proteger a Vida Terrestre” (15.º) e “Paz, Justiça e Instituições Eficazes” (16.º) têm outlook negativo. Por fim, a meta de “Reduzir as Desigualdades” (10.º) não tem outlook por insuficiência de dados.

IGUALIDADE DE GÊNERO

ÁGUA POTÁVEL E SANEAMENTO

ERRADICAR A POBREZA

ERRADICAR A FOME

SAÚDE DE QUALIDAE

EDUCAÇÃO DE QUALIDADE

IGUALIDADE DE GÊNERO ÁGUA POTÁVEL E SANEAMENTO

ENERGIAS RENOVAVEIS E ACESSIVEIS

TRABALHO DIGNO E CRESCIMENTO ECONÓMICO

INDUSTRIA, INOVAÇÃO E INFRAESTRUTURAS

ENERGIAS RENOVAVEIS E ACESSIVEIS

TRABALHO DIGNO E CRESCIMENTO ECONÓMICO

INDUSTRIA, INOVAÇÃO E INFRAESTRUTURAS

REDUZIR AS DESIGUALIDADES

ACÇÃO CLIMÁTICA

PROTEGER A VIDA MARINHA

PROTEGER A VIDA TERRESTRE

REDUZIR AS DESIGUALIDADES

CIDADES E COMUNIDADES SUSTENTÁVEIS

PRODUÇÃO E COSTUMES SUSTENTÁVEIS

CIDADES E COMUNIDADES SUSTENTÁVEIS

PRODUÇÃO E COSTUMES SUSTENTÁVEIS SEM DADOS

PAZ, JUSTIÇA E INSTITUIÇÕES EFICAZES

PARCERIAS PARA A IMPLEMENTAÇÃO DOS OBJECTIVOS

ACÇÃO CLIMÁTICA

PROTEGER A VIDA MARINHA

PROTEGER A VIDA TERRESTRE

PAZ, JUSTIÇA E INSTITUIÇÕES EFICAZES

PARCERIAS PARA A IMPLEMENTAÇÃO DOS OBJECTIVOS

Legenda: As cores (verde, laranja, amarelo e vermelho) correspondem ao actual estado de cumprimento dos 17 Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas. A seta indica o outlook (perspectiva de evolução positiva, estável ou negativa) de desempenho.

www.economiaemercado.co.mz | Maio 2024 28 NAÇÃO | FÓRUM BANCA E&M-PWC
FONTE UN – Sustainable Development Report, 2023

O Futuro: Entre a Inovação e a Responsabilidade

O sector bancário de Moçambique, à semelhança do que ocorre globalmente, encontra-se numa fase de transformação significativa, impulsionada por quatro grandes vectores: a adopção dos princípios ESG (Ambiental, Social e Governança), a integração da Inteligência Artificial (IA), a fortificação da segurança cibernética e a expansão do acesso aos serviços financeiros. Cada um destes aspectos desempenha um papel crucial na redefinição da banca moçambicana, preparando-a para um futuro mais inclusivo, seguro e responsável.

Começando pelos princípios ESG, há uma crescente pressão para que os bancos adoptem práticas mais sustentáveis. A preocupação com o ambiente, o impacto social das operações bancárias e uma governança transparente e ética estão no topo da agenda. Em Moçambique, isto traduz-se num potencial enorme para inovação em produtos financeiros verdes, como financiamentos para energia renovável ou projectos de desenvolvimento sustentável que

possam beneficiar comunidades locais e, ao mesmo tempo, conservar os recursos naturais do País.

Por outro lado, a Inteligência Artificial está a revolucionar o modo como os bancos operam. Desde a automatização de processos internos à personalização da experiência do cliente, a IA tem o potencial de aumentar a eficiência e reduzir custos operacionais. Para os bancos moçambicanos, a adopção de IA pode significar uma melhor capacidade de resposta às necessidades dos clientes, oferecendo serviços mais rápidos, precisos e acessíveis, o que é essencial num mercado cada vez mais competitivo.

A segurança cibernética é outro pilar fundamental para o futuro da banca em Moçambique. Com a digitalização dos serviços financeiros, os riscos de ataques cibernéticos aumentam consideravelmente. É imprescindível que os bancos invistam em soluções de segurança robustas para proteger as informações sensíveis dos seus clientes e garantir a continuidade dos serviços. Além disso, é crucial a criação de uma cultura de segurança cibernética que inclua

formação regular dos funcionários e informação ao público sobre práticas seguras de utilização dos serviços digitais. Finalmente, a expansão do acesso aos serviços financeiros é vital para o desenvolvimento económico de Moçambique. A inclusão financeira passa por levar serviços bancários a segmentos da população que tradicionalmente não têm acesso a eles, seja através de tecnologias móveis, seja por meio de estratégias de bancarização rural. Isto não apenas promove a igualdade económica,como também fomenta a criação de pequenas e médias empresas, impulsionando o desenvolvimento local.

Em suma, o futuro da banca em Moçambique promete ser marcado por um forte compromisso com a sustentabilidade, a inovação tecnológica e a segurança. A integração bem-sucedida dos princípios ESG, da IA, das melhores práticas de segurança cibernética e da expansão do acesso aos serviços financeiros definirá um novo paradigma no sector bancário, onde a tecnologia e a responsabilidade social andam de mãos dadas para promover um crescimento inclusivo e sustentável.

www.economiaemercado.co.mz | Maio 2024 30

AS PROVÍNCIAS COM MAIS RISCOS DE FENÓMENOS CLIMÁTICOS EXTREMOS

Segundo os dados da Global Facility for Disaster Reduction and Recovery (GFDRR), do Banco Mundial, Moçambique corre um risco elevado de ocorrência de inundações, incêndios, calor extremo e ciclones e um risco médio de escassez de água, terramotos e tsunamis devido ao agravamento das alterações climáticas. Por províncias, Gaza, Sofala e Zambézia são as mais expostas a desastres naturais (seis tipo de riscos), seguidas de Inhambane, Maputo e Tete (cinco).

Inundação fluvial Elevado Risco por Província

Inundação urbana Elevado C. Delgado

Inundação costeira Elevado Gaza

Escassez de água Médio Inhambane

Incêndio Elevado Manica

Terramoto Médio Maputo

Derrocada Baixo Nampula

Calor extremo Elevado Niassa

Tsunami Médio Sofala

Ciclone Elevado Tete

Vulcões N/A Zambezia

Legenda: As cores (verde, laranja, amarelo e vermelho) correspondem ao actual estado de cumprimento dos 17 Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas. A seta indica o outlook (perspectiva de evolução positiva, estável ou negativa) de desempenho.

FONTE Think Hazard https://thinkhazard.org/en/report/170-mozambique

Banca Robusta Quer Reforçar Aposta na Tecnologia

A banca moçambicana continua robusta, destaca a associação do sector. As prioridades passam pela aposta na tecnologia para haver maior inclusão financeira e segurança. A interoperabilidade com as carteiras dos operadores móveis é uma das chaves. E maior informatização de serviços permite alcançar maior qualidade e maior conformidade com padrões internacionais

ligação entre os bancos comerciais e as carteiras móveis é um dos desafios do sector para alcançar mais população. A interoperabilidade é uma das chaves para conseguir alcançar as metas da inclusão financeira, disse o vice-presidente da Associação Moçambicana de Bancos (AMB). Luís Aguiar, administrador do BCI, falava na primeira edição do Fórum Banca, organizado pela consultora PwC Moçambique e pela E&M no Hotel Polana Serena, em Maputo. A análise do sector feita pela AMB orbitou muito em redor das tecnologias e cibersegurança. Mas a população é sempre a base da actividade. Segundo estatísticas apresentadas pelo governador do Banco de Moçambique, Rogério Zandamela, só um terço dos cerca de 33 milhões de moçambicanos tem acesso aos serviços bancários. Luís Aguiar explicou que a tecnologia tem permitido conquistar avanços no sentido da inclusão financeira. “A tecnologia USSD já é amplamente utilizada”, referiu, a título de exemplo. São “soluções apoiadas na Internet para a realização de transacções financeiras, de forma autónoma, conveniente e simplificada”, códigos que funcionam até nos telemóveis mais antigos. Por outro lado, nos bastidores, tem havido investimento “em infra-estrutura financeira que assegura a modernização dos sistemas de pagamentos e de compensação”. Neste capítulo, destacou a implementação da nova platafor-

ma nacional de pagamentos (a SimoRede) e a implementação do RTGS (em inglês, Real-Time Gross Settlement), um sistema de transferência e de liquidação interbancária em tempo real - dois projectos com envolvimento do Banco de Moçambique.

Segurança no topo da atenção dos bancos

“A implementação dos padrões de segurança cibernética mais robustos e o cumprimento dos deveres de prevenção e combate ao branqueamento de capitais estão entre os principais desafios do sector”, assim como mitigar o risco de “financiamento ao terrorismo e proliferação de armas de distribuição em massa” para retirar o País da lista cinzenta do Grupo de Acção Financeira Internacional (GAFI), lista em que Moçambique entrou há um ano, por terem sido encontradas lacunas no sistema. Os bancos clamam pela aposta na digitalização dos demais intervenientes do sector, em particular, serviços de telecomunicações, serviços financeiros gerais e governamentais.

Há, igualmente, desafios ao nível do desenvolvimento da tecnologia para promover o comércio electrónico, o estabelecimento de parcerias estratégicas com instituições financeiras (nacionais e internacionais) e a oferta de produtos e serviços simples por via digital, com foco na qualidade e no menor custo, para atender à crescente procura da clientela bancária. Segundo Luís Aguiar, o caminho que já foi feito na tarefa de di-

“A implementação dos padrões de segurança cibernética mais robustos e o cumprimento dos deveres de prevenção e combate ao branqueamento de capitais estão entre os principais desafios do sector”

www.economiaemercado.co.mz | Maio 2024 32 FÓRUM BANCA E&M-P wC | AMB
LUÍS AGUIAR Vice-presidente da Associação Moçambicana de Bancos (AMB).

gitalização do sector já trouxe ganhos, gerando “mais competição, mais transparência, mais eficiência e mais segurança, incluindo ao nível da segurança cibernética”. Agora, há que manter o foco, porque só com maior informatização é possível melhorar a qualidade.

Qualidade dos serviços: um tema muito sensível “O sector, hoje, ainda não se revê nos níveis de qualidade prestada aos clientes por diversas questões”, revelou Luís Aguiar. “Sabemos que o tema da qualidade de serviço em Moçambique concorre com a utilização massiva de cash [dinheiro em numerário] na economia e a significativa e permanente afluência de clientes aos balcões bancários”, admite Luís Aguiar. Ou seja, é preciso que mais clientes tenham o balcão na ponta dos dedos para acabar com os constrangimentos. “A AMB também está a participar no desafio, que envolve o banco central, para encontrar soluções que mitiguem e os tempos de espera nos balcões e que melhorem a afluência dos clientes aos balcões bancários”.

Uma robustez alicerçada nos números

Segundo a AMB, o sector apresenta sólidos indicadores de robustez, com um aumento da base de depósitos, consequência da maior cobertura territorial e expansão da base de clientes. Apesar das queixas recorrentes de particulares e empresas acerca das altas taxas de juro, o vice-presidente da AMB mostrou que, desde 2019, o crédito concedido pela banca cresceu 24%, colocando o sector como um “actor importante no apoio ao crescimento económico”. No entanto, o crédito malparado (ou NPL, non-perfoming loans) agravou-se ligeiramente no último ano: atingiu um rácio de 10,2% em 2021, baixou para 8,97% em 2022, contra cerca 10,58% em 2023.

Luís Aguiar destacou, igualmente, o crescimento da rendibilidade e níveis de solvência na casa dos 23,3% em Junho de 2023, muito acima do mínimo regulamentar (12%).

Outros indicadores, de acordo com o vice-presidente da AMB, revelam um esforço significativo de bancarização,

UM SECTOR RESILIENTE

Alguns indicadores de desempenho da banca mostram o quanto o sector é resiliente a crises conjunturais – apesar de o retorno pós-covid ter provocado o agravamento de alguns deles.

Rácio de solvabilidade

Rácio de crédito em incumprimento

10,58 %

como é o caso da evolução de contas, clientes, meios de pagamento (ATM e POS disponíveis em Moçambique), a proliferação de contas móveis e a utilização muito significativa e crescente da banca através da Internet, num quadro em que as contas bancárias cobrem 31% da população adulta e em que 19% dos adultos possuem cartões bancários.

“Assim, julgamos poder afirmar, sem margem para dúvidas, que o sistema bancário moçambicano se revela robusto resiliente e rentável”, concluiu Luís Aguiar.

Como os bancos respondem?

A AMB tem constituído grupos de trabalho para responder a alguns temas prioritários. “Esta tem sido uma actividade absolutamente fundamental da organização” e que “tem trazido um retorno mais interessante”, revelou Luís Aguiar. Os bancos têm sido orientados a chamar os seus colaboradores para integrarem os grupos de trabalho técnico que se envolvem de uma forma significativa nos trabalhos da AMB, em todos os domínios dos desafios identificados.

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FONTE Banco de Moçambique

Standard Bank Anuncia Apoio à Eficiência Energética

A instituição promete priorizar o financiamento às tecnologias que permitam aos clientes consumir menos energia, mantendo os níveis de produção

Como é que o Standard Bank está a integrar as práticas de sustentabilidade nas suas operações diárias?

A nossa abordagem do ESG (Environmental, Social and Governance) passa por duas grandes vertentes. Por um lado, importa apoiar a transição energética de forma justa, para que o lado social da sustentabilidade não seja afectado. Estamos presentes em 20 países em África e, portanto, temos a noção de que esta transição não pode ser um obstáculo ao desenvolvimento dos países. Por outro, queremos mitigar riscos (climáticos, sociais, etc.), e, nesse sentido, temos tido uma abordagem focada em quatro pontos principais - que tocam em sete dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas. Um deles é a criação de emprego através do apoio às empresas, reconhecendo que há ecossistemas-chave para o País, nomeadamente infra-estruturas, agricultura e recursos

naturais. O foco nos ecossistemas permite-nos apoiar as grandes empresas, mas ajudar também na criação de emprego de toda a cadeia de valor. O facto de estarmos na área de seguros ajuda-nos na mitigação dos riscos climáticos.

Procuram algum equilíbrio financeiro entre o lucro e o investimento em ESG ou o trade-off é certo?

Quando assumimos o papel de alocar capital ao ESG, isto torna-se também numa oportunidade de negócio. Ou seja, procuramos conjugar a responsabilidade de progresso nos ODS com a oportunidade de negócio, apoiando os nossos clientes a cumprir com esses objectivos. O Grupo Standard Bank é líder em termos de financiamentos sustentáveis para África, com uma série de financiamentos feitos nos últimos três a cinco anos. Temos uma série de soluções, desde obrigações verdes até a financiamentos

indexados a objectivos de sustentabilidade, entre outros. Isso torna uma oportunidade de negócio em algo que também contribui para atingirmos os objectivos do ESG.

Há uma mudança de postura dos bancos para priorizar o financiamento a projectos verdes... Estamos todos a investir na colocação de painéis solares nos balcões e em ter eficiência energética nas nossas operações. A IA também vai ser um desafio porque vai consumir imensa energia. Será complicado fazer o ‘offset’ ao nível do balanço (o financiamento às emissões e o financiamento para as evitar) apenas a financiar energias renováveis. Parte deste ‘offset’ até 2050 deverá ser feito apoiando desenvolvimentos tecnológicos dos nossos clientes para que eles consumam menos energia, mantendo os níveis de produção.

Parte deste ‘offset’ carbónico até 2050 deverá ser feito, apoiando desenvolvimentos tecnológicos dos nossos clientes

Em que ponto estamos hoje na questão da digitalização do sistema bancário?

Uma coisa é muito clara: estamos todos muito alinhados, enquanto participantes do sistema financeiro, incluindo o regulador e os sistemas de pagamento. Estamos alinhados em acolher o maior número de Moçambicanos na economia formal e dentro do sistema de pagamentos, com um custo menor. E há uma série de projectos que temos de trabalhar em conjunto: o novo sistema de pagamentos, as transferências em tempo real, a biometria (que vai progredir), reduzir o custo e facilitar a transaccionabilidade. No nosso caso específico, passa por nos adaptarmos às realidades de cada um dos 20 mercados em que estamos presentes em África. Portanto, quando pensamos na transição digital do banco, pensamos de forma muito local, e temos consciência que o USSD é um método que prevalece com uma percentagem muito superior.

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FÓRUM BANCA E&M-P wC | BERNARDO APARÍCIO

BCI Quer Reforço da Banda Larga e Telemóveis Acessíveis

A falta de banda larga em muitos pontos do País dificulta a digitalização, alerta o BCI, apontando o acesso à Internet como essencial para a inclusão financeira

As práticas de ESG são parte das operações diárias? Que projectos existem para reforçar a sua aplicação?

A questão do ESG não é nova. O que é novo é o nível de compromisso que nos é exigido. Isto é, a forma como o “G” (de ‘governance’, governação/administração) tem de entrar dentro deste acrónimo (ESG) e responsabilizar-se com um conjunto de metas e de compromissos para garantir o desenvolvimento económico dentro de um ‘environment’ positivo e com responsabilidade social. Do ponto de vista interno, a nossa preocupação tem que ver com a racionalização de consumos e o tipo de energia usada, como o recurso a energias renováveis para a iluminação das agências. Estamos a fazer testes-piloto com energia solar nalgumas agências e já influenciámos fornecedores por via de uma lógica de aquisições muito associada a critérios de ESG definidos para esse fim. Já na parte externa, temos dois bancos

accionistas europeus que estão a ser influenciados pela legislação do Banco Central Europeu (BCE), com níveis de exigência muito significativos. A Caixa Geral de Depósitos (CGD), principal accionista do BCI, assinou o compromisso de neutralidade carbónica em 2050, com uma meta intermédia em 2030 para um conjunto de medidas de racionalização e de redução de emissões. A esse nível, nós temos exigências em termos das emissões financiadas, que não significam redução do financiamento à economia, e sim trabalhar em conjunto com os clientes, no sentido de eles também terem preocupações de ESG, para podermos manter ou até aumentar o nosso financiamento.

Como estabelecer o equilíbrio entre lucro e resposta aos critérios ESG?

O equilíbrio tem sempre uma lógica de ‘trade-off’, mas eu diria que este não existe de todo. Isto é, quanto mais rentável eu

for, mais capacidade para fazer responsabilidade social eu tenho. O BCI tem sido reconhecido no mercado como um banco com um pendor de Responsabilidade Social muito significativo. Temos feito inúmeras apostas, como é o caso, na área de ESG, da parceria com a BioFund: temos um cartão que é biodegradável e em que 0,04% de toda a facturação vai para um fundo que a BioFund aplica em apoio social. Além disso, 0,01% de toda a facturação dos cartões do BCI alimenta um fundo utilizado em Responsabilidade Social, equivalente a cerca de 2 milhões de meticais anuais. Mas o orçamento global para a responsabilidade social é significativamente maior.

Como é que o banco se prepara para os riscos de segurança cibernética?

A banca tem muita informação, parte da qual extraordinariamente sigilo-

Do

ponto de vista interno, a nossa preocupação tem que ver com a racionalização de consumos e o tipo de

energia usada

sa. Temos de garantir que ninguém entra nos nossos sistemas. Temos feito investimentos muito significativos numa perspectiva de plano de continuidade. Ou seja, há uma probabilidade grande de um ataque poder acontecer. Então, como criar capacidade para repor a normalidade após um eventual ataque? É sobre isto que andamos a trabalhar e temos feito várias simulações, através de um grande investimento. Temos de ter capacidade de criar sistemas de controlo, diversificação e segregação de funções de modo a garantir acessos seguros aos nossos sistemas.

O BCI consegue vislumbrar como é que a IA pode beneficiar o sistema financeiro?

O BCI tem accionistas europeus pródigos na dimensão legislativa e que o vão fazer, seguramente, em relação a tudo o que se pode fazer com a IA. Precisamos, a muito curto trecho, de ter regulamentação para a utilização desta.

www.economiaemercado.co.mz | Maio 2024 35
FÓRUM BANCA E&M-P wC | FRANCISCO COSTA

Bim Aposta em ESG,

Mas Atento a Custos e ‘Trade-Offs’

A boa governação virada para a sustentabilidade emerge, mas obriga a escolhas financeiras criteriosas, uma transformação que “não será alcançada sem custos"

Como é que o bim está a integrar as práticas de ESG nas suas operações diárias?

A nível pessoal, considero que os temas da sustentabilidade são evidentes: quem vive em Moçambique sente os efeitos das alterações climáticas com os ciclones e a frequência com que têm acontecido. Isto é claramente um sinal de que há necessidade de actuar e mudar a forma como nós e as nossas economias nos organizamos. Ao nível do banco, há, por exemplo, o novo conceito de balcão, que estamos a começar a implementar. Temos painéis solares para que os balcões sejam neutros do ponto de vista carbónico. Na sede, estamos igualmente a investir muito para reduzir a nossa pegada carbónica através da instalação de painéis solares. O ponto de vista social está na génese da nossa estratégia, desde há várias décadas. Com mais de 2 milhões de clientes, temos feito um esforço muito grande de inclusão financeira que permita reduzir

a pobreza, um dos factores críticos num país como Moçambique. E o nosso programa de Responsabilidade Social tem várias frentes. Ao nível da governação, as nossas práticas vão também num sentido de serem mais sustentáveis e responsáveis.

Como é que se estabelece o equilíbrio entre o lucro e os investimentos em ESG e Responsabilidade Social?

Para um país como Moçambique, deveria haver um enfoque na temática social e de ‘governance’ [governança/administração], áreas que justificam determinados investimentos. Um exemplo: estamos todos a aguardar pelo recomeço do projecto de desenvolvimento de gás [em Cabo Delgado], mas tem havido imensas dificuldades em fazê-lo. Uma informação recente indica que o Crédit Agricole não iria mais financiar o projecto, numa altura em que nenhum dos nossos bancos tem capitais

suficientes para o efeito. Nós temos de ter capacidade para explorar os nossos recursos e reduzir os níveis de pobreza. A agenda [da sustentabilidade] não será alcançada sem custos e os ‘trade-offs’ [escolhas em detrimento de outras] já estão a acontecer, por exemplo, quando dizemos que não vamos dar crédito a determinado projecto porque não cumpre parâmetros específicos [de sustentabilidade]. Da mesma forma que um banco corre o risco de não receber depósitos de determinados clientes se não tiver uma agenda ESG. Vai haver muitos custos e ‘trade-offs’, alguns não estão claros nesta fase, mas vão surgir, sem dúvida.

Em que ponto está a digitalização do sistema bancário, e o que é feito no bim para acelerar a transição?

A estratégia digital está no centro da nossa actuação, porque, se não fosse as-

Estamos já a olhar para a IA para nos ajudar a fazer o combate à fraude, descobrir padrões nas transacções que estão a acontecer

sim, não conseguiríamos continuar a fazer inclusão financeira. Temos feito um investimento muito forte na nossa ‘app’, nas nossas soluções ‘mobile’ e, hoje em dia, temos, por mês, mais de 20 milhões de transacções feitas em dispositivos móveis. Já chegámos a ter meses com mais de 30 milhões de transacções. Isto, do ponto de vista dos sistemas, é muito exigente, mas se não tivéssemos estas funcionalidades, seria impossível servir os clientes. Do ponto de vista interno, estamos a desenvolver uma estratégia de digitalização de processos e de automatização de funcionalidades.

Que medidas estão a ser implementadas para reforçar a cibersegurança?

Nós investimos muito tempo na formação das nossas equipas, testamos e revemos os riscos, por exemplo, em relação ao ‘phishing’. Mas também testamos as nossas equipas internamente para ver onde é que temos de forçar a formação.

www.economiaemercado.co.mz | Maio 2024 36 FÓRUM BANCA E&M-P wC | JOÃO MARTINS

Nedbank Apoia

Transição

Energética e Biodiversidade

As questões sociais são uma grande preocupação do Nedbank, que garante adaptar os seus instrumentos financeiros às necessidades do mercado

Das três palavras (Environmental, Social and Governance – ESG), qual é a mais relevante para as necessidades de desenvolvimento do País?

Sobre ESG, o Nedbank tornou-se no primeiro banco africano a subscrever, em 2005, os princípios do Equador. O ano 2050 é a meta estabelecida para ‘net zero’ [neutralidade] em termos de emissões de gases de efeito estufa, e, estando o Nedbank presente em vários países de África com características diferentes, este aspecto é tratado com o devido pragmatismo em função de cada geografia. A abordagem que encontrámos para tratar de temas ESG e na relação com os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) consiste em olhar para eles como uma estratégia de futuro, avaliando as operações no curto prazo. Acreditamos que a monitorização nos vai manter no caminho correcto para o alcance dos ODS. Acreditamos que o ESG não deve ser visto

como um fim em si, mas como um processo para atingir objectivos.

Quais são as marcas do compromisso do Nedbank com a sustentabilidade?

A questão do ESG começa pelo nosso próprio propósito: usar a nossa competência financeira para criar valor junto das pessoas, famílias, empresas e sociedade. Temos, no âmbito de cada uma das três letras (ESG), desenvolvido várias acções. Por exemplo, o Nedbank está disposto a financiar e apoiar os seus clientes na transição energética. E para a conservação da biodiversidade, emitimos um cartão específico, em que uma percentagem das transacções é canalizada para o Parque Nacional da Gorongosa (PNG). Estes fundos são depois utilizados na intervenção social do parque, apoiando, por exemplo, a retenção de raparigas nas escolas e combatendo a gravidez precoce.

Em relação à questão da digitalização no sector bancário, que dificuldades já foram vencidas e quais ainda prevalecem?

Os analistas prevêem, nos próximos dez anos, que haverá uma transformação da banca como nunca se viu nos últimos 100 anos. E um dos motores deste processo é a quantidade de dados que a banca hoje processa, com uma rapidez incrível. Mais dados significam menos assimetria de informação, o que, por sua vez, significa que há espaço para novos intervenientes. Isso beneficia, obviamente, os consumidores finais, mas coloca-nos desafios adicionais, porque vamos ter de nos reinventar permanentemente. A digitalização será também a forma de promover a inclusão financeira. Por exemplo, de 2018 a 2022, o número de contas em carteiras móveis cresceu 50%, mas o número de contas do sistema bancá-

"A questão do ESG começa pelo nosso próprio propósito: usar a nossa competência financeira para criar valor"

rio cresceu apenas 9%. Em termos de transacções, os pagamentos nas carteiras móveis cresceram mais de 500%. Estes números mostram como a digitalização muda a paisagem do sistema financeiro, como um todo.

Um ranking da Oxford Economics revelou que o capital humano de Moçambique não está bem preparado para a IA. Qual é a relevância deste estudo?

Todos nós estamos a começar a lidar com a Inteligência Artificial (IA) e ainda ninguém consegue ver a luz ao fundo do túnel. Vamos precisar de regulamentação, porque a IA toca em aspectos pessoais dos nossos clientes. Hoje, há bancos a nível internacional que já usam IA para fazer análise de crédito, por exemplo. Ou seja, o ‘motor’ vai buscar toda a informação, faz uma análise precisa e com recomendações. São aspectos como estes em que temos de pensar.

www.economiaemercado.co.mz | Maio 2024 37 FÓRUM BANCA E&M-P wC | MANUEL GAMEIRO

Access Bank Chega a 40 Milhões USD/Mês só em

Microcrédito

Graças aos avanços da informatização, os serviços ligados ao Mpesa foram capazes de emprestar dinheiro a mais de 2 milhões de pessoas num mês

Que importância atribui o Access Bank às estratégias ESG em Moçambique?

No Access Bank, que está presente em cerca de 20 países, a área dedicada a ESG surgiu há cinco anos e temos um ‘rating’ nesta componente que ajuda a medir a sustentabilidade das empresas. Como grupo, penso que estamos na linha da frente no cumprimento das regras do ESG, mesmo quando temos de nos adaptar a geografias diferentes. Grande parte do que fazemos no pilar social assenta na captação de fundos e no apoio à economia real. A economia cresce, essencialmente, no sector das Pequenas e Médias Empresas (PME), que são as que dinamizam a actividade produtiva. A quantidade de PME formalizadas deve rondar entre 100 mil a 200 mil, além de 500 mil informais. A realidade é que, hoje, não temos uma banca suficientemente estruturada para conseguir servir esses sectores. Daí a importância do pilar social.

Porque considera não EXISTIR estrutura suficiente para servir as PME?

Por falta de formalização [da economia], que é um problema global, quer do ponto de vista da sustentabilidade no nosso dia-a-dia, quer para dar acesso a fundos que permitam fazer duas coisas: sermos mais competitivos em termos de taxas de juro e conseguir mitigar alguns dos riscos deste tipo de sectores. Também falta acesso particular à poupança e, especialmente, ao financiamento. Por isso, grande parte das metas que estabelecemos como grupo e que transportámos para cá, foram o catapultar da nossa ligação com instituições financeiras de desenvolvimento, cooperação e doadores. Outro factor tem que ver com a capacidade de criar produtos e serviços que sirvam a realidade e o dia-a-dia da nossa economia. Em resposta a estas fragilidades, em Moçambique, lançámos o ‘cash-flow lending’ às PME, que tem tido bastante sucesso.

Em relação à digitalização, o crescimento da banca móvel traz constrangimentos ao sector bancário?

Pelo contrário, favorece. Não concordo que falemos especificamente da transformação digital como se fosse um projecto com princípio, meio e fim. Há dez anos, pensava-se que íamos (os bancos) morrer e as ‘fintechs’ iam substituir-nos. Mais recentemente, pensava-se que as carteiras móveis iam acabar com a banca. Pelo contrário, criaram oportunidades. No nosso banco, fizemos empréstimos a 2,1 milhões de pessoas, num só mês, em Moçambique, no ano passado. Só em microcrédito, na parceria com o sistema Mpesa, chegámos a emprestar 40 milhões de dólares no mesmo mês.

O Access Bank está pronto essa transformação digital?

Se compararmos um banco a uma plataforma ou ‘fintech’, nós exploramos 1% daquilo que podíamos estar a explorar. Se-

"Pensava-se que os bancos iam morrer e as ‘fintechs’ substituí-los. Pelo contrário, criaram oportunidades"

guindo o ciclo de vida do meu cliente, eu sei quando é que começou a trabalhar, quanto é que gasta em compras, a que restaurantes vai, entre outras informações. Mas exploramos muito pouco essa informação. É que os bancos, às vezes, pensam que são empresas de tecnologia e não são. E óbvio que, quando não somos empresas de tecnologia, é muito mais difícil estarmos à frente, perceber o que temos de fazer e mudar depressa. Não sei dizer quando é que vamos estar prontos para a transformação digital, mas esta não vai parar. Sei que a transformação digital, por exemplo, na integração com o Governo, já melhorou bastante, mas precisamos de fazer muito para diminuir a fraude, por exemplo. O próprio acesso ao crédito tem que ver com a falta de informação, que por sua vez vem da falta de digitalização. Hoje não conseguimos ter uma base de dados integrada de registo para confirmar se determinado cliente é mesmo quem diz ser.

www.economiaemercado.co.mz | Maio 2024 38 FÓRUM BANCA E&M-P wC | MARCO ABALROADO

FNB: “Educação Financeira é a Chave Para o Crescimento"

Para o PCE do FNB, sem conhecimento, a digitalização vai atrasar-se, os princípios de ESG não serão eficazes e o cibercrime pode vencer

Das três palavras da sigla ESG (Environmental, Social and Governance), qual é a mais relevante face às necessidades de desenvolvimento do País?

Os princípios ESG têm feito parte do grupo desde o início dos anos 2000. Temos um Comité de Governança Social e Ambiental ao nível mais alto da banca e qualquer negócio de grande dimensão passa por uma auditoria que assegure estarmos no caminho para alcançar os objectivos ESG. Na área social, o FNB tem uma componente de educação financeira. Criámos uma fundação com a Hollard [seguradora] e o MozParks [operador de zonas económicas sustentáveis] voltada para a criação de oportunidades de emprego para jovens. Mas assumimos que tudo isto é muito pouco. É preciso muito mais investimento na sociedade em geral e isso significa muito envolvimento de todos para obter bons resultados. A educação financeira é a chave para o crescimento

da banca. Precisamos, acima de tudo, de programas de educação financeira que não sejam contraditórios.

A que tipo de contradição se refere? Pode avançar alguns exemplos?

Falamos de desafios da digitalização, no ambiente, cibersegurança e Inteligência Artificial (IA), mas temos de derrubar os nossos antigos sistemas e implementar novos. Provavelmente, podemos começar por nos educarmos. Por exemplo, todos nós aspiramos a entrar em lojas, grandes cadeias comerciais, fazer compras, recorrer ao plástico, a químicos gerados sinteticamente, entre outros produtos, mas a questão é: estamos a mudar? Como estamos a ensinar os nossos filhos a consumir? Não há responsabilidade somente dos bancos. Todas as pessoas têm uma responsabilidade educacional para entender o impacto ambiental e social das suas acções e tomar decisões racionais.

E qual tem sido o envolvimento do FNB em relação à educação?

O nosso grupo investe na formação dos funcionários como primeiro passo para formar o resto do mercado. É uma questão de responsabilidade bancária, mas também de responsabilidade de todas as pessoas que usam os serviços bancários, de actuar responsavelmente. Neste processo, os bancos foram colocados de fora e é aí que a sociedade em geral está a falhar. Mas isso não nos absolve de exercer a nossa responsabilidade para tentar fazer com que as coisas funcionem. Entretanto, precisamos de muito mais parcerias com as pessoas que estão preparadas para assumir essa responsabilidade.

Sobre a transformação digital, qual A experiência do FNB noutras geografias?

Nós temos um longo caminho a percorrer em Moçambique. Na África do Sul,

“Moçambique está atrasado em relação à transformação digital. Há um número de bloqueios que precisam de ser tratados, o que não será fácil"

por exemplo, o FNB tem uma ‘app’ que permite realizar qualquer transacção: liga pessoas ao banco e aos serviços. O objectivo é a eficiência e rapidez de ligação, de acesso a informação, a pagamentos com segurança, entre outros aspectos - não do ponto de vista do banco, mas sim do cliente. Moçambique está atrasado em relação a este ponto (de transformação digital). Há um número de bloqueios que precisam de ser tratados, o que não será fácil, mas somos capazes de o fazer porque as competências e a tecnologia são transferíveis.

Os ataques cibernéticos na África do Sul aumentaram muito no último ano. É uma preocupação acrescida?

Sempre que vejo testes à cibersegurança eu digo: vamos ter sempre isto. Em todo o mundo, não se consegue recuperar de um ataque tão rapidamente e este problema é muito maior do que parece.

www.economiaemercado.co.mz | Maio 2024 39 FÓRUM BANCA E&M-P wC | PETER BLENKINSOP

Absa em Pequim – Incentivar a Parceria Estratégica Entre a China e o Continente Africano

China viveu um importante crescimento económico nas últimas décadas, tendo conquistado uma posição privilegiada na economia global. O país tem procurado desempenhar um papel significativo e influente no cenário internacional, aumentando a sua actuação e as suas relações diplomáticas e comerciais com outros países, em diversos sectores da sociedade.

A República Popular da China figura, neste momento, como a segunda maior economia do mundo, e detém uma das maiores margens de progressão. Um dos factores que colocam a China neste patamar é a grande diversificação, quer geográfica, quer sectorial, do seu investimento.

Por sua vez, a relação de investimento China-África cresceu nas últimas décadas, com o país asiático a emergir como o maior parceiro comercial bilateral do continente. Esta situação tem sido alimentada pelo investimento chinês nos vastos recursos naturais e projectos de infra-estruturas de África, criando enormes oportunidades comerciais para ambas as regiões.

Segundo os dados publicados pelo Ministério do Comércio da China, em 2022, o volume do comércio entre a China e África atingiu US$282 biliões, um au-

mento de 11,1% em relação ao ano anterior. O país asiático tornou-se o principal parceiro comercial do continente e o segundo maior destino das exportações dos seus produtos agrícolas. Até ao final de 2022, o investimento directo da China em África teria ultrapassado os US$ 47 biliões, valor que poderá ser acelerado pela implementação de políticas conjuntas através dos BRICS e do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD). À semelhança do que está a acontecer no continente africano, a China tem-se revelado um importante parceiro económico para Moçambique, onde se verifica uma crescente parceria chinesa em sectores como o das infra-estruturas, construção civil, mineração e agricultura, potenciando o desenvolvimento económico e a criação de emprego no País.

Dados avançados em finais de 2023, pelo embaixador chinês Wang Hejun, durante a celebração dos 74 anos da fundação da República Popular da China, indicam que o volume de negócios entre aquele país e Moçambique atingiu mais de 27 mil milhões de dólares nos últimos dez anos, tendo a China investido, cumulativamente, mais de 8,5 mil milhões de dólares em Moçambique nos últimos anos.

O desenvolvimento comercial e a fluidez das relações comerciais entre diferentes regiões são, grosso modo, influenciados e/ou dinamizados por instituições como os bancos, que, ao se estabelecerem em territórios cujas relações comerciais são sólidas, tornam mais firmes e confiantes as diferentes relações de negócios entres empresas de ambas as regiões onde as instituições financeiras se encontram instaladas. Nesse sentido, a banca é chamada a desempenhar o seu importante papel enquanto parceiro financeiro estratégico.

Foi neste âmbito que o Absa Group, um dos maiores grupos de serviços financeiros diversificados de África, anunciou, a 31 de Janeiro do corrente ano, a sua expansão para a República Popular da China com a abertura de uma nova filial não bancária em Pequim.

O novo escritório visa criar uma maior sinergia no âmbito comercial entre a China e o continente africa-

www.economiaemercado.co.mz | Maio 2024 40 P OWERED BY
Filial do Absa Bank na China

no, no sentido de apoiar as necessidades, os objectivos e as ambições das diversas entidades e os diversos stakeholders, baseados nestas duas regiões. A filial não bancária está agora aberta, com o evento de lançamento oficial em Pequim, agendado para 8 de Maio de 2024.

A estratégia faz parte de um compromisso mais amplo do Absa Bank de expandir as suas operações com escritórios de representação internacional em mercados estratégicos e oferecer aos seus clientes estrangeiros uma experiência diferenciada nos mercados africanos, à semelhança do que já acontece em Nova Iorque e Londres.

Diante deste marco, o sector privado moçambicano equaciona vantagens. Uma análise do presidente da Confederação das Associações Económicas (CTA), Agostinho Vuma, resume o impacto desta expansão do Grupo Absa em três principais vantagens:

• Aumento de oportunidades de negócios: a presença do Grupo Absa na China pode abrir novas oportunidades de negócios e facilitar parcerias comerciais, investimentos e comércio bilateral entre Moçambique e a República Popular da China;

• Acesso a serviços financeiros internacionais: as empresas moçambicanas podem ter uma gama mais ampla de serviços financeiros internacionais, aumentando a inovação financeira. Tal

A escolha de

Pequim

como

local para o novo escritório reflecte a profunda compreensão do Absa Bank acerca da importância da China no cenário global, considerando-a uma parceira estratégica crucial para África

poderá ajudar as empresas locais a diversificar as suas fontes de financiamento e a expandir as suas operações, tornando-as mais seguras e confiantes;

• Facilitação de transacções internacionais e aumento de competitividade: a presença do Grupo Absa na China pode aumentar a competitividade das empresas moçambicanas, fornecendo acesso a recursos financeiros e expertise internacional, o que poderá alavancar as empresas locais a melhorar a sua eficiência operacional, a inovar e a expandir a sua presença global.

A expansão do Absa Bank para um mercado dinâmico representa o desbloqueio de novas vias de crescimento e prosperidade para África e para a China, reforçando a ambição de estender a estratégia internacional. Com a presença na China, o Grupo Absa Bank fortalece a capacidade e robustez na prestação de serviços de consultoria geral a clientes sediados naquele país, para a conclusão de transacções em todo o continente africano.

A escolha de Pequim como local para o novo escritório reflecte a profunda compreensão do Absa Bank da importância da China no cenário global, considerando-a uma parceira estratégica crucial para África e para o resto do mundo.

www.economiaemercado.co.mz | Maio 2023 41
O Absa Bank marca presença na China em busca de novas oportunidades de crescimento

uma conversa esclarecedora com Julia Wood, que lidera o Departamento de Consultoria de Desenvolvimento da RSM, revela-se o impacto transformador deste tipo de trabalho no desafiante contexto de saúde pública, das questões de género e na educação em Moçambique.

O departamento de Wood foi criado pela RSM Moçambique em 2021 (é a sexta linha de serviço da consultora) e marcou um crescimento substancial ao empreender os primeiros projectos, com agências da ONU.

A essência do seu trabalho envolve avaliar projectos de saúde pública, género ou educação, frequentemente organizados por Governos e financiados por doadores internacionais ou empresas privadas, para avaliar a sua eficácia e utilização de recursos de acordo com as perspectivas dos beneficiários. Wood, que tem uma longa experiência profissional como consultora na área do desenvolvimento, explica: "Estamos preparados para pegar num projecto de saúde pública, de género ou de educação, que é geralmente organizado pelo Governo e financiado por um doador internacional ou uma empresa privada. Olhamos para esse projecto e perguntamos 'este projecto teve uma boa utilização dos seus recursos? Alcançou os seus objectivos? E chegou aos beneficiários a quem se destinava?’ Esse assessment é fundamental para perceber e avaliar o sucesso dos projectos”, explica. O que distingue a consultoria de desenvolvimento da RSM é o seu serviço focado e direccionado a um universo único de organizações, divergindo do escopo mais amplo frequentemente associado às grandes firmas de consultoria. Wood, com formação em saúde pública, exemplifica este nicho, enfatizando a importância de entender as especificidades das várias culturas locais para uma intervenção mais eficaz, uma abordagem consolidada pela visão da ges-

O Poder Transformador da Consultoria de Desenvolvimento

tão de Paulo Lopes, managing partner e CEO da RSM no mercado moçambicano. "É sempre engraçado para mim quando digo às pessoas que trabalho para uma grande firma de contabilidade, fiscalidade e auditoria e elas ficam tipo 'espera aí, não estudaste saúde pública?'", partilha Julia, destacando a intersecção única da sua especialidade com os objectivos de uma grande consultora como “uma vantagem” no alcance dos objectivos de cada projecto que abraça.

Um dos projectos notáveis da RSM envolveu um investimento de 20 milhões de dólares do Governo holandês destinado a melhorar os resultados de saúde reprodutiva sexual em Moçambique. Este projecto encapsulou o papel

O que distingue a consultoria de desenvolvimento da RSM é o seu serviço focado e direccionado a um universo único de organizações...

do departamento em avaliar criticamente a execução e o impacto de tais empreendimentos extensivos, envolvendo um trabalho de campo extenso e a colecta de dados em várias comunidades. Wood relata: "visitámos todas as dez comunidades no terreno, em sítios remotos de Tete, em que as nossas equipas se cruzavam com leões! Quem disse que a consultoria não tinha aventura? A verdade é que uma das mais valias do nosso trabalho na RSM é que isso nos permite ir para o terreno e perceber os reais impactos dos projectos dos quais estamos a fazer a avaliação", assinala.

A equipa de Wood na RSM aplica metodologias de pesquisa rigorosas para

garantir a colecta de dados imparcial, permitindo-lhes fornecer insights e recomendações accionáveis para iniciativas futuras. Isso envolve não apenas avaliar o sucesso de um projecto, mas também apoiar empresas privadas na melhoria dos seus esforços de responsabilidade social corporativa (RSC). "Não são apenas os doadores necessariamente os nossos clientes; há também empresas privadas que têm iniciativas de responsabilidade social corporativa", esclarece Wood.

Além disso, o surgimento das considerações ESG começa a abrir novas fronteiras para as empresas, que se esforçam para alinhar as suas operações com objectivos sociais e ambientais mais amplos. Julia Wood sublinha o papel emergente, mas crítico, da consultoria de desenvolvimento na orientação dessas empresas através das complexidades da conformidade e implementação ESG. "Às vezes, as empresas falam sobre o ESG, mas na verdade não sabem o que têm de fazer. Como podem?", questiona, sinalizando a lacuna consultiva que a RSM visa preencher.

Olhando para o futuro, a consultora expressa entusiasmo com o foco da RSM na expansão dos seus serviços de consultoria em RSC e ESG. "Estamos realmente entusiasmados com este novo ano... para nos focarmos mais no lado da RSC e continuar a crescer, porque é realmente um campo excitante e é uma óptima maneira de ter impacto”.

Julia Wood não só destaca o trabalho significativo realizado no âmbito da consultoria de desenvolvimento, mas também sublinha a “necessidade crítica de abordagens especializadas e baseadas em dados para o investimento social.”

À medida que navegamos pelos desafios e oportunidades apresentados pelas paisagens socioeconómicas globais e locais, o papel da consultoria de desenvolvimento torna-se cada vez mais indispensável na criação de um futuro mais equitativo e sustentável.

www.economiaemercado.co.mz | Maio 2024 42 CONSULTÓRIO
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Níger Rússia reforça influência sobre

a região do Sahel

A Rússia reforçou a sua influência na região do Sahel, na África Ocidental, enviando instrutores militares para o Níger, país governado por uma junta militar, que afastaram os militares norte-americanos. Os instrutores levaram um sistema de de-

Mali e Sahel

fesa aérea e vão treinar as tropas nigerinas, informou a estatal Rádio Televisão do Níger. A RTN transmitiu imagens a mostrar um avião russo e homens de farda a descarregar o que foi descrito como equipamento militar de “última geração”.

Calor invulgar com temperaturas até 48,5 graus

As alterações climáticas contribuíram para uma onda de calor invulgarmente intensa que atingiu a região do Sahel, na África Ocidental, durante o mês de Abril, com várias mortes acima do normal registadas em pelo menos dois países. O calor mais severo foi registado a 3 de Abril, com as temperaturas a subirem

até aos 48,5 °C em Kayes, no Mali. Os dados sugerem que o aquecimento global tornou as temperaturas máximas no Mali e no Burkina Faso 1,5 graus mais altas, e o número de dias em que permaneceram invulgarmente elevadas tornou-o um evento que ocorre uma vez em cada 200 anos.

Costa do Marfim Cacau escasseia, preço sobe

Uma procura global pelo cacau está a atrair novamente os agricultores africanos para esta cultura agrícola, apressando-se a plantar mais árvores para tirar partido de uma escassez que fez com que os preços triplicassem para 10 000 dólares por tonelada. O mau tempo na África Ocidental comprometeu as colheitas na Costa do Marfim e no Gana, os dois principais produtores (representam mais de metade do ingrediente-chave do chocolate), mas, por mais que se apressem, os agricultores africanos não vão conseguir suprir as necessidades mundiais. Leva cerca de três anos até que as árvores de cacau comecem a dar fruto. A mudança não vai proporcionar uma solução rápida para a escassez. Isso significa que o chocolate deve ficar mais caro e em porções mais pequenas.

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RADAR ÁFRICA

Quénia Bilionários decidem apostar em energias limpas

Reed Hastings, co-fundador da Netflix, e a fundação de Eric Schmidt, ex-presidente da Alphabet (empresa-mãe da Google), participaram numa recolha de financiamento para uma ‘startup’ africana de irrigação solar. Os dois bilionários estão entre os que investiram 27 milhões de dólares na SunCulture, com sede em Nairó-

bi, Quénia. A empresa fornece pequenas bombas de água movidas a energia solar - cujo custo é subsidiado pela venda de créditos de carbono - a agricultores de pequena escala. Estes sistemas são projectados para aumentar a produtividade agrícola e a sustentabilidade, principalmente para pequenos produtores.

A República Democrática do Congo (RDC), principal produtor de cobalto do mundo, está a sondar organizações internacionais do sector industrial sobre medidas para elevar o preço do metal usado em baterias, incluindo através de potenciais quotas de exportação. É a mais recente tentativa de obter um maior controlo sobre minerais cruciais. Os preços do cobalto desceram dois terços desde meados de 2022, enquanto o fornecimento global supera a procura. Por outro lado, há um conflito a fervilhar no leste da RDC: o Governo aliou-se a um grupo ar-

África

A economia da Nigéria já esteve no topo do pódio como a maior de África, em 2022. Mas prevê-se que desça para o quarto lugar este ano e que o Egipto, que ocupou a primeira posição em 2023, caia para segundo lugar, atrás da África do Sul. As alterações devem-se a uma série de desvalorizações das respectivas moe-

mado que descende das milícias hutus, que perpetraram o genocídio que matou 800 mil pessoas, maioritariamente tutsis, em 1994. Do outro lado, o Ruanda está a dar apoio aos rebeldes M23 - o presidente ruandês Paul Kagame nega, mas EUA, UE e Congo dizem que essa ajuda atingiu níveis sem precedentes e têm pedido um recuo. Resultado: relatores da ONU indicam que o grupo M23 duplicou a quantidade de território sob o seu controlo e em Fevereiro cortou acessos a minas, na RDC, que fornecem material utilizado em semicondutores e telemóveis.

do Sul Huawei reforça presença

O maior operador de telecomunicações móveis de África, a sul-africana MTN, abriu um laboratório de investigação com a Huawei em Joanesburgo, aprofundando os laços com a empresa chinesa e potencialmente acelerando a implementação de novas tecnologias no continente. Os funcionários do laboratório vão concentrar-se em aplicações para Inteligência Artificial, análise de dados, computação em nuvem, fintech e outras tecnologias. África tem uma população jovem, em rápido crescimento e conhecedora de tecnologia, que depende de telemóveis para aceder a tudo, desde serviços bancários até cuidados de saúde.

das, de acordo com as previsões do Fundo Monetário Internacional. Por seu lado, a África do Sul prepara-se para um momento decisivo: as eleições do próximo mês são um marco na história do país, com o ANC, partido que Nelson Mandela levou ao poder há três décadas, a enfrentar o risco real de perder a sua maioria.

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RDC Novas medidas para controlar preço dos minerais críticos
do Sul De volta ao topo das maiores economias do continente África

FNB Promove Debate Económico

Sobre as Flutuações da Cadeia de Distribuição

FNB Moçambique, em parceria com o RMB, braço corporativo do Grupo FirstRand, do qual o FNB também faz parte, promoveu, em Abril, um Business Economic Breakfast, em Maputo.

O evento económico contou com a presença de clientes, parceiros e colaboradores do FNB, e foram abordados vários temas, com destaque para o panorama económico local e global, as flutuações da cadeia de distribuição, os recentes desenvolvimentos e desafios ao nível da banca moçambicana, o actual panorama económico em Moçambique, entre outros temas da actualidade económica.

Durante a sua apresentação, o responsável de Economia e pesquisa de mercado do FNB, Alfredo Mondlane, falou das projecções económicas para o País em 2024. “Em 2023, assistimos a um crescimento económico na ordem dos 5%, comparativamente ao crescimento económico do ano anterior, de cerca de 4%. Em função disso, as nossas perspectivas de crescimento apontam para uma subida de 4,9%, para o ano de 2024.”

Mondlane espera uma aceleração da economia para um nível de crescimento de 5,6% a médio prazo. “Acreditamos que, futuramente, os sectores da indústria de LNG, a indústria do gás e a indústria extractiva estarão na dianteira do crescimento económico. Também vão ser suportados pelas indústrias de serviço, concretamente serviços financeiros. Prevemos, ainda, que a indústria dos transportes e comunicações também suporte este crescimento.”

Samantha Singh, economista do Rand Merchant Bank (RMB), centrou-se nas perspectivas económicas globais e no seu impacto nos países em desenvolvimento, com especial destaque para África. Samantha sublinhou: “numa perspectiva global, observamos um cresci-

mento económico moderado, o aumento das tensões geopolíticas, as alterações na dinâmica da inflação e a acção dos bancos centrais. Os movimentos das matérias-primas são largamente impulsionados pelo crescimento global, ao passo que os conflitos e as tensões geopolíticas representam riscos para os preços das matérias-primas. A procura de petróleo é a mais elevada de sempre, ao mesmo tempo que se registam algumas limitações na oferta.”

Outro tema central deste encontro foi abordado por Kevin Holmes, responsável pela carteira de soluções comerciais do RMB. “As condições adversas da cadeia de abastecimento referentes à logística e infra-estruturas inadequadas foram exacerbadas pela pandemia, mas estas fragilidades não são um fenómeno recente, elas são uma realidade de longa data. A

É preciso descongestionar os portos, investir em infra-estruturas que permitam desbloquear ecossistemas de cadeias de abastecimento

transformação deste cenário passa, entre outras soluções, por descongestionar os portos, investir em infra-estruturas e soluções de financiamento que permitam desbloquear ecossistemas de cadeias de abastecimento a vários níveis, incluindo a avaliação de meios de transporte acessíveis para o envio de mercadorias.

Por seu turno, Yolanda Braga, Directora de Operações do FNB Moçambique, teceu considerações sobre a modernização do sistema financeiro bancário. Segundo Yolanda, “o FNB foi uma das primeiras instituições a migrarem para o sistema Euronet, que incluiu a introdução dos cartões Contactless. Importa referir que qualquer migração ou mudança de sistema desta magnitude é susceptível a algumas instabilidades. Contudo, o processo é contínuo e o Banco permanecerá engajado com os seus parceiros, de modo que assegure um impacto mínimo para os seus Clientes”.

Eventos desta natureza permitem que o Banco se aproxime dos seus Clientes, estando presente como parceiro financeiro e disponibilizando informação económica relevante que adicione valor aos seus negócios.

www.economiaemercado.co.mz | Maio 2024 48 P OWERED BY

Ideologia ou Ciência? Qual é a Melhor Versão da Economia?

Joan Robinson, considerada por muitos como uma das mais influentes mulheres na história da economia, questionou se a disciplina deve ser entendida como uma ciência ou como uma ideologia

ma das descrições mais relevantes da economista Joan Robinson é feita na publicação de David Henderson, editor da “The Concise Encyclopedia of Economics”: foi indiscutivelmente a única mulher nascida antes de 1930 que pode ser considerada uma “grande” economista. Estava ao mesmo nível de outros que receberam o Prémio Nobel. Na verdade, muitos economistas esperavam que ela ganhasse a distinção em 1975. A Business Week, prestigiada revista de negócios americana, tinha tanta certeza que tal aconteceria que chegou a publicar um longo artigo sobre a economista, antes de o pré-

mio desse ano ser anunciado. Mas o reconhecimento não aconteceu. Muitos economistas acreditam que a Academia Real Sueca, responsável pela atribuição do Prémio Nobel, terá sido tendenciosa contra Robinson por causa das opiniões políticas cada vez mais à esquerda, ao ponto de admirar a China de Mao Zedong e a Coreia do Norte de Kim Il Sung. Tais opiniões, consideradas extremistas, não deveriam ter afectado as hipóteses de receber um prémio pelos seus contributos intelectuais, mas, provavelmente, pesaram na decisão do júri.

Um contributo decisivo

O primeiro grande livro de Robinson foi o “The Economics of Imperfect Competi-

tion” (A Economia da Concorrência Imperfeita), no qual expôs um modelo de competição entre empresas, cada qual com algum poder de monopólio. Juntamente com o economista americano Edward Chamberlin, cuja teoria da concorrência monopolística tinha sido lançada apenas alguns meses antes, Joan Robinson iniciou aquela que ficou conhecida como a revolução da concorrência monopolística. Muitos economistas, influenciados pelos livros de Robinson e Chamberlin, acreditam que a maioria das indústrias não são nem perfeitamente competitivas, nem monopólios completos.

Em 1954, o artigo de Joan Robinson com o título “A Função de Produção e a Teoria do Capital” deu início ao que veio

JOAN ROBINSON

Joan Robinson (1903-1983) nasceu em Camberley, Inglaterra. Ensinou Economia em Cambridge de 1931 a 1971, tornando-se professora titular em 1965. No início da década de 1940, começou a introduzir aspectos da teoria marxista nos seus trabalhos. Em 1979, foi a primeira mulher a participar como membro honorário do King’s College. Além de ensinar a teoria keynesiana, escreveu várias obras destinadas a apresentar a teoria económica para o leitor não especialista.

a ser chamado de controvérsia de Cambridge. Robinson atacou a ideia de que o capital pode ser medido e agregado. Esta tornou-se a posição em Cambridge (Inglaterra).

Do outro lado do Atlântico, Paul Samuelson e Robert Solow também defenderam a então tradicional visão neoclássica de que o capital pode ser agregado. Mas Robinson venceria a batalha. Como afirma o historiador Mark Blaug, Samuelson fez uma “declaração de rendição incondicional”.

A discriminação de género parece ter retardado o avanço de Joan Robinson na academia. A economista leccionou na Universidade de Cambridge desde 1931 até se aposentar em 1971.

www.economiaemercado.co.mz | Maio 2024 50 SHAPERS | JOAN ROBINSON

em este artigo a propósito dos vários Bootcamps de Negócio1 orientados para o “Desenho de Modelos de Negócio” que tenho vindo a realizar no Gana, Botsuana e Moçambique2.

Verifico que nestes países - e nos diversos grupos com os quais trabalhei nas fases de Ideação, Start-up e Scale-up - estes empreendedores/as não fazem apelo à Africanicidade como um diferencial competitivo.

Neste artigo, desafio os meus leitores/as a responderem à seguinte questão: como pode a Africanicidade ser um diferencial competitivo para o sucesso dos negócios?

Vejamos sucessivamente, sobre o tema da Africanicidade:

Africanicidade, o que é e para que serve?

Como pode a Africanicidade gerar diferencial competitivo nas fases de:

- Criação de Valor (a);

- Entrega de Valor;

- E captura de Valor.

Conclusões.

(a) Dada a extensão deste tema, dividi-lo-ei em partes: neste artigo apenas abordarei a fase de “Criação de Valor”.

A. Africanicidade (AF), o que é e para que serve?

Na minha opinião, uma empresa adoptará o conceito e práticas de AF sempre e quando:

- Se encontrar dotada de processos de fusão, nas suas práticas de gestão modernas,

- De elementos de natureza social, cultural e espiritual tradicionais,

- [Elementos estes] que estão intimamente associados ao imaginário, aos usos, costumes e práticas no continente africano.

Servindo a AF para que as empresas possam:

- Criar e entregar Valor a segmentos específicos (i.e., nichos) de clientes.

“Africanicidade” Como Diferencial Competitivo Para o Sucesso dos Negócios (I)

- Capturar Valor para os seus accionistas e stakeholders.

- Gerar impacto (i.e., alinharem-se com os ODS3 - Objectivos de Desenvolvimento Sustentável).

- E, bem assim, permitir que estas empresas possam diferenciar-se dos seus mais directos competidores.

B. Como pode a Africanicidade gerar diferencial competitivo?

Para facilitar o entendimento, proponho a utilização de uma estrutura muito intuitiva e prática, o Business Model Canvas (BMC+)4:

Fases da Geração de Valor

A- Criação

B- Entrega

C - Captura

Vejamos como pode a AF estar ligada à fase de Criação de Valor enriquecendo não apenas o respectivo modelo de negócio, mas também contribuindo positivamente para a sociedade e aderindo aos ODS.

Dada a natureza sensorial e espiritual da AF, procuraremos utilizar uma abordagem através dos cinco sentidos: tacto, paladar, audição, olfacto e visão. Utilizaremos a figura do totem5 para sintetizar cada bloco de construção do BMC+.

1. A Africanicidade na fase da Criação de Valor

a. Segmento de Clientes

Este bloco do BMC+ responde à questão: Como podemos dividir o nosso público-alvo em grupos distintos com características semelhantes para melhor atender às

suas necessidades e criar estratégias de marketing direccionadas?

Formas de gerar valor através da AF com base:

- No tacto: elaboração de produtos que incorporam o calor e o espírito comunitário africano, como têxteis com padrões tradicionais.

- No paladar: oferta de alimentos que capturam os diversos gostos do país (v.g. no Zimbabué a sadza, Na África do Sul o biltong) conectando as pessoas à terra.

- Na audição: utilização da música tradicional, histórias no marketing e a língua local (v.g. a saudação zu-

Blocos de construção do BMC+

1. Segmento de Clientes

2. Proposta de Valor

3. Relação com o Cliente

4. Canais

5. Impactos (ODS)

6. Actividades Críticas

7. Recursos Críticos

8. Parcerias Críticas

9. Fontes de Receita

10. Estrutura de Custos

lu “Sawubona”6 utilizada nos aviões da South Africa Airlines), lembrando os clientes das suas raízes e herança compartilhada.

- Na visão: empregar cores vibrantes e padrões em marcas que são instantaneamente reconhecíveis como africanos (v.g. as fardas da tripulação de cabine da LAM).

- No olfacto: fundir produtos com aromas que evocam memórias da paisagem africana, como a chuva no capim da savana.

- E também na espiritualidade: incorporar significado espiritual em produtos, como símbolos que transmitem bênçãos ou protecção ao usuário.

Totem: a Palanca-Negra, simbolizando resiliência e beleza na diversidade, reflectindo um negócio que atende a

www.economiaemercado.co.mz | Maio 2024 52 OPINIÃO

uma ampla gama de necessidades dos clientes com graciosidade.

b. Proposta de Valor

Este bloco do BMC+ responde à questão: que Valor posso eu, cliente, obter do seu produto ou serviço e que não posso obter dos seus concorrentes?

Formas de gerar valor através da AF com base:

- No tacto: produtos que trazem conforto e conexão, como o artesanato que apoia os artesãos locais.

- No paladar: alimentos que não só nutrem, mas também contam uma história de herança e tradição.

- Na audição: serviços que incluem idiomas e dialectos locais, fazendo com que cada cliente se sinta ouvido e valorizado.

- Na visão: narrativa visual que captura a essência das paisagens e narrativas locais.

- No olfacto: produtos com aromas naturais que acalmam ou revigoram, aproveitando os ricos recursos botânicos de África.

- E também na espiritualidade: soluções que ressoam com as crenças espirituais dos clientes, oferecendo mais do que apenas um produto, mas uma conexão espiritual. Totem: o Elefante, representando força e sabedoria, destacando uma proposta de valor que é poderosa e perspicaz.

c. Relacionamento com o Cliente Este bloco do BMC+ responde à questão: como podemos construir e manter relacionamentos sólidos e duradouros com os nossos clientes, garantindo que as suas necessidades sejam atendidas e que eles permaneçam satisfeitos com os nossos produtos ou serviços?

Formas de gerar valor através da AF com base:

- No tacto: serviços personalizados que fazem com que os clientes se sintam fisicamente conectados à marca, mesmo em espaços digitais.

- No paladar: experiências que satisfazem o desejo de autenticidade e conexão genuína.

Como pode a Africanicidade ser um diferencial competitivo para o sucesso dos negócios?

- Na audição: escuta activa do feedback dos clientes, utilizando o storytelling tradicional africano como meio de comunicação.

- Na visão: transparência nas práticas comerciais, permitindo que os clientes vejam o impacto do seu mecenato.

- No olfacto: criar experiências de marca que são tão reconfortantes e convidativas quanto o cheiro da culinária caseira africana.

- E também na espiritualidade: fomentar relações que vão além das transacções, para conexões espirituais e comunitárias.

Totem: o Leão, símbolo de liderança e comunidade, incentivando relações fortes e respeitosas com os clientes.

d. Canais

Este bloco do BMC+ responde à questão:

por que canais ou meios a empresa pretende alcançar e comunicar com os seus clientes para entregar a sua proposta de valor?

Formas de gerar valor através da AF com base:

- No tacto: plataformas interactivas onde os clientes podem virtualmente “tocar” e explorar produtos.

- No paladar: marketing de “prova” de produtos, utilizando vernáculo local e referências.

- Na audição: canais que transmitem os sons vibrantes de África, da música às línguas locais.

- Na visão: meios visuais ricos em estética africana, mostrando a diversidade do continente.

- No olfacto: imagens e descrições que evocam os ricos aromas do mercado africano.

- E também na espiritualidade: canais que respeitam e incorporam práticas e crenças espirituais africanas.

Totem: a Águia Peixeira, emblemática da visão e da capacidade de navegar em diversos ambientes, reflectindo um negócio que chega aos seus clientes através de múltiplos canais bem seleccionados. Este artigo terá continuidade, e apenas por limites de espaço editorial aqui se interrompe.

Espero por si na próxima edição.

1 Bootcamp de Negócio: modelo de capacitação i) muito intensivo, ii) condensado temporalmente, iii) eminentemente focado em actividades práticas de detecção de oportunidades de negócio e, bem assim, de resolução de problemas, iv) as quais são realizadas principalmente em equipa, v) e orientado para resultados.

2 No âmbito do Global MBA for Impact And Entrepreneurship promovido pela Fundação E4Impact (Universidade Católica de Milão).

3 ODS (Objectivos de Desenvolvimento Sustentável): https://www.youtube.com/watch?v=XztZOlQcccI

4 BMC+ Business Model Canvas: conceito e ferramenta desenvolvidos por OSTERWALDER, Alexander e PIGNEUR, Ives “Business Model Generation - A Handbook for Visionaries, Game Changers, and Challengers” ISBN: 978-047087641-1. Adicionalmente, foi incorporado ao BMC original a dimensão IMPACTO Positivo e IMPACTO Negativo, de modo que se alinhasse com os ODS.

5 Totem: Em África, o conceito de totem é uma parte importante do património cultural do continente. Um totem é um símbolo ou emblema que representa uma família, clã ou tribo. Geralmente, é um animal, planta ou objecto natural considerado sagrado pelo grupo e serve como um lembrete de sua ancestralidade e tradições.

6 Sawubona: Em Zulu, esta saudação significa “eu vejo-te” ou “nós vemos-te”. É uma maneira calorosa de receber alguém e expressar que a pessoa é importante e valorizada. Seja bem-vindo!

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Há que conhecer os canais pelos quais as empresas chegam aos clientes

Transição Climática e IA são os Desafios a Vencer em Moçambique

Os CEO em Moçambique, ouvidos num estudo global da consultora PwC, estão optimistas quanto ao crescimento da economia. Embora reconheçam que as pressões tecnológicas e climáticas estão a acelerar, a maioria acredita que os seus negócios manter-se-ão viáveis nos próximos dez anos

Texto Jaime Fidalgo • Fotografia iStockPhoto

Global CEO Survey é um estudo global, publicado anualmente pela consultora PwC, que já vai na 27.ª edição. Com base em entrevistas a mais de 4700 gestores de topo em 105 países, os analistas procuram antecipar as perspectivas de crescimento da economia e dos negócios para este ano, assim como as principais tendências e desafios estratégicos. A edição de 2024 contou, pela primeira vez, com a participação de um painel de executivos moçambicanos, a maioria (66%) a trabalhar em grandes empresas.

A principal conclusão do estudo é que os CEO em Moçambique estão mais optimistas do que os seus pares internacionais. Cerca de 44% dos inquiridos no País consideram que a economia mundial irá crescer nos próximos 12 meses, uma percentagem superior aos 38% a nível global. Essa confiança é ainda maior no que se refere à economia moçambicana, dado que a grande maioria (72%) aposta na sua expansão.

A médio prazo, 66% dos CEO moçambicanos acreditam também no crescimento das receitas das suas empresas nos próximos três anos (face a 47%

a nível mundial). E quase metade (47%) quer até reforçar a sua força de trabalho durante os próximos 12 meses, aumentando o número de colaboradores em, pelo menos, 5% (face a 39% a nível mundial).

A longo prazo, 59% dos CEO em Moçambique estão convictos que os seus negócios manter-se-ão viáveis por mais de dez anos, quando a mesma pergunta obteve 53% de respostas afirmativas a nível mundial. Em sentido contrário, enquanto 45% dos gestores globais defendem a necessidade de mudança para que os seus negócios possam sobreviver mais que uma década, essa percentagem cai para 38% em Moçambique.

A regulação é o tema que mais preocupa os gestores

No que se refere aos riscos, os CEO do País apontam a regulação governamental (com 53% de respostas) e as alterações tecnológicas (44%) como os factores que, nos últimos cinco anos, tiveram maior impacto negativo na sua capacidade de criar valor (as escolhas invertem-se a nível mundial). Para os próximos três anos, todos concordam que a influência desses dois factores continuará elevada, mas prevêem que a maior ameaça

A preocupação mais imediata dos CEO nacionais é o risco de exposição das suas empresas à inflação, seguida da volatilidade macroeconómica, da desigualdade social e dos conflitos geopolíticos

passará a estar na alteração de preferências do cliente, um critério que obteve 56% de respostas em Moçambique.

Para este ano, a preocupação mais imediata dos CEO nacionais é o risco de exposição das suas empresas à inflação (com 28% das respostas), seguida da volatilidade macroeconómica, da desigualdade social e dos conflitos geopolíticos (todas com 22%). A nível global, as opiniões não divergem quanto à importância relativa da inflação e da incerteza económica (24%), mas são os riscos cibernéticos (22%) que surgem em terceiro lugar.

Aproveitar a oportunidade da Inteligência Artificial (IA)

Segundo os dados do estudo, os gestores em Moçambique também estão mais confiantes do que os seus pares

www.economiaemercado.co.mz | Maio 2024 54 M&F | GLOBAL CEO SURVEY

Atravessamos tempos de “reinvenção”

“Os líderes empresariais estão agora menos preocupados com os desafios macroeconómicos e mais concentrados nas forças disruptivas que afectam os seus sectores de actividade. Quer se trate de acelerar a implementação da IA generativa ou de enfrentar os desafios e oportunidades da transição climática, este será um ano de transformação”.

Enfrentar os desafios com confiança

“Os principais resultados do País mostram uma grande confiança no futuro das suas empresas nos próximos dez anos, assumindo diversos factores de reinvenção, como a tecnologia, a regulação ou as alterações climáticas. Os CEO aparentam estar à frente no progresso das medidas relacionadas com a acção climática...”

Os CEO em Moçambique também demonstraram estar mais confiantes na sua capacidade para vencer o desafio da transição climática: 34% dos gestores locais (30% globalmente) acreditam que esta será uma tendência que irá alterar a forma como as suas organizações criam, oferecem e captam valor nos próximos três anos. E a esmagadora maioria (quer na sondagem local, quer na global) assegura já ter passado dos compromissos à acção. Concretamente, cerca de dois terços dos gestores dizem já ter iniciado, ou concluído, medidas para melhorar a eficiência energética da sua actividade, enquanto 59% (47% a nível mundial) afirmam já ter feito progressos na protecção contra o risco climático dos seus recursos físicos e humanos. Por outro lado, 56% (45% globalmente) confirmam avanços na integração dos riscos climáticos no seu planeamento financeiro, embora 31% confessem que ainda não sabem quando irão fazê-lo. As iniciativas para requalificar a força de trabalho também estão em curso, ou concluídas, em 50% das organizações nacionais inquiridas (44% a nível mundial), embora 34% ainda não o tenham feito. Relativamente ao impacto esperado dos investimentos relacionados com as questões ambientais, cada vez mais CEO estão dispostos a aceitar menores taxas de retorno face a outros tipos de investimento.

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DESCARBONIZAÇÃO
APOSTAR NA TRANSIÇÃO CLIMÁTICA E NA

ECONOMIA: mais optimismo em Moçambique do que no mundo

60% dos CEO acreditam no crescimento, ou manutenção, da economia global em 2024. A sondagem global é mais pessimista, enquanto a africana é ligeiramente mais risonha

Manter-se Aumentar

EMPRESAS: maior confiança na continuidade dos seus negócios

Cerca de 60% dos CEO nacionais têm a perceção de que não precisam de transformar as suas empresas para garantir a viabilidade a mais de 10 anos. Só em Cabo Verde o optimismo é maior

moçambicanos temem riscos de cibersegurança

Os CEO em Moçambique têm em curso várias acções de resposta às alterações climáticas. Algumas dessas iniciativas estão, inclusivamente, acima da média mundial e de África

de cibersegurança

NEGÓCIOS:

mais

confiança no crescimento das receitas a médio prazo

Os CEO em Moçambique têm mais esperança no aumento da facturação nos próximos três anos (66%) do que durante 2024 (31%). A pesquisa indica que a mesma tendência deve verificar-se quer em África, quer em todo o mundo

de desinformação

legal e riscos reputacionais

RISCOS: mais preocupados com a inflação nos próximos 12 meses

Os CEO moçambicanos colocam a inflação, a volatilidade macroeconómica, o conflito geopolítico e a desigualdade no topo da lista. O continente africano teme, sobretudo, os dois primeiros riscos, provavelmente devido a um recente histórico de instabilidade

www.economiaemercado.co.mz | Maio 2024 56
Moçambique África Mundial 41% 34% 45% 16% 16% 49% 38% 16% 44%
Diminuir
≤ 10 anos > 10 anos Próximos 12 meses Próximos 3 anos Moçambique África Mundial 31% 66% 61% 49% 37% 52% Quénia Angola Tanzânia Cabo Verde Moçambique Mundial África 38% 59% 26% 74% 46% 51% 48% 46% 50% 50% 43% 53% 45% 53% Moçambique Mundial África Inflação Volatilidade macroeconómica Desigualdade social Conflito geopolítico Riscos cibernéticos Riscos para a saúde Alterações climáticas 28% 24% 24% 5% 18% 21% 11% 12% 45% 37% 21% 22% 11% 18% 12% 22% 22% 22% 19% 13% 13%
IA:
69% 64% Moçambique Mundial Riscos
Propagação
Responsabilização
Preconceito
relação
grupos específicos
ou funcionários 47% 52% 47% 46% 31% 34% M&F | CEO SURVEY
em
a
de clientes

ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS: melhorar a eficiência energética é uma prioridade a tomar em consideração para o futuro

Os CEO em Moçambique têm em curso várias acções de resposta às alterações climáticas. Algumas dessas iniciativas estão, inclusivamente, acima da média mundial e de África

Melhorar a eficiência energética (incluindo a redução do consumo energético)

Inovar em produtos, serviços ou tecnologias climate-friendly

Iniciativas para proteger os activos físicos e/ou a força de trabalho das nossas empresas dos riscos climáticos

Incluir os riscos climáticos no planeamento financeiro

Venda de produtos, serviços ou tecnologias que apoiam os esforços de resiliência climática dos clientes

Iniciativas para requalificar a nossa força de trabalho, preparando para as mudanças climáticas

Investir em soluções climáticas baseadas na natureza

quanto ao potencial da Inteligência Artificial (IA): 47% dos gestores nacionais esperam que a IA generativa vá gerar um efeito positivo nas receitas (versus 41% a nível global) e 53% antevêem benefícios nos lucros (face a 46% globalmente). A diferença é que os CEO internacionais antevêem um impacto mais imediato no curto prazo: 44% dos moçambicanos esperam que, este ano, a IA promova a melhoria da qualidade dos seus produtos e serviços (versus 58%) e 31% acreditam que irá aumentar a sua capacidade de construir confiança junto dos stakeholders (versus 48%). Por outro lado, apesar de a generalidade dos CEO considerar a GenAI como o motor da reinvenção das empresas, devido ao seu potencial para ganhos de inovação e eficiência, apenas 16% dos gestores de topo em Moçambique confessam ter mudado a estratégia tecnológica da sua empresa, devido à GenAI, nos últimos 12 meses. Para os próximos três anos, enquanto 66% dos moçambicanos consideram que a

Apesar de a generalidade dos CEO considerar a GenAI como o motor da reinvenção, apenas 16% confessam ter mudado a estratégia tecnológica

utilização desta tecnologia irá aumentar a rivalidade no seu sector de actividade e exigirá a necessidade de desenvolver novas competências e de melhorar as qualificações dos colaboradores, globalmente a taxa de concordância é ligeiramente superior (68% e 69%, respectivamente).

No que respeita às principais preocupações em torno da GenAI, tanto os gestores locais como os internacionais elegeram o aumento dos riscos de cibersegurança (com 69% de respostas em Moçambique) como a maior ameaça. Outros potenciais perigos apontados foram a desinformação (47%), as responsabilidades legais e os riscos reputacionais (47%) e o preconceito face a grupos específicos de clientes e de colaboradores (31%).

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FONTE 27.º Global CEO Survey - Moçambique, PWC
76% 75% 44% 41% 47% 56% 45% 60% 50% 44% 41% 42% 56% 44%
“Já

Crescemos

Muito, Mas Ainda Não é Suficiente”

A Vivo Energy Moçambique, que detém a licença comercial da Engen, completa cinco anos de actividade com um crescimento “sólido e sustentável”. A empresa quer continuar a crescer e há um amplo espaço de oportunidades no País que, para o director-geral, Moussa Konaté, vai “determinar a presença ainda mais forte” no mercado dos combustíveis ao longo dos próximos anos

esde a sua criação, em 2019, a Vivo Energy Moçambique tem-se destacado no sector da energia através da sua aposta no segmento de retalho e optimização do consumo de combustíveis das grandes empresas, incluindo, mais recentemente, o fornecimento para aeronaves. No quadro da sustentabilidade, prepara-se para investir na instalação de estações de carga para veículos eléctricos – que ainda não chegaram, mas são uma aposta global –, e na emancipação da mulher. Tudo isto, adicionado ao potencial energético do País, capaz de transformar o mercado num hub regional, será determinante para a aposta que a Vivo Energy está a projectar, garante o director-geral da empresa, Moussa Konaté.

Esta entrevista acontece num momento em que completa cinco anos de operação em Moçambique. Como avalia este percurso?

Começámos em Março de 2019 com os negócios da Engen. A Vivo comprou parte do pacote dos negócios da marca em oito países. Nessa altura, era um pequeno negócio, que não estava alinhado com a visão da Vivo Energy, de nos tornarmos líderes no mais respeitado negócio de energia em África. O interesse por Moçambique residiu no facto de o País ser estratégico nesta parte do continente. Ou seja, o tamanho do negócio mostra que há espaço para que o grupo cresça. Repare, quando começámos, tínhamos uma rede de retalho de combustível de apenas 19 postos, concentrados na região sul, mas agora são mais de 50, o que nos leva a dizer que estes cinco anos foram de transformação. Transformámos completamente a nossa pos-

tura, dando mais visibilidade ao negócio. De pequeno interveniente no mercado, passámos a um dos cinco players de peso no País. Ainda não estamos satisfeitos, porque nos mercados onde estamos presentes, fazemos sempre parte dos principais operadores.

O segmento de retalho vai continuar a ser a vossa estratégia ou haverá alguma mudança nos próximos anos?

Agora estamos focados em construir uma rede de retalho muito forte. Na forma como operamos, o retalho é a espinha dor-

Por falar no impacto social, nota-se, na Vivo Energy, algum foco na promoção do equilíbrio de género, o que não é habitual nesta área de negócios. Que impacto é que esta postura traz para as vossas operações? Mantemos o foco em criar oportunidades de emprego para mulheres, e é muito raro no nosso negócio haver um número de mulheres como o que temos hoje. A nossa força de trabalho feminina está nos 47%, o que para nós é uma proporção importante e em que temos muito orgulho, já que a maioria das mu-

“Moçambique pode ser um

grande

interveniente energético da

região da

África

Austral. Por isso, queremos contribuir para a construção de uma posição estratégica

do País”

sal do nosso modelo de negócio, porque é assim que pensamos construir a nossa resiliência. Aquilo a que se assiste muitas vezes é ao risco de termos um cliente que, de repente, decide rescindir contrato e isso obriga a mudanças de estratégia. Como aconteceu quando comprámos a Engen em 2019: era fornecedora da Vale, mas, um ano depois, esse contrato terminou. Nós precisávamos de nos reinventar e ter um modelo de operação em Moçambique. Foi aí que mudámos o perfil do negócio e da empresa. O resultado é que, dos 32 empregados directos que tínhamos, passámos para mais de 80 e a Vivo Energy é mais do que uma grande família: além dos trabalhadores directos e indirectos, gera impacto em mais de 2000 lares. Orgulhamo-nos disso.

lheres tem uma grande responsabilidade no País. Internamente, temos mulheres que se sentam no nosso comité de liderança. Isso, para nós, é uma transformação importante no negócio. Tem sido uma jornada fantástica. Ainda não estamos lá, mas acreditamos que o que fizemos nos últimos cinco anos é recomendável e continuaremos a nossa jornada de crescimento.

Quando diz que a Vivo Energy “ainda não está lá”, a que se refere em concreto?

Quero dizer que ainda temos muito espaço por explorar. Estamos à procura de oportunidades. Aumentámos o nosso mercado, mas ainda não é suficiente. Se olhar para o potencial, notará facilmente

www.economiaemercado.co.mz | Maio 2024 58 CEO TALKS | MOUSSA KONATE
Pedro Cativelos • Fotografia Mariano Silva & iStokphoto

MOUSSA KONATE Director-geral da Vivo Energy Moçambique

MOUSSA KONATÉ

Tem mais de 25 anos de experiência em negócios downstream em África.

Actualmente é director-geral da Vivo Energy Moçambique, trabalhando para impulsionar o sucesso da jornada de transformação da empresa desde Setembro de 2020. Antes de Moçambique, foi o director-geral da Vivo Energy Cabo Verde, entre 2017 e o ano de 2020.

Moussa viveu e trabalhou no Mali, Madagáscar, Costa do Marfim, Gana como director financeiro Nacional entre 1999 e 2017, mas também como gestor financeiro de negócios de Retalho para a Shell África de 2011 a 2012.

que Moçambique pode ser um grande interveniente energético da região da África Austral. Por isso, queremos contribuir para a construção de uma posição estratégica do País, para também posicionarmos o nosso negócio.

Por falar no vosso posicionamento enquanto empresa, e sabendo que estão focados na oferta de serviços de retalho, que linhas de serviço constituem a vossa grande aposta? Nós operamos na rede de retalho de combustível em mais de 50 postos, mas também operamos em business-to-business (B2B) com as grandes empresas, apoiando-as na optimização dos seus níveis de consumo de combustível e nas suas necessidades energéticas. Além de sermos distribuidores, oferecemos soluções de energia que consistem em combinar combustível e renováveis. Ou seja, podemos oferecer energia mista aos nossos clientes B2B, incluindo no sector da mineração. Aliás, em África, a Vivo Energy é um dos principais players no sector da mineração. Oferecemos aos nossos clientes soluções energéticas híbridas, e eles só têm de se preocu-

par com o seu negócio principal. Somos também a única representante de lubrificantes em gel em toda a África. E em Outubro do ano passado, começámos a fornecer combustível para aeronaves no País, com um resultado encorajador. Estamos a desenvolver outras actividades e a trabalhar muito para diversificar o nosso portefólio.

Nos últimos anos, o mercado moçambicano enfrentou dificuldades ocasionadas pela subida da inflação, guerras, etc. Mas, agora, as condições de mercado parecem estar melhores. Tem a mesma percepção?

O mercado de combustível em Moçambique não está completamente maturado, mas está a evoluir, e irá consolidar-se por si mesmo. Para isso, os principais intervenientes vão ter um papel importante. Há uma competição dura, mas o regulador (Autoridade Reguladora de Energia - ARENE) está a fazer um trabalho fantástico, ao ter introduzido algumas medidas, com destaque para a marcação dos produtos petrolíferos (para

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“Acredito que África, definitivamente, será o futuro do mundo. Por isso, a Vivo Energy tem negócios baseados aqui, e Moçambique tem oportunidades iguais às de outros países”

evitar o contrabando e a introdução de combustível adulterado no mercado nacional). Penso, também, que as autoridades geriram bem a crise de combustível ocasionada pela covid-19 e depois da pandemia, assim como pela guerra Rússia-Ucrânia. Quando tivemos de aumentar o preço dos combustíveis num cenário de fraco poder de compra dos Estados africanos, estes foram obrigados a intervir. Em Moçambique, as autoridades fizeram muito bem ao terem reagido, aumentando o preço. Na altura, nós, enquanto parte integrante das empresas fornecedoras de combustíveis, assinámos um memorando de entendimento com as autoridades, que previa compensações ao mecanismo de preços. Felizmente, o preço internacional do combustível estabilizou. Hoje, a situação está a melhorar e penso que continuará nesse caminho: não acredito que, em breve, qualquer combustível vá aumentar de preço. Isto apesar de haver factores de risco, como a guerra Rússia-Ucrânia, combinada com o conflito em Israel e na Palestina. Todos estes problemas têm impacto na dinâmica económica internacional, e nós não queremos combustível caro.

Enquanto vendedores, parece contraditório que não estejam interessados em que o combustível esteja caro. Como o explica?

A vida é fácil se o combustível não é caro. É que no momento em que o preço subir, o Estado não tem escolha senão intervir. E nessa intervenção, nós, os operadores, é que tomamos o golpe. Por isso é que gostaríamos de ter preços baixos nos combustíveis. Embora a situação verificada há um ano não seja de todo má, há alguns operadores do mercado, especialmente os de pequena e média dimensão, a enfrentarem sérias dificuldades, principalmente depois de o Banco de Moçambique ter deixado de comparticipar nas facturas de importação de combustíveis (essa responsabilidade passou a ser suportada pelos bancos comerciais).

Geralmente os países apresentam modelos diferentes para fazer negócios, dependendo do tipo de produto. Existem países onde os mercados são mais liberalizados do que outros, seja em África ou no mundo. Qual é a sua opinião

sobre o modelo moçambicano na área dos combustíveis?

Estamos a operar num ambiente em que o mercado é completamente liberalizado, isto é, o suporte é liberalizado e o preço é regulado, ao contrário de alguns mercados que são semi-liberalizados (tanto o suporte quanto o preço dos combustíveis são regulados). Mas no caso de Moçambique, esta é uma escolha do regulador, que se baseia no nível de maturidade da economia e no poder de compra. Como sabe, o combustível é a matéria-prima de muitos produtos e, se algo acontecer, perde-se facilmente o controlo da economia, podendo causar inflação. É isso que as autoridades querem controlar.

Quem visita a Europa nos dias que correm vê muitos automóveis eléctricos, uma realidade que ainda não chegou à maior parte dos países africanos. Como é que interpreta esta questão? Estamos preparados?

Se for à África do Sul, verá muitos automóveis eléctricos. Estamos a monitorizar este mercado. Temos empresas que estão muito activas, a construir as bases eléctricas de carregamento para este segmento da indústria automóvel. Nós estamos mais do que prontos. Nalguns dos países onde operamos, já demos um passo importante para começar a colocar pontos de carga eléctrica para veículos nas nossas estações de venda. Esse será o nosso negócio no futuro.

Qual é a sua expectativa para os próximos anos, quanto ao desempenho da economia moçambicana e dos vossos investimentos no País?

Estamos aqui para o longo prazo. Nós construímos para o futuro, não para hoje, e projectámos Moçambique como o futuro para esta região de África. Estamos todos à espera do projecto de LNG no norte, que será, definitivamente, o “campeão do jogo”. Moçambique está cheio de oportunidades. Se olhar para as regiões de Manica, a actividade de mineração que se pode desenvolver é incrível. Até na região de Gaza e Inhambane, há muito potencial. Por isso, acreditamos no futuro de Moçambique e antecipamo-nos, porque queremos ser parte dessa mudança e da jornada de crescimento. Eu acredito que África, definitivamente, será o futuro do mundo. Por isso, a Vivo Energy tem negócios baseados neste continente, e Moçambique tem oportunidades como as que são oferecidas por muitos países africanos.

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especial inovações daqui

64 CIBERSEGURANÇA

Numa altura em que se torna relevante combater a vulnerabilidade aos ataques cibernéticos, Moçambique prepara-se para atacar o problema pelo lado legal e deve, em breve, tornar-se no novo signatário da Convenção de Budapeste, a convite da UE

Conheça o espaço de desenvolvimento de talentos africanos em Design criado por um jovem moçambicano

As notícias da inovação em Moçambique, África e no Mundo.

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AFRICANS WHO DESIGN PANORAMA

Inovar na Lei Para Garantir a Segurança Cibernética

Moçambique quer integrar o grupo de países signatários da Convenção de Budapeste, o único tratado internacional em vigor contra o cibercrime. Com o apoio da União Europeia (UE), estão em curso acções de formação, criação de leis e estruturas para prevenir ataques informáticos e não só

oçambique recebeu a 7 de Fevereiro um convite da União Europeia (UE) para aderir à Convenção de Budapeste, o único tratado internacional em vigor contra o cibercrime, criando um quadro legal de referência em termos de Direito Penal, ferramentas processuais e normas de cooperação. No entanto, para aderir à convenção, há uma série de requisitos que um Estado deve cumprir. Um deles é a formulação e implementação de leis e a criação de regulamentos sobre cibersegurança. A União Europeia (UE) dá aos Estados interessados um período de cinco anos para se organizarem e cumprirem os requisitos de adesão. “Nós estamos agora nesse ponto inicial”, afirmou Lourino Chemane, presidente do conselho de administração (PCA) do Instituto Nacional de Tecnologias de Informação e Comunicação (INTIC), entidade reguladora do sector.

Desde Dezembro que Moçambique está entre os 20 países beneficiários do projecto GLACY-e, iniciativa promovida pelo Conselho Europeu, com vista à capacitação em assuntos ligados à

segurança cibernética. Com este projecto, o País passa a ser abrangido por acções de formação e desenvolvimento do quadro legal na área da segurança cibernética, crimes cibernéticos e protecção de dados. Este projecto surge para apoiar países não membros da UE a prepararem-se para aderir à convenção, mas também para apoiar países-membros a aprimorar os mecanismos necessários e actualizar os instrumentos de combate ao crime cibernético dentro do bloco. “Através do projecto GLACY-e, a UE realiza reuniões, acções de formação e capacitação para as principais entidades, nomeadamente juízes, magistrados, procuradores e polícias de investigação criminal, no sentido de dominarem estas matérias. Mas também promovem apoio na elaboração de leis”, disse o PCA do INTIC. Só depois de se verificar se o País cumpre os requisitos técnicos e se estará ao nível dos países da UE, é que se torna membro da Convenção. “Estamos a trabalhar com diferentes entidades do sector público, da sociedade civil, da academia e do sector privado, e recolhemos contributos no sentido de melhorar a proposta de Lei de Segurança Cibernética”, afirmou Lourino Chemane.

“Estamos a trabalhar com diferentes entidades do sector público e privado, da sociedade civil e da academia, e recolhemos contributos no sentido de melhorar a proposta de lei”, Lourino Chemane

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CIBERSEGURANÇA
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LOURINO CHEMANE PCA do Instituto Nacional de Tecnologias de Informação e Comunicação (INTIC)

A relevância da cooperação internacional

Segundo o PCA do INTIC, “não é possível cada Estado, sozinho e de forma isolada, garantir a segurança do espaço cibernético. É fundamental e muito importante a cooperação e a colaboração internacional. Os perpetradores de crimes cibernéticos e de abusos no nosso País podem estar noutros Estados. Tem de haver colaboração internacional na identificação e responsabilização. Ao nível da região da SADC, há um mecanismo igual, do qual fazemos parte, que é a Convenção de Malabo”.

A Convenção de Malabo, também conhecida como Convenção da União Africana sobre Cibersegurança e Protecção de Dados Pessoais, foi redigida em 2011 e adoptada em 2014, durante a Cimeira da União Africana na capital da Guiné Equatorial. Moçambique é membro desta Convenção desde 2018. “A preocupação com a segurança e crime cibernético não começou agora. E não é uma preocupação só de Moçambique, é global. Foi neste contexto que manifestámos interesse em cooperar com a UE e aderir à Convenção de Budapeste”, esclareceu.

tissectoriais estão a participar em actividades internacionais ligadas a esta área. Além disso, o Governo aprovou, em Outubro do ano passado, o regulamento de registo e licenciamento de “provedores intermediários de serviços electrónicos e de operadores de plataformas digitais”. Este instrumento normativo tem elementos de segurança e de responsabilização. A Lei de Transacções Electrónicas, aprovada em 2017, tem também um capítulo que trata da dimensão de protecção de dados. A segunda dimensão é a de mecanismos tecnológicos. O Governo aprovou, em 2021, a política e a estratégia de segurança cibernética, um instrumento que conta com 25 iniciativas que devem ser implementadas para melhorar a capacidade de segurança cibernética. Uma das prioridades é a criação de grupos de resposta a incidentes de segurança cibernética, divididos em três níveis. No topo da hierarquia está o grupo de resposta a incidentes de nível nacional, lançado em 2023, com operação sob responsabilidade do INTIC. No segundo nível está o grupo de resposta a incidentes de nível sec-

“Para nós, a primeira vertente de combate ao cibercrime passa por estabelecer instrumentos normativos, leis e regulamentos para a segurança cibernética. Um trabalho apoiado pela UE”

Um país vulnerável a ataques e as quatro dimensões de acção

Segundo dados da empresa portuguesa de tecnologia Bravantic, Moçambique está entre os países que mais sofrem ataques cibernéticos. Mensalmente, o País sofre quase 1,5 milhões de ataques, o que revela altos níveis de vulnerabilidade. Só no primeiro semestre de 2023, Moçambique tinha registado um total de 367 processos relacionados com crimes cibernéticos e, embora os números representem uma redução de 6,6% comparando com o mesmo período de 2022, a situação ainda é descrita como alarmante. Entre todos os casos, destacam-se o ataque a quase 30 portais do Governo, em Fevereiro de 2022, no qual piratas informáticos bloquearam e tornaram inacessíveis várias páginas e serviços.

Para o INTIC, a primeira vertente de combate ao cibercrime passa por estabelecer instrumentos normativos, leis e regulamentos para a segurança cibernética, algo que está a ser preparado através da cooperação com a UE. Equipas mul-

torial. Por exemplo, os reguladores sectoriais (financeiro, de energia, da educação, entre outros) devem estabelecer o referido grupo de resposta. E, por último, as instituições, em particular aquelas que gerem infra-estruturas críticas, como de fornecimento de energia, de telecomunicações, de água e de gás, devem ter grupos de resposta a incidentes de segurança cibernética institucionais. Todas estas equipas são constituídas por técnicos com competência especializada em mecanismos e ferramentas de segurança cibernética, mas também em identificação e análise de incidentes, apontando caminhos para o seu tratamento.

“O mês de Fevereiro é definido como o mês da Internet mais segura. Estamos a promover campanhas de sensibilização e educação da sociedade sobre o comportamento que o cidadão e os funcionários de instituições públicas, privadas e da academia devem ter quando tratam a informação da segurança cibernética, visando proteger os utilizadores, concretamente o cidadão”, concluiu.

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AFRICANS WHO DESIGN

África Quer Criar o Mais Alto Padrão de Design do Mundo

Na intersecção entre a cultura, identidade e inovação, encontra-se um espaço vibrante e dinâmico onde os designers africanos podem redefinir paradigmas e moldar o futuro. É o nascer de mais uma iniciativa com largas hipóteses de colocar África no topo do mundo, numa área que tem vindo a ganhar cada vez maior relevância nos mercados: o design

or que razão África, com toda a riqueza que caracteriza os seus povos do ponto de vista cultural e até de talentos estabelecidos, não tem uma identidade própria que se manifeste visualmente através do design? Se durante muitos anos esta questão não encontrou resposta, o mesmo não se poderá dizer num futuro próximo. A necessidade de definir uma plataforma que não apenas celebre a riqueza da estética africana, mas também proporcione um espaço vital para a colaboração, crescimento e visibilidade dos talentos emergentes em design, está a provocar mudanças profundas.

Guidione Machava, um jovem empreendedor moçambicano, transformou essa necessidade num sonho cada vez mais próximo de se tornar realidade, ao apresentar a Africans Who Design. “O design africano tem uma maior representatividade, porém, a falta de um espaço que impulsione isso constituía um problema. Na verdade, o Africans Who design chega para mostrar a grandeza do design africano através destes profissionais”, começa por explicar à E&M o fundador da plataforma em https://www. africanswhoDesign.io

De acordo com uma descrição feita na própria plataforma, trata-se de uma iniciativa criada e promovida pela World-Class Designer School (escola de Design de nível superior, que se concentra em preparar designers africanos para o mercado de produtos digitais local e in-

ternacional). “É um farol de inspiração e celebração da rica diversidade e criatividade da comunidade de design africana. A nossa missão está profundamente enraizada no respeito e admiração que temos pela vibrante tapeçaria de talentos do design africano”.

Lançada oficialmente a 1 de Abril de 2024, também com o objectivo de servir de espaço onde o mundo possa ter acesso a uma vasta lista de criativos que têm impulsionado o design africano, a Africans Who design já conta com uma selecção de profissionais que têm em comum uma capacidade e criatividade consideradas excepcionais e uma profunda paixão pelo design.

“A plataforma reúne profissionais de diversos países africanos, como Moçambique, Angola, Argélia, Benim, Botsuana, Burkina Faso, Burundi, Cabo Verde, Camarões, Chade, Congo, Costa do Marfim, República Democrática do Congo, Djibuti, Egipto, Eritreia, Essuatíni e Etiópia. Estamos empenhados em expandir a nossa rede para incluir mais profissionais de outros países do continente africano. Diariamente, mais de 100 designers de diversas partes de África inscrevem-se na plataforma”, destaca Guidione, segundo o qual, os profissionais presentes actuam em diversas áreas do design, tais como design Educacional, Game design, Content design, UX Research, Direcção Criativa, Direcção de Arte, Ilustração, Design de Marca, Design Web, Motion Design, Design de Produto, Design de Interface (UI), Experience Design (UX) e Design Gráfico.

PLATAFORMA

Africans Who Design

FUNDADOR

Guidione Machava

COLABORADORES

4

ANO DE LANÇAMENTO 2024

“À medida que mais designers se juntam à plataforma, maior é a documentação, celebração e apresentação do talento que o continente tem, e que, muitas vezes, não é referenciado. Mas é este talento que está a mudar o mundo através da sua actuação em diversas empresas de sectores como tecnologia e criatividade”, realça Guidione Machava.

Questionado sobre as vantagens de os designers estarem inscritos nesta plataforma, o jovem empreendedor explicou que o valor está na notoriedade, na ligação à diversidade de designers africanos, competências e experiência – tudo junto, levando a uma maior divulgação. O portal torna ainda possível que empresas que procuram por profissionais nesta área tenham o processo de recrutamento ou contratação facilitado pela diversidade de escolhas presentes no site Africans Who Design.

www.economiaemercado.co.mz | Maio 2024 68 APP

“A plataforma está em constante actualização” para dar mais vantagens aos designers africanos. “Quem está presente, está visível para o mundo”, salientou. O objectivo é que a plataforma venha a ser um reflexo dos mais elevados padrões de excelência em design, apresentando apenas os profissionais mais talentosos da área no continente africano. A Africans Who Design abre espaço para que quem esteja interessado em fazer parte da plataforma, o faça através de um registo directamente no site, com o fornecimento dos detalhes da sua actividade - tendo em conta os critérios exigidos, como a capacidade e criatividade excepcionais, para que assim possam ser destacados os profissionais mais talentosos de cada área, pois a ideia é tornar a plataforma num reflexo dos mais elevados padrões de excelência em design no continente africano.

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GUIDIONE MACHAVA Fundador da plataforma Africans Who Design

Fintechs

Renew Capital anuncia investimento em fintech moçambicana

Digitalização

A Renew Capital, empresa que investe em Micro, Pequenas e Médias Empresas (MPME) africanas orientadas para o crescimento, anunciou, recentemente, o seu primeiro investimento em Moçambique, apoiando a Roscas – uma fintech que visa digitalizar grupos de poupança tradicionais, integrando ferramentas e produtos financeiros adaptados às necessidades do sector informal.

A Roscas tem como objectivo fornecer aos indivíduos e às MPME as ferramentas e os recursos de que necessitam para construir um futuro melhor. “Com uma estratégia multicanal robusta que abrange plataformas como

Vodacom Moçambique investe 25 milhões de dólares na construção de um centro de dados de última geração

O objectivo da operadora móvel Vodacom é reforçar a infra-estrutura digital de Moçambique. O projecto, cujo investimento está avaliado em 25 milhões de dólares, será realizado em três fases, estando a conclusão da primeira prevista para Julho deste ano.

O futuro centro de dados será equipado com infra-estrutura tecnológica de ponta, com capacidade avançada de rede e sistemas de segurança robustos, características que vão garantir um desempenho óptimo, fiabilidade e escalabilidade para atender às crescentes exigências do ecossistema digital. Vai também

Tecnologia

comportar múltiplas camadas de medidas de segurança físicas e digitais, desde controlos de acesso biométricos até protocolos avançados de encriptação, medidas de segurança rigorosas que protegerão dados sensíveis e defenderão contra potenciais ameaças cibernéticas.

A infra-estrutura foi desenhada pensando também na sustentabilidade. Vai incorporar tecnologias de eficiência energética para minimizar a sua pegada ambiental e recorrer a fontes de energia renováveis. A instalação optimizará o consumo de energia e reduzirá os custos operacionais.

Tanzânia contará com um centro de inovação digital

A Tanzânia, país vizinho de Moçambique, pretende lançar, em colaboração com a União Internacional das Telecomunicações (UIT), um centro de inovação digital destinado a acelerar a evolução em todo o

domínio das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), tanto a nível nacional como internacional.

A revelação aconteceu depois da reunião inaugural da UIT que realizou com o seu conselho de inovação digital em Genebra, Suíça, de 19 a 20 de Março. O país recebeu autorização para estabelecer um centro supervisionado pela UIT como parte da sua rede de centros de inovação (Centros de Aceleração da UIT), que estão distribuídos a nível mundial, regional e nacional.

O centro de inovação digital permitirá que indivíduos e organizações se reúnam para colaborar, experimentar e desenvolver soluções inovadoras utilizando tecnologias digitais.

o WhatsApp, USSD e aplicações móveis, a Roscas pretende garantir que o seu conjunto de produtos financeiros chegue ao público-alvo com uma facilidade inigualável”, escreve o site,l.

Segundo o documento, a decisão de investir na Roscas sublinha o reconhecimento do papel que as soluções inovadoras de tecnologia financeira desempenham na promoção do crescimento económico. “Estamos satisfeitos por apoiar a equipa na concretização do seu objectivo, melhorando serviços e alargando o seu impacto”, afirmou Licínio Chissano, gestor de Investimentos e Projectos da Renew Capital.

Health Techs

Startup africana lança novo aplicativo com POS digital e leitor de código de barras

A Remedial Health, uma empresa nigeriana de saúde electrónica que desenvolve soluções para tornar a cadeia de valor farmacêutica de África mais eficiente, revelou uma versão actualizada da sua aplicação virada para o cliente, concebida para funcionar como um sistema operativo para farmácias de bairro e Fornecedores de Medicamentos com Patentes Proprietárias (PPMV) em todo o continente.

A nova aplicação da startup inclui um terminal POS digital para suportar a cobrança de pagamentos, contas comerciais virtuais para receber pagamentos, uma funcionalidade integrada de leitura de códigos de barras para registar as vendas de produtos e a funcionalidade de troca de lojas para permitir a gestão perfeita de várias lojas, bem como soluções de gestão de inventário para reabastecer e identificar facilmente produtos em falta.

A app foi lançada em 2020 por Samuel Okwuada e Victor Benjamin.

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ESCAPE

China

Uma viagem pela

Cidade Proibida da China

Imperial

GOURMET

Boteco

Um bom lugar para descontrair e tomar um petisco delicioso

ADEGA Petrus

A lenda de Bordeaux que ostenta o título de vinho mais caro do mundo

EMPREENDEDOR

Chez Rita Créations

A mão de uma brasileira nos tecidos e moda de África AGENDA

Todos os eventos globais que não pode perder, incluindo as artes 80 78

Maio 2024

VOLANTE

Geely

O primeiro carro de drifting alimentado pela Inteligência Artificial

ócio

Afinal, porque é que todas as coisas ditas “proibidas” despertam curiosidade?

A resposta pode estar nos encantos de Pequim

Pequim

Cidade Proibida, os Mistérios

NO CORAÇÃO DE PEQUIM, a capital chinesa, ergue-se um imponente complexo palaciano, composto por vários edifícios que, desde a sua construção no início do século XV (entre 1407 e 1420), representam o apogeu da arquitectura chinesa. Este local, outrora residência oficial do imperador da China, impressiona ainda hoje inúmeros visitantes com a sua magnificência.

Concebida como um símbolo da prosperidade e força do império chinês, a Cidade Proibida foi, durante mais de cinco séculos, um reduto de mistério, acessível apenas ao imperador, à sua família e aos servos mais próximos. Actualmente, contudo, os seus portões estão abertos a todos os que desejam descobrir este tesouro histórico. Reconhecida pela UNES-

e

Magnificência da China Imperial

CO como Património Mundial, a Cidade Proibida constitui um marco cultural sem paralelo na China, exemplificando a arquitectura imperial tradicional chinesa. Foi edificada sob as ordens do Imperador Yongle, da Dinastia Ming, e contou com o empenho de mais de um milhão de trabalhadores.

O complexo serviu como cenário para as vidas de 24 imperadores das dinastias Ming e Qing, oferecendo uma janela fascinante para o passado de Pequim. Situada junto à Praça Tiananmen e ao Parque Jingshan, esta jóia histórica continua à espera de ser plenamente explorada.

Com mais de 980 edifícios, é aconselhável reservar algumas horas para visitar os pontos mais emblemá-

ticos, como o Salão da Harmonia Suprema, uma estrutura de madeira majestosa, construída sem um único prego, que simboliza o coração ritualístico do complexo. No Pátio Interno, destaca-se o Palácio da Pureza Celestial, que oferece uma visão da vida íntima da realeza chinesa. Os Seis Palácios Orientais e Ocidentais também merecem ser visitados, revelando histórias únicas da vida imperial.

A simetria e organização espacial destes palácios, conforme relatado pelo site The Travellight World, reflectem a hierarquia e a complexidade do harém imperial, aspectos cruciais da estrutura social na China antiga.

Texto Ana Mangana

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FOTOGRAFIA iStockphoto

O SALÃO DA HARMONIA SUPREMA É UMA ESTRUTURA DE MADEIRA MAJESTOSA, CONSTRUÍDA SEM UM

ÚNICO

PREGO, QUE SIMBOLIZA O CORAÇÃO DO COMPLEXO. É UMA DAS MAIORES ATRACÇÕES DE PEQUIM

Como Chegar:

A Cidade Proibida é facilmente acessível de metro, pelas estações Tiananmen West ou Tiananmen East, na linha 1.

Como Visitar:

Devido à sua popularidade, é recomendável planear a visita com antecedência.

A Cidade Proibida encerra às segundasfeiras e o horário varia conforme a época do ano. É possível reservar bilhetes online até sete dias antes da visita. Para evitar multidões, prefira visitar durante a semana e chegue cedo.

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FOTOGRAFIA iStockphoto FOTOGRAFIA iStockphoto FOTOGRAFIA iStockphoto FOTOGRAFIA iStockphoto

O BOTECO OFERECE UMA EXPERIÊNCIA GASTRONÓMICA

QUE COMBINA INFLUÊNCIAS BRASILEIRAS, MOÇAMBICANAS, ESPANHOLAS, PORTUGUESAS E LIBANESAS. MAS É BEM MAIS DO QUE SÓ UM LUGAR PARA PETISCAR

RESTAURANTE O BOTECO

Av. 24 de Julho nº 234, Maputo

Contacto +258 855 155 545

NA AVENIDA 24 DE JULHO, em Maputo, nasceu há pouco mais de um mês um Boteco como haverá poucos, na capital. Na verdade, para sermos exactos na apreciação, não conhecemos nada do género em Maputo. Um lugar que se distingue pelo facto de não o conseguirmos meter numa só caixa, de forma simples. Ou seja, não é um restaurante convencional (apesar da oferta de petiscos e pratos na carta ser, absolutamente, bem conseguida, já lá vamos), e pode, em simultâneo, ser um bar, um espaço de música ao vivo, e não estranhe se for jantar, e, a meio da noite, der por si numa sessão de open mike ou a dançar ao som de um DJ.

É, então, um espaço híbrido que muda a sua face consoante o caminhar das horas, do que se bebe, de quem lá está, e que resulta da fusão de influências, tendências e estilos que espelham, no fundo, a história de vida (e as personalidades) dos seus proprietários, o casal Bárbara Almeida (brasileira com história de

Não é umNãoRestaurante, é um Bar... É Tudo

vida vivida entre Portugal e Moçambique) e Philip (português de ascendência britânica, a viver e trabalhar em Maputo há já largos anos).

Com uma larga experiência no sector da restauração em Portugal, Bárbara foi gerente de vários restaurantes moçambicanos. Philip, que não esconde a paixão pela cozinha (só suplantada pela da companheira de vida de há vários anos), encontra a explicação para a existência do Boteco, na falta de mais lugares como estes, na cidade. “Um sítio que fizesse a ponte entre o trabalho e a hora do jantar, em que quando saímos do escritório possamos vir beber umas cervejas num local acolhedor, encontrar ou fazer amigos, aliviar o stress e, claro, petiscar coisas boas a preços acessíveis”. Bárbara, complementa. “É por isso que se chama Boteco, porque no Brasil, este é o tipo de lugar em que petiscas um bom pão de queijo, bebes

Isso, e Mais... é o Boteco

um chopinho, e sais efectivamente do trabalho, acabas o dia em beleza.”

No Boteco, todo o conceito advém da afinidade que Bárbara sente por Moçambique e pelos Moçambicanos, cujo modo de vida lhe é familiar, porque, explica, “Brasil e África partilham de uma afinidade social e cultural que torna tudo tão mais simples, leve e alegre. E é aqui o lugar onde tudo isso se junta, é o que gostamos de acreditar”.

Arte nas paredes, cultura no ambiente, boa comida sobre a mesa e gargalhadas bem regadas pelo ‘garotinho’, uma cerveja em copo pequeno, bem gelada, que parece evaporar-se com o passar dos minutos ao sabor de uma experiência gastronómica que combina influências brasileiras, moçambicanas, portu-

guesas, espanholas e libanesas. Os petiscos espelham a variedade típica dos botecos brasileiros, incluindo o pão de queijo, o escondidinho e os pastéis, bem como pratos internacionais adaptados ao gosto local, tapas espanholas, iguarias moçambicanas, libanesas, entre outras que vão variando. O menu inclui também clássicos da cozinha internacional, como batatas malucas (nome da casa para os ovos rotos), calamares panados, fígados ao vinho, quibe (um tipo de almôndega libanesa com molho de iogurte), bolinho de bacalhau, carpaccio de filete e uma variedade de petiscos, todos preparados com amor, afecto e um sentido de missão. “Criar bons momentos, e estar feliz”.

Texto Filomena Bande

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FOTOGRAFIA Mariano Silva

COM UMA PROCURA MUITO SUPERIOR À OFERTA, OS EXEMPLARES SÃO EXTREMAMENTE DISPUTADOS EM LEILÕES

Petrus, a Lenda de Bordéus

ORIGINÁRIO DA SUB-REGIÃO DE POMEROL, em Bordéus, França, o vi nho Petrus é reconhecido pela sua ex clusividade e qualidade incomparável. Produzido com uvas da casta Merlot, apresenta um teor alcoólico de 13,5% e desfila pelas listas dos maiores e mais caros vinhos do mundo.

Proveniente de uma das regiões produtoras mais tradicionais do mun do, o vinho destacou-se pela primei ra vez em 1878, quando ganhou meda lha de ouro num concurso internacio nal em Paris, mas, mesmo assim, re cebeu pouca atenção nos anos se guintes e só ganhou destaque após as excepcionais safras de 1945 e 1947.

O Château Petrus, cenário onde é cultivada a vinha, é um dos principais segredos do sucesso do vinho. Possui plantações que se estendem por mais de 11 hectares apenas com a casta Merlot, num solo único, formado por três camadas, 40 metros acima do nível do mar.

Uma longa história

A primeira camada do solo é de cascalho, a segunda é de uma argila densa e rica em matéria orgânica e a terceira, de argila azul, apresenta uma grande concentração de óxido de ferro, endurecendo tanto quanto uma pedra, impedindo as vinhas de aprofundar as raízes. Desta maneira, os frutos ficam mais concentrados, retêm mais humidade, têm alto teor tânico e qualidade indiscutível.

Durante a década de 1990 e nos anos 2000, cerca de metade dos hectares eram plantados com Cabernet Franc, casta que nem sempre era utilizada nas colheitas de Pétrus. Assim, em 2010, a vinha beneficiou de uma renovação,

Que Está Entre os Mais

Caros Vinhos do Mundo

com a substituição dos hectares de vinha Cabernet Franc, por Merlot, sendo actualmente a única casta usada. Nas últimas décadas, a marca vinícola implantou novos métodos de poda, reduzindo o rendimento do vinhedo para 30 hectolitros por hectare, para concentrar mais sabor e aromas. Aplicou ainda sistemas de recolha de folhas para melhorar a exposição ao sol dos cachos de uva, favorecendo o amadurecimento. O processo de produção deste vinho estende-se por mais de dois anos.

Da uva ao vinho Desde a colheita manual das uvas (vindima) até à fermentação em cubas de cimento e ao envelhecimento em barricas de carvalho francês, cada etapa é realizada com precisão e dedicação. Como resultado, o vinho que começará a ser produzido este ano só estará pronto para comercialização em meados de 2026 ou até 2027.

A produção do Petrus é considerada como baixíssima, de 32 mil garrafas ao ano, das quais 40% ficam em França, sendo as outras distribuídas por mercados como o americano, o inglês e o asiático.

Com uma procura muito superior à oferta, os exemplares são extremamente disputados em leilões. Como exemplo, a garrafa imperial de seis litros do Château Petrus 1982 foi arrematada pelo valor de 45 mil libras por um coleccionador asiático, durante um leilão realizado em Londres pela companhia Bordeaux Index.

CHÂTEAU

PETRUS

Uvas Merlot

País

França

Tipo

Tinto

Região

Bordeaux

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Safra 1997
Volume 750ml

NA CHEZ RITA CRÉATIONS QUALQUER

PANO GANHA UTILIDADE. ALÉM DAS SOFISTICADAS

ROUPAS DE CAPULANA, OUTROS ARTIGOS

NASCEM A PARTIR DAS SOBRAS DE TECIDOS

CHEZ RITA CRÉATIONS

Perfil:

Rita Cazergues nasceu em em Minas Gerais, é formada em contabilidade e trabalhou em áreas como advocacia e RH. É fluente em português, francês e espanhol

CHEZ RITA

Estilista e emprendedora

A EMPREENDEDORA RITA CAZERGUES criou a Chez

Rita Créations para dar vida a roupas e artigos de capulana no cenário da moda moçambicana.

Rita é apaixonada pelo colorido e vibrante tecido africano e acredita que isto pode estar relacionado com a genética do seu povo, que também tem sangue africano. “Eu olho para uma capulana e já sei o que vou fazer. É incrível! Eu acho que tem tudo que ver com a gente, com o povo brasileiro”. Para a estilista, é mais do que um simples tecido. É uma fonte de inspiração e uma manifestação da cultura africana.

A arte de Rita despontou em Angola, o primeiro país africano onde viveu. Sem planear trabalhar com capulana, fez um vestido para ela própria com o tecido e recebeu

Uma Mão Brasileira Nos

reacções positivas. Além dos elogios, pediram-lhe que fizesse algumas peças. Formada em contabilidade e com experiência em recursos humanos, decidiu aproveitar a oportunidade para concretizar um sonho: ter o seu próprio negócio.

Começou timidamente, porque tinha filhos pequenos, mas, a pouco e pouco, a paixão levou a melhor e agarrou a oportunidade de expressar a sua criatividade e competências no mundo da moda. Quatro anos passaram e mudou-se de Angola para a República Democrática do Congo (RDC) por causa da dinâmica de trabalho do seu marido. Lá morou durante 11 anos, consolidando a carreira de estilista. Dos

Tecidos e na Moda

três países onde já viveu, a RDC foi o mais influente para a sua carreira, por ser o mais activo na área da moda, com mais eventos de grande envergadura e maior exposição internacional. Na RDC, Rita teve a oportunidade de participar em grandes eventos, com grandes personalidades e instituições, como a Organização das Nações Unidas (ONU). Conta que teve, inclusive, o privilégio de confeccionar roupa para Carolina do Mónaco, princesa, filha mais velha do príncipe soberano Rainier III de Mónaco. Depois da RDC, mudou-se para Moçambique, onde formalizou a sua marca, Chez

Africana

Rita Créations, para operar no mercado nacional.

Moda sustentável

A visão empreendedora da Chez Rita Créations vai além do simples comércio de moda. Procura também promover a sustentabilidade e a emancipação feminina. Aposta em sustentabilidade ambiental, no sentido em que promove o reaproveitamento de tecidos. E não é por acaso: em 2022, a ONU revelou que a “produção de roupas gera entre 2% e 8% do volume global de emissões de carbono e o tingimento têxtil é o maior poluidor de de água no mundo”.

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Na Chez Rita Créations qualquer pano ganha utilidade. Além das sofisticadas roupas de capulana que produz, outros objectos, igualmente modernos e elegantes, nascem a partir das sobras e de outros tecidos que a estilista e a sua equipa encontram nos mercados, vendidos a um preço muito baixo. Esses tecidos ganham nova vida, já na forma de artigos como bolsas, chapéus, cintos, colares, gravatas, artigos de decoração, brinquedos, entre outros.

Foco na mulher

Porque no começo do seu empreendimento, em Angola, Rita passou por dificuldades para conciliar o trabalho com o cuidado aos filhos, a sua sensibilidade para as mulheres aumentou. A empreendedora não cria apenas oportunidades de emprego, mas,

usando a sua própria experiência, capacita mulheres na conciliação do trabalho com a vida familiar: “Às vezes, as minhas costureiras, que são mães, trabalham nas suas casas. Deixo as máquinas lá e levo as coisas para elas fazerem [os produtos] a partir de casa, perto dos filhos”, explicou. Esperançosa quanto ao futuro, Rita sonha estabelecer uma escola de moda em Moçambique onde possa partilhar conhecimentos e técnicas. Pretende deixar um legado duradouro e inspirar outros, sobretudo a sua equipa, para que possam alcançar aquilo com que sonham e acreditem no seu próprio potencial. Nesta união da arte brasileira com a africana, Rita cria moda, mas também liga duas culturas.

TEXTO Filomena Bande

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FOTOGRAFIA
D.R.

A NÃO PERDER

MAIO

Todos os eventos globais que não pode perder, desde a sustentabilidade ao desporto, incluindo as artes

TÉNIS / GRAND SLAM

Roland-Garros Paris, França De 20 de Maio a 9 de Junho rolandgarros.com

O Open de França regressa a 20 de Maio para três semanas, até 9 de Junho de 2024. É um evento imperdível para os fãs de ténis e a oportunidade de ver os melhores jogadores do mundo. A edição de 2024 do torneio de terra batida mais famoso do mundo promete ser muito dinâmica. Mais uma vez este ano, Roland-Garros oferecerá sessões nocturnas, todas as noites às 21h00, para proporcionar aos espectadores uma experiência ainda mais envolvente.

PARIS RECEBE MAIS UMA VEZ O EMBLEMÁTICO “ROLAND-GARROS”, torneio dos torneios para os melhores tenistas do mundo, e este ano, a “cidade luz” traz à ribalta os nomes maiores da modalidade, com empolgantes sessões nocturnas, tornando as batalhas na terra batida deste “Grand Slam” ainda mais entusiasmantes.

A cidade de Kigali, no Ruanda, vai receber a 11.ª edição do “Africa CEO Forum”, evento que reúne líderes empresariais, investidores e formuladores de políticas de toda a África e do mundo.

Com mais de dois mil participantes, este fórum serve de plataforma para debates e conferências sobre o papel vital do sector privado no desenvolvimento do continente africano.

Na Cidade do Cabo, África do Sul, vai decorrer o “Enlit Africa”, evento que reúne as principais empresas de energia para impulsionar oportunidades e inovação. Considerado um ponto de encontro essencial pa-

ECONOMIA SUSTENTÁVEL

The Africa CEO Forum

Kigali, Ruanda

De 16 a 17 de Maio theafricaceoforum.com

O Africa CEO Forum é um evento que reúne líderes empresariais, investidores e formuladores de políticas de toda a África e do mundo. A edição deste ano, que marca o 11.º encontro anual do fórum, serve como plataforma para debates e conferências sobre o papel vital do sector privado no desenvolvimento de África. Com mais de 2000 participantes, incluindo CEO, chefes de Estado e ministros, o fórum deste ano será focado no estabelecimento de agendas transformadoras para moldar um novo futuro. Uma oportunidade para networking entre os participantes.

Do Africa CEO Forum

ra os profissionais do sector energético, este é o evento onde ideias são trocadas e relações comerciais são formadas, alimentando a inovação e estimulando oportunidades no sector.

Para os amantes de séries, a Apple TV vai estrear “Dark Matter”, que acompanha Jason Dessen (Joel Edgerton), um físico, professor e homem de família que é raptado para uma versão alternativa da sua vida. A maravilha inicial rapidamen-

a Roland Garros

te se transforma num pesadelo quando ele tem dificuldade em regressar à sua realidade. Neste labirinto alucinante de vidas que poderia ter vivido, Dessen embarca numa viagem para regressar à sua verdadeira família e salvá-la do seu pior inimigo: ele próprio.

Nos livros, o nosso destaque vai para o novo romance de Kevin Kwan, intitulado, “Lies and Weddings”.

TRANSIÇÃO ENERGÉTICA STREAMING

Enlit Africa

Cidade do Cabo, RSA De 21 a 23 de Maio wearevuka.com/energy/ enlit-africa

Enlit Africa é um evento influente que reúne as principais empresas de energia para impulsionar oportunidades e inovação. É considerado um ponto de encontro essencial para os profissionais do sector energético. A conferência abrange toda a cadeia de valor, incluindo energia, água e electricidade, e é projectada para facilitar conversações, criar oportunidades e moldar o futuro da transição energética em África.

“Dark Matter” / Apple TV+ 8 de Maio

Criada e escrita por Blake Crouch, autor do best-seller homónimo que inspirou a série, Dark Matter contará com nove episódios que acompanham Jason Dessen (Joel Edgerton), um físico, professor e homem de família que é raptado para uma versão alternativa da sua vida. A maravilha inicial transforma-se num pesadelo quando ele tem dificuldade em regressar à sua realidade. Neste labirinto de vidas que poderia ter vivido, embarca numa viagem para regressar à sua verdadeira família e salvá-la do seu pior inimigo: ele próprio. Além de Edgerton, o elenco da série conta também com Jennifer Connelly e a atriz brasileira Alice Braga.

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EM

ARTES

O Caminho do Restauro do Trabalho de Malangatana

O Absa Bank Moçambique e o Museu Nacional de Arte exibem a exposição “Sim, a Música é Linda: O Caminho do Restauro do ‘Trabalho’” do saudoso artista plástico moçambicano Malangatana Valente Nguenya, que veio a falecer em 2011. Maioritariamente tratado apenas pelo seu primeiro nome, Malangatana foi um artista plástico moçambicano conhecido internacionalmente pelas suas obras que abordavam a opressão da cultura e tradição moçambicanas durante o jugo colonial e, posteriormente, a guerra civil no período do pós-independência. As pinturas de Malangatana recorrem à memória, ao erotismo e aos mitos moçambicanos, para reconstruir em novas imagens o passado de um povo que por muito tempo se viu subjugado por séculos de fracturas e opressões. Essa abordagem do artista pode ser um reflexo do período em que nasceu, no ano de 1936, marcado pela ditadura salazarista.

A mostra em exibição no Museu Nacional de Arte resulta de um processo de restauração da obra icónica do artista, destacando tanto a importância do trabalho quanto a relevância da música na sua vida. A exposição, que conta com a colaboração de diversos especialistas e técnicos, e teve curadoria de Alda Costa, busca não apenas apresentar o resultado final do restauro, mas também contextualizar todo o processo técnico e histórico por trás da obra. Vai de 15 de Abril a 9 de Junho.

LIVROS

“Lies and Weddings”

Autor: Kevin Kwan • Género: Romance • Editora: Bertrand

Tal como na sua trilogia de sucesso “Asiáticos e Podres de Ricos”, o novo romance de Kevin Kwan volta a satirizar os jetsetters asiáticos. Um livro que nos leva a viajar pelo mundo, das praias do Havai aos céus de Marraquexe, dos luxuosos apartamentos de solteiros de Los Angeles aos santuários das mais antigas propriedades familiares de Inglaterra, “Lies and Weddings” é uma história hilariante sobre amor, dinheiro, assassínio, sexo e as mentiras que contamos sobre todos eles.

Kevin Kwan nasceu e cresceu em Singapura. Com 11 anos mudou-se para os EUA, onde sobreviveu à escola secundária enquanto lia F. Scott Fitzgerald, Joan Didion e sonhava com Nova Iorque. Depois de completar a licenciatura em escrita criativa da Universidade de Houston, mudou-se para Manhattan. O seu primeiro romance, “Asiáticos e Podres de Ricos”, foi aclamado pela crítica e tornou-se um bestseller internacional em 2013.

Outros

Lançamentos Que Merecem a Nossa Atenção

Dia 1: Acapulco T3 (Apple TV+), Heeramandi: The Diamond Bazaar (Netflix) e Shardlake (Disney+)

Dia 2: The Tattooist of Auschwitz (Peacock), Hacks T3 (Max) e A Man in Full (Netflix)

Dia 4: Star Wars: Tales of the Empire T2 (Disney+)

Dia 8: Reginald the Vampire T2 (Syfy)

Dia 9: Maxton Hall: O Mundo Entre Nós (Prime Video), Bodkin (Netflix) e Thank You, Next (Netflix)

Dia 10: The Chi T6B (Paramount+ With Showtime) e Las Largas Sombras (Disney+)

Dia 11: Doctor Who T14 (BBC/Disney+)

Dia 12: Interview with the Vampire T2 (AMC)

Dia 16: Bridgerton T3A (Netflix) e Outer Range T2 (Prime Video)

Dia 17: The Big Cigar (Apple TV+) e The 8 Show (Netflix)

Dia 22: Trying T4 (Apple TV+), Sistas T7 (BET) e Pauline (Disney+)

Dia 23: Tires (Netflix) e Evil T4 (Paramount+)

Dia 24: Dom T3 (Prime Video) e Jurassic World: Chaos Theory (Netflix)

Dia 30: Eric (Netflix)

Dia 31: Ni una más (Netflix)

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STREAMING

O veículo possui um sistema concebido para proporcionar um controlo preciso da direcção autónoma, com ajustes que podem ser feitos em milissegundos.

Geely: Derrapar como um Piloto Profissional, mas com

A GEELY AUTO, fabricante chinesa de veículos eléctricos, anunciou com um vídeo divulgado na plataforma Weibo, o seu mais recente veículo driverless (sem condutor), alimentado por Inteligência Artificial (IA) capaz de fazer derrapagens controladas (drifting, como nalgumas corridas profissionais). É o primeiro carro da marca e o primeiro no mundo desta natureza.

O veículo de teste foi classificado como portador da “primeira tecnologia de drifting, sem condutor, no mundo”, pela marca criadora. Surge no vídeo a efectuar uma condução autónoma na neve e no gelo, controlando o deslize (derrapagem) da traseira de uma forma que a empresa afirma ser comparável ao desempenho de um piloto profissional de carros de corrida.

O drifting sem condutor é um aspecto significativo da tecnologia de IA da Geely, demonstrando as capacidades de fusão entre diferentes domínios da Geely, envolvendo grandes modelos

Inteligência Artificial

de IA, chassis digitais e condução inteligente. A Geely afirma que o novo carro possui tecnologia avançada, que lhe permite executar técnicas de condução agressivas. Isto inclui uma capacidade de percepção, de grande dimensão, tanto ao nível do software como hardware. Estas dimensões trabalham em conjunto para criar um sistema completo que pode detectar e prever o estado do veículo em tempo real, fornecendo dados para actuar como um piloto profissional. O veículo possui um sistema concebido para proporcionar um controlo preciso da direcção autónoma, com ajustes que podem ser feitos em milissegundos. A segurança dos passageiros é apoiada através de características avançadas e de sistemas de assistência ao condutor, informa a Electrek. “Os veículos eléctricos inteligentes baseados na tecnologia de drifting sem condutor podem oferecer aos

O NOVO CARRO POSSUI TECNOLOGIA AVANÇADA, QUE LHE PERMITE EXECUTAR TÉCNICAS DE CONDUÇÃO

AGRESSIVAS. ISTO INCLUI UMA CAPACIDADE DE PERCEPÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO

utilizadores um nível mais elevado de segurança, com assistência inteligente”, que inclui “prevenção activa mais ágil e travagem activa”, explica a Geely. A empresa considera que “a conclusão do teste desta tecnologia significa que a Geely alcançou a liderança global em segurança inteligente e chassis digital IA”.

Este veículo eléctrico com IA é a primeira demonstração pública de proezas tecnológicas da empresa. Trata-se de uma grande mudança em termos de relações públicas, uma vez que a marca tende a manter um perfil relativamente discreto, apesar de ser um dos maiores fabricantes de automóveis privados da China.

Como marca do Zhejiang Geely Holding Group Co., a Geely cria arquitecturas modulares de veículos e investiu em marcas como a Zeekr, Volvo, Lotus e Polestar. A Geely tenciona integrar novas tecnologias energéticas avançadas nas carteiras de produtos Lynk & Co e Geely Galaxy, incluindo o chassis digital IA, para proporcionar uma experiência de mobilidade mais segura e avançada.

GEELY AUTO
FOTOGRAFIA D.R.
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