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OPINIÃO
A aversão ao risco é inimiga do investidor?
Cláudio Pondja • Head Of Wealth Management do Banco BiG
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Em períodos de incerteza e maior volatilidade nos mercados, é comum os investidores adoptarem uma postura de aversão ao risco como forma de proteger o seu capital, reduzindo a sua exposição a instrumentos de maior risco, e aumentando a sua exposição a classes de activos mais líquidos ou conservadores, nomeadamente os depósitos a prazo.
Contudo, uma postura prolongada de elevada aversão ao risco, particularmente numa economia com taxas de inflação elevadas, é negativa para o investidor no médio-longo prazo, pois não permite gerar retornos reais acima da inflação, nem extrair benefícios da exposição a uma carteira de activos diversificada. A título de exemplo, um investimento de $100 em 1965, no índice S&P 500 (índice norte-americano composto por 500 das maiores empresas deste país), valeria em 2021 mais de $26.000, o equivalente a um retorno médio superior a 10% ao ano, e muito acima da inflação neste período, apesar das várias recessões ou crises que ocorreram entre estes anos.
Em Moçambique, apesar de não existirem muitas tipologias de activos financeiros, ainda assim, os poucos que existem apresentam diferentes graus de risco, liquidez e potencial de rentabilidade, permitindo construir uma carteira de investimento relativamente diversificada.
Apesar de ainda existir algum desconhecimento e desconforto de como tirar partido dos investimentos no mercado de capitais, a rejeição da sua utilização pelo argumento da aversão ao risco pode ter efeitos negativos para o investidor e nos seus objectivos de poupança e acumulação de riqueza.
Desta forma, é fundamental melhorar a literacia financeira dos investidores e compreender alguns aspectos chave que lhes permitam tirar melhor partido das suas poupanças e investimentos, mesmo em plena volatilidade do mercado de capitais.
No momento de investir no mercado de capitais, é importante construir uma carteira de investimento adequada aos seus objectivos, sejam estes, por exemplo, um complemento para a reforma, o financiamento para a edução dos filhos, a preservação do capital existente, o crescimento da base de riqueza, entre outros. Independentemente do propósito e dos objectivos de investimento, existem três princípios de elevada relevância que devem ser observados na construção de uma carteira de activos: I. Definir o horizonte temporal do investimento, de forma a adequar o nível de risco e a maturidade dos activos em carteira (tipicamente, investimentos para um horizonte temporal de longo prazo deverão ter maior exposição a activos de maior perfil de risco-retorno vs. uma carteira com um horizonte temporal de curto prazo). II. Diversificação dos investimentos (por classes de activos, sectores de actividade e moeda, se possível), de forma a proteger a carteira, para que um investimento em específico que apresente baixa performance não afete significativamente o desempenho de toda a carteira. III. Alocação de uma parte da carteira em activos com elevada liquidez, de maneira a que, no caso de uma emergência, possa resgatar esses investimentos de forma rápida e eficaz, sem impacto material no valor dos mesmos. Portanto, saber quando comprar e vender um activo financeiro no momento certo é, de facto, importante para um investidor e, relativamente aos activos financeiros mais voláteis, é importante saber identificar qual é o nível mais baixo que um título pode assumir e qual o valor mais alto da sua cotação, no qual se deverá comprar ou vender o mesmo. É importante também, após a aquisição do título, fazer um acompanhamento da performance do mesmo, e não se deixar levar por ondas de optimistas ou pessimistas que atravessem o mercado sem uma justificação sustentada, analisando fria e determinadamente as oscilações dos preços. Para finalizar, deixo algumas frases interessantes para reflexão: • A poupança é a forma mais inteligente de precaver o futuro; • A construção da reforma que queremos começa hoje; • O investimento de longo prazo deve ser tanto mais diversificado quanto possível; • Conhecer o seu perfil de risco é conhecer-se a si próprio enquanto investidor.