JornalCana 281 (Junho/2017)

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MERCADO

Junho 2017

Gestão comercial requer acompanhamento constante do mercado Na safra 2017/18, usinas descapitalizadas devem apostar no hidratado para aumentar a liquidez, pois o açúcar já não tem preço tão atrativo R ENATO ANSELMI, DE CAMPINAS (SP)

A gestão da comercialização de unidades e grupos sucroenergéticos tem exigido um trabalho cada vez mais árduo e detalhado dos profissionais que atuam nessa área. Entre outros desafios, é preciso compatibilizar obtenção de bons preços, necessidade de fluxo de caixa, administração do endividamento, gerenciamento do mix e do estoque. O acompanhamento do preço e da produção, no Brasil e em outros países, deve ser meticuloso e permanente, pois qualquer movimento altera o cenário. O mercado de açúcar, por exemplo, já não vive mais a mesma euforia – constata Martinho Seiiti Ono, CEO da trading SCA Etanol do Brasil. A atual safra mundial que vai terminar em setembro ainda terá déficit. Para usinas brasileiras, que estão iniciando a moagem, o produto já está precificado e hedeado (fixado) em diversos casos – observa. “Quem teve condição de fixar o preço de açúcar, de outubro a janeiro, conseguiu boa remuneração. De lá para cá, o preço só caiu. Quem não precificou, está lamentando. Se houver recuperação vai ser na segunda metade da safra. Grande parte da safra pode ter remuneração ruim para quem não fixou preço” – comenta. Na hora de adotar decisões em relação ao mix de produção, em um cenário de remuneração não favorável para o açúcar e com preço ruim ou médio para o etanol, a melhor opção pode ser o hidratado que tem maior liquidez – avalia.

Martinho Ono, da SCA Trading: “há muita diferença nas previsões [para a safra no Centro-Sul]. Do mais pessimista para o mais otimista, a variação é de 30 a 34 milhões de toneladas de cana”

DIA A DIA De acordo com ele, a necessidade de dinheiro dos 30% a 40% das usinas, que precisam recorrer a venda do dia a dia, vai acontecer mais por meio do etanol do que pelo açúcar. “Usina descapitalizada fará opção diferente em relação ao ano passado, produzindo hidratado e não anidro. Dessa forma, haverá liquidez por meio do hidratado e, consequentemente, uma produção de açúcar

Queda na produção de cana deverá ser em torno de vinte milhões A safra 2017/18 deverá ter uma produção menor em relação ao ciclo 2016/17. “Não acredito em uma produção acima de 590 milhões toneladas de cana no Centro-Sul”, calcula Martinho Ono. Na safra passada, a região moeu 607 milhões de toneladas. “Há muita diferença nas previsões. Do mais pessimista para o mais otimista, a variação é de 30 a 34 milhões de toneladas de cana”, constata. Segundo ele, o atual cenário indica que o Brasil não deverá repetir a mesma produção de açúcar. “Há previsões de uma produção em torno de 36 milhões de toneladas. Na melhor das hipóteses, vamos

repetir a mesma produção, o que eu acho difícil. Se isto acontecer, com 17 a 20 milhões de cana a menos, vai haver menos etanol” – opina. Mas, é preciso considerar que o açúcar em meados do ano passado estava com preço excepcional – diz. “Muitas usinas que iniciaram o ciclo 2016/17 com vontade de fazer etanol viraram a safra para açucareira, principalmente as que não tinham fixado preço nem hedeado, e venderam no spot um açúcar com preço bom. Por opção, resolveram produzir açúcar que estava dando liquidez e remuneração melhor”, recorda.

menos agressiva”, diz. O mercado de etanol vai estar caminhando no limite dos 70% da paridade com a gasolina. “Se houver um aumento do preço da gasolina, o do etanol também vai aumentar. Se a política da Petrobras estiver voltada à redução ou manutenção do preço da gasolina, não vai ter como melhorar a remuneração, porque agora estamos no andamento da safra”, avalia. Na opinião de Martinho Ono, será necessário trabalhar mais a demanda. “No final

da safra, em outubro ou novembro, talvez seja possível fazer a opção pelo preço e reduzir o volume. Antes disso, não vejo espaço para administrar a remuneração”, pondera. O CEO da trading SCA diz que a gasolina geralmente tem um preço mais alto no mercado internacional até julho ou agosto. Em consequência disto, o setor sucroenergético brasileiro poderá ter um preço melhor ou igual de etanol em relação ao praticado no início da safra.

Hidratado deverá ter volume adicional na safra 2017/18 Existem diversos fatores e mudanças no mercado que precisam ser avaliados no processo de gestão comercial. No cenário de abertura do ciclo 2017/18 já havia uma safra maximizada para o açúcar. Mas, diante da depreciação acentuada do produto e da provável redução da produção de cana, vai haver um volume de açúcar menor, um anidro estável e um hidratado que vai ter um volume adicional em relação ao que estava previsto – resume Martinho Ono. O preço de açúcar, que estava um pouco acima de 16 centavos de dólar por libra-peso em abril, não deverá ter nova queda – acredita Martinho Ono. “Para quem já surfou entre os 22 e 23 centavos, é muita diferença”, compara.

A safra 2018/19 vai depender de alguns cenários. “É preciso olhar o nível de renovação de canavial, verificar se o Brasil vai ter algum crescimento no ciclo Otto a partir do aumento da venda de automóveis e observar se a safra americana de milho vai ter uma precificação alta ou baixa”, comenta. Segundo ele, é necessário olhar especialmente a política de preços da Petrobras, juntamente com o mercado internacional de petróleo. “Com a nova política da Petrobras, a remuneração do etanol no Brasil agora é dependente do preço que o Golfo vai praticar”, observa. É muito difícil definir um cenário para a próxima safra brasileira – enfatiza.


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