Lembre-se do seu cérebro
É fundamental dedicar uma atenção especial ao cérebro, especialmente diante do crescente número de casos de Alzheimer. p. 11







Lembre-se do seu cérebro
É fundamental dedicar uma atenção especial ao cérebro, especialmente diante do crescente número de casos de Alzheimer. p. 11
Existimos o ano todo
Toronto, terra de oportunidades para quem sabe aproveitá-las p. 5
As comemorações pelo Mês do Orgulho LGBTQIA+ não deveriam ser encaixotadas. Junho finda, o orgulho não. p. 10
Sua aplicação foi rejeitada, e agora? Não se desespere p. 3
O Jornal perde seu mais fi el escudeiro, e a comunidade seu mais ilustre representante p. 6 e 7
(3/10/1961
edição # 93 | ano # 8 | junho - setembro 2025 | www.jornaldetoronto.ca | info@jornaldetoronto.ca | ISSN 2560-7855 www.jornaldetoronto.ca
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Ao contrário dos Estados Unidos, o devido processo legal é fortemente garantido pelas cortes no Canadá e confere uma série de garantias para o imigrante que enfrenta essa situação p. 4
Schuster, colega de profissão, sempre me recebeu com um sorriso largo e braços abertos. Quando comecei a trabalhar na TV, era uma das minhas fontes mais confiáveis para contatos, questões e dúvidas. Apoiador incansável de todos os eventos e iniciativas brasileiras nessas terras geladas. Não tem uma pessoa que não saiba quem era o Schuster. Antes de retornar ao Brasil, fez questão que eu ficasse com a sua máquina de escrever, dizendo que ela está em boas mãos! Está sim, querido! Vai em paz e descansa que a gente continua a luta aqui. Camila Garcia
Trump, o MAGA e o dilema enfrentado pelo projeto de destruição da globalização p. 8
Os termos “esquerda” e “direita” são usados no mundo todo para expressar posições políticas, mas, no Brasil, ganham contornos muito particulares. Essas posições refletem formas distintas de entender o ser humano, a sociedade e o papel do Estado. Veja também as diferenças entre Brasil e Canadá. p. 9
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Está calorzinho, e essa é a melhor época do ano pra aproveitar o Canadá! Passamos o período conturbado de eleições e agora é tempo de organizar a vida – e reorganizar o país – nesse cotidiano distópico em que vivemos. A gente poderia publicar sobre o cabelo da moda, a receita mais gostosa daquele prato saudoso, mas o Jornal de Toronto prefere sempre trazer conteúdos que possam ajudar o leitor a navegar melhor por essas águas, às vezes turvas, do Lago Ontário (e pelo que está lá do outro lado).
Num momento em que política e imigração afetam cada vez mais a nossa e a vida das pessoas à nossa volta, trazemos, nessa edição, duas situações que podem ser dramáticas para os imigrantes no Canadá: o que fazer ao receber uma ordem de remoção para sair do país; e o que fazer quando a Imigração diz “não”?
Novo governo aqui, novo governo lá, e os dilemas do MAGA. E se há algumas dúvidas sobre essas tais Direita e Esquerda, publicamos um infográfico para te explicar melhor a diferença, inclusive entre Brasil e Canadá. E há muito mais. Mas, acima de tudo, essa edição homenageia nosso estimado colunista José Francisco Schuster, um dos principais jornalistas da comunidade de língua portuguesa no Canadá, que nos deixou recentemente. Uma perda irreparável. Que nosso luto se transforme em inspiração para a paixão pelo jornalismo que nosso dileto colega nos ensinou.
EDITOR-CHEFE: Alexandre Dias Ramos
REVISOR: Eduardo Castanhos
FOTÓGRAFOS: Luis Augusto Nobre, Marco Verch & Rafael Salsa Correa
COLUNISTAS: Alexandre Dias Ramos, André Oliveira, Cristiano de Oliveira, Gabriel Melo Viana & Rodolfo Marques
COLABORADORES DESSA EDIÇÃO: Antunes Muaquesse, Débora Corsi, Eduardo Oliveira, Jananda Lima, Luis Augusto Nobre & Will Leite
AGRADECIMENTOS PARA: Arnon Melo, Camila Garcia, Demian Melo, Eugenia Jardim, Júlia Adshead, Nilson Peixoto, Peter Hawkins, Prince Massey, Rosana Entler & Stefania Carrilho Tomé
AGÊNCIAS FONTES E PARCEIROS: Artlist Design, The 519
CONSELHO EDITORIAL: Alexandre Dias Ramos, Gabriel Melo Viana, Jananda Lima, Nilson Peixoto & Rosana Entler © Jornal de Toronto. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução de qualquer trecho desta edição sem a prévia autorização do jornal. O Jornal de Toronto não é responsável pelas opiniões e conteúdos dos anúncios publicados.
CIRCULAÇÃO: O Jornal de Toronto é trimestral e distribuído em Toronto e GTA.
IMPRESSÃO: Master Web
CONTATO: info@jornaldetoronto.ca
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Edição #93, ano #8, junhosetembro 2025
ISSN 2560-7855
Ser imigrante é ter que lidar, por muitos anos, com a espectativa, a ansiedade e a insegurança de poder permanecer ou não no país escolhido. E quando as coisas não saem como o esperado? Os advogados Gabriel Viana e Eduardo Oliveira tratam de duas situações sérias com a Imigração, mas que podem ter solução.
gAbrieL MeLo ViAnA
Para quem está com qualquer aplicação pendente perante a imigração, não há sentimento pior do que receber uma negativa de sua solicitação. Apesar de não ser o cenário desejado por ninguém, negativas e rejeições são muito comuns.
As razões para uma negativa podem ser as mais variadas. Às vezes é algo simples, como um documento que faltou ser anexado ou um formulário preenchido de forma incorreta. Muitas recusas ocorrem por erros evitáveis, como documentação incompleta ou interpretação equivocada dos requisitos, especialmente quando a pessoa não tem completo domínio da língua e dos conteúdos dos formulários.
Outras vezes, a questão é mais complexa: o oficial pode ter entendido que você não atende aos requisitos do programa escolhido, ou que existe algum impedimento legal. Há ainda casos em que a decisão acaba sendo subjetiva, como quando alegam que você não tem vínculos suficientes com seu país de origem,
mesmo tendo apresentado todos os comprovantes possíveis.
Um dos problemas principais é que, quando uma aplicação é rejeitada, isso pode impactar negativamente o histórico migratório da pessoa. Nesse cenário, o que fazer? A aplicação foi rejeitada, e agora? Não se desespere.
Primeiro, é fundamental entender o motivo da negativa. Toda decisão negativa vem acompanhada de uma explicação sobre o que ocorreu e os fundamentos que levaram à recusa. É essencial analisar de forma racional as razões pelas quais sua aplicação foi negada. Se os motivos forem claramente válidos – como, por exemplo, se você esqueceu de incluir um documento necessário ou anexou algo incorreto –, pode ser viável considerar uma nova solicitação, corrigindo os erros cometidos. Agora, se a rejeição foi por algum outro motivo – como, por exemplo, inadmissibilidade, e você de fato é inadmissível –, talvez seja o momento de buscar outro programa no
qual você possa ser admissível ou investigar a fundo a causa da inadmissibilidade para tentar resolvê-la.
Algumas recusas surgem da discricionariedade do oficial avaliador. É o que acontece quando negam um visto de visitante alegando “falta de vínculos com o país de origem”, mesmo com toda documentação comprobatória apresentada. Situações similares podem ocorrer em processos de Humanitário e Compaixão, onde o oficial tem maior margem para interpretação. Nesses casos, pode ser possível fazer um pedido de reconsideração, sabendo, porém, que as chances de reversão são incertas.
Em algumas categorias, é possível cogitar um Judicial Review, uma revisão judicial da decisão, ajuizada junto à Corte Federal. Outras aplicações permitem ape-
Gabriel Melo Viana é
lações administrativas, como ocorre em casos de spouse sponsorship ou casos de refúgio. É importante mencionar que recursos têm prazos definidos. Por isso, agir rapidamente é essencial. Além disso, é preciso refletir: vale mesmo a pena recorrer, ou será apenas perda de tempo e dinheiro?
Em resumo, cada caso exige uma análise individualizada. Se sua aplicação foi negada, avalie se vale a pena recorrer ou se é melhor buscar uma nova estratégia migratória. Consulte um profissional para evitar decisões que possam prejudicar seu histórico. Lembre-se sempre: para ter mais chances de sucesso, uma estratégia inteligente é muito melhor do que uma insistência sem sentido.
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Ao contrário dos Estados Unidos, o devido processo legal é fortemente garantido pelas cortes no Canadá e confere uma série de garantias para o imigrante que enfrenta essa situação
eduArdo oLiVeirA é advogado e diretor da Brazil Canada Bar Association
Receber uma ordem de remoção é um dos momentos mais sensíveis na vida de qualquer pessoa e pode parecer o fim da linha. Entretanto, há alternativas viáveis para lutar contra a remoção no Canadá. Ao contrário dos Estados Unidos, o devido processo legal é fortemente garantido pelas cortes no Canadá e confere uma série de garantias para o imigrante que enfrenta essa situação. O objetivo desse artigo é oferecer uma visão geral sobre o que pode ser feito para parar a remoção.
Primeiramente, é preciso esclarecer que há uma diferença legal entre os termos deportação e remoção. A ordem de remoção é uma categoria geral que engloba três tipos de ordens: exclusão, deportação e
saída. Os três tipos de ordem de remoção têm consequências diferentes, mas todas têm o requerimento de que o indivíduo saia do Canadá. Nesse artigo, vamos usar o termo genérico “oderm de remoção” sem entrar nos detalhes de cada tipo específico.
Os instrumentos mais comuns para lutar contra uma remoção são o deferral request e o stay motion na Corte Federal. O deferral request é um pedido endereçado diretamente ao Canada Border Services Agency (CBSA) para que a data da remoção seja adiada. Esse pedido não tem o poder de parar a remoção completamente ou conferir status para o requerente, mas apenas pedir um adiamento. O requerente precisa demonstrar circumstâncias pessoais únicas e imperativas que
justifiquem o atraso na remoção – por exemplo, motivos de saúde em que o invíduo ou dependente está em tratamento médico no Canadá podem ser aceitos.
O stay motion na Corte Federal é uma medida judicial interlocutória com o pedido de parar a remoção até que a aplicação principal de Judicial Review na corte seja julgada. Nesse caso, é necessário que a pessoa já tenha entrado antes com um pedido de Judicial Review para contestar alguma decisão negativa na corte. Por isso, é fundamental que haja um aconselhamento jurídico adequado ao receber qualquer decisão negativa. Apenas advogados licenciados podem atuar na Corte Federal e é preciso ter cuidado com aconselhamentos para ressubmeter a aplicação negada
sem considerar propriamente a possibilidade de fazer um Judicial Review na corte.
Em casos urgentes, em que o indivíduo não tenha um processo de Judicial Review na corte, é possível fazer o pedido de deferral request ao CBSA e, imediatamente, entrar com uma aplicação na Corte Federal para questionar a decisão negativa do deferral request, ou a ausência de resposta da CBSA. Nesse caso, seria possível fazer uma stay motion mesmo sem ter um processo na corte antes de aplicar para o deferral request. Em paralelo, é útil considerar uma aplicação de TRP (Temporary Resident Permit), que tem o poder de conferir status temporário ao requerente. O requerente precisa demonstrar que a necessidade de permanecer no Canadá supera
eventuais riscos que a pessoa possa trazer ao país.
Para uma estratégia eficiente para lutar contra a remoção, é importante entender que a aplicação de residência permanente por razões humanitárias (H&C) não tem o poder de parar a remoção ou conferir status. O H&C pode ser uma peça fundamental no planejamento; porém, é necessário ter uma estratégia mais ampla e se preparar para todos os cenários possíveis. Procure um profissional da área para ter mais informações sobre como lutar contra uma ordem de remoção.
Ontário é conhecida pelo seu acolhimento caloroso a comunidades vindas de todo o mundo. Toronto, em particular, é uma cidade vibrante, onde se falam mais de 180 línguas, porque metade da população nasceu fora do país, e onde cada cultura encontra o seu espaço. Mas integrar-se nesta terra de oportunidades exige hoje mais do que boa vontade ou diplomas genéricos, é preciso uma leitura atenta do mercado e escolhas estratégicas na formação e no empreendedorismo para transformar esses sonhos em oportunidades concretas de trabalho e estabilidade.
O mercado de trabalho torontoniano é, sem dúvida, dinâmico – o emprego existe –, mas também é altamente competitivo. Formações teóricas tradicionais, como ciências sociais, por vezes não oferecem uma vantagem competitiva imediata. As estatísticas mostram-no, segundo o Toronto Labour Market Bulletin, em 2024, as áreas com maior crescimento e colocação imediata foram tecnologia da informação, saúde, comércio especializado e construção. Por contraste, muitos estrangeiros com formações muito teóricas, como gestão sem foco prático, enfrentam longos períodos de subemprego ou de requalificação forçada. Um exemplo claro vem do setor tecnológico. Empresas sediadas no Toronto-Waterloo Innovation Corridor, procuram constantemente programadores, especialistas em cibersegurança, analistas de da-
dos, entre outros. O mesmo se verifica na construção civil, com a Ontario General contractors Association a reportar uma escassez crónica de soldadores, canalizadores, eletricistas e operadores de maquinaria pesada, profissões que oferecem estabilidade e salários atrativos.
Na saúde, o envelhecimento da população torontoniana e a pressão sobre o sistema público criaram uma procura sem precedentes por enfermeiros, auxiliares de farmácia e técnicos especializados. O Ontario Health Workforce Report indica que a pro -
víncia precisará de mais de 33 mil profissionais de enfermagem adicionais até 2030. Face a este cenário, é imperativo e oportuno que os imigrantes, e em especial os que chegam com elevadas aspirações académicas, considerem uma estratégia pragmática, que pode ser optar por formações técnicas e especializadas, muitas vezes de curta duração, com elevada empregabilidade, como por exemplo em canalização, seguros, informática, saúde, engenharia aplicada ou direito especializado que conduzem a saídas profissionais concretas e
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rápidas. Outra via muitas vezes negligenciada, mas com grande potencial, é o autoemprego. Toronto, capital económica do país, oferece um ecossistema vibrante para pequenos empreendedores.
Não é raro ver imigrantes a iniciarem negócios de restauração ou de comércio online com capital inicial modesto ($200 a $500 dólares), revendendo artigos em plataformas digitais, enquanto mantêm um emprego paralelo. Este tipo de abordagem incremental permite acumular capital e experiência, sem riscos excessivos.
Além disso, Ontário dispõe de mecanismos de apoio ao empreendedorismo. O Development Bank of Canada (BDC), por exemplo, oferece programas de financiamento até $25 mil dólares para projetos de negócios, sem necessidade de garantias pesadas, para além da capacidade de reembolsar o empréstimo. Workshops gratuitos e programas de mentoria estão disponíveis em centros como o Toronto Business Development Centre. Este espírito de autoemprego não é novo. Recordemos que, historicamente, os imigrantes que chegavam a Ontário, quer seja por carruagens ou depois por navios, viam no empreendedorismo uma via natural de integração e sobrevivência. Hoje, com um mercado cada vez mais competitivo e segmentado, este espírito continua mais atual do que nunca. Portanto, a promessa torontoniana continua viva, mas é um prometido que recompensa a adaptabilidade, a formação orientada para o mercado e o espírito empreendedor. A aposta em diplomas ou formações pouco ajustadas ao contexto atual corre o risco de gerar frustração e precariedade. É preciso ler os sinais do mercado com realismo e estratégia, para que assim a narrativa de sucesso dos imigrantes de Toronto continue a ser escrita, não apenas com sonhos, mas com resultados concretos, positivos e estáveis social e mentalmente.
ALeXAndre diAs rAMos
Se tem alguém que merece ser homenageado nessa comunidade é o jornalista José Francisco Schuster, que infelizmente nos deixou na madrugada do último 10 de maio, aos 64 anos. Saber de seu passamento traz, a uma grande quantidade de gente, uma tristeza imensa. Schuster foi, ao mesmo tempo, o mais comum e o mais ilustre representante de nossa
eventos sociais o tornaram uma figura quase lendária: conseguia estar em dois ou três eventos “ao mesmo tempo”! Não media esforços para compartilhar tudo o que podia com a comunidade e, muito importante, para unir os falantes da língua portuguesa. E assim o fez como jornalista.
Com 43 anos de experiência na área, Schuster atuou em grandes jornais, revistas, emissoras de rá-
nossos estúdios com o lançamento do podcast “Fala Toronto”, onde brasileiros, angolanos, portugueses e moçambicanos foram recebidos pelo nosso jornalista ao longo de 2020 e 2021.*
Costumo dizer que praticamente toda a comunidade brasileira já foi, em algum momento, entrevistada por ele em Toronto! Exagero? Pior que não! Como colunista, Schuster fez parte desde o início
comunidade. Como amigo e colega, nem sei direito como escrever esse texto, mas sei que certamente uma pequena matéria como essa não fará jus ao que esse grande homem fez pela comunidade brasileira em Toronto.
Fosse “apenas” pelos seus 17 anos trabalhados no Consulado-Geral do Brasil em Toronto (2002 a 2019), isso já teria sido um enorme serviço à comunidade; se fosse “apenas” pela criação (em 2010) do grupo de Facebook “Brasileiros no Canadá”, o maior e mais importante grupo de ajuda para nossos conterrâneos no país, já teria sido extraordinário – o grupo conta hoje com mais de 76 mil membros! Mas nosso José Francisco, com seu jeito tranquilo e amável, fez muito mais do que isso.
Sua paixão pelos brasileiros fizeram dele uma referência incontornável. Aliás, sua presença em TODOS os
dio e TV no Brasil. Em Toronto, começou em 2005 no jornal português Nove Ilhas, até 2010, quando passou a colaborar para a Discover Magazine, até 2019. Foi, durante 8 anos, âncora do programa “Fala Brasil”, inicialmente pela rádio Voces Latinas e posteriormente pela Camoes Radio. Em 2018, a CHIN Radio o convidou para produzir e apresentar o programa “Noites da CHIN - Brasil”, onde foram realizadas 186 entrevistas – aliás, todas elas disponíveis no website do Jornal de Toronto Quando seu programa na CHIN Radio terminou, em novembro de 2019, ficamos sem o homem que divulgava a programação de toda a comunidade. Não por muito tempo, o novo prédio do Jornal de Toronto, na Dufferin St., estava para ser inaugurado, e prometi a Schuster produzir um novo programa especialmente para ele: e foi assim que estreamos
do Jornal de Toronto, ainda em março de 2017, nas primeiras reuniões preparatórias para o jornal, que lançou sua primeira edição em 10 de julho daquele ano. E foram 8 anos de trabalho intenso, deste que foi nosso maior escudeiro. Schuster uma vez me disse que participar do Jornal de Toronto era o que o fazia ter orgulho de ser jornalista. Em grande medida, ele presentificou a própria razão do Jornal existir: dar voz e unir a comunidade através do jornalismo. Ninguém vestiu a camisa do JdeT como ele. “As pessoas pensam que o Schuster é que é o dono do Jornal”, me diziam uns, preocupados; e eu sempre respondia “Deixa pensarem, ele também merece”. Foram 92 matérias escritas para o Jornal de Toronto, tendo sido, desde o início, nosso colunista
Schuster foi um companheiro de trabalho e um amigo querido – sincero, simples e de coração puro. Mesmo nos difíceis era capaz de contar algo que nos fizesse rir. Deixou imensas, mas ficam vivas as lembranças do seu companheirismo, seu amor pelo Brasil, dos seus artigos de jornal, dos programas rádio e de suas histórias. Descanse em paz, amigo. E
mais lido. Seu jeito de escrever atingia diretamente a todos, refletindo sempre o sentimento contraditório, e tão forte, do imigrante de estar aqui mas com a saudade de sua terra natal. Aliás, Schuster havia voltado a Pelotas, onde nasceu, em fevereiro desse ano, e acabou por falecer em seu amado Rio Grande do Sul, em Porto Alegre.
Em nome de toda a equipe do Jornal de Toronto, desejo que o legado do nosso querido José Francisco Schuster seja lembrado e multiplicado. Descanse em paz, meu amigo.
“Trabalhamos juntos por 15 anos no Consulado. Schuster que tinha ao filho e netos, no amor pela arte que celebrava todo o tipo de celebração à vida, no seu engajamento com sua comunidade. Ele vai deixar uma saudade brasileiro apaixonado pela sua gente
Grande Schuster! Uma imensa perda para aqueles que o conheciam e apreciavam seu e sua pessoa. Somos como folhas ao vento… Vivamos com intensidade e intenção. Esta, ser a lição deixada por ele. Nilson Peixoto
”
amigo muito nos momentos
Deixou saudades companheirismo, do programas de até um dia!
Carrilho Tomé ”
CristiAno de oLiVeirA
Não era nada disso. Nada! Não era esse o plano. Nem o seu e nem o meu, pois eu já estava com outro texto praticamente pronto, sobre outro assunto, que eu esperava que você fosse ler. Mas de alguma forma, a cada vez que eu me sentava pra escrever, eu sentia que aquele texto não ia sair. Não ia ficar pronto, e se ficasse não ia fazer sentido. Parecia que algo tava errado, mas... Precisava ser tão errado assim, amigo?
(3/10/1961 - 10/5/2025)
Schuster viveu na dedicação celebrava indo a festas, shows e engajamento político e comprometimento grande e a lembrança de um e pelo seu país.
Júlia Adshead ” para todos seu trabalho vento… Esta, creio, ”
Não me lembro se nós nos conhecemos em 1999, quando eu terminava minha pós-graduação e me preparava pra voltar ao Brasil, ou em 2003, quando voltei pra Toronto de vez. Mas foi por ali. Em 2005, passei a integrar a equipe de legendagem de cinema e televisão da SDI Media, e não me lembro se foi por meu intermédio ou não, mas pouco tempo depois, você chegava naquele passinho curtinho e se juntava a nós. Fala mansa, sorriso aberto, a audição meio complicada e um espirro altíssimo, capaz de balançar as paredes do escritório. Queria poder te contar quantos colegas daquela época, gente que
a gente não vê há séculos, lembraram de você e lhe prestaram homenagens nesses últimos dias. Mas cê era modesto demais pra querer saber essas coisas. Eu ia era gastar saliva pra te contar, porque você ia achar que era bobagem do povo. “Não gosto de namoro, quero logo é casar”, você me dizia. Bati no seu ombro e disse, “vá pra Fortaleza então, uai. Veja se a moça quer vir pra cá com você”. Você foi e voltou pro trabalho casado, sorrindo de uma orelha à outra. Depois de um tempo desandou, outro ca-
samento veio, outro se foi. Eu assisti aos inícios e fins, e te confesso que suas separações me doíam. A gente não ficava conversando de sentimentos, era aquela coisa de dois homens sistemáticos: a gente se entendia com poucas palavras, sem muita gracinha. Mas sabendo de como você gostava da vida de casado, sim, as suas separações me doíam. Não falei abertamente, não dei abraço, porque isso é coisa do tipo “eu devia ter feito” que o sistemático sabe que vai carregar como arrependimento pra sempre, mas ele ainda assim não faz porque não consegue. Nós não nos abrimos, não contamos nossos sentimentos, não dizemos palavras bonitas pra amigo, nem mãe, pai... Não sai. O sistemático desconhece essa arte. E nós sabemos perfeitamente que isso vai doer no dia em que o outro faltar. Dito e feito, amigo.
Por volta de 2006, eu comecei a fazer violão e voz no Cantina, hoje Enoteca Sociale, ali na Dundas quase com Dovercourt. Logo no primeiro show, você não só foi, como montou a câmera em uma mesa em frente, filmou o show todo e me deu gravado em um DVD. Tenho esse disquinho até hoje. Mais do que um registro em vídeo, o que eu vejo mesmo naquilo é um cara que fez o que estava ao seu alcance, com o que tinha, pra poder apoiar um músico. A partir dali, você apareceu em quase todo show, e não só meu mas de todo mundo: o seu apoio à cultura na comunidade brasileira era um projeto de vida. Sem retorno, sem patrocínio, sem apoio, mas sempre inabalável.
Toquei pra casas lotadas, e também toquei pra 4, 5 amigos, mas pra você não fazia diferença. Era sempre o primeiro a chegar, numa pontualidade monumental que o cenário da música ao vivo nunca conseguiu oferecer a ninguém. Mas esse tal cenário é que se virasse, pois no cartaz tava falando 9pm e no seu relógio já eram 9pm. Sentava-se resignado com o celular e esperava o show começar, mas sempre, sempre com um sorriso no rosto, que se abria ainda mais quando eu tocava Kleyton e Kledir. Ô gaúcho orgulhoso, que estava sempre agarrado aos encontros do CTG de Toronto. Sendo eu insuportavelmente mineiro, compreendo e admiro seu orgulho, e completo dizendo que me rendi a essa crença de vocês de que deu pra ti, baixo astral, quando a gente canta que vai pra Porto Alegre e tchau.
“E aí, tchê?”. Luto agora pra me lembrar das suas expressões tão peculiares, mas essa saudação era sua marca registrada, e me lembro das mais diversas situações em que a ouvi. Nas várias vezes em que eu participava dos seus programas de rádio, o nervosismo de falar ao vivo se esvaía imediatamente ao chegar e ouvir essa saudação, ou outra
Um pedaço da história da comunidade brasileira de Toronto vai embora, e também vai embora um pedaço de cada um de nós, porque nossa história individual aqui está na memória das pessoas com as quais passamos a conviver. Eugenia Jardim
Jornalista brilhante, com olhar crítico e sensível, José usou sua voz para amplificar histórias, promover a cultura brasileira e fortalecer os laços da nossa comunidade no Canadá. Sua partida deixa um vazio imenso, mas também um legado de dedicação, generosidade e amor pelo Brasil e pelos brasileiros no Canadá. Perdemos uma figura ativa, um comunicador apaixonado e, acima de tudo, um ser humano extraordinário.
Arnon Melo & Peter Hawkins
clássica também: “Graaaande Cristiano!”. E sem falar em quando nos encontrávamos no CAIS – Centro de Apoio e Integração Social Brasil-Canada, substituto do Centro Brasil-Angola –onde voluntariamos juntos. Quando ele estava perto de fechar, toda sexta-feira eu e você nos encontrávamos lá, e dali saiu muita conversa boa. Inclusive foi lá que
demissão por conta de encrenquinha política, saibam que conseguiram estragar uma vida a troco de nada. Uma maldade que só rendeu a vocês a satisfação de destruir um homem, em cujas últimas palavras ainda mencionava a dificuldade de conseguir emprego. O demônio agradece a preferência e já espera vocês de braços abertos, criatu-
Muito já foi dito sobre o quanto Schuster amava nossa cultura e sobre sua gigantesca importância para nossa comunidade e para o jornalismo comunitário. Não sei ainda como vou lidar com tudo o que aprendi com a vida e a morte de José Francisco. Querido amigo, obrigada pela presença, pelos abraços, pelas conversas. Rosana Entler
você me contou algo que eu preciso informar a seu filho: que sua maior alegria foi, num período em que esteve hospitalizado em Toronto, completamente sozinho, receber a visita dele e a ajuda dele pra fazer sua barba. E que seu filho saiba também que você não disse isso pra contar vantagem. Eu me lembro bem do assunto: você só queria me aconselhar a ter filhos também. O que eu não consigo digerir é o fato de que, apesar de todo o seu esforço pela comunidade brasileira, foi justamente uma parte podre e desgraçada dela que trabalhou pelo seu mal e lhe fez perder o ganha-pão no Consulado – a todos que trabalharam pela sua
ras peçonhentas. Gozado que hoje, uma turma pede anistia a pessoas que investiram tempo e dinheiro na destruição de Brasília e do sistema de governo, mas por aqui uma turma parecida (senão a mesma) pedia a cabeça de um cara que nunca levantou um dedo pra ninguém. Meu bom amigo, espero que você tenha conseguido perdoá-los antes de partir, porque eu até hoje não dei conta.
E desculpe-me, amigo, por não ter falado tudo o que devia ter te falado. Por não acreditar que gente
como você um dia se vai, e sempre deixar as conversas importantes pra próxima. A gente no Canadá normaliza essa coisa de “uns vão e outros vêm”, e bota na cabeça que quem foi está melhor que a gente, no calor da terra natal. Que erro meu! Ao menos consegui lhe prestar uma homenagem em vida, compondo o samba “José Francisco” para a abertura do seu podcast no Jornal de Toronto, esse projeto que você abraçou com tanta dedicação. Os parceiros da Roda de Samba de Toronto, Carlos Cardozo e André Valério, se uniram a mim nos arranjos e na gravação, e colocamos a música no Soundcloud – nosso primeiro trabalho autoral, graças a Deus, saiu exatamente pra quem mais merecia. Mas não era esse o plano. Não era pra ter sido assim. Não era pra ter escrito nada disso, o assunto deveria ser outro, e as notícias suas que chegassem deveriam ser de reencontros e renascimentos em terras brasileiras. Mas você é o jornalista sênior, o chefe da redação, e a mim só cabe obedecer, com muita tristeza, a essa mudança de pauta repentina que você nos impôs. Eu espero que você tenha encontrado muita paz e o seu cachorro Bruce. Hoje minha tradicional frase de despedida é imensamente literal: Adeus, cinco letras – e uma comunidade imigrante inteira – que choram.
O que colocar no lugar da velha ordem política liberal?
André oLiVeirA & rodoLFo
MArques
No Manifesto Comunista, um pouco depois de anunciar na abertura que “o espectro do comunismo rondava a Europa”, Karl Marx e Friedrich Engels descrevem como a ordem econômica mundial se modificara profundamente no século XIX, provocando o crescimento dos mercados com “a multiplicação dos meios de troca e das mercadorias em geral”. O barco a vapor, as ferrovias, o telégrafo, etc. representavam as inovações orgulhosas da Revolução Industrial naquele momento e sinalizavam mudanças profundas nas interações entre os países, entre as classes sociais e sobre o modo como se projetava o futuro.
Marx e Engels imaginaram, então, uma nova ordem mundial, baseada na igualdade social plena sob o rígido controle de uma vanguarda proletária. A Revolução Russa fracassou e o mecanismo da destruição criativa schumpeteriana continuou operando com vigor até chegarmos à atual globalização econômica na qual os serviços prevalecem sobre a indústria, com ênfase para o emprego de energia limpa (ou descarbonizada), o uso da inteligência artificial emerge como desdobramento das inovações tecnológicas, e os países nunca foram tão dependentes uns dos outros no comércio internacional que daí decorreu.
Agora, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, embora com projeto diferente do defendido por Marx e Engels, quer igualmente destruir a ordem econômica mundial.
Mas o que ele e o movimento MAGA (Make America Great Again) querem colocar no lugar da globalização?
É uma pergunta que, suspeitam todos, nem os construtores da nova ordem mundial conseguem responder com clareza. Da miríade de ideias contraditórias que defendem, vale, contudo, mencionar duas – uma de ordem política e outra de conteúdo econômico. No plano político, resta evidente que
Trump e o MAGA não buscam o fortalecimento da chamada “democracia liberal”, mas, ao reverso, pretendem erodi-la o mais rápido quanto for possível. A proximidade com Vladimir Putin, Viktor Orbán e outros líderes autoritários não deixam margem para dúvidas sobre qual é a preferência político-ideológica do ex-corretor de imóveis bilionário e seu séquito. A grande questão é o que pretendem colocar no lugar da velha ordem política liberal. No site UnPopulist, disponível na plataforma Substack e coordenado pelo cientista político norte-americano Larry Diamond, articulistas traçam um quadro assustador, afirmando que os tecnocratas do Vale do Silício dentro do governo pretendem substituir a democracia liberal – cujo funcionamento se escora no sistema de partidos, eleições livres, livre mercado, etc. – por um governo comandado por uma Inteligência Artificial sob controle (de quem?) desses mesmos tecnocratas do Silício. Sairia de cena a ideia de soberania popular, a única capaz de legitimar o exercício do
poder político em sentido amplo, para dar lugar a um governo autoritário-tecnocrático orientado por uma IA comandada por uma seleta vanguarda iluminada de supostos gênios e empresários bem-sucedidos do universo da tecnologia da informação.
Desnecessário dizer o quanto há de totalitarismo político subjacente a essa ideia. Trata-se de revisitar o pensamento de Platão e recobri-lo com as vestes mais reluzentes da TI, conferindo todo o poder a um grupo que decidirá tudo em nome da técnica e da eficiência – Marx e Engels pelo menos sonhavam com uma idílica sociedade de iguais; havia um conteúdo humanístico no projeto, embora fosse utópico. O modo como o Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), outrora chefiado por Elon Musk, age, cortando burocratas, desmontando agências permeáveis ao controle social e avançando sobre dados sigilosos e/ou sensíveis do governo federal, sugerem que o projeto é levado a sério.
No plano econômico, Trump tenta replicar o modelo utilizado pelo pre-
sidente William McKinley (1897-1901), que protegeu a indústria americana com a imposição de tarifas às importações. Ocorre que a economia mundial se tornou muito mais interdependente hoje do que há cerca de 120 anos. As tarifas de Trump se tornaram tão abusivas e paradoxais que são os comunistas chineses que defendem hoje a globalização econômica e ameaçam levar os Estados Unidos, outrora exemplo de defesa da liberdade econômica, à OCDE por violação das regras do comércio internacional.
O dilema enfrentado por Trump e seu movimento consiste em escolher entre o projeto de derrogação da globalização econômica ou, ao contrário, tentar mitigá-lo, a fim de torná-lo palatável para o resto do mundo. É provável que, se insistirem na radicalização do projeto, Trump e o MAGA acabem atropelados por uma força superior e venham a descobrir, tardiamente (como os soviéticos no passado), que escolheram a opção errada.
JAnAndA LiMA é professora da OCAD University e pesquisadora de design decolonial
Os termos “esquerda” e “direita” são usados no mundo todo para expressar posições políticas, mas, no Brasil, ganham contornos muito particulares. Essas posições refletem formas distintas de entender o ser humano, a sociedade e o papel do Estado.
Ainda assim, esses rótulos são limitados: há muitas nuances dentro de cada lado. Este infográfico serve como um guia básico para compreender as principais diferenças no debate político brasileiro.
Junho sempre foi um mês colorido para mim. Segue sendo. Porém, as festividades ganharam mais cores e mais orgulho. Por contexto, junho tem uma das melhores celebrações para este cearense que escreve estas diversas palavras. As Festas Juninas sempre me encantaram, com suas bandeiras e balões multicores, mesmo que não precisem subir aos céus, mas que enfeitam praças, espaços públicos, paredes e corações.
Há alguns anos, também passei a viver com as celebrações inspiradas nas cores do arco-íris. É notório que as multicores começam a enfeitar os espaços físicos e virtuais no dia primeiro de junho, sendo retiradas em primeiro de julho. Embora as festas juninas se encerrem com a mudança do calendário, as comemorações pelo Mês do Orgulho LGBTQIA+ não deveriam ser encaixotadas. Junho finda, o orgu-
lho não. Existimos o ano todo.
Desde que passei a reconhecer e viver minha identidade queer, vivo-a orgulhosamente 365 dias por ano – quando não um a mais nos anos bissextos. Passei a viver cada vez mais com autenticidade e sem pedir desculpas por quem eu sou. Ninguém se torna queer, mas podemos nos tornar pessoas com melhor autoestima quando percebemos que não precisamos da validação de outrem para existir. Também nos tornamos melhores quando aprendemos e respeitamos, além de nos livrarmos de preconceitos. Eu tinha muito medo de não ser aceito e, por tanto, não me permitia ser pleno. Isso mudou com minha primeira experiência no Canadá, há mais de 15 anos. Vi avanços e retrocessos nos dois países que hoje dividem minha identidade. Vim para o Canadá para ter mais segurança como uma
diz respeito para aspectos legais; a segunda, que o mundo hoje passa por uma onda de conservadorismo e de ameaça aos direitos humanos, com foco em certas identidades. Vimos isso no Brasil liderado por Jair Bolsonaro, estamos testemunhando nos Estados
Unidos de Donald Trump, e quase vivemos isso com a possibilidade de um Canadá liderado pelo candidato do Partido Conservador, Pierre Poilievre. Talvez o leitor não saiba, mas fazia parte da agenda aprovada do Partido Conservador a revogação de
direitos de pessoas trans, dentre outras iniciativas anti-2SLGBTQIA+. Nas províncias, já testemunhamos alguns casos em Alberta, Saskatchewan e New Brunswick. Vale ressaltar que políticas anti-trans são também contra as comunidades
LGBTQIA+, não importa onde estejamos. Se temos direitos hoje, muitos vieram pela luta de pessoas trans. A própria celebração do Mês do Orgulho vem do reconhecimento das lideranças (femininas) nos protestos de Stonewall. Marsha P. Johnson, Sylvia Rivera e Stormé Delarverie, duas mulheres trans e uma lésbica. Três nomes que mudaram a história das comunidades LGBTQIA+ para sempre e que foram além daquele 28 de junho de 1969. Hoje, vivo do legado criado por estas e muitas outras pessoas que vieram antes de mim. Sigo comprometido com a minha identidade e meus direitos como qualquer outra pessoa. Quando as minhas comunidades são ameaçadas, o alvo também é colocado em mim. Por isso, convido-te a se juntar a mim, a nós e às múltiplas cores do nosso arco-íris. Vamos juntos aos céus subindo, celebrando nossas vidas, experiências, amores e, principalmente, o direito de viver o ano todo.
É fundamental dedicar uma atenção especial ao cérebro, especialmente
O título de hoje pode parecer incomum à primeira vista – afinal, como poderíamos esquecer que temos um cérebro? –; no entanto, o intuito é despertar a reflexão sobre como a saúde mental vai muito além da simples gestão emocional.
Quando algum órgão vital, como os rins, os pulmões ou o coração, apresenta uma disfunção, buscamos imediatamente assistência médica. Fazemos exames regulares com ginecologistas, cardiologistas e urologistas, mas raramente ouvimos alguém mencionar a necessidade de consultar um neurologista ou psiquiatra para um check-up cerebral. Sim, é fundamental dedicar uma atenção
especial ao cérebro, especialmente diante do crescente número de casos de Alzheimer. A rotina acelerada e estressante muitas vezes nos impede de lembrar que, sem uma saúde cerebral preservada, nossos sonhos podem ficar estagnados.
Vivi essa realidade de perto. Meu pai faleceu após passar por um estado de demência, perdi amigos para o Alzheimer e, atualmente, acompanho a progressão dessa doença em uma amiga muito querida. É devastador visitá-la e perceber que, após quarenta anos de convivência, ela simplesmente não sabe mais quem eu sou.
De acordo com uma matéria publicada no site Agência Brasil, a Organização Mundial da Saúde
(OMS) estima que cerca de 55 milhões de pessoas vivam com algum tipo de demência, sendo o Alzheimer a mais comum, afetando sete entre dez indivíduos nessa condição em todo o mundo. A tendência é preocupante: a Alzheimer’s Disease International, sediada no Reino Unido, projeta que, até 2030, o número global de casos chegará a 74,7 milhões, e, até 2050, a 131,5 milhões. No Brasil, o Ministério da Saúde indica que aproximadamente 1,2 milhão de pessoas sofrem com a doença, com 100 mil novos diag-
nósticos anuais. Diante dessa realidade, precisamos acender um sinal de alerta. O Alzheimer e outras demências estão impactando o mundo, e nossa responsabilidade é acompanhar de perto aqueles que vivem ao nosso lado, especialmente os idosos. Muitos emitem sinais precoces da doença, mas nem sempre recebem a atenção necessária. É doloroso ver alguém que antes tinha uma vida ativa e independente, de repente, necessitar de cuidados constantes, perdendo sua autonomia.
A mudança no comportamento e outros sinais evidenciam o quão pequenos somos diante dessa doença. No entanto, este alerta não tem a intenção de assustar, mas sim de mobilizar o maior número possível de pessoas a cuidar melhor da saúde cerebral e buscar orientação de profissionais para uma vida mais saudável. Não negligencie sua saúde, não adie exames para o próximo mês e esteja atento a quem convive com você. Ame sua vida e cuide de quem você ama.
Desejo saúde a todos!