Anais do I Encontro sobre Gramatica

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Anais do I Encontro sobre Gramática: Saberes e Fazeres. Volume 1, Número 1. Fortaleza-CE. 2012. ISSN 2316-9583

permutabilidade substantivo/adjetivo (autor defunto/defunto autor), os casos de hipálage (adjetivação inusitada: “As criadas remendavam meias sonolentas.” por “As criadas sonolentas remendavam meias.”), o deslocamento e a elipse de termos, o anacoluto (desconexão sintática), a colocação pronominal, todos constituem recursos expressivos, quando produzidos com motivação estilística. A gradação sintático-semântica também pode ser estudada, como neste exemplo de Vieira: “Tão dura, tão áspera, tão injuriosa palavra é um não” (CARVALHO, 2002, p. 1).

Dentre os recursos expressivos citados, a colocação pronominal parece ser considerada a parte mais importante, porque, em tese, ajuda o produtor textual do Ensino Médio a escrever de forma mais “culta”. As regras que especificam o posicionamento do pronome átono esclarecem três posições em relação à palavra tônica, conforme se observa nos exemplos a seguir:

1.

Deu-me a notícia (ênclise – o pronome átono fica depois da palavra tônica a que se liga).

2.

Não me deu a notícia (próclise – o pronome átono fica antes da palavra tônica).

3.

Dar-me-ás a notícia (mesóclise – o pronome átono fica no interior da palavra tônica).

Fato interessante sobre esse ensino, são as conclusões da pesquisa que avaliou a língua escrita brasileira em textos de vestibulandos feita por Rossignoli6: 1. Não se começam orações com pronomes oblíquos átonos (semitônicos no português do Brasil); 2. A regra anterior, embora dissonante da fala espontânea brasileira, arraigou-se na consciência linguística do usuário do português escrito, levando-o, em processo de hipercorreção, ao uso da ênclise pronominal em casos em que a gramática da língua escrita formal recomenda a próclise (ROSSIGNOLI, 2006, p. 1).

Tais conclusões mostram claramente o conhecimento do aluno do Ensino Médio acerca da colocação pronominal e da preocupação com sua utilização.

2.2 Sugestões de atividades com o uso da colocação sintática

A aplicação de atividades instigantes para o ensino da colocação é o propósito da tentativa que norteia as sugestões que seguem: 6

A presente pesquisa se concentrou em analisar, no corpus, a obediência ao preceito da língua escrita formal de que não se começa oração com pronome pessoal oblíquo átono. Sabe-se que a atonicidade do pronome oblíquo, na língua falada de Portugal, inviabiliza sua presença no início de sentenças, em razão de sua reduzida substância fônica. Sabe-se, também, que, no Brasil, o pronome adquiriu força fonética, tornando-se semitônico, razão por que é empregado em início de oração nos mais variados registros de linguagem oral. Nossa gramática normativa, entretanto, de inspiração nitidamente lusitana, tem condenado, ao longo dos anos, para a língua escrita de caráter formal, o emprego de pronomes oblíquos átonos na situação referida, em que pese à fala do brasileiro.

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