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ESPECIAL INOVAÇÕES DAQUI
Dão Dinheiro, mas Pouca Gente Entende Como Funcionam. O Que São os NFTs?
É a tecnologia da moda no mercado de criptoactivos e tem movimentado quantias milionárias em áreas como a música ou a arte. Por isso, mas não só, desperta o interesse do público em geral e dos investidores em particular. Mas antes de recorrer a este tipo de activo é importante entender o que é e como funciona a indústria dos tokens não fungíveis até porque, na verdade, quase ninguém o consegue
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TEXTO Luís Ribeiro • FOTOGRAFIA Istock Photo , D.R
Antigamente, quem podia, claro, pendurava os seus Picassos de 40 milhões de dólares nas paredes das suas mansões. No entanto, como os NFT são apenas dados, os coleccionadores de peças criptográficas estão na sua maioria a olhar para os ecrãs. Mas como, porquê?! Andando um pouco para trás, vamos ao início da história: com o crescimento do valor das criptomoedas, o spotlight centrou-se nas tecnologias que recorrem à blockchain como o DeFi (Decentralized Finance” ou, em português, finanças descentralizadas, e um conceito amplo que abrange toda
“The first 5,000 days”, do artista Beeple, foi vendido na leiloeira Christies por 69,3 milhões USD. Antes, uma obra sua valia... 100 USD
a tecnologia disruptiva) e, mais recentemente, os Tokens não Fungíveis, os chamados NFTs (Non-fungible Tokens, na sigla em inglês). Ultimamente, os NFT têm sido objecto de inúmeras manchetes, uma loucura que começou em Dezembro do ano passado, quando o criptoartista Beeple vendeu um grupo de obras por mais de 3,5 milhões de dólares. Meses mais tarde, uma série vertiginosa de ficheiros digitais – videoclips de LeBron James a fazer afundanços, ou o primeiro tweet do inventor da rede social Twitter, Jack Dorsey –, estavam a ser cunhados em NFTs e leiloados por centenas, milhares ou mesmo milhões de dólares. Até o New York Times participou neste “loucura”, quando o seu repórter de tecnologia Kevin Roose criou um NFT de uma das suas colunas e leiloou-o por uma soma de cerca de 560.000 dólares, no dia da sua venda, com os lucros a reverterem para obras de caridade. Na verdade, ainda ninguém concorda inteiramente com o significado desta corrida ao “ouro” digital. Se perguntarmos aos campeões da Bitcoin — os “nativos criptográficos”, como eles próprios se auto-intitulam —, os NFTs são um presságio do futuro da propriedade digital. São um
vislumbre do dia que há-de chegar, e em que as pessoas gastam os seus rendimentos em artigos digitais que podem trocar, revender ou acumular como investimento; quando o Governo perder o seu poder único de cunhar moeda e proteger a propriedade, porque as pessoas confiam na matemática implacável da blockchain. Mas há riscos e desvantagens abundantes nesta visão NFT, sobretudo os custos ambientais. A rede Ether funciona com grandes quantidades de energia, aproximadamente a mesma quantidade por ano que a Hungria, por uma estimativa. E os cépticos dos NFT também consideram
o cenário como sendo ainda mais zeloso do ponto de vista criptocópico, o que significa principalmente manter as pessoas a falar de moedas criptográficas para que os preços do Etherium e do Bitcoin se mantenham elevados. Desde que esta ‘NFTmania’ se instalou, são cada vez mais os beneficiários e vencedores desta economia moderna da atenção, desde celebridades e marcas tradicionais até pessoas comuns que vendem um meme que gerou milhares de milhões de cliques. Paris Hilton, por exemplo, vendeu uma série de NFTs de imagens digitais por mais de um milhão de dólares; os Golden State Warriors, equipa de basquetebol da NBA, leiloaram NFTs de uma colecção de recordações digitais; ou Jorge Mendes, empresário de Cristiano Ronaldo, fez quase dois milhões de dólares a vender imagens exclusivas dos atletas que representa (a maioria de CR7). O mercado da arte é mesmo que, de forma mais palpitante, vive esta onda de NFTs. Os coleccionadores criaram galerias de realidade virtual para poderem amarrar os seus óculos e ver a sua arte numa parede virtual e convidar amigos a juntarem-se a eles para verem as festas. Mas outros evitam este tipo de exibição e simplesmente puxam a sua arte para os seus iPhones ou navegadores de computador, como se fossem fotos do Instagram.
Terceira obra mais cara de sempre... é digital
Naquele dia, na casa de leilões Christie’s, ninguém levantou a mão para fazer um lance, nem se ouviu o martelo soar sobre a madeira. E, no entanto, aconteceu um dos leilões mais disputados dos últimos anos. “The first 5,000 days”, do artista conhecido como Beeple, foi vendido em 11 de março por 69,3 milhões de dólares. “É o terceiro preço mais alto já alcançado por um artista vivo”, aponta Beatriz Ordovás, directora do departamento de arte do pós-guerra e contemporâneo da Christie’s em Espanha. Mas esta venda representou um marco não tanto pelo preço, mas sim por ser a primeira vez que uma grande casa de leilões oferecia uma obra de arte digital, paga em criptomoedas e leiloada on-line. A autenticidade da obra estava garantida por um token não fungível (NFT). Num mundo no qual tudo pode ser replicado com um simples copia-e-cola, os NFTs conferem singularidade a uma imagem, e garantem um valor de exclusividade. “Funcionam como uma garantia de autenticidade”, diz Ordovás. A obra de Beeple, uma enorme colagem composta por 5000 ilustrações, pode ter um valor artístico. Mas é o NFT que lhe dá valor económico. Há quem veja nestes activos uma revolução que mudará para sempre o mundo da arte. E quem denuncie o crescimento de uma bolha económica – a qual, quando estourar, só deixará um monte de fumaça e muito dinheiro gasto pelo caminho. Antes de fazer história na Christie’s, o valor médio de uma obra de Beeple rondava os 100 dólares. “Os artistas digitais não podiam vender a sua arte como os que trabalhavam com suporte físico e os NFTs acabaram com esta discriminação”, explica Primavera de Filippi, pesquisadora do Centro Berkman-Klein de Internet e Sociedade da Universidade Harvard e do Centro Nacional de Pesquisa Científica da França. De Filippi tem uma visão optimista desta tecnologia. Acredita que ela

valoriza o trabalho de artistas como Beeple, replicando no mundo digital as limitações do suporte físico: “Os NFTs criaram artificialmente uma forma de escassez digital, e isto revaloriza uma obra”. A especialista considera que esta tecnologia permitiu a entrada de novos artistas no mercado da arte. E também de novos compradores. Segundo o site NonFungible.com, plataforma que monitora o mercado de NFTs, o segundo trimestre de 2021 representou mais um recorde para o sector. De Janeiro a Março deste ano, o volume total negociado chegou a quase 509 milhões de dólares, sendo que entre Abril e Junho atingiu os 754 milhões, mais 48%, o que se compararmos com o trimestre homólogo de 2020, (apenas 40,2 milhões de dólares), mostra um salto de incríveis 3 490%.
O que são?
São uma espécie de certificado criptográfico atrelado a um produto digital, a modalidade, que temos visto em notícias como sendo o veículo de trocas milionárias em leilões de arte, por exemplo, e que vem atraindo investidores famosos. Porém, antes de pensar em recorrer a este tipo de activo é essencial saber o que são NFTs e como esse mercado funciona na prática. Começando pela palavra token, trata-se de uma representação digital. Ou seja, funciona como uma senha ou uma chave criptografada. Contudo, no caso dos NFTs, mais do que um código, os tokens representam, na verdade, activos e bens não fungíveis. Neste ponto, saber o que significa não fungível é mais um passo para ter uma ideia de onde se está a investir. Em economia, bens não fungíveis são aqueles que são únicos, não são intercambiáveis e muito menos fraccionáveis. Dessa forma, os NFTs são, basicamente, registos de activos ou bens em formato digital, que funcionam como um contrato que garante a sua autenticidade. São únicos, exclusivos e não podem ser reproduzidos. Além disso, esses certificados de propriedade digital são registados pelo mesmo sistema usado para comprar e vender cripé conhecida a blockchain, não podendo, portanto, ser apagada. Até porque, toda a transacção passa a ser um novo bloco que é adicionado a esse activo permanecendo como parte da corrente, sendo completamente rastreável. Além disso, no código do token não fungível – construído por meio de um padrão próprio -, existem campos como o nome, símbolo, proprietário, aprovação de posse, transferência, metadados, entre outros elementos que se assemelham a um contrato inteligente. Enfim, tudo formatado para garantir que o NFT seja um selo de autenticidade digital verdadeiro, impossível de ser corrompido, reproduzido ou violado.
Como são vendidos?
Quando alguém adquire um NFT, não é como se passasse a ter os direitos autorais sobre o activo ou bem que o token representa. Está apenas a comprar um certificado de posse que, mais adiante e se assim desejar, poderá revender. Já o criador do referido activo detém os direitos autorais
tomoedas, sendo também transaccionados por via dele, no caso, via blockchain.
Ok. Mas e na prática?
Mas que tipo de activos ou bens não fungíveis esses criptoativos representam? O que pode ser comercializado com eles? Devido ao seu valor único e por não poderem ser reproduzidos, apenas veiculados, são comummente usados para vender produtos digitais autorais. Nesse rol entram tanto itens que vieram do mundo físico como aqueles originalmente digitais. Como exemplo, imagens, músicas, vídeos, jogos filmes, itens coleccionáveis, mensagens de redes sociais e até mesmo os famosos memes da internet. E, por estarem atrelados à segurança da tecnologia blockchain, esses activos permitem que todo o tipo de produto digital seja vendido com segurança, prevenindo fraudes. Afinal, possuem uma protecção criptográfica praticamente inviolável, mantida e validada por milhares de computadores conectados, de modo que, sempre que um NFT é vendido, a operação fica registrada nessa espécie de grande livro de registo público, como e poderá obter ganhos tanto na primeira negociação quanto nas futuras vendas. Actualmente, os principais NFTs são vendidos na rede blockchain da Ethereum, uma das criptomoedas mais famosas do mercado. No entanto, a escolha da rede ou da criptomoeda vai depender da plataforma onde o NFT foi criado. Entre as mais populares estão a OpenSea, Rarible, SuperRare, Nifty Gateway e a Binance. Ainda de acordo com o NonFungible. com, o mercado de NFTs, que incialmente se concentrava em artes e jogos, agora está mais polarizado do que nunca em torno do segmento de itens coleccionáveis, que sozinho respondeu por 60% de todo o volume negociado no segundo trimestre deste ano. Já a arte posiciona-se como um segmento secundário com apenas 14% do volume em dólares, enquanto os jogos ficam com apenas 5% . Segundo o Relatório NFT 2020, o valor da arte digital cresceu 299%. E isso é apenas a ponta do iceberg: esta tecnologia pode ser associada ao mercado do luxo, aos videogames, à música… Resta saber se é apenas o começo de um admirável mundo novo. Admirável, sim, bom ou mau, iremos descobrir.
fintech Imali, o Poder de Manusear Moeda Com Segurança e sem Custos
As fintech estão entre os produtos tecnológicos que mais rapidamente evoluem pelo mundo, principalmente em África. E não param de surpreender na oferta de novos produtos e facilidades
TEXTO Yana de Almeida • FOTOGRAFIA Mariano Silva
Num país cada vez mais fértil para o florescimento da economia digital, a inovação é um imperativo social. Foi olhando para esse cenário emergente que a fintech moçambicana, Paytek, desenvolveu o iMali, que como muitas soluções que tem trazido novas facilidades de manusear a moeda, veio acrescentar inovação ao nível dos meios de pagamentos digitais. Criado em 2018 na primeira sandbox Regulatória do Banco de Moçambique, o iMali configura-se como um ecossistema de serviços de pagamentos digitais que não acarreta custos de transacção associados e utiliza a leitura do código QR, estando disponível em lojas físicas e sites de comércio electrónico. “Depois de fazer uma análise de mercado, descobrimos que existem ainda algumas oportunidades muito ligadas aos preços e taxas aplicadas neste tipo de serviço. Achamos que conseguimos competir e aplicar taxas mais baixas”, afirmou Gerson Zandamela, responsável pela área de negócios da Paytek. Lançado em Maio deste ano, na Universidade Eduardo Mondlane, local pioneiro na utilização desta App, o iMali permite, para além da realização de pagamentos com a leitura do código QR, a compra de recargas telefónicas, credelec, pagamento de facturas de água, pacotes de televisão e envio e recepção de dinheiro. Em fim, tudo o que todas as plataformas digitais tradicionais já conseguem proporcionar aos consimudores. “Acreditamos que a UEM seja um ambiente fértil para testar esta nova solução de pagamento por reunir jovens em processo de transição para a vida adulta. Queremos acompanhá-los na organização do dinheiro digital e ao mesmo tempo obter deles os feedbacks necessários para melhorar ainda mais a nossa plataforma”, afirmou Gerson Zandamela. Com um nome emprestado de diferentes línguas (“i”, de innovative em inglês e “male” do changana “dinheiro”) o “dinheiro inovativo”, iMali permite fazer operações de forma simples, rápida e gratuíta. “Temos um serviço de pagamento completamente operacional que já pode ser utilizado em qualquer estabelecimento e temos pré-acordos com a visa para sermos um serviço de com cartão visa directamente associado a conta iMali que pode ser utilizado em qualquer parte do mundo”. Quem já usa o imali, contabiliza ganhos. Para Gizela Alexandre, directora comercial da 4food, empresa que explora o centro social na Faculdade de Ciências da UEM, local onde o iMali é uma realidade diária, esta nova app é indispensável para o contexto actual marcado pela pandemia da covid-19. “Numa fase como esta, com a covid-19, com o iMali, evitamos pegar dinheiro e fazer trocos. Através do código QR, bem distante do caixa, o cliente pode fazer o pagamento sem contacto físico e nós fazemos simplesmente a confirmação”, concluiu. Em relação evolução da conta digital iMali o futuro mostra-se optimista. A Paytek espera fazer o lançamento de novas funcionalidades na app como cartões de débito contactless e virtuais, planos de poupança inovadores, sistema de gestão de finanças pessoais e outros serviços de valor acrescentado.
B
EMPRESA
Paytek
FUNDAÇÃO
2018
FUNDADORES
JR Consulting e Fundação Universitária
APLICATIVO
iMali

Pesquisa
EUA financia investigação para fortalecer o tratamento da malária em Moçambique
O governo dos Estados Unidos, através da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), concedeu, recentemente, um donativo de 800 mil dólares ao Centro de Investigação em Saúde da Manhiça (CISM) para a investigação da malária e da saúde materno-infantil. A doação irá financiar estudos sobre a eficácia da vacina pneumocócica e dos medicamentos e tratamentos anti-maláricos. A USAID, o CISM e o Ministério da Saúde de Moçambique (MISAU) colaboraram para identificar estes tópicos como sendo críticos para combater a malária e melhorar os cuidados de saúde materno-infantil em Moçambique. O primeiro estudo concentra-se na eficácia dos medicamentos e tratamentos anti-maláricos. O foco será a compreensão da resistência aos medicamentos pelo Plasmodium falciparum – o parasita responsável pelos casos mais graves de malária em Moçambique. O segundo estudo concentrar-se-á no impacto que a vacina pneumocócica teve nas taxas de pneumonia, meningite, sepse e outras infecções relacionadas, em crianças.
Saúde
AstraZeneca e Royal Academy of Engineering firmam parceria para impulsionar HealthTechs em África

Em 2014, a Academia Real de Engenharia fundou o Prémio África para a Inovação em Engenharia, um prémio que apoia os inovadores em toda a África subsariana. Após um período de formação e orientação de oito meses, o vencedor recebe um prémio de 30 mil dólares, enquanto três vice-campeões recebem 15 mil cada um. Como parte da nova colaboração, a AstraZeneca oferecerá apoio de formação aos empreendedores do Prémio África, dando-lhes acesso a conhecimentos e experiência à medida para os ajudar a desenvolver os seus projectos. A AstraZeneca também participará numa série de webinars para a rede de ex-alunos do Prémio África e para a actual coorte, partilhando conhecimentos e perspectivas sobre tecnologia da saúde e outros temas. Ao ligar os empreendedores do Prémio África à Rede A.Catalyst, à cadeia de fornecimento AstraZeneca e a um ecossistema mais vasto (incluindo investidores), a parceria espera ajudar a fomentar o talento local e reforçar a inovação no sector da saúde em África.
Investimento
Google vai aplicar mil milhões de dólares na “transformação digital” de África
A gigante tecnológica norte-americana Google vai investir cerca de mil milhões de dólares em África para apoiar a “transformação digital do continente” nos próximos cinco anos. O plano de investimento foi divulgado pelo CEO da Google e da Alphabet, empresa detentora do gigante tecnológico, Sundar Pichai, através de um vídeo divulgado na rede social Twitter. O orçamento disponibilizado irá cobrir “uma variedade de iniciativas”, desde a melhoria da conectividade até ao investimento em ‘startups’, sublinhou Sundar Pichai, citado pela agência EFE. O dinheiro será aplicado em quatro áreas principais, nomeadamente o acesso facilitado e desenvolvimento de produtos para utilizadores africanos; a assistência a empresas para a sua transformação digital; o apoio a empreendedores para impulsionar tecnologias de nova geração; e o apoio a organizações sem fins lucrativos que trabalham para melhorar vidas em África.

Covid-19
Vacina em adesivo promete resposta imunológica superior ao método tradicional
Apesar de os adesivos com micro-agulhas estarem em desenvolvimento há vários anos, os fabricantes têm mostrado dificuldades na produção em massa. Por outro lado, adaptar o adesivo aos diferentes tipos de vacinas também pode ser um desafio. Contudo, um novo estudo mostra, agora, que é possível superar estes problemas que foram condicionando o desenvolvimento do adesivo. Os avanços deram-se através de uma técnica de impressão 3D avançada denominada produção de interface líquida contínua (CLIP). O método usa luz ultravioleta e uma resina especial para criar os adesivos que são consistentes em tamanho, forma e espaçamento de agulha, independentemente da quantidade em que são produzidos. “A nossa abordagem permite-nos imprimir directamente as micro-agulhas em 3D, o que nos dá margem para fazer as melhores micro-agulhas do ponto de vista de desempenho e custo”, refere o microbiologista Shaomin Tian, da Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill. A facilidade e a velocidade com que estes adesivos de micro-agulha podem ser desenvolvidos pode levá-los a um uso muito mais amplo, referem os investigadores em comunicado.