SOBRE GONÇALVES DIAS

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Reiterando, pois: a 03 de novembro de 1864, já em vias de pisar no solo idolatrado, vem a falecer, vítima do naufrágio do Ville de Boulogne, no Baixio dos Atins (Tutoia – próximo aos Lençóis Maranhenses), de onde contempla, pela última vez, o leque das palmeiras de sua terra, a balançar ao vento... conforme rogara a Deus, na sua imortal e sempre atual Canção do Exílio: Não permita Deus que eu morra/ Sem que eu volte para lá;/ [...] /Sem qu’inda aviste as palmeiras/ Onde canta o sabiá. Do trágico, evento, a sentida impressão de Machado de Assis5 (Diário do Comércio, 29.11.1864): ...chegou a notícia da morte de Gonçalves Dias, o grande poeta dos Cantos e d’Os Timbiras. A poesia nacional cobre-se, portanto, de luto. Era Gonçalves Dias o seu mais prezado filho, aquele que de mais louçanias a cobriu. Morreu no mar, túmulo imenso para o seu talento. Só me resta espaço para aplaudir a ideia que se vai realizar na Capital do Maranhão: a ereção de um monumento à memória do ilustre poeta. Não é um monumento para o Maranhão, é um monumento para o Brasil.

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Seus últimos versos (encerrando a sua trajetória poética como a iniciou, rememorando e exaltando a terra amada, os amigos...), integram o poema Minha Terra!, escrito em Paris, em 1864, donde a estrofe: Depois de girar no mundo/ Como barco em crespo mar,/ Amiga pátria nos chama/ Lá no horizonte a brilhar”. Pois do que por fora vi, querer minha terra gente aprendi. (Minha terra. Paris, 1864) O Nacionalismo e o estro poético gonçalvino Gonçalves Dias se destaca no [...] panorama da primeira fase romântica pelas qualidades superiores de inspiração e consciência artística. Contribui, ao lado de José de Alencar, para dar à literatura, no Brasil, uma categoria perdida desde os árcades maiores e, ao modo de Cláudio Manuel, fornece aos sucessores o molde, o padrão a que se referem como inspiração e exemplo. [...]. Nele as novas gerações aprenderam o Romantismo, sob este ponto de vista foi o acontecimento decisivo da poesia romântica e todos os poetas seguintes, de Junqueira Freire a Castro Alves, pressupõem a sua obra. “A partir dos Primeiros Cantos, o que antes era tema – saudade, melancolia, natureza, índio – se tornou experiência nova e fascinante, graças à superioridade da inspiração e dos recursos formais” (Antonio Cândido)

No contexto da Literatura Brasileira, a Poesia, e em especial a poesia romântica, se faz pródiga e reveladora do inegável talento artístico dos seus autores. No que toca ao nacionalismo, a poética de Gonçalves Dias, pode-se dizer, é mensageira das virtudes pátrias, (e) levando o sentimento de amor à terra natal, aos mais altos píncaros da glória – o que pode ser observado na Canção do Exílio, um dos poemas mais belos e conhecidos, deste insigne maranhense. Em verdade, dentre as composições desse magno representante da Literatura Maranhense e Nacional, é opinião da crítica abalizada: a Canção do Exílio, na força dos seus recursos linguísticos e estilísticos, é a que melhor representa o sentimento 5 - apud. BANDEIRA, Manuel. Gonçalves Dias – Poesia, Rio de Janeiro, Livraria. Agir Editora, 1967. p. 81(Col. Nossos Clássicos).


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