Jornal Interação Diagnóstica #101 Dez/Jan 2018

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Novas tecnologias na avaliação do coração fetal – A ecocardiografia tridimensional em alta resolução A alta tecnologia tridimensional estática (3D) e em movimento (4D) tornou-se popular há mais de uma década por realizar o sonho da visibilização da face e de outras partes do corpo fetal, antecipando em parte o impacto da primeira visão do bebê, possível até então apenas no momento do nascimento. Mais recentemente a mesma tecnologia foi desenvolvida para a avaliação do coração fetal, ganhando impulso especial com o advento da nova técnica chamada ‘STIC” (spatial and temporal image correlation). Esta tecnologia consiste em milhares de imagens bidimensionais adquiridas de uma região de interesse (Region of interest-ROI) pré-determinada, durante uma única varredura em câmara lenta, com duração de alguns segundos (7.5 a 12.5 segundos). Apesar das vantagens óbvias da tecnologia tridimensional, a aquisição, exibição e manipulação dos volumes tridimensionais exige uma curva de aprendizado bastante difícil. Além do mais, a movimentação fetal aumenta as dificuldades técnicas, limitando seu uso, especialmente nas malformações cardíacas. A ecocardiografia tridimensional é realizada em três etapas: 1) Aquisição de dados através de uma única varredura automática. 2) Formas de exibição da imagem. 3) Manipulação da imagem.

Aquisição de volumes A aquisição é feita através de uma varredura com o transdutor volumétrico posicionado em um corte bidimensional de boa qualidade. Como a reconstrução tridimensional é totalmente dependente da imagem bidimensional capturada, não será possível uma boa reconstrução tridimensional a partir de imagens bidimensionais ruins. Desta forma, um conjunto de dados é obtido e agrupado em um bloco chamado “volume”, que deverá ser armazenado para posterior manipulação. A aquisição poderá ser feita em 3D estático, STIC (varredura volumétrica indireta para posterior análise, 4D “off-line”) ou 3D em tempo real (4D “on line”), sendo o STIC o mais usado para coração fetal.

Figura 3 Reconstrução tridimensional em modo alta definição “HDlive” com posicionamento da fonte de luz virtual por trás do volume, criando um efeito translúcido nesta posição transversal do ventrículo esquerdo (VE). VD= ventrículo direito.

Figura 4 Reconstrução tridimensional em modo alta definição “HDlive” Silhouette após aquisição de volume com “STIC”. Notar o delineamento das bordas do endocárdio dos ventrículos, valvas e átrios e a mudança de sombreamento possível com a mudança da posição da luz virtual.

Figura 1 Reconstrução tridimensional em modo alta definição “HDlive” após aquisição de volume com “STIC”. Posição de quatro câmaras em coração normal. AD= átrio direito; VD= ventrículo direito; AE= átrio esquerdo; VE= ventrículo esquerdo.

A vantagem do STIC é a apresentação da imagem em movimento, permitindo a análise de eventos relacionados ao ciclo cardíaco como movimento das valvas e contratilidade miocárdica. Como a varredura é muito rápida, pode-se também acessar o resultado da reconstrução imediatamente, ainda durante o exame, orientando o entendimento da cardiopatia. A aquisição pelo STIC é possível com a imagem bidimensional combinada com outras modalidade como Doppler colorido, power Doppler, B-flow, Doppler de alta definição e Hdlive. A desvantagem é o tempo de aquisição mais longo, que torna o processo de aquisição vulnerável à movimentação fetal e artefatos.

Formas de exibição da imagem Após a aquisição de um volume, a imagem poderá ser exibida em a) Modo bidimensional a. Plano simples. b. Plano multiplanar ortogonal. c. Plano multiplanar tomográfico/ TUI b) Modo reconstruído chamado “rendering” a. Modo de superfície. b. Modo transparência mínima c. Modo fluxo invertido/Invert flow d. Modo fluxo bidimensional/B-flow, e. Modo alta definição HDlive f. Modo em Doppler colorido com transparência de vidro/glass-body. Figura 2 Reconstrução tridimensional em modo alta definição “HDlive”, posição de quatro câmaras. À esquerda, hipoplasia de ventrículo direito. À direita, hipoplasia de ventrículo esquerdo. AD= átrio direito; VD= ventrículo direito; AE= átrio esquerdo; VE= ventrículo esquerdo.

Os modos de reconstrução em alta definição HDlive e HDflow representam a mais nova tecnologia para o estudo do coração fetal e serão abordados:

STIC (spatial and temporal image correlation)

Modo alta definição HDlive, HDlive Silhouette e HDflow

Este modo de aquisição é feito através de uma varredura lenta de imagens que extrai da movimentação dos tecidos e da movimentação do coração, informações do ciclo cardíaco. A duração da aquisição varia de 7.5 a 15 segundos, com ângulo de aquisição de 15 a 40º. O volume adquirido é então processado, sendo os picos sistólicos utilizados para o cálculo da frequência cardíaca. Este processamento consiste no rearranjo das imagens de acordo com a frequência cardíaca calculada e ciclo cardíaco”hipotético”, criando então um clip de um único ciclo cardíaco. Portanto, o STIC não pode ser aplicado em presença de extrassístoles.

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DEZ 2017 / JAN 2018 nº 101

É a reconstrução em alta definição (HD) em que o coração e vasos sanguíneos são vistos de maneira realística através da reconstrução de imagens que lembram tecido humano ou pele (figura 1). Isto é alcançado através da utilização de um modelo de iluminação avançada, com capacidade de calcular a propagação da luz através da pele e tecidos, criando imagens do coração e feto, semelhante ao órgão real visto na anatomia patológica (figura 2). CONTINUA


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