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Brasileiras & Brasileiros, Inc.

|| Vol 23

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Num 10 ||

OCTOBER 2017 ||

VÔO PÁTRIO

Peter Ho Peng nasceu na China e cresceu em Porto Alegre. Formou-se na UFRGS em engenharia química e na Georgia Institute of Technology (MSc e PhD). É morador de Tierra Verde, Flórida. peterhpeng@yahoo.com

Gás do pergelissolo

estão sendo degelados e recontaminando populações. À medida em que os trópicos se movem ao norte e ao sul do equador, as populações de mosquitos se movem junto. Com elas se movem as doenças que esses insetos carregam, aumentando a área de infestação. O parasita da malária, por exemplo. E o pior é que, para cada grau de aumento de temperatura, esse parasita carregado pelos mosquitos se reproduz dez vezes mais rapidamente. E há apenas uns cinco anos não conhecíamos o virus da zyka, brasileiríssimo (virus que causa a microcefalia).

O gêlo do pergelissolo segura CO2 e metano. Ao se derreter, esses gases são liberados, e isso acelera o efeito estufa.

Guerras

Derretimento do pergelissolo O “permafrost” - pergelissolo, ou parte do solo “permanente” congelado, está derretendo. Isso produz, claro, água, que drena, e isso forma enormes crateras no solo. Veja foto na página anterior. Uma enorme quantidade de infraestrutura será destruída. Linhas de trem, cidades inteiras que foram construídas nessas áreas supostamente seguras afundarão. O Alaska, quase todo pergelissolo, pode em grande parte afundar. Vejam abaixo como isso também alimenta o aquecimento global.

Fatores acelerantes Os riscos são ainda maiores

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do que expus acima, visto que fatores acelerantes podem grandemente apressar as crises. Os fatores acelerantes têm efeito espiral, que se realimentam, o que descrevo abaixo.

Efeito albedo Quanto menor for a superfície da Terra coberta por gêlo e neve, menos calor que entra é refletido de volta, donde que mais calor fica. Esse efeito foi batizado por albedo, palavra derivada do latim albedus (brancura); do

albus (branco) e é fator espiralexponencial: mais calor, menos gêlo, menos reflexão da luz, mais absorção, menos gêlo, mais calor retido, fatores que se realimentam. No presente se calcula que o albedo da Terra é 36%. O que é refletido de volta ao Universo é bastante. Quando esse albedo diminuir, ai ai ai.

Morte de flora Um dos fatores mais importantes para a absorção de gás carbônico da atmosfera é a flora.

Estima-se que o planeta terá um ar 2 graus Celsius mais elevado no final do século. Essa estimativa é uma mediana. As estimativas vão de 1,5 a 3,2 graus C. Pense na sauna, a 41 graus. Mais calor resultará em mais incêndios de florestas, destruindo flora: menos gás carbônico absorvido, maior calota atmosférica, mais calor retido, mais incêndios, menos gás carbônico absorvido, e por aí vai mais um efeito em espiral. Já escrevi sobre a formação de desertos.

Vemos todos os dias milhares de pessoas se afogando, tentando sair de seus países. Estima-se em 65 milhões o número atual de refugiados. Sem dúvida, esse número seria muitas vezes maior se as pessoas tivessem mobilidade. Vemos como o presente governo americano está bloqueando a entrada de imigrantes, e como isso é popular na sociedade. Os conflitos armados crescerão, povos inteiros simplesmente lutarão pela sobrevivência. Não tendo tempo para resolver o problema de produção de alimentos, as guerras aumentarão justamente pela posse de terras aráveis, que se reduzirá. Isso é também espiralante: guerra gera guerra, guerra significa menos alimentos, o que gera mais guerra. Bem, isso é uma sinopse do que temos pela frente. É o fim do mundo? É o fim desse mundo que conhecemos, que construímos, ou que deixamos acontecer. Por que não reagimos à altura? No próximo artigo examinarei algumas causas desse fracasso. Até lá.


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