A tribuna 10 de novembro 2013

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VITÓRIA, ES, DOMINGO, 10 DE NOVEMBRO DE 2013 ATRIBUNA

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Economia 15.600 VAGAS

Folga e horário para rezar em empresa estrangeira F

olgas em feriados religiosos que não fazem parte do calendário brasileiro, expediente reduzido às sextas-feiras, refeitórios de empresas onde a carne suína é vetada e intervalo no trabalho para fazer orações. Esses costumes, embora não façam parte da cultura organizacional do Brasil, estão incorporados à rotina de trabalho de algumas unidades de empresas estrangeiras instaladas no País. O presidente da Câmara BrasilIsrael de Comércio e Indústria, Jayme Blay, explica que, em algumas empresas no Brasil, geridas por seguidores do judaísmo, o ritmo de trabalho é diferenciado por questões religiosas, com o expediente se encerrando logo após o almoço nas sextas-feiras, podendo ser retomado no domingo: “Como em qualquer religião, há

correntes mais conservadoras e outras que também respeitam a religião, mas com mais liberdade.” Algumas empresas no Brasil, cuja matriz está estabelecida em países árabes, também seguem algumas tradições ligadas à religião islâmica, explica o gerente de Negócios e Mercados da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, Rafael Abdulmassih. Nessas empresas, não é servida carne suína — considerada impura — aos funcionários; são concedidas folgas durante os feriados religiosos do calendário islâmico, e a jornada de trabalho é flexibilizada para que os seguem o islamismo possam fazer sua orações. Mas tanto Blay quanto Abdulmassih ressaltam que a globalização tem feito as multinacionais se adequarem às culturas locais dos países onde decidem se instalar.

INDÚSTRIA NAVAL

Além disso, companhias estão promovendo intercâmbios de trabalho entre seus profissionais de diversos países, para favorecer a troca de experiências. Funcionários do Estaleiro Jurong Aracruz (EJA) — em implantação no Norte do Espírito Santo—, por exemplo, estão passando por treinamento em Cingapura. Por meio do Programa de Transferência de Tecnologia, estudantes do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes) também têm a oportunidade de estudar no Ngee Ann Polytechnic, instituto do país asiático que é referência em formação de mão de obra para a indústria naval. “Um ambiente com diversidade cultural é cada vez mais comum. É fundamental respeito, valorização e convívio harmonioso das diferentes culturas”, destaca a diretora Institucional do EJA, Luciana Sandri.

Mais de 100 interessados no Estado Prova de que os olhos do mundo estão voltados para o Espírito Santo é que, só neste ano, mais de 100 investidores estrangeiros já manifestaram interesse de aplicar seus recursos em projetos no Estado. “Por mês, em média, 10 empresários de diversos países buscam informações sobre as melhores áreas para investimento no Espírito Santo e as oportunidades de negócios existentes”, disse o diretor-executivo da Unidade de Negócios Nacional e Internacional, Carlos Eiras. Mas ele explica que, “do namoro” com o Estado até a consolidação do empreendimento em si, são anos de negociação. “Dependendo

JULIA TERAYAMA — 07/11/2013

CARLOS EIRAS: negociação

do tamanho do projeto, o período de negociação pode ser superior a dois anos”, conta. Entre os principais interessados nas terras capixabas estão chineses, noruegueses, italianos e americanos. E toda a atenção dedicada ao Estado tem fundamento, segundo uma pesquisa da Unidade de Inteligência do grupo inglês Economist. No levantamento, o Espírito Santo aparece como o oitavo estado brasileiro com o melhor ambiente de negócios para investidores estrangeiros, por reduzir os obstáculos existentes aos investimentos, como burocracia e deficiência da mão de obra.

Treinamento feito no exterior A profissão do coordenador de Segurança, Meio Ambiente e Saúde (SMS) do Estaleiro Jurong Aracruz (EJA), Julio Dalla, levou-o a vivenciar uma imersão em outra cultura. Durante mais de 30 dias, ele morou em Cingapura, país da Ásia, passou por treinamento profissional e conviveu com os funcionários do grupo Jurong Shipyard. Adaptar-se à culinária local, bem apimentada, foi um dos desafios da

OS INVESTIMENTOS

ANÁLISE

10 Edison Chouest

15 Porto Central

Thaís Caser,

O grupo americano Edison Chouest, vai construir na região da Praia da Gamboa, em Itapemirim, a base de apoio logístico C-Port Brasil para abastecer embarcações que atuam na cadeia do petróleo com combustível, granéis sólidos e outros materiais.

Empresários de Roterdã, na Holanda, vão investir em um porto industrial em Presidente Kennedy. A previsão é que a operação se inicie em 2016.

portuária e distribuição de granéis sólidos e líquidos, para atividades ligadas ao setor petroleiro, já comprou uma área na Barra do Riacho, em Aracruz, onde vai se instalar.

OPORTUNIDADES: 4.500 vagas.

OPORTUNIDADES: 100 vagas.

OPORTUNIDADES: 500 vagas

A empresa de origem norueguesa Framo Engineering, especializada em engenharia submarina, vai atuar na exploração de petróleo no pré-sal. A unidade da empresa vai funcionar em um galpão na Rodovia do Contorno, em Cariacica.

A americana Halliburton, uma das maiores do mundo na prestação de serviços diversos, como transporte armazenagem e manutenção para atender à cadeia de petróleo, adquiriu terreno próximo à retroárea de Ubu, em Anchieta.

OPORTUNIDADES: não divulgadas.

OPORTUNIDADES: não divulgadas.

16 Framo Engineering

11 Kubota

A fábrica japonesa de tratores Kubota estuda implantar uma indústria no Espírito Santo, o local ainda não está definido. Atualmente, a empresa Pianna, em Linhares, é a responsável pela distribuição dos veículos Kubota para todo o País.

12 Soima

A portuguesa Soima, uma das maiores fabricantes de guindastes da Europa, pretende expandir sua atividade para o Espírito Santo e busca uma área para construção da nova fábrica. OPORTUNIDADES: não divulgadas.

13 Changshu

A fabricante chinesa de mantas e co-

chegada ao país asiático, vencidos facilmente. Já no retorno para o Brasil, além do enriquecimento cultural, ele conta que trouxe também bons exemplos profissionais. “A indústria naval capixaba está em desenvolvimento e fazer parte de uma equipe de profissionais estrangeiros, em estaleiros que operam há mais de 40 anos em Cingapura, foi fundamental para compreender os processos produtivos.”

14 PetroCity

O príncipe da Arábia Saudita Khaled bin Alwaleed, dono da multinacional KBW, vai investir no porto da PetroCity, em São Mateus. OPORTUNIDADES: 2 mil vagas

bertores de poliéster, Changshu Huanhai Weaving, vai construir na Grade Vitória uma fábrica de tecidos. O investimento é de aproximadamente R$ 9,9 milhões. OPORTUNIDADES: 200 vagas.

Fontes: Empresas citadas, governo do Estado, prefeituras e consultores de investimento.

17 Intersa

Ligado ao setor da construção civil, o grupo Intersa, da Espanha, manifestou interesse em implantar em Presidente Kennedy, numa área de 40 mil m2, uma unidade para fabricação de placas pré-moldadas de concreto. OPORTUNIDADES: não divulgadas.

18 Odfjell

A empresa norueguesa de logística

19 Halliburton

20 Huisman

A empresa holandesa com experiência em projetos e construção de equipamentos de elevação de carga pesada e módulos offshore (em altomar) para a indústria de óleo e gás natural sinalizou que avalia Aracruz como um dos locais para investir no Brasil. Santa Catarina também está na disputa pelo empreendimento. OPORTUNIDADES: não divulgadas.

psicóloga e diretora-adjunta de Estratégias da ABRH-ES

Quem se limita não se destaca “Toda empresa busca profissionais que estejam alinhados à sua cultura, estratégia e competências organizacionais. Com as multinacionais, não é diferente. O fato de uma empresa ter origem estrangeira não garante que o empregado trabalhará diretamente com pessoas de outros países. Mas, ainda assim, vale a pena estudar a cultura do país de origem do grupo para entender melhor o propósito organizacional, os valores e a cultura. Além disso, é essencial buscar informações globais sobre questões sociais, políticas e econômicas, e estar aberto às diferenças. O mercado das multinacionais é o mundo, e quem se limita a conhecer apenas o entorno da sua residência corre o risco de não se destacar.”


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