JornalCana 282 (Julho/2017)

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JC 282

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MERCADO

Julho 2017

ENTREVISTA— Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura

“Setor precisa resgatar a cadeia produtiva” Ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues acredita que a revisão do Consecana pode reequilibrar o senso de cadeia produtiva e trazer novo crescimento ao setor

ROBERTO RODRIGUES Nome completo: João Roberto Rodrigues Nascimento: 12/08/1942 Natural de: Cordeirópolis Estado: SP

Inaugurando a seção “Quem É Quem no Setor”, nova publicação da ProCana Brasil que traz um registro histórico das pessoas e organizações que são e foram referenciais do setor nos últimos 30 Anos, o “eterno” ministro da agricultura e atual coordenador do Centro de Agronegócio da FGV em São Paulo, Roberto Rodrigues concedeu ao JornalCana a entrevista a seguir: JornalCana — Quais lições do passado o setor precisa aplicar no presente para continuar avançando? Roberto Rodrigues — A grande lição que o passado nos deu é a de que o setor é desunido e desarticulado, onde poderosos fazem valer seu poder em detrimento da categoria como um todo. A falta de união, a falta de visão coletiva de cadeia produtiva, no sentido lato desta expressão, é o grande erro histórico cometido pelo setor. Deixamos de conquistar temas importantes para o agronegócio canavieiro por causa de vaidades e ambições pessoais maiores que o interesse coletivo. Isso desequilibrou o setor. Houve uma melhora recente em relação a essa divisão? Sim, houve uma melhora. A Unica tem assumido um protagonismo importante nas discussões mais recentes com uma postura técnica consistente e coerente. Seus embasamentos têm caráter inovador, tecnológico, sem viés politico individualizante. Portanto, a Unica tem um papel relevante. Porém, isso não é suficiente. Então, o que é preciso acontecer? Para chegar nesta resposta vou recordar o que foi feito pelo Barbosa Lima Sobrinho, nos anos 40 do século passado, quando foi estabelecido o Instituto da Lavoura Canavieira. Sobrinho sabia que o mercado para a cana-deaçúcar era limitado, já que era um produto barato, cuja rentabilidade do produtor era determinada pela distância da usina. Portanto, o produtor de cana não poderia vender como faz o produtor de laranja, milho, soja ou café, que vende para qualquer tipo de empresa. Ele tinha que vender especificamente para a usina. Isso gerava um desequilíbrio dentro do setor. Sobrinho então definiu como regra que toda usina era obrigada a moer 50% de sua cana, vinda de fornecedores. Ao estabelecer esse mecanismo, ele foi o pioneiro na criação de uma prática chamada de cadeia produtiva. O que foi mais tarde, em 1957, replicado por pensadores de Harvard (EUA) como agribusiness. Mas foi o Barbosa Sobrinho que criou o conceito prático. E a premissa básica deste conceito era o equilíbrio. Quando o ex-presidente Collor extinguiu o Instituto do Açúcar e do álcool (IAA), abolindo por consequência o regime de cotas, tudo isso desapareceu. Felizmente o setor teve inteligência e criou o Consecana, nos anos 90 do século passado, mantendo o conceito de cadeia produtiva, na medida em que os agentes econômicos: produtor de cana e a indústria tinham sua remuneração flutuando em conjunto. O problema é que se passaram mais de 20 anos e o setor mudou. As tecnologias agrícolas e industriais mudaram. Novos subprodutos surgiram e o Consecana ficou parado no tempo. Portanto, é preciso retomar o espirito de cadeia

APRESENTAÇÃO RESUMIDA: Seguindo os passos de uma família de agrônomos, especialmente os de seu pai, Antônio Rodrigues, fundador de entidades de classe do agronegócio e “eterno” ministro da agricultura, João Roberto Rodrigues compôs sua carreira na academia, no mundo empresarial e na política, tornando-se um dos grandes responsáveis pelas bases da agricultura moderna e sustentável. Trabalhou sempre pelo desenvolvimento técnico, pela inserção da biotecnologia, produtos orgânicos e inovações tecnológicas; e pelo cooperativismo e formas inovadoras de comercialização que ampliaram o comércio agrícola e trouxeram maior estabilidade e competitividade ao produtor rural.

produtiva de forma que o equilíbrio seja resgatado entre os agentes dessa cadeia. O setor encolheu nos últimos anos difíceis pelo qual passou. O cenário político-econômico da atualidade não é favorável ao mercado. Diante disto, o setor pode voltar a crescer? Acredito que sim. Bom, primeiramente, o cenário — ainda que precariamente —melhorou. Com a mudança no mercado determinada pela oferta mundial de açúcar e com as ações introduzidas pela atual administração da Petrobras o cenário mudou. É um momento de melhor rendimento. O setor tem pela frente um ou dois anos positivos — ano passado foi bom e esse ano deve ser bom ainda... talvez o ano que vem dependendo das condições da oferta mundial de açúcar. Então temos um momento positivo em relação ao mercado. Em segundo lugar, temas como o RenovaBio, por exemplo, criaram uma condição de avançar com inovação e tecnologia, o que é muito positivo. Em terceiro lugar, houveram muitos investimentos em tecnologia e novos produtos surgiram como as MPB e novas variedades de cana, a Cana energia e outros, mas que são novidades tecnológicas que ainda não conquistaram um espaço adequado no mercado, porque a renda do setor não permitiu. Mas agora com essa melhoria de rentabilidade, toda essa tecnologia desenvolvida será aplicada e teremos saltos de produtividade que irão viabilizar uma melhor condição para o setor. O que mais falta para que essas tecnologias avancem? Falta uma nova tributação ambiental semelhante a CIDE, que ofereça ao produtor de etanol uma compensação pelas vantagens não mensuráveis da produção de um combustível renovável e que contribui de forma relevante para o Brasil cumprir seus compromissos na COP21. É que falta para que o setor volte a crescer na proporção anterior ao desastre do governo Dilma Rousseff. Mas garanto que sem o reequilíbrio da cadeia produtiva, mesmo com medidas de compensação, o setor não irá avançar. E creio que uma mudança no balanço da renda da cadeia como um todo. O Consecana é um instrumento adequado para isso.

Foi empresário rural em São Paulo, Minas Gerais e no Maranhão e dirigente de cooperativas agrícolas e de crédito rural, com abrangência local (Guariba/SP), regional (Campinas/SP) e estadual (São Paulo/SP), chegando a presidir as principais entidades do agronegócio brasileiro, como ABAG e SRB, e do cooperativismo internacional, como a Aliança Cooperativa Internacional – ACI. É Coordenador do Centro de Agronegócios da Fundação Getúlio Vargas, Embaixador Especial da FAO para o Cooperativismo e membro de diferentes conselhos de empresas e principais instituições ligadas direta ou indiretamente ao agronegócio internacional. PRINCIPAIS CONQUISTAS: Como Ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (janeiro de 2003 a junho de 2006), promoveu a completa reestruturação da Instituição, trabalhou pelas leis de biotecnologia, dos produtos orgânicos, seguro rural, novos documentos de comercialização, regulamentou a defesa sanitária, ampliou o comércio agrícola brasileiro e implementou as bases de uma agricultura moderna. Foi um dos maiores defensores da implantação do pagamento de cana pelo teor de sacarose, que ampliou a renda de todo o complexo agroindustrial ligado ao setor sucroenergético. Presidiu o Conselho Deliberativo da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) entre junho de 2014 e janeiro de 2015. Como agricultor, recebeu vários prêmios nas áreas ambiental, social, de conservação do solo e de produtividade, e também a Ordem do Mérito Agrícola, no grau de Cavaleiro, concedido pelo governo da França. Coordenou o setor privado no Fórum Nacional da Agricultura e, juntamente com a ABAG, SRB, Abimaq e ANDA, criou a Agrishow, a mais importante feira de tecnologia agrícola do país. Foi um dos maiores defensores da implantação do pagamento de cana pelo teor de sacarose, que ampliou a renda de todo o complexo agroindustrial ligado ao setor sucroenergético. FORMAÇÃO: Curso: Engenheiro Agrônomo Instituição: Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz - ESALQ, da Universidade de São Paulo - USP Turma: 1965 Pós-Graduação: Curso: Doutor Honoris Causa Instituição: Universidade Estadual Paulista – UNESP Turma: 1998 Curso: Especialização em Administração Rural Instituição: Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP) e pelo IDORT Turma: 1998 PREMIAÇÃO: Prêmio MasterCana - Os Mais Influentes do Setor Categoria: Área Institucional e Política Edição: Brasil 2009, 2011, 2013 Edição: Nordeste 2003


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