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tu lugar sem espaço onde passam sem ficar onde ficas sem estar

Trou du cul, putain, merde, nom de Dieu, piège à cons, saloperie, bordel.

Le mépris (1963), Jean-Luc Godard

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Brigitte Bardot a tua boca malcriada e suja de fuck girl de uma língua sem compromissos sem porquês com uns dentes afiados que mordem e matam o céu da tua boca miúda arde arde e eu adoro é a boca o primeiro órgão sexual e é com ela que fazemos amor e é por amor que saem estas palavras sempre que a abres boca que desperta disparas um botão de rosa direto ao coração e eu sei disso e calo e sei muitas outras coisas mas tu sabes uma e é a mais importante

- o equilíbrio na ponta da língua durante a cama durante a cama somos mais de dois e não aguentamos por mais das vezes atiro uma perna inteira para fora ou subo para cima de ti nunca dentro de ti e fazemos amor para esquecer que somos essa multidão que sufoca dentro dos lençóis tenho-te a meu lado e o que restou de nós os meus receios de não saber amar e a minha constipação mal curada e tu tens sonhos e expectativas e os homens que te entraram e nunca deixaram de estar tenho tanto medo é tanta gente tanta tonelada para suportar sobre estes braços tão líquidos

- gostava que fôssemos mais leves que o ar

Barbit Ricos

quando estiver de molho como agora não me dês brufen, anti-histamínicos ou xaropes - que me custa a engolir e tu és contra - dá-me antes a literatura para quando tiver quarenta de febre aquele poema do drummond quando to disse na serra do pilar no tempo em que te levei a voar sobre a cidade como o quadro de chagall aquele poeminha, lembras-te? deves lembrar lembro para quando espirrar e me sentir menos masculino folheia-me algumas páginas de guerra do hemingway são esses aí, não vês? por cima das nossas roupas este dos sinos? sim, lê-me e para limpar o pingo do nariz dispensa os lenços de papel antes dá-me a assoar esses livros sobre o amor incompreendido este poema este poema tem sol e bocas de sal tem areias com moldes de pés alheados tem uma toalha estendida e dois corpos deitados tem o sabor da vida e do amor aliado este poema tem-te a ti veraneante e venerada e eu tenho-te a ti sobre ti dentro de ti como um verso virado do avesso à espera que o líquido do mar nos mergulhe por completo e possamos também com as bocas sufocadas respirar a possibilidade do outro amor estás em agosto como estivemos em janeiro agora na orla de outros lábios banais, simples e convencionais estás como no maio do nosso recomeço quando prometemos um amor de trezentos anos e agora reencontro o teu perfil na praia lugar por mim detestável e apesar de tudo não estamos estás e penso feliz nos versos de ruy belo eles beijam-se na tarde de verão. o amor (ainda) é possível amor doméstico chegas hoje às duas da tarde e às oito da manhã já me preparo para te receber largo as cartas de amor e os poemas e começo a desfilar o aspirador pela tijoleira depois de uma varrida genérica pelos cantos mais difíceis e depois de lavar o chão lavo-me a mim visto a camisa sem gola que tu gostas as calças de bombazine que tu adoras os chinelos abertos à frente que tu achas piada e perto da hora começo a preparar o refogado de cebola e alho picado o arroz malandro um pouco molhado que é assim que tu gostas e preparo o vinho branco que tu não te importas depois fumo e fumo muito e quando sei que estás para chegar lavo os dentes para te receber com uma boca fresca de colgate

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