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QUAL CULINÁRIA FAZ MAL PARA O MEIO AMBIENTE?
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QUAL CULINÁRIA FAZ MAL PARA O MEIO AMBIENTE?
Já parou para pensar de onde vem o alimento que ocupa nosso prato e qual o impacto que nossa alimentação causa ao mundo e aos seres dos quais nos alimentamos?
O consumo de animais silvestres entrou na pauta de 2020 como vilão do mundo com o Coronavírus. Mas existem outros consumos de carne animal, autorizados e comuns à grande parte da sociedade, que oferecem enorme prejuízo ambiental. A criação de gado para produção de carne e leite, por exemplo, é a principal responsável pelo desmatamento e extinção de espécies, além de ser a maior produtora de gases do efeito estufa. E pratos à base de camarão e cação também causam um grande impacto no ecossistema marinho. Precisamos refletir e repensar nossos hábitos alimentares.
Não é uma convocação para que todos virem vegetarianos da noite para o dia. Mas um convite para que possamos, cada vez mais, reduzir, ou até suspender o consumo de alguns produtos para adotar uma dieta mais sustentável e diversificada. Que tal uma vez por semana tentar fazer uma refeição totalmente vegetariana ou vegana? Trocar a carne vermelha por fontes de proteína vegetal como legumes, feijões, ervilhas e grão de bico, por exemplo, pode ser a escolha mais consciente e responsável hoje em dia. Vamos explicar por quê.
Reduzir o consumo de carne vermelha é essencial para segurar o aumento das temperaturas que intensificam o aquecimento global
A pecuária responde pela maior parte das emissões de gases de efeito estufa no mundo. Causa mais emissões que todos os sistemas de transporte juntos. Para se ter ideia, a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), estima que cerca de 14,5% das emissões de gases do efeito estufa oriundas de atividades humanas têm origem no setor pecuário.
Em um cenário em que as mudanças climáticas são uma realidade que precisa de atitudes urgentes para ser controlada, a ação pode começar pelo nosso prato. Dentro do possível, dentro do viável, toda a ação em prol de uma mudança nos hábitos de consumo é positiva.
Áreas de floresta são queimadas ilegalmente para abrir espaço para o pasto. Crédito: Greenpeace Brasil.
O boi e a vaca são animais ruminantes, cuja digestão provoca uma fermentação que faz o animal liberar pela boca e pelas narinas muito gás metano (CH4), 21 vezes mais poluente do que o gás carbônico (CO2).
Além disso, o desmatamento para aumentar áreas de pasto é uma das principais causas da perda de algumas espécies únicas de plantas e animais das florestas. Na Amazônia, a pecuária é, de longe, a principal atividade responsável pela derrubada de mata nativa. Mais de 90% de todas as terras da floresta amazônica desmatadas desde 1970 são usadas para pasto. Além disso, a principal cultura, onde antes existia floresta, é a soja, usada, principalmente, na alimentação animal.
Em média, cada boi produz de 4,2 toneladas de metano por ano. As vacas leiteiras emitem 20% mais porque consomem mais calorias. É o dobro de um carro (Vide QR Code abaixo). O levantamento mais recente do IBGE, de 2018, mostra que o rebanho bovino brasileiro é de 213 milhões de cabeças. O número é maior que a população do país, que está em 209,5 milhões. Então, a conta da poluição, como se vê, é gigantesca.
Pesquisas científicas buscam formas de regular as emissões de metano e a perda de energia por meio, por exemplo, da incorporação de nutrientes na dieta dos animais. Mas mesmo que essa redução atinja níveis relevantes, temos, em contrapartida, o crescimento populacional e a tendênciade aumento do consumo de carne e derivados em todo mundo.




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Laticínios também são um grande problema
A criação de animais para alimentação humana demanda uma quantidade enorme de água. Uma única vaca usada para produção de leite pode beber até 50 litros de água por dia. E consumir até o dobro disso em dias de calor.
Frango, boi e porco são as carnes mais consumidas no Brasil. Todas as produções envolvem uma série de questões de sustentabilidade ambiental, como o alto uso de recursos hídricos, emissões de dejetos e geração de gases nocivos.
Para produzir:
1kg de carne vermelha
1 litro de leite
1 kg de manteiga
1 kg de carne de frango
1 kg de carne de porco
São necessários:
15.415 litros de água
1.020 litros de água
5.553 litros de água
4.325 litros de água
5.553 litros de água
Fonte: Mekonnen e Hoekstra (2010) por Waterfootprint.org (Os valores podem variar de país para país).
O setor pecuário é ainda o maior responsável pela erosão de solos e contaminação de mananciais aquíferos no mundo. As principais fontes de poluição são os excrementos dos animais, antibióticos, hormônios e produtos químicos de curtumes. O pastoreio do gado gera compactação do solo, o que dificulta a infiltração da água da chuva e a reposição dos lençóis freáticos, além de provocar a degradação das margens dos rios.
Segunda Sem Carne
A Campanha Segunda Sem Carne surgiu para incentivar as pessoas para uma mudança de hábitos e redução do consumo de carne ao menos uma vez na semana. A segunda-feira foi escolhida de forma simbólica por ser um dia já tradicional de mudar e iniciar novos hábitos. A iniciativa propõe não consumir produtos animais de nenhum tipo, como carne, leites e derivados e ovos. O consumo desses produtos, além gerar um grande sofrimento para os animais na cadeia produtiva, também pode prejudicar a saúde humana e do planeta.
Tiago Perez, engenheiro ambiental e consultor, é vegetariano há 12 anos e explica que apenas um dia sem produtos de origem animal já faz diferença: “40% da superfície da Terra é para agricultura. Dessa fatia, 83% é utilizado pela agropecuária. Só que esses 83% são responsáveis por apenas 18% das calorias que a gente ingere. Ou seja, estamos presos a um sistema antigo de produção que causa um impacto desproporcional. Em apenas um dia sem esse consumo, poupamos, no mínimo, 3.400 litros de água, fora quase 14,5 quilos de CO2 que deixamos de emitir na atmosfera. Então, hoje, em plena crise hídrica, cada pessoa que faça isso deixa de poluir muito.”
Para uma Segunda Sem Carne, a dica do consultor é diversificar os pratos: “Faça uma lista de dez itens de origem vegetal para consumir ao longo do dia. Inclua feijões e grãos, como a lentilha, que têm bastante proteína, e outros vegetais refogados ou em forma de salada. Com essa lista vão surgir ideias de receitas e seu corpo vai se sentir mais leve e com mais energia”. No site da Sociedade Vegetariana Brasileira (SBV) é possível encontrar opções de receitas e dicas de substituição de alimentos, além notícias e informações a respeito das razões éticas, ambientais e de saúde para passar essa ideia adiante. Saiba mais aqui:
Vidas interrompidas
PEIXE Na natureza › 8 anos Na indústria › 2 anos
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GALINHAS Na natureza › 8 anos Na indústria › 2 anos
#21DIASSEMCARNE
PORCOS Na natureza › 20 anos Na indústria › 5 anos
Este desafio quer mostrar que não só é possível, como também é fácil e pode ser muito mais saudável, adotar uma dieta sem carne e outros produtos de origem animal.
Crédito: Mercy for Animals
VACAS Na natureza › 20 anos Na indústria › 5 anos
DURANTE OS 21 DIAS DE DESAFIO, VOCÊ RECEBERÁ:
› Receitas fáceis e sem nada de origem animal; › Suporte de nutricionistas e especialistas; › Orientações de um time de especialistas prontos para esclarecer dúvidas; › Um Guia Vegetariano para Iniciantes gratuito.
desafio21diassemcarne.com.br
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Pratos com camarão e cação: por que eles também são inimigos do meio ambiente?
A pesca comercial, com os métodos de arrasto e o uso de redes, mata milhares de golfinhos, tartarugas marinhas, tubarões e outros animais "capturados" mesmo que acidentalmente. Juliano Dobis, especialista em Gestão dos Recursos Naturais e Diretor Executivo da Associação MarBrasil, explica que as pessoas devem saber de duas situações:
1.
2.
“Muitas vezes quando vamos a uma peixaria e compramos cação, a carne que está sendo vendida é uma raia ou um tubarão. A maioria dessas espécies está ameaçada de extinção, como, por exemplo, o tubarão-martelo. Além disso, como os tubarões são animais conhecidos como ‘topo de cadeia’, isto é, animais que consomem todos os outros animais, eles acabam sendo o ponto final do acúmulo de contaminantes, principalmente por mercúrio, trazendo com isso, sérios riscos à saúde dos consumidores da carne de cação.”
“A pesca do camarão ocorre com o método do arrasto de uma rede no fundo do mar. Esse arrasto, além do camarão, acaba capturando outros diversos organismos marinhos, que acabam morrendo na rede, muitas vezes ainda juvenis, sem nem ter se reproduzido ainda. A estimativa é de que, a cada quilo de camarão, dez quilos de outros organismos marinhos são mortos. Resumindo: seria importante que a população não se alimentasse mais de cação e camarão”.

Crédito:Pixabay
Crédito: Isabella_Simões
Mudança de hábitos pelo meio ambiente, pela saúde e pela ética
Nos Estados Unidos, uma pesquisa nacional de avaliação da saúde e nutrição publicada no periódico American Journal of Clinical Nutrition em 2019, avaliou os hábitos alimentares de 16 mil pessoas para calcular as emissões geradas pela alimentação. Ficou constatado no estudo que deixar de consumir produtos de origem animal gera diversas vantagens ao meio ambiente. Agora, se a opção, antes de cortar, for reduzir o volume ou substituir as carnes consumidas, trocar a carne vermelha pelo frango já reduz um pouco os prejuízos ambientais. Os frangos são mais eficientes na conversão de ração em proteína de carne, o que reduz a área, a quantidade de fertilizante e a eletricidade necessária para a sua produção, resultando em uma pegada de carbono menor.
Mas é preciso também pensar sobre ética. As formas de criação e confinamento desses animais geram grande sofrimento. O sistema industrial para produção de ovos e carne de frango é constantemente denunciado pela crueldade e condições precárias dos animais. As galinhas passam a vida inteira em gaiolas minúsculas onde mal podem esticar as asas, com privação total das necessidades biológicas e psicológicas básicas.
A ONG internacional Mercy for Animals fez fotos e vídeos em granjas de frango no Brasil mostrando o tratamento "brutal" a que as aves são submetidas. A ONG também investigou a terrível realidade das granjas suínas, onde porcos - animais sensíveis, inteligentes e muito sociáveis - são mantidos em condições miseráveis. As imagens são chocantes e vão ao limite do que existe de mais degradante. Você pode ver por conta própria no site www.mercyforanimals.org.br.
Os animais não são “coisas” e sim sujeitos de direito. Eles sentem alegria, prazer, felicidade, amor, dor e sofrimento. Todos têm uma complexa capacidade cognitiva e, por isso, são considerados seres sencientes, com direitos jurídicos reconhecidos por Lei.
Quem tem um animal de estimação sabe como um gato ou um cão são capazes de interagir e até se comunicar conosco. Um porco, uma vaca, e até uma galinha podem ser criados como pets e manter essa relação. Por que, então, comemos uns e adotamos outros até como membros da família? Qual seria a diferença?
É preciso pensar sobre a ética e compreender que não deveríamos achar que podemos decidir quem morre e quem vive. A ética não é algo imutável. Ela evolui conforme compreendemos nossos limites e os direitos do outro, seja ele outro indivíduo humano ou membros de outras espécies.
“A alimentação é algo muito sério. Colocamos dentro da gente um alimento para dar energia e, com ela, desenvolver nossas atividades. Se me alimento da morte e do sofrimento de um ser, não tem como eu não ingerir essa energia depositada no momento da morte dele. Isso é muito grave e ingerimos isso”, alerta Tiago Perez.
Perez reforça que muitos pecuaristas e indústrias na Europa estão trocando fazendas de leite para produção de leite vegetal. Já há um movimento, tanto pelo fator mercadológico de renda, como também no entendimento desse impacto. “A criação tradicional não é nada sustentável”.
É preciso também pensar em saúde pública. Um relatório feito pela Comissão EAT-Lancet, concluiu que dietas não saudáveis representam um risco maior de mortalidade do que sexo inseguro, álcool, drogas e uso de cigarro, por exemplo. A EAT-Lancet é uma plataforma global de base científica, focada em mudar o sistema alimentar global em direção a um modelo mais justo e sustentável e que promova a saúde para as pessoas e para o planeta. Conheça a plataforma:
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O esforço conta com o envolvimento de 37 cientistas de 16 países, em vários campos, incluindo saúde humana, agricultura, ciência política e sustentabilidade ambiental.
“A transformação para dietas saudáveis até 2050 vai exigir mudanças substanciais na dieta. O consumo geral de frutas, vegetais, nozes e legumes terá que duplicar, e o consumo de alimentos como carne vermelha e açúcar terá que ser reduzido em mais de 50%. Uma dieta rica em alimentos à base de plantas e com menos alimentos de origem animal confere benefícios à saúde e ao meio ambiente" diz Walter Willett, da Escola Chan de Saúde Pública, de Harvard, e presidente da Comissão EAT-Lancet.
Walter Willet
O levantamento aponta que a produção global de alimentos ameaça a estabilidade climática e a resiliência dos ecossistemas e constitui o maior impulsionador individual de degradação e transgressão das fronteiras planetárias. Tomados em conjunto, o resultado é terrível. Uma transformação radical do sistema alimentar global é urgentemente necessária.
Crédito: Pexels
“A produção global de alimentos ameaça a estabilidade climática e a resiliência dos ecossistemas. Sem ação, o mundo corre o risco de não atender aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU e do Acordo de Paris”, complementa Johan Rockström, PhD do Instituto Potsdam de Impacto Climático, do Centro de Pesquisa e Resiliência de Estocolmo.
Johan Rockström
As escolhas que fazemos hoje são vitais para um futuro seguro dos alimentos. Os recursos que usamos para produzir nossos alimentos estão se tornando mais preciosos neste clima em mudança. Todos podemos adotar atitudes para minimizar as mudanças climáticas, respeitando os alimentos que estão se tornando cada vez mais difíceis de produzir.
“Quando montamos nosso prato, tendemos a ir primeiro no bife e depois em alguns acompanhamentos. Isso gera uma monotonia no cardápio: a carne e mais alguma coisa. A gente depende de um tipo de alimento na dieta. Quando se abre mão disso, automaticamente, busca- -se outros alimentos, receitas e formas de se alimentar, deixando o prato e a alimentação muito mais rica e nutritiva. Isso é muito importante”, reforça o consultor Tiago Perez.
O engenheiro ambiental Tiago Perez é vegetariano há 12 anos. Presenciar o sofrimento de um bezerro prestes a morrer foi decisivo na escolha alimentar. Crédito: acervo pessoal.
Uma dieta rica em alimentos à base de plantas e com menos alimentos de origem animal confere benefícios à saúde e ao meio ambiente.
4 dicas de filmes e vídeos sobre os problemas do consumo de carne:
1.2. 3.

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