Jornal Justiça e Conservação Ed. 06

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Meio Ambiente Monkey-Puzzle, ou Araucaria araucana. Crédito: James Gaither/Flickr

ARAUCARIÁCEAS AS ÁRVORES PRÉ-HISTÓRICAS MAIS RARAS DO MUNDO QUE SOBREVIVEM À EXTINÇÃO John Muir, herói ambiental escocês-americano, é famoso por seu ativismo para preservar as sequoias do oeste norte-americano. Entretanto, em 1911, aos 73 anos, ele viajou para o outro extremo das Américas em busca de uma espécie de árvore diferente, um gigante das florestas que ele só tinha visto em fotos: a araucária. Nas montanhas nubladas do Sul do Brasil, Muir caminhou entre as coníferas de copa plana por uma semana e escreveu em seu diário: “Manhã chuvosa. Araucárias por centenas e milhares. Paisagem maravilhosa”. Ele havia visitado a Amazônia recentemente, mas as araucárias eram as árvores que ele queria ver antes de morrer. Foi, como escreveu, a floresta mais interessante que ele já havia visto em sua vida. As araucárias do Brasil pertencem à família ancestral das Araucariaceae, as quais eram encontradas em todo o mundo durante os períodos Jurássico e Cretáceo (entre 200 e 65 milhões de anos atrás). Algumas pesquisas sugerem que, devido as suas folhas ricas em energia e com baixa fermentação, elas eram um alimento essencial para os dinossauros saurópodes. Atualmente, os três gêneros sobreviventes dessa família estão limitados ao hemisfério sul. E, como os dinossauros que antes vagavam entre eles, essas árvores de aparência peculiar agora estão em risco de extinção. Dentro da família Araucariaceae, existem 20 espécies no gênero Araucária, incluindo o Araucaria araucanaou Monkey-Puzzle do Chile, o Hoop Pine da Austrália e Papua-Nova Guiné e o Norfolk Island Pine da Ilha Norfolk. Outras 22 espécies pertencem ao gênero Agathis, encontrado no Pacífico Sul e no Sudeste Asiático, dos quais o mais famoso é a árvore colossal Kauri, da Nova Zelândia. E o gênero Wollemia, da Austrália, contém apenas uma espécie, um “fóssil vivo” espetacular tão somente descoberto em 1994, dentro de sua última fortaleza em um cânion escondido localizado próxi-

mo a Sydney. Um estudo de 2018 classificou as espécies de gimnospermas (plantas sem flores) no mundo segundo sua história evolutiva e risco de extinção. Das quatro espécies identificadas como tendo a maior prioridade de conservação, três foram Araucariaceae: o pinheiro Wollemi, a araucária brasileira e a Kauri.

John Muir descreveu as araucárias como as árvores mais interessantes que ele já viu. Crédito: Arquivos do Goga Park/Flickr.

A ilha dos

tesouros Apesar da distribuição geográfica dessa família ancestral, quase metade das espécies vivas – 19 de 45 – se encontra somente em um pequeno arquipélago do Pacífico, Nova Caledônia, cerca de 1.000 quilômetros da Austrália. Essas ilhas tropicais montanhosas abrigam cinco espécies de Agathis e quatorze de Araucária. “Essas plantas são maravilhosas, são diferentes de qualquer outra”, diz Robert Nasi, diretor geral do Centro de Pesquisa Florestal Internacional (CIFOR). Como parte de sua pesquisa para obter seu título de mestrado, Nasi mapeou a distribuição das diferentes espécies de Araucariaceae nas ilhas. Algumas crescem apenas na atitude das montanhas chuvosas e nubladas da Nova Caledônia, algumas entre florestas de folhas largas e outras em recifes rochosos elevados, próximos à costa. “Então você tem todas essas esquisitices que parecem esconder um dinossauro por trás”, diz Nasi. “Você olha para ver que tipo de monstro antediluviano vai pular do outro lado.” A Nova Caledônia está isolada de outras massas terrestres há


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