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TAÚSSY DANIEL ESTILISTA

Quem e a Taússy? Onde nasceu, onde cresceu, formação?

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Olá, eu chamo-me Taússy Caterina Daniela Remane, nasci em Moçambique, em Maputo, nasci e cresci em Maputo, formei-me em Arquitetura e Urbanismo em 2009.

Quando surgiu a tua paixão pela moda?

A paixão pela moda surgiu desde muito cedo, aos meus 13 anos, eu sempre gostei muito de desenhar, tanto é que eu fiquei muito indecisa entre fazer Engenharia e Arquitetura, acabei fazendo Arquitetura, e eu sempre gostava muito destes canais de moda, Fashion TV, e depois de algum tempo comecei a desenvolver muito gosto pelo desenho, ia fazendo desenhos de vestidos, desenho de retratos, ia guardando os meus desenhos, e uma dessas vezes um tio meu viu e aconselhoume a ter a experiência de entrar no mundo da moda, fez um contacto entre mim e o Moçambique Fashion Week, que é a plataforma de moda que nós temos em Moçambique, e senti a necessidade de aprender a costurar, porque já tinha tido experiências com outras costureiras, de pedir para fazerem um desenho, um croquis, executar um croquis desenhado por mim, nunca saí exatamente daquilo que eu esperava, daquilo que eu tinha realmente desenhado.

Então entrei no curso de corte e costura, aprendi a costurar, e com seis meses de experiência, decidi fazer a minha primeira coleção, isso foi em 2009, para o Moçambique Fashion Week, e graças a Deus saí vencedora na categoria de Melhor Young Designer, e eu acho que esse marco é que me absorveu para o mundo da moda, que começou a criar muitas expectativas das pessoas para mim, de mim para mim, e comecei a entrar no mundo da moda, o ano seguinte voltei a fazer mais uma coleção, em 2010, em 2011 fiz a minha terceira coleção, que voltei a ganhar na categoria de Melhor Young Designer de Moçambique, e daí para frente começaram a surgir convites internacionais para apresentar as minhas roupas, o primeiro foi por causa desse prêmio de 2011, que fui convidada por Riciane Moda Itália, apresentei a minha primeira coleção internacional, e daí para frente eu senti que a moda acabou me abraçando, e quando terminei o meu curso de arquitetura e urbanismo em 2013, tive que fazer essa difícil escolha, que era interseguir o mundo da moda e o mundo da arquitetura, e graças a Deus escolhi o mundo da moda, não me arrependo.

Quais são as qualidades que um estilista deve ter?

Eu acho, primeiro, um estilista deve ser criativo, em primeiro lugar. Deve conseguir trazer aquilo que é a sua visão de arte para o mundo, porque existem muitos estilistas no mundo e o que se quer é a diversidade da moda. Então, acho que tem que ser resiliente também. Existem muitos obstáculos, muitas batalhas. A pessoa nunca pode desistir.

Tem que sempre insistir naquilo que é a sua arte.

Qual é a tua inspiração para montar as peças?

E a minha inspiração para montar as minhas peças, eu digo que sou eu mesma.

Eu chamo-me Taússy. Taússy, em swahili, em árabe, significa pavão. E eu inspiro-me muito nos valores que o pavão tem, que é um animal exuberante, um animal que gosta muito de se mostrar, com cores vivas e que não passa despercebido.

Então, eu acho que a minha roupa tem muita essa identidade, a minha marca tem muita essa identidade, que são peças que não passam despercebidas, são peças exageradas. E eu sempre me inspirei nisso, inspirei-me na forma como eu vejo a moda, em coisas bem exageradas, bem chamativas, mas, ao mesmo tempo, harmónicas e criativas.

Quais os motivos que levaram a migrar para outros espaços?

Eu acho que é sempre bom nós termos intercâmbio, conhecermos outros estilistas, outros países, porque só assim nós vamos crescer e desenvolver.

A cada viagem internacional que eu faço, eu transformo-me, eu refaço-me, me reconecto com outras energias. Então, eu acho assim muito importante a pessoa conseguir viajar, conhecer outros países, outras culturas, porque o processo criativo é mesmo isso, ele não é estático, ele vai mudando, vai melhorando.

Eu acho que esse é um dos motivos que me faz sempre ir para várias partes do mundo, conhecer diversas culturas e também levar aquilo que é a cultura moçambicana, aquilo que é a minha forma como moçambicana de ver a moda.

Acreditas que o mercado moçambicano esteja preparado para produzir estilistas com qualidade?

Eu acho, sim, que o mercado moçambicano está preparado para lançar bons estilistas, tanto é que existem vários bons estilistas em Moçambique. Acredito, sim, que se precisa mais de um pouco de investimento nessa área, ao nível de formação, oportunidades, do nosso próprio governo acreditar na nossa arte e no poder que a moda moçambicana pode ter nos estilistas de fora, mas acredito, sim, que está preparado para lançar bons estilistas e eu acho que é um processo de crescimento e desenvolvimento.

A moda em Moçambique surgiu há poucos anos e teve um crescimento enorme. Para termos hoje estilistas a apresentar coleções fora, significa que está sim a existir algum crescimento, algum desenvolvimento. Então, eu acho que, sim, com um pouco mais de dedicação, um pouco mais de esforço dos estilistas que estão na vanguarda, vamos começar a criar mais essa visão e essa perceção que é preciso, sim, investir na moda para que ela cresça com mais velocidade.

Qual tem sido a repercussão das suas peças em Moçambique?

As pessoas de Moçambique têm recebido muito, mas muito bem o meu trabalho. Eu nunca fiquei um mês, uma semana sem cliente. Tenho sempre muita boa aderência, tenho clientes fixas, tenho clientes novas. As pessoas recebem muito bem o meu trabalho, gostam muito do meu trabalho e eu não tenho razões de deixar para... Sobre a aceitação do meu trabalho em Moçambique.

Como moçambicana, qual é o teu posicionamento quanto a mundo da moda em Moçambique?

Como moçambicana, como eu sempre digo, eu acho que o mundo da moda não é valorizado e acho que estamos todos nessa batalha para as pessoas começarem a olhar a moda como parte da cultura. Eu não senti a moda como uma estrutura. Tanto é que eu já tive várias aproximações com estruturas governamentais e não governamentais para pedir patrocínio, apoio para exposições internacionais. Eu nunca tive, desde que eu me formei como estilista, nunca tive nenhum apoio exterior que não seja do meu próprio sustento para apresentar qualquer coleção fora. Eu acho isso muito triste porque eu já me apoiei de várias entidades, até bancos e eles disseram, nós apoiamos o futebol, o basquetebol, lançamentos de livros, lançamentos de esculturas, galerias de arte, etc. Então, dá para perceber que eles não entendem ou não olham a moda como uma área para se apostar. Então, como moçambicana, eu acho que não estou muito satisfeita com como a moda é valorizada, mas estamos nessa batalha. Eu acredito que em bem pouco tempo as pessoas vão começar a olhar para a moda moçambicana ou para os estilistas moçambicanos de outra forma positiva, com certeza.

Quais foram os desafios para ter o reconhecimento que tens?

É assim, eu considero-me uma pessoa muito, sobretudo é abençoada, porque na questão de reconhecimento, não vou dizer que eu não tive nenhum desafio, mas como eu disse, logo a minha primeira experiência como estilista, eu venci na categoria de melhor

Young Designer, é uma coisa que eu não imaginava, não passava pela minha cabeça, era mesmo uma experiência que eu queria ter, eu nunca tinha acompanhado o Moçambique Fashion Week, não sabia como funcionava, não sabia qual era o estilo de roupa das pessoas que tinham vencido nas outras edições, então eu acho que o reconhecimento para mim foi imediato, o maior desafio que tive, tenho tido, é manter o nome e esse reconhecimento que tive logo a primeira experiência, então o meu desafio é esse, é eu sempre manter e melhorar a qualidade e as expectativas, e superar as expectativas que as pessoas têm de mim.

JÁ venceu vários prémios, desde o longínquo MFW em 2009… De la pra ca, conte-nos o que mudou em si.

Mudou muita coisa, muita coisa, primeiro mudou a forma como eu própria olhei para a moda, eu olhava para a moda como hobby, tanto é que eu fazia a moda em paralelo com o meu curso de arquitetura e urbanismo e ninguém faz um curso de cinco anos para arrumar o diploma, então eu própria olhava para a moda assim, então mudou muito a minha forma de olhar para a moda e primeiramente olhava para a moda como hobby, como arte, como alguma coisa que eu fazia nos meus tempos livres, depois o mercado foi apertando e eu comecei a levar um pouquinho mais a sério, depois de algum tempo eu vi que a moda para além de ser arte, de ser algo bonito, que vai a passar ali aplaudido, tem que ser sustentável, comecei a pensar mais em fashion como business, então comecei a reestruturar melhor a minha empresa, comecei a olhar melhor para os gráficos de crescimento da minha empresa, comecei a projetar a minha empresa ou projetar o crescimento da minha empresa, então eu acho que a moda acabou-me transformando não só numa estilista renomada, mas também numa empresária e numa mulher que olha para o empreendedorismo, não só feminino, mas olha para o empreendedorismo e o empresariado como diferente, porque eu acredito que se eu tivesse ido para o mundo da arquitetura, ou teria o meu próprio atelier e poderia assim ser empresária, ou então estaria a trabalhar no atelier e a fazer projetos para outras empresas, então eu acho que a moda teve sim

A Taússy já estreou suas coleções nas passareles mais mediáticas do Mundo. Esteve na NYFW, que é uma das mais, senão a mais famosa FW no mundo, e agora vai a African Fashion Week no Brasil. Como é partilhar o palco com alguns dos nomes mais mediáticos da moda a nível mundial?

Eu estreei, sim, o New York Fashion Week em fevereiro e foi talvez o ponto mais alto da minha carreira e para mim compartilhar o mesmo palco de grandes marcas, compartilhar o mesmo evento que grandes marcas mundiais de moda significa que, primeiro eu fiz uma boa escolha e segundo que o meu trabalho está a desenvolver, está a ser bem aceite, estou a ter um desenvolvimento não só pessoal, mas como na marca, então é gratificante, é a realização de muitos sonhos, de muitas metas que eu tinha desde criança, coisas que eu até achava que eram impossíveis, então para mim estar num show que eu sempre via na televisão e achava que me inspirava ou me inspirou a ser estilista é a realização de um grande sonho, é a motivação para eu não desistir, continuar a investir cada vez mais na moda.

E a repercussão tem sido muito positiva, tanto é que logo que eu voltei do New York Fashion Week que foi no final de fevereiro, tive logo o convite para participar no Africa Fashion Brasil, que foi a primeira edição do maior evento de moda afro-centrada em Brasil. Vieram descendentes africanos de todas as partes do Brasil, então foi um evento gigantesco.

E para mim, como africana, como moçambicana, ser a primeira estilista a abrir o evento, a ter o desfile inaugural do evento vindo de Moçambique, significa que essa aposta, essa nossa moda moçambicana, essa dedicação toda que eu tenho tido durante esses anos todos, está a valer muito a pena.

Porque foi uma honra enorme.

Eu abri o desfile e quem fechou foram os meninos Rei, que são estilistas brasileiros, também super renomados.

Então foi muito importante. Primeiro, o evento está a ser muito importante aqui no Brasil, para a África, para os africanos.

E para mim, então, não tem palavras para explicar. Não tem palavras para explicar a grande honra que é inaugurar, abrir um desfile com a magnitude que tem o Africa Fashion Brasil.

Não só tantas portas estão a ser abertas aqui no Brasil, tem já lojas querendo ter a minha marca aqui presente. Então está a ser uma realização de sonhos um atrás do outro. Existe curiosidade la fora, sobre a moda Moçambicana? Deixe alguns conselhos para quem esta a iniciar nesta área.

Pronto, a repercussão positiva que o meu desfile teve fez as pessoas ficarem mais curiosas sobre Moçambique, sobre o país em si, sobre os estilistas moçambicanos. Acredito que tenha representado muito bem o meu país. Então, eu acho que o sucesso do desfile trouxe sim muita curiosidade para Moçambique como país para moda, para gastronomia. Tem muita gente que já marcou, está a falar comigo, que quer marcar férias para ir para Moçambique. Eu falei muito bem das praias de Moçambique, falei muito bem do nosso país, porque o nosso país realmente é muito lindo, com uma riqueza cultural e uma diversidade de riquezas enorme. Então, está a criar sim muita curiosidade dos brasileiros para Moçambique, porque nós, praticamente, nós consumimos muito os canais brasileiros e nós conhecemos muito o Brasil. Eu aqui conheço muita coisa e eles conhecem muito pouco de nós.

Então, eu acho que esse intercâmbio, esse destaque que Moçambique teve no desfile vai ser muito importante para o turismo moçambicano.

Duas estilistas brasileiras que já me pediram para participar na semana de moda aí em Moçambique, para eu fazer os contactos. Então, está a haver muito interesse positivo por Moçambique, pela moda, pela gastronomia, por toda a diversidade cultural, porque eles aqui são descendentes de africanos.

Quando eles veem uma africana, ficam curiosos, querem realmente saber como é a cultura, como é que são os nossos hábitos e costumes, e têm, sim, essa curiosidade de ter também esse intercâmbio connosco.

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