JornalCana 245 (Junho/2014)

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POLÍTICA SETORIAL

Junho 2014

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Mistura não prejudicará os motores, garante especialista ANDRÉ RICCI

E

ANDRÉIA MORENO,

DA REDAÇÃO

A Unica - União da Indústria de Cana-de-Açúcar rebateu as declarações de Luiz Moan, presidente da Anfavea Associação Nacional dos Fabricantes e Veículos Automotores de que o aumento da mistura de etanol anidro na gasolina, de 25% para 27,5%, trará prejuízos ao consumidor. A Anfavea elaborou um estudo, a ser entregue ao governo, de que há possibilidade de maior desgaste nos componentes metálicos e de borracha nos carros a gasolina - que representam hoje 38% da frota circulante do país -, além de dificuldade na partida. A entidade explica que não há risco de desgaste das peças, pois são produzidas com ampla tolerância. Entre outros itens, contesta também a afirmação de que a medida vai gerar aumento de 20% nas emissões de aldeídos e de 75% nas de NOx (óxidos de nitrogênio). De acordo com a Unica, possíveis aumentos de emissões ficariam em torno de 15% para aldeídos e abaixo de 20% para o NOx. “Juntos, os impactos ambientais positivos com a mistura de 27,5% superam largamente o eventual aumento de emissões que poderia ocorrer”, diz em nota. Francisco Nigro, considerado um dos pais do carro a álcool, atual professor da Escola Politécnica da USP - Universidade

Francisco Nigro: diferença é pequena e os motores se adaptam

de São Paulo, afirma que 2,5% a mais de etanol representa a perda de 1% de consumo em geral. “Não acho que irá

prejudicar os veículos. Você apenas levará 99% da energia que levava antes, mas não prejudica em nada. Em termos de

desgaste de motor, não há problemas”. Nigro explica que a quantidade de energia perdida, do ponto de vista do funcionamento de motor, não levanta suspeita sobre desgaste. “As montadoras fazem material para ser resistente ao etanol e fazemos isso há muito tempo. A diferença é pequena e os motores se adaptam. O gasto é quase imperceptível”, afirma. Apesar de afirmar que em linhas gerais não causaria nenhum dano, Renato Romio, chefe da Divisão de Motores e Veículos do Centro de Pesquisas do Instituto Mauá de Tecnologia, diz que a questão não é tão simples. Ele explica que os carros são ajustados com certa tolerância ao teor de álcool na gasolina, mas não se sabe o limite deste procedimento. “Isso varia de fabricante, modelo e ano de fabricação. Hoje não se discute a tolerância dos carros flex. Já os carros dos anos 90 de injeção eletrônica até 2000, podem apresentar alguma falha de funcionamento ou no controle de emissão de poluentes. Mas, a grosso modo, não vejo problemas”, revela, ao afirmar que é preciso fazer alguns testes para a plena certeza. O aumento da mistura segue em análise. A ideia, segundo o governo, é diminuir o impacto do preço da gasolina nas bombas e ajudar os produtores de cana-de-açúcar, que, de acordo com a Unica, podem perder até 50% das exportações de etanol anidro para os Estados Unidos neste ano.

SETOR É CAPAZ DE SUPRIR MAIOR DEMANDA ANDRÉ RICCI, DA REDAÇÃO

Luiz Carlos Corrêa Carvalho, presidente da Abag – Associação Brasileira do Agronegócio, não acredita no aumento da mistura de etanol anidro na gasolina. Este tem sido um dos principais pleitos do setor sucroenergético, que passa por uma grave crise e luta por políticas públicas favoráveis a energia renovável. “Acho o governo míope. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, só pensa na inflação, que aliás, chegou neste ponto em decorrência do atual modelo de gestão. Não acredito no aumento”, afirmou Caio, como também é chamado, durante a cerimônia de abertura da Agrishow – Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação, no fim de abril, em Ribeirão Preto, SP. O aumento significaria uma demanda adicional de álcool anidro de aproximadamente 1 bilhão de litros por ano. De acordo com avaliação da consultoria Canaplan, a quebra de produção na região Centro-Sul deve girar em torno de 9,5% na safra 2014/15, totalizando 540 milhões de toneladas. Questionado sobre a capacidade de produção do setor, Caio explica. “A

Luiz Carlos Correa Carvalho: com política pública definida a safra sempre será alcooleira

produção de etanol anidro é feita através de contratos firmados entre as distribuidoras e os produtores, via regulação da ANP – Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis. Seja qual for a mistura, existem multas para quem não os cumpre. Se o governo trabalhasse de maneira correta, com uma

política pública definida, naturalmente a safra seria alcooleira”. No fim de abril, também, Guido Mantega, disse que apesar de sempre ser “possível”, o governo não cogita elevar a mistura do etanol na gasolina neste momento. Em relação aos preço dos

combustíveis, ele lembra que o início da safra de cana no Centro-Sul deve fazer com que a oferta de etanol aumente, contribuindo para a redução dos valores nos postos. “Estamos começando a safra do etanol. No auge, ela causará a redução do preço do etanol e também dos combustíveis”, afirmou.


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