Contraponto 130 - EDIÇÃO OUTUBRO/NOVEMBRO

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Luto é verbo: Tribunal do genocídio pede responsabilização de Bolsonaro Mantendo a tradição, comunidade puquiana realiza julgamento de atrocidades cometidas durante a pandemia e relembra antigas lutas pela democracia

Por Danilo Zelic, Giovanna Crescitelli, Hadass Leventhal, Laura Mariano, Rafaela Reis Serra e Sabrina Legramandi

Não fizemos até o fim aquilo que deveria ter sido feito, quando terminou a ditadura.

© Comissão da Verdade da PUC-SP

José Arbex Jr., jornalista e professor da PUC-SP.

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ia 22 de setembro de 1977, São Paulo. Às 21 horas, dois mil universitários ao redor do Teatro da Universidade Católica (TUCA) realizavam, em frente à Pontifícia Universidade Católica (PUC), o terceiro Encontro Nacional de Estudantes (ENE), previamente proibido pelo regime militar. Juntos, comemoravam a reorganização da União Nacional dos Estudantes, articulada clandestinamente. O início do ato público se deu através da leitura de uma carta aberta. Até que a assembleia foi interrompida pela chegada de policiais. A ação havia sido comandada pelo coronel Erasmo Dias, na época, secretário

de Segurança Pública do Estado de São Paulo. Os carros das tropas cercaram a Rua Monte Alegre, onde os estudantes se encontravam. Os jovens foram recebidos com bombas de gás lacrimogêneo, cacetadas e ofensas. Muitos correram para dentro da universidade, esperando que a polícia não invadisse o campus. Porém, ela entrou mesmo assim. “Foi uma operação de guerra”, recorda José Arbex Jr., jornalista e professor da PUC-SP, para o Contraponto. Quando viu a violência da polícia, o então estudante de Engenharia Química na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) decidiu se arriscar. Respirou fundo e andou na direção dos policiais, passando entre eles. “Ninguém me interrompeu, mas se algum deles me acertasse e os outros viessem em cima, eu estaria morto”. Em meio a portas arrombadas, armários invadidos e vidraças quebradas, os soldados arrancaram alunos, professores e funcionários de suas atividades, conduzindo todos ao estacionamento do campus. Após uma triagem, todos aqueles que não trabalhavam ou estudavam na PUC foram presos, juntamente com os feridos. Foram levadas ao Primeiro Batalhão Tobias de Aguiar (ROTA) 422 pessoas, e 92 estudantes foram encaminhados para a sede do Departamento de Ordem Pública e Social (DOPS). Diante das pessoas que foram arrancadas de seus exercícios universitários e acuadas em um estacionamento em frente à Reitoria, o coronel Dias berrou: “É proibido falar. Só quem fala aqui sou

Invasão da PUC-SP em 1977

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CONTRAPONTO Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo – PUC-SP


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