Catálogo Kinofogo – Mostra de Cinema itinerante

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A primeira edição do cineclube Kinofogo aconteceu em março de 2016, de forma espontânea, pelo simples desejo de assistir ao filme Cemitério do Esplendor (Apichatpong Weereasethakul, 2016), até então inédito nas salas de cinema de Brasília. Estendemos um lençol para servir de tela, montamos o projetor e as caixas de som, convidamos os vizinhos e amigos e, ao final da sessão, acendemos uma fogueira e sentamos ao redor para debater e assar batatas. Desde então, outras sessões aconteceram seguindo ritual semelhante, no que se converteu em uma parceria entre a Savant Editora e o Espaço AVI. Posteriormente, o projeto foi contemplado pelo edital de Audiovisual do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal (FAC) em 2016 na linha “Apoio ao Desenvolvimento do Cineclubismo”. Com o recurso organizamos uma programação especial no formato de mostra de cinema itinerante em praças do Varjão e Paranoá, além de convidar e oferecer transporte para que o público também visitasse o Espaço AVI, no Córrego do Urubu. A comunidade local participou de forma espontâneo, circulando o espaço do evento, olhando o telão, rindo, enquanto alguns assistiam do começo ao fim. Para o Kinofogo – Mostra de Cinema Itinerante, tivemos a presença de atores, atrizes e diretora na nossa fogueira-debate. O público perguntou sobre os processos dos artistas, bem como sobre os filmes exibidos.



Para compor a programação do Kinofogo - Mostra de Cinema Itinerante foram selecionados quatro longa-metragens nacionais lançados nos últimos 6 anos que debatem temas como identidade, memória e território. Nos filmes escolhidos os lugares atuam na construção das narrativas. Da mesma forma, a ação de instalar um telão em lugares específicos do Varjão e do Paranoá propõe intervir, uma forma de participar da composição dessas cidades do Distrito Federal. Além dos filmes, o Kinofogo propõe a convivência em torno da fogueira, seja a conversa com os(as) convidados(as) ou fenômenos espontâneos vindos da rua.



AGOSTO

#1 CIDADE DO FUTURO CLÁUDIO MARQUES E MARÍLIA HUGHES (FICÇÃO, 2016, 1H15)

Nos anos 70, cerca de 73 mil pessoas foram deslocadas de uma região do norte da Bahia para dar lugar à construção da Hidrelétrica de Sobradinho, durante o regime militar. Em 2015, quatro atores revisitam as suas próprias histórias através de encenações.

Para o debate na noite seguinte, a atriz Milla Suzart escolheu exibir o filme: #2 A HISTÓRIA DA ETERNIDADE CAMILO CAVALCANTE (FICÇÃO, 2015, 121MIN)



Quando soube que iria para o Varjão pesquisei um pouco. VArjão e Serra do Ramalho (cidade em que acontece cidade do futuro) tem um processo histórico meio contrários: o Varjão surge da desapropriação de uma empresa e as construções irregulares rapidamente configuraram a nova cidade como uma favela (e hoje já não é mais); enquanto Serra do Ramalho foi projetada para receber pessoas que seriam desapropriadas de suas terras por conta da construção da represa de sobradinho. Se eu estiver equivocada, me perdoem. Milla Suzart, atriz de Cidade do Futuro


Achamos que o Paranoå Ê muito semelhante a outros lugares do Brasil. Cheio de gente guerreira lutando pra vencer com dignidade. Aristides de Sousa (Juninho) e Neguinho, atores de A Vizinhança do Tigre


SETEMBRO

#1 PEDRAS DO PARANOÁ TIAGO MACHADO CARNEIRO (FICÇÃO, 2016, 16MIN)

#2 A VIZINHANÇA DO TIGRE AFFONSO UCHOA. (DOCUMENTÁRIO/FICÇÃO, 2014, 1H35)

Os jovens Juninho, Eldo, Adilson, Menor e Neguinho são moradores da periferia de Contagem e vivem divididos entre o trabalho e a diversão, o crime e a esperança.

Os atores Juninho Vende-se (Aristides de Sousa) e Neguinho (Wederson Patrício) selecionaram os filmes mineiros: #3 A FÉ QUE NOS UNE PAULO GUERRA (DOCUMENTÁRIO, 2017, 50MIN)

#4 ELINOR DE JULIANA MAFRA RENATO SARIEDDINE E CLARA ALBINATI (FICÇÃO, 2016, 12MIN)

#5 OBCECADOS BRUNO SANÁBIO (FICÇÃO, 2015, 19MIN)



Acredito que o cinema se mistura à vida de modo incontornável. Em 1996, mudei­me para o bairro Nacional, em Contagem, e conheci a realidade periférica: ruas empoeiradas, esgoto precário, rapazes de roupas gastas e cortezano na mochila. Sacola verde pra cheirar benzina, ruas mal iluminadas, amigos que desapareciam, de repente. Eu fiz faculdade, o que me tornou praticamente um estrangeiro no meu bairro. Meus amigos e colegas de turma se tornaram serventes de pedreiro, balconistas de lojas de ferragem, traficantes de droga ou jovens presidiários. Alguns morreram. Comecei a fazer filmes e nossas vidas se distanciaram. Senti uma cisão enorme entre o bairro em que fui criado, seus valores, figuras e regras e o mundo do cinema. Incomodou­me o fato de que os filmes brasileiros recentes destinados a figurar pessoas pobres como os meus vizinhos, sempre incorressem em representá­los como vítimas do ambiente social hostil e destinados à falência humana, enquanto seres violentos e brutos. Também me senti incomodado com a estrutura usual do cinema, que quase sempre reserva a pessoas como os meus vizinhos funções servis e subalternas, como maquinista ou faxineiro. Fiz o filme em que meus amigos e vizinhos falassem e fossem ouvidos. Em “A Vizinhança do Tigre” as histórias não partem de um roteiro e sim dos fatos e situações vividos pelos próprios atores, que também participaram da criação dos seus personagens. Fizemos do filme uma ilha de silenciosa resistência ao curso normal do mundo, em que experimentamos a criatividade, o companheirismo, a autonomia e um cinema mais pobre e humano, em que cada imagem tem o valor de uma cicatriz. Affonso Uchôa, diretor de A vizinhança do Tigre



Me identifiquei muito com o filme A Vizinhança do Tigre que mostrou como a violência chega no jovem e a possibilidade de ser fazer uma vida imaginária a partir disso. Penso que iniciativas assim são boas para as comunidades e que as administrações do DF devem apoiar mais projetos desse tipo. Gosto muito da idéia de itinerância da mostra, de ser algo público e da oportunidade de ter contato até mesmo com os atores e diretores dos filmes exibidos, assim diminuindo as fronteiras entre público e espectador. Martinha do Coco Musicista e mestra de cerimônias do Kinofogo



OUTUBRO

#1 ALGO DO QUE FICA BENEDITO FERREIRA. (FICÇÃO, 2017, 23MIN)

#2 A CIDADE É UMA SÓ? ADIRLEY QUEIRÓS. (DOCUMENTÁRIO/FICÇÃO, 2011, 1H19)

O filme reflete sobre os 50 anos de Brasília, tendo como foco a discussão sobre o processo permanente de exclusão territorial e social que uma parcela considerável da população do Distrito Federal e do Entorno.

O ator Wellington Abreu escolheu exibir os curtas Dias de Greve, Rap e O Canto da Ceilância que dimensionam o trabalho da CEICINE: #3 DIAS DE GREVE ADIRLEY QUEIRÓS (FICÇÃO, 2009, 24MIN)

#4 RAP, O CANTO DA CEILÂNDIA ADIRLEY QUEIRÓS (DOCUMENTÁRIO, 2005, 15MIN)



A produção do Kinofogo é muito parecida com nossa luta para exibir filmes em Ceilândia-DF. Wellington Abreu (CEICINE), ator de ‘A cidade é uma Só’



NOVEMBRO

#1 FORA DE QUADRO TXAI FERRAZ (DOCUMENTÁRIO, 2016, 20MIN)

#2 FAZ QUE VAI BÁRBARA WAGNER E BENJAMIN DE BURCA (VÍDEO-ENSAIO, 2015, 12MIN)

#3 VOU RIFAR MEU CORAÇÃO ANA RIEPER (DOCUMENTÁRIO, 2012, 1H16)

O documentário trata do imaginário romântico, erótico e afetivo brasileiro a partir da obra dos principais nomes da música popular romântica, também conhecida como brega.

A diretora Ana Rieper escolheu exibir o longa-metragem: #4 TODA NUDEZ SERÁ CASTIGADA ARNALDO JABOR (FICÇÃO, 1973, 1H40)


Morei em Sergipe por 4 anos, entre 1998 e 2002, quando conheci muitos desses lugares onde filmamos Vou Rifar Meu Coração. Mas nunca morei nessas cidades específicas. Foi uma experiência interessante de conhecer e dar a conhecer um Brasil que não frequenta as telas de cinema. Sergipe é o menor estado brasileiro e, talvez, aquele de que menos se ouça falar. E tem muita história,


cultura, histórias de vida. Nessa perspectiva me motivou filmar ali esse sentido de descoberta, pra mim, de um mundo que era muito meu, porque eu tinha vivido ali, e ao mesmo tempo novo para grande parte das pessoas que iriam ver o filme. Ana Rieper, diretora de Vou Rifar Meu Coração




Para as edições mensais do Kinofogo realizadas no Espaço AVI (2016-2017), selecionamos produções recentes de grandes autores e autoras do cinema internacional e nacional que não foram distribuídas nos cinemas comerciais do DF.

CEMITÉRIO DO ESPLENDOR APICHATPONG WEERASETHAKUL TAILÂNDIA 2015

CAVALO DINHEIRO PEDRO COSTA PORTUGAL 2014

ESSE AMOR QUE NOS CONSOME ALLAN RIBEIRO BRASIL 2012


BATGUANO TAVINHO TEIXEIRA BRASIL 2014

CERTO AGORA, ERRADO ANTES HONG SANG-SOO COREIA DO SUL 2015

NA VERTICAL ALAIN GUIRAUDIE FRANÇA 2015

EVOLUÇÃO LUCILE HADZIHALILOVIC FRANÇA, BÉLGICA E ESPANHA. 2015



MAURÍCIO CHADES, SILVINO MENDONÇA E YASMIN ADORNO

produção e curadoria

ESTÚDIO CAJUÍNA - FLORA EGÉCIA E BIANCA NOVAIS identidade visual e projeto gráfico * ROBERTA AR assessoria de imprensa

JANINE MORAES, SINCLAIR MAIA E GUSTAVO SERRATE

registro fotográfico

RENATO PEROTTO

registro videográfico

JM TECNOLOGIA EM EVENTOS

tecnologia e montagem

www.kinofogo.tumblr.com www.fb.com/kinofogo @kinofogocineclube córrego do urubu, brasília

espaço avi - df. 2019

* catálogo diagramado por Maurício Chades e Silvino Mendonça




REALIZAÇÃO

ESTE PROJETO É REALIZADO COM RECURSOS DO FUNDO DE APOIO À CULTURA DO DF

APOIO


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