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e estudante noturno
(sem perspetivas) mas alarga-te filho, fragmenta-te torna-te estoico e assume a heteronímia como forma do dia a dia
- não prolongues mais essa hora adiada a vida a mil rotações por minuto disseste-me que andavas zangado com o mundo é natural não alcançaste nada na vida não falhaste com o mundo porque nunca te reconheceu nem soube quem eras não falhaste com os teus pais que não vês há quase uma década e que tu nada sabes deles nem eles sabem de ti mas falhaste contigo próprio e disso não te salvas podias fazer um filho pelo desgosto de não te teres salvo como fez a malta do nosso bairro tu sabes como é mas não porque tu não és assim nem assado convenceste-te que eras especial o próximo Lobo Antunes o próximo Guterres o próximo António Variações mas hoje já nem te cospem nas costas simplesmente esqueceram-se de ti mas tens orgulho no teu órgão sexual podias ser ator pornográfico mas tens princípios e porque os tens nunca alcançaste os fins podias ser influencer postar fotos das tuas férias a Roma fazer playback e danças no tiktok
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Sobreviveres De Gostos
já que não gostas de ti podias ser empreendedor acordar às seis da manhã para estar à frente da competição tomar banhos frios responder a e-mails ir ao ginásio bem sabes que o teu sucesso é proporcional à tua massa muscular mas não que tu és diferente
Um Idealista Espiritualista
um romântico e por falar nisso amaste uma talvez duas na vida mas tiveste medo de te constipar e apenas soubeste multiplicar multiplicar mulheres e nunca somar conservar arriscar no amor deste tudo na vida em troco de nada e não tenho consolo para te dar desiste porque não desistes? com essa idade atingiste o limite de velocidade e já não vais a lado nenhum assim é a tua vida a mil rotações por minuto sempre é verdade sempre é verdade nunca chegámos a marcar o tal café que agendámos num futuro sem dia lembras-te? quando nos cruzámos a meio do caminho com um sorriso largo de avenida e uma troca rápida com palavras a perguntar pela saúde
- não tive tempo parate dizer que andava maldos pulmões porque chegámos a prometer lembras-te? lembro-me? prolongá-lo num café noturno ali perto da faculdade para recordar esses tempos de glória mas soube há pouco que andavas para casar
- não recebi o convitecom aquela garota que eu nada gramava porque nunca gostei da ideia de partilhar amigos com mulheres e logo eu que sou um romântico anacrónico e que p’ra’qui ando a fisgar o próximo grande amor mas é verdade que sempre soubeste encontrar e eu apenas procurar... lembras-te quando te disse que com a x, y e z era para casar? pois então já são variáveis de outras mãos enquanto as minhas se engolfam nestes bolsos vazios das calças de ganga e tu, porque tu, saías do bar antes da meia-noite para lhe seres fiel consolá-la com uma mensagem de boas noites que tinhas chegado inteiro inteiro... era isso que procurava contigo ser inteiro completo como um puzzle da Clementoni montar-me como a mobília do IKEA mas tu, porque sempre tu, vinhas montado já de fabrico esculpido numa qualquer loja de Paços de Ferreira bem arredondado e torneado depois de lixares as arestas e envernizado a remate mas sempre é verdade que nunca marcámos o tal café para pôr a conversa em dia nos seus carris de bitola ibérica depois de tanto tempo dois três anos? também que me importa o tempo nunca passou por nós mas vê lá isso, tenho a semana desocupada o domingo inclusive, onde não há almoços de família nem passeios ao parque da cidade por isso, faz-me lá esse favor e marquemos esse café que sempre chegará a horas mas sempre será pouco