Jornalismo e Economia

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FASCÍCULOS DE JORNALISMO - COMPREENDER A PROFISSÃO

Jornalismo & Economia Mercado, finanças, dinheiro, negócios, empreendedorismo, informação, trabalho, salário, investimento, sustentabilidade... Você se interessa por economia? Então, entre neste fascículo. Venha conhecer os detalhes da imprensa que cobre esta área: a opinião de importantes profissionais, a história de grandes veículos e as tendências do mercado de trabalho para futuros jornalistas


Apresentação | Caro leitor

Expediente

O desafio diário de uma área especializada

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fascículo Economia apresenta aos estudantes de jornalismo o universo da cobertura jornalística nesta área que exige uma maior especialização. Além disso, traduzir para uma linguagem acessível ao cidadão o mundo das finanças, dos negócios e dos investimentos é o desafio diário do jornalista de economia. Para saber mais sobre este universo, venha conhecer a história de um veículo de comunicação popular no que diz respeito à cobertura de economia: a revista Exame. Numa rotina cheia de números e pesquisas, acompanhe como é o dia a dia da redação do jornal Valor Econômico. O jornalismo de economia é um campo tanto de atuação como de pesquisa. É o que se pode conferir no artigo sobre a Gazeta Mercantil, detalhado neste fascículo. Para quem pretende seguir nesta área de atuação, recomendamos ler a entrevista com Milton Gamez. Recomendamos também observar as tendências de mercado e dicas de jornalismo econômico.

Seção | Depoimento “Linguagem mais simples e mais acessível” “Meu nome é Mauricio Fernando Pocopetz, tenho 44 anos, sou contador. Dou consultoria e treinamentos na área contábil e financeira e sou professor universitário. Eu gosto de economia por três motivos. Primeiro, por uma questão de necessidade, faz parte da minha área e preciso saber o que está acontecendo. Segundo, eu dou aulas de contabilidade, de análise de balanços, então é importante fazer o link entre os temas acadêmicos e os temas de mercado. Terceiro, eu gosto de saber sobre economia. Sou assinante do jornal Valor Econômico. Leio o jornal todo dia. Vejo uma parte do UOL também. A Folha e Estadão eu leio com menos frequência. Vejo na TV o Jornal da Globo. Eu gosto da cobertura do Valor, mas poderia ser melhor. Eles tratam muito de grandes empresas, sempre muito voltados para grande empresário. Mas a maioria das empresas, aquelas que geram bastante riqueza para o país, de forma geral, são pequenas e médias. Eu pelo menos não vejo isso publicado com muita frequência e acho que poderia ter mais publicação nesse sentido. Uma coisa que melhoraria bastante é a própria linguagem utilizada, porque eles colocam alguns termos, o chamado “economês”, que eu consigo entender, mas uma pessoa que não tem formação na área tem dificuldade. Um pequeno empresário não consegue entender. Embora sejam termos correntes pra quem está na área ou quem está em grandes empresas, para pequenas e médias é um mundo à parte. No meio acadêmico, só sabe essas coisas quem, efetivamente, atua na área. Então, essa linguagem mais simples e mais acessível seria melhor, acho que isso ajudaria muito em termos de facilidade.” Depoimento apurado pela repórter Ludimila Honorato

Chanceler Alzira Altenfelder Silva Mesquita Reitor José Reinaldo Altenfelder Silva Mesquita Pró-reitor de Graduação Luis Antônio Baffile Leoni Pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação Alberto Mesquita Filho Pró-reitoria de Extensão Lílian Brando G. Mesquita Diretor da Faculdade de LACCE Rosário Antonio D’Agostino Coordenação do Curso de Jornalismo Anderson Fazoli

Dois Pontos é um projeto experimental dos alunos de jornalismo (3ACSNJO e 3MCSNJO), desenvolvido na disciplina Jornalismo Impresso, em 2013. Orientação e Coordenação editorial Profa. Jaqueline Lemos (MTB 657/GO) Revisão Prof. Daniel Paulo de Souza Diagramação Alexandre Ofélio (MTB 62748/SP) Redação Editora assistente Aline Oliveira (RA: 201113121) Repórteres Larissa Valença (RA: 201108224) Ludimila Honorato (RA: 201100188) Maday Florencio (RA: 201101125) Sasha Cruz (RA: 201100518) Talita Alessandra (RA: 200902130) Capa Produção e foto: equipe de redação

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Pingue-Pongue | Milton Gamez

“Gostamos da pluralidade” Diretor de redação da Editora Três, Milton Gamez fala sobre a diversidade que existe no campo do jornalismo econômico

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Por Talita Alessandra

revista ISTOÉ Dinheiro foi lançada no final de 2007. A publicação surgiu com proposta de se consolidar como um veículo semanal do jornalismo econômico, através de notícias sobre economia, finanças e investimentos. Voltada aos assuntos do campo, a revista Dinheiro Rural também investe no jornalismo de economia. Com dez anos de existência, a publicação nasceu a partir da constatação, por parte de seus idealizadores, de que o agronegócio é um dos mercados mais pujantes no Brasil. Milton Gamez é diretor de redação da Editora Três e responsável pelas revistas ISTOÉ Dinheiro, Dinheiro Rural e Motor Show. Em entrevista exclusiva ao fascículo Dois Pontos, ele comenta sobre os caminhos do jornalismo econômico.

Dois Pontos: Quais as principais vozes no jornalismo econômico? Milton Gamez: Depende para quem você escreve, qual é a linha editorial e o que o leitor quer saber. Valorizamos muito as fontes oficiais, mas não nos contentamos com elas. Toda notícia que vem do governo é imediatamente discutida com a iniciativa privada. Gostamos da pluralidade. A melhor fonte é aquela que traz a melhor informação. Dois Pontos: Com o aumento da chamada classe média, houve maior popularização de temas sobre economia? Milton Gamez: Quando se coloca no mercado consumidor, num período de oito a doze anos, cerca de 40 milhões de pessoas, elas começam a fazer diferença para quem vende informação econômica. Mas no primeiro momento, o sujeito que virou classe média ainda não compra a revista, ele assiste televisão. Ele está primeiro comprando a casa própria, o carro, os equipamentos para a casa dele, investindo na educação do filho; só vai passar a consumir informação econômica um pouco mais pra frente. Um jornalismo de serviços, em primeiro momento, vai atender melhor a classe média do que o jornalismo especializado. Dois Pontos: Qual a relevância social do jornalismo econômico? Milton Gamez: Eu acho extremamente importante. Acredito que não é à toa que o jornalismo seja considerado o quarto poder. Ao levar informação para a população, é um pilar para a democracia, que não existe sem uma imprensa livre, independente e forte, que nunca poderia existir em um regime fechado. O jornalismo econômico espelha isso também. Todo mundo tem direito à informação. Você tem o direito de saber se a informação econômica que está recebendo é verdadeira. O jornalismo econômico tem essa preocupação de trazer informações para que os leitores lutem por seus direitos. Tem

relevância social porque, a partir do momento que dissemina a confiança, as empresas investem, geram empregos e contratam pessoas. Isso tem um impacto social muito grande. Tudo que faz girar a economia tem impacto social. O jornalismo econômico é uma espécie de indutor da confiança ou da desconfiança. Tudo que você faz tem um impacto social no final do dia e acho que o jornalismo cumpre bem o seu papel, levando informações para as pessoas. Dois Pontos: Quais recomendações você daria para um jovem jornalista que quer atuar em economia? Milton Gamez: O jornalista que cobre economia nunca deve esquecer que por trás dos números existem pessoas. Isso é uma coisa que eu aprendi desde o começo. Sempre que existe uma reportagem falando sobre o fator econômico, há um impacto na vida das pessoas. O bom jornalista é aquele que consegue ver isso. Se você consegue, com suas reportagens econômicas, atingir o objetivo de explicar o que importa para um ser humano que está lendo a revista, então você conseguiu fazer um bom trabalho. Nunca podemos ver os números só como se fossem números, como os economistas fazem. O bom jornalista tem que sempre lembrar disso.

Maday Florencio

Milton Gamez na redação da revista ISTOÉ Dinheiro

“O jornalista que cobre economia nunca deve esquecer que por trás dos números existem pessoas”

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Reportagem | História

Reportagem | Rotina

Tradição no jornalismo de negócios

Antenados 24 horas por dia

Por Sasha Cruz

Por Maday Florencio

A revista Exame é a queridinha do empresariado brasileiro. Com mais de quatro décadas no mercado editorial, a publicação investe agora nas plataformas digitais

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om periodicidade quinzenal e uma circulação de 150.000 exemplares, a Exame aborda o universo da economia envolto em reflexões e análises sobre finanças, tecnologia, marketing, pequenas empresas, gestão de carreiras etc. A revista está atrelada à marca de mesmo nome, da qual também faz parte a Exame PME, o site e o anuário Melhores e Maiores, ranking financeiro de empresas brasileiras. Um dado interessante, feito pelo Instituto Ipsos-Marplan, indica que 91% dos presidentes das quinhentas maiores corporações do país leem a revista. A Exame nasceu em meio a um processo de desenvolvimento inovador de Victor Civita, fundador da Editora Abril. Durante a década de 60, o empresário começou a publicar impressos segmentados e obras em fascículos, facilitando a disseminação do conhecimento, que antes só era adquirido em bibliotecas e livrarias, mas que, a partir daquele momento, poderia ser conseguido também em bancas de jornal.

A publicação aborda inovações nas áreas comercial e financeira Reprodução

Capa da primeira edição da Exame, quando ela se tornou uma publicação autônoma em 1971 4 | DOIS PONTOS

Reprodução

Capa de uma das edições do mês de novembro/2013. A Exame é uma das revistas mais lidas pelo empresariado brasileiro

Foi desse nicho que foram criadas revistas de renome até hoje da editora, como Quatro Rodas, Viagem e Turismo, Recreio, a coleção gastronômica A Grande Cozinha e o crescimento da família Disney, com a criação do Zé Carioca. Junto desse grande fluxo de informação surgiu a Exame, publicação da área econômica e empresarial do Brasil. “Ela começou a ser publicada como um encarte de revista técnica, em 1967. Mas logo se tornou o principal impresso de negócios do país, e continua até o momento presente”, comenta Giuliana Napolitano, editora de finanças da publicação há mais de 10 anos. A publicação aborda inovações nas áreas comercial e financeira, com base em teses e estudos, alcançando grande visibilidade. É o que conta o jornalista Paulo Nogueira, em seu site Diário do Centro do Mundo. Paulo, que durante os anos 90 foi o diretor de redação da revista, relata o caso do artigo de Tom Peters, guru americano da administração de empresas e escritor de diversos livros do assunto, cuja matéria tinha como manchete “A Marca Chamada Você”, numa capa de fundo preta, feita pelo diretor de arte Píndaro Camarinha. “Toda véspera de fechamento, o diretor de circulação Jairo Mendes Leal, hoje presidente executivo da Editora Abril, me procurava para saber qual era a capa. A tiragem era maior ou menor de acordo com a previsão que Jairo fazia. Ele se entusiasmou com aquela capa específica. Não sem razão. E fez uma tiragem muito acima da habitual. Foi, de longe, a maior venda em bancas da história da Exame”, relembra o jornalista em seu blog. Atualmente com a queda da demanda de revistas em banca, a Exame mantém uma vendagem considerada boa e se estabelece paralelamente no mundo virtual. “Nossas vendas e assinaturas em papel estão em alta. Ainda assim, investimos pesadamente no site exame.com, se não me engano, o mais popular entre os sites de economia, e também nas edições em tablet, que cresce mês a mês”, afirma Eduardo Salgado, editor executivo da editoria Internacional. “Parece, portanto, que há demanda por informação de qualidade. A questão é como os leitores vão querer receber essas informações no futuro. Estamos, claro, investindo em novas tecnologias, colocando mais recursos na nossa edição em plataformas digitais (vídeos, conteúdos exclusivos etc.) e também no site”, comenta Giuliana.

O mercado financeiro não para. E o jornalismo que cobre esta área também não. Conheça o cotidiano da redação do caderno de Economia de um dos maiores jornais do Brasil

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conomia é um assunto necessário na vida de qualquer pessoa. Desde o jornal de bairro distribuído gratuitamente até aqueles veículos com maior estrutura e tradição, há uma variedade de assuntos para cada tipo de público. Há trinta anos como chefe de reportagem do caderno Economia & Negócios do jornal O Estado de S. Paulo, o jornalista Clay Scholz gerencia o conteúdo impresso e on-line das notícias de economia. “As notícias da área de economia chegam primeiro pela internet”, afirma Scholz. O trabalho do chefe de reportagem começa cedo, abrindo o banco de dados e conferindo conteúdos que os portais de informação fornecem e que podem virar notícia para o portal. Grande parte da informação nessa editoria vem do mercado financeiro, no qual são feitos os investimentos. São acompanhadas, em tempo real, as variações dos preços das moedas de todo mercado mundial. A Agência Estado possui uma equipe que cobre os assuntos financeiros 24 horas por dia. O jornal trabalha em sincronia com a plataforma digital, elaborando chamadas para os textos, buscando envolver o público leitor sem perder a qualidade. “Segunda-feira é o dia em que recebemos mais informações de indicadores da balança comercial e visualizações no site”, diz Yolanda Fordelone, repórter de conteúdo on-line do Estado de S. Paulo. Maday Florencio

Rede de informações em tempo real compõe a redação do caderno Economia e Negócios

A jornalista lê as reportagens do jornal impresso todos os dias para saber o que já saiu foi publicado e evitar que algo se repita nos textos on-line. Ela revela que atualmente o público em geral se informa, em sua maioria, pelas redes sociais e que, por isso, o trabalho de cativar o leitor por meio desta plataforma é importante. Já o trabalho do jornal impresso demanda um planejamento maior para as reportagens. A jornalista Márcia de Chiara afirma que sua rotina fica complicada na sexta-feira. “O tempo é muito apertado, além das matérias do dia, precisamos produzir e fechar as matérias especiais do fim de semana”, conta. Ela chega à redação e se informa sobre os assuntos do dia, vai atrás das fontes envolvidas e faz a checagem de quem pode falar a respeito de determinado assunto. Na segunda-feira, o dia “mais leve” dos jornalistas do impresso, acontece a reunião das pautas especiais, com repórteres e editores. Para as matérias do dia a dia não há uma reunião. Ao chegar à redação, os jornalistas checam seus e-mails, veem as pautas, conversam com o chefe de reportagem, vão para a rua, voltam e após dar um retorno ao editor, escrevem a matéria. Há 17 anos no jornal, cobrindo a área de economia, Márcia revela que a formação como jornalista não foi suficiente. “Economia é uma área bem específica. Para o jornalista se diferenciar precisa ter uma for-

O jornal trabalha em sincronia com a plataforma digital mação adicional, ler muito a respeito e fazer cursos”, explica. O curso recomendado para os que pretendem trabalhar na área é o Foca Econômica, oferecido pelo jornal O Estado de S. Paulo, no qual professores especialistas em economia da FGV (Fundação Getúlio Vargas) ensinam conceitos específicos que a formação de jornalista não pode proporcionar. Apesar da segunda formação, Márcia preferiu levar vida como repórter. “O dia a dia de uma redação de jornalismo é mais gostoso do que de um economista”, esclarece. Não a agradou saber que economistas precisam trabalhar em gabinetes, fazendo cálculos e planilhas. Atualmente ela considera ter juntado o melhor das duas áreas. “No jornalismo há uma oxigenação maior das informações”, explica. Se a taxa de câmbio mexer, por exemplo, a repórter sai às ruas, conversa com pessoas, faz matérias. É um trabalho de “formiguinha” que traz um resultado compensador. Maday Florencio

A Agência Estado (ao fundo) trabalha em sintonia com a redação impressa e on-line (à frente) do jornal DOIS PONTOS | 5


Reportagem | Olhar Crítico

Reportagem | Mercado de Trabalho

As narrativas na Gazeta Mercantil

Demanda crescente nas redações

Pesquisadora estuda os critérios de noticiabilidade adotados por um dos jornais mais importantes na área de economia e que circulou por quase 90 anos

Por Aline Oliveira

Por Larissa Valença

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o dia 1º de junho de 2009, o jornal Gazeta Mercantil deixou de circular no país após 89 anos de existência. Fundado pela família Levy, o periódico dedicado à cobertura de economia teve seu fim declarado após um embate entre o antigo proprietário e o atual dono da marca, que não conseguiram acordo diante das dívidas da empresa. “A imprensa brasileira perdeu um grande jornal, de qualidade, que cobria de forma muito ampla e com propriedade a economia no país. O jornalismo segmentado nessa cobertura sofreu retração com essa perda, embora existam dois títulos em circulação, o Valor Econômico e o Brasil Econômico, mas ambos com pouca história em comparação com a Gazeta Mercantil, fundada em 1920”, explica Hérica Lene Brito, doutora em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Professora e pesquisadora do jornalismo de economia, Hérica também é jornalista. Em seu artigo Memória e história do jornalismo de economia brasileiro: a “construção” das notícias na Gazeta Mercantil (GZM), ela aborda as narrativas noticiosas e critérios de noticiabilidade desse periódico. Com sede em São Paulo e sucursais em outros Estados, a GZM tinha um estilo diferenciado de atua-

Reprodução

Capa de edição da Gazeta Mercantil de 04 de março de 2008 6 | DOIS PONTOS

Para ser um profissional bem sucedido nessa área é essencial ter conhecimento de história, política e direito, além de saber traduzir o cenário econômico ao leitor

Reprodução

Capa de edição da Gazeta Mercantil de 29 de maio de 2009

ção. A cobertura era feita a partir da busca por novos ângulos de abordagem para os assuntos, pela observação empírica dos jornalistas, aponta a pesquisadora no artigo. Além disso, a maioria das pautas não provinha de releases, como estratégia de diferencial do veículo. “Em vez de registrar, por exemplo, simplesmente o aumento do desemprego, tentar mostrar quais segmentos estavam contratando, quais as tendências. Fazer o que os repórteres estão se esquecendo de fazer: em vez de adotar a pauta recebida como a “verdade absoluta”, procurar apurar de fato, ouvir as fontes, pesquisar e não apenas repetir ou confirmar a hipótese que está na pauta”, expõe Hérica. A pesquisadora acrescenta que sem esse cuidado de ouvir, entrevistar e pesquisar, o jornalismo fica homogêneo e repetitivo. Havia na redação do jornal a prática de só publicar informações precisas, checadas e confirmadas, fugindo da publicação de boatos, e todas as matérias eram assinadas, com o objetivo de tornar o jornalista conhecido e corresponsável pelo que era publicado. Com a crise diante do desequilíbrio financeiro da empresa e a retração publicitária, a GZM passou a adotar manobras discursivas. “Eram termos frequentemente utilizados para convencer os leitores, as fontes de informação e os anunciantes da importância desse diário de economia não só no cenário da imprensa brasileira como mundial”, diz a pesquisadora. Assim, eram enfatizados os valores do jornal, como independência e autoridade; isenção, idoneidade e seriedade; havia também a prática de se posicionar como moderna e buscar novas formas de se projetar, ampliar sua cobertura e firmar parcerias com outras empresas. Para Hérica, com o fechamento da GZM, a categoria dos jornalistas perdeu, pois a empresa era um dos maiores empregadores nessa área. Mudou também o mercado de imprensa segmentado, que perdeu um jornal longevo e ganhou um novo, fruto de um investimento dos grupos Folha e O Globo: o jornal Valor Econômico. “A Gazeta Mercantil, que foi o ‘quinto maior jornal econômico do Ocidente’, representou a consolidação do jornalismo econômico tal qual se configura hoje [...] Se tornou ícone desse subcampo dentro da imprensa brasileira por se declarar como um veículo especializado e voltado exclusivamente para essa cobertura”, finaliza.

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screver sobre economia não é algo simples, é necessário ter embasamento para entender manobras e rol de assuntos traiçoeiros, como as medidas econômicas que podem apenas aparentar ser benéficas. É necessário decodificar jargões e ter compreensão do cenário econômico para priorizar as informações que esclareçam o leitor sem ambiguidades. Há grande leque de subtemas, como educação financeira passando por mercado de ações e assuntos estritamente corporativos. Compete ao jornalista dessa área, sobretudo, fiscalizar as ações do governo e cumprir as premissas da profissão. O campo de atuação é amplo, visto que qualquer mídia abrange esse tema recorrente e de interesse público. Revistas e jornais segmentados ou que tenham editorias diversificadas, bem como rádios, empresas e agências de comunicação necessitam desse profissional. “Jornalismo econômico é a melhor área para trabalhar, há demanda em variadas plataformas e em cidades fora do eixo Rio-São Paulo, como Brasília”, afirma Sérgio Tawata, repórter do Valor Econômico. Alexandre Versignassi, redator-chefe da Superinteressante, conquistou o espaço para pautas voltadas à economia nessa publicação com o foco em ciências. “Em 2008 vi o quão era importante trazer o histórico da crise global, livre de jargões. Insisti com o diretor para publicar e houve grande repercussão. Para desdobrar o tema, resolvi escrever o livro Crash- Uma breve história da Economia, mostrando como a psicologia e até a biologia explicam a organização das finanças que culminaram naquele momento conturbado,” diz. O livro foi lançado em 2013 pela editora Leya Brasil. Para compreender economia é essencial saber com profundidade o desencadeamento histórico dos fatos. “A origem do problema social é fruto de uma decisão econômica do passado”, relata Sérgio Leopoldo Rodrigues, que trabalha no setor há 40 anos, escreveu para o lendário Última Hora, já foi repórter dos extintos Gazeta Mercantil e Jornal da Tarde, e ainda cobria a editoria em veículos como a rádio Eldorado e o jornal Diário do Comércio. É necessário ter conhecimento em história brasileira, mundial, macro e micro economia, estudar fundamentos básicos de direito e dominar conceitos como mercado de capitais e matemática

financeira, esta última imprescindível para a checagem das informações enviadas pelos órgãos institucionais. Tamanha exigência técnica pode ser adquirida em cursos de especializações e por meio de leituras diárias sobre o mercado. Várias instituições disponibilizam cursos gratuitos, como a Bovespa – Bolsa de Valores de São Paulo. Outro elemento importante que fornece credibilidade ao profissional dessa área é criar e cultivar fontes do ramo. “É fundamental que essa relação seja pessoal para que haja confiabilidade, em uma coletiva, por exemplo,” ratifica Sérgio. Na essência, a missão nesse campo é esclarecer quando uma medida econômica beneficia uma classe social em detrimento da outra. “A cada decisão do governo, há jogo de interesses, que impactam em benefícios e prejuízos. O jornalista de qualidade deve analisar esses aspectos explícitos e implícitos, tendo em vista o bem estar social”, acrescenta o jornalista. Vale ressaltar que economia e política são indissolúveis. Para Sérgio, quando a informação adquire forma analítica isso repercute na sociedade. “Quanto mais esclarecida, mais irá avaliar a situação de seu país e poderá se organizar para modificá-la, dentro das ideologias que permeiam cada individuo. Esse é o reflexo do nosso trabalho”, conclui.

Jota Martins

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Seção | Sugestões & Dicas

Para ler Valor Econômico

CartaCapital

Exame

Jornal diário (de segunda a sexta) editado pela Globo e Folha de S. Paulo. A primeira edição é de 2 de maio de 2000.

Revista semanal fundada em 1994 pelo jornalista ítalo-brasileiro Mino Carta.

Revista quinzenal, da Editora Abril, lançada em 1967.

Dieese dieese.org.br

Dinheirama dinheirama.com

O site do Dieese traz informações sobre emprego, renda, negociação coletiva, desenvolvimento e políticas públicas.

Especializado em educação financeira, que procura melhorar o nível de conhecimento econômico

Pequenas Empresas & Grande Negócios - Globo

Conta Corrente – Globo News

Notícias e orientações para ajudar novos empreendedores. Também mostra casos de sucesso de pequenas empresas.

Análises sobre o mercado financeiro, de investimentos e de gastos. A economia no mundo, no Brasil e no seu bolso.

Economia & Negócios – Record News Recebe especialistas de setores da economia que falam sobre segmentos do mercado e dão dicas de como administrar as finanças.

Papo de Líder – Rádio Estadão

Economia & Negócios – Rádio Eldorado

Conexão CBN – Época Negócios – Rádio CBN

Eugênio Mussak traz as fontes especializadas em recursos humanos. Fala sobre desenvolvimento e gestão de pessoas.

Podcast com apresentação de Ricardo Amorim, ele reponde questões sobre a economia mundial e seus reflexos.

Boletim com apresentação de Guilherme Felitti traz informações sobre o mundo dos negócios.

Para navegar

InfoMoney infomoney.com.br Site especializado em investimentos pessoais e educação financeira do Brasil. Publica notícias, entrevistas, análises e dicas.

Para assistir

Para ouvir

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