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AGRÍCOLA
Julho 2017
Endividamento sucateia sistema de irrigação em Alagoas Mas diversas unidades alagoanas mantêm investimentos na tecnologia, que é fundamental para elevar a produtividade R ENATO ANSELMI, DE CAMPINAS, SP
Existe hoje uma situação paradoxal no setor sucroenergético, pelo menos no estado de Alagoas, em relação ao uso da irrigação nos canaviais. Enquanto algumas unidades ampliam as áreas irrigadas e utilizam cada vez mais tecnologias eficientes – como gotejamento e pivôs –, outras usinas estão sucateando seus sistemas de irrigação, deixando de fazer manutenção, reforma ou mesmo a reposição de equipamentos, conforme revela o engenheiro agrônomo Cândido Carnaúba Mota, presidente da Stab Regional Leste, com sede em Maceió (AL). O endividamento das empresas, a crise financeira e os preços muito baixos dos produtos do setor durante quatro ou cinco anos estão entre os motivos responsáveis por esse sucateamento da irrigação, segundo Cândido Mota. E essa situação vira uma “bola de neve” em relação à elevação de custos – afirma.
A irrigação tornou-se prioritária para a cana no Nordeste: sem essa tecnologia, a produtividade tem queda significativa
Quando deixa de irrigar e, consequentemente, registra redução de sua produtividade agrícola e da longevidade da lavoura, a usina aumenta o seu custo de produção por tonelada de cana. E, em decorrência dessa situação, disponibilizará menor quantidade de matéria-prima para a fabricação de açúcar e etanol, caso não amplie a sua área de cana, o que acarretará – de uma maneira ou de outra – uma elevação de gastos. “Devido ao sucateamento do sistema em diversas unidades, hoje não sei precisar qual é o total da área de irrigação do estado”, admite o presidente da Stab Leste. Segundo ele, Alagoas já teve um índice elevado de irrigação em seus canaviais. Com uma área de cana entre 400 a 450 mil hectares, o estado chegou a contar, antes dos efeitos provocados pelas crises conjuntural e setorial, com 280 a 300 mil hectares de cana irrigada. Apesar das dificuldades, a utilização da tecnologia da irrigação é significativa em usinas que apresentam uma situação financeira mais estável. Os resultados obtidos, nesses casos, são bastante expressivos. A produtividade de uma área com 70 toneladas de cana por hectare pode aumentar para 120 TCH com o uso do pivô e para até 150 TCH com o gotejamento – exemplifica.
Gotejamento e pivô geram os melhores resultados Sistemas de aspersão mais antigos, que usam canhão de irrigação, devem ser substituídos conforme as possibilidades “A irrigação se paga, desde que seja bem utilizada”, ressalta Cândido Carnaúba Mota, presidente da Stab Regional Leste, com sede em Maceió. “É necessário fazer a escolha correta do sistema para que a obtenção de resultados positivos seja maximizada. Em algumas condições, pode ser mais indicado o gotejamento; em outras, o pivô”, observa. “Com o gotejamento, a produtividade do canavial chega a dobrar, ou, até mais, talvez, triplicar. Com o pivô, a usina consegue dobrar a produtividade. O pivô é geralmente utilizado como irrigação complementar. Pode ser utilizado também como irrigação plena”, diz. Mas, geralmente esse sistema com pivô é complementar em Alagoas, pois a usina irriga, a partir de outubro, na época em que não tem chuva – esclarece. De maio a setembro, não há – na maioria das vezes – irrigação com pivô. “Além de serem mais eficientes, o gotejamento e o pivô
Com uma área de cana entre 400 a 450 mil hectares, Alagoas chegou a contar com 280 a 300 mil hectares de cana irrigada
utilizam pouca mão de obra. Possibilitam também uma distribuição mais homogênea da água”, comenta o presidente da Stab Leste.
IMPLANTAÇÃO O investimento inicial para a implantação do
gotejamento é elevado. Mesmo assim, diversas usinas têm investido nessa solução devido aos benefícios proporcionados pela tecnologia. Nos projetos novos de irrigação, a implantação de pivô tem sido predominante. “Uma das vantagens desse sistema é fazer a irrigação em uma grande área. O pivô pode atender 500 a 600 hectares pelo fato de ser rebocável”, afirma. De acordo com ele, os sistemas por aspersão mais antigos como os que usam o canhão de irrigação, devem ser deixados de lado de acordo com as possibilidades da usina, pois envolvem diversos equipamentos e o trabalho de muitas pessoas devido à necessidade de mudança da tubulação. O custo operacional desses sistemas é bastante elevado – constata. Como os solos em Alagoas são mais arenosos e mais fracos, o canhão é usado como irrigação de salvação para evitar a morte do canavial. Para isto, ocorre geralmente a aplicação de duas lâminas.. “Há um aumento de produtividade. Mas, não chega a ser tão elevado”, observa. Outro sistema utilizado no estado é o carretel enrolador, considerado um pouco melhor do que a montagem direta, de acordo com a opinião de Cândido Mota. A demanda por mãode-obra é menor em comparação ao canhão.
Escolha correta exige a avaliação de vários fatores
Diferentes soluções para a aplicação da vinhaça
Na hora de escolher o sistema de irrigação – que tem um custo elevado – mais adequado para a usina, é preciso considerar diversos fatores que estão relacionados ao desenvolvimento da cultura de cana, como tipo do solo, topografia, índice pluviométrico, variedades responsivas, além da integração nutrição-água que é muito importante – detalha Cândido Carnaúba Mota. No gotejamento, existe a possibilidade de fazer a adubação parcelada, junto com a água usada na irrigação, conforme as exigências da planta – diz. Segundo ele, aspectos envolvendo o consumo, disponibilidade e outorga pelo uso da água também devem ser considerados na definição dos equipamentos a serem utilizados. “Um sistema implantado em uma área
As unidades sucroenergéticas alagoanas têm buscado diferentes soluções para a distribuição de vinhaça, misturada à água residuária, nas áreas de cana – informa Cândido Mota –, incluindo a adoção de sistemas mistos. “Em diversos casos, usinas fazem o transporte por caminhões e acoplam algum sistema, como o canhão irrigador. O carretel tem sido também bastante usado", diz. Outro recurso é o sistema dutoviário que conta com estações de bombeamento, tubulações e canais. Há ainda experiências com o uso do pivô que precisam ter tubulações em aço inox devido à ação corrosiva desse efluente do etanol. “A aplicação da vinhaça, junto com a água de lavagem, por meio do gotejamento é mais complicada, pois depende da instalação de filtros e outras medidas para que não ocorra o entupimento do sistema”, comenta.
com solo arenoso vai consumir muito mais água do que a mesma tecnologia utilizada em solo argiloso”, compara. No Nordeste, a irrigação tornou-se viável por conta das barragens que são abastecidas nos períodos de chuvas – observa. Sem o uso dessa tecnologia, a produtividade tem queda significativa na região. “As usinas alagoanas não estão usando tanto a irrigação como utilizava anteriormente. No ano passado, a produtividade ficou em torno de 55 toneladas de cana por hectare. Mas, neste ano, vai cair ainda mais. Houve dois anos de seca pesada em Alagoas”, enfatiza. No Centro-Oeste, a cana também responde bem à irrigação, afirma. A região utiliza muito a irrigação em grãos, sendo inclusive campeã nacional de produtividade em trigo, milho, soja – destaca.