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ESPECIAL INOVAÇÕES DAQUI

50 CENTRO FINANCEIRO DE KIGALI

O Ruanda acaba de lançar um importnte projecto de reestruturação financeira e tecnológica que promete transformar o país num dos maiores centros de atracção de investimentos em tecnologia de África

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STOR BACELA

Um Empreendimento que Coloca a Inteligência Artificial ao Serviço do Ensino à Distância

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PANORAMA

As Notícias da Inovação em Moçambique, África e no Mundo

O Ambicioso Plano do Ruanda Para as Finanças e Tecnologia

Tem sido apontado, até em Moçambique, como um role model económico e de estabilidade financeira no continente, mas o Ruanda é e quer mais do que isso, e recentemente lançou o Centro Financeiro Internacional e a Cidade de Inovação de Kigali, a capital, para estabelecer o país como um hub de inovação regional e fonte de atracção de investidores tecnológicos e financeiros

TEXTO Pedro Cativelos • FOTOGRAFIA Istock Photo, D.R

AAinda no início de 2020, estava a pandemia a começar a dar os primeiros sinais de preocupação para o mundo, o Ruanda lançou o Centro Financeiro Internacional de Kigali (KIFC), um projecto impulsionado pelo Ministério das Finanças do Ruanda, que tinha como objectivo transformar Kigali num importante hub financeiro capaz de atrair investimento estrangeiro e encorajar a criação de empregos altamente qualificados no sector financeiro.

Para ajudar a atingir este objectivo, as autoridades do país empreenderam uma ambiciosa reestruturação do sector bancário e financeiro, suportada por um

A importância das parcerias

As parcerias serão fundamentais para a visão do Centro, diz Nick Barigye, CEO do KIFC. A Rwanda Finan-

ce já estabeleceu parcerias estratégicas com o BPI France, o Belgian Finance Center (BFC) e o Casablanca Finance City (CFC), outra importante plataforma financeira no continente. “Queremos que KIFC seja um novo destino para o investimento pan-africano”, diz Barigye. “Pretendemos ser a jurisdição de eleição para a consolidação eficiente do capital e ser capazes de o distribuir eficazmente por todo o continente”. Queremos ligar investidores internacionais com oportunidades em toda a África, e ligar empresários africanos com capital global”, complementa.

O sector das TIC tem, de resto, beneficiado de níveis crescentes de investimento durante e no pós-crise de covid-19, com a pandemia a acelerar ainda mais a digitalização em curso

quadro jurídico e fiscal que inclui a não tributação das mais-valias para os business angels, apoiando as startups locais com reduções fiscais que podem ir até sete anos em algumas áreas de negócio.

“O país tem alguns activos sólidos que pode promover, sendo a estabilidade, o crescimento e o planeamento do Ruanda unanimemente reconhecidos em toda a África”, diz Pierre Célestin Rwabukumba, director da Bolsa de Valores do Ruanda e um dos arquitectos da reestruturação do sector financeiro no país. O processo é supervisionado por um grupo de trabalho composto por peritos financeiros internacionais. Desde Novembro de 2020, Ivorian Tidjane Thiam, ex-chefe do Credit Suisse, é presidente do Conselho de Administração (CA) da Rwanda Finance, a empresa responsável pela promoção e desenvolvimento do KIFC.

Entre os membros do CA encontram-se Liban Soleman Abdi, ex-chefe de pessoal do presidente Ali Bongo no Gabão, e Umulinga Karangwa, CEO e fundador da empresa sul-africana de consultoria de investimento Africa Nziza Investment.

Nessa senda, o KIFC anunciou, em Novembro de 2021, o lançamento do Virunga Africa Fund, um instrumento de financiamento de 250 milhões de dólares focado no investimento de impacto e financiado conjuntamente pela Autoridade de Investimento do Qatar e pelo Conselho de Segurança Social do Ruanda.

Mais recentemente, a 3 de Fevereiro, a agência financeira oficializou o lançamento do primeiro fundo africano centrado nas tecnologias financeiras. Dotado de 50 milhões de dólares e apoiado pelas equipas da empresa sul-africana MyGrowthFund Venture Partners, o fundo concentrar-se-á nas empresas FinTech que operam em África.

Em Dezembro de 2021, o BK Group (Banco de Kigali) tornou-se a primeira holding local a registar-se no KIFC. Ntoudi Mouyelo, director de investimentos da Rwanda Finance, diz à publicação African Business que a integração do BK Group “é fundamental para os esforços do KIFC na construção de uma comunidade de empresas locais e estrangeiras que possam beneficiar do centro”.

O KIFC fez recentemente a sua estreia no Global Financial Centres Index (GFCI), um ranking da competitividade dos centros financeiros em todo o mundo. O índice classifica 116 centros financeiros, combinando avaliações de profissionais financeiros com dados quantitativos. No ranking, Kigali figurou em quinto lugar no continente, depois de Casablanca, Cidade do Cabo, Joanesburgo e Maurícias, mas à frente de Nairobi e Lagos. Moçambique não aparece na lista.

Objectivos tecnológicos

A par das ambições financeiras, o país tem ainda como objectivo transformar digitalmente a economia e a sociedade. O Programa Visão 2050 visa fazer do Ruanda uma economia de alto rendimento nas próximas três décadas com a tecnologia digital a desempenhar um papel fulcral. O sector das TIC tem, de resto, beneficiado de níveis crescentes de investimento durante e no pós-crise do covid-19, com a pandemia a acelerar ainda mais a digitalização em curso. O resultado é que o Ruanda tem uma penetração móvel de mais de 80% e uma extensa rede 4G.

À semelhança das suas ambições com o KIFC, o país lançou o projecto Kigali Innovation City (KIC), uma “cidade inteligente” localizada na zona económica especial de Kigali, cujo objectivo é servir de catalisador para todas as iniciativas TIC no país, tanto públicas como privadas. A KIC, que beneficia de uma parceria com o fundo AfDB Africa50 (do BAD, Banco Africano de Desenvolvimento), tem como objectivo produzir e atrair o capital humano necessário para satisfazer as necessidades futuras da indústria tecnológica, não só no país, mas também em toda a África. Já operacional, o campus ruandês da Carnegie Mellon University será, em breve, seguido pelo da African Leadership University.

Foi também anunciada a chegada de empresas internacionais de tecnologia e empresas especializadas em biotecnologia, tais como a empresa alemã BioNTech, que instalará as primeiras unidades de produção em solo africano para vacinas utilizando a tecnologia mRNA-messenger no Ruanda e no Senegal.

O objectivo, a médio prazo, é simples: gerar receita. E, no caso, a previsão a curto prazo aponta para os 150 milhões de dólares em exportações anuais, atracção de mais de 300 milhões de dólares em IDE (Investimento Directo Estrangeiro) e criação de 50 mil novos empregos na indústria tecnológica.

Claro que a educação é uma parte fundamental do impulso digital. Opera-

Paul Kagame afirma que a tecnologia e a inovação “estão entre as forças motrizes e ferramentas de transformação da economia...”

cional desde 2016, o programa Rwanda Smart Classroom visa equipar os estabelecimentos de ensino do país com infra-estruturas informáticas, a fim de facilitar a digitalização do ensino e aprendizagem em todas as disciplinas e a todos os níveis do sistema educativo.

Segundo dados do Ministério da Educação, cerca de 1783 escolas secundárias e 365 escolas profissionais (52% do número total de estabelecimentos em questão) tinham acesso às “salas de aula inteligentes” em Agosto de 2021. E mais de 4000 escolas primárias (35% do total) estavam também ligadas à Internet. O país é também palco de um número crescente de escolas e estabelecimentos de codificação especializados em TIC. Toda esta mudança de paradigma, pouco vista em África, deve-se ao Presidente Paul Kagame, que afirma que a tecnologia e a inovação “estão entre as forças motrizes e ferramentas de transformação da economia do Ruanda.” E voltou a dizê-lo, durante a primeira edição do Hanga Pitch Fest 2021, que teve lugar na Arena de Kigali: “Se se quiser impulsionar a economia com base no conhecimento, que é muito importante, e pela forma como este está disponível em qualquer parte do mundo, tal vai depender de como se está pronto para o fazer, e a diferença será feita pela forma como se investe nele”, disse.

E apelou aos investidores e empresários para investirem e apoiarem empresas em fase de arranque para que estas possam crescer, mas também enfatizou a importância das parcerias. “Nas economias avançadas, eventualmente o que a nossa quer ser, a ligação entre as universidades e o empreendedorismo é profunda e em África não deve ser diferente”. Há quem fale (a própria ONU) do milagre do Ruanda. Há 25 anos, o capítulo mais sangrento na história contemporânea da África foi ali escrito. Em 100 dias, um milhão de pessoas perdeu a vida, deixando para trás um milhão de órfãos, sem contar as viúvas e viúvos, infra-estruturas arrasadas e um país por construir.

Mas, com uma taxa média de crescimento de mais de 7% por ano desde 2000, o Ruanda é agora um dos principais países africanos em crescimento económico, com investimentos em agricultura, energia, infra-estruturas, mineração e turismo, que retiraram mais de 1 milhão de pessoas da pobreza extrema. Olhando a tudo o que se passou entretanto, o milagre tem sinónimos: visão, planeamento e trabalho serão alguns. E numa perspectiva de crescimento e desenvolvimento, no caso, a tecnologia tem um papel fundamental.

STOR BACELA Inteligência Artificial ao Serviço do Ensino à Distância

É para o digital que se move a educação, um movimento que, nos últimos tempos, foi impulsionado pelo covid-19. A tendência despertou num docente a oportunidade de criar um empreendimento do futuro, utilizando conceitos básicos de programação aliados à inteligência artificial

TEXTO Hélio Nguane • FOTOGRAFIA Marino Silva

Chama-se Bacelar Bacela e ganha a vida partilhando os seus conhecimentos com os outros. Mais da metade dos seus 48 anos de vida são dedicados à docência, área que abraçou com convicção e não se vê distante.

Usando o pouco tempo de que dispõe e recursos próprios, em 2017 criou a Bacela Aulas, uma plataforma digital para preparar estudantes pré-universitários para os exames da 12ª classe, ensino superior e não só. Com recurso a vídeo-aulas, testes e outros recursos didácticos, a sua iniciativa já garantiu a aprovação de milhares de estudantes.

Em 2020, com o covid-19 a contribuir para revolucionar o ensino e aprendizagem, Bacelar percebeu que era necessário fazer mais. Por isso, em Julho de 2021, criou mais uma iniciativa – o Stor Bacela. “O nome é inspirado nos meus alunos, que me tratam, carinhosamente, por Stor Bacela. A plataforma facilita o contacto entre estudante e professor, utilizando inteligência artificial, e melhora o ensino e aprendizagem à distância”, explicou o docente.

Para interagir com o Stor Bacela, o estudante deve ter instalado o Telegram no seu dispositivo (smartphone, tablet, laptop ou desktop) e também ter conexão com a Internet. A plataforma está disponível 24 horas por dia e é acessível através do link t.me/stormozbot.

“O Stor Bacela é um professor digital gratuito disponível a qualquer hora e lugar”, resume, detalhando que a sua segunda plataforma dispõe de enunciados de exames de admissão ao ensino superior, 150 exercícios de exames resolvidos passo a passo em vídeo-aulas e as respectivas soluções. No caso de dúvidas ou esclarecimentos, os estudantes podem recorrer à plataforma Bacela Aulas cujo link de acesso é http://bacelaaulas.com.

“Acredito que através dos smartphones os adolescentes e jovens podem divertir-se e aprender”, disse, acrescentando que os vídeos da sua plataforma são de curta duração, de modo a facilitar a assimilação do conteúdo”.

Bacelar Bacela já está a trabalhar para a inclusão de conteúdos do ensino superior e está a firmar uma parceria para a criação de matérias de formação para a área corporativa.

A maior satisfação do mentor das duas iniciativas é ver os projectos darem oportunidade aos alunos de se prepararem, gratuitamente, para os exames de admissão usando apenas o seu smartphone, tablet, laptop ou desktop e o Telegram.

As duas plataformas ainda não estão a trazer ganhos financeiros directos e imediatos. No entanto, Bacelar tem firmado parcerias “lucrativas” dada a relevância de ambas as iniciativas. “A médio e longo prazo, tenho a ambição de contribuir na expansão do ensino híbrido em Moçambique”, afirmou, mostrando abertura a parcerias com o sector público e privado para a materialização do seu objectivo.

Bacelar é funcionário público, professor em instituições privadas de ensino superior e dá aulas particulares. Tem mais de 12 anos de experiência na criação de plataformas electrónicas de ensino à distância para escolas, universidades, centros de formação de professores e corporações. Grande parte dos seus conhecimentos foram apreendidos com recursos educativos digitais, formações presenciais e oficinas virtuais.

B

ÁREA DE ACTIVIDADE

Educação

INICIATIVA

Bacela Aulas, criada em 2017; Stor Bacela, criada em 2021

DIRECTOR

Bacelar Bacela

Telecomunicações

Starlink de Musk chega a Moçambique e quer “revolucionar o mercado”

O Instituto Nacional das Comunicações de Moçambique (INCM) anunciou, recentemente, o licenciamento da Starlink, uma empresa que presta serviços comerciais de Internet via satélite, e representante da SpaceX, detida pelo multimilionário Elon Musk.

O grande diferencial está no facto de que o acesso será através de uma subscrição pré-paga mensal para um pacote ilimitado com velocidades acima de 100Mbps – Megabits por segundo.

O serviço será acedido através de um terminal semelhante a uma antena parabólica de televisão satélite, incorporando um modem Wi-fi, que permite uma instalação plug-and-play e uma subscrição pré-paga mensal.

Para a entidade reguladora das telecomunicações, o Instituto Nacional das Comunicações de Moçambique (INCM), a chegada deste operador ao mercado é sinónimo de um futuro em que a internet será de mais fácil acesso, mesmo porque a SpaceX ambiciona lançar para o espaço perto de 30 mil satélites Starlink e expandir a sua base de utilizadores para milhões de clientes.

A SpaceX já disponibiliza os seus serviços em 12 países e está a apostar com força no continente africano, planeando a comercialização de Internet de banda larga.

FinTech

Tmcel disponibiliza carteira móvel da Erickson

Os beneficiários serão os clientes da Moçambique Telecom, SA (Tmcel) e a solução recentemente anunciada irá, segundo a operadora, “ampliar o manancial de transacções financeiras, contribuindo ainda mais para o desenvolvimento económico e digital do País.”

A plataforma de Carteira Móvel da Ericsson é uma solução de serviços financeiros móveis construída sobre as mais modernas tecnologias de segurança e princípios de estrutura de arquitectura aberta, permitindo aos clientes beneficiar de serviços eficientes, rápidos e de fácil utilização, mediante os quais poderão armazenar, transferir, levantar dinheiro, efectuar pagamentos a comerciantes e fornecedores de serviços de utilidade pública, bem como fazer poupanças e empréstimos.

De cordo com Todd Ashton, Vice-Presidente e Chefe da Ericsson da África Austral e Oriental, a plataforma “vai permitir à Tmcel alargar a comunidade de transacções financeiras, contribuir ainda mais para o desenvolvimento económico e digital, ligar e apoiar novas indústrias emergentes”.

E-commerce

Nigeriana Flutterwave é a maior startup de África

Trata-se de uma startup fundada em 2017, que começou por criar uma espécie de Interface de Programação de Aplicações (API) para implementação de pagamentos em empresas a operar no continente africano — uma origem semelhante à da startup mais valiosa no mundo, a Stripe.

De acordo com os fundadores da empresa, que têm um passado ligado à Google e à Paypal, a ideia original passava mesmo por tirar proveito do facto de, na região, haver cada vez mais internet rápida (apesar de menos de 30% do continente ter cobertura) e cada vez mais pessoas com um telemóvel (80% de acordo com dados da ONU). Na sua perspectiva, se a empresa se tornasse a plataforma de pagamentos de referência para todas as empresas que quisessem aproveitar a digitalização em África, havia uma oportunidade gigante de negócio.

Inicialmente, o foco estava muito do lado de instituições já estabelecidas, que necessitavam de um complemento que lhes permitisse ter uma presença online mais forte e lidar com um volume maior de pagamentos e transacções.

Hoje, a startup africana já tem como clientes a Uber, a Booking e a Microsoft e desenvolveu um serviço a que chama de Grow, no qual simplifica o processo de criação e integração de uma empresa na Nigéria, no Reino Unido e nos EUA. Também tem uma sede em São Francisco, EUA.

Ambiente

Continental vai produzir pneus a partir de garrafas de plástico

Fabricar pneus a partir de plástico foi o objectivo a que a Continental, multinacional alemã da área do fabrico de pneus, propôs para este ano. Serão necessárias cerca de 60 garrafas para construir um jogo de pneus.

Pegar em garrafas de plástico polietileno tereftalato (PET) e produzir pneus sustentáveis é o repto da empresa num trabalho conjunto com a OTIZ, fornecedora e especialista em têxtil. A parceria com a Otiz vai permitir produzir fibras super resistentes a partir de garrafas recicladas, muito graças à resina termoplástica das garrafas PET. Este termo é relativo a um tipo de resina termoplástica da família dos poliésteres, que é utilizado como fibra sintética. O objectivo da Continental é utilizar apenas materiais sustentáveis no fabrico de pneus até 2050. Sediada em Lousado (Famalicão) desde 1990, a Continental Mabor emprega 2400 pessoas e já produziu cerca de 350 milhões de pneus.

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