Ecudame - edição março 2025

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PRESERVAÇÃO

Viva o Taquari-Antas Vivo

chega à 18ª edição

Ação às margens do rio começou em 2007 apenas com recolhimento de resíduos, agregou atividades e chegou à educação ambiental

Qualidade da água é ruim, aponta análise

Monitoramento nos rios Taquari e Forqueta indica para contaminação por esgoto doméstico

Sistema de irrigação garante produtividade

Produtor de Cruzeiro do Sul investiu em açudes e sistemas automatizados contra a estiagem

Educame prepara ações nas escolas

A educação ambiental chegará aos estudantes por meio de caravanas, oficinas, concurso e trupe

Vamos falar sobre água?

Os anos de 2023 e 2024 foram marcados por grandes enchentes no Vale do Taquari. Os volumes de chuva fizeram transbordar rios e invadir as cidades, causando prejuízos incalculáveis. Depois desses eventos climáticos extremos, olhar para o céu e ver nuvens escuras causava preocupação. E quando a chuva vinha forte, chegava provocar temor.

Entretanto, a falta de água também é um problema. Da mesma forma quando ela não é tratada, quando não é potável. Se falta para irrigar as lavouras, para dessedentação animal, se falta nas torneiras, os prejuízos também se avolumam.

A edição deste mês do caderno Educame traz o tema “água”. Estamos inseridos na Bacia Hidrográfica

Taquari-Antas. Temos um rio com poluição por esgoto doméstico, devido à falta de saneamento básico. As análises de água contratadas pelo Grupo A Hora ao Laboratório Unianálises

comprovam a contaminação.

Para que possa ser distribuída, a companhia de água faz o tratamento adequado para torná-la potável. No campo, as propriedades rurais implantam sistemas de reservação de água e de irrigação para garantir da produtividade.

O parlamento das águas, o Comitê de Gerenciamento da Bacia Taquari-Antas, traça planos para reduzir os impactos dos desastres climáticos. Num trabalho de décadas, luta pela preservação das margens, pela qualidade da água para que possa abranger todos os usos e todas as comunidades.

O programa Viva o Taquari-Antas Vivo chama a população e convida a olhar para o rio, faz um apelo pela preservação e à educação ambiental. E é justamente a educação ambiental na escola que se propõe o programa Educame. Este caderno faz parte de uma gama de ações que levarão às instituições de ensino um olhar consciente ao meio ambiente. Boa leitura!

ARTIGO | Lucas Lengler

Químico Industrial e consultor em sustentabilidade

Sustentabilidade como estratégia transversal às políticas públicas

Estamos em março de 2025, quase um ano após uma das maiores enchentes já registradas no Vale do Taquari. Este mês também marca o Dia Mundial da Água e a realização de uma das maiores iniciativas de voluntariado do Brasil, o Programa Viva Taquari-Antas Vivo. Diante disso, surge uma reflexão: estamos realmente nos preparando para enfrentar os riscos que as mudanças climáticas trazem para nossa região? Quais são as principais ações das cidades para mitigar ou evitar os impactos socioambientais dessas mudanças?

Em outubro passado, destaquei (aqui neste espaço) os desafios que nossos novos gestores enfrentariam nos próximos quatro anos. Um dos pilares dessa gestão deveria ser a adoção de uma estratégia alinhada aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. Isso inclui repensar a forma como autorizamos empreendimentos que reduzem nossas áreas verdes e banhados, além de estabelecer uma administração pública voltada para a sustentabilidade, baseada em indicadores claros e metas transversais entre as secretarias. No entanto, ainda seguimos velhos modelos de política e gestão. Embora possamos notar avanços em relação a ciclos anteriores, persistem conceitos ultrapassados e a ausência de estratégias realmente inovadoras que contemplem os mais de 383 mil habitantes do Vale do Taquari. Como dizia Henry Ford: “Se você sempre faz o que sempre fez, sempre

obterá o que sempre obteve.”

A sustentabilidade ainda é um conceito pouco compreendido e de difícil aplicação, pois exige uma visão sistêmica, conhecimento amplo sobre diferentes temas e a capacidade de integrar tudo em uma única estratégia. Muitos ainda a associam apenas às secretarias de Meio Ambiente, sem considerar sua interligação com áreas financeiras, de planejamento e desenvolvimento urbano. Construir uma gestão transversal para a sustentabilidade torna-se cada vez mais desafiador quando não há investimento em conhecimento e planejamento estratégico. Para avançarmos, é fundamental que cada cidadão e gestor público se sinta parte desse processo, amplie sua compreensão e contribua ativamente para gerar os resultados que esperamos para o futuro do nosso município.

Ainda estamos presos a debates polarizados, medidas paliativas e muita discussão, mas pouca ação baseada em fatos e dados. Enquanto isso, os impactos das mudanças climáticas continuam a fluir a se agravar, ameaçando não apenas a qualidade de vida, mas também a segurança hídrica e econômica da nossa região. Para transformar essa visão limitada, alguns passos são essenciais. O primeiro é a sensibilização da população, especialmente daqueles que detêm recursos e poder de decisão. O segundo é a conscientização, que significa buscar conhecimento efetivo e ampliar o debate sobre

Não há mais tempo a perder. A mudança já começou e, como diria Tom Jobim, “são as águas de março fechando o verão e a promessa de vida no teu coração” ou risco para região?

sustentabilidade para além dos eventos pontuais sobre enchentes. O terceiro passo é entender a materialidade de cada cidade, ouvindo todas as partes interessadas. Um exemplo positivo em Lajeado é o Grupo Gira, que busca conectar e compreender as necessidades da comunidade como um todo. Por fim, é essencial que estratégias, planos de governo, leis e regulamentações para empreendimentos e construções adotem os conceitos de cidades inteligentes e resilientes, garantindo que nosso rio, nossas áreas verdes e a população vulnerável sejam prioridades no planejamento. Não há mais tempo a perder. A mudança já começou e, como diria Tom Jobim, “são as águas de março fechando o verão e a promessa de vida no teu coração” ou risco para região?

TEXTOS
Luciane Eschberger Ferreira
Luciane Eschberger Ferreira
Grafica Uma/ junto à Zero Hora

Mobilização pelo rio alcança a maioridade

A 18ª edição do Viva o Taquari-Antas Vivo marca a consolidação de atividades educacionais no decorrer do ano

Há 18 anos, em meados de março, um dia é dedicado à ação Viva o Taquari-Antas Vivo. A mobilização pelo rio, inciada em Lajeado, atravessou a margem e chegou a Estrela. Ao longo do tempo, desceu o rio e alcançou Cruzeiro do Sul, Bom Retiro do Sul e Venâncio Aires. Ao mesmo tempo, subiu para Arroio do Meio, Encantado e rumou à serra. Hoje, é um evento oficial da Bacia Hidrográfica TaquariAntas e desdobra-se em outras atividades de educação ambiental durante o ano. A Escola das Águas, lançada durante a 17ª edição, anos passado, leva oficinas sobre o tema às instituições de ensino. O publicitário Gilberto Soares é um dos idealizadores do Viva o TaquariAntas Vivo. Ele conta que a ideia surgiu entre os funcionários da Associação Comercial e Industrial de Lajeado (Acil). “À época, eu, que era vicepresidente de Responsabilidade Social da organização, encampei a iniciativa e convenci a diretoria sobre a importância institucional do evento.” Desde então, Soares está à frente da coordenação do programa e conta com a Unidade Parceiros Voluntários de Lajeado na organização, além e representantes instituições públicas e privadas nos municípios de adesão ao programa.

Edições

2007 1105 150

2008 1289 180

2009 2080 250

2010 4091 450

2011 5502 350

2012 4312 600

2013 1950 400

2014 2612 510

2015 4711 600

2016 4203 600

2017 3982 953

2018 3615 784

2019 3690 723

2020 Não houve ação por conta da pandemia

2021 107 Ação simbólica (pandemia)

2022 1433 300

2023 3739 300

2024 4537 500

Desde o início, conta ele, houve a preocupação de unir as duas margens do Taquari, fazendo a ação simultaneamente nos dois municípios. “Começamos com Lajeado e Estrela, mas jamais esquecemos que vivemos em uma rica, mas frágil, bacia hidrográfica.” Portanto, os organizadores procuraram expandir a

Escola das Águas

No ano passado foi lançada a Escola das Águas. O projeto prevê oficinas itinerantes ministradas por educadores sociais voluntários. As atividades podem ocorrer ao ar livre, no Recanto Viva o Taquari-Antas, no Parque Ney Santos Arruda, e nas escolas interessadas.

ideia e convencer outros municípios a se integrar às atividades desenvolvidas ao longo dos 18 anos. “Hoje, o Viva o Taquari-Antas Vivo é um programa oficial do Comitê da Bacia Hidrográfica Taquari-Antas, e lutamos para chegar a todos os municípios da maior bacia hidrográfica do país.”

Além da ação às margens do Rio Taquari, a criação da Jornada Técnica

Ambiental, o Seminário Ambiental e a exposição de fotos Mostra Espelhos tornaram a iniciativa um programa envolvendo comunidade e estudantes. “Imaginamos o recolhimento como um símbolo forte contra a irresponsabilidade, o desconhecimento e a falta de cidadania,” lembra Soares. Porém, recolher os resíduos foi uma forma de chamar a atenção da

LUCIANE FERREIRA
Edição
Voluntários

sociedade. “Nosso propósito firmouse sempre na educação ambiental. Assim, até hoje, as jornadas ambientais miram a informação qualificada dos adultos; os seminários instruem os jovens; e a mostra retrata parte daquilo que encontramos a cada ano.”

Dentro do seminário, ocorrem oficinas nas escolas, conforme o interesse das instituições pelos assuntos ofertados. Voluntária, a engenheira ambiental Luana Hermes ministrou a oficina Vaso Compostoraprendendo o ciclo da compostagem. O tema foi levado aos estudantes do 5º ano da EMEF Guido Arnaldo Lermen, em Lajeado.

“ Cuidar da natureza foi um hábito que aprendi na infância com os meus pais”

Naiara Daniela Lopes, 31, é bióloga, moradora de Lajeado e participa da ação desde 2012. Nas 12 ações, recolheu resíduos, trabalhou no apoio às equipes de voluntários e na parte da educação ambiental.

Educame - Como você conheceu a ação e quanto começou a participar?

Naiara - Conheci a ação em 2012, quando iniciei o estágio na Secretaria de Meio Ambiente de Lajeado (Sema). Eu auxiliava no Programa de Recuperação Sustentável da Mata Ciliar do Rio Taquari (antigo Programa de Recuperação Sustentável do Corredor Ecológico do Rio Taquari) e foi aí conheci trabalhos e ações ligados à preservação do Rio Taquari e das matas ciliares.

Você representa alguma instituição?

Sempre participei representando uma entidade. Iniciei como voluntária pela Sema Lajeado e atualmente participo com o time da Geoambiental Consultoria e Licenciamento.

O que te motiva participar?

Cuidar e preservar da natureza foi um hábito que aprendi durante a infância com os meus pais. A curiosidade sobre o meio ambiente e a consciência sobre a importância da preservação ambiental me acompanharam na vida acadêmica

e na decisão da minha profissão. Ao ingressar em meu primeiro estágio, conheci a ação e desde então acompanho e participo.

Qual a importância da ação?

A ação traz diversos benefícios, inicialmente pela limpeza das margens colaborando com a retirada dos resíduos, preservação do ecossistema e da biodiversidade, auxilia na sensibilização da comunidade quanto a separação e destinação de resíduos e entulhos em locais apropriados. Além de que, são realizadas atividades de educação ambiental que buscam conscientizar e fomentar a importância destas ações para o meio ambiente, saúde pública e toda a coletividade. Participar da ação é o momento ideal para exercer a responsabilidade compartilhada em prol da sustentabilidade.

“Fui um dos criadores da ação em 2007 para constituí-la como programa por excelência da Acil como Voluntária Pessoa Jurídica da Parceiros Voluntários. A partir da iniciativa, buscamos fortalecer o movimento com outras forças vivas do município e região, havendo a cada ano a adesão crescente de voluntários. Chegamos ao nível atual de mobilização de dezenas de empresas e entidades e milhares de pessoas graças à elogiável consciência ambiental de nossa comunidade regional. A ação original e seus projetos desdobrados têm contribuído para educar e alertar sobre o valor inestimável do rio e seus afluentes para a nossa qualidade de vida!”

A ação traz diversos benefícios, inicialmente pela limpeza das margens colaborando com a retirada dos resíduos, preservação do ecossistema e da biodiversidade...”

Resíduos

Ao longo dos anos, percebe-se uma mudança nos materiais recolhidos. No início, muitos pneus, pedaços de lona, redes de pesca, caixas de isopor, madeira, móveis. Atualmente, são resíduos menores, como garrafas pet, plásticos. Para Soares, a mudança representa o impacto positivo da visibilidade do trabalho dos milhares de voluntários ao longo destes anos todos. “São mais pessoas às margens do rio, enquanto o volume de resíduos/ lixo mantém-se em queda. Fogões, sofás e camas, por exemplo, eram objetos corriqueiros encontrados nos primeiros mutirões, mas são quase raros.” Entretanto, ele ainda destaca que as enchentes do ano passado podem alterar para pior a tendência percebida ao longo dos anos. Sobre o futuro, o coordenador do Viva o Taquari-Antas Vivo afirma: “A expectativa é deixar de recolher lixo para colher música e poesia nas margens do rio Taquari.”

Scapini

Coordenada da Unidade Parceiros Voluntários Lajeado

“Das 18 edições do programa Viva o Taquari-Antas Vivo, estive na coordenação em 12, com o coração cheio de propósito e esperança. Cada etapa foi marcada pelo trabalho coletivo, pelo voluntariado organizado, pela força transformadora das pessoas e pelo compromisso com o meio ambiente. Os subprojetos do programa me ensinaram o valor da conexão entre comunidade e natureza, mas concretização da Escola das Águas a partir do ano de 2024, sem dúvida, foi um marco especial. Ver essa iniciativa ganhar vida foi como plantar uma semente e acompanhar seu crescimento, percebendo que cada pequeno esforço se transforma em um impacto profundo e duradouro. Ao longo dessa jornada, vivi experiências que moldaram meu entendimento do que significa cuidar de um legado natural como o Rio Taquari-Antas. Cada encontro, cada desafio e cada conquista foram um lembrete de que preservar vai além de proteger, é sobre inspirar, mobilizar e engajar para que todos se tornem guardiões desse bem tão precioso. Sinto-me profundamente grata por fazer parte dessa história e por ter a oportunidade de colaborar com tantas pessoas incríveis, que, juntas, fizeram desse sonho uma realidade vibrante.

Voluntários de todas as idades participam do movimento pelo rio Taquari
Antonio Juarez da Silva Gerente da Acil
Gilmara Esteves

Caravana e concurso cultural vão movimentar as escolas

Programa Educame, do Grupo A Hora, vai levar educação ambiental de forma lúdica aos estudantes do Ensino Fundamental ao Médio

Oprograma Educame –Educação Ambiental na Escola pretende movimentar as instituições de ensino durante este ano. Diversas atividades estão programadas para levar os temas ambientais de forma lúdica e divertida, além de estimular a pesquisa e a criatividade de estudantes dos ensinos Fundamental e Médio.

O Educame teve início em 2024 com a publicação do livro e da cartilha de mesmo nome, lançados durante o Seminário Pensar o ValeEnchentes. Em seguida, distribuídos nas escolas do Vale do Taquari. Para o diretor Editorial e de Produtos do Grupo A Hora, Fernando Weiss, o avanço do Educame mostra claramente a necessidade que a sociedade civil, de um modo geral, tem em ampliar a consciência sobre o ambiente, sobre o comportamento, o cuidado e a conservação. “O Educame quer ser um movimento de sociedade, em todas as suas instâncias, para provocar reflexões, melhorar a consciência a respeito dos temas e elevar o grau de entendimento sobre tudo que cerca o ecossistema, e que deriva, obviamente, das enchentes de 2023 e 2024.” Weiss acrescenta também as estiagens, que são cíclicas. “Precisamos entender mais e melhor tudo isso, para que a gente se torne mais resiliente.” Na opinião dele, ser mais resiliente é uma necessidade fundamental e básica para sociedade. O Educame tem este propósito, de manter este tema em alta e, permanentemente, provocar a reflexão e construir uma conscientização melhor a respeito do tema. “Por isso o programa se fortalece neste ano de 2025, com mais iniciativas , mais ações e ainda mais conectado e dentro das escolas, onde a transformação, nos parece, tem mais consistência.”

O Educame, com cadernos mensais e tantas outras ações, pretende provocar os alunos a se envolverem no sentido de manter o radar às questões ambientais.

Cartilha

Oficinas

Concurso cultural

Em 2025 será lançada a segunda edição da cartilha Educame.

A partir do mês de abril, a Caravana Educame vai percorrer as escolas da região. Trupe e oficineiros vão promover atividades para os alunos. O tema central será o meio ambiente. Também será a oportunidade dos estudantes participarem da oficina de jornalismo ambiental e se tornarem repórteres ambientais mirins.

Seminário

No segundo semestre ocorrerá o Seminário Educame, com uma programação especial e a entrega da premiação aos vencedores do concurso cultural.

A partir de agendamento prévio, as escolas podem receber as oficinas sobre resíduos sólidos, água e Bacia Hidrográfica TaquariAntas. A engenheira ambiental Luana Hermes, a professora Ana Cecília Togni e educadora ambiental Malta Fluck formam o time de oficineiras.

Em breve será lançada a terceira edição do concurso cultural Educame. Este ano serão quatro categorias, que envolverão os estudantes do 1º ano do Ensino Fundamental ao 3º ano do Ensino Médio de escolas públicas e privadas. Os desafios são: fotografia, maquete, cartaz e desenho. O tema central será “Água”, e a premiação soma R$ 25 mil.

Caravana
ARQUIVO

QUALIDADE DA ÁGUA DOS

Monitoramento apresenta ligeira melhora de 2022 a 2024, mas índice permanece na mesma faixa

Aqualidade da água do rio Taquari aponta para os índices ruim e péssimo, segundo o monitoramento iniciado em 2022 e repetido em 2023 e 2024. As amostras de água foram coletadas em pontos do manancial em Encantado, Arroio do Meio, Lajeado, Cruzeiro do Sul e Venâncio Aires. Além de determinar o Índice de Qualidade de Água (IQA), as amostras foram testadas para parâmetros, como os coliformes termotolerantes (E.Coli), maior indicativo da presença de esgoto doméstico.

Os piores resultados foram veri cados no primeiro semestre de 2022, quando três dos quatro pontos analisados tinham o IQA péssimo, o pior na escala que ainda têm ruim, regular, bom e ótimo. Na mesma amostragem, as análises indicaram elevadíssima quantidade de coliformes termotolerantes por 100 ml de água: 7.000 NPM/100ml no ponto de Lajeado, 13.000 em Cruzeiro do Sul e 35.000 em Arroio do Meio. Os três estavam acima do limite da pior classe, que é 3.200. No segundo semestre de 2022, houve uma importante melhora, mas ainda assim com indicativo de poluição doméstica. O três locais passaram o IQA de péssimo para ruim e reduziram signi cativamente a quantidade de E. coli, cando na classe 1, a melhor para este parâmetro.

Venâncio Aires
Rio Forqueta
Cruzeiro do Sul

RIOS SE MANTÉM RUIM

Rio Forqueta

Índice de Qualidade da Água (IQA)

E. coli (contaminação por esgoto doméstico)

Números de base

IQA no RS

Ótima

Boa

Regular

Ruim

Péssima

(E.coli) NMP/100mL

Classe 1

Classe 2

Classe 3

91 a 100

71 a 90

51 a 70

26 a 50

0 a 25

Até 160

161 a 800

801 a 3200

Acima do limite da pior classe >3200

O monitoramento da qualidade da água também abrange o Rio Forqueta. Os pontos de coleta de água são em Marques de Souza, na divisa com Travesseiro, e em Arroio do Meio, sob a ponte de ferro.

Nas cinco etapas de análise, o ponto de Marques de Souza cou na faixa ‘ruim’ de IQA. O índice mais baixo foi registrado no segundo semestre de 2022 – 28,52. Nas demais amostras, o IQA foi maior que 30, numa escala de 26 a 50. O ponto de Arroio do Meio, na junção do rio Forqueta com o Taquari, das quatro análises, uma, no primeiro semestre de 2022, o IQA teve resultado ‘péssimo’ (23,32). Nas demais, o índice cou na faixa ‘ruim’.

Oxigênio preserva a vida aquática

Entre os parâmetros analisados nas amostras de água de rios e arroios está o oxigênio dissolvido na água (OD). Este é um importante indicador da qualidade da água. Concentrações muito baixas comprometem a sobrevivência de peixes e outras espécies aquáticas. No Rio Taquari, as últimas análises, de 2024, apontam para classe 1, a melhor de quatro. Já o Rio Forqueta apresentou oscilação: classe 1, em 2023; classe 2, em abril de 2024; e classe1, em dezembro de 2024.

Taquari

Do rio à torneira, tratamento garante a qualidade da água

Corsan tem pontos de captação no rio Taquari e estações de tratamento para torná-la potável

Aágua distribuída pela Corsan nos municípios da região, entre eles Lajeado, é captada no rio Taquari. Para torná-la potável, passa por diversas etapas de tratamento, conforme explica o gerente da área, Leonardo Flores. “São elas: captação, coagulação, floculação, decantação, filtração, desinfecção e fluoretação e reservação.”

O processo é monitorado por meio parâmetros de qualidade como turbidez, cor, odor, gosto, flúor, dentre outros. Flores destaca que a

frequência de monitoramento bem como os parâmetros a serem avaliados são normatizados pela Portaria de Potabilidade de Água para Consumo Humano, legislação de maio de 2021. Para que a qualidade da água seja mantida, alguns cuidados devem ser observados pelos consumidores, destaca Flores. Manter os reservatórios de água limpos e bem fechados, evitar o uso de recipientes feitos de materiais que possam liberar substâncias tóxicas na água e verificar regularmente os vasilhames de armazenamento de água quanto a sinais de sujeira, mofo ou crescimento de algas são alguns deles.

O uso consciente também é importante, afinal, a água é um recurso natural fundamental para a sobrevivência do ser humano.

Ponto de captação da Corsan em Lajeado fica no bairro Carneiros
LUCIANE ESCHBERGER FERREIRA

Comitê Taquari-Antas tem a missão de executar o Plano de Bacia

O documento indica projetos e ações para bacia hidrográfica que abrange 119 municípios, entre eles os do Vale do Taquari

Anova diretoria do Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica Taquari-Antas, empossada neste mês de março, assume com uma importante missão: executar o Plano de Bacia. “É a grande meta desta nova gestão. Depois de tantos anos batalhando pelo plano de bacia, nós, agora, vamos efetivar em ações, em projetos e, em obras o nosso plano”, destaca o

vice-presidente Júlio César Salecker. Ao lado da presidente Maria do Carmo Quissini, Salecker segue na nova gestão na cadeira de gerador de energia hidrelétrica, pela Certel. “Temos uma grande missão agora, com projetos vinculados às questões das cheias e estiagens.”

Conforme a lei das águas, tanto a estadual como a federal, a função do comitê é contribuir para que se tenha

água em qualidade e quantidade para todos, da atual e das futuras gerações. “É um objetivo muito nobre e bastante abrangente”, observa Salecker.

A função do comitê, de uma forma holística, é reunir os representantes deste espaço geográfico definido pelas águas dos rios Taquari e Antas, gerir e administrar um bem público, de interesse global, da vida humana e dos animais e da própria manutenção da natureza como um ecossistema, explica Salecker. “Também tem finalidade econômica, afinal, quantas coisas são feiras com a água.”

O comitê de bacia tem a atribuição de debater os problemas e situações que vão se apresentando. “Veio a grande chuva e destruiu a parte de baixa do vale. Senta todo mundo dentro do comitê, se entende a grandeza do problema e se define o que fazer para minimizar o problema”, exemplifica.

Desafios

No ano passado, o comitê promoveu o 1º Fórum Técnico Científico da Bacia Hidrográfica Taquari Antas, com o tema “Eventos Climáticos Extremos, Segurança Hídrica e a Governança das Águas”. O evento, de março a novembro, contou com a participação da Universidade de Caxias do Sul (UCS), Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS), Universidade do Vale Taquari (Univates), Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater/RS-Ascar) e Serviço Autônomo Municipal de Água e

O sinuoso rio Taquari transbordou suas margens e inundou municípios do Vale na enchente de maio de 2024

Esgoto de Caxias do Sul.

Na opinião de Salecker, o seminário foi um sucesso ao passo que estavam sendo discutidas todas as questões das enchentes, da destruição, e foi possível conciliar os temas científicos, técnicos e político-administrativos. “O seminário levou as lideranças políticas, empresariais e comunitárias a repensar muitas coisas sobre o que nós deveríamos fazer.” Então foi possível finalizar o plano de bacia, considerando os eventos climáticos extremos. “Nosso grande desafio agora é fazer isso tudo funcionar. Estamos muito motivados com a plenária renovada, com o aumento da participação da parte baixa da bacia.” No final de 2024, o Comitê finalizou o Plano de Bacia. O trabalho, que teve início em 2010, serviu para a elaboração de eixos de atuação que vão recuperar a qualidade da água, melhorar a gestão de recursos hídricos, promover a preservação ambiental e garantir a disponibilidade hídrica para usos múltiplos.

Sobre o trabalho técnico

O Plano de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio Taquari-Antas é um documento estratégico, que foi aprovado pela plenária na reunião ordinária do Comitê de Gerenciamento da Bacia Taquari-Antas em 13 de dezembro de 2024, está previsto na Lei Nacional dos Recursos Hídricos e tem por objetivo orientar o planejamento e a gestão sustentável das águas, garantindo a qualidade e o equilíbrio entre oferta e demanda.

Elaborado com a participação dos integrantes do Comitê de Bacia Taquari-

Júlio Salecker: do movimento de formação do comitê à celebração dos 25 anos

A história de Salecker com a Bacia Taquari-Antas começou antes mesmo da fundação do comitê. Já são 29 anos de atuação, quatro a mais que a existência do comitê. Segundo ele, foi “mordido pela mosquinha das águas”. Nesta jornada, fez mestrado sobre recursos hídricos no Instituto de Pesquisas Hidráulicas da UFRGS em parceria com Agência Nacional de Águas (ANA). “Minha dissertação foi justamente sobre a efetividade, o que deu certo e o que não deu tão certo da Lei Gaúcha das Águas, de 1994.”

A trajetória no Comitê TaquariAntas começou em 21 de outubro de 1996, quando ocorreu a primeira reunião para formar a comissão do movimento que criaria os comitês de bacia. “Um poder descentralizado e participativo em cada uma das 25 bacias hidrográficas que foram desenhadas.” Salecker lembra que um dos debates era sobre criar dois comitês, um para o rio Taquari e ou para o rio das Antas.

Depois de evoluir esse assunto, o grupo considerou que todas as águas que descem do Antas impactam diretamente o Taquari, tanto a questão de poluição, como a questão de poucos volumes ou grandes volumes de água. “Logo se viu que deveria ser um comitê único. Então se constituiu o maior comitê de bacia em número de municípios do Brasil até hoje.” São 119

Júlio César Salecker, vice-presidente do comitê

municípios abrangidos parcialmente ou totalmente pela Bacia Hidrográfica Taquari-Antas.

Na época, Salecker trabalhava na Certaja, depois passou a representar a Certel. E lá eu fui, digamos, mordido por essa pela mosquinha das águas.” Depois de uma sucessão de reuniões de trabalho, o comitê foi criado por decreto em 1998, unindo a região alta colonizada por italianos e a baixa com influência alemã e portuguesa. “Desde então, fui membro do comitê, nunca deixei de ser.”

A caminhada de Júlio Salecker na diretoria iniciou em 2010, como vice-presidente. “Em algumas gestões fui presidente.”

Um pedido da nossa plenária e da construção da chapa de situação no sentido de não perdermos a história e a cultura do comitê Taquari-Antas, porque a gente acaba sendo parte da história”

Na eleição de fevereiro deste ano, Salecker assumiu novamente a vicepresidência. “Um pedido da nossa plenária e da construção da chapa de situação no sentido de não perdermos a história e a cultura do comitê Taquari-Antas, porque a gente acaba sendo parte da história.”

Salecker destaca que fez questão de, na formação da chapa, ficar na vice-presidência. “Conduzimos a Maria do Carmo Quissini à presidência. Ela era secretária-executiva nas últimas gestões e estava mais do que preparada – e também merecedora – para ser a presidente do Comitê Tquari-Antas.”

Antas e dos servidores do Departamento de Recursos Hídricos e Saneamento do Estado, o documento segue as diretrizes das Políticas Nacional e Estadual de Recursos Hídricos abrangendo três fases principais: A) diagnóstico; B) prognóstico; e C) enquadramento de plano de ações. A Fase C do Plano de

Bacia define ações para garantir o uso sustentável da água, atendendo às necessidades sociais, econômicas e ambientais.

Entre os temas de trabalho elencados estão a gestão de eventos climáticos extremos, o Programa de Prevenção e Controle de Cheias

e estudos, projetos e obras de reservatórios para contenção de cheias e/ou regularização de descargas, ou de outras soluções estruturais ou não estruturais, dentre as quais ações de desassoreamento, recuperação de encostas com vegetação.

Solenidade de posse ocorreu na Universidade de Caxias do Sul, onde está sediado o comitê

Eventos climáticos reforçam a necessidade de reservação de água

Chuvas irregulares, ondas de calor e períodos prolongados de seca podem comprometer a produção agrícola

Overão deste ano foi marcado por fortes ondas de calor, temperaturas elevadas e chuvas irregulares no Rio Grande do Sul. Diante dos efeitos climáticos, a reservação de água se torna essencial para garantir o abastecimento contínuo e reduzir os impactos da escassez hídrica, destaca o engenheiro agrônomo e mestre em zootecnia, Marcelo Brandoli, da Emater/RS-Ascar. Especialmente no campo, reservar água significa garantir a produção e manter a viabilidade econômica da agricultura familiar. “Métodos como cisternas, açudes, barragens e reservatórios subterrâneos desempenham um papel fundamental na segurança hídrica, sustentabilidade ambiental principalmente captando água nos períodos que temos precipitações na média ou acima da média.”

Tranquilidade

“Tranquilidade. Uma preocupação a menos.” Para o produtor Rafael Müller, 35, é isso que representa ter água para os animais e sistema de irrigação na lavoura. Na propriedade de 13 hectares, na localidade de Boa Esperança, em Cruzeiro do Sul, o poço artesiano dá conta do consumo doméstico e um dos três açudes fornece água para o sistema de irrigação da plantação, seja pastagem, milho para silagem ou soja safrinha. As 31 vacas leiteiras têm garantia de alimento e água. A irrigação começou aos poucos, com a aquisição de equipamentos e instalações feitas por Müller. A propriedade tem quatro nascentes principais, que abastecem três açudes – os dois menores servem para criação de peixes e o maior para irrigação e também à piscicultura.

A Emater-RS/Ascar deu auxílio técnico para proteção das nascentes com o plantio de árvores nativas e no projeto da irrigação. Hoje o sistema é automatizado e cobre toda a propriedade. “Se fosse fazer hoje, gastaria em torno de R$ 200 mil”, calcula Müller.

O investimento mais recente, há cerca de 3 anos, foi a instalação de sistema de energia solar, que trouxe a economia na conta de luz. “Só pagamos a taxa.”

As medidas adotadas ao longo do tempo têm representado muito em termos de resultados. “Passar pela estiagem de 2022 sem perdas, compensou os investimentos.”

Nascentes protegidas abastecem os açudes, e água é bombeada para irrigação

ENTREVISTA

Emater dá auxílio técnico e apoia a reservação de água

Educame - A proteção de nascentes auxilia no processo de reservação?

Qual é o trabalho da Emater nesta área tão importante para produção agrícola?

O que são ondas de calor?

Rafael Müller iniciou, aos poucos, a compra dos equipamentos e a instalação. Hoje, o sistema automatizado cobre toda área da propriedade

Sim, a proteção de nascentes desempenha um papel fundamental no processo de reservação de água. As nascentes são pontos naturais de descarga do lençol freático e representam a origem de muitos cursos d’água. Sua preservação contribui para a manutenção do ciclo hidrológico, garantindo a recarga dos aquíferos e a disponibilidade de água para abastecimento humano, irrigação e outros usos. A proteção de nascentes envolve ações como: preservação da vegetação nativa no entorno para evitar erosão e assoreamento; controle do uso do solo para impedir contaminação por agroquímicos e resíduos; criação de áreas de proteção permanente (APPs) conforme prevê o Código Florestal Brasileiro; evitar a compactação do solo ao redor da nascente para manter sua capacidade de infiltração. O escritório regional da Emater de Lajeado em parceria com os Sicredi Serrana e Pioneira estão sendo protegidas mais de 66 nascentes principalmente no Vale do Caí.

Essas medidas ajudam a manter a qualidade e a quantidade da água, contribuindo para a segurança hídrica e a sustentabilidade ambiental?

Investir na proteção de nascentes, na reservação de água em cisternas e açudes é essencial para garantir o equilíbrio ambiental, a segurança hídrica e a sustentabilidade a longo prazo. Essas medidas contribuem para: evitar a erosão e o assoreamento dos corpos d’água, mantendo o fluxo hídrico estável, e aumentar a infiltração de água no solo, favorecendo a recarga dos aquíferos. Também contribuem para reduzir a dependência de fontes superficiais e subterrâneas, diminuindo a sobrecarga dos mananciais, fornecer água em períodos de estiagem, garantindo abastecimento sustentável, evitar desperdício, aproveitando a água da chuva para consumo humano, irrigação e outros usos. Também auxiliam na segurança hídrica ao garantir reserva hídrica para períodos de seca, especialmente em regiões com chuvas irregulares e criação de peixes. Favorecer a recarga de aquíferos, pois parte da água infiltrada contribui para a manutenção do lençol freático.

A Emater/RS-Ascar (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Rio Grande do Sul) desempenha um papel fundamental na reservação de água e preservação de nascentes, especialmente no apoio à produção agrícola sustentável. A instituição oferece assistência técnica, capacitação e incentivo às boas práticas para garantir a segurança hídrica e a sustentabilidade das propriedades rurais. Também atua em políticas públicas de governo estaduais, municipais e federais para captação e reservação de água. A Emater realiza palestras, cursos e treinamentos para produtores rurais sobre preservação da água. Além disso, promove os programas de conscientização sobre a importância dos recursos hídricos e apoia projetos comunitários de reflorestamento e conservação de bacias hidrográficas. Suas iniciativas não só garantem a produção agrícola, mas também protegem o meio ambiente e promovem o desenvolvimento rural sustentável.

Os agricultores conseguem subsídios do governo para implementar sistemas de reservação de água?

Os agricultores podem acessar subsídios e incentivos do governo para implementar sistemas de reservação de água, incluindo cisternas, açudes, barragens e sistemas de irrigação. Esses subsídios estão disponíveis por meio de programas federais, estaduais e municipais, além de linhas de crédito especiais, como: Programa de Nacional da Agricultura Familiar (Pronaf) e Projeto Estadual de Apoio à Irrigação e Reservação de Água (Rio Grande do Sul).

Ondas de calor são eventos climáticos caracterizados por temperaturas extremamente altas, que superam os níveis esperados para uma determinada região e época do ano. Esses períodos de calor intenso podem durar dias ou semanas e são exacerbados pelo aquecimento global, que tem aumentado tanto a frequência quanto a intensidade do calor em várias partes do mundo.

Principais formas de reservação de água

Cisternas aéreas ou subterrâneas

Reservatórios de armazenamento de água da chuva, geralmente feitos de cimento, plástico ou alvenaria. Elas captam a água da chuva por meio de calhas instaladas nos telhados e armazenam a água para irrigação e dessedentação animal. Algumas possuem filtros para garantir a qualidade da água.

Açudes e ou microaçudes

Investir na proteção de nascentes, na reservação de água em cisternas e açudes é essencial para garantir o equilíbrio ambiental, a segurança hídrica e a sustentabilidade a longo prazo”

Pequenos reservatórios escavados no solo para armazenar água da chuva ou de córregos. Construídos em áreas estratégicas para acumular e reservar água durante os períodos chuvosos. Geralmente são utilizados para irrigação, abastecimento animal e piscicultura. Necessitam de manutenção para evitar assoreamento.

Barragens

Estruturas de contenção para represar água de rios ou córregos. Construídas para armazenar grandes volumes de água. Utilizadas para irrigação, dessedentação animal e irrigação.

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