IMIGRANTES NA PROFISSÃO
EM TURISMO E
HOSPITALIDADE
NO ALGARVE


ENTIDADE EXECUTANTE
KIPT CoLAB, Inovação e Turismo
COORDENAÇÃO CIENTÍFICA
Correia, Antónia, KIPT CoLAB, Inovação e Turismo, FE - UAlg
COORDENAÇÃO TÉCNICA
Almeida, Heber, KIPT CoLAB, Inovação e Turismo
Marefatnia, Sara, KIPT CoLAB, Inovação e Turismo
Marques, Beatriz, KIPT CoLAB, Inovação e Turismo
Martins, Paulo, KIPT CoLAB, Inovação e Turismo
Mendonça-Pedro, Rui, KIPT CoLAB, Inovação e Turismo
Portugal, João, KIPT CoLAB, Inovação e Turismo
Soares, Natacha, KIPT CoLAB, Inovação e Turismo
O estudo "Imigrantes na Profissão em Turismo e Hospitalidade no Algarve” analisa as motivações, expectativas e condições de vida dos trabalhadores imigrantes no setor de Turismo e Hotelaria (T&H) na região. Realizado pelo KIPT CoLAB e apoiado em 499 questionários, o estudo proporciona um retrato detalhado das razões que levam os imigrantes a escolher a região, os seus planos futuros e a sua satisfação. A investigação revelou três perfis principais de imigrantes:
Perfil 1 - Imigrantes com Afinidade Cultural ao Algarve e Necessidades
Socioeconómicas: Este grupo, que representa 47,8% dos inquiridos, é predominantemente constituído por jovens adultos, principalmente do Brasil, que veem o Algarve como uma extensão cultural das suas origens e procuram melhorar suas condições de vida. As motivações centrais incluem estabilidade financeira e acesso a uma vida mais segura. Embora este perfil apresente uma intenção relativamente sólida de continuar no Algarve, a satisfação com as condições atuais de vida é moderada, o que pode afetar a permanência a longo prazo.
Perfil 2 - Imigrantes em Busca de Melhor
Qualidade de Vida e Novas Oportunidades: Com 43,9% dos participantes, este perfil é composto por jovens vindos do Brasil, Índia e Nepal, na sua maioria solteiros e com uma escolaridade que vai do ensino secundário ao superior. Os indivíduos deste perfil vieram para o Algarve atraídos pela promessa de uma vida melhor, com oportunidades de desenvolvimento pessoal e segurança que não tinham nos seus países de origem. A sua expectativa é de crescimento e estabilidade num ambiente mais favorável. A elevada satisfação com as condições de vida no Algarve reforça a sua intenção de permanecer a longo prazo.
Perfil 3 - Imigrantes Orientados para Networking e Desenvolvimento
Profissional: Este perfil, que compreende 8,3% da amostra, é caracterizado por imigrantes europeus, jovens, altamente qualificados e que valorizam redes de contato e oportunidades de desenvolvimento de competências. Estes imigrantes percecionam o país como uma plataforma para networking e crescimento na carreira, mas não necessariamente como destino definitivo. A insatisfação com certas condições de vida e uma menor conexão com a cultura local justifica a maior propensão para considerarem a emigração para outros países ou o regresso ao seu país de origem.
A análise detalhada dos três perfis sugere que, para maximizar a retenção e satisfação dos imigrantes, são necessárias políticas públicas específicas que atendam às distintas motivações e expectativas desses grupos. A valorização da qualidade de vida, o apoio à formação profissional e a criação de condições para a integração social são fundamentais para o fortalecimento da presença desses trabalhadores no setor de T&H e para o desenvolvimento sustentável do setor na região e no país.
Introdução
Enquadramento metodológico
Amostra geral em estudo
Formação de clusters
Análise discriminante
Perfil 1
Caracterização da Amostra
Condições de Vida no País de Origem e no Algarve
Formas de imigração
Perfil 2
Caracterização da Amostra
Condições de Vida no País de Origem e no Algarve
Perfil 3
Caracterização da Amostra
Condições de Vida no País de Origem e no Algarve
Análise Comparativa entre Perfis
Motivações
Expectativas
Atitude
Condições de vida
Intenção e satisfação
Efeito Alavanca Referências Tabelas completas Apêndices
Nas últimas décadas, Portugal, historicamente conhecido como um país de emigração, transformou-se num destino importante para fluxos migratórios provenientes de diversas partes do mundo. Destacam-se as comunidades de imigrantes oriundas do Brasil, da Europa Central e do Leste, de África e da Ásia, que trazem uma diversidade cultural e social significativa. Estes grupos possuem motivações diversas, que vão desde a busca por melhores condições económicas até à procura de uma maior qualidade de vida. Muitos acabam por aceitar empregos de baixa qualificação e enfrentam condições laborais e habitacionais precárias, na esperança de uma vida mais promissora (Góis, 2019; Góis & Marques, 2007).
Embora a multiculturalidade esteja a crescer em algumas regiões de Portugal, há ainda resistência à aceitação plena dos imigrantes, especialmente entre as gerações mais antigas. Este facto reflete uma combinação de desconhecimento e receio acerca do impacto da diversidade demográfica no
tecido social português (Rodrigues et al., 2013; Tavares, 2010). Neste sentido, compreender as dinâmicas e as características das comunidades imigrantes é essencial para promover uma convivência mais inclusiva entre diferentes culturas e etnias. Assim, a investigação sobre os fluxos migratórios e a análise sociodemográfica dos imigrantes, especialmente no Algarve, tornam-se ferramentas cruciais para uma compreensão mais aprofundada das dinâmicas migratórias no país.
A Tabela 1 (ver Tabela completa no Ponto 9) apresenta a evolução do número de imigrantes residentes em Portugal, distribuídos pelos distritos mais representativos e desagregados por sexo. Com base na análise dos dados da Tabela 1 (SEF-STAT, 2010, 2021), verifica-se um aumento significativo do número de imigrantes a residir em Portugal em 2021 comparativamente a 2010. Este crescimento é
Tabela 1 - Número de imigrantes a residir em Portugal atendendo aos distritos mais representativos por sexo
Nacional Braga Faro Lisboa Porto Setúbal
A análise por género revela uma tendência de predominância masculina entre os imigrantes. Em ambos os anos analisados (2010 e 2021), os homens representavam uma parcela considerável dos fluxos migratórios para Portugal, sugerindo uma correlação com a procura de emprego em setores que tradicionalmente atraem uma força de trabalho predominantemente masculina.
Relativamente às nacionalidades predominantes entre os estrangeiros a trabalhar no Algarve em 2021, destaca-se a forte presença de imigrantes provenientes da América do Sul, em especial do Brasil (17.496 indivíduos). Seguem-se os imigrantes da Ásia, principalmente da Índia (5.078 indivíduos) e China (1.438). Em relação ao continente africano, a maioria dos trabalhadores é oriunda dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), nomeadamente Cabo Verde (1.896 indivíduos), e Guiné-Bissau (1.250). No que respeita aos países da União Europeia, verifica-se uma presença considerável de cidadãos da Roménia (6.855 indivíduos), França (6.328), Ucrânia (5.445), Itália (5.502), e Alemanha (4.745).
especialmente visível nos distritos de Lisboa e Faro, que se destacam como os destinos preferenciais dos imigrantes para estabelecer residência e procurar trabalho, tanto em 2010 como em 2021.
A Tabela 2 (ver Ponto 9) mostra a distribuição dos trabalhadores estrangeiros por conta de outrem, divididos por sexo e nível de habilitações literárias, residentes em Portugal em 2022. De acordo com os dados, os 322.028 trabalhadores imigrantes, 66% possuem o ensino secundário, seguidos pelos que têm o do ensino básico, que representam 17%, e, por fim, os que possuem o ensino superior, que constituem 11% do total (Gabinete de Estratégia e Planeamento, 2023).
Tabela 2 - Número de trabalhadores por conta de outrem, estrangeiros, por sexo e segundo o nível de habilitação
< 1º ciclo do Ensino Básico
Ensino Básico
Ensino Secundário
Ensino Pós Secundário
Ensino Superior Nível desconhecido
Fonte: Gabinete de Estratégia e Planeamento (2023)
A análise das qualificações por género evidencia um nível de habilitações ligeiramente superior entre as mulheres. Observa-se que 64% das trabalhadoras estrangeiras possuem o ensino secundário e 16% o ensino superior, comparativamente a 66% e 9%, respetivamente, entre os homens (Gabinete de Estratégia e Planeamento, 2023).
O mesmo relatório indica também que, no setor do “Alojamento, Restauração e Similares”, o número total de trabalhadores estrangeiros por conta de outrem é de 56.634. Destes, 19.433 são profissionais qualificados, 14.631 são semiqualificados e 11.750 não qualificados. Além disso, no que diz respeito a trabalhadores estrangeiros qualificados, 748 desempenham funções qualificadas e 463 ocupam cargos de quadros superiores neste setor específico (Gabinete de Estratégia e Planeamento, 2023).
A Tabela 3 (ver Ponto 9) apresenta a evolução do número de imigrantes residentes no distrito de Faro, detalhando as nacionalidades mais representativas e a divisão por género. Com base na análise da Tabela 3 (SEF-STAT, 2010, 2021), verifica-se um aumento no número de imigrantes a escolher o distrito de Faro para residir e trabalhar, passando de 71.818 em 2010 para 105.142 em 2021, o que representa um crescimento de aproximadamente 46%.
Tabela 3 - Número de imigrantes a residir no distrito de Faro atendendo às nacionalidades mais representativas por sexo
Reino Unido
Em 2010, as principais nacionalidades presentes no distrito de Faro eram o Brasil (12.996 imigrantes), Reino Unido (11.129), Ucrânia (9.676), Roménia (8.587), Moldávia e Alemanha. Em 2021, além dessas nacionalidades, registou-se um aumento de imigrantes provenientes de França, Itália, Índia e Nepal. O crescimento da população brasileira foi notório, com um aumento de 12.996 para 17.496 imigrantes entre 2010 e 2021, representando um crescimento de aproximadamente 35%. Também os imigrantes do Reino Unido aumentaram de 11.129 para 20.770, um crescimento de 186%. Esta expansão reflete a atratividade crescente do Algarve para várias nacionalidades ao longo da última década.
A análise por género evidencia uma prevalência de imigrantes do sexo masculino em relação ao feminino em ambas as datas analisadas. Em 2021, o número de homens imigrantes era de 55.691, enquanto o de mulheres era de 49.451, o que significa que os homens representavam cerca de 53% do total de imigrantes no distrito de Faro.
Fonte: SEF STAT (2010, 2021)
No que se refere à situação laboral, a distribuição por profissões no setor de trabalhadores por conta de outrem no distrito de Faro, conforme a classificação por grandes grupos de profissão e pela região (NUTS II), destaca 270 imigrantes na função de “diretores de hotelaria, restauração, comércio e outros serviços”, 2.818 imigrantes como “assistentes na preparação de refeições” e 5.032 na categoria de “trabalhadores de limpeza” (Gabinete de Estratégia e Planeamento, 2023). Estes números indicam uma forte concentração de imigrantes em profissões de mão-de-obra intensiva no setor de serviços e turismo, evidenciando a importância da mão-de-obra estrangeira na sustentação de atividades essenciais ao funcionamento da economia algarvia.
O trabalho de campo foi realizado entre os meses de setembro de 2023 a janeiro de 2024, com a recolha de 499 questionários presenciais e online em restaurantes e hotéis na região do Algarve. Este estudo visa traçar o perfil dos imigrantes em turismo e hotelaria no Algarve, com o objetivo de compreender as suas motivações, expectativas e intenções futuras. Este estudo oferece ainda, com base nas respostas dos inquiridos, um quadro comparativo entre as condições de vida no país de origem e no Algarve.
Utilizou-se a análise de clusters para definir diferentes perfis psicográficos de imigrantes. A análise de clusters iniciou-se com o método de análise de clusters hierárquico, explorou-se a formação de dois a três clusters distintos com base nas motivações, expectativas, atitudes e condições de vida ligadas à imigração. Posteriormente, através do método k-means, optou-se por adotar 3 clusters por ser a solução que maximizava a distância euclidiana entre os três grupos. Seguiu-se uma análise discriminante para verificar se a classificação das observações nos clusters distingue efetivamente diferentes segmentos e para identificar as variáveis que mais contribuem para essa diferenciação. Para a análise discriminante, utilizou-se o teste Lambda de Wilks, que avalia a proporção da variância total nas variáveis dependentes não explicada pelas
diferenças entre os grupos. Valores mais baixos de Lambda indicam uma maior capacidade de discriminação entre os grupos. Além disso, recorreu-se ao teste Qui-quadrado para testar a hipótese de igualdade das médias entre os grupos.
Neste sentido, foram criados e analisados três clusters, com o objetivo de refletir as potenciais motivações, expectativas, atitudes e condições de vida associadas à imigração. A construção desses clusters permite uma compreensão mais aprofundada das diversas razões que levam os indivíduos a imigrar, bem como das suas expectativas em relação ao país de destino e das atitudes perante a mudança. Cada cluster oferece uma visão distinta das condições de vida e das oportunidades que influenciam a decisão de imigrar, permitindo identificar padrões e tendências específicas entre os imigrantes.
Adicionalmente, foram realizadas análises estatísticas com recurso a testes não paramétricos e a estatística descritiva com o intuito de explorar as características sociodemográficas e socioprofissionais da amostra, com o objetivo último de aprofundar o conhecimento do perfil da população imigrante no setor da restauração e hotelaria no Algarve.
Amostra geral em estudo
De acordo com a Tabela 4, a maioria dos participantes (39,8%) tem entre 20 e 29 anos, seguida por 32,3% na faixa etária dos 30 aos 39 anos. Apenas 1,5% dos participantes tem mais de 60 anos.
Relativamente ao sexo, a amostra é predominantemente composta por homens (60,1%).
No que respeita à habilitações literárias, 42,4% dos participantes completaram o ensino secundário, enquanto 26,9% possuem um grau de ensino superior.
Em termos de estado civil, a maioria dos participantes é solteira (61,3%), enquanto 35,2% são casados ou vivem em união de facto, e apenas 3,4% são divorciados ou viúvos.
Geograficamente, a maior parte dos participantes provém do continente americano (33,5%), seguidos por participantes dos continentes asiático (23,7%) e africano (23,3%).
Por fim, em relação ao país de origem, a maior proporção de participantes nasceu no Brasil (31%), seguida pela Índia (15,1%) e pelo Nepal (6,7%).
A amostra apresenta características muito semelhantes à população de imigrantes, ao nível das qualificações: 36% do universo de imigrantes em Portugal possui o ensino secundário e 11% a licenciatura, enquanto na amostra estas percentagens são de 42,4% e 26,9%, respetivamente. A maioria são do sexo masculino (53% no universo e 60,1% na amostra). Quanto ao país de origem, o Brasil representa 17% no universo e 31% na amostra; a Índia, 5% no universo e 15,1% na amostra; e o Nepal, 3% no universo e 6,7% na amostra. A representatividade estatística da amostra permite, com alguma prudência, fazer inferências sobre a realidade da imigração em Portugal (ver Ponto 9).
Estado Civil Continente País de origem
A análise de clusters possibilita a identificação de grupos homogéneos dentro de uma amostra com base em características semelhantes, permitindo uma melhor compreensão das motivações e expectativas relacionadas com a imigração. Verificou-se que, após a aplicação do método hierárquico inicialmente sugerido, a formação de dois a três clusters distintos, as duas soluções foram posteriormente testadas pelo método k-means. Esta etapa resultou na adoção de 3 clusters devido à maior clareza na diferenciação dos segmentos criados.
O Apêndice A (ver Ponto 9), mostra as distâncias entre os centros dos clusters finais apresenta as distâncias euclidianas que medem a dissimilaridade entre os grupos. O Cluster 1 e o Cluster 2 estão relativamente próximos (4,3), sugerindo que os seus elementos podem partilhar algumas semelhanças. O Cluster 1 e o Cluster 3 encontram-se a uma distância moderada (5,2), indicando melhor dissimilaridade entre os clusters.
Theo Andrade Faixa etária
Estado Civil País de Origem
20-39 Solteiro Brasil
Ravi Nair
Faixa etária
Estado Civil País de Origem
20-29 Solteiro Índia
No entanto, o Cluster 2 e o Cluster 3 estão significativamente mais distantes (8,7), sugerindo maior dissimilaridade entre si. As distâncias maiores entre clusters refletem maior dissimilaridade, enquanto distâncias menores podem indicar sobreposição e, consequentemente, algumas semelhanças, contudo, todas as diferenças identificadas são estatisticamente significativas.
Os resultados, representados na Tabela 5 (ver Ponto 9), indicam que o primeiro cluster absorve 232 casos, representando 47,8% da amostra, seguido pelo segundo cluster com 213 casos (43,9%) e o terceiro cluster com compreende 40 casos (8,3%). Esta segmentação permite uma análise mais aprofundada das características distintivas dos grupos imigrantes no setor estudado.
Sophie Müller
Faixa etária
Estado Civil País de Origem
20-29 Solteira Alemanha
Análise discriminante
Foi conduzida uma análise discriminante para avaliar a capacidade de diferenciação dos diferentes segmentos identificados nos clusters, bem como para identificar as variáveis que mais contribuem para essa distinção.
Tabela 6 - Autovalores relativos à função
Necessidades socioeconómicas
Novas oportunidades
Os resultados apresentados na Tabela 6 revelaram que a Função 1 apresenta um autovalor mais elevado de 2,7, explicando 72,8% da variância total e demonstrando uma correlação canónica de 0,8 (Tabela 6). Isso indica que a Função 1 desempenha um papel crucial na discriminação entre os grupos identificados.
A Função 2, por sua vez, mostrou um autovalor de 1, explicando 27,2% da variância total e apresentando uma correlação canónica de 0,7. Embora menos dominante que a Função 1, a Função 2 contribui significativamente para a distinção entre os grupos.
Teste Lambda de Wilks relativos à Função
O Teste Lambda de Wilks (Apêndice B ) foi utilizado para medir a proporção da variância total nas variáveis dependentes que não é explicada pelas diferenças entre os grupos. Os resultados indicaram um valor muito baixo de 0,1 para o teste das funções 1 até 2, o que evidencia uma forte discriminação entre os grupos. O teste de Qui-quadrado corroborou esses resultados, com valores elevados (942,1 para o teste das funções 1 até 2 e 328,3 para a Função 2 isoladamente) e p valores (Sig.) de 0,0, indicando diferenças significativas entre os grupos.
Os coeficientes das funções discriminantes canónicas padronizados indicam a contribuição relativa de cada variável preditora para as funções discriminantes. Estes coeficientes são essenciais para entender quais as variáveis que têm maior influência na distinção entre os grupos analisados. A matriz de estrutura apresenta as correlações entre as variáveis discriminantes e as funções discriminantes canónicas padronizadas, ajudando a identificar quais as variáveis que são mais importantes para a discriminação entre os grupos.
A análise foca-se nas correlações com os valores absolutos mais elevados nas funções 1 e 2, destacando as variáveis mais relevantes para a discriminação (Tabela 7).
Tabela 7 - Análise de matriz de estruturas
Função 1 (Necessidades socioeconómicas)
A oportunidade proporcionada pelo governo português: 0,3
Devido ao incentivo dado pelo governo português: 0,3
No meu país de origem, não tinha condições de vida: 0,245
Há intolerância em relação a questões culturais e sociais no meu país de origem: 0,2
A minha família tem raízes portuguesas: 0,3
Função 2 (Novas oportunidades)
Acesso a comodidades básicas, como água, eletricidade, aquecimento ou saneamento: 0,3
Acesso a oportunidades educativas/formativas: 0,1
Condições de vida no meu país de origem: 0,2
Clima ameno: 0,2
Custo de vida: 0,2
Neste contexto (Tabela 7), a Função 1 é dominada por fatores relacionados com os incentivos do governo português e as condições adversas nos países de origem, representando as necessidades socioeconómicas. Isto sugere que esta função discrimina principalmente com base nas razões motivacionais para imigrar e nos incentivos recebidos. Assim, os imigrantes que recebem mais incentivos do governo português ou enfrentam condições mais desafiadoras nos seus países de origem são diferenciados por esta função.
Por outro lado, a Função 2 enfatiza o acesso a serviços e as condições de vida no Algarve, representando novas oportunidades de qualidade de vida (Tabela 7). Esta função discrimina principalmente com base nos fatores de qualidade de vida e benefícios recebidos no país de destino. Portanto, a diferenciação é feita com base na medida em que os imigrantes conseguem ter acesso a serviços e desfrutar de melhores condições de vida no Algarve.
Funções em centroides de grupo
O quadro de funções (Apêndice C) nos centróides dos grupos apresenta os valores das funções discriminantes canónicas não padronizadas avaliadas nas médias dos grupos. Estes valores ajudam a compreender como estes se diferenciam.
O Cluster 1 apresenta um valor positivo elevado na Função 1 (necessidades socioeconómicas) (1,4) e um valor positivo moderado na Função 2 (Novas oportunidades) (0,6). Isto sugere que este segmento imigra devido à falta de condições de vida no país de origem e pelas oportunidades que Algarve oferece, especialmente pelas facilidades proporcionadas pelo governo.
O Cluster 2 tem um valor negativo muito elevado na Função 1 (-3,2) e um valor positivo elevado na Função 2 (1,3), indicando que este grupo imigra principalmente pela qualidade de vida que o Algarve oferece, sem dar importância às facilidades governamentais ou à falta de condições de vida no seu país de origem.
O Cluster 3 possui valores negativos em ambas as funções (-0,5 na Função 1 e -1,3 na
Função 2), sugerindo que a sua vontade de imigrar não está relacionada nem com a qualidade de vida no Algarve, nem com as condições de vida no país de origem. As motivações deste grupo são menos associadas às condições de vida no Algarve.
Esta análise revela que os três clusters têm motivações distintas para imigrar, com o Cluster 1 focado nas necessidades socioeconómicas e facilidades governamentais, o Cluster 2 na qualidade de vida no Algarve, e o Cluster 3 com motivações menos ligadas às condições de vida no Algarve ou no país de origem, preconizam aqueles que vêm à aventura sem grandes expetativas.
Resultados da classificação
Os resultados mostram que o modelo de classificação tem uma validade discriminante elevada indicando um bom desempenho na separação dos clusters. Neste sentido, o Cluster 1 foi corretamente classificado em 94,4% dos casos, o Cluster 2 em 93,0% e o Cluster 3 em 97,5%.
Com base nos resultados da análise de clusters (Apêndice D), foram então definidos três perfis distintos que pretendem refletir as motivações, expectativas, atitudes e condições de vida associadas à imigração. A formação destes perfis com base nos clusters, permite uma compreensão mais aprofundada das diversas razões que impulsionam os indivíduos a imigrar, bem como das suas expectativas em relação ao país de destino e das suas atitudes perante a mudança. Cada perfil oferece uma perspetiva única sobre as condições de vida e as oportunidades que influenciam a decisão de imigrar, ajudando a identificar padrões e tendências específicas entre a população imigrante em estudo.
Perfil 1
Imigrantes com afinidade cultural ao Algarve e com necessidades socioeconómicas
Caracterização da Amostra
A Tabela 8 (ver Ponto 9) apresenta uma caracterização detalhada da amostra, que ilustra as principais características dos imigrantes com afinidade cultural ao Algarve e com necessidades socioeconómicas.
Tabela 8 - Caracterização da amostra do Perfil 1
Idade: 32 anos
Nacionalidade: Brasileiro
Profissão: Profissional de Turismo
Residência Atual: Algarve, Portugal
Anos de trabalho no Algarve
1 a 5 anos
História e Motivações para Emigrar:
Theo vivenciou uma melhoria significativa nas suas condições de vida e financeiras desde a sua chegada ao Algarve. No Brasil, era proprietário da sua habitação, contudo, no Algarve reside atualmente numa casa alugada.
Entre os principais desafios que enfrenta estão a adaptação ao ritmo de trabalho no país e a gestão do custo de vida, aspetos que influenciam o seu processo de integração.
Motivações e Condições em Portugal:
Theo destaca a melhoria salarial como o principal benefício de ter emigrado para Portugal. Com um contrato de trabalho a termo certo, Theo agora recebe entre 500 a 999 euros mensais, quase o dobro do que auferia no Brasil. Além disso, ele valoriza a segurança laboral e as condições de trabalho no sector turístico português, particularmente pela reputação da região e pela qualidade dos resorts e hotéis do Algarve, que asseguram um padrão de profissionalismo que lhe é gratificante.
Apesar da melhoria salarial, Theo ressalta que os salários em Portugal ainda são baixos para fazer face ao custo de vida, especialmente no Algarve, onde o preço das rendas é elevado. Para Theo, as condições de habitação são um desafio, pois teve de optar por
Habilitações Literárias
Ens. Secundário/Pós-Secund.
Situação de Emprego e Rendimentos
País de origem Algarve
uma casa arrendada, o que representa uma despesa significativa no seu orçamento mensal. A crise habitacional no país também dificulta a possibilidade de adquirir uma casa própria, um objetivo que Theo considera a longo prazo.
Expectativas Futuras e Recomendações:
Theo encara o seu futuro com cautela. Embora esteja satisfeito com a experiência até agora e com a estabilidade proporcionada pelo contrato a termo, ele sente que o seu desenvolvimento salarial estagnou, e espera um aumento na remuneração nos próximos anos para que a sua qualidade de vida possa realmente melhorar. Esta preocupação com a estabilidade e a progressão salarial faz com que Theo não esteja totalmente seguro quanto à sua permanência em Portugal. Ele avalia em cerca de 46% a probabilidade de permanecer a longo prazo, considerando também a possibilidade de explorar oportunidades noutros países ou de regressar ao Brasil, caso as condições não se tornem mais favoráveis.
Theo recomenda a imigração para Portugal a outros profissionais do sector, especialmente pela oportunidade de adquirir experiência internacional e pela afinidade cultural com o país. No entanto, ele alerta que a satisfação é moderada e que as dificuldades de integração e os desafios financeiros podem ser maiores do que o esperado.
Este perfil caracteriza-se por uma esmagadora maioria de profissionais com uma faixa etária entre os 20 e os 39 anos (75,5%), o que sugere que muitos estão em idade ativa e possivelmente à procura de melhores oportunidades de trabalho e condições de vida.
No grupo em estudo, a maioria é do sexo masculino (57,1%), solteiros (58,4%), ou casados (38,1%). Sugerindo que muitos destes imigrantes são jovens adultos sem compromissos conjugais formais, o que pode facilitar a decisão de imigrar. As suas habilitações literárias (37,7% possuem o ensino secundário, 7,9% o ensino pós secundário e 32,1% o ensino superior) potencia ainda mais a sua mobilidade na procura por melhores oportunidades de emprego.
De origem bastante diversa. A maioria provém do Brasil (33%), da Índia (10,2%) e do Nepal (9,7%). Cabo Verde também é uma origem importante, representando 7,8% dos imigrantes, enquanto a Ucrânia contribui com 6,3%. Outros países de origem relevantes incluem o Paquistão (5,3%), Bangladesh (3,9%) e a Roménia (3,4%). A Guiné-Bissau (3,4%), Marrocos (2,9%) e a Moldávia (2,9%) também são mencionados. Ainda que em menor número, estão presentes imigrantes de Angola, Argentina, Espanha, França, Colômbia, Alemanha, entre outros países, cada um representando entre 0,5% e 1% dos inquiridos. Esta diversidade de nacionalidades que imigram por necessidade económica sugere a fragilidade social que o mundo enfrenta.
Tabela # - Caracteristicas do Perfil 1
Condições de vida no País de Origem
Relativamente às condições de vida dos imigrantes do Perfil 1 no país de origem (Tabela 9), observa-se que, em termos laborais, a grande maioria dos inquiridos (81,9%) estava empregada por conta de outrem, enquanto uma menor proporção, 7,8%, eram estudantes e 6% encontravam-se desempregados.
No que toca aos anos de experiência profissional no país de origem, há uma distribuição relativamente equilibrada entre os diferentes intervalos de tempo. Contudo, destaca-se que 27,3% dos inquiridos tinham entre 3 a 5 anos de experiência profissional, seguidos por 20,5% com 1 a 2 anos, e 20% com mais de 10 anos ou entre 6 a 10 anos de experiência. o que sugere que muitos deles começaram a trabalhar muito antes do que seria devido.
Em relação ao tipo de contrato de trabalho, a maioria (40,9%) tinha um contrato a termo certo, enquanto 28,4% trabalhavam com contratos ocasionais. Apenas 17,7% dispunham de contratos permanentes ou por tempo indeterminado, e 12,9% não possuíam qualquer tipo de contrato formal.
No que respeita à remuneração, a maior parte dos inquiridos (56,5%) ganhava até 499 euros mensais no seu país de origem. Uma proporção significativa (34,4%) auferia entre 500 e 999 euros, com apenas 6,5% a ganhar entre 1000 e 1499 euros. Remunerações mais elevadas eram raras, com apenas 1,1% a receber mais de 2500 euros. Corolário da vontade de imigrar.
Vontade que não se tornou menos óbvia, por residirem em casa própria (44,4%) ou em casa de familiares e amigos (23,3%). A familia com quem residem (31%) ou os amigos e colegas (37,5%) com quem partilham a residência também não constituíram razão suficientemente forte para travar a procura de novas oportunidades fora do país de origem.
Condições de vida no Algarve
Relativamente às condições de vida dos imigrantes do Perfil 1 no Algarve (Tabela 9), em termos laborais, a maioria encontra-se empregada por conta de outrem (79,7% do total). Outros 14,7% são estudantes, enquanto 0,9% trabalham por conta própria e 4,7% estão desempregados.
Estes imigrantes com uma história de emprego ainda recente na nossa região (51,7% tem menos de 2 anos de experiência profissional), possuem contratos a termo (67,6%) e auferem uma remuneração que representa quase o dobro do que tinham no seu país (80,5% dos imigrantes ganham entre 500 e 999 euros por mês).
Outros com uma história profissional na região (20,3% trabalham entre 3 a 5 anos, 6,9% entre 6 a 10 anos e 11,6% há mais de 10 anos) dispõe de contratos mais estáveis (20,5% têm contratos permanentes ou por tempo indeterminado, 11% têm contratos ocasionais e apenas 0,9% trabalham sem contrato). Estabilidade essa que ainda não encontrou paridade nos niveis remuneratórios para a maioria dos imigrantes ainda que alguns já usufruam desse privilégio (11% recebem entre 1000 e 1499 euros, 4,5% ganham até 499 euros, e tanto a faixa entre 1500 e 1999 euros como entre 2000 e 2499 euros representam 0,9% cada).
A crise habitacional que o país atravessa pode justificar a diversidade de locais de residência que se encontram. A maioria (50,4%) reside em casas arrendadas, enquanto 15,9% vivem em casa de familiares ou amigos. Cerca de 14,2% residem no local de trabalho, 6,9% possuem casa própria e 0,4% vivem em condições mais precárias, como parques de campismo, habitações improvisadas ou estão em situação de sem-abrigo.
No que respeita à composição do agregado residencial, 37,5% dos imigrantes vivem com amigos ou colegas de trabalho, enquanto 31% residem com a família nuclear. Outros 8,6% vivem com a família alargada e 8,2% vivem sozinhos. Sugerindo que a integração social destes profissionais está circunscrita aos outros imigrantes e aos seus familiares.
Tabela 9 - Análise comparativa das condições de Vida no País do Origem e no Algarve
Situação Laboral
Estudante
Empregado por outrem Trabalhador por conta própria
Desempregado
Nº de Anos de Trabalho
Menos de 1 ano 1-2 anos
3-5 anos
6-10 anos
Mais de 10 anos
Tipo de Contrato
Contrato a termo certo
Sem contrato
Contrato ocasional
Contrato permanente/ por tempo inderterminado
Remuneração
Até 499 €
De 500 a 999 €
De 1000 a 1499 €
De 1500 a 1999 €
De 2000 a 2499 €
Mais de 2500 €
Local de Residência
Parque campismo/caravana
Habitação improvisada (ex: tenda, ruína, abrigos...) Casa própria
Aluguer privado
Casa de familiares / amigos
No meu local de trabalho (se empregado)
Sem abrigo/sem casa
Com quem reside
Sozinho
Família alargada
Amigos/colegas de trabalho
Família núclear
Algarve
Análise comparativa
De acordo com a Tabela 9, as condições de trabalho dos imigrantes melhoraram com a chegada a Portugal. O desemprego diminuiu de 6% para 4,7%. A estabilidade no emprego melhorou, enquanto no país de origem muitos tinham contratos ocasionais (28,4%), em Portugal a maioria (67,6%) possui agora um contrato a termo.
A melhoria mais notável está no nível de remuneração: no país de origem, a maioria ganhava até 499 euros (56,5%), enquanto em Portugal essa percentagem duplicou, com 80,5% a auferirem entre 500 e 999 euros.
Esta melhoria é no entanto parcial, já que 62,5% dos imigrantes que estão na região a trabalhar há mais de 3 anos continua a receber dentro do primeiro intervalo o que sugere estagnação.
Relativamente ao local de residência, verifica-se que 44,4% dos imigrantes do Perfil 1 viviam em casa própria no país de origem, enquanto na região apenas 6,9% possuem casa própria, com a maioria a viver em casas arrendadas (50,4%), situação que também sugere a necessidade de redefinir políticas de integração.
Tabela 10 - Formas de imigração
Com quem chegou ao Algarve
Total Sozinho(a)
Com família Outros
Como encontrou emprego no Algarve
Total Amigos/família
Agência de recrutamento de Portugal Outros
Na Tabela 10 (ver Ponto 9) podemos observar que a maioria dos imigrantes do Perfil 1 chegou a Portugal sozinho, representando 56,7% do total. Uma parte significativa, 29%, veio acompanhada pela família, enquanto 12,1% chegaram com amigos.
Relativamente à obtenção de emprego, a rede de amigos e familiares (51,7%) e as agências de recrutamento (15,1%) desempenharam um papel fundamental para que estes imigrantes conseguissem encontrar emprego. Outras formas incluem o apoio de amigos com contatos (12,5%), Organizações nacionais e/ou internacionais, como o SEF e o IEFP (3%), redes sociais (10,8%) e agências de recrutamento no país de origem (0,9%).
Este perfil compreende imigrantes com uma história com a região ainda recente (37,5% estão na região há menos de 2 anos). Outros mais envolvidos estão na região há mais de 2 anos (62,5%). O que sugere alguma estabilidade profissional e apela à integração destes quadros.
Perceções e motivações
Há quanto tempo está no Algarve
Total
Menos de 1 ano 1-2 anos 3-5 anos Outros
A Tabela 11 (ver Ponto 9), apresenta as médias, medianas, variâncias e intervalos interquartis (IQR, como proxy da dispersão de dados) em relação a várias dimensões, tais como as razões para considerar o Algarve um bom destino para trabalhar no setor do turismo, as expectativas ao imigrar, as motivações para tomar a decisão de emigrar e as condições de vida no país de origem.
Assim, podemos aferir que os resultados refletem as perceções e motivações dos imigrantes do Perfil 1, ou seja, aqueles que têm uma afinidade cultural com Portugal e necessidades socioeconómicas.
Tabela 11 - Perfil, Mediana, Variância e IQR do Perfil 1
Categoria
Razões para considerar o Algarve um bom destino para trabalhar em turismo
Expectativas ao imigrar para o Algarve
Aspeto*
Boa reputação em turismo
Qualidade de vida
Clima ameno
Aumentar o rendimento
Melhores oportunidades de emprego
Experiência internacional no setor
Razões para tomar a decisão de imigrar
Instabilidade política no país de origem
Intolerância social e cultural no país de origem Trabalhar em destinos turísticos de renome
Condições de vida no país de origem
Acesso a serviços básicos
Acesso a serviços de saúde
Acesso a educação
* Outros aspetos, menos significativos, apresentados em anexo
Estes imigrantes rumam ao Algarve pela qualidade de vida que o sul do país oferece (Média=3,96) e pelo clima (Média=3,83). A afinidade cultural na maioria das vezes refletida na proximidade linguística (Média=3,62) asseguram um padrão de vida similar ao que tinham em melhores condições.
Ao nível profissional a reputação da região (Média=3,98) e a qualidade dos nossos resorts e hotéis (Média=3,76) asseguram a prosperidade que almejam (ver Ponto 9).
No que toca às expectativas ao imigrar para Portugal, a principal motivação é obter um rendimento mais elevado (Média=4,13) e ter acesso a melhores oportunidades de emprego (Média=4,15). A possibilidade de adquirir experiência internacional no setor (Média=4,27) e de melhorar as competências linguísticas (Média=4,01) também são aspetos valorizados. Estes dados mostram que os imigrantes deste perfil têm grandes expectativas de crescimento profissional e pessoal em Portugal.
Uma imigração que procura fugir da instabilidade política no país de origem (Média=3,08) e da intolerância social e cultural do seu país (Média=2,79), encontra na região a estabilidade e a tolerância social que lhes faltava.
Ainda na base da sua decisão de imigrar está a procura por melhores condições de vida, o acesso a serviços básicos, como água, eletricidade, aquecimento ou saneamento (Média=4,01) e o acesso a serviços de educação (3,68) e de saúde (3,63), a dificuldade de gerir o orçamento familiar (3,26), e o sentimento de segurança (Média=3,56) reforçam a necessidade de procurar melhores oportunidades em Portugal.
Perfil 2
Imigrantes que procuram melhor qualidade de vida e novas oportunidades
Caracterização da Amostra do Perfi 2
A Tabela 12 (ver Ponto 9) oferece uma caracterização detalhada da amostra, destacando as principais características dos imigrantes que procuram melhorar a qualidade de vida e encontrar novas oportunidades no Algarve.
Tabela 12 - Caracterização da amostra do Perfil 2
Anos de trabalho no Algarve
Idade: 27 anos
Nacionalidade: Indiano
Profissão: Rececionista de hotel
Residência Atual: Algarve, Portugal
Habilitações Literárias
Ensino Secundário
Situação de Emprego e Rendimentos
500€ a 999€
500€ a 999€
País de origem Algarve 1 a 2 anos
História e Motivações para Emigrar:
Ravi Nair emigrou de Nova Deli, Índia, para o Algarve em busca de melhores condições de vida e estabilidade no setor do turismo. Na Índia, trabalhava como assistente num hotel, mas enfrentava dificuldades devido a um contrato temporário e um salário entre 500 e 999 euros, que não lhe permitiam estabilidade financeira. O Algarve com a sua reputação no turismo e um mercado de trabalho mais favorável, apresentou-se como uma oportunidade ideal para a sua progressão profissional e melhoria de condições de vida.
Motivações e Condições em Portugal:
Atualmente, Ravi trabalha como rececionista num resort turístico no Algarve, com um contrato a termo certo que lhe proporciona maior segurança em comparação com o emprego na Índia. A residir numa casa partilhada com colegas de trabalho, Ravi consegue gerir melhor as despesas, mas ainda enfrenta desafios financeiros devido ao custo de vida local. Apesar de receber entre 500 e 999 euros, ele valoriza a experiência e o ambiente de trabalho, vendo este emprego como uma plataforma inicial de crescimento.
Expectativas Futuras e Recomendações:
Ravi espera melhorar as suas competências profissionais e alcançar uma estabilidade financeira que lhe permita construir uma vida sólida na região. Ele ambiciona permanecer na região a longo prazo, considerando a qualidade de vida e segurança do Algarve como fatores positivos. Além disso, Ravi sente-se satisfeito com a sua decisão de emigrar e recomendaria a região a outros imigrantes que buscam oportunidades no setor do turismo, considerando a estabilidade e o prestígio que a região oferece no setor.
A maioria dos imigrantes do Perfil 2 encontra-se numa fase ativa da sua vida profissional (77,2% tem entre 20-39 anos). Homens (66,5%) solteiros (67,8%) revelam uma maior flexibilidade de imigrar. Outros (31,1%) são casados ou em união de facto, situação que também não os demove de procurar novas oportunidades.
Oportunidades que as suas qualificações reforçam, 32,8% possuem o ensino secundário, enquanto 22,8% têm ensino superior.
Oriundos de diferentes países o Brasil é o país mais representativo, com 30,9% dos inquiridos. A Índia segue com 22,5%, demonstrando também uma presença significativa. Cabo Verde aparece como o terceiro maior grupo, representando 7,3% dos imigrantes, seguido pela Ucrânia e pelo Paquistão, cada um com 8,4%. Angola contribui com 3,1%, enquanto países como Nepal, Bangladesh, Marrocos, Guiné-Bissau, Roménia e Moçambique também são mencionados, com percentagens que variam entre 1,6% e 4,7%. Menos representados, mas ainda notáveis, estão imigrantes da Argentina, Bulgária, São Tomé e Príncipe, Sérvia, Peru e Moldávia, cada um representando entre 0,5% e 2,6%.
Situação que reflete a fragilidade social que o mundo vive.
Tabela # - Caracteristicas do Perfil 2
20-39 anos
Condições de vida no País de Origem
Estes imigrantes ainda que empregados por conta de outrem (90,6%) no seu país de origem (Tabela 13), não beneficiavam de estabilidade no emprego. Apenas 12,2% possuíam contratos permanentes. Os outros possuíam contratos ocasionais (31,9%) ou a termo certo (48,8%). Muito desta estabilidade pode estar relacionada com a ainda parca experiência profissional ( 48,7% tinha menos de dois anos de experiência profissional).
Em termos de remuneração, 41% recebiam até 499 euros, 49,4% ganhavam entre 500 a 999 euros e apenas 9,6% tinham rendimentos mensais entre 1000 e 1499 euros. Situação que reflete bem a relativa precaridade das condições de trabalho no seu país de origem.
Quanto ao local de residência, a maioria (42,3%) dos imigrantes vivia em habitações improvisadas, como tendas ou casas abandonadas. 30% detinham casas alugadas, enquanto 16% possuíam habitação própria. Uma parcela (6,6%) residia em casas de familiares ou amigos e 0,9% viviam em parques de campismo ou caravanas. Estes números destacam a precariedade social destes imigrantes do Perfil 2.
Condições de vida no Algarve
As condições de vida dos imigrantes do Perfil 2 (Tabela 13) no Algarve apresentam um panorama diversificado, destacando-se algumas tendências significativas. A grande maioria dos imigrantes, 79,3%, está empregada por conta de outrem, enquanto 16,9% são estudantes. Apenas 2,8% estão desempregados e 0,9% são trabalhadores independentes.
A experiência de trabalho na região ainda é recente 68,1% trabalha há menos de 2 anos. Um grupo menor, 13,6%, está empregado há 3 a 5 anos, e apenas 7% trabalham no país há mais de 10 anos. Sugerindo uma relação com a região ainda ténue.
Fruto da sua recência na região, a maioria possui um contrato a termo certo (73,2%), enquanto 12,7% têm um contrato permanente ou por tempo indeterminado. Um número menor, 10,2%, tem contratos ocasionais e 3,9% não possuem contrato.
A grande maioria aufere uma remuneração que se situa entre os 500 e os 999 euros (72,9%). Alguns recebem entre 1000 e 1499 euros (11,6%) ou entre 2000 a 2499 euros (7,7%) sugerindo oportunidades de carreira generosas.
Em termos de local de residência, 32,4% dos imigrantes vivem em aluguer privado, enquanto 26,3% residem em casa de familiares ou amigos. Outros vivem no local de trabalho (23,5%) e 9,4% possuem casa própria. Apenas uma pequena percentagem vive em situações mais precárias, como 0,9% em parque de campismo ou caravana e 0,5% em habitação improvisada.
Quanto à composição do lar, 41,3% dos imigrantes vivem com amigos ou colegas de trabalho, enquanto 28,6% residem com a família nuclear. Outros, 11,3% vivem sozinhos e 9,4% com a família alargada.
Tabela 13 - Análise comparativa das condições de Vida no País do Origem e no Algarve
País de Origem
Situação Laboral
Estudante
Empregado por outrem Trabalhador por conta própria
Desempregado
Nº de Anos de Trabalho
Menos de 1 ano 1-2 anos
3-5 anos
6-10 anos
Mais de 10 anos
Tipo de Contrato
Contrato a termo certo
Sem contrato
Contrato ocasional
Contrato permanente/ por tempo inderterminado
Remuneração
Até 499 €
De 500 a 999 €
De 1000 a 1499 €
De 1500 a 1999 €
De 2000 a 2499 €
Local de Residência
Parque campismo/caravana
Habitação improvisada (ex: tenda, ruína, abrigos...)
Casa própria
Aluguer privado
Casa de familiares / amigos
No meu local de trabalho (se empregado)
Sem abrigo/sem casa
Com quem reside
Sozinho
Família alargada
Amigos/colegas de trabalho
Família núclear
Análise comparativa
A Tabela 13 mostra que as condições de trabalho dos imigrantes do Perfil 2 melhoraram face à situação laboral no país de origem. Apesar do intervalo salarial ser o mesmo (500 a 999 euros) o número de pessoas a auferir salários desta amplitude aumentou de 49,4% para 72,9% com a chegada à região. O número de desempregados também diminuiu, de 3,8% para 2,8% com a chegada à região.
Além disso, houve melhorias na estabilidade do emprego, observando-se uma maior permanência na existência de um contrato a
termo certo, com um aumento da percentagem de 48,8% para 73,2% na região. No entanto as melhorias mais significativas ocorreram nas condições de habitabilidade. No país de origem, 42,3% dos imigrantes viviam em habitações improvisadas, como tendas ou casas abandonadas, enquanto em Portugal passaram a viver em casas alugadas (32,4%). Situação que justifica a melhoria das condições de vida.
Tabela 14 - Formas de imigração
Com quem chegou ao Algarve % %
Sozinho(a)
Com família Outros
Como encontrou emprego no Algarve
Amigos/família
As formas de imigração do Perfil 2 para Portugal (Tabela 14, ver Ponto 9) revelam diversas tendências. A maioria dos imigrantes, 51,2%, chegou a Portugal sozinha, enquanto 31,9% veio acompanhada pela família, destacando a importância da autonomia e do apoio familiar neste processo. Apenas 1,4% dos imigrantes chegaram com a ajuda de recrutadores ou colegas do seu país de origem, e 11,3% vieram com amigos.
Encontraram emprego em Portugal, por influência dos amigos ou familiares (39%) ou a partir das redes sociais (25,8%). Outras formas foram agências de recrutamento em Portugal (12,2%), agências de recrutamento no seu país de origem (1,9%), Organizações nacionais e internacionais, como o SEF e o IEFP (2,3%) e contatos específicos (10,8%).
Quanto ao tempo de permanência em Portugal, 21,6% estão em Portugal há menos de 1 ano, 36,2% dos imigrantes estão no país há 1 a 2 anos. Outros 13,6% permanecem há 3 a 5 anos, ou há mais de 6 anos (13,6%).
Perceções e motivações
Há quanto tempo está no Algarve % Total
Menos de 1 ano 1-2 anos Outros
A Tabela 15 (ver Ponto 9) apresenta as médias, medianas, variâncias e intervalos interquartis (IQRproxy da dispersão de dados) relativos a várias dimensões, tais como as razões para considerar Portugal um bom destino para trabalhar em turismo, as expectativas ao imigrar para Portugal, as razões para tomar a decisão de imigrar e as condições de vida no país de origem para os imigrantes do Perfil 2, que procuram uma melhor qualidade de vida e novas oportunidades.
Tabela 15 - Perfil, Mediana, Variância e IQR do Perfil 2
Categoria
Razões para considerar o Algarve um bom destino para trabalhar em turismo
Expectativas ao imigrar para o Algarve
Boa reputação em turismo
Qualidade dos resorts e hotéis
Qualidade de vida
Aumentar o rendimento
Melhores oportunidades de emprego
Desenvolver redes sociais internacionais
Razões para tomar a decisão de imigrar
Instabilidade política no país de origem
Identificação cultural com o país
Intolerância social e cultural no país de origem
Condições de vida no país de origem
Acesso a oportunidades educativas
Sentimento de segurança
Acesso a serviços de saúde
* Outros aspetos, menos significativos, apresentados em anexo
As principais razões que levam os imigrantes do Perfil 2 a considerar o Algarve como um bom destino para trabalhar no setor do turismo estão relacionadas com a boa reputação do país no setor turístico (Média=4,66) e a qualidade dos resorts e hotéis (Média=4,52). A qualidade de vida (4,48) e os salários mais altos (4,45) também se destacam como fatores importantes na decisão. Além disso, o clima ameno (4,33) e a facilidade de comunicação com os locais (4,43) são aspectos valorizados, refletindo a afinidade cultural dos imigrantes com o Algarve. Estes fatores são fundamentais para aqueles que procuram um ambiente de trabalho acolhedor e próspero. O crescimento do turismo (4,31) e as oportunidades de networking (4,23) também desempenham um papel significativo na decisão de imigrar, corroborando a vontade de ampliar oportunidades.
Em relação às expectativas dos imigrantes ao virem para o Algarve, a principal motivação é a obtenção de um rendimento mais elevado (4,54) e a procura por melhores oportunidades de emprego (4,19). A possibilidade de desenvolver redes sociais internacionais (4,45) e melhorar as competências linguísticas (4,12) são também muito valorizadas. Esses dados demonstram que os imigrantes com este perfil têm grandes expectativas de crescimento profissional e pessoal no Algarve. A experiência internacional no setor (3,50) é também considerada uma vantagem significativa (ver Ponto 9)
Na base da decisão de emigrar estão mais uma vez as condições de vida inadequadas no país de origem (4,56), a instabilidade política (4,70) e a intolerância social e cultural no país de origem (4,69). A par com a identificação cultural com Portugal (4,69) consolidam a vontade de imigrar, na guiza de maior qualidade de vida e novas oportunidades, como a possibilidade de estudar noutro país (4,30) ou trabalhar em destinos turísticos de renome (3,68).
Por fim, as condições de vida no país de origem têm um impacto decisivo na decisão de imigrar. O acesso a serviços básicos, como água, eletricidade, aquecimento e saneamento (3,96), o acesso a serviços de saúde (3,61) e o acesso a oportunidades educativas (4,18) são necessidades que estes indivíduos esperam resolver com a saída do país.
A segurança (4,04) e os desafios da gestão do orçamento familiar (3,51) e revelam desafios significativos reforçam a necessidade de procurar melhores oportunidades na região.
Perfil 3
Imigrantes que procuram melhor qualidade de vida e novas oportunidades
Caracterização da Amostra do Perfil 3
A Tabela 16 (ver Ponto 9) oferece uma caracterização detalhada da amostra, destacando as principais características dos imigrantes “nómadas” que procuram aprimorar e desenvolver competências e redes de networking.
Tabela 16 - Caracterização da amostra do Perfil 3
Idade: 25 anos
Nacionalidade: Alemã
Profissão: Turismóloga
Residência Atual: Algarve, Portugal
Anos de trabalho no Algarve
< 1 ano
História e Motivações para Emigrar:
Sophie nasceu e cresceu na Alemanha e sempre teve um grande interesse pelo setor do turismo. Completou a sua formação universitária em Turismo e decidiu emigrar para o Algarve, atraída pela reputação do país neste setor, pela qualidade de vida e pelo clima ameno. A decisão de emigrar foi também motivada pela busca de novas oportunidades profissionais e pelo desejo de melhorar as suas competências linguísticas e culturais. Chegou ao Algarve sozinha há pouco mais de um ano, procurando ampliar a sua rede de contactos e desenvolver-se na sua carreira.
Motivações e Condições em Portugal:
Sophie trabalha num resort da região do Algarve, num contrato a termo certo, com um rendimento mensal entre 500 e 999 euros. Vive numa casa alugada, o que não representa um grande problema para ela, pois sente-se bem integrada no novo ambiente. As suas principais motivações para ter escolhido o Algarve incluem a boa reputação do país no setor de turismo, as oportunidades de networking, e a possibilidade de melhorar a sua fluência em português. Sophie também aprecia a qualidade de vida e o ambiente acolhedor que a região oferece, o que a ajuda a sentir-se confortável no seu novo lar. No entanto, ela sente que os salários ainda são uma preocupação, especialmente considerando o custo de vida em certas zonas.
Habilitações Literárias
Ensino Superior
Situação de Emprego e Rendimentos
500€ a 999€
500€ a 999€
País de origem Algarve
Expectativas Futuras e Recomendações:
Sophie tem grandes expectativas de crescimento profissional, mas as suas ambições estão mais focadas no desenvolvimento pessoal e na adaptação ao novo contexto cultural e linguístico. Ela espera continuar a melhorar as suas competências no setor do turismo e acredita que a experiência no Algarve a ajudará a abrir portas para novas oportunidades internacionais. Sophie vê a possibilidade de regressar à Alemanha como uma opção, caso surja uma oportunidade de trabalho mais alinhada com os seus objetivos de longo prazo. No entanto, também está aberta à ideia de explorar outras opções em diferentes países. A sua experiência na região tem sido positiva, e ela recomenda o país para outros profissionais do setor turístico, embora enfatize que a experiência depende muito das condições de trabalho e das oportunidades disponíveis.
A amostra do Perfil 3, composta por imigrantes "Nómadas" focados em networking e desenvolvimento profissional, são muito jovens (65% tem entre 19 e 29 anos), maioritariamente mulheres (53,8%), solteiras (60%). Características que facilitam a mobilidade. A sua formação superior (54,1%) ou pós-secundário (13,5%) é também um facilitador.
A facilitar o seu estatuto de nómada está também a prevalência da Europa nestes fluxos (60%). Entre os países europeus de origem destacam-se a Alemanha (35%), Moldávia (7,5%), Itália (5%), Roménia (5%), Espanha (2,5%) e Ucrânia (2,5%). Os imigrantes da América representam 27,5% e são inteiramente provenientes do Brasil. A Ásia, com uma presença menor (10%), inclui imigrantes da Índia (5%), Nepal (2,5%) e Rússia (2,5%).
Tabela # - Caracteristicas do Perfil 2
19-29 anos Mulheres
Solteiras
Ensino Pós Secundário
Ensino Superior
Alemanha
Moldávia
Condições de vida no País de Origem
As condições de vida dos imigrantes do Perfil 3 (Tabela 18) não sendo precárias são bastante heterógeneas. A grande maioria (90%) era empregada por conta de outrem, enquanto uma pequena percentagem trabalhava por conta própria (5%) ou ainda se encontrava em fase de estudos (5%).
A experiência laboral distribui-se entre os que têm muito pouca e os que tem mais de 6 anos de experiência: 41,7% tem uma experiência inferior a dois anos, e 41,6% tem uma experiência de mais de 6 anos. A falta de experiência reflete-se no tipo de contrato, 50% detinham contratos a termo certo, mas o inverso não se verifica- mais experiência não significa estabilidade, já que apenas 22,5% possuía contratos permanentes ou por tempo indeterminado. Ainda quase um terço dos inquiridos trabalhava sem qualquer estabilidade, sem qualquer contrato (10%) ou com contrato ocasional (17,5%).
Em termos salariais, a maioria (40%) auferia entre 500 e 999 euros mensais. Outros 17,1% recebiam até 499 euros, e 20% tinham rendimentos entre 1000 e 1499 euros. Os salários mais elevados eram menos comuns: 8,6% ganhavam entre 1500 e 1999 euros, 8,6% entre 2000 e 2499 euros, e apenas 5,7% recebiam mais de 2500 euros.
Quanto ao local de residência no país de origem, a maioria dos imigrantes (62,5%) possuía casa própria, refletindo uma situação habitacional relativamente estável. Outros 10% viviam em habitação alugada, e 17,5% residiam em casas de familiares ou amigos. Apenas 2,5% viviam em situações de maior precariedade.
As condições de vida dos imigrantes do Perfil 3 (Tabela 18) na região revelam uma realidade mista, onde se encontram tanto momentos de estabilidade como desafios, refletindo a diversidade das suas experiências na região.
Em termos de emprego, a grande maioria, 92,5%, está empregada por conta de outrem, o que demonstra uma forte inserção no mercado de trabalho. Apenas 5% trabalham através de agências de emprego temporário, enquanto 2,5% encontram-se desempregados.
Quanto ao tempo de trabalho na região, a maioria dos imigrantes deste perfil está na região há menos de um ano (52,5%). Outros 20% têm entre 1 e 2 anos de experiência laboral no país, e uma minoria de 12,5% encontra-se no mercado de trabalho português há 3 a 5 anos. Apenas 2,5% estão empregados entre 6 e 10 anos, e 7,5% já trabalham há mais de 10 anos, indicando que, para a maioria deste grupo, a permanência na região ainda é relativamente recente.
Relativamente ao tipo de contrato, uma grande parte dos imigrantes (79,5%) possui contratos a termo certo. Contratos ocasionais e sem contrato são raros, representando ambos 2,6% respectivamente. Já os contratos permanentes ou por tempo indeterminado abrangem 15,4% dos imigrantes, proporcionando maior estabilidade profissional para esta parcela.
Em relação à remuneração, a maioria dos imigrantes (59%) recebe entre 500 e 999 euros mensais. Apenas 5,1% auferem entre 1500 e 1999 euros, e outros 5,1% ganham mais de 2500 euros. Aproximadamente 10,3% têm rendimentos de até 499 euros, enquanto 15,4% recebem entre 1000 e 1499 euros, mostrando uma grande dispersão salarial dentro do grupo.
No que diz respeito à habitação, 25% dos imigrantes vivem em casas alugadas, enquanto 22,5% residem no local de trabalho, uma situação comum neste grupo. Apenas 7,5% têm casa própria, e 12,5% vivem em casas de familiares ou amigos. Estas condições refletem as diferentes realidades habitacionais que os imigrantes enfrentam em Portugal.
Em relação à convivência, 22,5% dos imigrantes vivem com a sua família nuclear, e 17,5% residem sozinhos. Outros 15% vivem com amigos ou colegas de trabalho, e 10% com a família alargada, evidenciando a diversidade das estruturas familiares e de convivência.
Tabela 18 - Análise comparativa das condições de Vida no País do Origem e no Algarve
Situação Laboral
Estudante
Empregado por outrem Trabalhador por conta própria Outsourcing Desempregado
Nº de Anos de Trabalho
Menos de 1 ano 1-2 anos 3-5 anos 6-10 anos
Mais de 10 anos
Tipo de Contrato
Contrato a termo certo
Sem contrato Contrato ocasional Contrato permanente/ por tempo inderterminado
Remuneração
Até 499 €
De 500 a 999 €
De 1000 a 1499 €
De 1500 a 1999 €
De 2000 a 2499 € Mais de 2500€
Local de Residência
Casa própria Aluguer privado
Casa de familiares / amigos
No meu local de trabalho (se empregado)
Com quem reside
Sozinho
Família alargada Amigos/colegas de trabalho
Família núclear
Análise comparativa
De acordo com a Tabela 18, as condições de trabalho dos imigrantes do Perfil 3 são diversas, com a grande maioria a manter-se empregada por conta de outrem. No país de origem, 90% dos imigrantes estavam empregados por conta de outrem, e na região, esse número sobe para 92,5%, indicando uma continuidade das condições de trabalho.
A estabilidade no emprego também se mantém ao chegar à região, com a maior parte a trabalhar com contratos a termo certo (79,5%). No entanto, relativamente à duração dos contratos, observa-se uma diminuição na estabilidade, pois a faixa de 1 a 2 anos era a mais comum no país de
origem (25%), enquanto, na região, a faixa mais representativa é a de contratos com menos de um ano (52,5%), o que sugere que a maioria deste grupo tem uma presença relativamente recente na região.
O salário cresce em número de imigrantes que passa auferir no intervalo dos 500 aos 999 euros (passando de 40% para 59%), refletindo uma tendência para salários mais baixos.
Relativamente ao local de residência, no país de origem, 62,5% dos imigrantes do Perfil 3 viviam em casa própria, enquanto em Portugal, apenas 7,5% têm casa própria. A maioria vive em casas alugadas, com 25% a residir em alojamentos privados.
Tabela 19 - Formas de imigração
Com quem chegou ao Algarve
Total Sozinho(a)
Com família Outros
Como encontrou emprego no Algarve
De acordo com a Tabela 19 (ver Ponto 9), a maioria dos imigrantes deste perfil chegou à região sozinha (57,5%), ou com a família (32,5%).
A maioria dos imigrantes do Perfil 3 está no país há relativamente pouco tempo. Cerca de 38,5% estão em Portugal há menos de um ano e 35,9% entre 1-2 anos. Apenas 12,8% estão no país há 3-5 anos, e a mesma percentagem de imigrantes encontra-se em Portugal há mais de 10 anos.
A forma como encontraram emprego em Portugal também é variada. A rede de contactos pessoais desempenha um papel crucial, com 31,6% dos imigrantes a encontrarem trabalho através de amigos ou familiares. As redes sociais constituem uma ferramenta importante para 26,3% dos imigrantes, destacando a crescente relevância das plataformas digitais na procura de emprego. As agências de recrutamento em Portugal foram responsáveis por 18,4% das colocações, e outros 18,4% encontraram emprego através de amigos com contactos específicos. Organizações nacionais e/ou internacionais, como o SEF e o IEFP, também desempenharam um papel na procura de emprego para esta parte dos imigrantes (ver Ponto 9).
Há quanto tempo está no Algarve
Total Menos de 1 ano 1-2 anos Outros
Perceções e motivações
A Tabela 20 (ver Ponto 9) apresenta as médias, medianas, variâncias e intervalos interquartis (IQRproxy da dispersão de dados) relativos a várias dimensões, fornecendo uma análise detalhada das motivações e condições de vida dos imigrantes do Perfil 3, conhecidos como "Nómadas Orientados para o Networking e Desenvolvimento Profissional".
Tabela 20 - Perfil; Mediana, Variância e IQR do Perfil 3
Categoria
Razões para considerar o Algarve um bom destino para trabalhar em turismo
Expectativas ao imigrar para o Algarve
Aspeto*
Boa reputação em turismo
Clima ameno
Qualidade de vida
Aumentar o rendimento
Melhores oportunidades de emprego
Melhorar competências linguísticas
Razões para tomar a decisão de imigrar
Instabilidade política no país de origem
Identificação cultural com o país
Intolerância social e cultural no país de origem
Condições de vida no país de origem
Acesso a serviços de saúde
Acesso a oportunidades educativas
Condições de vida
* Outros aspetos, menos significativos, apresentados em anexo
As principais razões que levam os imigrantes do Perfil 3, os "Nómadas Orientados para o Networking e Desenvolvimento Profissional", a considerar a região como um bom destino para trabalhar no setor do turismo incluem a boa reputação do país neste setor (3,53) e a qualidade dos resorts e hotéis (3,40). Além disso, a qualidade de vida (4,00) e o clima ameno (3,95) também justificam a decisão. As oportunidades de networking (3,48) e a facilidade de comunicação com os locais (3,23) também são aspectos relevantes, reflectindo a afinidade cultural dos imigrantes com Portugal. Estes factores são fundamentais para aqueles que procuram um ambiente de trabalho acolhedor e próspero. O crescimento do turismo (3,25) e o ambiente de trabalho (3,05) também desempenham um papel significativo na decisão.
Quanto às expectativas ao imigrar para Portugal, a principal motivação é a obtenção de um rendimento mais elevado (3,25). Além
disso, a possibilidade de melhorar as competências linguísticas (2,30) e de desenvolver redes sociais internacionais (1,38) são aspectos valorizados. Estes dados demonstram que os imigrantes com este perfil têm expectativas de crescimento profissional em Portugal, embora a experiência internacional no setor (1,13) e melhores oportunidades de emprego (2,50) sejam consideradas menos importantes.
Na base da decisão está a instabilidade política no país de origem (3,40) e a identificação cultural com Portugal (3,68). A intolerância social e cultural no país de origem (3,98) também motiva a emigração.
Por fim, as condições de vida no país de origem influenciam fortemente a decisão de emigrar. O acesso a serviços de saúde (2,55), oportunidades educativas (2,83) e as condições de vida (4,65) justificam a decisão de imigrar.