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2 Trabalhos de modelagem com a argila

cessária seria na quantidade de 850 quilos, pois cada uma das 160 peças do painel usaria 5 quilos. Além disso seria preciso cortar 160 placas de Duratex, todas com o mesmo tamanho, para que os alunos trabalhassem com argila em cima delas. O custo disso não entraria no orçamento. Por isso estava programado que cada aluno pagaria 2 URVs, com direito a 4 placas cada um, fosse qual fosse o número total de peças de argila do painel. As placas restantes seriam pagas por Sílvia. Para guardar as peças de argila que estariam sendo fabricadas, ela resolveu construir, por conta própria, um anexo ao lado do Ateliê, com armários especiais para esse armazenamento.Veja foto a seguir

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Capítulo 2

Trabalhos de modelagem com a argila

Conforme descrevemos no final do capítulo anterior, foram preparadas 160 placas de Duratex onde, em cada uma delas, a argila seria modelada. Ainda, como parte do esquema de trabalho de modelagem, Sílvia mandou cortar tiras de folhas de flandres medindo 6 cm por 30 cm que seriam colocadas nas laterais das placas de Duratex. Assim, cada placa com essas tiras metálicas formaria uma espécie de caixa onde seria colocada a argila previamente batida. Nessas tiras laterais estava marcadas a altura mínima que teria a argila ali colocada. Sobre essa camada de argila, os relevos, que dariam forma à escutura, seriam trabalhados. Veja, no manuscrito de Sílvia, datado de 17 de maio de 1994, o cuidado extra para a trabalhar cada relevo.

O fato de a argila ter que ser batida e amassada antes de usá-la

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para modelagem se transformou num problema comum a todos os alunos. A princípio, Sílvia pediu que todos procurassem fazer a sua parte desse trabalho no Ateliê usando os horários diferentes daqueles das aulas. A razão para isso vinha do cuidado para embalar o material adequadamente para evitar que viesse a secar de modo muito rápido e fosse estocado de maneira a não estar sujeito a certas manipulações modificadoras sua forma. Todavia, Sílvia acabou permitindo que parte dos alunos fizesse esse trabalho em casa, desde que se comprometessem a tomar as precauções necessárias.

A seguir podemos ver alunos em atividade no Ateliê amassando e batendo argila.

Lalau, no seu depoimento, menciona esse trabalho de amassar argila.

Mas daí para frente, meu Deus, que trabalhão! Sílvia, organizada e cuidadosa, mandara preparar as plaquinhas de eucatex, já na medida certa que as placas deveriam obedecer. Não dava para “roubar” nas medidas, fazer a coisa menor ... ela estava vigiando ... Cinco quilos de argila por placa e a minha contribuição individual ficou enorme e pesada, de repente!!! Eu vou ter que amassar, virar, revirar e bater QUARENTA E CINCO QUILOS DE ARGILA?!? Ai de mim!!!

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No dia 13 de junho de 1994, Sílvia, em seu manuscrito, relata que ao controlar o trabalho de todos os alunos, acompanhar mais atentamente os principiantes e fazer suas próprias placas de argila, tudo isso acabou por deixá-la cansada e preocupada. As dores nos braços e no pescoço também a estavam perturbando.

Uma outra preocupação se somou a esses percalsos: ainda restavam 135 quilos de argila a serem batidos e amassados. Felizmente a aluna Nara conhecia um homem que sabia se adaptar a vários tipos de trabalho. Ele veio ao Ateliê, aprendeu imediatamente serviço esperado e, em dois dias, amassou e bateu toda a argila e a distribuiu pelas placas de Duratex restantes.

A foto mostra Sílvia trabalhando na execução de um dos arcos que apareceriam no painel.

O trabalho artístico e manual para executar os blocos de argila pelos alunos acabou sendo feito por eles com cuidado e num tempo razoável.

Vamos agora descrever com mais detalhes as etapas que cada aluno ou aluna deveria cumprir na preparação de suas obras.

A argila a ser utilizada devia ser bem batida e amassada de

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modo a apresentar uma aparência e consistência uniforme. Em seguida, com um pau de macarrão essa massa era abaixada para ficar com um espessura uniforme de 5 cm.

Agora a placa de Duratex era contornada nas laterais com as tiras de folhas de flandres, onde a altura de 5 cm estava marcada, para formar uma caixa quadrangular. Nela a argila era colocada e, caso necessário, mais alguma acrescentada para atingir a espessura anotada nas laterais.

Com essa placa de argila pronta, o aluno ou aluna podia começar a fazer o relevo que programara para a sua peça. Para isso tinha uma maquete pequena de argila, que fora feita a partir de um desenho que projetara para sua obra. Veja abaixo uma aluna fazendo esse trabalho.

Enquanto essa escultura não estivesse pronta, essa caixa com a argila era embrulhada em pano úmido, envolta num plástico e guardada numa das prateleiras do anexo ao Ateliê, mencionado anteriormente.

Voltemos ao depoimento de Lalau.

Dia 25 de maio de 1994 (posso me dar ao luxo de ser precisa nas datas,

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porque foi tudo anotado na minha agenda-diário). Finalmente depois de um século amassando barro, comecei a parte gostosa de trabalhar a minha ideia nas placas já montadas com os cinco quilos regulamentares, mantidas úmidas, cobertas de panos molhados, em sacos plásticos.

Surpresas interessantes ao retirar as placas do plástico protetor - desenhos inesperados nos panos úmidos, cores estravagantes causadas pelo bolor, arte da natureza.

Na imagem seguinte vemos duas placas de argila embaladas, antes de estocadas na prateleira do anexo ao Ateliê.

Depois que ficou constatado que cada uma das peças de argila estava com aparência perfeita, restava um último trabalho de verificação. Todas as peças voltaram ao chão do Ateliê, colocadas em seus lugares devidos, para que se ter uma ideia da aparência do Painel no futuro. É claro que isso foi registrado por uma fotografia .

Vamos novamente examinar as reflexões de Lalau.

Dia 6 de julho chego para a aula. Sílvia me recebe com a notícia de que não haveria aula , porque todo mundo, inclusive eu mesma tinha avisado que não iria. O pessoal tinha trabalhado na véspera, montando todo o painel no chão. Necessário acertar todas as bordas, fazer tudo aquilo encaixar – minha ajuda tinha sido pequena e eu só vira parte do painel montado. “Vem ver” me convidou Sílvia.

Entrei no ateliê e lá estava ELE no chão, enorme, coberto com plástico negro. Fomos retirando o plástico e foi então que eu vi, ali, realizada no chão a ideia de Sílvia!

Deslumbrante! Os arcos unindo tudo, num todo que eu não imaginava

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possível! A gente tinha mesmo, mesmo, feito aquela beleza?

Fiquei embasbacada olhando. O todo. Os detalhes. A pele da onça que eu duvidava fosse possível realizar em argila. O beijo gelado dos pinguins que a Walma escondeu em casa por muito tempo. Os macaquinhos delicados da Maria Alcina. A joaninha, o sapo, o por do sol na água, os trabalhos inocentes das crianças do ateliê, a flor de óvulo e espermatozóides da Carol, a grávida e o mundo, os prédios e a favela, a assinatura da Sílvia que eu pensei ser uma cobra... ... e os arcos dando unidade ao projeto, ligando aquele monte de detalhes, aquelas falas individuais, num discurso coletivo, coeso e coerente que apela ao respeito necessário, que denuncia a falta de respeito.

Não chorei porque não sou de choro. Mas fiquei engasgada diante da beleza daquele trabalho a muitas mãos, diante do respeito de Sílvia às individualidades, de seu espírito de liderança unindo essas individualidades em arcos que expandem ao mesmo tempo que contêm, que unem, que fazem o todo de detalhes.

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Depois desse evento todos os alunos e alunas consideraram as placas-esculturas prontas, guardando-as, sem qualquer envólucro, na prateleira do anexo para secar e chegar ao chamado ponto de couro. Esse ponto era atingido quando a placa se solidificava de modo a não ser mais deformada pelo manuseio.

O passo seguinte era o de fazer a retirada da placa de argila da prateleira para fazer a chamada ocagem. Esse era um trabalho delicado pois retirava-se por baixo dessa placa, aos poucos e com cuidado, a argila de modo que a escultura resultante tivesse uma espessura de 2 cm da maneira mais uniforme possível.Veja foto de uma ocagem em execução.

No Apêndice vamos publicar uma série de fotografias de alunos e alunas trabalhando nessa fase de acerto das bordas das peças de argila em suas posições programadas pelo mapa.

Por volta do final do mes de Julho de 1994 as prateleiras do anexo ao Ateliê estavam tomadas com todas as placas do futuro painel, aguardando a secagem completa.

O serviço feito foi muito bom pois nenhuma peça trincou ou partiu nesse processo de secagem definitiva.

Finalmente, em agosto de 1994 os 160 blocos secos de cerâmica

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