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APERITIVOS E PITADAS DE CULTURA E ARTE

Edward Burra The Snack Bar (1930)

EDIÇÃO N.1 ANO I


ARTE DA CAPA Edward Burra The Snack Bar (1930)


Desde 2014

A cultura é o melhor conforto para a velhice. Aristóteles

Um projeto cultural de: Luciano Negreiros & Carlos Cardozo

em revista Direção: Luciano Negreiros / Carlos Cardozo

Uma publicação: NGBN Group Expediente Editor e Produtor Executivo: Carlos Cardozo Projeto Gráfico e diagramação: Luciano Negreiros Contribuiram para essa edição os agradecimentos para: Thiago Olbrich, Vanessa F. Logi,

Permitido que outros façam download desse trabalho e os compartilhem desde que atribuam crédito aos autores, mas sem que possam alterá-los de nenhuma forma ou utilizá-los para fins comerciais.


TEMĂ TICO restritivo, jamais! SIM,

Mc Sorleys Backroom - John Sloan


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Carta de intenções / editorial

ou pode ser uma carta de apresentação... você quem sabe, puxe uma cadeira e vem bater um papo!

Assim é a revista Snack! Um batepapo, um aperitivo de sabedoria com um pitada de cultura. Uma conversa entre amigos! Aqui você vai encontrar cultura e arte de uma forma descontraída. É como um conversa de bar, sem um inicio claro de como a conversa começou, um meio agradável e fluido com um final diferente daquilo que começamos. Eu nem queria colocar aquelas seções tradicionais como carta do leito (!), editorias de música, literatura ou filosofia. Nem mesmo esse editorial eu iria escrever. Talvez por uma insistência do Carlos Cardozo, parceiro indispensável para essa escrita, e uma pitada de minha experiencia editorial, foi que me deixei levar pela responsabilidade. E coloquei, sim, algumas dessas "partes" tradicionais. Relutei em colocar, vejam só, "índice"! Oras, pra quê "índice"? Talvez eu obrigue as pessoas a lerem, ou folhearem, até chegar no "pedaço" de texto que lhe agrade, talvez seja uma mera atribuição de contra-corrente, quem sabe?! Mas acabei escrevendo. Mas se um dia eles desaparecerem, tenha essa frase como um aviso! Alias, outro aviso importante: essa é uma revista digital. E um dos grandes propósitos dela é se difundir, o máximo possível. E para atingir esse objetivo eu resolvi distribui-la gratuitamente e no formato digital. Gratuito porque é... grátis, oras! E digital para ter a maior difusão e pulverização; já que uma publicação impressa teria o limite das edições impressas. Mas ainda existe a barraira digital, o acesso à internet. E isso eu ainda não consegui resolver e se alguém tiver algumas ideias de como podemos difundir cultura e arte à toda a população, por favor, me escreva! Finalizando e sendo um pouco reduntante, essa revista tem o próposito de levar cultura e arte para todos. Veicularemos no formato digital para download em .pdf ou folhear em tablets e smartphones (quem sabe eu não coloco em revistarias digitais e .mobi e kindle? veremos). Gratuito. Agora, escolha algo para petiscar e vamos bater um papo... alias você leu "Mataram o maestro"?, nas próximas páginas eu te mostro... Luciano Negreiros

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Maestro" by Stephen Shortridge


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Esse conto surgiu de um exercício simples: bastava contar uma estória com o tema/título "mataram o maestro" e nela começar, obrigatoriamente, com a frase "Eu não conseguia acreditar...". Assim ficou o meu ensaio.

Mataram o maestro de Luciano Negreiros

Eu não conseguia acreditar que a minha nota, e somente ela, era o motivo do desarranjo desta orquestra inteira! Ela estava ali, na posição correta, no ritmo, entrada e saída perfeita. Seria o sopro? A intensidade? O jeito? A falta dele... Ou seria implicância? Em meio aos gritos de humilhação eu estava tentando enxergar o erro, mas a cada ensaio que passava, estava inclinado para a última opção. Passei a acordar mais cedo, todos os dias, para limpar o bocal e já cogitei de trocar a bomba de afinação. Nos meses que passaram, conclui que essa troca deveria ser mais contundente e agressiva: e se eu trocasse de...? Passei a reparar nos detalhes daquela seção de tortura. Percebi quando ele estava de mau-humor, seu jeito de andar arrastando a perna esquerda, seus tiques nervosos, suas piscadelas de insatisfação. Toda a frustração de um velho músico era descarregada num auditório repleto de jovens sonhadores. Eu já sabia quando ele soltaria um xingamento antes dele próprio. Havia toda uma preparação, um ritual. A cada erro, uma reação diferente. Até que eu atrasei a entrada das minhas notas para que ele subisse dois degraus até mim. Pegava meu trompete e me humilhava na frente de todos - 'é assim que se toca'. Todo atraso era acompanhado de uma abocanhada fedorenta em meu instrumento. Pronto, era isso que eu precisava. ▶

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Mark King - Orchestra instruments

Em dois dias eu já tinha o veneno suficiente para o crime. Passei a me esgueirar pelos corredores e não conversava com mais ninguém. Já me sentia culpado, um assassino. Limpei o bocal logo cedo e apliquei as gotas contando de forma regressiva, uma verdadeira bomba relógio que se livra da ameaça: 5, 4, 3... O dia chegou, se arrastando. O plano era perfeito: não entrar com a minha nota e o atraso o faria subir as escadas. Uma abocanhada e pronto, deixo o veneno percorrer... "O maestro, o maestro..." - gritou Ricardo chutando a porta do auditório e com a sua flauta em punho "O maestro está morto!" correndo de volta para o corredor acompanhado por Danilo e mais um estranho que entrou para a turma de forma tardia e abobalhada. O murmurinho crescia no auditório mas logo ficou em silêncio. Alguns sorrisos apareceram e o clima fúnebre dos últimos meses havia sido exorcizado do recinto. Os jovens voltaram a sonhar com suas carreiras de uma forma quase que imediata e estranhamente aliviados. O som passou a ocupar o auditório e os instrumentos, já afinados, passaram a contribuir com os seus arranjos. Em meio aos sorrisos eles olham para mim, esperando a minha entrada. Com sorriso largo, ergo o meu instrumento e me preparo para a entrada triunfal. Em 3, 2, 1! 


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post scriptum maestro, orquestra e finalmente o que é uma bomba de afinação?

orquestra

substantivo feminino p.met. mús os instrumentos da orquestra.

Há alguns anos, dizia-se que uma orquestra sinfônica era integrada por músicos profissionais remunerados, enquanto uma filarmônica era composta só por músicos amadores, que se reuniam pelo prazer da música diz o maestro Eduardo Ostergren, diretor artístico da Orquestra Sinfônica da Unicamp.

O trompete ou trombeta é um instrumento musical de sopro da família das percussões. É constituído por corpo, chave de água, bomba de afinação, pistões, cotovelos e bocal, e terminado em pavilhão. Como todo instrumento, deve-se conservá-lo e limpá-lo. O uso de graxas e vaselinas exigem do músico uma habilidade para desmontar e montar o instrumento. Para a bomba, ou pompa, dev-se usar graxa e não óleos. veja um detalhe da peça:

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"Um Homem Célebre" é um conto publicado no periódico "A Estação" em 1883, e depois no livro "Várias Histórias", em 1896. Exigente, numa leitura cuidadosa, podemos desfrutar umas das melhores histórias de Machado de Assis. O conto aborda o tema da incompatibilidade entre os ideais e a realidade, o desejo e a essência que constitui o individuo. Com uma narrativa deliciosa o protagonista nos atrai com uma incoerência e um conflito interno que nos atrai desde o inicio. É impossivel não nos perguntarmos,

Quem é Pestana? de Luciano Negreiros

PARTE l

Antes de arriscar uma resposta, você pode ler o conto que se encontra no dominio público. Uma simples pesquisa na internet, é possível ler o conto na íntegra. E depois de refletir e ficar instigado, que tal se arriscar por aqui? Pestana é o protagonista do conto, como você bem sabe. Ele é apresentado num sarau íntimo no ano de 1875. Logo de cara, lemos que ele “vinha do piano”, assim sabemos que Pestana é um músico. E pela primeira frase do conto “Ah! O Senhor é que é o Pestana?” percebemos que se trata de alguém conhecido, ou supostamente famoso. Os convidados pedem que ele toque aquela sua polca. E por uma breve passagem, é evidente um traço importante de sua personalidade “Pestana fez uma careta”. Logo em seguida temos um agitação na sala, e que aquela musica não era só "mais uma polca". Corroborando com o “conhecido / famoso” da primeira frase. Avançamos um pouco no conto: Pestana está na sala dos fundos de sua residência; Ele “cumprimenta 10 retratos que pendiam da parede”. ▶


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Tirando o retrato do seu pai, todos os outros seriam de grandes compositores clássicos: Beethoven, Bach, Mozart... ele diz “postos ali como santos de uma igreja” e depois “o piano era o altar” e o “evangelho uma sonata de Beethoven”. Aqui surge o sentido de ideal (no sentido de sublime e impecável tal como no sentido de aspiração, sonho e anseio, desejo e vontade) e porque não atribuir também o sentido de imaginário e fictício? A música erudita é colocada como a idealização de algo divino ou de uma elevação espiritual comparada somente à religião! Algo que, ao longo de sua narrativa, testa a sua própria fé com os pecados das polcas que seduz à todos em “saracoteios”. Na mesma noite, encostado na janela, ele “interrogou o céu e a noite, rogando aos anjos em último caso ao diabo”. Reforçando a analogia religiosa da criação musical e até se colocando à disposição do diabo caso ele fosse capaz de realizar esse seu anseio. Ele continua com “Porque não faria ele uma só que fosse daquelas páginas imortais” – Reforça o seu desejo e anseio pelas páginas imortais de música clássica. ▶ MACHADO DE ASSIS Faça download em: facebook.com/REVISTASNACK


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E como veremos mais adiante, contrastando com a brevidade da polca. Ele considera (e com razão!) a polca efêmera, como algo que se consome de um dia para o outro, e na eterna espera da próxima e da próxima... e da próxima. Nessa mesma noite fica evidente a tentativa de Pestana em compor uma obra clássica. A tentativa em traduzir ideias, mas que sempre desapareciam; Que ele deixava escapar por entre os dedos. Ele demostra irritação pela falta de inspiração para a composição clássica. No dia seguinte ele corre para o piano e começa a tocar uma “inspiração real e pronta”. Mas era uma polca! E o mais interessante: sem nenhuma repulsa e sem tédio (pelo menos naquele momento) ele ia “arrancando notas após notas com os dedos”. E o que isso significa? Essa aparente incoerência... essa relação de amor e ódio com a polca... Seria um prezar momentâneo? Um dever cumprido? Talvez! Ou seria a sua alma artística se revelando, se manifestando? E Pestana gostava dela! Ele ficava cantarolando no caminho de volta. É nessa altura da estória que surge a palavra "vocação". É nessa altura que podemos questionar a vocação de Pestana pela polca versus a ambição pelo erudito. Logo mais surge o editor e eles discutem o nome da polca. O editor quer um “mais um sucesso do dia” e mais um conflito, o artista versus mercado surge. O artista contra a personificação da frivolidade mercadológica pela futilidade e a facilidade de “digestão”. É o imortal versus o efêmero! O consumo diário, representado pelo editor e o imortal, representado por Pestana, ou melhor, representando a ambição de Pestana. Ao fim, Pestana cede ao editor sobre o nome, mas pela estória abre-se um questionamento: Pestana admira a sua polca... ele cede para o mercado, ele se vende? ▶▶

continua na próxima edição


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Quem é Machado? (precisa mesmo?)

Considerado o maior expoente da literatura brasileira. Confira algum de suas obras:

É comum para uma analise, ou mesmo uma critica literária, como foi feito nesse conto, falar sobre o autor. Uma contextualização é muito importante. Portanto deveríamos falar sobre Machado de Assis, mas isso me parece "chover no molhado" porque Joaquim Maria Machado de Assis, nascido em 1839, foi o escritor brasileiro, amplamente considerado como o maior nome da literatura nacional. Só isso! Ele escreveu em praticamente todos os gêneros literários, sendo poeta, romancista, cronista, dramaturgo, contista, jornalista e crítico literário. Acho que isso basta para dimensionar quem foi Machado de Assis, o que você acha? Mais em: www.machadodeassis.org.br/

continua na próxima edição

Quem é Pestana? PARTE ll E qual será o fim de Pestana? qual a sua musa, seu casamento e escolhas finais... continuamos na próxima edição o desfecho sobre essa jornada interna. Até mais!

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Arte e linguagem em

“La Piel que Habito” de Luciano Negreiros

Análise de imagem e a linguagem de cinema de Pedro Almodóvar em "A pele que habito".


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La Piel que Habito (A Pele que Habito) é um filme espanhol, dos genêros drama e suspense de 2011, realizado por Pedro Almodóvar com Antonio Banderas e Elena Anaya no papel principal. O filme estreou no Brasil em 4 de novembro de 2011. O roteiro é baseado no romance Mygale (1995) publicado posteriormente sob o título Tarántula (2005), de autoria do escritor francês Thierry Jonquet. As filmagens começaram em 23 de agosto de 2010 em Santiago de Compostela, Pontevedra e Ponte Ulla (Galiza), também serviram de locações as cidades de Madrie Toledo, todas na Espanha. A produção integrou a seleção de filmes que competiram à Palma de Ouro no Festival de Cannes de 2011. Indicado também para Melhor filme estrangeiro Globo de Ouro 2012 e premiado no BAFTA 2012 e Saturn Award 2011.

sinopse

O doutor Robert Ledgard (Antonio Bandeiras) é um notável cirurgião plástico, alimentado pela obsessão de recriar em laboratório uma espécie de pele humana, desde que sua esposa sofrera graves queimaduras após um acidente de carro. Atormentado pela morte da mulher, Ledgard se mostra um homem inescrupuloso e não medirá esforços para colocar em prática seus experimentos para criar uma pele artificial para seres humanos. Posteriormente, acontece a morte da sua única filha, enferma mental aparentemente estuprada por um rapaz que acabara de conhecer, o que o faz buscar vingança, aprisionando-o em sua casa e fazendo dele sua cobaia. ▶

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Pedro Almodóvar é reconhecido mundialmente por seus filmes com belas fotografias e temas recorrentes como o estupro e amores obsessivos. Não deixando de lado a polêmica de suas montagens, Almodóvar recorte uma beleza plástica conferida às cenas de sexo com uma ficção cientifica asséptica; numa mistura de gêneros cinematográficos. Em La Piel que Habito (A Pele que Habito) ele enamora com essa ficção cientifica utilizando-a como ambientação, mas sem deixar de lado a obsessão pela amante (sua esposa perdida e depois pela reconquista da amante, agora no corpo de Vincent). Uma vingaça também é força motriz, um sentimento que conduz e concilia-se com os objetivos do Dr. Robert. ▶


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Os filmes de Almodovar nesse período são marcados por uma luta sociológica até que ele chega em Abraços Partidos, um filme pesado não só por um sensível desconforto do cineasta mas por uma critica rígida à esse filme em particular, e que traçam alguns indicativos da sua linguagem – seus travellings mal arranjados e uma aparente preguiça que o objeto que move a trama, traz resulta numa falência do “padrão sinais de um Frankenstein, o de qualidade” de Carne Trêmula, terror gótico de Mary Shelley Fale com Ela ou Volver. Ao analisar um breve historico dos seus filmes podemos perceber uma aventura inédita pelo genêro de horror mas, como mencionado, não se limita somente à ele. A pele, o objeto que move a trama, traz sinais de um Frankenstein equiparando-se à transformação o terror gótico de Mary Shelley. As imagens que compõe as experiências médicas são limpas, estéreis e assépticas; tipica da ficção cientifica que o rodeia. Um quase ‘futurismo’ digno de astronautas fazendo autópsias em corpos alienígenas. ▶

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As referências trabalhadas por Almodóvar neste sombrio longa-metragem são diversas: Os Olhos Sem Rosto (Georges Franju), Frankenstein (Mary Shelley), Gêmeos – Mórbida Semelhança (David Cronenberg), entre outras. Mas trabalhar com citações não é novidade em seu cinema, então podemos passar para o que realmente impressiona em A Pele Que Habito: a naturalidade com que o diretor explora temas como a mudança de sexo e a pulsão sexual. Existe também as referências internas, bem claras e mais óbvias como a pele, o objeto muitas vezes condutor da trama. Por diversas vezes ele constrói essas referências visuais: a pele artificial e sua mudança de um corpo à outro, a sua carreira profissional é confrontada ao utilizar transgênese de pele animal, a transfiguração, as roupas de yoga, o artesanato de ataduras e até as fantasias de carnaval compõe um sistema de linguagem interno. A pele também é condutora do sexo e do amor - o toque que antecede o amor, o estupro que se inicia quando sua filha decide-se se despir (“há muita roupa em mim”), a limpeza da pele ao retirar os pelos que o preparam para a cirurgia - como mais uma violência sexual agora sofrida por Vicente. Até mesmo as mortes e suicidios acontecem com cortes na pele (quando Vera corta o seu próprio pescoço) e os tiros que mataram Robert Ledgard e seu meio-irmão Zeca, ambos pelados e de pele a mostra no momento da morte!


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a cor

As cores de Vincent / Vera são de predominância verde cirúrgicos que muito se deve à sua relação com o Dr. Robert:

E um constraste de cores amarelas e ansiosas de seu irmão Zeca:

O conflito entre ambos (Robert e Zeca) é evidente na personalidade, na atração pela mesma mulher, seus casos e traições amorosas do passado e da intrusão de Zeca no quarto de Vera que culmina no estupro. Faça download em: facebook.com/REVISTASNACK


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Planos e

Enquadramentos Outras relações vão corroborar com os conflitos sociais e psicológicos, as relações dos personagens e seus estados emocionais. Muitas imagens são construidas em planos e angulos que revelam um enquadramento que intenfissica essas relações. Por exemplo: podemos mostrar o uso de um enquadramento lateral que se equipara com o teatro. Ele elimina a profundidade de campo igualando os personagens. O cinema, com sua linguagem própria, evita esse tipo de enquadro, justamente para não se equiparar com o teatro, mas nesse caso a equivalência entre os personagens prevalece. A seguir alguns exemplos:


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Mas não só de quadros laterais o filme se preenche, usando ainda o contraste, que também se aplica à sobreposição de planos, Almodóvar exibe uma das tomadas mais bonitas do cinema. Um belo enquadro numa sobreposição de plano médio do Dr. Robert e o close de sua cárcere amorosa, Vera. Confira:

Uma belíssima composição de voyerismo obsessivo. Esse enquadramento se repete pelo filme, usando o mesmo posicionamento e fazendo as mesmas referências entre os personagens que estão em planos diferentes, que estão distantes em determinados momentos. O filme todo é uma sequências de cenas numa busca constante de uma aproximação, um jogo de gato e rato, amor e ódio, posse e vingança. Veja mais alguns exemplos que mostram esse jogo de sobreposição de planos:


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Outro enquadramento que remete ao teatro, é o frontal. O personagem encara a sua audiência, intimida e se aproxima, confessando algo para nós. Eles olham para os nossos olhos nos revelando algo, ou nos desafiando. Como mostra esse quadro do Dr. Robert num leve contra-plongée:

Mas não é só isso, Almodóvar mistura-o com outros takes que se opõem e nos oferece contraste emocionais e simetrias ainda mais assustadoras:


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e mais alguns exeplos dessa simetria:

E isso é apenas o começo, há muito mais para se desvendar, mas o nosso tempo é curto e a cerveja já está esquentando... Em definitivo, um ótimo filme que vale o entretenimento e espero que, com esse artigo, que ele seja revisto sobre uma nova roupagem, uma nova pele. 

referências: http://www.planocritico.com/critica-a-pele-que-habito/ http://www.revistacinetica.com.br/apelequehabito.htm https://pt.wikipedia.org/wiki/La_piel_que_habito

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