Contraponto 130 - EDIÇÃO OUTUBRO/NOVEMBRO

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O persistente descaso com os gramados em estádios brasileiros

© Reprodução

País ainda se preocupa pouco com um dos fatores mais decisivos para garantir partidas de qualidade

Gramado da Arena da Amazônia antes do tratamento intensivo

Por Gustavo Pereira, Lucas G. Azevedo e Thomaz G. Cintra

O

futebol é um esporte imprevisível. Uma partida pode ser decidida a qualquer momento, pela ação ousada de um jogador, um erro de arbitragem ou até mesmo a condição do campo. Um estudo realizado pelo Observatório de Futebol do Centro Internacional de Estudos de Esporte (CIES Football Observatory) concluiu que o futebol brasileiro é o 26° colocado no ranking de campeonatos mais intensos do planeta. A pesquisa mostra que apenas 7,05% do percurso percorrido em jogos são corridas de alta intensidade (19,8km/h), enquanto que na Premier League esse índice sobe para 7,82%. Uma das explicações para essa diferença é a qualidade dos gramados. Em entrevista ao Contraponto, o comentarista da ESPN Mário Marra afirmou: “Todos os campos do campeonato inglês são muito bons, os da segunda divisão também”. A situação ruim afeta o jogo ofensivo e de posse de bola, como conta Bruno Ferreira, jogador do Aimoré, ao jornal: “O estado inadequado afeta o fluir do jogo, principalmente para equipes de jogo apoiado, com a posse de bola mais organizada, além disso, devido às más condições o campo fica mais pesado e o atleta se esforça mais, assim cansando mais rápido”. Outra preocupação para os clubes é a possibilidade de lesões, em conversa também com o Contraponto, o chefe do

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departamento médico do Palmeiras, Dr. Gustavo Magliocca, explicou que: “Um gramado irregular pode aumentar o número de entorses e torções articulares, tal como lesões musculares”. O doutor ainda afirma que, a longo prazo, jogar nesses campos pode levar a contusões que envolvem cartilagem e ossos, com potencial risco de dano estrutural.

Mas porque a situação é tão precária? Segundo Mário Marra, “alguns estádios ficaram muito tempo sem serem utilizados e hoje tem jogos regularmente”. Ele também afirma que há arenas que não recebem o cuidado adequado, por não ser prioridade dos donos desses locais, como os clubes ou a prefeitura. Um exemplo disso é a Arena da Amazônia: a construção feita para a Copa do Mundo de 2014 quase não recebe jogos e precisou passar por tratamento intensivo para poder receber a seleção brasileira nas Eliminatórias da Copa neste ano. Durante a Copa América de 2021 também ocorreram diversas críticas a qualidade dos gramados no país. Neymar, craque da seleção brasileira, postou a seguinte mensagem em suas redes sociais após uma partida no Estádio Nilton Santos: “Comemorando o gol no ‘belo’ gramado do Engenhão”, acompanhada da hashtag #porfavorarrumaocampo.

CONTRAPONTO Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo – PUC-SP


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