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SOFIA ALVES ARQUITECTA
de Maputo, como o condomínio Orion, condomínio Diamond e condomínio Massala.
Uma de suas características marcantes de é a habilidade em criar arranjos funcionais para os espaços, além de coordenar eficientemente a equipe na elaboração dos mais diversos projectos. Sua carreira na arquitetura é um exemplo inspirador para outros jovens provenientes de famílias humildes, que lutam por um futuro melhor. Seus passos representam uma nova geração de profissionais destemidos e comprometidos com a mudança e o impacto social.
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Como é ser arquitecta nos dias de hoje?
Arquitetura é uma profissão altamente respeitada, admirada e amplamente reconhecida por sua contribuição para o bem-estar social.
Quem é a Sofia Alves? Breve historial, onde formou-se?
Sofia Alves é uma jovem arquiteta moçambicana, apaixonada pela sua profissão, altamente competente e habilidosa como líder. Ela encontrou no empreendedorismo uma forma de exercer sua profissão com liberdade, autonomia, criatividade e independência, criando uma marca no mercado nacional e internacional.
Formou-se em 2015 pela Universidade Eduardo Mondlane em Maputo. É co-fundadora da empresa Alves & Arquitectos, onde é responsável pela concepção de diversos projectos renomados, incluindo condomínios de alto padrão no coração da cidade
Ser arquiteto nos dias de hoje é desafiador e intrigante. A profissão requer responsabilidade, pois você cria espaços e edifícios que terão impacto direto na vida das pessoas. Devemos estar sempre atentos às novas tendências e novidades do mercado, o que requerer muita pesquisa, aprendizado constante, criatividade e inovação.
Por outro lado, precisamos de desenvolver a habilidade para trabalhar em equipe, sendo que a obra final é produto de vários profissionais que unem forças para entregar uma construção sólida, pensando sempre no utilizador final.

Nós não desenhamos projectos. Representamos no papel os sonhos e desejos dos nossos clientes, com base no nosso conhecimento, experiência e consultoria técnica.
É de conhecimento geral que os recursos no planeta estão a escassear, e a arquitetura está cada vez mais integrada a temática da sustentabilidade. Para mim, isso significa que, como arquiteta, tenho a oportunidade de fazer escolhas que ajudam a proteger o meio ambiente e reduzir o impacto que as construções causam ao planeta. As pessoas também já têm essa consciência, pois nos últimos anos observamos uma crescente demanda e solicitação por projectos e por espaços construídos mais sustentáveis e amigos da natureza.
Um arquitecto precisa de ser criativo para ultrapassar os desafios e se distanciar da concorrência, prestando serviços com o qual o cliente se sinta representado a cada escolha do projecto e o público se identifique. Como empreendedora, tenho, constantemente, me desafiado e trabalhado para aprimorar minhas habilidades de liderança. Com uma equipe de 12 profissionais para gerir e encaminhar no meu dia-a-dia na empresa, trabalhamos para aprimorar a gestão e a comunicação efetiva, fundamentais para alcançar as nossas metas conjuntas, “um por todos e todos por um”. É uma carreira desafiadora, mas muito recompensadora.
De onde surge a necessidade de abrir uma empresa de arquitetura?
A necessidade de abrir uma empresa de arquitetura surge a partir do desejo de atuar livremente na profissão, com autonomia criativa e independência para gerir projectos.
Quando terminei o curso, e, face à crise econômica no país, as empresas de arquitectura não estavam a contratar. Como jovem recém-formada e vindo de uma família humilde, se quisesse me sustentar, teria de o fazer com meios próprios. Porque enquanto estudante já desenvolvia projectos e participava em concursos de arquitetura, percebi que poderia ter sucesso no negócio se unisse a minha criatividade com o empreendedorismo.

Conheci o meu sócio e marido na faculdade, trilhamos juntos o percurso acadêmico e ele sempre foi uma inspiração para o empreendedorismo. Juntos, olhamos para o mercado moçambicano e desenhamos uma empresa que pudesse:
(1) oferecer uma abordagem exclusiva a cada projecto, com uma equipe altamente qualificada e comprometida, (2) conceber design de ponta com atenção aos mínimos detalhes, que busquem alcançar funcionalidade, sustentabilidade e identidade do cliente, e (3) colaborar em projectos que tenham impacto positivo na cidade, contribuindo para o seu desenvolvimento e transformação.
Na altura, nossa preocupação era o que foi mencionado acima, e o que conseguimos e colhemos hoje foi consequência do investimento nos objetivos acima mencionados. Noto em muitos jovens no país o desejo de empreender no pensamento de, primeiramente, poderem ganhar dinheiro e sucesso. Todavia, esses dois devem ser consequência da dedicação, paixão e impacto que vão gerar na mudança de vida das pessoas e a habilidade de solucionar problemas. Ser empreendedor é também ser um solucionador de problemas e questões sociais.
Quais os desafios que enfrentaste no mercado?
Em mais de cinco anos de Alves & Arquitectos, o que nos motiva a nunca desistir são os feedbacks dos nossos clientes.
Assim como em qualquer empreendimento, enfrentamos vários desafios em nossa trajetória no mercado de arquitetura. Entre as dificuldades iniciais, a falta de capital financeiro para implantar o nosso negócio, criamos tudo com fundos próprios fruto de trabalhos que prestávamos ainda como estudantes para outras empresas e profissionais. A demais, o desafio de conquistar a confiança dos clientes, visto que éramos jovens, o que gerava dúvida e ‘pontos de interrogação’ em que muitos não acreditavam que os projectos eram desenvolvidos por nós.
Não tivemos desafios na captação de clientes, pois o nosso portfólio chamava bastante atenção, e o nome da empresa era bastante sugestivo: Alves & Arquitetos. Muitos associavam a uma empresa de um ‘velho arquiteto super experiente’ de nome Alves, mas isso nunca chegou a incomodarnos.
Estivemos sempre focados em gerir a empresa, organizar processos, estratégias de venda e os custos de manutenção, sem deixar de lado a inovação necessária para a manter a relevância da marca no meio empresarial do mercado de arquitetura.
Ainda no processo de crescimento, optamos por determinar as responsabilidades de cada um dos sócios da empresa, visto que eu e meu marido somos ambos arquitetos e sócios na empresa. Isso trouxe benefícios como uma divisão mais equitativa das tarefas, o que contribui para ninguém invadir o espaço do outro, haver confiança e apoio nas decisões que compete a cada um. No entanto, a administração de uma relação/ parceria conjugal para gerir uma empresa não deixa de ser uma tarefa que exige muita maturidade.
É necessário lidar com desafios implícitos aos arranjos colocados sobre a vida do casal no ambiente produtivo da empresa. No nosso caso, fomos trabalhando essas diferenças e, nos dias de hoje, fortificou a nossa relação conjugal em que a cada dia eleva a admiração que um tem pelo outro.
Como mulher, o estigma ainda existe nos dias de hoje, concretamente na sua área de profissão?
A presença feminina na arquitetura vem crescendo nos últimos anos e mais mulheres estão ganhando espaço na profissão. Porém, ainda há muito a ser feito para mudar a percepção machista na sociedade em relação ao trabalho desempenhado pelas mulheres, cenário que se observa também neste campo. Minha experiência enquanto mulher arquiteta com mais de sete anos na profissão não tem sido marcada por casos de preconceito diretos.
Concentrei-me em fazer meu trabalho de forma dedicada e competente, sem deixar que outros se sobreponham na questão gênero. Assim, acredito que a melhor forma de combater o estigma e representar outras mulheres é esforçarmos para mostrar o máximo de nossas habilidades, mantendo um padrão elevado de competência.

Devemos estar confiantes em nossa capacidade e trabalhar incansavelmente para fazer a diferença na nossa área de atuação, contribuindo para valorizar ainda mais a presença feminina em áreas historicamente dominadas pelos homens. Sobretudo, na atualidade é evidente que essa composição palpável da mão-de-obra a meu ver agrega um resultado positivo no ambiente corporativo pois as mulheres são vistas como mais detalhistas e atenciosas e esse estigma muitas delas usam-no como combustível para provar suas habilidades postas em dúvida e modesta parte têm se saído brilhantes.
Como tem sido a repercussão do seu trabalho?
Apostar na diferenciação do produto oferecido e na satisfação do cliente é o segredo. Muitas vezes fomos confundidos como um escritório internacional o que para nos foi motivo de orgulho uma vez que demostra a forma como o publico aprecia o nosso trabalho, e isso não tem preço. Sinto que a repercussão do nosso trabalho tem sido muito positiva ao longo desses 5 anos de existência da nossa empresa. Desde que iniciamos nossas atividades, já elaboramos mais de 200 projetos que foram muito bem recebidos pelo público e pela crítica.
Acredito que esse sucesso se deve ao nosso comprometimento em oferecer soluções personalizadas e de alta qualidade aos nossos clientes, procurando sempre estar afrente das tendências do mercado.
O arquitecto deve perceber que o espaço projectado não e para si, mas sim para o utilizador. Sua função é prestar consultoria técnica de modo a entender suas necessidades, desejos e expectativas em relação à obra - 50% e a nossa assistência técnica e 50% as necessidades do utilizador final.
Acredito que a repercussão de um negócio bem-sucedido no mundo da arquitetura é resultado do esforço e dedicação de uma equipa. São as pessoas que fazem a empresa, por isso, é importante desenvolver a cultura de trabalho em equipa no qual cada membro se reconhece parte importante da empresa. Nisto resulta a capacidade de gerar boas experiências e resultados satisfatórios aos clientes, contruindo assim uma marca reconhecida e de grande valor de mercado.
Quais são as tuas ambições no mundo arquitectónico?
Minhas ambições no momento estão ligadas ao lado empreendedor. Poder inspirar jovens moçambicanos que já descobriram a sua “paixão de vida” e não sabem por onde começar, mas estão comprometidos com a mudança e impacto social. Outra ambição inclui obter conhecimento e compartilhar com a minha equipe e outros profissionais no mercado, pois defendo muito que quem ensina aprende 1000 vezes mais e que duas pessoas pensam melhor do que uma. Transmito esta mensagem todos os dias aos meus colaboradores no escritório.
E, por fim, conquistar clientes para novos projectos deixando a nossa marca no nosso país e no mundo. Foco, determinação, etc.… muitos de nós já estamos cansados de ouvir essas palavras e acreditar que, na verdade, são ‘conversa fiada’.
No entanto, ser empreendedor ou mesmo um bom profissional em qualquer área passa primeiro por conseguir fazer o básico bem feito. Ser consistente e trabalhar para materializar, nunca perdendo o foco dos objetivos e nunca comparando o nosso ritmo ao do outro.
Quais são as suas principais fontes de inspiração ao projetar um novo edifício ou espaço?
Como arquiteta, a minha principal fonte de inspiração são as pessoas. Procuro extrair inspiração da natureza, da cultura e de estudos sobre as necessidades das pessoas que vão usufruir do espaço construído. Acredito que a arquitetura deve ser pensada em função das pessoas, e não o contrário. Tenho paixão por viajar e em cada viagem que faço, busco na cultura dos diferentes povos inspiração para meus projectos. Gosto sempre de pensar além da moda ou convenções atuais.
Não opto por apenas seguir a moda ou as tendências, pois elas são passageiras e podem criar soluções pouco efetivas a longo prazo. Um exemplo concreto foi a utilização excessiva de elementos decorativos e revestimentos de parede, tetos e pisos, o que tornava os espaços cheios de informação. Esse estilo veio a cair em desuso e deu espaço ao estilo minimalista. Para quem quiser saber mais, pode pesquisar sobre a transição do estilo Art Deco até ao Minimalismo. Preocupo-me em criar espaços atemporais com boa qualidade.
A arquitetura não é apenas uma questão visual, mas um compromisso com a qualidade de vida dos usuários. A validação pelos meus clientes das minhas ideias torna o trabalho substancialmente mais confiante.
Quais são os desafios mais comuns que você encontra ao trabalhar em projectos arquitetônicos e como você os supera?
Quando cultivamos o hábito de olhar para os desafios como lições de aprendizado, torna-se mais fácil encontrarmos as soluções necessárias para superá-los. Um dos desafios mais comuns ocorre: (1) pela falta de materiais de acabamento disponíveis para aquisição imediata no nosso país, (2) Atrasos e contratempos na construção ligados a questões, por vezes, climáticas ou de gestão de mão-de-obra, (3) problemas na eficiência da comunicação com a equipe envolvida (arquitetos, engenheiros e mestres de obra) e (4) questões regulatórias impostas pelos órgãos fiscalizadores.
A ocorrência desses desafios pode gerar atrasos na execução e conclusão da obra e causar frustrações ao cliente e ao profissional responsável. Para superar esses desafios, temos promovido reuniões com os principais intervenientes para desenhar um bom plano de trabalho, no qual cada parte entende quais são as suas responsabilidades. Tentamos antecipar possíveis obstáculos com base em experiências passadas e formamos assim uma equipe que consegue trabalhar de forma integrada. Em resumo, superamos desafios quando arregaçamos as mangas e colocamos os pratos na mesa com diálogo eficiente.
Poderia descrever um projecto desafiador em que tenha trabalhado recentemente? Como você abordou os desafios e quais foram os resultados?
Um projecto desafiador foi um condomínio habitacional em terreno super irregular e com declive muito acentuado. O terreno está localizado em zona nobre. Nosso desafio principal foi fazer jus ao investimento do cliente, valorizando cada metro quadrado do terreno e desenvolver moradias que facilmente são apreciadas e respondem às exigências do mercado. Aliado a esse desafio, o dono de obra optou por escolher uma empresa de construção chinesa, e com esta escolha veio o desafio da língua.
Não há limites para uma equipe sonhadora e um cliente que se permite envolver no processo.
O que poderias partilhar como uma lição para quem tem o objetivo de ser arquitecta?
Uma lição importante para quem deseja ser arquiteta é estimular constantemente a atualização profissional através de estudos e cursos. É também importante entender o mercado e ficar por dentro das novidades tecnológicas. Tente sempre ser criativo, flexível e adaptável às mudanças. Não se preocupe com o ritmo do outro e não se compare com os colegas da profissão.
Costumo dizer que, de forma geral, usamos muito a “Teoria do Mas” para acomodarmo-nos na zona de conforto, travar nossos sonhos e acolher nossos medos de agir, tirando o mérito dos outros. Por exemplo: “O João abriu uma empresa, mas o pai dele foi quem deu o dinheiro”. Ao pensarmos que os outros conseguem porque tiveram uma ajuda ou facilidade, acabamos por limitar nossos próprios sonhos e ficamos na zona de conforto, acreditando que não somos capazes.
A palavra de ordem é ser ousado e ter coragem para perseguir seus sonhos.
