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AGRÍCOLA
Julho 2017
Seca preocupa, mas há otimismo para a safra no Nordeste Afetado por intensa estiagem nos últimos anos, setor nordestino está cercado de incerteza e expectativas para a 17/18 B RÁS H ENRIQUE, DE R IBEIRÃO PRETO (SP)
A seca intensa registrada nos últimos cinco anos preocupa as unidades sucroenergéticas nordestinas. Na safra 2017/18, prevista para iniciar oficialmente em agosto na região, essa incerteza ainda cria expectativas. Pedro Robério Nogueira preside o Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool do Estado de Alagoas (Sindaçúcar-AL), que abrange 20 unidades de Alagoas e duas de Sergipe, e aposta em aumento de 10% em relação à anterior no Norte/Nordeste. A moagem nas 72 unidades produtoras das regiões Norte e Nordeste, segundo ele, deverá ficar em torno de 49,5 milhões de t de cana (superando 44,8 mi t da última, que teve redução de 9,37% em relação a 15/16).
Segundo o Sindaçúcar-AL, a moagem nas 72 unidades produtoras das regiões Norte e Nordeste na 17/18 deverá ficar em torno de 49,5 milhões de t de cana, ante as 44,8 mi t da última temporada
Renato Cunha, presidente do Sindaçúcar-PE, espera uma moagem de 42 milhões t na região. A estiagem que ocorre desde a safra 12/13 continua preocupando. “Certamente a próxima safra também já foi um pouco prejudicada”, comenta Cunha.
“As secas diminuem a produção e a produtividade, além de chegarem a matar as raízes”, lamenta ele, cujo estado, Pernambuco, deverá ter 15 unidades em operação na safra 17/18. Reflexos negativos
“Nos últimos 5 anos enfrentamos os efeitos da seca, notadamente em grande parte da região Nordeste, com reflexos negativos na produtividade agrícola dos canaviais, principalmente em Alagoas”, atesta Nogueira. “Esperamos para os próximos meses uma melhor precipitação pluviométrica.” Na safra 16/17, o ATR da região N/NE foi de 136,88 kg/t cana, ganho de 6,5% em relação à anterior (15/16), decorrente da baixa pluviosidade. Para a 17/18, Nogueira diz que vai depender do índice de precipitação pluviométrica, principalmente no período de moagem. Nogueira cita que na safra anterior o Norte/Nordeste produziu 3,1 milhões/t de açúcar (53,24% da produção) e 1,6 milhão de m3 de etanol (46,76%). Assim, a região Norte foi alcooleira: 85,6% de etanol e 14,85% de açúcar; e a Nordeste foi açucareira: 58,02% de açúcar e 41,18% de etanol. “A carência de recursos financeiros e uma boa distribuição de chuvas, que favoreceriam a renovação e a recuperação dos canaviais, são os fatos que mais nos preocupam”, afirma Nogueira.
Fornecedor já estima remuneração menor de preços
Conforme a Feplana, a 17/18 será marcada por oferta menor de cana devido a elevada morte de socarias, já que passou um período superior a seis meses seguidos sem chuva, situação inédita da região
Produtores e fornecedores de cana também estão preocupados com os preços. “Será, certamente, uma safra que remunerará menos o nosso segmento, ainda mais se comparada com a última safra, quando houve excelentes preços praticados”, comenta Alexandre Andrade Lima, presidente de três entidades – Federação dos Plantadores de Cana do Brasil (Feplana), União Nordestina dos Produtores de Cana (Unida) e Associação dos Fornecedores de Cana de Pernambuco (AFCP). Ele cita que a produção de açúcar prevalece na região. Pernambuco, por exemplo, não terá nenhuma unidade
produzindo apenas etanol nesta safra. Porém, o mix de produção será ditado pelo mercado, conforme a melhor remuneração.
SECA E DANINHAS A maior preocupação é a ausência de água devido à seca. “Assim, o investimento em irrigação é vital para termos uma maior produtividade”, diz Lima. A erva daninha também tem preocupado o setor, especialmente o capim-colonião. Sobre a qualidade do açúcar (ATR), Lima não faz projeção. “Não dá para dizer ainda, depende de como serão as chuvas no período da safra”, diz ele.
Produtores e fornecedores de cana preveem novo déficit Os números apresentados por Alexandre Andrade Lima, presidente de três entidades – Federação dos Plantadores de Cana do Brasil (Feplana), União Nordestina dos Produtores de Cana (Unida) e Associação dos Fornecedores de Cana de Pernambuco (AFCP) – não são animadoras. “Estimamos um novo déficit em função da seca de cinco anos seguidos na região”, afirma Lima, projetando produção de 42 milhões de t na safra 17/18 (abaixo da safra 16/17, que teve 46,9 mi de t). Lima diz que a redução decorre da elevada morte de socarias, já que passou um período superior a seis meses seguidos sem chuva, situação inédita da região.
“Os canaviais mais afetados foram os de Sergipe e de Alagoas, este o maior produtor do Nordeste”, comenta ele.
CENÁRIO DIFERENTE No Rio Grande do Norte e na Paraíba, o cenário é diferente, pois as chuvas chegaram, embora tardiamente. “A cana está com um desenvolvimento exuberante”, afirma Lima. Porém, os dois estados não representam muito na safra nordestina. As unidades da Paraíba começam a safra em julho, diferente do que ocorre nos demais estados nordestinos, onde costuma-se iniciar no fim de agosto ou meados de setembro.
A carência de uma boa distribuição de chuvas, que favoreceria a renovação e a recuperação dos canaviais, está entre as maiores preocupações