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TC de ultra-alta resolução possibilita novas investigações para doenças coronárias

Em entrevista exclusiva ao ID, Dr. Armin Zadeh fala sobre a obtenção de diagnósticos mais precisos por meio da utilização da tomografia computadorizada com maior resolução espacial.

Radiologistas que estudam doenças arteriais coronarianas sabem quão difícil é verificar segmentos calcificados ou com stent quando o exame é realizado via tomografia computadorizada (TC) convencional. A falta de resolução espacial é uma queixa há muito discutida entre os profissionais, mas que agora parece ser um obstáculo do passado com a chamada tomografia computadorizada de ultra-alta resolução (ou ultra-high resolution, em inglês). Esse foi o tema da entrevista exclusiva que o Jornal ID fez com Dr. Armin Zadeh, professor de medicina e diretor do departamento de tomografia computadorizada cardíaca no Hospital Johns Hopkins.

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Dr. Armin Zadeh foi um dos palestrantes da edição 2023 da Jornada Paulista de Radiologia (JPR) e convidado especial da Canon Medical para o maior evento da área do Brasil. Embora não seja exatamente um radiologista, nas palavras dele, Dr. Zadeh possui grande fascínio pelo mundo das imagens. “Como diretor de TC cardíaca, sempre desejamos mais detalhes, mais informações, afinal, doenças arteriais coronarianas são pequenas estruturas e placas nas artérias, mínimas e invisíveis. Portanto, a chegada da ultra-alta resolução funciona como uma lente de aumento que nos auxilia a chegarmos a diagnósticos melhores e mais precisos”, explica o professor. A partir do desenvolvimento da tomografia computadorizada de ultra-alta resolução (UHR-CT), profissionais conseguem obter mais clareza e precisão diagnóstica que dão suporte à avaliação vascular em estágio clínico ou pré-clínico. “Com a UHR-CT, a resolução espacial é o dobro da TC convencional, é o dobro da profundidade, de .5 para .25. Essa mudança pode contribuir para uma melhor compreensão da fisiopatologia subjacente da doença macro e microvascular”, completa.

PROJETO PILOTO E ESTUDO

EM ANDAMENTO

O primeiro estudo realizado pelo médico na Johns Hopkins contou com a participação de 15 pacientes com 45 anos ou mais, com histórico de doença arterial coronariana e que foram encaminhados para realização de uma angiografia coronariana invasiva. Esses pacientes foram submetidos à tomografia computadorizada de ultra-alta resolução dentro de 30 dias antes do cateterismo, e essas imagens foram comparadas com as feitas pela TC convencional.

A partir de resultados como o ruído geral da imagem consideravelmente mais para UHR-CT, o estudo mostrou que a tomografia computadorizada de ultra-alta resolução pode ser eficaz para superar limitações da TC convencional na avaliação com precisão de estenoses da artéria coronária em vasos gravemente calcificados.

“Conseguimos iniciar esse estudo em 2020 e publi- camos os resultados do projeto piloto em 2021. Nesse primeiro teste, estávamos particularmente interessados em pacientes com grande presença de calcificação nos vasos, algo que não conseguimos enxergar por meio da TC convencional. E agora iniciaremos o próximo passo, realizando um estudo muito maior”, conta Dr. Zadeh.

Nesse novo estudo, o médico espera receber os resultados nos próximos dois anos – e com grande ajuda dos brasileiros. Recentemente, a equipe de cientistas recebeu a aprovação para iniciar estudos com pacientes brasileiros, a partir de uma parceria com o instituto de pesquisa do Hospital Albert Einstein.

“O Brasil tem sido um grande parceiro do nosso estudo, tendo um papel central nos estudos CORE-64 e CORE320. É muito bom poder contar com médicos e institutos tão bem preparados e que estão sempre abertos para realizarmos novas investigações, trazendo aspectos particulares da população brasileira”, emenda ele.

UM FUTURO EM ABERTO

Sobre o futuro, Dr. Zadeh acredita que ainda há muito espaço para evoluções no ramo da tomografia computadorizada cardíaca a partir da descoberta de novas aplicações da tecnologia. Segundo ele, há mil possibilidades que passam a existir com o uso da tecnologia, como por exemplo nos estudos do cérebro ou sobre áreas tumorais como as localizadas em órgãos de difícil acesso, caso do pâncreas: “imagine que agora tenho o dobro da resolução espacial, estamos falando aqui de um salto quântico”.

Mas há também a expectativa de outras transformações, como o uso de cada vez menor de radiação e intervenções inovadoras. “Para além de perspectivas de mercado, pessoalmente, eu espero que possamos criar outra estratégia para avaliar doenças coronárias. Só nos Estados Unidos, realizamos cerca de 10 milhões de testes de estresse para determinar a ocorrência de doenças coronárias e eu entendo que esse é um exame antiquado”, finaliza.