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MERCADO E FINANÇAS
“TEMOS MUITO ESPAÇO PARA CRESCER EM MOÇAMBIQUE”
Gonçalo Reis, CEO do Grupo IPG, empresa portuguesa de engenharia, ambiente e serviços, desmancha os nós sobre a já anunciada intenção da empresa em reforçar e desenvolver novas oportunidades de negócio em Moçambique, país para o qual prevê um fututo promissor
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Texto Pedro Cativelos • Fotografia D.R
ogrupo ipg está no mercado moçambicano há 23 anos, tendo atravessado vários ciclos da vida nos vários segmentos em que está presente, áreas críticas para o desenvolvimento e com impacto na economia, como projectos de engenharia, facility management (gestão de instalações), imobiliário, logística e serviços de gestão. Numa altura de transformação económica no País, Gonçalo Reis, CEO do Grupo IPG, explica à E&M como as várias empresas do grupo se querem apresentar ao mercado.
Quais são os pontos fortes da empresa, numa altura em que cresce o número de provedores com uma vocação similar?
Eu diria que temos três pontos muito fortes na nossa actividade em Moçambique que são de facility management, ou seja, a gestão de redes de balcões, de manutenção de edifícios e de infra-estruturas. Na empresa PLM, por exemplo, trabalhamos com vários bancos a operarem em Moçambique, cobrindo uma extensão geográfica muito significativa e com níveis de serviço exigentes porque os clientes estão cada vez mais atentos à fiabilidade de serviços. Outra área que é bastante forte é a dos transportes e logística. Trabalhamos muito com ONG’s, que são instituições de referência que necessitam, no fundo, de transportar bens para várias zonas do País e nós aí beneficiamos não só da capacidade instalada como também da nossa presença a nível nacional, com delegações por todo o território. Por fim, o imobiliário, sobretudo na área de consultoria e avaliações, através da PI-Advisers estabelecida nesta área há bastante tempo, tem conhecimento concreto sobre o mercado.
Nota-se que há uma vontade em dinamizar estas áreas, e identificá-las com o grupo. É assim?
Esse é o ponto, e faz muito sentido num País como Moçambique, em que os clientes pretendem ter cada vez mais serviços integrados e estão receptivos em ter service providers em diversas áreas. Isso é algo que nós temos sentido e, portanto, há um potencial de cross-seling. Foi isso que eu verifiquei numa visita recente a Moçambique, em que visitei uma série de clientes. Faz sentido apresentarmo-nos como Grupo IPG que presta serviços integrados nas áreas de engenharia, gestão de projectos, imobiliário e logística.
Mas isso implica uma reestruturação da vossa parte?
Mais do que reestruturação, é uma postura face ao mercado. É uma postura de querermos crescer com os clientes, de irmos atrás das suas necessidades, de garantirmos bons níveis de serviço. Temos uma equipa sólida, que conhece bem o mercado. Conhecemos os principais projectos dos nossos clientes e temos uma rede sólida em termos de representação geográfica. Por outro lado, estamos a falar de um conjunto de competências técnicas significativas. No conjunto temos 220 trabalhadores.
Olhando para o potencial do imobiliário moçambicano, é ainda incipiente, embora com perspectivas de

No ano passado, o Grupo IPG juntamente com a Galp Energia inaugurou o terminal logístico da Matola, investimento avaliado em 100 milhões de dólares
crescimento. É esta a sua perspectiva?
Fazemos avaliações, consultoria e apoiamos projectos, apoiamos os investidores, e aquilo que se apresenta num estudo recente que lançámos sobre o mercado imobiliário em Moçambique é o reconhecimento de que o mercado se ajustou e isso é evidente no contexto da pandemia com o abrandamento de alguns investimentos. Mas também se dá nota de que tem havido melhoria de oferta, nomeadamente da qualidade de escritórios, por exemplo. Em termos de perspectivas futuras há uma grande relação entre a concretização dos grandes projectos de investimento, que vai atrair toda uma capacidade e um conjunto de de profissionais, nomeadamente estrangeiros. A dinamização da economia terá um impacto no ramo imobiliário que, tipicamente, é um sector que evolui em consequência da concretização do crescimento da economia e, no caso de Moçambique, da concretização dos projectos de investimento.
É também um player forte na área de logística. Tem alguns projectos ou parceiros ligados ao Oil & Gas em Moçambique?
A nossa área de logística trabalha sobretudo com ONG’s e também algumas empresas de distribuição e de telecomunicações. Mas estamos disponíveis e interessados em capitalizar o desenvolvimento do sector do Oil & Gas.
Há sempre a impressão de que nem todas as empresas portuguesas se sabem internacionalizar e posicionar nos mercados em que actuam. Há uma receita para saber como uma empresa ou Grupo se deve internacionalizar em mercados como o de Moçambique? Qual é a formula certa?
Eu apontaria algumas razões ou alguns factores: creio que o tema da persistência é muito importante, ou seja, estar lá e continuar, aprender, lutar e desenvolver, portanto, persistência em primeiro lugar. Em segundo lugar, foco nas áreas onde temos vantagem competitiva. Ou seja, crescer nas áreas em que temos know how, em que temos capacidade técnica e temos capacidade de inovação e poder de resposta aos clientes. E não nos dispersarmos. Eu acho que esses são pontos absolutamente fundamentais. E depois há um outro, que é desenvolver uma infra-estrutura de competências, ou seja, equipas adequadas, bem formadas e com presença regional.
Quando chegaram a Moçambique, ainda na década de 90 do século passado, as perspectivas do país eram diferentes. Não havia gás ou carvão e tudo mudou. Como é que se adapta a estratégia de uma empresa a tudo isto? Eu sou um gestor e não um historiador (sorri). Sou capaz de falar do presente e do futuro. Acho que temos que ter presente as nossas competências, aquilo que sabemos fazer e temos que ir adaptando as nossas competências às necessidades do País, dos clientes, da economia em cada momento. Os serviços que prestamos são de apoio ao desenvolvimento da economia que atravessa vários ciclos. Ou seja, apoiamos as empresas nas áreas de desenvolvimento das
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infra-estruturas, de exploração de matérias-primas em termos de logística e de expansão regional.
Fala-se cada vez mais em sustentabilidade, especialmente no pós-pandemia. Sendo uma área que está no portefólio de serviços do grupo, irá introduzi-la em Moçambique?
Em Portugal temos duas componentes que desenvolvemos e que não temos em Mocambique: uma na área de consultoria na saúde e outra interessante para Moçambique, de facto, que é a área do ambiente e eficiência energética. A verdade é que mesmo recentemente, visitando vários clientes, tivemos uma receptividade crescente para esses temas e estamos a equacionar levar essas áreas a este país. Temos bastante know-how e experiência nessa matéria e é algo que vale a pena analisar. Os temas de ambiente, eficiência energética, tratamento de água, tratamento da qualidade do ar são áreas em que temos muita experiência e é evidente que estão na ordem do dia e estão a chegar muito rapidamente a Moçambique. Portanto, aí está uma via de crescimento. Mas devo dizer que, no imediato, o objectivo primordial não é trazer novas actividades, “Moçambique tem um potencial significativo muito relacionado com a execução de grandes projectos nas áreas de exploração de Oil & Gás, entre outros...”
novas áreas de negócio, mas sim explorar as áreas que já estamos e fazer crescer.
Qual é a sua opinião sobre o presente e o futuro da economia moçambicana?
Estou moderadamente optimista em relação ao país, ou seja, Moçambique tem um potencial significativo muito relacionado com a execução de grandes projectos nas áreas de exploração de Oil&Gás, no desenvolvimento de infra-estruturas e também no desenvolvimento de outros projectos relacionados com os recursos naturais. Moçambique, como outros países da África subsaariana, tem tido situações de oscilações e de alguns interregnos em termos de decisões. É um facto. O tema da concretização antecipada dos projectos é fundamental. Acho que Moçambique tem dado passos significativos no sentido de passar uma mensagem de

segurança e do bom funcionamento de instituições para a comunidade internacional e isso é muito relevante. E depois de uma situação de “esperar para ver”, creio que começam a estar reunidas as condições para o relançamento da execução dos projectos, o que vai ter um impacto muito significativo e vai criar muitas oportunidades para empresas prestadoras de serviços, como é o nosso caso.
E o que é que lhe ficou mais na memória na sua recente visita a Moçambique?
O que me ficou mais é, por um lado, uma grande vontade das instituições, das empresas e dos quadros de voltar a carregar no acelerador. Há disponibilidade para virar a página e para voltar aos trilhos de uma lógica de crescimento do País. Por outro lado, também há a questão de várias das empresas que visitámos e de clientes com quem reunimos, que têm necessidades cada vez mais crescentes em termos de qualidade de serviços. Ou seja, a exigência, os níveis que as empresas exigem dos seus fornecedores estão cada vez mais sofisticados o que implica uma enorme capacidade de resposta por parte das empresas prestadoras de serviços.

ócio
(neg)ócio s.m. do latim negação do ócio

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Vamos passar pelas ruas de uma urbe que resistiu e aos ciclones e se refaz da pandemia - a cidade da Beira
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Nesta edição, conheça os 50 melhores restaurantes do mundo na actualidade
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A adega reservalhe um debate aceso dos especialistas sobre os vinhos de luxo

BEIRA
Os monumentos históricos e uma paisagem que resiste às adversidades

O destino e BEIRA, UMA VIAGEM chego à cidade da beira quando já se viviam os dias cinzentos impostos pela pandemia, com as máscaras nos rantias que chegará. Na dú- bom espécime do Movimenrostos que impediam que se vida, é melhor abarcar tu- to Moderno dos meados do visse o verdadeiro rosto da do o que o olhar permitir, na século passado, em que tamcidade. Se o olhar nos trans- mesma ambição de Pahom, bém se insere a Casa dos Bimite o espírito, a boca e o de Liev Tolstoi, na esperan- cos mais para o centro da cisorriso são o cartão de visi- ça de que tenhamos um final dade. Era a Arquitectura a ta do rosto. Na marginal, so- mais feliz. E tudo em nome desafiar os padrões demapra uma brisa impregnada da memória futura, que se- siadamente comedidos. de sal, adolescentes jogam rá tudo o que teremos quan- Mas nem tudo é luz sépia. futebol na margem possí- do a memória física dei- Há um verde vibrante no vel como que a ignorarem a xar de existir. O antigo Palá- Parque de infra-estruturevolta de um mar que pa- cio dos Casamentos começa ras Verdes e talvez seja por rece querer engolir tudo. O a ceder ao peso das águas. aqui que uma Beira do fubar em que me sento, mes- Mas o mural do artista plás- turo renasça. E para ajumo à beira mar e que pare- tico Chicani, a conservar o dar na drenagem das águas ce que se vai esvair a qual- azul céu, como se fizesse as das chuvas e ajudar a protequer momento, é dos poucos vezes do mar que estava ger a costa, ao mesmo temlugares em que ainda se po- com as cores das monções, po que se reactiva o mangal. dem ver os rostos sem más- permanece intacto. Mas Mas mais do que isso, tem caras, em que qualquer con- nunca sabemos até quando. uma espécie de exposição versa se torna num momen- Então ficamos ali a pensar permanente com escultuto de liberdade. em quantas fotografias fo- ras e murais de artistas conCom a pandemia a impor ram tiradas depois de juras sagrados, como Idasse Temdias menores, Beira pedia de amor eterno e desejamos be, aos que são o futuro copassos mais rápidos, mais que o amor seja mais eter- mo AfroIvan. Tem também largos, uma corrida em con- no do que as paredes do edi- casas de restauração. E Amtra-relógio, como se tivés- fício que ouviram as juras. biente, e Turismo, e Arte, e semos medo de que a qual- Bem perto, há o Grande Ho- Cultura, e Comércio. Tudo no quer momento o nosso rotei- tel, um monstro vítima da mesmo espaço a provar que ro fosse desfeito, que tudo de sua grandeza, a guardar a podem ter soluções integrarepente se esfarelasse na imponência que lembra ou- das. Talvez para lá voltaremão dura do tempo. tros tempos… tempos muitos mos, para uma viagem mais A cidade parece estar em distantes e que não voltam demorada, sem a pressão do metamorfose constante, mais. O futuro chegou dema- medo de que talvez a mão num pêndulo que nunca tem siado cedo e demasiado ce- dura do tempo esfarele tudo. pouso fixo. A luz sépia do pas- do virou passado. Agora, há sado é ainda presente e não ali outras vidas e outras hisdá para deixar nada para o tórias para serem contadas. TEXTO ELTON PILA futuro de que não temos ga- Mas não deixa de ser um FOTOGRAFIA D.R.
EM CONTRA-RELÓGIO

O GRANDE HOTEL É UM BOM ESPÉCIME DO MOVIMENTO MODERNO DOS MEADOS DO SÉCULO PASSADO, EM QUE TAMBÉM SE INSERE A CASA DOS BICOS MAIS PARA O CENTRO DA CIDADE



ROTEIRO
COMO IR Há voos directos da LAM de Maputo à cidade da Beira, além de ligações regionais.
O QUE FAZER Os edifícios que marcaram um tempo pedem sempre uma visita, talvez a última possível. Deixar-se caminhar pelo Parque de Infra-estruturas Verdes vale sempre a pena ou mesmo pela marginal com a brisa impregnada de sal.
ONDE COMER Há cozinhas diversas na Beira, com varias casas de restauração. Peça, pelo menos uma vez, que lhe seja servido “o que não se pode sair da Beira sem provar”.
ONDE DORMIR Há uma infinidade de hotéis. De pensões modestas aos Hotéis de padrões internacionais. Mas ficar num lugar que lhe permita chegar com a urgência possível nos locais em que quer visitar é sempre melhor.
Restaurante dinamarquês Noma distinguido com um dos maiores prémios da gastronomia mundial
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THE WORLD’S 50 BEST — ‘NOMA’
o ano de 2021 tem sido um prolífico para o chef René Redzepi e para o seu famoso Noma. Depois de um 2020 degustado ao sabor das incertezas causadas pela pandemia, o restaurante dinamarquês voltou a abrir com as suas habituais listas de espera para conquistar um dos maiores prémios da gastronomia mundial. Esta distinção reconhece a “atenção impecável” do chef René Redzepi e da equipa do Noma, no trabalho com produtos da época cultivados localmente e à construção de um menu criativo e complexo. Com duas estrelas Michelin, o Noma agora ocupa o topo do ranking, no lugar que era, até agora, do francês Mirazur. “O Noma é, sem dúvida, o restaurante mais influente da sua geração”, explica o director de conteúdo do World’s 50 Best Restaurants, William Drew. Na cerimónia de gala realizada em Antuérpia, Bélgica, a cozinha dinamarquesa ocupou, de resto, um lugar de destaque na lista dos melhores de 2021. Além do Noma, outro restaurante de Copenhaga, Geranium, ficou na segunda posição. A fechar o ‘pódio’, pelo segundo ano consecutivo, o Asador Etxebarri (País Basco) foi eleito o terceiro melhor do mundo. Juntamente com os Estados Unidos, Espanha é, de resto, o país com mais restaurantes entre os 50 primeiros. São seis no total, quatro deles no País Basco. Já o continente africano é representado por apenas um restaurante, o Wolfgat em Paternoster, na vizinha África do Sul. Com um forte enfoque na sustentabilidade, o restaurante do chef Kobus van der Merwe’s em Paternoster, uma das mais antigas vilas de pescadores na Costa Oeste da África do Sul, a cerca de 150 quilómetros da Cidade do Cabo, serve um menu de sete pratos, construído com base em ingredientes indígenas locais, inspirado na paisagem e atmosfera circundantes. Com capacidade para apenas 20 comensais por sessão, o restaurante tem uma ambiência intimista e, mais importante ainda, faz da sustentabilidade um ingrediente principal, tudo servido num edifício com mais de 130 anos e um terraço sobre o oceano, fazendo do Wolfgat o local perfeito para admirar a vista deslumbrante. Na lista dos 50 melhores do mundo estão estabelecimentos espalhados por 26 países dos cinco continentes. Desde que a lista foi lançada, em 2002, apenas sete restaurantes ocuparam o primeiro lugar, isto porque a maioria foi número um mais do que uma vez. Com a vitória do Noma, o restaurante dinamarquês empata assim com o lendário El Bulli, pelo maior número de vitórias de sempre — cinco, mais concretamente. Criado em 2002 pela revista gastronómica britânica Restaurant para competir com o sistema de estrelas do guia Michelin, o ranking World’s 50 Best Restaurants é desenhado com base na votação de 1000 pessoas, entre chefs, jornalistas e especialistas gastronómicos.
COM A VITÓRIA, O NOMA EMPATA COM O LENDÁRIO EL BULLI, PELO MAIOR NÚMERO DE VITÓRIAS DE SEMPRE — CINCO VOLTA A SER O MELHOR
DO MUNDO E HÁ UM SUL-AFRICANO NA LISTA
VINHOS DE LUXO, O DEBATE CONTINUA
sarah ahmed, jornalista e crítica de vinhos britânica, “The Wine Detective”.
Em 2019, Carlos Raposo lançou os Vinhos Imperfeitos. Vindos do Dão, Vinho Verde e Vinho Verde/Dão (um lote inovador), os emocionantes vinhos brancos de 2018 do antigo enólogo da Niepoort ostentavam preços ‘emocionantes’ (80€−300€) a acompanhar. Recentemente, provei dois novos vinhos de altos voos: Vinha dos Ultras Criação Velha 1os Jeirões 2019, da Azores Wine Company (202€) e Herdade do Rocim Júpiter Single Amphora 2015, envelhecido em talha durante uns assinaláveis 48 meses. Com um valor estratosférico de 1.000€ a garrafa, este belo tinto de vinhas velhas em ‘field blend’ da Vidigueira eleva firmemente a escala para o território do luxo. Não são apenas os preços que são provocadores, mas os próprios vinhos. Deixando de lado o status regional, o produtor ou o rótulo são millennial ou totalmente novos. E/ou os vinhos ou técnicas de vinificação são inconformistas. Que admirável mundo novo é este? Devemos saudá-lo com regozijo ou cepticismo? Este posicionamento de preço é baseado em ilusão ou realidade? Se as vendas de lançamento servirem de guia, metade da produção de 800 garrafas de Júpiter foi vendida em 72 horas... Enquanto hesitava no valor redondo (“porque não 1.320€ ou 765€”), para Raymond Reynolds (importador da Vinhos Imperfeitos no Reino Unido), “a confiança crescente na indústria e nos enólogos estava fadada a chegar a um ponto em que um vinho como este apareceu”. “É bom que assim seja”, diz ele, acrescentando, “para o benefício de Portugal, estes vinhos devem ser partilhados para estimular e inspirar uma comunidade mais ampla e uma base de notoriedade”. O ‘Fine Minds 4 Fine Wines’, grupo de reflexão internacional, considera o conceito de ‘fine wines’ um tanto elástico. Na terceira edição do ‘Define Fine Wine White Paper,’ da Areni, Andrew Caillard MW capta-o, com brilhantismo, desta forma: “o Fine Wine é o imobiliário da nossa consciência. O valor estético, significado e reconhecimento são proporcionais à experiência, aspirações e perspectivas culturais do indivíduo”. Portanto, o vinho de alta gama está, até certo ponto, nos olhos de quem o vê. No caso do Júpiter, a autoridade e credibilidade por trás do posicionamento de sucesso devem muito às relações cultivadas por Cláudio Martins com clientes mundiais de elevadíssimos rendimentos durante a sua carreira internacional na corretagem de vinhos e consultoria. A experiência em Moscovo deu-lhe “uma perspetiva diferente sobre bilionários versus milionários” que, observa Martins, “precisam de algo incrível, único e diferente”. “A minha reputação depende da qualidade do que está na garrafa”, diz, mas enfatiza “tudo ao seu redor - a narrativa, a embalagem, as redes sociais e o marketing - tudo ajuda na construção da marca”. Faz parte de uma colecção de nove ‘Vinhos do outro mundo’ adaptados especificamente para as altas expectativas e estilo de vida da sua clientela. Longe de acumular poeira em caves subterrâneas, 70% dos clientes de Cláudio Martins querem vinhos para exibir e beber agora em festas exclusivas.No que se refere a António Maçanita, da Azores Wine Company, a exclusividade e a capacidade de beber o vinho são importantes porque uma nova geração de consumidores não está apenas a comprar um produto, “mas a pagar pela experiência de provar algo diferente”; o preço do Vinha dos Ultras não está apenas relacionado com a sua pequena produção ou com as exigentes condições de cultivo do Pico. Da mesma forma, Tamara Grischy, chefe de leilões de ‘fine Wines’ da Langton, relata que os leilões online mobilizaram uma base de clientes mais jovem, predominantemente masculina e internacionalmente diversa, que “está a aceder a óptimos vinhos, prontos para beber agora, para gratificação instantânea” (em vez de se destinarem à adega ou como investimento). Além disso, observa, “os compradores amam a tecnologia do jogo e a diversão do leilão”, reforçando ainda mais os comentários de Caillard sobre os motivadores contextualmente complexos em torno da compra de vinhos de alto gabarito. O surgimento de vinhos de altíssimo nível ‘out-of-the-box’ reflecte um mercado cada vez mais dinâmico e diversificado – uma admirável nova ordem mundial. Para poucos, não muitos; mas há algum consolo para aqueles com bolsos menos fundos. Possam almejar as estrelas por muito tempo, porque todos beneficiamos com a arte e a beleza das suas criações.


A ARTE DE DAR VIDA
as mãos pintadas simulam
movimentos orientados por uma mente que armazena as vivências do seu povo e que só descansa depois de transformá-las em arte. Josina Machaque, ou simplesmente Júlia, nome pelo qual fora baptizada no mundo das artes, tem o poder de fazer falar o barro. Com as suas mãos, coloca a cultura maconde à disposição dos apreciadores da sua arte, transformando as histórias, lendas e contos típicos da região em esplêndidas obras em cerâmica. De 52 anos de idade e nascida em Cabo Delgado, Júlia sempre quis transportar, por onde quer que passasse, a história e cultura do seu povo. Após ter passado uma parte da sua adolescência na Tanzânia, regressou a Moçambique, para a capital do país, onde reside até hoje, mas quis arranjar uma forma de trazer Cabo Delgado até si. E assim o fez. Observando o trabalho realizado pela renomada ceramista moçambicana Reinata Sadimba, Júlia começou a ensaiar os primeiros passos para a concretização do anseio de transformar a sua imaginação em arte. “Comecei a trabalhar o barro no dia 31 de Julho de 1994. Não me esqueço nunca deste dia, pois é como o dia do meu nascimento. Conhecia a Reinata Sadimba e a partir do que a via fazer com o barro, comecei a fazer as minhas primeiras obras”. Com o passar do tempo, foi aprimorando a sua arte e as suas mãos já contavam histórias mais detalhadas sobre o seu local de origem por meio das obras de cerâmica. “Procuro mostrar a história e cultura moçambicanas, concretamente da minha província e assim me conecto com a minha gente”, confessou. É no Núcleo de Arte em Maputo, que a artista tem inúmeras conversas com o barro e encontra um espa-
A ARTISTA, ATRAVÉS DAS SUAS OBRAS FEITAS EM BARRO, PROCURA RETRATAR A HISTÓRIA E TRADIÇÕES DE CABO DELGADO AO BARRO
ço para deixar a arte em si falar. É nesses diálogos entre as suas mãos e o barro, que depois passa pelo forno, que surgem obras como o “homem cobra”, os “gémeos que partilham o coração”, as “tartarugas”, figuras que dominam o imaginário do povo maconde. “Sinto-me muito feliz quando faço cada um destes trabalhos. Não consigo imaginar a minha vida sem trabalhar o barro”, confessa a ceramista, com o olhar a denunciar emoção. A artista, que lamenta os efeitos da pandemia sobre o seu trabalho, mostra-se optimista em relação ao futuro e espera poder levar Cabo Delgado ao mundo, através da cerâmica. “A pandemia abalou-nos bastante como artistas, mas até em momentos de crise há sempre espaço para a esperança. Acredito que tempos melhores ainda estão por vir”, concluiu a artista. Os trabalhos da ceramista Júlia podem ser encontrados na Núcleo de Artes, na cidade de Maputo
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AUDI GRANDSPHERE CONCEPT,
a audi apresentou o segun-
do dos três concepts considerados cruciais para o futuro da marca. O Grandsphere revelado é um concept com mais de cinco metros que mostra uma nova forma de viajar. O Audi Grandsphere é a prova de que, aos olhos da Audi, a condução não vai ser o mais importante nos automóveis do futuro, mas sim a experiência dos passageiros. Para tal, o concept está equipado com condução autónoma de nível 4, acompanhado por uma motorização 100% eléctrica. A plataforma tecnológica do Audi Grandsphere Concept é a PPE (Premium Platform Electric), dedicada exclusivamente a sistemas de direcção eléctrica. Com base na plataforma PPE, este veículo vai estar equipado com dois motores eléctricos
A REDEFINIÇÃO DO CONCEITO DE CARRO
e uma bateria de 120 kWh de capacidade. O nível 4 de direcção autónoma dispensa a presença de um condutor. O Audi Grandsphere Concept não tem volante, pedais ou displays. Tudo para dar ao usuário uma nova dimensão de liberdade, segundo a marca. “O banco da frente torna-se um lounge de primeira classe com máximo espaço, vistas mais livres e acesso a todas as funções de um ecossistema digital holístico no qual o Audi Grandsphere está integrado”, pontuou a Audi. Se por dentro o carro promete ser um luxo só, o sedã-conceito da marca alemã também quer impressionar no visual externo e no motor. O visual não lembra, nem de longe, o de um sedã tradicional e assemelha-se
mais a um desportivo, como o Avus, conceito da marca nos anos 1990. Os dois motores eléctricos do Audi Grandsphere Concept são capazes de fornecer uma potência total de 530 kW e um torque de 97,89kgf/m. Essa motorização é equivalente à encontrada numa Ferrari F8, por exemplo, já que os 530 kW representam 720 cavalos de potência. De acordo com a fabricante, o conjunto potência + torque faz a aceleração do Grandsphere ir dos 0 aos 100 km/h em pouco mais de 4 segundos. O carregamento do sedã eléctrico é de 800 volts, por isso, a bateria pode ser carregada com até 270 kW num tempo muito curto em estações de carregamento rápido. Segundo a marca, após apenas dez minutos de carga, o sedã está pronto para rodar 300 quilómetros. Em menos de 25 minutos, o utilizador pode carregar a bateria de 120 kWh de 5% a 80%.

