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O QUE ESPERAR DE UM PAÍS ONDE A EDUCAÇÃO NUNCA FOI PRIORIDADE?

“Somente pela educação conseguiremos construir um país socialmente mais justo”

Ano após ano os indicadores nacionais e internacionais do Brasil mostram nossas sérias deficiências na Educação.

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Fruto da teimosia em manter um sistema de Educação que vem de, pelo menos, dois séculos passados. Os zeros em profusão obtidos pelos estudantes na redação no Enem não é obra do acaso, mas fruto do descaso com que a Educação é tratada. Em 2015, 500 mil estudantes zeraram na Educação! De lá para cá, com pandemia e tudo, o quadro só piorou.

Lembro-me que, enquanto gestor de Educação no ensino superior, era necessário com o objetivo de nivelar conhecimento, realizar cursos de matemática básica para os acadêmicos entrantes na Universidade. Isto mostra, claramente, as deficiências do ensino médio aonde uma boa parcela dos estudantes chegava sem saber regra de três simples e, sequer, porcentagem.

Portanto, não é de estranhar o que acabei de ler no jornal Valor Econômico: “Caem pela metade às matrículas nos cursos de engenharia!” Nos cursos voltados à Tecnologia da Informação, crucial para qualquer país que queirasedesenvolver,ataxadedesistênciachega aos 70%. Turmasquecomeçam com 50acadêmicos chegam ao final do curso com 2 ou 3 formados. Dados coletados pelo Inep que acompanharam acadêmicos que entraram na Universidade em 2010 mostram que, nas unidades federais o nível de desistência chegou a 52%; nas particulares este número foi de 62% e nas estaduais de 44%. Na modalidade de EaD a desistência foi de 63% e na presencial, pouco menor, em 59%. O acompanhamento ocorreu até 2019 quando os dados foram divulgados.

Não há referência na história de algum país que conseguiu se desenvolver econômica e socialmente sem Educação de qualidade para seu povo. Exemplos recentes mostram, com indicadores claros, que Finlândia, Coreia do Sul e Polônia saíram do atraso a partir da prioridade dada à Educação. Enquanto o Brasil continuar transformando escolas em depósitos de crianças para que seus pais possam trabalhar, continuaremos a colecionar títulos indesejados na Educação, com todas suas consequências sociais.

No Brasil ocorre um estupro a cada 10 minutos e um feminicídio a cada 7 horas, 41 mil pessoas foram assassinadas em 2021 e mais de 17 mil meninas de até 14 anos foram mães precoces. E, assim, se mostra o rosto da pretensa Educação de que muita gente se vangloria! (dados coletados entre mar/2020 e dez/2021 pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública);

Hora de trabalhar e muito para reverter este quadro. Rever a prioridade parece ser fundamental e, não é, simplesmente, investir mais dinheiro. Há que se rever a forma como o dinheiro aplicado em Educação é gasto; no ensino superior rever os cursos ofertados, rever ementas, entender a realidade que o futuro está desenhando, rever a estrutura burocrática que engessa o Ministério da Educação; uma imensa estrutura para produzir quase nada. No ensino médio acompanhar a implantação das mudanças feitas e validar ou modificar, rapidamente, o que for necessário. Incentivar e investir no ensino técnico aproximando-o dos jovens e mostrando as possibilidades de crescimento na área. E, no ensino fundamental torná-lo atraente aos jovens, deixar de adestrar para um mundo que não mais existe e ensiná-los a pensar para que construam seu próprio futuro.

Somente pela Educação conseguiremos construir um país socialmente mais justo, oferecendo as mesmas oportunidades a todos, a diferença será produto da maneira como essas pessoas farão a posse do que lhes é oferecido. Aí a resposta será de cada um e a sociedade terá feito sua parte.

"O mundo é, e sempre foi, profundamente desigual e, infelizmente, independente do que pensam alguns ideólogos da esquerda, vai continuar assim por muito tempo"

O mundo é, e sempre foi, profundamente desigual e, infelizmente, independente do que pensam alguns ideólogos da esquerda, vai continuar assim por muito tempo.

A África sofre um novo processo de colonização só que, agora, com novo explorador: a China; os interesses são os mesmos dos antigos colonizadores coloniais e os resultados, até aqui, mostram que a África, na grande maioria dos Estados, abre mão de suas soberanias em troca de ajudas que se mostram ineficazes e que só servem ao explorador. À China interessa os alimentos produzidos na África mesmo que a fome atinja os africanos.

A China, por sua vez, começa a sentir as agruras da diminuição do crescimento econômico e as demissões começam a acontecer, em massa, nas empresas de tecnologia. A velha Europa, que construiu sua história a partir do colonialismo e da exploração das riquezas das terras exploradas, sofre com o envelhecimento da sua população, com a invasão dos antigos colonizados e vê seu modelo de bem estar social sendo corroído pela conjuntura econômica. A tentativa francesa de aumentar, em dois anos, a idade da aposentadoria mostra que o povo não está disposto a aceitar a perda do que lhes foi agraciado há tempos.

E, aqui no Brasil, um país rico e beneficiado pela natureza, o papel de construir o atraso é o roteiro principal dos governos que são escolhidos pelo povo. O governo, que recém assumiu, está propondo mudanças que negam o que já foi assimilado no mundo. Alguns exemplos; o Ministro do Trabalho, quando perguntado se não estava preocupado com a saída do Uber do Brasil em função das mudanças propostas, que visam transformar o motorista de Micro Empreendedor Individual em trabalhador com carteira assinada, respondeu que é somente um aplicativo; “chamo os Correios para fazer o trabalho!” Será que o senhor Ministro sabe quantas pessoas dependem deste serviço para sobreviver? Quantas pessoas usam o Uber para complemento de renda e para melhorar a qualidade de vida de sua família exatamente em função da liberdade de opções oferecidas?

Outra medida que está em estudo é o retorno do imposto sindical. É óbvio que esta medida, que já mostrou um enorme prejuízo para a classe trabalhadora, caso retorne somente beneficiara o crescimento de parte da sociedade que pretende se manter sem trabalhar e viver às custas do dinheiro alheio. Houve um tempo neste país, gigante por natureza, que o número de sindicatos era, totalmente, desproporcional ao resto do mundo. Vamos insistir no erro?

O encerramento de atividades produtivas, por todo país, mostra a insegurança dos investidores em manter ativos seus negócios. Quando se projeta o futuro, as empresas fazem isto com frequência, o que se vê é determinante para o estabelecimento de planos de investimentos. Se o que se vê não é interessante aos investidores, o dinheiro procura outro destino. É isto que está acontecendo no país.

Cuba, o país mais bem sucedido da América Latina, segundo discurso do Presidente Lula, ainda tem a estabilidade de emprego em seu regime de relações de trabalho; Depois do “período de prueba” só é possível demitirporfaltagraveemedianteinquérito.Seaideiaéimplantaroatraso, ocaminhoestásendobemtrilhado! Lembrando o pai da administração, Peter Drucker, “A inovação sempre significa um risco. Qualquer atividade econômica é de alto risco e não inovar é muito mais arriscado do que construir o futuro!”