Milenna

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<Narradora> Lana parecia ouvir perfeitamente o que Milenna dizia, o que deixava claro que ela não podia ser "inteiramente" muda. Ela balançava a cabeça, ora ou outra, durante a conversa, se lavando de uma maneira bem delicada. Ela parecia gostar de água e tentava manter um punhado dela nas mãos o máximo de tempo, até que ela escoasse pelos seus dedos. A conversa pareceu sensibilizar a menina, que com olhos brilhantes, deu um abraço em Milenna ao final do discurso em memória ao passado. Lana tinha um abraço apertado, como o de Gerold e isso a fez se recordar de seu filho e ser preenchida de forma abundante com saudade. Despertando todos do descanso, os cavalos foram novamente alinhados e a comitiva partiu, cruzando a ponte de madeira do meio estreito, ou Ponte Enebriante, como era conhecida na região de Oldtown. Milenna pareceu desgostar de qualquer tipo de informação que fosse característica daquela cidade. As pedras fariam parte da paisagem, em poucas horas, e a noite cobriria os céus com um negro profundo. Foi bem de noite que chegaram aos portais da cidade, onde os guardas pareceram nem questionar a presença da comitiva, que seguiu apressada até a sede dos Rosas Negras. Milenna pareceu sentir uma ponta de preocupação, não com o ambiente, mas por envolver Jeren na viagem até lá, já que a jovem criada passou por momentos cruéis pelo fato de um homem, que ela poderia ver, ter raptada a, junto de Milenna. Mas não era hora para conjecturas e sim hora de decisão. A mensagem de que o homem se mantivesse vivo fora enviada e a jovem lady esperava que o pedido tivesse chego a tempo e que tivesse sido seguido. Após um bom tempo, eles chegaram nos caminhos secretos abaixo da cidade e aquele portão de ferro envelhecido, começou a fazer parte da paisagem úmida que abrigava aqueles salões. Não havia guardas dessa vez e sim John Beesbury, seu marido, radiante de felicidade ao ver sua esposa chegando em segurança, junto do filho do casal, Gerold, quase fugindo em disparada para direção de Milenna, com os olhos marejados de lágrimas e com os lábios trêmulos de saudade. <Lady Milenna Beesbury> "Ah....Gerold!" **Todo cansaço. Todas as horas sem descanso físico e mental desvanecem num breve momento, tudo o que meus olhos são capazes de focar são em Gerold. Seu rosto expressando exatamente seus sentimentos puros, algo que apenas uma criança é capaz de fazer. Eu, pelo contrário, sentindo fortes emoções subirem ao peito mal consigo esboçar um sorriso, um sorriso aberto, grande do tamanho da minha saudade, do meu alívio. Agachando me ajoelho ao chão e chamo em um sussurro quase que inaudível Gerold. É difícil até falar, só vejo ele, só escuto ele, só ela me chama a atenção. Esqueci que adentrei no lugar que saíram as intrigas que me colocaram nessa situação. Esqueci a imagem, o lapso de imagem, de meu marido feliz em me ver, não sei porque, mas meus olhos não conseguem desviar de meu filho correndo em minha direção. Feliz em me ver. Quantos dias passaram? Não tenho noção. Quanto tempo estou sem dormir? Não tenho noção. Só quero abraça-lo. Eternamente. Dormir junto da pureza que falta nesse mundo.


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