ESPAÇO ZERO

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CONSIDER AÇÕES SOBRE O ARQUIVO DIGITAL

Todos os textos desse livro seguem uma orientação diferente. Portanto, lê-lo no computador seria um grande inconveniente. Pensando nisso, essa que vos fala teve a brilhante ideia de colocar todos os textos na mesma orientação, no final do arquivo, depois da contracapa. Ainda é um tanto inconveniente ter que ir até o final e voltar durante a leitura, mas é isso que temos para hoje. Espero que gostem! Júlia :)



ESPAÇO ZERO

Trabalho de Conclusão de Curso

Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Associação Escola da Cidade

Orientação: Prof. Vitor Pissaia

São Paulo, 2021

Júlia Moreno Villaça


Mesmo assim, é tratado como algo tão real que acaba sendo confundido com a própria obra. E é justamente ao se apegar tanto à realidade que a arquitetura perde uma de suas mais valiosas fontes de inspiração e referência: a literatura de ficção científica.

› Todo projeto de arquitetura é, a princípio, uma obra de ficção. Somente se tornará real após ser concretizado.

Quando desenhado, a compreen são de um espaço ou arquitetura, se torna muito mais simples, sendo muito mais diretamente assimilado. Poré m , no c as o dos es paç os d es critos em texto, essa compreensão é m u i t o m a is a bs t ra t a e i n d i re t a , pos sibilit ando uma r iqueza muito maior, elemento fundamental para a f icção c ientíf ica, espec ialmente pelo fato de que cada cenário desempenha um papel fundamental no desenvolvimento da história.


Nas obras que tratam de futuros distópicos, como Nós, 1984 e Metrópolis, a radicalização dos cenários usuais das cidades é um dos principais recursos a fim de causar aproximação e, ao mesmo tempo, estranhamento em relação à história, característica típica desse ramo da literatura.

Já nas obras voltadas a temas relacionados a realidades alternativas, viagens no tempo e consciência humana, características da escrita de Philip K. Dick, são empregados outros elementos completamente diferentes. Ainda que ocorram em cidades e lugares com conjuntos de referências familiares, a construção espacial desses locais se baseia na sobreposição de diferentes camadas de realidade e tempo, conferindo aos cenários criados uma espécie de dimensão extra que acaba por ditar o rumo da trama.


Além desses dois fatores, o Espaço abriga objetos e fenômenos par ticulares não obser vados na Terra e ainda pouco compreendidos por aqueles que os estudam. A maioria desses objetos também acaba por ser totalmente incognoscível, tenham eles sua existência já provada - buracos negros -, tenham sua existência apenas teorizada - buracos de minhoca - ou sejam conceitos não visualizáveis - o infinito.

Além da ação da gravidade, a escala também desempenha um papel de fundamental impor tância na construção espacial neste gênero literário. Porém, tais escalas superam em muito as tratadas na arquitetura terrestre. Enquanto os maiores projetos atingem o tamanho máximo de cidades, as tramas dos livros de ficção científica frequentemente ocorrem em planetas, sistemas solares ou em uma ou mais galáxias. A necessidade de lidar com escalas tão grandes requer, tanto ao autor quanto ao leitor do livro, a compreensão de que, apesar de mensuráveis, elas são altamente incognoscíveis: jamais poderão ser de fato concebidas e entendidas pelo leitor pelo fato de serem muito maiores que as escalas experienciadas pelo ser humano.


› Porém é no gênero “space opera” e nas demais histórias que têm lugar no Espaço Sideral que os autores tomam maiores liberdades na criação dos espaços, uma vez que esta arquitetura não tem a necessidade de estar limitada a elementos básicos presentes na Terra, como no caso da gravidade. Quando pensada para o Espaço, a mais básica das arquiteturas se torna redundante e sem sentido. O simples fato de não haver gravidade exclui a necessidade de “chão”, de conceitos de “cima”e de “baixo”, da existência de qualquer ponto de referência f ixo baseado na posição das pessoas. Assim, uma simples planta de arquitetura, que é a representação de determinada arquitetura em relação ao eixo bidimensional, se torna totalmente inadequada para a arquitetura espacial.


No entanto, um projeto no espaço ainda é ficcional e não factível, sendo poucos os exemplos que lidam com esse a m b i e n t e d e n t ro d a a rq u i t e t u ra . A m a io r ia d os p ro je t os idealizados para ambientes não terrestres são concebid o s s e m p r e c o m o b j e t i vo s e usos muitos similares aos que vemos na Ter ra, como as ba ses de estudos em Mar te ou os postos de mineração na Lua.

› Considerando todos esses elementos, o Espaço contém riqueza e complexidade de fatores tão grandes que, se explorados, podem ser vir de base para a mais rica criação de projetos de arquitetura.


das técnicas complexas e específicas como sistemas de vedação, purificação do ar, isolamento térmico, entre outros. Desse modo, a maioria dos projetos não terrestres tem a maior participação de pessoas do ramo da engenharia, da física e da matemática. Alguns dos maiores projetos já propostos são estações espaciais na escala de pe-

quenas cidades desenvolvidas em laboratórios pelos estudantes de física e enge-

nharia da Univer sidade de Princeton em parceria com a NASA e administrados pelo

físico Gerard O’Neill ao longo da década de 1970. Procurando testar a viabilidade de implementação de assentamentos no Espaço, cada projeto idealizava cidades inteiras dentro de grandes estruturas em formatos cilíndricos, anelares ou esféricos nas quais era possível criar uma gravidade ar tificial semelhante à terrestre.

Mesmo nesses projetos, a arquitetura ainda tem uma participação muito tímida, limitada quase somente à parte estética dos edifícios. Um dos motivos é a necessidade de sua viabilização que, no Espaço, está sujeita a demanApesar da equipe contar também com alguns arquitetos, sua par ticipação se limitava aos edifícios no seu interior, a áreas independentes à estrutura externa - casas, edifícios públicos e centros comerciais. Assim, algumas das características espaciais mais marcantes desses lugares, em especial o fato de se apresentarem quase como planetas ao avesso, ocupando uma super fície côncava ao invés de convexa, acabaram por não ser exploradas em todo seu potencial. Como proposto no enunciado do citado estudo, as estações espaciais cumprem estritamente o papel ao qual foram concebidas sendo o espelho per feito da vida na Ter ra, sem grandes alterações nas f inalidades e espac ialidades dos edifícios internos.


A Inc ognos c ibilidade é a impos s ibilidade de c ompreens ão dev ido a profunda falta de conjunto de referências. É traduzida primeiramente no fato de ser infinito, uma vez que o infinito é um conceito compreensível, porém intangível por jamais poder ser experienciado.

Por fim, os Dispositivos são conceitos, objetos ou fenômenos que traduzidos espacialmente dão origem aos programas e ambientes dentro desse lugar.

O resultado é um projeto de um lugar referido pelos habitantes somente como Zero.


› L eva n d o e m c o n t a e s s a s c a ra c t e r ístic as , projeto proc ura considerar as par ticular idades previamente c it adas s obre o Es paç o, uma ves que seria um disperdício não levá-las em c onsideraç ão e apenas adapt ar um projeto ter res t re a um ambiente to talmente diverso.

A Desorientação é a ausência de pontos de referência. Está presente no projeto na infinitude das vias e no fato de cada uma pode ser ocupada ao longo de toda sua circunferência, resultando na inexistência de uma orientação baseada em apenas um plano de ocupação do espaço.

Para seu desenvolvimento, foram elencados 3 conceitos-base - Desorientação, Incognoscibilidade e Dispositivo - traduzidos espacialmente em vias cilíndricas de gravidades próprias, inf initas em comprimento e quantidade, ao longo das quais acontecem infinitos programas, cinco dos principais apresentados adiante.


› Buracos de minhoca são grandes distorções hipotéticas do espaço-tempo. Sua existênc ia, se provada, possibilitar ia a ligação de dois pontos distantes presentes no mesmo universo ou em universos distintos.

As Janelas são como buracos de minhoca, por tais que possibilitam a locomoção a diferentes par tes do Zero. São a espacialização do infinito, pois atravessando cada uma das infinitas janela, pode-se acessar um dos infinitos pontos do mesmo universo, ou de um dos infinitos outros universos.


JANEL AS






Porém, ao longo de todo o Zero, podem ser encontradas estruturas gigantes no caminho de cinturões de asteróides, capazes de traduzir espacialmente o som da colisão desses objetos com sua superfície metálica. São algumas pequenas ilhas de som em meio a todo o vazio.


DESFIL ADEIRO

› Apesar de cada via ter uma pequena atmosfera, tornando possível sua habitação por seres humanos, essa fina camada não ultrapassa os 3 metros a par tir da super fície. Para além dela, está apenas o vácuo, onde o som não se propaga. Consequentemente, Zero é quase inteiramente um local silencioso e de cer to modo inóspito.






› Um hibercubo é um cubo na quar ta dimensão, cujas faces são formadas por cubos tridimensionais. Por ser um objeto quadridimensional um hipercupo é incognoscível, e sua representação na terceira dimensão é traduzida em um cubo menor interno ligado pelos vér tices a um cubo maior externo. Quando rotacionado ao longo de um dos seus eixos - x, y, z e w -, aparenta estar girando dentro de si mesmo.

HIPERCUBO


O Zero está repleto de Hipercubos. Aparecem como grandes lanternas em constante ro tação ao longo de um ou mais eixos, nas quais qualquer um pode ocupar uma das faces tridimencionais desse espaço quadridimensional.






BUR ACO NEGRO

› Um buraco negro tem uma gravidade tão alta que é capaz de distorcer o espaço-tempo. Essa distorção faz com que, quanto mais próximo de um buraco negro uma pessoa estiver, mais devagar o tempo vai passar em relação a pontos mais distantes.


Po r t a n t o u m a e s t r u t u ra q u e c i rc u n d a u m b u ra c o n e g ro ser ve como um obser va tór io, pos sibilitando a qualquer um que a ocupe ver o tempo, e presenciar inteira eras em apenas algumas horas.




cor te longitudinal


elevação


FIM DO CAMINHO


Para toda regra, há uma exceção. Por tanto, para toda a infinitude de vias infinitas, deveria existir pelo meno s uma com um fim. Ninguém pode confirmar se ela realmente exis te, pois nada a dif erenc ia das demais . E aqueles que chegam no fim preferem não comentar sobre, pois a simples ideia da finitude em meio ao infinito é angustiante demais.






AGR ADECIMENTOS

› Antes de tudo, queria agradecer à minha família, por todo amor e carinho. Por me darem todas as opor tunidades e apoio do mundo. Ao papai, por ter me apresentado uma das coisas mais impor tantes da minha vida, o Espaço. À mamis, por ter feito eu me increver no vestibular da Escola, e toda a paciência com a correção do texto. E à Lólis, por ter me ajudado tanto no processo e ter povoado o projeto com várias escalhinhas, algumas muito grandes, outras muito pequenas, mas todas per feitas. Vocês são a coisa mais impor tante da minha vida, amo vocês mais que tudo.

Ao Vitor Pissaia, por ter topado me acompanhar e or ient ar nes sa louc a odis seia no Es paç o. O br iga da por toda a paciência, por todas as referências e principalmente por todas as conversas sobre a vida, o universo e tudo mais. Nínguem mais ser ia capaz de me ajudar tanto e nada disso seria possível sem você. Obrigada pelo ano!


Por último, queria agradecer à todas as pessoas incríveis que me acompanharam ao longo dessa intensa graduação, por todas as viradas de projeto, todas as viagens, todos os jks. Enfim, obrigada por todo companheirismo, e por tudo, tudo mesmo, de verdade! À Beatriz Oliveira, que foi quem começou isso tudo - só queria me dar um presente de aniversário, e olha onde chegamos. À Annabel Melo e Marina Liesegang por terem sentado comigo - na saída de emergência no avião para a Escola Itinerante do Rio, e daí em diante terem mudado toda a minha vida. Amo vocês três com todo o meu coração.


BOOKS, Spec tor. Planetar y Echoes: Exploring the Implica tions of Human Settlement in Outer Space. Leipzig, 2015

BOR ASSI, Giovanna; ZARDINI, Mirko. Other Space Odysseys. Montreal: Canadian Centre for Architecture, 2010

SCHARMEN, Fred. Space Set tlements. New York: Columbia Books onArchitecture and the Cit y, 2019

BIBLIOGR AFIA

C L A RK , A r t hur C . 20 01: U m a O disseia no E s p a ço. S ã o Pa u l o: Aleph, 2013

CL ARK, Ar thur C . Encontro com Rama. São Paulo: Aleph, 2013

LEM, Stanislaw. Solaris. São Paulo: Aleph, 2013


ADA MS, Douglas. O guia definitivo do mochileiro das galáxias. São Paulo: Arqueiro, 2016

LE GUIN, Ursula K. Os despossuídos. São Paulo: Aleph, 2019

ASIMOV, Isaac. Série da Fundação. São Paulo: Aleph, 2009

DIC K , Philip K . Esper e agor a pelo ano passado. Rio de Janeiro: Suma, 2018 DICK, Philip K. Ubik. São Paulo: Aleph, 2009 VON HARBOU, Thea. Metrópolis. São Paulo: Aleph, 2019 Z AMIÁTIN, Ievguêni Ivánovitch. Nós. São Paulo: Aleph, 2017


FONTE Futura PT PAPE L miolo em alta alvura 150g e capa em alta alvura 240g IMPRESSÃO Gráfica Cinelândia SÃO PAULO, BR ASIL , AGOSTO DE 2021





Páginas 1 e 2

Todo projeto de arquitetura é, a princípio, uma obra de ficção. Somente se tornará real após ser concretizado. Mesmo assim, é tratado como algo tão real que acaba sendo confundido com a própria obra. E é justamente ao se apegar tanto à realidade que a arquitetura perde uma de suas mais valiosas fontes de inspiração e referência: a literatura de ficção científica. Quando desenhado, a compreensão de um espaço ou arquitetura, se torna muito mais simples, sendo muito mais diretamente assimilado. Porém, no caso dos espaços descritos em texto, essa compreensão é muito mais abstrata e indireta, possibilitando uma riqueza muito maior, elemento fundamental para a ficção científica, especialmente pelo fato de que cada cenário desempenha um papel fundamental no desenvolvimento da história. Nas obras que tratam de futuros distópicos, como Nós, 1984 e Metrópolis, a radicalização dos cenários usuais das cidades é um dos principais recursos a fim de causar aproximação e, ao mesmo tempo, estranhamento em relação à história, característica típica desse ramo da literatura. Já nas obras voltadas a temas relacionados a realidades alternativas, viagens no tempo e consciência humana, características da escrita de Philip K. Dick, são empregados outros elementos completamente diferentes. Ainda que ocorram em cidades e lugares com conjuntos de referências familiares, a construção espacial desses locais se baseia na sobreposição de diferentes camadas de realidade e tempo, conferindo aos cenários criados uma espécie de dimensão extra que acaba por ditar o rumo da trama.


Páginas 3 e 4

Porém é no gênero “space opera” e nas demais histórias que têm lugar no Espaço Sideral que os autores tomam maiores liberdades na criação dos espaços, uma vez que esta arquitetura não tem a necessidade de estar limitada a elementos básicos presentes na Terra, como no caso da gravidade. Quando pensada para o Espaço, a mais básica das arquiteturas se torna redundante e sem sentido. O simples fato de não haver gravidade exclui a necessidade de “chão”, de conceitos de “cima”e de “baixo”, da existência de qualquer ponto de referência fixo baseado na posição das pessoas. Assim, uma simples planta de arquite tura, que é a representação de determinada arquitetura em relação ao eixo bidimensional, se torna totalmente inadequada para a arquitetura espacial. Além da ação da gravidade, a escala também desempenha um papel de fundamental impor tância na construção espacial neste gênero literário. Porém, tais escalas superam em muito as tratadas na arquitetura terrestre. Enquanto os maiores projetos atingem o tamanho máximo de cidades, as tramas dos livros de ficção científica frequentemente ocorrem em planetas, sistemas solares ou em uma ou mais galáxias. A necessidade de lidar com escalas tão grandes requer, tanto ao autor quanto ao leitor do livro, a compreensão de que, apesar de mensuráveis, elas são altamente incognoscíveis: jamais poderão ser de fato concebidas e entendidas pelo leitor pelo fato de serem muito maiores que as escalas experienciadas pelo ser humano. Além desses dois fatores, o Espaço abriga objetos e fenômenos par ticulares não obser vados na Terra e ainda pouco compreendidos por aqueles que os estudam. A maioria desses objetos também acaba por ser totalmente incognoscível, tenham eles sua existência já provada - buracos negros -, tenham sua existência apenas teorizada - buracos de minhoca - ou sejam conceitos não visualizáveis - o infinito.


Páginas 5 e 6

Considerando todos esses elementos, o Espaço contém riqueza e complexidade de fatores tão grandes que, se explorados, podem ser vir de base para a mais rica criação de projetos de arquitetura. No entanto, um projeto no espaço ainda é ficcional e não factível, sendo poucos os exemplos que lidam com esse ambiente dentro da arquitetura. A maioria dos projetos idealizados para ambientes não terrestres são concebidos sempre com objetivos e usos muitos similares aos que vemos na Terra, como as bases de estudos em Mar te ou os postos de mineração na Lua.

Mesmo nesses projetos, a arquitetura ainda tem uma participação muito tímida, limitada quase somente à parte estética dos edifícios. Um dos motivos é a necessidade de sua viabilização que, no Espaço, está sujeita a demandas técnicas complexas e específicas como sistemas de vedação, purificação do ar, isolamento térmico, entre outros. Desse modo, a maioria dos projetos não terrestres tem a maior participação de pessoas do ramo da engenharia, da física e da matemática. Alguns dos maiores projetos já propostos são estações espaciais na escala de pequenas cidades desenvolvidas em laboratórios pelos estudantes de física e engenharia da Univer sidade de Princeton em parceria com a NASA e administrados pelo físico Gerard O’Neill ao longo da década de 1970. Procurando testar a viabilidade de implementação de assentamentos no Espaço, cada projeto idealizava cidades inteiras dentro de grandes estruturas em formatos cilíndricos, anelares ou esféricos nas quais era possível criar uma gravidade ar tificial semelhante à terrestre. Apesar da equipe contar também com alguns arquitetos, sua par ticipação se limitava aos edifícios no seu interior, a áreas independentes à estrutura externa - casas, edifícios públicos e centros comerciais. Assim, algumas das características espaciais mais marcantes desses lugares, em especial o fato de se apresentarem quase como planetas ao avesso, ocupando uma super fície côncava ao invés de convexa, acabaram por não ser exploradas em todo seu potencial. Como proposto no enunciado do citado estudo, as estações espaciais cumprem estritamente o papel ao qual foram concebidas sendo o espelho per feito da vida na Terra, sem grandes alterações nas finalidades e espacialidades dos edifícios internos.


Páginas 7 e 8

Levando em conta essas carac terísticas, projeto procura considerar as par ticularidades previamente citadas sobre o Espaço, uma ves que seria um disperdício não levá-las em consideração e apenas adaptar um projeto terrestre a um ambiente totalmente diverso. Para seu desenvolvimento, foram elencados 3 conceitos-base - Desorientação, Incognoscibilidade e Dispositivo - traduzidos espacialmente em vias cilíndricas de gravidades próprias, infinitas em comprimento e quantidade, ao longo das quais acontecem infinitos programas, cinco dos principais apresentados adiante. A Desorientação é a ausência de pontos de referência. Está presente no projeto na infinitude das vias e no fato de cada uma pode ser ocupada ao longo de toda sua circunferência, resultando na inexistência de uma orientação baseada em apenas um plano de ocupação do espaço. A Incognoscibilidade é a impossibilidade de compreensão devido a profunda falta de conjunto de referências. É traduzida primeiramente no fato de ser infinito, uma vez que o infinito é um conceito compreensível, porém intangível por jamais poder ser experienciado. Por fim, os Dispositivos são conceitos, objetos ou fenômenos que traduzidos espacialmente dão origem aos programas e ambientes dentro desse lugar. O resultado é um projeto de um lugar referido pelos habitantes somente como Zero.


JANEL AS Buracos de minhoca são grandes distorções hipotéticas do espaço-tempo. Sua existência, se provada, possibilitaria a ligação de dois pontos distantes presentes no mesmo universo ou em universos distintos. As Janelas são como buracos de minhoca, por tais que possibilitam a locomoção a diferentes par tes do Zero. São a espacialização do infinito, pois atravessando cada uma das infinitas janela, pode-se acessar um dos infinitos pontos do mesmo universo, ou de um dos infinitos outros universos.

DESFIL ADEIROS Apesar de cada via ter uma pequena atmosfera, tornando possível sua habitação por seres humanos, essa fina camada não ultrapassa os 3 metros a par tir da super fície. Para além dela, está apenas o vácuo, onde o som não se propaga. Consequentemente, Zero é quase inteiramente um local silencioso e de cer to modo inóspito. Porém, ao longo de todo o Zero, podem ser encontradas estruturas gigantes no caminho de cinturões de asteróides, capazes de traduzir espacialmente o som da colisão desses objetos com sua super fície metálica. São algumas pequenas ilhas de som em meio a todo o vazio.

HIPERCUBOS Um hibercubo é um cubo na quar ta dimensão, cujas faces são formadas por cubos tridimensionais. Por ser um objeto quadridimensional um hipercupo é incognoscível, e sua representação na terceira dimensão é traduzida em um cubo menor interno ligado pelos vér tices a um cubo maior externo. Quando rotacionado ao longo de um dos seus eixos - x, y, z e w -, aparenta estar girando dentro de si mesmo. O Zero está repleto de Hipercubos. Aparecem como grandes lanternas em constante rotação ao longo de um ou mais eixos, nas quais qualquer um pode ocupar uma das faces tridimencionais desse espaço quadridimensional.


BUR ACO NEGRO Um buraco negro tem uma gravidade tão alta que é capaz de distorcer o espaço-tempo. Essa distorção faz com que, quanto mais próximo de um buraco negro uma pessoa estiver, mais devagar o tempo vai passar em relação a pontos mais distantes. Por tanto uma estrutura que circunda um buraco negro ser ve como um obser vatório, possibilitando a qualquer um que a ocupe ver o tempo, e presenciar inteira eras em apenas algumas horas.

FIM DO CAMINHO Para toda regra, há uma exceção. Por tanto, para toda a infinitude de vias infinitas, deveria existir pelo meno s uma com um fim. Ninguém pode confirmar se ela realmente existe, pois nada a diferencia das demais. E aqueles que chegam no fim preferem não comentar sobre, pois a simples ideia da finitude em meio ao infinito é angustiante demais.


AGR ADECIMENTOS › Antes de tudo, queria agradecer à minha família, por todo amor e carinho. Por me darem todas as opor tunidades e apoio do mundo. Ao papai, por ter me apresentado uma das coisas mais impor tantes da minha vida, o Espaço. À mamis, por ter feito eu me increver no vestibular da Escola, e toda a paciência com a correção do texto. E à Lólis, por ter me ajudado tanto no processo e ter povoado o projeto com várias escalhinhas, algumas muito grandes, outras muito pequenas, mas todas per feitas. Vocês são a coisa mais impor tante da minha vida, amo vocês mais que tudo. Ao Vitor Pissaia, por ter topado me acompanhar e orientar nessa louca odisseia no Espaço. Obrigada por toda a paciência, por todas as referências e principalmente por todas as conversas sobre a vida, o universo e tudo mais. Nínguem mais seria capaz de me ajudar tanto e nada disso seria possível sem você. Obrigada pelo ano! À Beatriz Oliveira, que foi quem começou isso tudo - só queria me dar um presente de aniversário, e olha onde chegamos. À Annabel Melo e Marina Liesegang por terem sentado comigo - na saída de emergência - no avião para a Escola Itinerante do Rio, e daí em diante terem mudado toda a minha vida. Amo vocês três com todo o meu coração. Por último, queria agradecer à todas as pessoas incríveis que me acompanharam ao longo dessa intensa graduação, por todas as viradas de projeto, todas as viagens, todos os jks. Enfim, obrigada por todo companheirismo, e por tudo, tudo mesmo, de verdade!





BIBLIOGR AFIA

SCHARMEN, Fred. Space Settlements. New York: Columbia Books onArchitecture and the Cit y, 2019 BOR ASSI, Giovanna; Z ARDINI, Mirko. Other Space Odysseys. Montreal: Canadian Centre for Architecture, 2010 BOOKS, Spec tor. Planetar y Echoes: Exploring the Implications of Human Set tlement in Outer Space. Leipzig, 2015 CL ARK, Ar thur C . 2001: Uma Odisseia no Espaço. São Paulo: Aleph, 2013 CL ARK, Ar thur C . Encontro com Rama. São Paulo: Aleph, 2013 LEM, Stanislaw. Solaris. São Paulo: Aleph, 2013 ADAMS, Douglas. O guia definitivo do mochileiro das galáxias. São Paulo: Arqueiro, 2016 LE GUIN, Ursula K. Os despossuídos. São Paulo: Aleph, 2019 ASIMOV, Isaac. Série da Fundação. São Paulo: Aleph, 2009 DICK, Philip K. Espere agora pelo ano passado. Rio de Janeiro: Suma, 2018 DICK, Philip K. Ubik. São Paulo: Aleph, 2009 VON HARBOU, Thea. Metrópolis. São Paulo: Aleph, 2019 Z AMIÁTIN, Ievguêni Ivánovitch. Nós. São Paulo: Aleph, 2017



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