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“Mais do que Competir no Preço, Queremos Fazê-lo na Qualidade”

Apesar de ainda pequeno, em comparação com a banca, o mercado segurador tem, apesar de tudo, crescido nos últimos anos, impulsionado por alguns novos segmentos que vão surgindo, mas também pelos impactos da pandemia e dos ciclones. Num mercado fortemente concorrencial, a meta dos operadores passa pela inovação. Com poucos anos no mercado, é aí que está a aposta da corretora do Standard Bank

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Texto Pedro Cativelos • Fotografia Mariano Silva

Há alguns anos era impensável falar em seguros especializados em Moçambique, um mercado em que a cultura de contratar serviços desta área não só demorou a chegar como experimentou (e ainda experimenta) taxas de penetração bastante reduzidas. Apesar disso, o mercado está a crescer há novos players que chegaram ao mercado nos últimos anos. É o caso da Standard Corretores que, apesar de recente, aposta na cobertura de novos segmentos.

Claro que, neste caso, o facto de estar associada um grupo bancário secular, sólido e com elevada penetração em vários segmentos, especialmente no corporativo e empresarial, como é o caso do Standard Bank Moçambique, acaba por permitir o desenvolvimento de múltiplas soluções financeiras sob um só tecto; aprofundar a informação sobre os clientes podendo, por isso, garantir melhores coberturas e serviços contratados. O panorama, o posicionamento no mercado e as ambições desta corretora são descritos pela directora-executiva, Ana Gunde.

O que é, hoje, a corretora de seguros do Standard Bank?

A Standard Insurance Corretora de Seguros foi licenciada em 2019 e é uma subsidiária do Standard Bank Moçambique. Quando começámos, a ideia era dar resposta às oportunidades que o banco identificou ao nível das empresas.

É que, apesar de termos o que se chama de banca de seguros, que cobre os clientes individuais, havia uma lacuna em termos de prestação de serviços de seguros às empresas que eram clientes do banco. Tínhamos a visão de fornecer aos nossos clientes serviços de seguro genéricos, que são os que existem no mercado, mas também os especializados, como o caso do seguro mineiro, seguro de petróleo e gás, seguro cibernético, do terrorismo, etc. São estes seguros que fornecemos através de parceiros locais e internacionais que nos dão suporte técnico.

Como corretora, o nosso papel é de advisoring aos nossos clientes. Não assumimos o risco. Falamos com o cliente, analisamos o risco, damos o advisoring e as seguradoras é que assumem o risco. O nosso papel é, portanto, garantir que estamos a colocar o seguro a uma seguradora de bom nome, e que paga os sinistros quando ocorrem.

Qual é a vantagem de a corretora estar associada ao Standard Bank?

O banco identificou essa necessidade de ampliar e tornar mais universal o serviço aos seus inúmeros clientes dos vários segmentos. Esta foi, para nós, uma opção estratégica e alinhada com as expectativas de crescimento da economia nacional. Com a chegada dos grandes projectos de oil & gas e o seu impacto no cenário macroeconómico, era, a nosso ver, essencial haver uma corretora que pudesse dar advisoring às empresas sobre as questões de risco associado às suas actividades.

Outro aspecto fundamental, e que é uma vantagem competitiva clada, é o facto de estarmos associados a uma marca como o Standard Bank, assente na credibilidade e confiança. Sendo uma marca que existe há cerca de 160 anos enquanto grupo. Enquanto corretores com pouco tempo de actuação, atingimos um reconhecimento mais acelerado por parte do mercado por via disso mesmo.

Trabalham com várias seguradoras, mas garantem a qualidade de serviço Standard Bank, alinhado com os padrões do banco, é assim?

Temos um número limitado de seguradoras com quem trabalhamos precisamente por existirem requisitos que temos de preencher para termos as seguradoras no nosso painel.

Há algumas que não responderam às nossas solicitações e outras que conseguiram fornecer o que precisávamos, e são estas que trabalham connosco. Fazemos, portanto, advisoring às empresas, temos poucos serviços individuais e os que temos são todos estratégicos. O nosso foco principal são as empresas.

Falou de alguns seguros mais especializados. Pode identificá-los?

Em primeiro lugar, a nossa oferta de serviços de seguros é adaptada às necessidades e desafios da economia e da sociedade Moçambicana.

Temos, por exemplo, uma oferta de seguros contra desastres naturais, um dos grandes riscos que passámos a ter nos últimos anos. Hoje em dia, infelizmente, sempre que há ciclones, Moçam-

“Como corretora, o nosso papel é de advisoring aos nossos clientes. Não assumimos o risco. Falamos com o cliente, analisamos o risco e as seguradoras assumem”

bique é muito afectado por estes fenómenos. Antigamente, as zonas de risco eram específicas e estavam identificadas, mas agora temos registado ciclones em vários outros pontos do País. E temos de saber e poder dar resposta a isso enquanto seguradora.

Depois, há outros novos desafios, como a cibersegurança, um tema cada vez mais presente na agenda das empresas. Também disponibilizam soluções a esse nível?

O mercado está a começar a reconhecer e aceitar esses riscos, mas os requisitos ainda são inúmeros. As seguradoras e resseguradoras querem saber quais são as medidas e como podem ser mitigados os riscos, isto porque os hackers estão sempre muito mais avançados e investem muito mais do que as empresas. É um risco que afecta todos e já há consciência disso, e nós estamos, sem dúvidas, atentos a esse fenómeno e a trabalhar sobre ele, para poder proporcionar soluções inovadoras.

Com poucos anos no mercado, em que posição se encontra a seguradora neste momento?

Este é o nosso terceiro ano no mercado, e devo lembrar que pelo meio tivémos uma pandemia global, mas se olharmos aos resultados do Instituto de Supervisão de Seguros de Moçambique (ISSM), que é a entidade reguladora do nosso mercado, estamos em sexto lugar em termos de volume de negócios.

Estando entre os primeiros dez operadores, isto significa que, de facto, estamos a crescer e a desenvolver-nos de forma muito positiva. Isso mostra que existem oportunidades de crescimento e amadurecimento no mercado e que ainda temos muito por onde crescer.

Qual é, na sua opinião, o estágio actual do mercado segurador em Moçambique?

O nosso mercado é muito dinâmico, competitivo e agressivo. Temos 19 seguradoras, 114 corretoras de seguros, mas destas, apenas dez concentram cerca de 90% da quota total do mercado. A competição está, assim, nestas corretoras de que também fazemos parte.

O mercado é muito competitivo, mas ainda está em desenvolvimento também, com uma dimensão bastante pequena ao nível do número de apólices emitidas. Com a entrada em cena do sector do oil & gas e com o desenvolvimento económico que daí advirá, temos todos a esperança de ver o mercado crescer, porque, em termos de taxas de penetração de serviços de seguros, ainda está abaixo dos 2%, o que é muito reduzido comparado com outros países. Mas também sabemos que tivémos as situações do terrorismo no Norte do País, e da pandemia de covid-19 que afectaram o mercado.

E há, agora, o desafio da inflação que também está a preocupar as seguradoras...

Sem dúvida. Com a previsão da inflação média do próximo ano a subir para perto dos 11,5%, isto é um desafio para as seguradoras, já que significa que os pagamentos para os sinistros vão aumentar. Não tendo nós, País, uma indústria de viaturas, se a inflação sobe, o custo de reparação das viaturas também sobe. Mas o desafio não é apenas esse.

É também a contínua redução do preço na emissão de seguros porque o mercado está ‘apertado’ por causa da competição entre as várias seguradoras e operadores. Ou seja, enquanto o custo dos sinistros sobe, o preço de emissão dos seguros tem de cair e isto é um problema.

O segmento dos seguros de saúde tem crescido?

De facto tem crescido, primeiro devido ao covid-19. Nos anos que passaram, o produto que tinha maior quota era o automóvel, a seguir os incêndios mas, desde 2020, a quota do ramo saúde subiu bastante porque as pessoas despertaram para essa necessidade.

Hoje, a área automóvel tem crescido menos do que a da saúde e ambas já estão quase ao mesmo nível em termos de quota de mercado. Temos serviços de se-

AS ÁREAS ESPECIAIS DE COBERTURA DA CORRETORA STANDARD

Com apenas três anos no mercado, a correctora soporta-se do peso internacional do secular Grupo Standard Bank para apostar na cobertura a áreas fora-de-caixa (pelo menos no mercado moçambicano)

• Petróleo e Gás • Mineração • Directores e Oficiais • Seguro Cibernético • Seguro Pandemia • Sequestro & Resgate/ Seguro do

Homem-Chave • Indemnização Profissional • Helicópteros Privados/ Aeronaves/

Drones • Responsabilidade da Pista de Aterragem • Seguro de Negligência Médica

“A digitalização dos processos para criar conveniência aos clientes e evitar a burocracia é a forma de aproximar os seguros do mercado”

guros de saúde ao nível da Standard Insurance Corretora de Seguros, mas estão voltados para as empresas, uma vez que as seguradoras não têm grandes pretenções de fazer seguros individuais.

Quais são os próximos objectivos da corretora?

Temos muita esperança na área do oil & gas por causa da marca Standard Bank e de como está posicionada a esse nível, que nos pode alavancar no sentido de conseguirmos mais espaço nesse mercado.

Depois, ao nível das infra-estruturas, firmámos recentemente uma parceria com a maior corretora da China que, acreditamos, vai contribuir para o aumento de alguns negócios, já que é um país que está muito evoluído no desenvolvimento de infra-estruturas.

Outro objectivo muito importante é a digitalização porque, infelizmente, o covid-19 abalou os mercados e despertou-nos para uma realidade contrária aos moldes tradicionais de como fazemos seguros. O que pretendemos é descobrir como podemos digitalizar os processos para criar conveniência aos clientes e evitar a burocracia para dinamizar e aproximar os seguros do mercado. Se, por exemplo, ocorrer um sinistro, em vez de o cliente ter de ir preencher um formulário, pode apenas tirar uma fotografia da situação e enviar-nos através de um aplicativo. Estamos nesse processo. Claro que há limitações nos regulamentos, mas estamos a trabalhar a pensar na digitalização e em como torná-la realidade.

Depois, e nos próximos três anos, a nossa meta é estarmos no ‘Top 5’ das seguradoras em termos de crescimento e aumentar o número de mulheres a trabalhar neste sector, já que temos poucas, não só no sector dos seguros, como em todo o sector financeiro. Esse é um desígnio da instituição, e meu também, e tenho estado envolvida em formas de empoderar outras mulheres. Fui a primeira, e até agora única, mulher CEO de uma seguradora e gostaria de ver outras mulheres seguir por este caminho.

Por fim, gostaríamos de ser uma marca de referência, no sentido de que se alguém precisar de seguros, se pense e recomende a Standard Insurance. Por isso, vamos continuar a formar e empoderar as nossas equipas no sentido prestar os melhores serviços para, mais do que competir no preço, possamos competir na qualidade.

Quais os grandes desafios do sector, de um modo geral?

A falta de quadros. Mas isso acontece porque não temos colégios ou universidades que dêem formação especializada em seguros. Pessoas que se formam nesta área fazem-no à distância (o que é difícil) e estão ligadas a academias no Zimbabué, África do Sul ou Inglaterra.

Os poucos quadros que têm conhecimentos sólidos e experiência são difíceis de reter. Depois, outro dos desafios a ter em conta na actualidade é a necessidade de educar os clientes e potenciais clientes. Em momentos de crise, a primeira coisa que muitas empresas fazem para reduzir custos ainda é, infelizmente, despensar os seguros. Se queremos uma economia saudável, temos mudar esse mindset.

E quanto aos seguros de garantias de que se tem falado, é uma solução viável?

Já houve sinistros de mercado que comprovaram que, em Moçambique, não há apetite para seguros de garantias. Existem algumas seguradoras que fazem, mas os requisitos são maiores. O desafio é que, por exemplo, uma empresa que esteja a iniciar actividade, e que queira fornecer serviços a outra empresa, como a Sasol ou Total, estas pedem três anos de contas auditadas. Mas uma empresa que está no início de actividade não tem este requisito. Assim, mesmo que exista um contrato de fornecimento já assinado, as seguradoras não estão confortáveis em avançar.

Bruno Dias • Consulting Partner EY

A situação de Moçambique é paralela à de muitos outros países, sendo necessário criar um framework regulamentar sólido em linha com as melhores práticas internacionais para permitir o acesso a serviços cloud empresariais de forma consistente

A Computação na Nuvem como Alavanca de Desenvolvimento Sustentável

Adigitalização da economia veio para ficar e tem vindo a crescer de forma exponencial impulsionada pelo período pandémico. Uma das suas vertentes é a chamada computação em nuvem (“Cloud Computing”), que se configura como uma alavanca disruptiva no modelo de Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) empresarial.

Pretendo, com este artigo, fazer uma reflexão sobre as suas vantagens e desvantagens e quais as oportunidades e desafios no contexto africano e, em particular, no contexto moçambicano.

Mas comecemos por tentar definir o conceito. De forma simples, a computação em nuvem é a entrega de serviços computacionais – incluindo servidores, armazenamento de dados, bases de dados, software e aplicações – sobre a internet (a dita “nuvem”).

Tipicamente pagamos apenas pelos serviços que utilizamos, o que permite reduzir custos operacionais, gerir a infra-estrutura de forma eficiente e escalar à medida do crescimento ou de algum outro imperativo do negócio.

Reparem que todos nós, a título individual, temos, há muito, usado serviços na dita nuvem. De facto, imagino que quase a totalidade dos leitores tenham uma conta de e-mail pessoal offshore como o Gmail, ou uma conta no Netflix para ver uma série em família na sexta-feira à noite, ou no iCloud para guardar as fotografias que o armazenamento do telemóvel já não permite.

A nível empresarial, o tema toma outros contornos, e armazenar dados fora do perímetro de uma companhia ainda é visto como algo não natural ou algo não facilmente acessível, em especial para os decisores no continente africano.

As vantagens inerentes à adopção de serviços na nuvem são evidentes: é possível escalar a capacidade à medida das necessidades e das flutuações no negócio, o que permite uma eficiência de custos uma vez que apenas se pagam os serviços subscritos; o staff de IT tem maior produtividade ao poder focar-se em tarefas de maior valor acrescentado e nas aplicações core ao negócio; e, por fim, ter-se-á um aumento da disponibilidade e performance da infra-estrutura que será gerida por especialistas qualificados e seguindo sempre as melhores práticas internacionais.

Existem, no entanto, uma série de desafios à adopção de serviços de cloud empresariais. O primeiro dos quais está associado à falta de regulação dos mesmos em várias geografias, nas quais se inclui Africa e, em particular, Moçambique.

Este vazio regulatório, a nível nacional ou sectorial, é um importante inibidor deste tipo de infra-estruturas que tem levado as empresas a continuarem a apostar nas suas infra-estruturas próprias locais.

A segurança dos dados e a largura de banda da infra-estrutura de rede são outros dois inibidores importantes.

A questão de segurança de dados é em muito mitigada pela utilização de standards de última geração pelos principais fornecedores tendo, obviamente, que ser mantidos os procedimentos necessários pelas empresas para minimizar ataques e reduzir vulnerabilidades.

Quanto à largura de banda das infra-estruturas, é de salientar que esta duplicou em poucos anos no continente africano, pelo que as empresas e Governos podem, cada vez mais confiar, em tecnologias na nuvem e tomar partido dos seus vários benefícios.

De facto, tem-se visto uma vaga de investimentos em centros de dados e infra-estruturas TIC, originalmente centradas na Africa do Sul, mas agora com alguns casos de estudo espalhados pelo continente, onde players domésticos competem com os gigantes internacionais, como a Amazon e o Microsoft Azure.

Alguns destes fornecedores de serviços em nuvem têm surgido do sector das

A computação na nuvem pode tornar-se um aliado para atingir o desenvolvimento sustentável

comunicações, como a Sonatel na Africa Ocidental, a TelOne no Zimbabué e a Angola Cables em Angola, que, para além de gerir cabos de comunicação submarina, opera um centro de dados Tier I em Luanda.

A situação de Moçambique é paralela à de muitos outros países, sendo necessário criar um framework regulamentar sólido em linha com as melhores práticas internacionais para permitir o acesso a serviços cloud empresariais de forma consistente.

De salientar que entidades multilaterais como, por exemplo, o Banco Mundial, através do “Digital Governance and Economy Project“, lançaram iniciativas estruturantes que visam melhorar as capacidades de cyberseguranca, de infra-estrutura e conectividade digital em Moçambique, e que servirão certamente para catalisar esta agenda no País.

É importante as empresas, tanto as grandes como as PME, olharem para os serviços cloud como uma oportunidade e pensarem em como os embeber na sua estratégia, repensando os seus modelos operacionais, aplicacionais e de recursos humanos.

Em súmula, a computação na nuvem permite a entrega de capacidades sofisticadas de tecnologias de informação sobre a internet e terá um papel crucial nas agendas de inovação e eficiência.

O que é especialmente interessante acerca deste fenómeno é que as empresas não necessitam de deter a sua infra-estrutura ou centros de dados.

Em vez disso, podem alugar o acesso à capacidade de armazenamento ou a aplicações e reduzir os custos operacionais e de investimento actualmente necessários para contruir e manter as suas infra-estruturas próprias.

A adopção destas tecnologias pode ser equacionada em vagas progressivas, acompanhando a evolução da regulação e a mitigação do risco associado.

Mas é bom que estejamos todos conscientes que é um fenómeno irrevogável, e que quanto mais cedo o estudarmos melhor.

Se os países africanos, e em particular Moçambique, conseguirem endereçar bem os desafios aqui enumerados, que passam pela implementação de uma regulação bem estruturada e pela existência de infraestrutura TIC de suporte, a computação na nuvem pode tornar-se um aliado poderoso para atingir um desenvolvimento sustentável e, quem sabe, tornar Moçambique um Hub Digital da Região.

Gás à Porta, Conteúdo Local a Caminho

O debate, desta vez, foi levado à casa dos estudantes de relações internacionais, uma medida que visa reforçar a pressão dos tomadores de decisão a apressarem o conjunto de procedimentos que vão assegurar que a exploração do gás sirva, de facto, à causa do desenvolvimento de Moçambique

Texto Filomena Bande • Fotografia Istock Photo

Oprimeiro gás produzidoem Moçambique começará a ser exportado dentro de poucas semanas, antes do fim do presente ano. Mas prevalecem preocupações antigas sobre como este recurso vai ser gerido em benefício do crescimento socioeconómico.

Ou seja, estamos atrasados na definição de uma estratégia consistente a este nível, o que agudiza ainda mais a tensão dos académicos, sociedade civil, especialistas na área de petróleos e da sociedade em geral.

Talvez por isso, agora como nunca antes, o tema sobre Conteúdo Local ganha uma tónica ainda mais acentuada. Recentemente, foi a vez de Alberto Nkutumula, antigo ministro da Juventude e Desporto e académico da área de petróleos, juntar a sua voz à causa da promoção do Conteúdo Local, numa palestra proferida na Universidade Joaquim Chissano, especializada em Relações Internacionais, sob o tema “Conteúdo Local no sector dos petróleos: Desafios e Perspectivas”.

Na sua dissertação, indicou a falta de tecnologia necessária para a exploração dos recursos, a falta de recursos humanos qualificados, a falta de recursos financeiros e a necessidade de aprovação de uma política que sirva de base para a legislação sobre Conteúdo Local como alguns dos principais desafios. Na visão de Nkutumula, Moçambique, como qualquer país rico em hidrocarbonetos e sem recursos financeiros, materiais e tecnológicos para explorar por si próprio, precisa de contratar empresas estrangeiras para o fazer.

Temos cá dentro um claro exemplo disso, que é o do gás de Temane e Pande, na província de Inhambane, que está a ser explorado pela petrolífera sul-africana Sasol desde 2004.

Até agora, passados 18 anos, o País ainda não tem reunidas as condições para que ele próprio consiga explorar o gás, o que, na sua óptica do antigo ministro é preocupante. Segundo Alber-

O gás vai começar a ser exportado dentro de muito pouco tempo, antes do fim de 2022. Mas o País ainda não tem claras as regras do Conteúdo Local

to Nkutumula, que também desempenhou a função de vice-ministro da Justiça e porta-voz do Conselho de Ministros, o Governo, que é a entidade responsável, tem o dever de criar políticas de gestão e legislação para regular a forma como os recursos serão explorados e assim garantir que cada cidadão sinta o benefício de ter esse recurso e da exploração que se faz dele. Uma das medidas tomadas, que ainda está em verificação, é a política do Conteúdo Local. Mas parece tudo parado, e a pressão cai por todos os lados, inclusive pela voz do antigo governante, que também manifesta preocupação com o aparente desalinhamento das regras que estão actualmente em vigor no Rovuma. “É tempo de Moçambique elaborar um instrumento de legislação do Conteúdo Local abrangente, porque o actual cenário a que se assiste é de apenas algumas normas nos contratos celebrados entre o Governo e as empresas.

São regulamentos que variam de uma empresa para a outra e de uma região para a outra. Por exemplo, as regras da Área 1 diferem das da Área 4”, criticou. No entanto, reconhece que apesar de divergentes, e enquanto não se conseguem melhores soluções, tais regras “são bem-vindas porque estão a beneficiar o empresariado moçambicano e a população, uma vez que colocam como imperativo, por exemplo, que as grandes empresas estrangeiras comprem produtos e serviços das Pequenas e Médias Empresas (PME) nacionais e contratem mão-de-obra moçambicana.

Com estas acções a serem implementadas, de facto, garantimos não somente uma renda circular, mas que com o rendimento que as PME adquirem possam diversificar os seus serviços e explorar outras áreas de investimento”.

Resistência a choques externos

Nkutumula lembra a cadeia de efeitos de uma política concebida dentro dos padrões que propõe. Começa por se referir à diversificação e estabilização da economia graças a uma maior actividade produtiva, que possibilita o fim da dependência do petróleo e gás e que cria resistência do mercado interno em relação a choques externos.

“Mesmo em caso de alguma variação nos preços desses produtos no mercado internacional, a economia conseguirá resistir graças às outras áreas, diferentemente do que acontece actualmente”, argumentou, acrescentando que a diversificação da economia também é apoiada pelas receitas arrecadadas por via dos impostos, se o Governo as aplicar adequadamente.

“Quando se descobre este tipo de recursos num país, há sempre uma grande expectativa de crescimento, dada a dimensão do negócio, do grande investimento financeiro e da projecção que dá em termos mundiais. Espera-se, naturalmente, que o país desenvolva e haja melhoria das condições da vida por causa da exploração desses recursos.

No entanto, temos de entender que a descoberta de recursos petrolíferos nem sempre é uma bênção. Por vezes, é uma maldição. E temos alguns exemplos dos dois no mundo”, advertiu, partilhando com os estudantes os casos mais conhecidos, nomeadamente a “doença holandesa” e o caso na Noruega. “Na Holanda,

a descoberta e exploração de grandes reservas de gás natural aumentou o preço deste recurso e levou à arrecadação de grandes volumes de receitas de exportação. O efeito disso foi uma valorização acentuada da sua moeda, a ponto de reduzir significativamente as exportações e a competitividade da economia no contexto internacional”, explicou. Em contraposição, também recorreu a outro bem conhecido exemplo da Noruega, um dos melhores do mundo no que diz respeito à gestão responsável dos seus recursos naturais, o que justifica a sua prosperidade.

“É importante que Moçambique tome a referência de outros países com recursos como os nossos, africanos e do mundo em geral, na gestão de recursos naturais, sem cometer os mesmos erros que alguns cometeram. Temos de aprender da experiência dos outros”, disse.

A legislação (outra vez)

É a questão do momento quando se trata de promover o Conteúdo Local, sendo uma grande preocupação a demora na sua aprovação. “A política ou legislação sobre o Conteúdo Local é muito importante porque diz respeito aos ganhos que o Estado terá com a exploração do petróleo, por via da contratação, formação ou qualificação da mão-de-obra moçambicana para que, um dia, os próprios moçambicanos possam explorar por si os seus recursos”, defendeu, mais uma vez, Alberto Nkutumula.

O académico argumenta que traz a discussão sobre o Conteúdo Local ao fórum académico “para fugir um pouco do mundo empresarial”, porque o assunto não deve ser abordado sob esse ponto de vista.

Tem que ver também com a educação, com a saúde, o turismo e a economia, de um modo geral. Portanto, com a diversificação da economia, resultante da exploração dos petróleos, vamos atingir outras áreas da sociedade que são determinantes para garantir que o País se desenvolva e, para isso, precisamos da academia. Assim, este deve ser um debate aberto a todos os fóruns e não apenas para empresários”, concluiu.

Al ert o b Nkutumula, Antigo ministro d a J u v entude e Desportos

“É tempo de Moçambique elaborar um instrumento de legislação do Conteúdo Local abrangente, porque o actual cenário a que se assiste é de apenas algumas normas nos contratos celebrados entre o Governo e as empresas”

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