Relações Públicas Online: Relacionamento com os Públicos através das Ferramentas Digitais

Page 1

VI Congresso Brasileiro Científico de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas – “VI Abrapcorp 2012 – Comunicação, Discurso, Organizações” São Luiz/MA – 26 a 28 de abril de 2012 Espaço de Iniciação Científica - EIC

Relações Públicas Online: Relacionamento com os Públicos através das Ferramentas Digitais

Resumo: O presente trabalho busca conceituar e analisar a importância da utilização das ferramentas de Relações Públicas no contexto digital. Cumpre-se, então, a tarefa de confrontar, por meio de pesquisa bibliográfica e de campo, a maneira como os profissionais de Relações Públicas estão aplicando suas técnicas na comunicação que se dá no ambiente digital. Para isso, foi realizada uma pesquisa qualitativa com cinco profissionais de Relações Públicas que atuam com comunicação online, onde se pode verificar que a área de Relações Públicas aparece como uma das mais preparadas para trabalhar a comunicação digital em decorrência da sua visão holística, do seu preparo estratégico de administrar relacionamentos e de conhecer a fundo as caracterizações de cada público com que uma empresa lida. Palavras-chave: Relações Públicas; Internet; públicos; comunicação. Introdução

A Internet transformou-se em uma grande mídia e consolidou-se como uma potência e alternativa para os mais variados negócios, organizações, marcas, campanhas políticas, relacionamento social etc. O fácil acesso e os baixos custos atraem todos os setores da sociedade para comporem o ambiente online, criando oportunidades para que pequenas, médias e grandes empresas tenham seu nome divulgado e acessado pelo público. Pensando na área da Comunicação como um todo, a Internet também trouxe muitas modificações, fazendo com que agências e profissionais tenham que se adaptar, assim como os negócios de seus clientes – as empresas – para que confirmem presença no campo digital. Estratégias, atividades e ações, antes pensadas para o mundo offline, criam molduras para que sejam enquadradas e, de igual forma, eficazes dentro do cenário online. E com a profissão de Relações Públicas não é diferente. Por conta disso, o presente trabalho propõe-se a estudar e evidenciar como os profissionais de Relações Públicas estão realizando suas atuações e suas estratégias de relacionamento entre organizações e seus públicos, aplicadas através das ferramentas na rede digital, como sites, blogs, mídias sociais, e-mails marketing, etc. No percurso da pesquisa, baseou-se em questionamentos que decorrem em como a profissão de Relações Públicas e seus conhecimentos contribuem para que a relação organizações-públicos

seja

realizada

virtualmente.

Como

as

estratégias

de

1


VI Congresso Brasileiro Científico de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas – “VI Abrapcorp 2012 – Comunicação, Discurso, Organizações” São Luiz/MA – 26 a 28 de abril de 2012 Espaço de Iniciação Científica - EIC

relacionamento visando os públicos de interesse de uma organização podem ser aplicadas com as ferramentas digitais disponíveis? A área de Relações Públicas surge neste cenário como uma das profissões indicadas para esta atuação digital? E, o mais importante: como os métodos tradicionais desenvolvidos pela atividade de Relações Públicas podem ser eficazes no relacionamento online entre organizações e seus públicos? Como objetivos centrais, este trabalho propõe-se a buscar questões que analisem e estudem a atuação dos profissionais de Relações Públicas inseridos no ambiente digital, bem como compreender como as estratégias utilizadas pela profissão estão sendo aplicadas quando visam o relacionamento entre organizações e seus públicos na Internet através das ferramentas digitais. O tema central escolhido justifica-se pela urgência em propor estudos na área de Relações Públicas digitais. A prática das atividades de Comunicação no ambiente online vem se consagrando gradativamente, porém a literatura e a teoria ainda são incipientes. Este trabalho torna-se importante uma vez que busca captar como a profissão de Relações Públicas está atuando no ambiente online. Questões como esta que se fazem importantes serem discutidas, uma vez que o cenário atual da comunicação é de constantes mudanças decorrentes da evolução da Internet e das ferramentas que oportuniza.

RELAÇÕES PÚBLICAS ONLINE

Os acontecimentos na e através da Internet foram pendendo em maior frequência para o cunho comunicacional, ou seja, sua utilização cada vez mais se caracterizando para promover a comunicação entre pessoas e/ou usuários da Internet. Nesse sentido, Di Felice aborda que: Diante de nossos computadores ligados em redes, podemos nos comunicar somente se passamos a interagir com as nossas interfaces (mouse, teclado e redes em geral) em um diálogo constante, no qual é excluído qualquer tipo de passividade, ligado à forma comunicativa do espetáculo e a qualquer forma de nítida distinção entre o produtor e o receptor da mensagem. (DI FELICE, 2008, p.23).

Quando a Internet se disseminou e avançou na sociedade na década de 1990, possuía uma característica denominada web 1.0, isto é, onde tudo era estático, poucos

2


VI Congresso Brasileiro Científico de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas – “VI Abrapcorp 2012 – Comunicação, Discurso, Organizações” São Luiz/MA – 26 a 28 de abril de 2012 Espaço de Iniciação Científica - EIC

detinham o poder de produzir conteúdo e as pessoas estavam ali somente como espectadoras. Antes, havia o predomínio do emissor, explica Saad (2009, p.164), que controlava o conteúdo e as relações com o usuário da rede, transmitindo uma comunicação de baixa intervenção do receptor, de conteúdo e baixa capacidade de personalização deste. Em consequência de uma realidade que caminhava na direção da integração entre públicos e organizações, tem-se então uma migração da web 1.0, estática e pouco personalizável, para a web 2.01, que resulta em uma rede muito mais versátil, permitindo que emissor e receptor possuam o mesmo poder, ou seja, de compartilhar, produzir, espalhar informação e conhecimento, criado a partir das próprias pessoas que compõem a rede. A era que se inicia então (a partir dos anos 2000) – a era da web 2.0 – origina um cenário onde é comum termos, como: interatividade, compartilhamento, produção de conteúdo, liberdade de expressão, divisão e promoção de tarefas conjuntamente, além de uma união de internautas2 em torno de um mesmo bem comum, ou seja, estar em plena interatividade, conectividade, entretenimento e aprendizado. Com a propagação da interação social cada vez maior e cada vez mais facilitada, proporcionada pela Internet, não demorou a surgir formas de reunião social em torno de programas e atividades que segmentam vontades, desejos e interesses. É o caso das mídias sociais, plataformas de sites que abrigam maneiras de relacionamento, compartilhamento, produção e disseminação de determinados conteúdos. As mídias sociais são “espaços de interação, lugares de fala, construídos pelos autores de forma a expressar elementos de sua personalidade ou individualidade”. (RECUERO, 2009, p.25-26). Portanto, um local onde se encontra a liberdade de produzir, criar, moldar e propagar de maneira independente. Quando (bem) utilizadas pelas organizações, as mídias digitais trazem inúmeros benefícios, tanto em divulgação da marca, produtos e serviços quanto para estabelecer relacionamento e fidelização com os públicos.

1

Termo cunhado por Tim O’Reilly (fundador da empresa O’Reilly Media – empresa americana de mídia) em 2004, em um artigo próprio, para designar a web como uma plataforma livre. O termo web 1.0 surgiu após a conceituação de web 2.0. O’REILLY, Tim. O que é Web 2.0 - Padrões de design e modelos de negócios para a nova geração de software. Publicado em <http://www.oreilly.com/>. Copyright, 2006. Tradução: Miriam Medeiros. 30 p. – acesso em: 19 ago. 2011. 2 Usuário da Internet.

3


VI Congresso Brasileiro Científico de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas – “VI Abrapcorp 2012 – Comunicação, Discurso, Organizações” São Luiz/MA – 26 a 28 de abril de 2012 Espaço de Iniciação Científica - EIC

A interação entre as pessoas ficou facilitada na era digital. E, muito mais do que isso, a rede digital proporciona poder, liberdade, capacidade de personalização, criatividade e propagação de conteúdo. Um internauta, munido de informação e conteúdo, torna-se uma ferramenta poderosa na transmissão, pois do outro lado estão usuários iguais a ele, ou seja, pessoas que estão muito mais propensas a aceitar e a acreditar nessas informações do que se elas fossem originadas de uma empresa ou canal midiático, uma vez que na era 2.0, as pessoas acreditam em pessoas. Como explica a autora Carolina Terra, Trata-se de um usuário que vai além da comunicação tradicional para se informar, analisa opiniões de outros em sites de mídia social, acompanha rankings e conteúdos de pessoas desconhecidas e tem expectativas superiores em relação ao meio on-line. (TERRA, 2011, p.90).

Conforme Morais (2009, p.36), o diferencial que se encontra na web, como plataforma ou ferramenta de comunicação, está sustentado por pilares com alta importância, a saber: interatividade, conteúdo, facilidade, agilidade, socialização e comunicação. Sendo assim, trata-se de um local onde basicamente podem-se encontrar diversas possibilidades de que uma pessoa precisa para exercer sua socialização, com a diferença de que se trata de um ambiente digital. A grande possibilidade da Internet 2.0, das mídias sociais, é que ela permite que o que se veicule nela seja interativo, personalizado e com alto poder de diferenciação entre a concorrência. Por isso, é importante a sólida atuação das empresas e marcas perante o ambiente digital, pois vai depender disso seu êxito de negócios e práticas mercadológicas com o seu público-alvo (seja ele consumidor, de interesse, etc). Diante de todo esse cenário, a comunicação, o marketing e todas as suas ações de mesma natureza, é que virão ao auxílio das empresas e nas suas atuações digitais. Aliás, toda a área da comunicação e marketing também sofreu modificações, alterações de foco e de objetivos, e teve que se readequar aos parâmetros exigidos na Internet. Deve-se ter ciência, principalmente empresas, marcas, organizações, empresas de comunicação, que muito além de divulgar para consumidor – seja produto, serviço ou conteúdo -, o que se encontra na Internet hoje e que norteia qualquer tipo de atuação que ali se encontrará é a busca por quatro atividades básicas: Relacionamento; Informação; Comunicação; e Diversão. (TORRES, 2009, p.66).

4


VI Congresso Brasileiro Científico de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas – “VI Abrapcorp 2012 – Comunicação, Discurso, Organizações” São Luiz/MA – 26 a 28 de abril de 2012 Espaço de Iniciação Científica - EIC

A meta deve ser foco no relacionamento, no engajamento e no pleno entendimento entre empresas e públicos, seja no ambiente que for, mas principalmente uma especial atenção ao universo online, ainda não desvendado na sua totalidade, mas que já proporciona experiências complexas, inovadoras e de grande importância para a sociedade do século XXI. A atuação nas mídias sociais, por parte das organizações, precisa estar direcionada à simplicidade, mostrando conteúdo interativo, ambiente convidativo e de confiança (além de constantemente atualizado) e, acima de tudo, diálogo. “As mídias sociais são sobre relacionamentos, construção de redes de debates. Para autopromoção, existem alternativas que não essa” (TERRA, 2011, p.105). Como na Internet tudo é relacionamento, inclusive quanto à mediação entre públicos e organizações, a profissão de Relações Públicas surge com força para solucionar os problemas e montar um estratégico plano de atuação virtual. Afinal, relacionamento, diálogo, comunicação simétrica e de mão dupla remontam aos princípios básicos da atividade desta profissão. As práticas referentes à atividade de Relações Públicas são importantes e vitais para a sobrevivência das organizações, uma vez que os públicos constituem parte fundamental e central no que tange a sistemática e as políticas institucionais que toda organização deve seguir. Ao pensar as Relações Públicas, que atuam em prol das organizações e seus públicos, a autora Margarida Kunsch enuncia, a respeito dessa atividade, que: O desempenho das funções essenciais e específicas de Relações Públicas se materializa por meio da realização das correspondentes atividades profissionais. Essas atividades são inerentes ao processo de relacionamento das organizações com seus públicos e ao campo da comunicação organizacional, dentro da especificidade da comunicação institucional e da comunicação interna (KUNSCH, 2003, p.126).

Na Internet isso não é diferente. Para estar presente, atuante, estrategicamente posicionada e relacionada com os diversos públicos internautas na rede mundial de computadores, é necessário para as empresas um bom planejamento, monitoramento e acompanhamento profissional adequado das práticas digitais com os seus públicos na web. Para isso, as empresas podem contar com o auxílio profissional da área de Relações Públicas que, da mesma forma com que rege a comunicação e o

5


VI Congresso Brasileiro Científico de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas – “VI Abrapcorp 2012 – Comunicação, Discurso, Organizações” São Luiz/MA – 26 a 28 de abril de 2012 Espaço de Iniciação Científica - EIC

relacionamento entre organização e públicos no ambiente offline, irá colaborar para essa prática também no universo online. Sandini (2010, p.80) traz que a “World Wide Web é, por sua natureza interativa, uma ferramenta muito influente e de grande utilidade para a execução de todas as funções e atividades de Relações Públicas”. Contudo, uma empresa que deseja estar presente na web precisa contar com profissionais preparados e com potencial em constante atualização. Pinho comenta que é essencial que os recursos tecnológicos e as utilidades da Internet sejam bem conhecidos e dominados, para que possam oferecer o adequado suporte às estratégias de Relações Públicas, uma vez que podem permitir a prática de uma comunicação aberta e dialógica e o estabelecimento de relações próximas e duradouras com os diversos públicos constituintes (PINHO, 2003, p.7). As ferramentas digitais, somadas ao conhecimento e competência da área das Relações Públicas, apresentam inúmeros benefícios às organizações e o relacionamento com seus públicos. Tem-se então que as Relações Públicas 2.0 se configuram na evolução do cenário virtual, uma vez que possibilitam o diálogo e o relacionamento de mão dupla, práticas próprias desta área desde a sua criação, ou seja, quando se fala em mídias sociais e Internet 2.0, se fala também em Relações Públicas. Além disso, as plataformas de mídias sociais se mostram um ambiente propício e destacado para se trabalhar o alinhamento da imagem institucional e a identidade de uma organização, outras atividades pertencentes à expertise de Relações Públicas. Para exemplificar ainda mais, Terra traz que: Relações Públicas 2.0 significa agregar às táticas tradicionais de divulgação conteúdos como vídeos, áudios, fotos, imagens e links que possam ser aproveitados de forma diferente, além de gerir e olhar estrategicamente para canais que permitem a participação e o retorno dos usuários. (TERRA, 2011, p.137).

Outro auxílio que a área de Relações Públicas oferece para as práticas na rede virtual é a experiência de tratar com mercados de nicho e não de massa. O público na web possui diversas características, nunca apresentando conglomerados de massa nas ferramentas digitais. Sendo assim, ao adentrar no universo online e das mídias digitais, deve-se saber que não se falará para muitos, e sim para grupos específicos que estão ali por determinadas razões semelhantes e que se comportam de maneira singular e individual.

6


VI Congresso Brasileiro Científico de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas – “VI Abrapcorp 2012 – Comunicação, Discurso, Organizações” São Luiz/MA – 26 a 28 de abril de 2012 Espaço de Iniciação Científica - EIC

O profissional de Relações Públicas, como mediador estratégico das empresas e seus públicos, no ambiente da web, colabora identificando recursos inovadores e que permitem personalização, realiza a gestão dos relacionamentos, monitorando diariamente o que é dito sobre a empresa nas redes e qual é o teor desses comentários – se positivos, neutros ou negativos – primando pelo zelo e solidificação da imagem corporativa, respondendo às demandas, seja dos públicos da Internet ou da sociedade como um todo, de forma ágil e eficaz. Esse profissional deve também agir de modo a garantir que haja coerência em todas as informações que se originam da organização, para que os discursos mantenham uma linha e condigam com as políticas e posturas institucionais. Com tudo isso, o profissional de Relações Públicas, ao mostrar de forma objetiva sua excelência em atuar também nesse novo ambiente online, estará garantindo sua colaboração para a legitimação da profissão, apropriando estratégica e adequadamente estes recursos que já não podem mais serem ignorados no mundo corporativo (CARVALHO, 2008, p.388389). Na Internet, a preocupação com cuidados como atualização constante de informações, facilidade de acesso e uso real das possibilidades interativas (STASIAK, 2009, p.59) deve estar alinhado às políticas de Relações Públicas, garantindo a plena realização das práticas digitais das empresas para o estabelecimento de diálogo e relacionamento com os públicos de interesse. Portanto, tem-se na Internet um grande campo para a atuação da área de Relações Públicas, uma vez que exige e demanda fatores primordiais e que se mostram inerentes à prática dessa profissão: relacionamento especializado, tratamento personalizado, conteúdo e informação fidedignos e alinhados às condutas das organizações, diálogo e conversação bidirecional, compreendendo a mensagem de mão dupla, além de interatividade e conexão criativa e atualizada com os públicos potenciais das empresas. RECORTE METODOLÓGICO O presente trabalho consistiu em coleta de dados e revisão bibliográfica sobre as principais questões que levam aos objetivos do trabalho. Assuntos como Internet, comunicação digital, Relações Públicas e mídias sociais estão entre os temas pesquisados e abordados. Após essa etapa, seguiu-se na definição do universo

7


VI Congresso Brasileiro Científico de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas – “VI Abrapcorp 2012 – Comunicação, Discurso, Organizações” São Luiz/MA – 26 a 28 de abril de 2012 Espaço de Iniciação Científica - EIC

metodológico a ser seguido para alcançar de maneira prática as questões centrais do estudo. A pesquisa se define como sendo uma pesquisa qualitativa, isto é, “um processo de reflexão e análise da realidade através da utilização de métodos e técnicas para compreensão detalhada do objeto de estudo em seu contexto histórico e/ou segundo sua estruturação” (OLIVEIRA, 2005, p.41). A pesquisa qualitativa é constituída de entrevistas semiabertas, seguindo um modelo de roteiro que engloba questões semiestruturadas, garantindo uma abordagem em profundidade, gerando respostas indeterminadas, dando liberdade ao entrevistado de formular suas próprias respostas. (DUARTE, 2006, p.64). O roteiro da entrevista foi desenvolvido com um número específico de perguntas – no total de onze questões –, uma vez que o intuito era contemplar ao máximo o tema central deste estudo, para resultar em uma análise completa e rica em informações. As questões foram elaboradas de modo a permear os propósitos centrais objetivados nesta pesquisa, englobando os assuntos abordados nos primeiros capítulos. Iniciou-se com questões que buscaram saber as informações pessoais e profissionais das fontes. Após, o questionário seguiu com indagações sobre como começou o interesse pela área digital das entrevistadas, quais as opiniões sobre a profissão de Relações Públicas neste cenário e a importância desta perante as outras habilitações da comunicação no universo online. Além disso, buscou-se saber como acontecem, de forma prática, as principais atividades e estratégias utilizadas por Relações Públicas para desempenharem campanhas de comunicação na área digital.

Após a escolha do tipo de pesquisa, os informantes foram definidos a partir da técnica de seleção de amostragem dentro de um universo considerável que abrange a área em questão. Segundo Novelli (2006, p. 168), “entende-se como universo da pesquisa o conjunto de pessoas que possuem características comuns e detêm algum grau de informação sobre o tema a ser explorado”. Portanto, o universo da pesquisa constitui-se de profissionais de Relações Públicas que trabalham na área de comunicação digital. Como nem sempre é possível pesquisar a totalidade de elementos de um estudo, define-se uma amostra para a aplicação da pesquisa. Segundo Lakatos e Marconi (2001, p.163), amostra “é uma parcela convenientemente selecionada do universo (população)”. Para Oliveira (2005, p.95), faz-se necessário estabelecer critérios no processo de seleção para que a amostra seja significativa, portanto, selecionou-se cinco profissionais

8


VI Congresso Brasileiro Científico de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas – “VI Abrapcorp 2012 – Comunicação, Discurso, Organizações” São Luiz/MA – 26 a 28 de abril de 2012 Espaço de Iniciação Científica - EIC

de Relações Públicas para a entrevista a partir de um conhecimento prévio do trabalho que desempenham na área do estudo. Tratando-se da seleção dos entrevistados do estudo qualitativo proposto, a opção foi pela amostra não probalística, ou seja, “o pesquisador(a) determina a quantidade de elementos ou o número de pessoas aptas a responder um questionário (OLIVEIRA, 2005, p.95). Para o autor Duarte (2006, p.69) a definição da amostra não probalística “depende do julgamento do pesquisador e não de sorteio a partir do universo, que garante igual chance a todos”. Dentro da amostra, conforme esse mesmo autor, houve duas opções para o critério de seleção: a opção por conveniência e a opção intencional. A seleção por conveniência, também chamada de acidental, baseia-se na viabilidade da fonte. Duarte (2006, p.69) afirma que a seleção ocorre por proximidade ou disponibilidade da fonte. Por isso, uma das fontes foi escolhida pelo motivo de que, em uma ocasião próxima a data definida para a coleta de dados da monografia, a profissional em questão estaria na cidade de Santa Cruz do Sul, para um evento do Curso de Comunicação Social da Universidade de Santa Cruz do Sul – UNISC. A decisão firmou-se pelo fato de que a referida fonte se trata de uma profissional de renome e uma das pioneiras na área de comunicação e Relações Públicas digitais. As outras quatro fontes foram escolhidas dentro da seleção intencional, ou seja, “quando o pesquisador faz a seleção por juízo particular, como conhecimento do tema ou representatividade subjetiva” (DUARTE, 2006, p. 69). Após a seleção, fez-se os convites a estas profissionais por e-mail, para verificar de fato suas atuações, de modo a constatar a proximidade destas com as questões do presente trabalho. A intenção era conseguir as fontes de modo a permear o conhecimento e experiência em nível nacional e estadual. Por isso, a escolha final das profissionais chegou ao total de cinco, sendo três do estado do Rio Grande do Sul, mais precisamente de Porto Alegre, e duas de São Paulo, da capital e da cidade de Araraquara. Três profissionais de Relações Públicas de Porto Alegre, das quais havia o conhecimento por parte da pesquisadora da atuação na área, foram contatadas a fim de marcar uma entrevista para que pudessem auxiliar no trabalho. As três aceitaram o convite, mas uma delas não estava mais em Porto Alegre, e sim residindo no Rio de Janeiro, que, após algumas trocas de mensagens, acabou-se optando pela entrevista através do Skype, um programa de ligações gratuitas na Internet, onde são realizadas

9


VI Congresso Brasileiro Científico de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas – “VI Abrapcorp 2012 – Comunicação, Discurso, Organizações” São Luiz/MA – 26 a 28 de abril de 2012 Espaço de Iniciação Científica - EIC

ligações de voz e de vídeo e que aceita um aplicativo que se integra a ele e possibilita a gravação da conversa. Com isso, obteve-se o registro integral da entrevista, oportunizando a experiência rica em captar informações tal qual uma entrevista face a face e mostrando ser uma opção melhor do que por e-mail. As outras duas residentes de Porto Alegre confirmaram a ajuda que se daria por entrevista pessoal. A última fonte, também selecionada de maneira intencional, devido a sua contribuição para a área de Relações Públicas digitais, com experiências com grandes empresas, além de uma trajetória acadêmica que contempla até o doutoramento nesta área de comunicação e tecnologias, é natural da cidade de São Paulo, o que seria de grande utilidade para fornecer material a partir de sua visão mais ampla, ou seja, nacional da atuação da área. No contato via e-mail, a fonte informou que estava fora do país, porém também se disponibilizou a ajudar através da entrevista por e-mail. Com isso, chegou-se ao seguinte número: três entrevistas se dariam de forma pessoal, face a face, uma seria através do programa de ligação gratuita online e a outra seria por e-mail. Sobre este tipo de entrevista, Duarte (2006, p.77) diz que é a forma “mais fácil de perguntar e mais difícil de obter boas respostas”, uma vez que esse método não permite o aprofundamento das questões que geralmente são possibilitadas em discussões realizadas pessoalmente. Porém, também conforme esse mesmo autor, a entrevista por e-mail trata-se de uma técnica utilizada para obter informações de pessoas importantes, mas que por certos motivos se mostram inacessíveis, geográfica e temporalmente. Com um roteiro que visa respostas não pré-determinadas, possibilita-se que o entrevistado tenha a liberdade de se basear em suas experiências e visões, fornecendo um material de modo aprofundar as questões abordadas, possibilitando novas descobertas e novas abordagens para determinadas linhas de pensamento seguido no trabalho. Por isso é de suma importância a escolha das fontes. Para o registro das entrevistas, foi utilizado um gravador de áudio, recurso ideal para esse tipo de método uma vez que possibilita o registro literal e integral, resultando em material completo para a análise, além de possuir a vantagem de evitar perdas de informação, minimizar distorções e facilitar a condução da entrevista (DUARTE, 2006, p.77). Já no caso da entrevista pela ligação online, a gravação foi realizada paralelamente com a ligação através de um aplicativo gravador integrado ao programa

10


VI Congresso Brasileiro Científico de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas – “VI Abrapcorp 2012 – Comunicação, Discurso, Organizações” São Luiz/MA – 26 a 28 de abril de 2012 Espaço de Iniciação Científica - EIC

da Internet de ligações gratuitas. Com isso, obteve-se as referidas informações de forma fidedigna. Para a entrevista realizada por e-mail, o mesmo roteiro preparado foi encaminhado em anexo, junto a um pedido de que a entrevistada fosse o mais completa possível, deixando as respostas compreensíveis e adequadas para se conseguir atingir os objetivos motivadores do questionamento. Após o envio, foi dado o prazo de 15 dias para o retorno do material. Já no caso das entrevistas pessoais e a por ligação online, foram realizadas as transcrições fidedignas ao material gravado. Ao final, a coleta de materiais resultou em 42 páginas de conteúdo, o que consiste em média, 8 páginas para cada entrevistado. Este tipo de metodologia utilizada para estudos exploratórios auxiliam na contemplação dos objetivos visados, mostrando de maneira prática os conceitos, percepções e visões, a partir de uma experiência vivenciada, que buscam ser explorados neste estudo.

Considerações Finais

A partir das leituras efetuadas e da pesquisa realizada, pode-se inferir que a área de Relações Públicas destaca-se como uma das mais preparadas e indicadas para atuar nesse meio digital, uma vez que a demanda da Internet e das plataformas digitais encontradas nela consistem, basicamente, em atividades e funções que remontam à expertise da área, como relacionamento, engajamento e a utilização de uma comunicação de mão dupla, ou seja, ela acontece dos dois lados, de quem fala e de quem ouve, mantendo-se um constante feedback. A comunicação digital é baseada em firmar relacionamento, principalmente no objetivo das empresas para com os seus públicos. Por isso é essencial a presença dos profissionais de Relações Públicas nesse ambiente, para firmar e personalizar o relacionamento entre as empresas e os públicos. Como destaca uma das entrevistadas ao dizer: “Se eu fosse definir a essência do meu trabalho lá, é relações públicas puro...porque é relacionamento”. Além disso, são importantes, também, questões como engajamento, diálogo com os públicos, relevância de conteúdo que deriva de personalização adequada e profissional, através de um estruturado planejamento, ou seja, ações que necessitam de

11


VI Congresso Brasileiro Científico de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas – “VI Abrapcorp 2012 – Comunicação, Discurso, Organizações” São Luiz/MA – 26 a 28 de abril de 2012 Espaço de Iniciação Científica - EIC

um preparo que o Relações Públicas possui, a partir de sua visão, experiência e formação de uma comunicação holística, administrativa e estratégica. Através das falas das entrevistadas, pode-se constatar pontos a serem destacados sobre a atuação das Relações Públicas no ambiente digital. O primeiro ponto, e um dos mais importantes, é o planejamento, fundamental para que o relacionamento e a comunicação com os públicos na web aconteçam de forma eficaz. Um estruturado planejamento irá definir e nortear, de forma completa e assertiva, a atuação dentro das ambiências virtuais por parte das organizações. Só com o planejamento o foco de atuação da empresa será definido, linguagem será adequada, as ações despertarão interesse e os conteúdos serão relevantes, pois se terá conhecimento das características do público visado em específico. A relevância de conteúdo que será disseminado para a empresa é vital para que possa despertar o interesse do público seguidor. Pois, na Internet, milhões de informações são divulgadas a cada segundo, sendo difícil para o usuário discernir o que é interessante para ele ou não. É importante, também, saber que na Internet se lida com diferentes públicos, isto é, o discurso e o relacionamento deve se dirigir a grupos específicos, pertencentes a diversos nichos, não mais sendo aplicável a comunicação voltada para as massas. Com isso, surge a possibilidade de se trabalhar com formadores de opinião. São usuários que geralmente possuem blogs, são atuantes no quesito criação de conteúdos, originalidade, criatividade e presença referência entre os grupos internautas, portanto vistos como foco de intensa disseminação de informações, sendo ideais para as marcas alcançarem um considerável alvo em curto prazo, com credibilidade. Outro ponto levantado, e que é essencial perceber, é que a comunicação online não substitui a comunicação offline, tradicional, isto é, o contato face a face, a entrega de objetos físicos para representar uma empresa, um evento, etc. São tipos de comunicação que se complementam – e se mostram altamente eficazes e personalizadas quando isto acontece – porém não se pode conceber uma sem a participação da outra. Após todas as discussões realizadas, pode-se dizer que foram de extrema importância as constatações originadas com este estudo e sua pesquisa qualitativa, uma vez que reforça a visão da importância da área de Relações Públicas para a prática da comunicação organizacional no universo digital. Este, por sua vez, aparece como uma ferramenta em potencial para compor o rol de atividades e estratégias de Relações

12


VI Congresso Brasileiro Científico de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas – “VI Abrapcorp 2012 – Comunicação, Discurso, Organizações” São Luiz/MA – 26 a 28 de abril de 2012 Espaço de Iniciação Científica - EIC

Públicas, creditando à profissão um destaque dentre as habilitações da comunicação e, com isso, dentre as práticas comunicacionais que permeiam o mundo organizacional. Com a Internet, a profissão de Relações Públicas vem se consagrando e garantindo seu diferencial perante as organizações, uma vez que está tendo a chance de mostrar sua importância como uma profissão estratégica, adequada e eficaz para gerir a comunicação das empresas, principalmente quando estas não mais podem abrir mão da presença digital. O estudo se torna relevante na medida em que contribui para as pesquisas da área em questão, devido à sua incipiência, principalmente no Brasil. Como se pode constatar a importância das práticas de Relações Públicas no cenário da Internet, e como este aparece como grande potencial para as ferramentas da profissão, é imprescindível que também se possa conferir estas questões na literatura da área, trazendo teorias e visões práticas através das experiências já vividas e consagradas por profissionais. Trata-se de uma questão importante e vital para que possa acontecer a legitimação da profissão, cada vez mais, destacando seu nome como uma área estratégica,

fazendo-se

reconhecer

por

todos

do

mundo

organizacional

e

comunicacional. E, para isto, é também essencial que os próprios Relações Públicas estejam capacitados e atentos quanto a todas as exigências do mercado, em comunicação online e offline, garantindo atuações multidisciplinares e altamente profissionais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CARVALHO, Cintia da Silva. Apropriação dos blogs como ferramenta estratégica de Relações Públicas. In: MOURA, Claudia Peixoto de (Org.). História das Relações Públicas: fragmentos da memória de uma área. Porto Alegre: Edipucrs, 2008. 701 p. Disponível em <http://www.pucrs.br/edipucrs/historiarp.pdf> - acesso em: 29 set. 2011.

DI FELICE, Massimo. Das tecnologias da democracia para as tecnologias da colaboração. In: ________ (Org.). Do público para as redes: a comunicação digital e as novas formas de participação social. São Caetano do Sul: Difusão, 2008. 335 p.

DUARTE, Jorge. Entrevista em profundidade. In: ________; BARROS, Antonio (Org.). Métodos e técnicas de pesquisa em comunicação. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2006. 380 p

KUNCH, Margarida Maria Krohling. Planejamento de relações públicas na comunicação integrada. São Paulo: Summus; 2003; 417 p.

13


VI Congresso Brasileiro Científico de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas – “VI Abrapcorp 2012 – Comunicação, Discurso, Organizações” São Luiz/MA – 26 a 28 de abril de 2012 Espaço de Iniciação Científica - EIC

LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de metodologia científica. 4. ed., rev. e ampl. São Paulo: Atlas, 2001. 288 p.

MORAIS, F. Planejamento estratégico digital: a importância de planejar a comunicação da marca no ambiente digital. Rio de Janeiro : Brasport, 2009.

NOVELLI, Ana. Pesquisa de Opinião. In: DUARTE, J.; BARROS, A. (Org.). Métodos e técnicas de pesquisa em comunicação. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2006, p. 168-172.

OLIVEIRA, Maria Marly de. Como fazer pesquisa qualitativa. Recife: Bagaço, 2005. 191 p.

PINHO, J. B. Relações públicas na internet: técnicas e estratégias para informar e influenciar públicos de interesse. São Paulo: Summus, 2003. 215 p.

RECUERO, Raquel. Redes sociais na internet. Porto Alegre: Sulinas, 2009.

SAAD, Elisabeth A comunicação digital nas organizações - tendências e transformações. Revista Organicom, São Paulo, n. 10/11. p.161-167. 2009.

SANDINI, Silvana. Website: um canal de informação e relacionamento com clientes. In: DORNELLES, Souvenir Maira Graczyk (Org.) Relações Públicas: contruindo relacionamentos estratégicos. Porto Alegre: PUC-RS Edipuc, 2010. 120 p.

STASIAK, Daiana. Estratégias comunicacionais e práticas de WebRP: o processo de legitimação na sociedade midiatizada. Santa Maria 2009. [Dissertação de Mestrado - Programa de Pós-Graduação em Comunicação Midiática, Universidade Federal de Santa Maria], 229 p.

TERRA, Carolina Frazon. Blogs corporativos: modismo ou tendência?. 1. ed. São Caetano do Sul: Difusão, 2008. 110 p.

________. Usuário-mídia: a relação entre a comunicação organizacional e o conteúdo gerado pelo internauta nas mídias sociais. São Paulo - SP, 2011. [Tese de Doutorado – Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo], 207 p.

TORRES, Cláudio. A bíblia do marketing digital: tudo o que você queria saber sobre marketing e publicidade na internet e não tinha a quem perguntar. 1. ed. São Paulo: Novatec, 2009. 399 p.

14


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.