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Editorial - Quando começa o Carnaval?
Pouco depois dos últimos blocos deixarem as ruas, aglomeração virou palavra perigosa. Sem contato, sem beijo, cumprimento só pelos cotovelos, respeite o isolamento. O carnaval ficou para trás, mas deixou as máscaras. Sem fantasia, sem adereços, folia nem pensar. Aliás, avise a escola da vez que o portão já fechou, mas que o relógio segue cronometrando.
Na virada do ano, a incerteza tomou as avenidas. Semana atrás de semana, um dia de cada vez. A esperança ganhou vários nomes, e foi sendo injetada em quem deixasse. Algumas festas aqui, outras maiores ali, mas ainda não dá para ter certeza. Feche a janela. Não há nada lá fora.
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Eis que os tamborins ressoam pelas ruas, trazendo o reco-reco, o surdo, o agogô e a cuíca. As vozes vão se aglomerando em silêncio, à postos, aguardando o sinal do portão. O povo se reúne nas janelas, com os noticiários no último volume. Seria esse o fim da Quarentena de Cinzas? As baterias estão aquecidas e prontas para retomar as festas, mas os pés continuam atrás, receosos quanto ao portão destrancado.
“A única certeza que a gente tem é que estamos vacinando todo mundo e, com todo mundo vacinado, a vida volta ao normal”, anunciou o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes. “Quem vai ficar fazendo distanciamento no Carnaval? Fica até ridículo, pedindo um metro de distância. Se tivesse, eu seria o primeiro a desrespeitar”.
O Carnaval faz isso com a gente. Exalta nossos ânimos, diminui os perigos e traz à tona a liberdade, que foi tão isolada durante o resto do ano. Em quase dois anos de pandemia, as festas soam distantes, mas possíveis. O povo que tanto se distanciou, que tanto perdeu e que abraçou o medo, hoje ouve os pandeiros em consolo: “Leva esse pranto pra bem longe de nós, não deixe nada pra depois, é a saudade que me diz que ainda é tempo pra viver feliz”.